O milésimo aniversário

O milésimo aniversário



Finalmente, o dia do baile chegara, e cinco garotas se arrumavam apressadas no dormitório.
- E então ela me disse que o vestido ia ficar melhor se fosse desse... Lílian, quer calar a boca, por favor?
Lílian encarou Julie com seu par de olhos verdes.
- Eu não posso nem reclamar em paz?
- Você já reclamou demais hoje – Replicou ela com um ar superior. Realmente, Lílian era a única que não parecia excitada ou empolgada para o baile. Ficara o tempo todo resmungando, desde que a Prof. Minerva dissera que, como monitora da Grifinória, ela deveria entrar com o monitor, não importa o par que tivesse escolhido. E particularmente, Lílian não tinha nenhum par (a professora esclareceu os fatos para ela antes que ela tivesse a oportunidade de arrumar um). Erica e Julie achavam que isso havia acontecido por todos os garotos da Grifinória já terem percebido que Tiago gostava de Lílian. E ninguém queria entrar na lista negra de Tiago.
- Você não está sendo obrigada a ir com o Remo, está? – Lílian ajustou o rabo de cavalo elegante que fizera, com uma enorme careta. Julie não respondeu nem a encarou.
- Ah, anime-se, Lílian – Falou Erica, parecendo não se afetar pelo clima, pois parecia extremamente feliz. Erica parecia realmente a ganhadora de um concurso de beleza quando ia a bailes; Julie costumava brincar que ela devia usar um amuleto nessas ocasiões, para se proteger da inveja das outras garotas. Erica arrumou as mangas bordadas de sua veste rosa-choque e sorriu para a amiga. - Pense na quantidade de pessoas nesse mundo que gostaria de estar no seu lugar.
- Pense no quanto eu daria para qualquer uma delas estar no meu lugar – Lílian respondeu, mal humorada, e se trancou no banheiro.
- Teimosa – Murmurou Julie, olhando feio para a porta que Lílian acabara de bater.
- Querendo ou não, ela vai com o garoto mais bonito de Hogwarts – Sorriu Erica, satisfeita, para Julie. – Conseguimos algum progresso.
- Vocês estão tentando juntar os dois? – Perguntou Laura, que estivera observando calada a cena.
- Não – Falou Julie, calmamente. – Só estamos vendo quanto tempo vai demorar até isso acontecer.
- E vai acontecer – Erica completou.
- E como vocês sabem? – Retrucou Laura, com um ar de descrença. Julie e Erica apenas sorriram uma para a outra. Se eles não se beijassem pelo menos uma vez até o fim do sétimo ano, elas já haviam armado o plano perfeito para que isso acontecesse parecendo um simples acaso; Lílian nunca saberia.
Lílian abriu a porta do banheiro, completamente pronta e bonita nas suas vestes verde-água.
- Vou descer – Avisou, sem olhar para nenhuma das garotas. Erica teve a imediata impressão de que ela ouvira o que elas falavam.
- Já? – Perguntou Erica, distraída.
- Os monitores precisam estar meia hora mais cedo no salão principal. Vejo vocês lá. – A frieza na voz da garota confirmou as suspeitas de Erica, mas ela não se importou; continuou a se arrumar na frente do espelho.
- Como estou? – Perguntou Julie, virando-se para ela, e havia um certo pânico em sua voz; Erica sabia exatamente o porquê.
- Ele vai adorar, Julie, você está linda – Respondeu, sorrindo, e Julie retribuiu com um sorriso tímido. Estava com vestes pretas de um tecido que cintilava, a franja estava caprichosamente caída sobre um olho e o resto do cabelo estava em uma trança longa.
- Acho que vou descer... esperar na Sala Comunal – Falou, mas a voz saiu um tanto embargada.
- Vou com você – Prontificou-se Alice, sorrindo dentro de vestes bege. – Frank deve estar me esperando.
- Também vou – Levantou-se Laura, seu vestido azul contrastando com a pele branca.
- Ok, vamos todas – Disse Erica, dando uma última olhada em seu coque pelo espelho.
As quatro desceram as escadas e encontraram uma porção de garotos em trajes de gala na sala, provavelmente esperando seus pares. Perto da lareira, estavam conversando Sirius e Remo, elegantíssimos e arrancando suspiros de algumas garotas do terceiro ano; Erica e Julie se dirigiram imediatamente para lá. Laura e Alice foram ao encontro de um grupo de garotos do sétimo ano, onde Frank Longbottom, par de Alice, estava.
