A Árvore Cerebral



HP e a Primeira Edição



CAPÍTULO NOVE
A ÁRVORE CEREBRAL



- Ótimo, agora que chegamos nesse fim de mundo, o que vamos fazer? – indagou Rony, olhando enjoado para o monte de casas e edifícios que era a cidade do centro dos bosques.
Realmente, aquele lugar era um fim de mundo. Não tinha nada de atrativo para os turistas como hotéis e restaurantes. Havia poucas lojas e ainda menos jogos. A maioria das casas estava com os vidros quebrados e à primeira vista, o passante pensaria que estava abandonada, mas vinha muito barulho de dentro das casas, o que denunciava que todas elas estavam ocupadas.
Mas o pior era que tudo ali parecia ser mal-assombrado. Uma casa grande a sudeste tinha um grande letreiro dizendo Casa Mal-Assombrada. Uma torre cinzenta ao lado tinha uma placa enfeitada com crânios escrito Torre da Bruxa. Havia outras coisas estranhas como o Cemitério de Jogos e a Arena de Pedra, mas o que mais chamava a atenção era um grande casarão bem ao centro da cidade que era chamado de Castelo de Eliv Thade.
- Vamos esperar passar a noite. Amanhã pegamos a seiva da Árvore Cerebral e daí vamos embora daqui. – disse Harry.
- Só espero que dê tempo. – comentou Hermione – Amanhã é o nosso último dia.
- Vai dar sim. – acalmou Harry.
- Certo, mas onde vamos passar a noite? E eu estou faminto. – perguntou Rony.
- Boa pergunta... – disse Harry
Eles procuraram pela cidadezinha por um hotel ou pousada, mas não encontraram nada. Certamente aquela não devia ser uma cidade turística.
- Só temos uma coisa a fazer. –disse Hermione
- O quê? – perguntaram Harry e Rony
- Vamos dormir no Castelo de Eliv Thade. Segundo o livro, é abandonado. Podemos arrombar a porta e dormir lá.
- Tudo bem... Mas o que vamos comer? – perguntou Rony
- Ah... – Hermione deu um sorrisinho – Eu coletei essas frutinhas enquanto estávamos caminhando pela floresta. Só não sei se são boas... – e ela mostrou um monte de frutinhas vermelhas pouco maiores que as cerejas do formato de sininhos.
Eles foram até o Castelo de Eliv Thade, que na realidade era um casarão com portas e janelas trancadas. Tinha o aspecto de estar abandonado e em ruínas. Hermione usou o feitiço Alohomorra para abrir a porta de entrada do casarão. Os cômodos do pequeno castelo eram todos escuros, cheios de poeira e teias de aranha. Hermione arrombou uma segunda porta para um outro cômodo que aparentava ser a sala de estar, e que era mais iluminado e menos sujo que os outros. Eles se acomodaram no porão enquanto Hermione conjurava chamas azuis para acender a lareira.
Depois das chamas se intensificarem, de modo que o cômodo ficou bem iluminado e quente, eles se serviram das frutinhas vermelhas.
- Não sei se é uma idéia comermos isto. – disse Hermione
Mas Rony nem ouviu o alerta de Hermione e abocanhou o maior número de frutinhas em forma de sininhos que ele pôde. Segundos depois, caíra duro no chão e dormira.
Harry e Hermione se entreolharam estranhos, mas comeram algumas das frutinhas também. A fruta quase não tinha gosto, mas tinha muito mais líquido do parecia poder guardar. Depois de comer umas três dessas frutas, Harry se sentiu invadido por uma onda de sono e desmaiou.
Quando abriu os olhos, já estava dia e Hermione estava sentada num dos sofás empoeirados. A sensação de que ele tinha era de que dormira por pouco tempo, embora não estivesse mais cansado.
- Harry, me desculpe. – começou Hermione – Eu sabia que não devíamos ter comido essas coisas.
- O que aconteceu? – perguntou Harry.
