J´Adore (Dior)



Capítulo Um: “A Final da Taça Européia de Quadribol”



Mia ajeitou o cabelo e analisou o rosto: não mostrava nenhuma olheira, apesar de ter dormido apenas 4 horas na noite anterior. Olhou de relance para as duas garotas que dormiam em um sono profundo em duas camas armadas magicamente postas em seu quarto. Seu olhar encontrou a janela que estava aberta àquele momento e soprava uma brisa morna para dentro do amplo aposento; seu olhar se demorou no céu alaranjado, estava amanhecendo, olhou para o relógio no criado-mudo: eram cinco horas.

Mia Chang estava em seu sétimo e último ano em Hogwarts; era uma Corvinal com orgulho, apesar de às vezes se questionar se o Chapéu seletor a mandara para a Casa certa. Quando isso ocorria, ela se consolava tentando pensar “Hm... Corvinal, são das pessoas inteligentes. Tá legal que eu não sou muito fã de estudar, mas deve ser porque não preciso, pois sou inteligente”. Era artilheira do time desde seu terceiro ano na escola, e defendia seu posto muito bem. Simplesmente adorava quadribol, mas não se deixava obcecar-se por ele, como uma certa pessoa que ela pensava conhecer muito bem...

“Wood...” – ela resmungou revirando os olhos e fazendo uma careta, imitando a que Wood fazia – desde seu quarto ano em Hogwarts ela e o capitão da Grifinória (agora em seu sétimo ano também) nutriam uma certa... ahn... antipatia mútua devido a uma partida em que ela marcara sozinha noventa pontos no goleiro Wood, e apesar do apanhador da Grifinória ter capturado o pomo, a Corvinal vencera. Wood nunca se conformara. Ela nunca vira na vida alguém tão obcecado quanto ele. – “Só queria saber se ele é tão obcecado assim em outras áreas da vida...” - ela se surpreendeu pensando, e balançando a cabeça logo tratou de espantar Wood de sua cabeça.

Espreguiçou-se então, se afastando da janela, foi para o amplo banheiro de sua suíte e tomou um banho quente, logo já estava trocada; vestia uma calça jeans, uma regata azul-marinho, parecendo um tanto social, com alças muito finas e sandálias da mesma cor.

Ela se aproximou de uma das garotas que dormiam profundamente, e começou a chamá-la, sacudindo delicadamente seu ombro.

- Kahlen? – ela chamou, a garota apenas soltou um resmungo e virou-se para o outro lado da cama. – Kahlen? – chamou Mia novamente, uma visível irritação na voz. A garota que estava dormindo, então, levantou-se e se espreguiçou, visivelmente contrariada, e resmungando palavras soltas como “madrugar nas férias” e “ele não vale tudo isso”, ela dirigiu-se ao banheiro.

Mia agora se dirigia para a outra garota que dormia. “Essa vai ser mais fácil”, pensava ela, sorrindo como uma criança prestes a fazer uma travessura.

- Emma, acorde! Estamos atrasadas! – disse Mia, tentando fazer a voz mais desesperada possível, o que funcionou, e ela sabia que funcionaria; a amiga acordou com um salto.

- O que aconteceu? – perguntou Emma assustada, sentando-se na cama – Não posso me atrasar! Sou monitora-chefe! Ah, não, McGonagall vai me matar!

Mia não pôde deixar de rir ao olhar a expressão apavorada da amiga

- Calma, Em. – tranqüilizou-a Mia risonha – Só voltaremos para Hogwarts amanhã, lembra-se? Você está na minha casa, e hoje iremos assistir a final da Taça Européia Interclubes de Quadribol. – ela disse tudo muito lentamente, como se o raciocínio da amiga estivesse debilitado.

Emma a fitava vermelha, uma expressão raivosa tomou-lhe o rosto pequeno.

- Você e suas maneiras de me acordar! – bufou ela irritada, enquanto Kahlen saia do banheiro, já vestida, alisando os cabelos com a varinha – Bom, só falta eu né? – e assim trancou-se no banheiro, e ouviu-se o barulho da água caindo.

- Animada? – perguntou Kahlen, que agora acordada, estava com um humor estrondosamente melhor.

Mia deu de ombros.

- Não sei – respondeu aérea – Um pouco ansiosa, acho – completou, encarando a amiga, que se sentava na cama.