- Olá – Disseram Erica e Julie ao mesmo tempo. O olhar de Remo analisou Julie de cima a baixo, e ela ficou muito sem graça ao constatar que ele simplesmente ficara sem palavras. Sirius as encarou como se nunca tivesse visto nada parecido.
- Por Merlin – Murmurou. – Esse ano vocês se superaram.
- Cantada barata, Almofadinhas – Remo o cutucou, fazendo as duas rirem.
- Vamos, então? – Falou Sirius.
- Vamos – Respondeu Remo, e os dois ofereceram os braços às duas ao mesmo tempo.
- Vocês andaram ensaiando isso? – Julie sorriu, impressionada.
- Com Tiago ensaiando isso três horas seguidas perto de nós, foi impossível não decorar – Falou Sirius, rindo, e os olhares de Erica e Julie se encontraram imediatamente. Os quatro saíram pelo buraco do retrato; Sirius e Erica à frente, abrindo imponentemente um caminho pelos corredores cheios e atraindo olhares de garotas (suspirando por Sirius) e garotos (suspirando por Erica). Julie e Remo vinham mais atrás. Ela percebeu que Remo estava estranhamente sorridente, de um jeito que ela nunca vira antes. A sua cicatriz no pescoço estava quase imperceptível.
Eles chegaram ao saguão de entrada, e Erica ficou na ponta dos pés e esticando o pescoço por cima das inúmeras cabeças.
- Que você está procurando? – Perguntou Julie, que parara ao seu lado.
- Lílian – Falou ela.
- Ali – Remo apontou para a garota ruiva encostada na porta. Lílian tinha uma cara de quem realmente daria tudo para não estar ali. Tiago, por sua vez, estava conversando com o par de monitores da Corvinal. Minerva McGonagall apareceu no saguão e começou a organizar a ordem de entrada.
- Grifinória, aqui, por favor, monitores à frente – A professora chamou. Remo olhou para Julie, pegou gentilmente sua mão (coisa que Julie gostaria que ele não tivesse feito, pois sua mão estava tremendo) e foi guiando-a pelo saguão, até chegarem ao pé da escada e darem de cara com uma Lílian totalmente infeliz.
- Maldita a hora que eu fui escolhida como monitora – Murmurou ela para Julie, e dando um aceno nervoso para Erica e Sirius, que haviam parado logo atrás deles. Tiago apareceu deslizando ao lado dela, e ele sorriu ao vê-la fechar a cara para ele.
- Garota simpática esse meu par, não acham? – Comentou Tiago, sarcástico. Ele obviamente também não estava muito feliz de entrar com ela. Lílian xingou-o baixinho. – Boca suja, Evans – Completou ele, e as garotas viram a amiga fechar o punho.
- Sejam amigáveis pelo menos hoje – Ralhou a prof. McGonagall ao passar por eles, e saiu para chamar a atenção dos alunos que estavam fora da fila.
- Impossível – Falou Lílian, muito baixo.
- Se você colaborasse, não ia ser – Retrucou Tiago.
- Se você não fosse meu par, eu colaborava.
- E eu realmente queria ser seu par, não é?
- Você me convidou.
- Antes de cansar de levar patadas suas.
- Chega de discussão, vocês! – Interveio McGonagall novamente. – Quero os dois sorrindo quando cruzarem essa porta.
As outras casas foram entrando pela enorme porta, sempre num cortejo que começava com o fantasma da casa, seguido pelo diretor da casa, pelos monitores e pelo resto dos alunos. Julie ouviu o enorme suspiro de resignação que Erica soltou ao ver Rosier passar com uma garota de cabelos louros da Sonserina. As portas à frente dos Grifinórios se abriram e Nick Quase Sem Cabeça já estava lá.
- Preparem-se – Falou McGonagall a Tiago e Lílian enquanto os Sonserinos se acomodavam. Tiago ofereceu o braço a ela, relutante.
- Vamos dar um trégua, ok? – Disse ele, quando Lílian hesitou. – Estou gostando disso tanto quanto você.
Minerva começou a andar com altivez atrás do fantasma e os dois a seguiram. O coração de Lílian batia muito depressa e ela só conseguiu dar um sorriso fraco; sentia os olhos de todos no salão em cima dela. Estava imaginando o que todos que sabiam que ela odiava Tiago estavam pensando agora. Sentiu uma vontade súbita de sair correndo e começou a avaliar se teria que correr muito para alcançar a saída mais próxima.
