Escape (CK)



Capítulo Dois – “Pirraças, ´Bruxalinda´ e um desmaio”




Olívio observava a cena boquiaberto. Nunca passara pela sua cabeça... nunca imaginara que Mia... que Chang – ele repreendeu seus pensamentos – fosse namorada de Morlevat “agora noiva”, pensou ele, fazendo uma careta.

- O que foi Olívio? – perguntava seu amigo Ed, olhando-o desconfiado.

- É... a Chang aquela lá não? – disse ele na voz mais natural possível. Mas ele tremeu um pouco ao dizer Chang.

- Aparentemente sim. – respondeu o amigo risonho, parecia estar se divertindo com a situação – Nossa, olha que safada! Parece que ela está engolindo o Morlevat, olha só Olívio! – acrescentou ele apontando para os dois no meio do campo que ainda se beijavam.

- Argh! Poupe-me desses detalhes, Ed, já não basta ter visto a Chang de pijamas no verão passado, não preciso de outra imagem perturbadora na cabeça, obrigado. – respondeu ele mal-humorado, virando-se para descer a escadaria e ir embora.

- Você não vai assistir à entrega do troféu? EI! O que deu em você? – gritou Ed de cima, mas Olívio já não podia escutar. Descia a escadaria bufando, na verdade nem mesmo ele poderia explicar porquê ele estava tão nervoso, tão inconformado. Apenas um pensamento lhe vinha à cabeça “Preciso ganhar dela... preciso arranjar uma namorada melhor que aquele noivinho que ela tem...”, e assim, aparatou para sua casa.






- Emma, o que você vai fazer agora? – perguntava Kahlen logo após as medalhas serem entregues.

- Como assim? – gritou a amiga em meio à barulheira do estádio.

- Acho que a Mia vai pra casa do Jean não? Comemorar o noivado, se é que você me entende. – respondeu a garota erguendo as sobrancelhas e abrindo um sorriso malicioso – Não faz sentido a gente voltar pra casa dela, se ela não estiver lá.

- Ah, então... você passou no teste de aparatar? – perguntou Emma.

- Claro que passei. Acho que a única que não passou foi a Mia. – retorquiu Kahlen em um tom ofendido. – É por isso que viemos com aquela idiota Chave de Portal não?
- Então vamos aparatar para a minha casa. Você dorme lá hoje e amanhã a Mia leva nossos malões para a plataforma 9 e meia. – respondeu Emma, ignorando o comentário da amiga.

- Então, é melhor a gente avisar ela não? – falou Kahlen levantando uma sobrancelha

- Se ela ainda estiver aqui né? O que eu duvido muito. – respondeu Emma risonha. – Ah, ela vai se tocar. Na pior das hipóteses nós pedimos pra o Sr. Chang mandar nossas coisas depois.

Kahlen deu de ombros. Emma aparatou, e logo em seguida foi a vez de Kahlen desaparecer em meio à algazarra dos torcedores do Puddlemere.








- Jean! Comporte-se! – censurou Mia dando um gritinho histérico já no flat do bruxo. Era um amplo aposento, daqueles apartamentos dois por andar, e ele acabara de enlaçar sua cintura e beijá-la no pescoço.

- Desculp, amorrrrr, non resistin... – respondeu ele ainda agarrado à cintura da garota, e beijando-a do outro lado no pescoço. – Mas prrrrecisams comemorrrarr non? Minha vitórrrria dedicada a focê e o noss noivado, clarrrro.

Ela virou-se para encará-lo, sorridente.

- Obrigado...pelo...pedido... – ela sussurrava em seu ouvido, enquanto alternava as faces que beijava - ...maravilhoso. – terminou, chegando aos lábios do rapaz. Eles se beijaram ternamente, ela segurava os cabelos dele entre os dedos, enquanto ele a levantava, e ela enlaçava suas pernas na cintura dele. Eles continuavam se beijando, dessa vez com mais fervor, ele acariciava as costas da garota com paixão, enquanto sentia sua nuca se arrepiar, a levava para seu quarto. Colocou-a delicadamente em sua ampla cama de casal, e Mia só despertou do transe quando sentiu o colchão macio abaixo dela. Ele abaixou-se e continuava beijando-a delicadamente dessa vez, mas ela não conseguia fechar os olhos. Estava preocupada. Seu corpo tremeu levemente quando ele começou a beijar seu pescoço, e a levantar a saia que usava passando a mão por sua perna.

- Jean

- Si? – perguntou ele, sem deixar de beijá-la.

- Acho que... não estou preparada ainda. – disse ela corada, sentando-se na cama, com um Jean confuso entre as pernas. – Sabe, é que... primeira vez e...

Mia achou que ele fosse recomeçar a beijá-la, ou gritar com ela. Mas ao contrário, ele sorriu. Um sorriso que fez Mia se arrepiar novamente.

- Tudo bem, acho que fou tomarrr uma ducha bem gelada. – disse ele ainda sorrindo e levantando-se para o banheiro. Mia jogou-se na cama, e enterrou um travesseiro em seu rosto. Fechou os olhos, e para sua surpresa e desespero, viu o rosto de Wood, sorridente. Abriu-os imediatamente, aterrorizada. Sentou-se na cama com um impulso e esfregou os olhos, amaldiçoando-se internamente.

“O que você está havendo com você, Mia Chang? Pensar no otário do Wood quando tem um homem maravilhoso querendo se casar com você!”, ela balançou a cabeça, ainda censurando-se por dentro. A verdade era que Mia nunca conseguira realmente esquecer Wood. Em seu segundo ano em Hogwarts ela era perdidamente apaixonada por ele, mas descobrira que, desde aquela época ele gostava de Kahlen. Ela ficou arrasada, e na tentativa de esquecê-lo, começara a tratá-lo mal, o que funcionou até os dias atuais.