- Um pouco? Eu, no seu lugar estaria uma pilha de nervos. – retorquiu Kahlen calçando as sandálias, e Mia fez uma careta ao olhar o tamanho do salto da amiga: tinha no mínimo, quinze centímetros. – O que é?

- Kahlen, você já é mais alta do que eu e a Emma juntas. Usando esse salto nós vamos parecer duas duendes.

- Ah, Mia, não exagere! – retrucou a amiga, que mais parecia uma Miss. Era alta e magra, e andava como se o chão fosse uma passarela. Seus cabelos eram castanho-claro, que havia tingido com uma poção e agora se encontravam loiro-escuro.

Mia não pôde deixar de se sentir inferior quando uma Emma já arrumada e impecável, saiu do banheiro. Ambas as amigas eram muito bonitas. Kahlen era dona de uma beleza estonteante, chegava a ser óbvia, tinha metade dos garotos de Hogwarts aos seus pés. Emma, além de muito bonita, porém dois palmos mais baixa que Kahlen, era a garota mais inteligente da Corvinal (o que não era pouco), além de muito modesta em relação aos seus “dotes”, tanto físico quanto intelectual.

“ E eu? Só tenho meu orgulho e meu pavio curtíssimo”, pensava, desapontada.

- Vamos, então? – perguntou Kahlen animada

- Vamos. – concordaram Mia e Emma juntas. Das três, Mia era a mais interessada em ir, teoricamente, sem contudo, sentir um décimo de excitação que as amigas mostravam. Elas desceram a escadaria da mansão que Mia morava, passando pelo saguão de entrada e dirigindo-se à sala de jantar, onde Cho, a irmã mais nova de Mia, e mais duas amiguinhas de Hogwarts já tomavam o café.

Cho estava no quarto ano de Hogwarts e no entanto, era tão quanto ou mais popular que Mia. Era mais baixa que a irmã mais velha, e muito bonita. As duas mantinham uma relação de irmãs normal, brigavam bastante, mas quando a coisa ficava feia, elas sempre se ajudavam.

- Grande dia, não Mia? Animada? – Cho repetia a pergunta de Kahlen, enquanto levava uma torrada a boca.

Mia gostaria de estar, gostaria de se sentir radiante, e de responder à irmã que se sentia confiante, feliz e animada. Mas o máximo que conseguiu fazer foi assentir com a cabeça e contrair seus lábios em um sorriso pouco convincente.

- O que você tem? – perguntou Emma desconfiada, entrando na conversa – Você está falando desse maldito jogo desde antes de entrarmos de férias, e agora que chegou o grande dia você parece tão...

- Ela só está nervosa, Em. – cortou Kahlen, vindo ao resgate de Mia – Deixe ela em paz. Acho que todas nós sabemos o que está por vir não? Não é à toa que ela está assim. Precisa pensar um pouco.

- Ah sim. – e Emma abriu um largo sorriso, e sem que Kahlen visse, ela olhou para Mia, apontando para ela mesma e gesticulando “madrinha” sem emitir som algum.

- Não, não vai. – disse Kahlen de repente, fazendo Emma pular da cadeira de susto, apesar de a amiga ter falado calmamente – Nós já resolvemos isso. Eu vou ser você-sabe-o-quê.

Emma cruzou os braços emburrada; na verdade tinham decidido isso no segundo ano em Hogwarts, Emma seria a madrinha do casamento de Mia, que seria madrinha de Kahlen, que por fim, seria a de Emma. Mia não sabia ao certo se, no sétimo ano, ou ainda, daqui a dez anos ainda estaria valendo, “não que eu não queira Kahlen como madrinha”, ela acrescentou, em seus pensamentos. “Não que eu queira me casar agora”, ela pensou, suspirando. “Não que você queira se casar com ele” – retrucou uma vozinha dentro de sua cabeça, e ela teve que concordar, que era aquilo que a preocupava.