- Nós comemos bagas soníferas. Por isso desmaiamos logo depois que as comemos! Eu estou com muita dor nas costas... – ela reclamou.
Rony ainda estava dormindo.
- Por quanto tempo Rony vai ficar dormindo? – Harry perguntou
- Eu não sei, mas ele comeu várias dessas frutas. – Hermione respondeu.
- Que horas são?
- Eu não sei, perdi meu relógio. Mas suponho que já esteja próximo à hora do almoço, porque o movimento lá fora está cheio. – Hermione disse
Harry espiou por uma das janelas quebradas do cômodo. Mal dava para ver o que acontecia lá fora, mas Harry percebeu que vários neopets caminhavam para lá e para cá apressados.
- Temos que nos apressar, Harry. Antes que Eliv Thade apareça... – Hermione disse
- Mas você não disse que o castelo estava abandonado?
- Eu sei, mas existem boatos de que Eliv Thade ainda mora aqui e assombra a casa... – Hermione disse
- Ele morreu...?
- Não, Harry... Ai, agora eu não tenho tempo para te explicar nada disso. Vamos carregar o Rony para fora... – ela respondeu
- Mas não podemos. Rony ainda está adormecido e ele será inútil lá fora. Temos que esperar até ele acordar. Senão só vai nos atrapalhar. – contestou Harry
- Ai, está bem. – concordou Hermione
- Enquanto isso, me explica essa história toda do Eliv Thade.
- Certo. Eliv Thade criou um livro, Harry, com dicas para todos os jogos de Neopia. Mas as fadas vieram e roubaram o livro, e por isso Eliv Thade perdeu tudo o que tinha e enlouqueceu. Ele nunca mais foi visto, e sua casa ficou abandonada. Mas dizem que ele ainda mora aqui, e que ele espanta todos os que entram porque dizem que ainda existem artigos do livro dele que não foram publicados escondidos pelo castelo...
- Então ele pode pensar que somos ladrões? – indagou Harry
- Sim, Harry. Por isso eu quero ir embora. Dizem que ele enlouqueceu. Pode tentar nos matar.
- Mas por que as fadas roubaram o livro dele? – perguntou Harry
- Eu não sei. – ela respondeu – Muitas coisas do Neopia estão pela metade, porque há muito mistério.
Eles esperaram por Rony acordar, o que demorou por volta de uma hora. Quando Rony acordou, eles procuraram sair do castelo o mais rápido possível, mas foram impedidos no caminho por um neopet da aparência mais triste que Harry já vira.
Ele era um Kacheek, mas assim como Vira, tinha um feitio totalmente deformado e diferente. Ele parecia ser de pelúcia, com várias costuras malfeitas por todo o corpo. Era de uma coloração verde fantasmagórica, as mãos engessadas, os dentes muito grandes e enormes olhos vermelhos. O focinho de Eliv Thade era azul e pequeno e ele usava vestes roxas rasgadas no colarinho. Dois botões pretos e amarelos foram remendados na roupa e ele segurava em uma das mãos machucadas uma pena de escrever lilás.
- Intrusos! Intrusos em minha casa! Não vou permitir, não vou! – Eliv Thade fez um aceno com a pena de escrever e imediatamente as vestes de Hermione pegaram fogo.
Enquanto Hermione apagava o fogo com um feitiço de sua varinha, Harry expulsava o Kacheek:
- Focus Rrayo! – Harry disse e Eliv Thade parou o que estava fazendo ao ser atingido pelo raio de fogo e simplesmente deixou o cômodo.
- Vamos embora daqui. – disse Rony, e eles finalmente deixaram o castelo.