- Calma, Evans – Sussurrou Tiago, sorrindo em todas as direções que podia. Lílian desistiu do plano e fixou os olhos no Godric Gryffindor do enorme estandarte da Grifinória, que pendia do teto atrás de um monte de mesinhas cobertas com um tecido dourado.
Atrás da mesa dos professores, havia o que parecia ser um imenso estandarte bordado com o brasão de Hogwarts. Abaixo, em letras grandes e floreadas, havia escrito “Aniversário de 1000 anos da fundação da Escola de Magia e Bruxaria Hogwarts”. Em letras menores, havia o nome de Alvo Dumbledore e os de todos os professores.
O salão tinha 6 grandes grupos de mesinhas, ao invés das 4 mesas longas. Dois desses grupos eram aparentemente reservados aos muitos convidados especiais do ministério, e os quatro restantes pertenciam um a cada casa.
Minerva mandou que os alunos se acomodassem às mesas, enquanto os alunos da Lufa-Lufa entravam pelo salão e se dirigiam para as mesas cobertas de negro. Lílian e Tiago, Remo e Julie e Sirius e Erica sentaram-se na mesa mais próxima.
- Sobreviveu? – Sussurrou Julie a Lílian. Não foi preciso resposta; a garota estava lívida.
- Ela estava tremendo – Falou Tiago. – Achei que ela ia sair correndo, na verdade.
- Eu pretendia fazer isso – Lílian disse. – Mas prefiro agüentar alguns segundos de agonia a ser lembrada pelo resto da vida como a garota que foge do Potter.
- Cadê o Pedro? – Perguntou Erica.
- Está na enfermaria, junto com o Ranhoso – Falou Sirius, e ao passear o olhar pelas mesinhas da Sonserina, Erica confirmou que Snape não se encontrava lá. – Os dois arrumaram briga bem debaixo do nariz da McGonagall.
Dumbledore levantou-se após todos se acomodarem e começou seu discurso, ao qual Erica não prestou atenção nenhuma, pois se divertira caçando defeitos no par de Evan Rosier: o nariz dela era decididamente grande e pontudo demais, ela era magra demais e era dentuça também. Decidiu ignorar o fato de que os cabelos da garota eram perfeitamente lisos, ao contrário dos seus.
O olhar de Evan encontrou o seu, e ela procurou não desviá-lo. Não queria demonstrar que não tinha coragem suficiente para encará-lo. Os dois passaram um tempo interminável apenas olhando um nos olhos do outro, até o Salão irromper em aplausos: o discurso de Dumbledore havia acabado. A garota ao lado dele o chamou e ele foi obrigado a tirar os olhos de Erica.
Após o banquete, as mesas desapareceram, deixando em seu lugar uma série de pequenos sofás, com as cores de cada casa. O centro do salão foi iluminado, deixando a área dos sofás à meia-luz, e imediatamente uma música lenta vinda de algum lugar do teto começou a tocar. Os próprios professores começaram a se levantar e dirigiram-se à pista de dança, assim como alguns alunos. Sirius imediatamente havia puxado Erica pela mão. Tiago e Lílian continuavam sentados em sofás separados. Era impossível dizer quem estava mais entediado.
- Remo? – Falou Julie cautelosamente, pois Remo parecia estar em um conflito interno e olhava preocupado para a pista de dança.
- Vamos? – Disse ele, com um sorriso nervoso. Julie concordou com a cabeça.
Quando os dois começaram a rodopiar pelo salão, Julie viu de relance o enorme sorriso que havia se formado de repente no rosto de Lílian; viu também Erica largando Sirius às pressas para comentar algo com Lílian, e aí as duas sorrirem na direção de Remo e Julie. Ela desejou profundamente que as duas se ocupassem com outra coisa, porque já estava nervosa o suficiente só por estar dançando com Remo.
- Não sou muito bom dançando, sabe – Sussurrou Remo. Ele obviamente havia percebido Lílian e Erica rindo.
- É melhor do que muita gente por aí – Disse ela, sorrindo. – Não ligue para essas duas. Elas estão rindo de mim.
- Que motivo elas teriam para rir de você?
- Ah, nada importante – E lançou um olhar reprovador às duas.
Quando a música acabou, os dois foram até os sofás da Grifinória. Vendo que os dois se aproximavam, Lílian fez a Tiago uma pergunta que custou mais coragem do que força de vontade:
- Potter, dança comigo?