Ela bufou de raiva, deitando-se na cama novamente, quando escutou o barulho do chuveiro cessar, e um Jean Morlevat particularmente perfeito, apareceu no vão da porta, apenas enrolado pela toalha, com gotas d´água caindo de seus cabelos bagunçados. Ela fitou-o boquiaberta e ele sorriu para a reação da garota. Quando ele fez menção de tirar a toalha ela deu um gritinho esganiçado “Jean!”, ele alargou o sorriso, e tirou a toalha – estava vestindo um samba-canção preto muito curto. Ela suspirou, sentou-se na cama novamente, ele sentou ao seu lado e passou a mão em sua perna.

- Jean...

- Ok, ok! – disse ele levantando as mãos em forma de rendição.

- Eu vou me trocar ok? – disse ela dando um selinho no noivo e dirigindo-se ao banheiro da suíte. Vestiu sua camisola preta com rendas, um palmo acima do joelho, arrumou os cabelos e voltou para a cama, e encontrou o noivo deitado, com a cabeça apoiada no antebraço.

- Mia, porrrque focê faz iss comigo? – perguntou ele em tom de súplica – Vestirrr uma camisola dessas, mon dieu!

Ela deitou-se ao lado dele, e fazendo um chamego em seu rosto ela sussurrou em seu ouvido “Se você não gosta, posso tirá-la”, e abriu um sorriso malicioso em seguida.

- Mia, - começou ele sério – se focê non quiserr eu entend, mas porrr favorr non me prrrovoque tamben non sou de ferrrro... eu tem cerrrteza que se começasse agorrra focê ia me pedirrr prrra parrarr... e com essa camisola, frroncamente, non sei se ia conseguirr....

- Desculpe. – falou ela corada, abaixando a cabeça. Jean levantou-se em um impulso e saiu da cama, no que foi impedido por Mia que segurava seu braço firmemente. – Não, por favor não vá. Durma comigo. A gente só dorme. Prometo que não vou fazer nenhuma gracinha, a não ser que eu queira... de verdade.

Ele sorriu e deitou-se ao lado dela novamente. Ela enlaçou-o pela cintura e repousou o rosto no peitoral muito bem definido do rapaz, que sorriu, e acariciava o topo da cabeça da garota, até ela cair no sono.

- O que eu non faço porrr focê, Mia... – ele sussurrou, enquanto a garota dormia profundamente.


Mia acordou com o rosto quente, sentindo a respiração de Jean. Abriu os olhos devagar e se espreguiçou, sorrindo radiante ao olhar o noivo dormir. Olhou para a janela; o sol ainda estava fraco, mas esquentava o aposento. Olhou para o relógio de pulso de Jean que ele havia largado no criado-mudo, e caiu da cama com o susto. Eram sete e quarenta, o que significava que o expresso de Hogwarts partiria em vinte minutos.

- JEAN! – ela berrou, sacudindo o rapaz que meramente resmungou. Ela correu pro banheiro desesperada, trocou de roupa (havia algumas roupas dela na casa de Jean, que ela havia deixado lá no começo das férias), lavou o rosto e arrumou-se rapidamente, escrevendo um bilhete para ele, e dando-lhe um selinho, ela aparatou para a plataforma, encontrando as amigas impacientes.

- Bom dia garotas. – desejou ela sorridente para uma Emma sem graça e uma Kahlen nervosa.

- Mia? – Emma pulara de susto ao ver a amiga ao seu lado – Você aparatou?

- Não, vim de trem invisível! – respondeu Mia naturalmente

- Mas você não tinha passado no teste... ou passou? – indagou Kahlen desconfiada, ignorando a resposta da amiga.

- Ah... – Mia corou – Passei na segunda vez.

- Ah sim. - fez Emma, e com um susto se lembrou: - E os nossos malões que ficaram na sua casa?

Mia deu um tapa na própria testa. Com toda a euforia do dia interior tinha se esquecido dos malões, mas ela se acalmou quase no instante seguinte quando viu Cho chegando com três malões além do dela.

- Acho que isso responde sua pergunta. – respondeu Mia para Emma, apontando pra sua irmã atrás da amiga. – Bom dia, Cho.

- Bom dia Mia. Kahlen, Emma. – ela fez, acenando a cabeça para as garotas. – Como ontem você estava tão... hm... inacessível, não consegui falar com você, mas achei que quisesse que eu trouxesse suas coisas. Aliás, parabéns pelo noivado.

- Ah, obrigada... você adivinhou pensamentos! E Obrigada maninha. – respondeu Mia sorrindo, Kahlen e Emma também agradeceram. Quando Cho se afastou elas resolveram entrar no trem e procurar uma cabine vazia.

- Ah, aliás Mia, parabéns! – felicitou Emma dando um forte abraço na amiga, enquanto elas entravam em uma cabine vazia.

- É, parabéns!!!! – exclamou Kahlen empolgada, dando pulinhos enquanto abraçava Mia.

- Obrigada. – respondeu a garota enquanto se sentava.


Enquanto conversavam, Mia reparou que Kahlen ainda estava zangada com Emma, e resolveu perguntar porquê.

- Essa Emma que não me deixa em paz desde que eu fui pra casa dela. – respondeu Kahlen azeda.

- Ah, você acha que ia deixar passar a oportunidade de pentelhar o meu irmão sem levar troco? – retrucou Emma com as mãos na cintura

Mia apenas fitava as amigas discutirem, e não conseguia tirar aquele sorriso radiante dos lábios.

- Ah, e pra você, a noite de comemoração deve ter sido muito boa não? – disse Emma virando-se para Mia, que apenas sorriu e deu de ombros.

Nesse instante, algumas garotas do quinto ano passaram em frente à cabine, algumas soltavam risinhos abafados, enquanto outras fuzilavam Mia com os olhos.