- Bom dia garotas. – desejava o Sr. Chang juntando-se à tropa de garotas que àquela hora já terminavam o café

Mia estremeceu. Não sabia ao certo se ela e o pai estavam de bem ou não. Na noite anterior os dois haviam discutido sobre qual lugar Mia se sentaria no jogo de hoje. Seria uma briga boba apenas entre torcedores de times opostos, se Lee Chang não fosse o dono, apenas o dono do Abutres de Vratsa, time búlgaro que ganhara sete vezes a Taça européia e que hoje jogaria a final da mesma contra o Puddlemere United, time para qual Mia queria, e teria que torcer. O pai havia tentado persuadi-la a torcer para seu time oferecendo a ela o melhor lugar do estádio inteiro, mas do lado dos Abutres, e ela retorquiu dizendo que ela ia, de fato, ficar no melhor lugar do estádio, mas do lado oposto dos Abutres, e ainda brincou, dizendo que ia dar “tchauzinho” ao pai da cabine VIP do Pudd, como ela chamava o time.

O pai simplesmente admitiu a derrota, pois sabia dos fortes motivos de Mia a continuar fiel ao time que torcia desde que era criança, mas ainda estava magoado com o que ele chamava de traição na família, e Mia poderia jurar que ouviu o pai chamá-la de “Brutus” quando conversava com sua mãe.

- Bom, acho que vamos indo. – ela disse, se levantando da mesa, no que foi seguida pelas duas amigas (Cho e suas amiguinhas do quarto ano iriam se sentar com o Sr. Chang ao lado dos Abutres).

- Bom jogo pra você minha filha, e que vença o melhor. – disse o Sr. Chang com a voz cansada, sem, contudo, tirar os olhos do “Profeta Diário” que lia enquanto comia uma salsicha.

- Igualmente papai. – respondeu Mia, deixando escapar um sorriso – Que vença o melhor.

Mia, Emma e Kahlen postaram-se nos jardins da mansão dos Chang, e pegaram um chapéu-coco marrom, totalmente amarrotado – viajariam através da chave de Portal particular. Elas tocaram no chapéu ao mesmo tempo, e Mia sentiu um solavanco a arrancando do chão seguro do gramado de seus jardins, e no instante seguinte estava rodopiando com Kahlen e Emma, uma de cada lado. Via passar borrões de cores difusos, e começara a se sentir nauseada quando caiu com um baque em um gramado que estava longe de ser o da sua casa.

- Três chegando Particular. Mansão dos Chang – anunciou uma voz tediosa.

Mia esperou as garotas se recuperarem da viagem; ela, que já viajara inúmeras vezes com o sistema de chaves de Portal, para ver o Puddlemere jogar, já havia se acostumado com tudo, mas Kahlen parecia um pouco tonta, e Emma um tanto nauseada.

- Vamos, garotas. – chamou uma voz conhecida. Era Josephine, a governanta dos Chang, que guiava as garotas para a barraca.

Mia, Kahlen e Emma passavam por uma trilha de terra firme, enquanto as garotas admiravam as barracas. Em um trecho não muito longo, havia centenas de barracas enfeitadas com abutres de madeira, alguns bruxos, um pouco mais ousados, haviam enfeitiçado seus abutres, fazendo-os voar acima da barraca, ou cantar (de uma forma muito desafinada, como Mia pôde observar) o hino do time. Em um trecho mais à frente, que era onde as três amigas iriam ficar, um campo infindável azul-marinho reluzia, e em cada barraca, como elas puderam observar mais tarde, havia dois juncos dourados cruzados em forma de “X”, o emblema do clube.

- Vocês ficam aqui – disse Josephine indicando uma barraca fracamente enfeitada, era apenas azul-marinho – Seus pais e sua irmã ficarão na barraca ao lado. – e a governanta fez uma leve referência e se retirou, e Mia observou que, apesar de torcerem para times diferentes, seu pai fez com que as duas barracas ficassem bem na divisória, podendo então, serem vizinhos.

Mia entrou na barraca – tinha três suítes, cozinha, sala de estar e de jantar. A garota apenas deu de ombros enquanto as amigas admiravam boquiabertas; Não entendia o porquê de tudo aquilo, sendo que estavam lá pra assistir apenas uma partida.

- Srta. Mia? – guinchou timidamente a elfa domástica

- Hm, sim Kwon?

- A senhorita poderia me dizer onde fica o poço de água, srta? – a elfa pareceu extremamente constrangida e fitou-a esperançosa, com aquela duas bolas de tênis azuis que eram os olhos dela.