A cidade dos Bosques Mal-Assombrados era muito diferente durante o dia. Embora a iluminação não fosse muito diferente de como era durante a noite, as ruas eram bem mais movimentadas. Os neopets que moravam na cidade eram muito antipáticos, de má aparência e todos eles pareciam gostar das Artes das Trevas. Os pontos mais movimentados eram a Arena de Pedra e o Mercado Fantasmagórico, um lugar repleto de lojas que ficava a 3km da cidade e que Harry não reparara quando chegara na cidade ontem. O Mercado Fantasmagórico compensava a falta de lojas na cidade, mas o lugar era totalmente assombrado e as casas que pareciam estar prestes a desmoronar vendiam todo o tipo de coisas estranhas como Olhos de Acromântula, Asas de Korbat e Ovos Mágicos Encolhidos.
Harry, Hermione e Rony logo localizaram a Árvore Cerebral. A árvore era muito grande e ficava num lugar isolado à noroeste da cidade. O tronco da árvore era velho e tinha uma coloração marrom. Havia um grande buraco no tronco que abria e fechava como se fosse uma boca e um par de bolas vermelhas logo acima do buraco lembravam dois olhos.
Os galhos da árvore eram altos e suspendiam um cérebro gigantesco que tremia. O cérebro tinha partes alaranjadas, partes douradas, e soltava gosmas e fumaças amarelas. Era uma coisa muito nojenta. A árvore exalava um cheiro acre de coisas podres, como um corpo em decomposição.
Harry se aproximou da árvore pensando em qual lugar devia retirar a seiva (se é que existia seiva), mas a árvore me mexeu. Harry levou um susto e a árvore falou:
- O que você deseja, faerie? – A árvore tinha uma voz rouca e grossa.
- Preciso da sua seiva. – Harry respondeu firmemente.
A Árvore fez uma pausa como se estivesse pensando, e então disse:
- Não posso dar minha preciosa seiva assim, de presente. Mas eu darei se vocês completarem uma busca minha,
- Já estamos em uma busca. – retrucou Harry – E temos menos de vinte e quatro horas para entregar a seiva.
- Uma busca por minha seiva? E de quem é essa busca?
- De Jhudora. – respondeu
- Não darei nada para Jhudora. – a Árvore bradou.
Desejando não ter dito aquilo, Harry voltou atrás:
- Desculpe, eu me enganei. Eu quis dizer Illusen, e não Jhudora.
- Vocês, faeries, não sabem mentir. Eu sei que é para Jhudora, e repito: não dou nada para esta louca.
Perdendo a paciência, Harry apontou a varinha para a Árvore e gritou:
- Me dê sua seiva ou irei lançar uma azaração!
Os olhos da Árvore Cerebral começaram a brilhar e soltar faíscas. Hermione puxou Harry para longe da árvore antes que acontecesse qualquer coisa.
- Não adianta, Harry. Não adianta. – ela disse
- Como assim? Não chegamos até aqui para desistir! – retorquiu Harry
- Harry, não vamos criar mais problemas. Vamos até o Mercado Fantasmagórico procurar por alguém que esteja vendendo a seiva!
- Mas o nosso estoque de dinheiro está baixo. E aposto como essa seiva deve custar muito caro.
- Não temos opção, Harry. Vamos logo.
E eles voltaram para o Mercado Fantasmagórico, mas não encontraram seiva nenhuma em loja alguma. À medida que a noite foi se aproximando, Harry começou a se desesperar.
- O que acontece se não completarmos a busca? – ele perguntou
- Tratando-se de Jhudora, eu não sei dizer. – Hermione disse – Mas se ela fez essas tatuagens na gente, suponho que não seja coisa boa.
A tatuagem de um dragão negro no pulso de Harry estava mais forte do que nunca e agora atingia uma coloração vermelho-vivo que lembrava sangue.
- Vou ter que obrigar aquela Árvore a me dar sua seiva. – disse Harry – Não tem outra maneira.
Harry correu para a cidade dos bosques com Rony e Hermione ao pé dele. Eles logo localizaram a Árvore e Harry iniciou outra discussão com o ser. A Árvore ficara muito nervosa e começara a lançar feitiços estuporantes em Harry, mas não conseguia acertá-lo.
Harry estava pronto para lançar o feitiço de imobilização na Árvore Cerebral quando uma outra voz falou:
- Parem! O que estão fazendo?