- O que deu nelas? – perguntou Mia assustada

As amigas se entreolharam preocupadas.

- Hm... Mia, você viu o Profeta Diário hoje? – perguntou Kahlen cautelosamente.

- Não, por que?

- É que bem... – começou a amiga, mas Emma fez um gesto de impaciência com a mão e retirou um exemplar de sua mochila, entregando a Mia.

Logo na primeira página havia uma grande foto dela e de Jean se beijando, intitulada “Podem chorar garotas: ELE FOI FISGADO!”. Mia correu o olho pela nota principal, enquanto murmurava “garotinha” e “não dou nem seis meses” indignada.

- Quem essa Rita Skeeter pensa que é afinal? – bufou ela, jogando o jornal no chão. – O que ela sabe sobre mim ou sobre o Jean pra escrever que o nosso casamento não vai durar nem seis meses?

- Ah, você sabe que essa Rita Skeeter é uma fraude, inventa, aumenta e etc. Não liga pra o que ela diz! – consolou Kahlen que parecia aborrecida também.

- Mas o pior não é isso Mia. Se fosse SÓ a Rita Skeeter tava bom. – disse Emma, que recebeu um olhar fuzilante de Kahlen – O que? É melhor ela ficar sabendo pela gente, do que por um bando de garotinhas sonsas que ficam carregando essa maldita revista pra cima e pra baixo não? – ela acrescentou para Kahlen, que fechou a cara, e retirou uma revista intitulada “Bruxalinda” da mochila, entregando-a a Mia.

Na capa tinha uma grande foto de Jean ajoelhado aos pés de uma Mia assustada, que olhava ao redor, parecia que ela estava fazendo pouco caso da situação. Havia mais duas fotos pequenas ao lado: uma de Jean, que estava maravilhoso, e uma de Mia branca, parecendo que acabara de acordar. Abaixo, o título em letras garrafais: “DÚVIDAS?” , e o texto: “Jean Morlevat pede a estudante de Hogwarts Mia Chang em casamento mas ela parece não gostar. Veja PÁG. 15.”

Mia abriu e fechou a boca horrorizada. Jogou a revista longe. Se o título já a aborrecera daquele jeito imagina a matéria toda!

- Calma Mia. Agora você tem que se acostumar! – tentava consolar Emma, jogando a revista pela janela do trem – O Jean está no foco da mídia, e não é só daqui. Segundo meus pais, saiu pelo menos UMA matéria sobre vocês em todos os jornais da França também.

Mia olhou para amiga com cara de terror, no que Emma apenas pôde dar de ombros e fazer uma cara como se dissesse “fazer o quê...”.

- Ai, eu não mereço isso. – resmungou ela tapando os olhos com uma das mãos e afundando-se no sofá. – E agora, o que mais me falta acon....? – mas ela não conseguiu terminar a frase, porque fora interrompida pelo barulho da porta da cabine se abrindo.

- Ed, Eric! Tem lugar aqui! – disse uma voz, e ela nem precisou descobrir os olhos para ver quem era.

- Wood – ela resmungou num sussurro praticamente inaudível, e logo pôde escutar o barulho do garoto e mais dois amigos entrando na cabine e fechando a porta novamente.

- Oi Kahlen, oi Emma! – cumprimentou um dos amigos de Wood que Mia reconheceu ser Eric Fieldings. – Hm... Mia? – disse ele cauteloso, provavelmente achara que a garota estava dormindo.

- Hm... Olá Eric. – cumprimentou a garota destampando os olhos e acenando com a cabeça – Hudson. – e acenou para o garoto mais atrás.

- Oi Chang. – cumprimentou Edward Hudson com um sorriso, e a garota voltou a tapar os olhos e afundar na cadeira.

- Esqueceu de mim, Changa? – perguntou Olívio erguendo uma sobrancelha.

- Ah, OI OLÍVIA. – cumprimentou ela azeda, ainda com a mão apoiada no rosto.

- Está com sono é? A noite deve ter sido boa então. – retrucou ele no mesmo tom.

- Foi sim, obrigada por perguntar. – respondeu ela ironicamente. Olívio deu um sorriso falso.

Mia realmente estava com sono, apesar de ter dormido muito bem na noite anterior. Enquanto todos na cabine conversando alegremente, com exceção de Emma e Olívio que hora e outra se alfinetavam, Mia caiu no sono, encostada na janela. Quando o vidro do trem tremeu violentamente, ela se assustou e abriu um olho. O trem começou a parar.

- O que foi isso? – ela escutava a voz assustada de Kahlen, e sentiu Olívio se levantar ao seu lado.

- Fiquem aqui. – ele falou, e saiu da cabine com Eric e Ed aos seus calcanhares.

- O que foi? – perguntou ela sonolenta, se espreguiçando, quando sentiu um frio se apoderar de seu corpo. Um vento gélido soprava em sua face, mas as janelas da cabine estavam fechadas. Escutou ela mesma quando criança gritar, apavorada, enquanto imagens vinham à sua cabeça como flashbacks indesejáveis.