- Pode deixar que eu vou buscar, Kwon. – disse a garota, para o desespero da elfa. Antes que a elfa pudesse guinchar alguma coisa, Mia olhou para as amigas, que deram de ombro e saíram as três, pelo caminho de terra. Enquanto andavam, paravam uma vez e outra para cumprimentarem conhecidos de Hogwarts (a maior parte das vezes, era Kahlen quem parava, e a maioria dos colegas eram meninos, diga-se de passagem).

- Ah... fica pra uma outra vez, ano que vem, quem sabe? – dizia Kahlen tentando de desvencilhar de um encontro com um garoto da Lufa-Lufa, aparentemente insistente.

- Kahlen – começou Emma em tom de censura – Eu acho que ano que vem não estaremos em Hogwarts não?

- Ah – fez Kahlen fazendo pouco caso – Eu sei disso, você sabe disso, Mia sabe disso, mas ele não sabe. Uma mentirinha não faz mal a ninguém, não?

Emma apenas revirou os olhos, enquanto Mia fechava a cara para quem as aguardava mais à frente.

Aquela era, sem dúvida, a barraca mais enfeitada de todos os torcedores do Puddlemere United – Azul marinho, coberta por pares de juncos dourados, os torcedores fanáticos haviam enfeitiçado as vestes do time, fazendo parecer que um homem particularmente grande e invisível as usava, ora cantando o hino do time, ora convidando os torcedores dos Abutres que lá passavam para se unirem ao Pudd. Dizendo que “Nunca é tarde demais para ser vencedor”.

- Wood. – Mia murmurou resmungando, enquanto um rapaz particularmente bonito, corpulento e de cabelo castanho-claro talvez mais lisos que os de Mia saia da barraca.

O rapaz, que até aquela hora não havia percebido a presença das três garotas que o encaravam, apenas gritava para dentro da barraca que a próxima vez seria de um tal de Ed buscar água no poço.

- E aí maninho? – cumprimentou Emma de um jeito desdenhoso. O garoto virou para encarar a voz, assustado e enrubesceu um pouco ao ver que a irmã estava acompanhada.

- Emma? O que você está fazendo aqui?

- Ué, vim ver o jogo. – respondeu a garota dando de ombros – Você sabe, a Mia conseguiu lugares na sala VIP, junto com a cabine de imprensa, e é lá que vamos assistir o... como é mesmo o nome do time, Mia?

- Puddlemere – respondeu Mia revirando os olhos; a amiga sabia muito bem o nome do time, mas fazia isso apenas para pirraçar o irmão, que era fanático pelo Puddlemere e que ia assistir o jogo da arquibancada.

- Ah sim... o Pudd jogar. – completou Emma abrindo um sorriso ao ver que o irmão corava de raiva. Mia não conteve um sorriso ao ver Wood daquele jeito.

- Traindo o time da família? – alfinetou Olívio virando-se para Mia.

Mia ergueu as sobrancelhas até o máximo que conseguia.

- Se estou ou não, você não tem nada a ver com isso, Wood. – retorquiu ela azeda.

- Acho que vocês vieram mesmo pra ver o Morlevat, estou certo? – Wood disse “vocês”, mas encarava Mia com um sorriso desdenhoso no rosto, bem similar ao de muitos sonserinos.

Jean Morlevat era o apanhador do Pudd. Tinha dezenove anos, alto, forte, bonito, tinha cabelos castanho-alourados lisos com mechas que caiam nos dois lados do rosto quadrado, olhos azuis intensos; era também o apanhador da seleção da França. Era um fenômeno europeu, e conseqüentemente muito popular, principalmente entre as garotas.

Mia ergueu uma sobrancelha.

- Exatamente Wood. – ela respondeu secamente, para o espanto do garoto. Ele estava com esperanças de que seu comentário fosse render alguns berros da parte de Mia.

- Bom, vamos indo então? – disse Kahlen pondo fim na discussão. Sabia, que se dependesse dos dois, morriam ali discutindo – Tchau Wood. – acrescentou para o garoto, que corou.

- Tch... tchau Kahlen. – gaguejou ele de volta.

Mia revirou os olhos. Wood sempre agia daquela forma quando se aproximava de Kahlen, que meramente mencionava seu nome, numa voz tediosa.

“Mais essa agora. Se a Kahlen resolver dar bola pro Wood e eles começarem a namorar vou ter que aturar aquele idiota como irmão de uma melhor amiga e namorado da outra.”, pensou ela irritada.