Um neopet havia se aproximado deles. Ele era alto e cheio, e lembrava uma pessoa também, se não fosse por sua pelagem verde e por três caudas que saíam de sua cabeça. Usava um guarda-pó branco, calças brancas e tênis brancos sujos de terra.
- Dr. Sloth. – disse a Árvore – esses faeries estão tentando pegar minha seiva sem minha autorização!
O Doutor Sloth, como assim foi chamado pela Árvore Cerebral, fez um aceno para que Harry, Rony e Hermione deixassem a Árvore; e, sem escolha, eles saíram.
- Vocês não deviam estar atormentando a Árvore Cerebral. – disse o doutor – Ela está numa fase muito difícil, sabem. Se o que vocês precisam é apenas a sua seiva, tomem.
O doutor conjurou um malão com sua varinha. Ele abriu o malão que continha diversos frascos com líquidos de diferentes cores. Sloth deu um dos frascos para Harry.
- Aqui está, faerie. Só estou fazendo isso porque vocês são faeries. Deve ser uma coisa muito importante, eu presumo.
Harry ficou observando o frasco repleto de um suco cor-de-leite enquanto Hermione assentia com o doutor.
Harry soltou um suspiro de alívio.
- Agora só precisamos voltar para a Cidade das Fadas. – ele disse
- Não sei se vamos ter tempo, Harry. Os transportes não saem mais há essa hora. Teremos de esperar até amanhã. – disse Hermione tristemente.
- Como assim transporte? – indagou o Dr. Sloth, que ouvira a conversa. – Vocês não são faeries? Não podem simplesmente se transformar e sair voando?
- Não podemos nos transformar. – Hermione apressou-se em dizer.
- Ah, nesse caso... Sugiro que peguem transporte no Lago Kiko, é o local mais próximo daqui. Eu estou indo para lá, se quiserem me acompanhar...
- Claro que sim. – eles assentiram.
- O meu nome é Frank Sloth. – o doutor disse – Sou cientista. Estou tratando da Árvore Cerebral. Tenho um gosto especial por árvores assim, sabem. E por que vocês queriam a seiva dela?
- Precisamos da seiva para uma poção. – mentiu Hermione
- Ah... que tipo de poção? – ele perguntou interessado.
- Não sei, não somos nós quem vamos prepará-la. É muito sigiloso.
- Entendo... Então, vocês tinham até amanhã para entregar a seiva?
- Exato. – respondeu Harry.
- Eu estou acampado um pouco mais ali à frente. – disse o doutor, enquanto eles caminhavam pelas moitas que ficavam ao final da cidade – É muito perigoso andar pelos Bosques à noite. Vamos fazer isso amanhã cedo.
Harry, Rony e Hermione concordaram, agradecidos pelo Doutor Sloth estar os ajudando.
Eles chegaram até onde havia uma barraca armada. Ela era aparentemente pequena, mas Harry já conhecia esse segredo: por dentro, elas eram muito maiores. Eles já estavam se preparando para entrar na barraca, quando um movimento brusco numas árvores próximas dali lhes chamou a atenção.
- Tem alguma coisa ali? – perguntou Hermione.
- Fiquem aí, eu vou verificar. – disse o doutor.
O Doutor Sloth se dirigiu até as árvores que se mexeram e desapareceu pouco tempo depois. Harry e seus amigos ficaram apenas observando, esperando ele voltar. Então eles ouviram um grito do doutor, um disparo que parecia ter sido executado por uma arma de fogo e uma risada de mulher, uma risada longa e lenta.
O doutor voltou das árvores bem mais pálido e as feições em seu rosto jovem agora causavam calafrios. Harry reparou que seus olhos avermelharam.
- O senhor está bem, doutor...? – Harry perguntou.
Mas o doutor não respondeu. Ele apontou a varinha para eles e cordas amarraram Harry e seus amigos violentamente um contra o outro. Eles caíram no chão imobilizados, enquanto Sloth tacava fogo em sua própria barraca.

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