Ela, com seus cinco anos de idade brincava no lago congelado atrás de sua antiga casa com seu irmão mais novo de três anos. Ela o rodopiava no gelo, sorridente, enquanto ele choramingava que queria voltar. Eles já estavam no meio do lago, quando ela soltou o irmão e este foi bufando, até a parte do lago que estava mais congelada. Foi questão de segundos. Ela virou-se um instante para trás, e quando olhou pra frente novamente seu irmão não estava mais lá. Ela correu desesperada até onde ele estava, e viu um buraco no gelo, onde ele se debatia, para não se afogar, mas não conseguia sair. Mia tentou puxá-lo para o gelo novamente, mas ele era mais pesado que ela. Ela se esforçou, lutava e gritava pedindo ajuda, tentando puxá-lo para a superfície novamente, enquanto ele ainda engolia muita água, quando seu pai chegou. Ele veio desesperado derrapando no lago congelado, e logo que viu o buraco no chão, mesmo estando a aproximadamente seis metros dele, tirou a varinha do bolso e gritou, a voz trêmula “Vingardium leviosa!”. O corpo do seu irmão se ergueu da água cortante do lago e foi flutuando no ar, imóvel, até repousar ao lado de seu pai. O Sr. Chang murmurou mais um feitiço, que fez Mia deslizar rapidamente para o lado dele também, como metal ao ímã. Ele conjurou um cobertor, enrolou seu irmão nele e murmurou um feitiço pra ele se manter quente. Eles entraram na casa, a mãe grávida chorava desesperada ao ver o estado do filho caçula, enquanto o Sr. Chang rapidamente fazia o filho engolir uma poção para reanimar. Ele esperou, mas não fez efeito. Poção de reanimar não funciona em pessoas mortas. O sr Chang deu mais uma dose da poção para o filho, e utilizava inúmeros feitiços, inutilmente. Por fim, ele se deu por vencido. A mãe berrou, desesperada. O pai balançou a cabeça, as lágrimas escorrendo pelo rosto, e repousou a cabeça ao lado do corpo imóvel do filho.

- Mia? – chamou uma voz conhecida.

Como se acordasse de um horrível pesadelo, Mia não se atreveu a abrir os olhos. Lágrimas quentes e insistentes escorriam pelo seu rosto e ela soltou um suspiro engasgado e trêmulo, cobrindo o rosto com as mãos, murmurava sem parar “Foi minha culpa... eu não devia ter levado ele... ele queria voltar...”, não conseguia parar de chorar. Ela soluçava fortemente, seu peito doía. Doía de remorso, de culpa. Ela sentiu braços a abraçarem, e sem nem ao menos saber de quem eram, deixou-se abraçar, e encostou a cabeça em ombros largos. “Foi minha culpa... foi tudo minha culpa...” ela ainda murmurava, engasgando com as lágrimas e os soluços.
- Calma. – ela ouviu uma voz a consolar, enquanto acariciavam seus cabelos – Calma, já passou. – ela se assustou ao reconhecer a voz, e pulou para longe dos braços que a acalentavam, e pela primeira vez abriu os olhos, deparando-se com um Wood sério, um pouco encabulado.

- O que aconteceu? – ela soluçou com a voz embargada.

- Dementadores. – respondeu Eric num sussurro, como se pronunciar o nome da criatura fosse atraí-las novamente. – São criaturas que guardam Azkaban. – respondeu ele, ao ver a expressão confusa no rosto de Mia.

- O que... o que eles fizeram comigo? – soluçou ela um pouco mais calma.

- O que eles fizeram com todos nós. – acrescentou Kahlen, e Mia voltou-se para a amiga que estava muito pálida.

- Eles sugam toda a alegria, toda a esperança da gente. – respondeu Emma, e Mia observou que ela tremia levemente – Só sobram os momentos ruins, as piores lembranças.

- Ah – Mia ia começar a falar, quando Wood enfiou um chocolate em sua boca, com aquele seu jeito “delicado”. – O que é isso? – ela perguntou, mastigando um pedaço.

- Além da felicidade, os dementadores arrancaram seu cérebro também Mia? – alfinetou Wood rispidamente. Coma isso que você vai se sentir melhor. Mia não fez nenhuma objeção, e comeu o resto do chocolate calada, enquanto a conversa voltava aos poucos, até ficar animada novamente. Ela preferiu manter-se fora do papo, e olhava pela janela, enquanto o trem voltava a se movimentar, ainda estava perturbada ao lembrar da cena que tanto assombrara seus sonhos quando criança. Fazia poucos anos que ela conseguira esquecer, ao menos ocultar de sua mente aquele episódio terrível, e agora viera à tona tão nitidamente que ela pensou ter vivenciado de novo.

Estava absorta em seus pensamentos, quando o trem parou novamente. Dessa vez tinham chegado a Hogsmead. Ela, Kahlen, Emma, Wood, Ed e Eric entraram juntos em uma carruagem, e chegando ao castelo, Emma e Mia se despediram de Kahlen e os garotos, que foram sentar-se à mesa da Grifinória, enquanto ela e a amiga se dirigiam à mesa da Corvinal.

Mia se sentou ao lado de Emma e de Rogério Davies, o capitão do time de quadribol da Corvinal, e ele parecia animadíssimo em falar com a garota sobre seu namorado, agora noivo, Jean Morlevat, mas a garota simplesmente o cortou, dizendo que não estava com cabeça pra conversar àquela hora, o que não deixava de ser verdade.

Ela viu os garotos e garotas do primeiro ano entrarem pela porta do salão principal quando sentiu alguém abraçá-la por trás. Virou-se com um pulo e viu que era Cho, que estava com os olhos marejados. Sem dizer nenhuma palavra, ela abraçou a irmã fortemente, e essa irrompeu em lágrimas. Mia não fazia idéia do que Cho tinha visto quando os dementadores se aproximaram, mas desconfiava que a irmã sabia o que ela mesma tinha lembrado.

- Mia... – a irmã soluçou, limpando as lágrimas com as costas das mãos – Você... você se lembrou...? – a voz de Cho foi morrendo, e ela não disse o nome do irmão morto, para o alívio de Mia.

- Sim – respondeu a garota tentando esboçar um sorriso – Mas deixa pra lá Cho, não fica revivendo esses acontecimentos que você nem ao menos presenciou!

Cho assentiu com a cabeça e soluçou fracamente, ainda limpando as lágrimas com a mão, foi se sentar com suas amigas, que a olhavam preocupadas.