- Ah, tchau Changa! – gritou ele em um som perfeitamente audível, quando as três já haviam andado um bom pedaço da trilha.

- Tchau, Olívia. – berrou Mia de volta, enquanto alguns garotos que estava perto riram ao olhar a garota para quem Mia berrara.

Kahlen e Emma soltaram risinhos.

- Ai, Mia, você consegue me superar, sabia? – disse Emma para a amiga – Quando o assunto se trata de pirraçar meu irmão, não há ninguém melhor que você.

- Ah, obrigada, Emma. – agradeceu Mia levantando as sobrancelhas e fazendo uma leve referência à amiga que revirou os olhos, risonha.

Elas pararam na fila de bruxos que esperavam sua vez para retirar água.

- Por que você não falou pra ele? – perguntou Kahlen séria.

- Falar o quê? – respondeu Mia com outra pergunta

- Do Jean e tudo.

- Mas eu respondi, oras.

- É, mas foi meio vago, você não explicou nada. Além do quê, se você perguntar pra qualquer garota que está aqui, até para as torcedoras do Abutre, elas vão dizer que estão aqui pra ver o Jean. – retrucou Kahlen impaciente – Você sabe que ele está fazendo um tremendo sucesso com as garotas, desde que saiu na capa da “Bruxalinda”.

- Ai, essas revistas idiotas pra adolescentes me dão uma dor de cabeça... – Mia desviou o assunto, enquanto começou a tripudiar esse tipo de revista.

As três pegaram a água no poço, levando os galões cheios flutuando atrás delas enquanto passavam. Ambas já haviam completado seus dezessete anos, sendo maior de idade perante o mundo mágico, podendo, portanto, fazer mágica fora de Hogwarts.

Voltaram para a barraca, e foram cumprimentadas por Cho e suas amigas, que já haviam chegado na barraca vizinha.

Passaram a manhã e a tarde conversando e jogando Snap Explosivo, e uma hora antes do jogo elas tomaram banho, se trocaram, e foram ao estádio.

Fazia uma bonita noite de verão. Estava quente, e um vento ameno soprava em seus cabelos. O céu estava estrelado, e a lua brilhava; Mia reparou que ela parecia estranhamente grande, mais próxima a Terra.

- Noite perfeita não? – perguntava Emma com um sorriso insinuante.

Mia assentiu com a cabeça, enquanto pensamentos como “Será uma noite perfeita se ele não fizer isso” lhe corriam à cabeça.

Chegaram ao estádio e se dirigiram automaticamente à cabine de imprensa, com uma vista privilegiada. Abaixo e acima delas podia-se escutar a algazarra que os torcedores do Puddlemere faziam. Voavam enfeites, pares de juncos dourados sobrevoavam a arquibancada e cantavam o hino do time, juntamente com uma bruxa que estava no meio do campo, e milhares de torcedores faziam coro.

Do outro lado do estádio, bem de frente para Mia, ela podia ver um mar amarelo gema que eram os torcedores dos Abutres. Todos usavam chapéus engraçados, pretos e pontudos com um abutre entalhado em cima.

Mia pôde ver uma ´ôla´ se formando no canto oposto do estádio quando os Abutres entraram em campo, a capitã-apanhadora aguardava, sobrevoando sua torcida.

Mia sentiu a cabine vibrar quando os Pudd entraram em campo. Uma onda de vivas e berros era escutada a cada nome que o narrador chamava... Campbell, Owen, Agger, Kewell, Browes, Finn, e... Morlevat!! – o último jogador a entrar, foi saudado com mais vivas e aplausos que todos os outros. Garotas gritavam histéricas e mandavam beijos a ele, que sorria e acenava para arquibancada, os cabelos castanho-alourados balançando ao vento. O time passou voando pela arquibancada e Morlevat parou na frente da cabine VIP e mandou um beijo para dentro dando uma piscadela, os olhos azuis brilhavam de um jeito estranho, o que fez com que as garotas sentadas ao lado de Mia, provavelmente filhas de dirigentes do time, ou do próprio dono, como Mia lembrou, suspirassem sorridentes. A garota revirou os olhos, mas não conteve um sorriso.