Os novos alunos foram escolhidos para suas respectivas Casas, Dumbledore deu seu famoso discurso de abertura de ano letivo, e logo ela vira o banquete à mesa, e a algazarra tomou conta do salão. Sentindo-se um pouco melhor, Mia começou a comer, enquanto observava Emma conversar com Cedrico Diggory, um sextanista da Lufa-Lufa muito bonito, que viera se juntar à mesa da Corvinal.

Sentindo-se propriamente um “castiçal” ela levantou-se e foi se sentar com Kahlen na mesa da Grifinória.

- Ué? Mia? – assustou-se a garota – O que está fazendo aqui?

Mia apenas lançou um olhar à Emma e esboçou um sorriso, enquanto Kahlen acompanhava seu olhar e ria também.

- Diggory, hein, quem diria! – disse ela em tom de aprovação – Essa Emma fica escondendo o jogo, e está de olho no bonitão de Hogwarts.

- Pois é. – assentiu Mia com a voz ligeiramente rouca de tanto chorar – Ela não conta nada pra gente, mas ta aí né! Enquanto nós...

- Enquanto eu, você quer dizer, né Sra. Morlevat. – corrigiu Kahlen, fazendo Mia abrir uma careta ao escutar “Sra. Morlevat”.

Ao decorrer do jantar Mia até que estava se sentindo bem melhor ao conversar com Kahlen e seus “amigos” (admiradores, pra ser bem sincera), a não ser quando algumas garotas que passavam entre as mesas apontavam pra ela, algumas admiradas, outras envergonhadas, e algumas com nítida raiva.

- Ai meu Merlin, eu mereço isso... – resmungava ela irritada, enquanto algumas sextanistas da Sonserina liam o artigo da “Bruxalinda” em voz alta, e outras que estavam perto riam, fazendo comentários como “Ele pode ter qualquer garota só estalando os dedos, pra que foi escolher a Chang?”.

- Bom, talvez, TALVEZ seja porque a Mia dá de mil a zero em qualquer uma dessas garotas que vem correndo atrás dele num estalar de dedos, incluindo vocês, claro. – gritou Kahlen, se levantando e dando um murro na mesa em defesa de Mia, que se sentiu extremamente grata à amiga, apesar de agora o salão inteiro ter parado pra ver a discussão entre a mesa da Sonserina e da Grifinória, que logo incluiu a da Corvinal também.

- E eu acho, só ACHO – berrou Emma, que também se levantava, com o rosto vermelho – QUE VOCÊS, BANDO DE PENTELHAS MAL-CRIADAS NÃO TÊM NADA, ABSOLUTAMENTE ´NADA’, VOCÊS ME OUVIRAM? A VER COM ISSO!

As garotas se calaram imediatamente, aparentemente amedrontadas, quando se entreolharam e caíram na gargalhada.

- Hahaha... ela, dá de mil a zero em quem? – alfinetava uma quintanista da Sonserina, apontando para Mia – Só se for comparando a um hipogrifo e olhe lá! Dependendo ela pode até perder no quesito elegância!

As outras se explodiram em risadas, inclusive algumas garotas da Lufa-Lufa, amedrontadas demais para falar alguma coisa, limitavam-se a apenas rir; enquanto os garotos, que obviamente discordavam do questionamento da beleza de Mia, se restringiam a ficarem calados.

Mia apenas levantou as sobrancelhas para os comentários da garota, e sorriu, o que fez elas se desconcertarem um pouco.

- Com certeza – começou uma voz irritada à sua frente, o garoto nem se deu ao trabalho de olhar para a mesa da Sonserina (continuava a fitar Mia de um jeito muito peculiar, como se a tivesse analisando) – Ela dá de um milhão a zero em qualquer uma de vocês, Bulstrode. – respondeu Olívio, encarando uma Mia que corava furiosamente. Emília Bulstrode, uma sextanista da Sonserina que até àquela hora estava com um sorriso de orelha a orelha por achar que Wood ia concordar com ela, ficou vermelha como os cabelos dos Weasley, e resmungando alguma coisa, tratou de se sentar.

- Obrigada, Wood. – falou Mia constrangida – Não que eu precisasse da sua ajuda, claro. – acrescentou ela desdenhosa.

- Claro que não. – respondeu ele rispidamente, fazendo uma careta, que fez Mia rir. Era aquela careta que ela sempre o imitava fazendo.

Aos poucos o salão principal foi se esvaziando. Os alunos do primeiro ano foram os primeiros a ir para os dormitórios das Casas, orientados pelos monitores. Emma, além de monitora da Corvinal junto com Thales Duggle, era também monitora-chefe, o que fazia dela a aluna com mais poder na escola. Ela não ligava muito pra isso, na verdade era modesta demais e toda vez que alguém elogiava sua inteligência ela corava e falava “Não sei como consigo essas notas, pra falar a verdade, nem estudo direito” – o que era uma mentira lavada. Ela era muito estudiosa, mas não ficava espalhando pra escola inteira nem se gabando de suas notas como faziam muitos corvinais.

Mia dirigiu-se a torre da Corvinal, passando pelos mesmos corredores e pelas mesmas escadas que conhecia tão bem, chegando ao quadro de uma princesa bonita, de cabelos castanho alourados que sorria docemente.

- Olá querida. – cumprimentou o quadro – Senha?

- Ai, esqueci de perguntar à Emma. – lamentava-se ela, enquanto uma voz conhecida dizia “Chifre de Unicórnio” e o quadro se abria.

- Ah, olá Vince. – cumprimentou Mia ao ver o dono da voz. Um garoto do sétimo ano bonito, da mesma altura que ela.

- Oi Mia. – cumprimentou ele educadamente – Nem preciso perguntar como foram as férias não? – disse ele dando uma piscadela. – Acho que esse diamante no seu dedo e o foto no Profeta Diário valem mais que mil palavras não é mesmo?

- Ah. – começou ela fazendo um gesto de impaciência com a mão, enquanto os dois chegavam ao Salão Comunal infestado de primeiro e segundanistas – Nem me fale disso. Já não bastam os comentários sarcásticos e os artigos na “Bruxalinda”. – e fez uma careta ao mencionar o nome da revista.

- Mas isso é só inveja, não liga não! – ele respondeu, enquanto ia se encontrar com sua namorada, Amanda Connor do sexto ano. – Depois a gente se fala Mia!

Ela acenou com a mão e se dirigiu ao dormitório feminino do sétimo ano, tentando fugir da algazarra do Salão Comunal. Chegou lá e encontrou Emma jogada na cama, exausta.

- Muitas tarefas, monitora-chefe? – zombou Mia risonha.

- Vai rindo, Mia. – respondeu Emma irritada – Sorte sua não ser monitora.

- Eu, nunca!

Apesar de ser cedo e o dormitório estar vazio àquela hora, exceto por uma Mia irritada e uma Emma exausta, Mia colocou sua camisola e deitou-se na cama, e ficou conversando com Emma até a mesma cair no sono, o que Mia foi descobrir depois de dez minutos falando sozinha.

- Hmpf... – resmungou ela irritada – Vai ter troco essa Srta. Wood. – e assim, fechou o cortinado e dormiu.






Olívio não agüentava mais a barulheira do salão comunal. A garotada do primeiro ano fazia um estardalhaço. Provavelmente não sabiam que teriam aula de manhã cedo. Ele estava em uma poltrona confortável próximo à lareira, afastado de todos, debruçado sobre uma maquete de campo de quadribol que flutuava à sua frente, empurrando bonequinhos com a varinha, enquanto um pergaminho flutuava ao seu lado e uma pena escrevia sozinha as estratégias que ele resmungava. Já era onze e meia quando ele finalmente se levantou, e fez menção de deixar o salão comunal, que àquela hora já esvaziara completamente. Exceto por... – ele corou – Kahlen, que estava sentada no chão, organizando fotos em cima de uma mesinha de centro.

Ele parecia estar sofrendo uma batalha interiormente, e quando finalmente conseguiu reunir coragem para falar com a garota, ela começou a juntar as fotos de qualquer jeito e a resmungar “amanhã eu termino isso”, e se levantando, deparou com Olívio com cara de bobo, observando-a, o rosto enrubescido.

- AH! – ela berrou – Wood, que susto! – acrescentou, arfando.

- Desculpe. – disse ele sem graça – O que você estava fazendo?

- Ah, estava montando um álbum, sabe? – respondeu ela animada, apesar de ter bocejado em seguida – Para o aniversário da sua irmã. Mas fecha essa boca hein! É segredo! – acrescentou ela lançando-lhe um olhar severo, que a fazia ficar mais linda ainda, pensava Wood.

- Ah, mas o aniversário dela é só em fevereiro! – retrucou ele confuso

- Eu sei, mas preciso ir organizando! Depois das férias de Natal os professores não vão dar um tempo por causa dos N.I.E.M.´s, tenho que aproveitar agora que tenho tempo! – respondeu ela dando mais um bocejo – Bom, eu vou dormir! Boa noite Wood.

- Boa noite Reed. – respondeu ele esperando-a desaparecer na escadaria em espiral e indo para o seu dormitório, exausto. Trocou-se, e se jogou na cama, ainda pensando em Kahlen, quando teve uma idéia. Levantou da cama com um pulo e começou a fuçar no seu malão, jogando roupas, livros (exceto sua vassoura, que pousou delicadamente ao seu lado) pelo quarto.

- Vamos, onde está você...? – ele resmungava, enquanto vasculhava no fundo do malão. – Achei! – exclamou baixinho, pois seus colegas já dormiam profundamente. Eric roncava, e Ed resmungava algumas palavras ininteligíveis.

Olívio tirou uma máquina fotográfica um pouco antiga, com duas asas pretas, uma de casa lado. Como se fosse um passarinho, a máquina voou da mão de Olívio e estabilizou-se no ar. O garoto pegou sua varinha, deu duas batidas na câmera e disse à ela “Quero que você registre uma foto do meu amor dormindo!” e assim, abriu a janela do dormitório para a câmera sair. Ele se jogou na cama novamente, a janela ainda aberta, enquanto esperava ela retornar. Ficou deitado por quinze minutos, e logo adormeceu.

Acordou com o sol fraco batendo em seus olhos. Sentiu algo grudado em sua face, e retirou-a lentamente. Era uma fotografia, e ao ver de quem era, ele caiu da cama com o susto. Olhou para a foto novamente, e viu Mia dormindo, espalhada na cama com um travesseiro entre as pernas, e o outro ela abraçava. Vestia uma camisola de seda azul, e murmurava alguma coisa. Seus cabelos negros lisos estavam esparramados pela cama, brilhando a luz do luar.

- Sua máquina idiota. – ele resmungou para a câmera, que repousava em cima do criado-mudo – Era pra você tirar uma foto da Kahlen!

Wood se dirigiu ao banheiro, ainda xingando e amaldiçoando a câmera, tomou um banho, e voltou para o quarto. Olhou de soslaio para sua cama: a foto ainda estava lá.

“Olívio, Olívio... pra quê você quer uma foto de Mia?”, censurava-se andando de lá pra cá em frente à sua cama, lançando olhares preocupados e ao mesmo tempo cobiçosos à foto “Da Chang!” – corrigiu-se, balançando a cabeça. Pegou a foto com uma mão, e com a outra segurava a varinha: ia queimá-la. Parou, pensou melhor, e guardou-a entre as páginas de seu livro de quadribol, que por sua vez foi guardado dentro da gaveta do criado-mudo e trancado.