O juiz apitou, e foi dada a partida. Mia reparou como os Abutres jogavam melhor que os Pudd. Seu time chegava raramente às balizas do time adversário, e se não fosse pelo goleiro Agger, os Pudd estariam perdendo feio.

“E lá vem o artilheiro Owen do Puddlemere.”, narrava Ludo Bagman “Ele passa por Thurew, desvia de um balaço, AI, essa foi por pouco! E... marca! Cinqüenta a trinta...! Cuidado Abutres, que os Pudd estão chegando!”

A torcida azul-marinho vibrava e gritava, metade olhava o jogo e a outra corria os olhos por Morlevat, que sobrevoava pouco acima das balizas do Pudd.

Mia cravava as unhas em sua perna, tensa. Um batedor dos Abutres parecia encarregado de mandar um balaço na cabeça de Jean caso ele fizesse algum movimento súbito.

O jogo correra com os Abutres sempre em vantagem de pontos. Mia fora até a mesa repleta de quitutes e tomou um pouco de água para se acalmar, depois de quase arrancar um tufo de seus cabelos quando Jean quase fora jogado de sua vassoura, devido a um trombo com um artilheiro dos Abutres particularmente grande.

Ela estava virada de costas para o campo, com a mão no peito, arquejando, quando ela escuta um barulho que fez seu coração acelerar. A torcida berrava agitada, e Emma pulara da cadeira agora gritando “VAI JEAN, PEGA LOGO!”

Mia correu para ver o que acontecia. Jean voava a toda velocidade para o chão, emparelhado com o apanhador dos Abutres, onde um ponto dourado reluzia perto do meio de campo.


There goes my hero
Lá vai meu herói

Watch him as he goes
Observe-o enquanto ele se vai


Mia cravou as unhas no rosto, as duas mãos fazendo figa.

Jean se jogou da vassoura com um pulo, e PEGOU! A arquibancada ruiu e tremeu. Os torcedores berravam loucamente e gritavam o que Mia deduziu ser “Morlevat” porque apenas conseguia escutar um “Moevá” em coro. A garota chorava de alegria, deu as costas para as amigas e desceu as escadas que levavam para o campo.

O restante dos jogadores do Puddlemere se juntou ao apanhador que estava em pé ao chão, a bolinha dourada segura entre os dedos. Eles se abraçavam, e lágrimas escorriam de seus olhos. Morlevat abraçou todos os companheiros de time, e, para a surpresa de todos, saiu correndo em direção a uma garota de cabelos negros muito lisos um pouco abaixo do ombro, que o aguardava timidamente num canto afastado da algazarra.

Mia não precisou dizer nada, apenas sorriu radiante, os olhos borrados pelas lágrimas e ele a abraçou fortemente, levantando-a pela cintura, e a rodopiando no ar. Seus lábios se encontraram, e eles se beijaram apaixonadamente, os corpos unidos. Mia sentiu um arrepio correr a espinha, chegando à nuca, seu corpo tremeu de leve enquanto ele a abraçava ainda mais forte, acariciando de um modo protetor as suas costas, e pousando a mão em sua cintura, enquanto a outra a segurava pela nuca. Agora o estádio inteiro parara para observar os dois, ainda fazendo um barulho estrondoso e comemorando, os torcedores olhavam intrigados para a garota que ele rodopiava no ar, e que agora beijava tão acaloradamente.

Eles pararam de se beijar, e Jean a encarou com aqueles olhos azuis da cor do céu. Ele estava com o rosto corado e ofegava, Mia não soube dizer se era pelo esforço do jogo, ou pelo beijo. Ela enlaçara-o pelo pescoço, e agora apoiava a testa no ombro do rapaz, enquanto o mesmo abraçava sua cintura, e assim ficaram por alguns minutos, como se fossem dançar uma música lenta.

- Parabéns, chuchu. – ela sussurrou em seu ouvido, e o rapaz sorriu, sentindo um arrepio percorrer o seu corpo. Não gostava muito que a garota o chamasse de “chuchu” mas ela insistia tanto que ele acabara cedendo.

- Esté vitórria foi só prra focê! – disse ele com a voz mais sedutora que Mia jamais ouvira. – Mia... – começou ele se ajoelhando aos pés da garota, que começava a se desesperar – Eu... eu nunc conheci uma garrrota igual a vous... semprrre me fazerrr riirr e me darr carrrinho e me deixarr mont feliz...