“Não que algum dia eu vá olhar pra essa foto novamente”, ele pensou decidido, enquanto descia as escadas para tomar café no salão principal.



- Mia acorde! – Emma a sacudia pelo ombro direito – Ande, Mia nós vamos nos atrasar!

A garota bufou de raiva, abriu os olhos lentamente e se dirigiu para o banheiro, resmungando algo como “agora to te devendo duas, Emma”. Tomou um banho, trocou-se, e desceu as escadas para o salão comunal, encontrando uma garota de cabelos castanho-claro, quase louro e olhos verdes batendo o pé impaciente.

- Demorei? – perguntou Mia sorrindo, só pra pirraçar a amiga.

- Meia hora, Srta. Chang! Meia hora tomando banho! – exclamou Emma irritada, enquanto as duas passavam pelo buraco do retrato e se dirigiam para o salão principal.

- Ah, Emma. A essa altura do campeonato você já devia estar acostumada! – exclamou Mia sorridente (estava de muito bom humor, pois havia tido um sonho excelente) – Faz sete anos que você reclama que eu demoro no banho, e faz sete anos que eu continuo demorando. Aceite! Não vou mudar!

- É... acho que o que me resta é aceitar mesmo. – disse a garota vencida

- Bom dia meninas! – exclamou Kahlen indo se juntar às garotas na mesa da Corvinal. Mia nunca entendera muito bem porquê ela não andava com as garotas da Grifinória, sua própria Casa, mas Kahlen também nunca conseguira explicar direito, pois sempre que começava, era interrompida pela própria Mia, que dizia “Sei, eu sei que somos maravilhosas e que você não se cansa de andar com a gente! Afinal, em que outra Casa senão a Corvinal você ia encontrar garotas tão esplêndidas como a gente não é Em?”, no que a amiga apenas revirava os olhos, e com um sorriso confirmava “É, é Mia...”

- Bom dia, Kahlen! – exclamava Mia animada, e Emma cansada.

- Primeira aula, pra começar o ano com chave de ouro... adivinhem! – começou Kahlen num tom de apresentadora de Jogos de TV.

- Hm.. deixe eu pensar... – disse Mia coçando o topo da cabeça, fingindo absoluta concentração – Poções, com o Prof.. Severo “Higiene-é-bom-e-faz-bem” Snape?

- Bingo! – exclamou Kahlen sorrindo ironicamente – A mesma sala sortida do ano passado.

- É... a classe dos N.I.E.M.´s, não é Em? – perguntou Mia para a amiga, mas ela não se encontrava mais sentada ao seu lado – Ué? Onde ela se meteu? – perguntou ela, esticando o pescoço pra ver melhor, e avistou a amiga próxima à mesa da Sonserina, ralhando com um terceiranista particularmente mal-encarado, e enquanto o garoto parecia responder à ela, ela bufou de raiva, seu rosto vermelho, e mostrou-lhe o distintivo de monitora-chefe, enquanto anotava umas coisas no pergaminho, e o garoto lançava-lhe olhares medonhos de raiva.

- Ela como monitora-chefe vai ser um perigo! – comentava Kahlen, dizendo exatamente o que Mia estava pensando àquela hora.

As duas esperaram Emma voltar à mesa, bufando de raiva, e resmungando adjetivos como “retardado” e “pivete”, e as três se dirigiam às masmorras para a aula de Poções.

Snape estava ao lado de um caldeirão borbulhante, com vapores subindo em espirais, parecendo muito medonho com a fraca iluminação da sala. Todos se sentaram em suas bancadas, e aguardaram em silêncio o professor começar a falar. Havia dez pessoas na sala; três da Corvinal, três da Grifinória, três da Sonserina e um único da Lufa-Lufa, os únicos que conseguiram um “Ótimo” com Snape para continuar em sua classe de N.I.E.M.´s.

- Bom – começou ele, apontando para o caldeirão e Mia viu uma substância com um brilho perolado borbulhar – Creio que aqueles que conseguiram um “Ótimo” comigo nos N.O.M.´s podem dizer perfeitamente o que é essa substância... – ele fitou os dez alunos da sala um por um, provavelmente à procura do mais burro, ou do mais nervoso, que tinha uma probabilidade maior de errar a pergunta. Como não encontrou ninguém que parecesse intimidado, ele se dirigiu à Mia. – Srta. Chang? Poderia nos dizer o nome dessa poção?

- Hm... Amortentia? – arriscou Mia, e o professor lhe lançou um olhar superior

– E quais as propriedades da poção?

- É a poção de amor mais forte que existe. – começou ela um pouco cautelosa – Faz quem a bebe sofrer de uma paixão possessiva e em alguns casos até perigosa, podendo levar ao suicídio da mesma ou ao homicídio, que, como no caso da maldição Imperius não pode ser considerado culposo.

- Agora sim, está explicado seu noivado com Morlevat, Chang! – Mia escutou uma garota da Sonserina exclamar, enquanto a amiga dava risinhos abafados. Ela olhou para o professor, irritada, e se revoltou ao ver que seus lábios se crispavam em um sorriso.

- Você esqueceu-se de dizer que o cheiro dessa poção varia de pessoa para a pessoa. Uma mistura curiosa dos aromas que mais atraem cada um. – respondeu Snape, sorrindo triunfante, sem nem ao mesmo advertir a garota que o interrompera.

- Não, não esqueci. – retrucou Mia impaciente – Só fui interrompida por um trasgo batizado pelos pais de Marianne. – completou, lançando um olhar raivoso para a sonserina, que retribuía o olhar na mesma intensidade.

- Dez pontos a menos para a Corvinal, Srta. Chang, por sua falta de respeito. – disse Snape, sorrindo – Ao contrário do que muitos pensam a Amortentia não faz efeitos permanentes, muito menos altera a personalidade ou sentimentos de uma pessoa. Um rapaz pode ser enfeitiçado sua vida toda com essa poção, mas uma vez que ele parar de tomá-la, não se lembrará de nada, absolutamente nada que fez ou viveu quando estava sob efeito da poção. E... Sr. Wood? – disse ele voltando-se para um Olívio particularmente entretido em seu livro aberto sobre a mesa. Mia observou o garoto fechar rapidamente o livro, e pôde ver uma miniatura de Fred Weasley sendo esmagado pelo braço do garoto – Qual o antídoto para a poção?

- Não tem. – respondeu Wood apoiando o cotovelo na mesa para impedir uma miniatura de Alicia Spinett sair voando – Você tem que esperar o efeito da poção passar...

- Que seria...? – instigou o professor, olhando com raiva para o garoto, que apesar de ter passado a aula bolando táticas de quadribol, mostrou que estava prestando atenção no que Snape falava.

- Depende da quantidade de pó de chifre de unicórnio que você colocar – respondeu Olívio prontamente – Quanto mais, mais duradouro será o efeito.

Snape fechou a cara.

- Abram o livro na página 324! – disse ele rispidamente, fazendo vários alunos pularem da cadeira de susto – Juntem-se em duplas. De Casa diferentes – ele fez questão de acrescentar, abrindo um sorriso satisfeito ao ver Mia se adiantando para se sentar com Emma – Quero essa poção pronta em duas aulas! – completou ele rispidamente, enquanto os alunos resmungavam, trocando de lugares. Mia olhou para Kahlen, mas Emma passara em sua frente, abrindo um sorriso sem graça e dando de ombros. O resto da sala parecia ter encontrado seus pares, e Mia olhou para um Wood sozinho a um canto, e amaldiçoando-se internamente, foi se juntar ao rapaz, que fitou-a perplexo.

- É sentar com você, ou fazer sozinha, Wood. – explicou ela mal-humorada, enquanto retirava seu livro “Estudos Avançados no Preparo de Poções” da mochila, e jogava-o com violência em cima da mesa.

Começaram a retirar suas balanças e a cortar ingredientes, sem nem ao menos um olhar para a cara do outro. Mia lia atentamente como se chegava ao ponto da poção antes de se acrescentar o pó de chifre de unicórnio, quando ela observou Wood, que parecia em transe, e olhava cobiçoso da poção pronta no caldeirão de Snape, que soltava fumaça em espirais, para uma Kahlen que murmurava irritada “eu sei, eu sei...” enquanto pesava um punhado de baço de sanguessugas do outro lado da sala.

- Nem pense nisso Wood. – ela advertiu-o, enquanto ele pulava de susto.

- Ta louca, Chang? – disse ele perturbado, arfando.

- Nem pense em usar essa poção na Kahlen, está me ouvindo? – disse ela em tom de censura.

- Até parece que eu ia fazer uma coisa dessas. – retrucou ele nervoso, voltando-se para cortar o rabo de salamandra – Eu não preciso disso pra conquistar a Kahlen, Chang.

- Ah, sim, porque seus próprios métodos funcionaram TÃO BEM nesses últimos cinco anos... – alfinetou ela, fazendo o garoto abrir uma careta.

Mia estava concentrada, cortando o rabo de salamandra meticulosamente, quando ouviu burburinhos e os alunos, inclusive Wood, levantando-se de suas cadeiras e cruzando a sala.

- Ai, o que aconteceu agora? – exclamou ela irritada, levantando-se para ver o que acontecera. – KAHLEN! – ela gritou horrorizada, ao ver o corpo da amiga inerte no chão, e correu para perto dela, e de Emma que mantinha uma expressão séria e preocupada.

- O que aconteceu? – ela perguntou para a amiga

- Ela estava pesando o baço de sanguessuga, quando de repente desmaiou e caiu da cadeira. – respondeu Emma branca de susto.

- Chega, levem a Srta. Reed para a enfermaria! – exclamou Snape rispidamente, olhando de Emma para Mia. Emma pegou a varinha e a agitou no ar dizendo “Vingardium leviosa”, e o corpo de Kahlen foi flutuando no ar logo atrás de Emma, e Mia fechava o cortejo.

- Vai na frente. – disse Mia tensa para Emma – Eu vou arrumar nossos materiais, e explicar o que aconteceu para a McGonagall, ou ela vai estranhar se a gente não aparecer na aula dela. Te encontro na enfermaria depois.

Emma assentiu com a cabeça e continuou a andar em passos apressados para a enfermaria.

Mia voltou-se para a sala e tomou um susto. Seus materiais, tanto dela, quanto de Emma e de Kahlen estavam guardados, as balanças e os caldeirões devidamente lavados.

- Quem...? – ela começou, mas era óbvio. Só restava ela, Snape e Wood, que acabava de lavar seu próprio caldeirão da pia. – Obrigada, Wood. – ela acrescentou muito contrariada, para o garoto.

- Não fiz isso por você, fiz por Kahlen. – respondeu Olívio que estava pálido, e sua voz estava ligeiramente trêmula.

- Ah, claro. – disse ela abaixando a cabeça, e com um feitiço, reduziu as três mochilas e caldeirões e saiu da sala em direção a sala de McGonagall, deixando Wood com um Snape mal-humorado.

Correu pelos corredores, e alcançou a sala de transfiguração logo no segundo andar, abriu a porta e passou diretamente pelos alunos que a olhavam curiosos, enquanto explicava o que ocorrera para a professora num sussurro, e saia novamente, com a autorização de McGonagall, sem dar maiores explicações aos colegas.


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