A garota reparara agora que o estádio inteiro parara, silenciara magicamente ao ver o apanhador do Puddlemere ajoelhado no meio de campo. Os holofotes do estádio se viraram para a garota confusa e para o rapaz ajoelhado aos seus pés. Ela pôde escutar Ludo Bagman comentando, sua voz magicamente ecoava por todo o estádio, palavras como “decepção das garotas”, “acorrentar”, “dia de sorte” eram proferidas pelo narrador, para aumentar o terror da garota.

Em um ato de desespero, ela ajoelhou-se na grama junto com Jean e o abraçou com força, percorrendo as mãos pela sua nuca.

- Non, Mia... levante...- ele dizia sorrindo, enquanto empurrava gentilmente o braço da garota – Focê tem que estarr dê pé! Querrrro fazerr iss derreit!

- Jean, você não está entendendo – disse a garota em tom de súplica, com a voz embargada. Seus olhos estavam marejados. Simplesmente não se sentia preparada. Ela se aproximou mais dele, enlaçando-o pelo pescoço e descansando sua cabeça no ombro do rapaz. – Eu amo muito você, - começou ela, sussurrando no ouvido do garoto, fazendo-o se arrepiar mais ainda.

- Eu amm muit focê tampémm.. é porr iss qui eu estou tentand te falarrr uma cois...

- Mas eu não estou preparada. Não quero agora – ela continuou num sussurro, como se ele não a tivesse interrompido. – Desculpa, não consigo.

Ele a fitou confuso e muito corado.

- Vous estarr querrendo dizerr qui non...? – ele parou, olhando-a desconfiado, como se ela estivesse pregando-lhe uma peça.

Ela apenas balançou a cabeça negativamente da forma mais discreta possível.

- Mia... – ele começou, sorrindo docemente para a garota. Era incrível, ele conseguia sorrir mesmo depois de ter levado um fora na frente de trinta mil pessoas. Um sorriso que sempre fazia as pernas de Mia fraquejarem. – Non estou dizen prra nos casarrrms agorrra... – ele continuou, enlaçando-a pela cintura. Os dois continuavam ajoelhados no gramado e a arquibancada continuava silenciosa. Mia pôde observar milhares de olhos voltados para os dois, e se mexeu um pouco incomodada com a falta de privacidade. – mas sei qui focê é a mulherr da min vida... – continuou ele, ignorando a breve distração da garota – Querrro estarr prra sempr com focê... focê pode aceitarr agorra e casams daqui alguns ans... iss é... se focê quiserr, clarro. – ele acrescentou rapidamente, encarando-a com aqueles olhos azuis que tinham um brilho sereno e confiante. Mia abriu um sorriso. Um sorriso verdadeiro e radiante, o segundo que ela abrira aquele dia. Jogou-se sobre ele, fazendo-o se desequilibrar e cair de costas na grama, com uma Mia absolutamente apaixonada e feliz, beijando-o loucamente, sobre seu corpo.

- Iss é um oui? – ele perguntou, ofegante, depois que a garota o puxara para se sentar.

- Oui je volonté vous ai épousé – respondeu ela sorrindo, puxando-o para um outro beijo.
*sim, eu me casarei com você


De repente, o estádio que até àquela hora estava em silêncio explodiu em palmas e vivas, a maioria delas vinda por homens (a maioria das garotas apenas olhava Mia invejosas com desprezo), mas algumas ainda acharam o pedido extremamente romântico e os aplaudiam, freneticamente.

Mia ficou no gramado, observando os jogadores do Abutre receberem as medalhas de prata (com uma cara de poucos amigos), e logo depois o Puddlemere receber as medalhas de ouro. Jean, como capitão do time segurou a enorme taça de ouro reluzente, beijou-a, olhou de soslaio para uma Mia chorosa de felicidade, dando uma piscadela pra garota, e a ergueu no ar. O estádio vibrou ainda mais. Os juncos dourados cruzados caiam sobre os torcedores e sobre os jogadores ambos embargados pela emoção e pelas lágrimas.

Mia sorriu, radiante. Aquele talvez seria o dia mais feliz de sua vida.


CONTINUAAAA.....

Hitomi: wow... primeira fic! Espero que gostem! Heheheh só pra ir no embalo de todos os escritores....Comentem pleaseeee?

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.