Tiago a encarou como se Lílian fosse de outro planeta.
- Quê?
- Dança comigo, vamos, é natal.
- O que eu ganho com isso?
- As minhas desculpas. Por tudo que eu já te disse ou fiz. – Lílian fez um esforço quase sobre-humano para dizer isso. Pedir desculpas em troca de uma dança? A felicidade de Julie valia o esforço. E de qualquer jeito, precisava acertar sua situação com Potter e livrar-se daquele peso na consciência.
Tiago olhou interessado o rosto apreensivo de Lílian por alguns instantes. Depois, levantou-se e puxou-a pela mão.
- Está vendo o que eu estou vendo? – Perguntou Remo.
- Espero que sim - Julie sorriu, surpresa. – É um milagre.
- É uma trégua – Corrigiu-a Tiago, também sorrindo, quando passou. A expressão de Lílian variava entre a surpresa, o nervosismo e a vitória.
Quando os dois começaram a dançar, várias pessoas em volta começaram a observar e a cochichar entre si. Lílian começou a pensar novamente em sair correndo.
- Você está tremendo de novo, Evans.
- É impossível não tremer quando Hogwarts toda está observando você.
- Eu não me incomodo.
- Você está acostumado a se exibir por aí.
- Eu pensei que tivéssemos dado uma trégua. – Ele ergueu as sobrancelhas.
Silêncio.
- Evans, porque você me chamou para dançar?
- Queria deixar Julie e Remo sozinhos. Foi o que Erica e eu combinamos.
Lílian identificou um pouco de desapontamento nos olhos de Tiago.
- Então as desculpas foram só para me convencer a sair do sofá.
- Não. – Lílian procurou olhar nos olhos dele. – Eu ia te pedir desculpas pelo que eu falei quando você me encontrou no dormitório. Mas não foi uma boa idéia, definitivamente...
- É, não foi.
- Não estava nos meus planos pedir desculpas para você hoje. Só aproveitei a oportunidade.
Silêncio.
- Então... desculpa. Por tudo que eu já te fiz ou falei. Como prometido.
Tiago assentiu com a cabeça.
- Até quando vai a trégua, Potter?
- Até você soltar os cachorros para cima de mim de novo.
Silêncio. Tiago franziu a testa por algum tempo.
- Você sempre fala sem pensar comigo ou pensa e sempre dá alguma resposta daquelas para mim de propósito?
- Você sempre tem as respostas que merece.
- Você se aborrece muito fácil, Evans.
Silêncio.
- O que você leu quando pegou aquele pergaminho?
- Que pergaminho?
- O do dormitório.
- Remo dizia para eu não mexer mais nas coisas dos outros – Lílian fez esforço para se lembrar. – Sirius dizia que eu era honrada... não, honesta demais para ler aquela coisa. Pedro, não lembro direito, tinha alguma coisa a ver com a Erica... e você...
- Eu sei o que eu disse – Tiago cortou-a. – Sempre sabendo demais, hein, Evans? Não esperava que você fosse ler o pergaminho.
Lílian percebeu que a música havia acabado, e suspirou; percebera que podia ficar a noite toda ali, dando voltinhas com Tiago e conversando sobre um passado não muito distante. Era muito menos difícil do que imaginara. Tiago fez uma reverência e beijou a mão dela, fazendo-a estremecer novamente.
- Eu aceito suas desculpas, Evans, obrigado pela preocupação e pare um pouco de tremer. – E saiu andando por entre os casais que aguardavam a próxima música. Lílian o observou por algum tempo, e quando voltava para o sofá, o irmão de Erica apareceu, oferecendo-se para dançar.
- Lógico – Sorriu ela. E absolutamente teve que rir quando Mario perguntou se havia algo entre ela e Tiago.



- O.k, fui eu sim. Mas o Pedro é idiota e acabou se metendo no meio. Se tivessem me pego, eu tinha me safado daquela. Além de não ter ido parar na enfermaria, lógico.
Sirius contava, satisfeito, o que havia acontecido para Pedro estar na ala hospitalar; Ele, Remo, Julie e Erica estavam sentados no lado de fora do peitoril de uma das enormes janelas que davam para um pátio aberto da escola, conversando e ouvindo a música que tocava, distante. Não havia ninguém por ali além deles; a maioria das pessoas estava no jardim em frente à escola ou no salão principal.
- Vocês detestam mesmo o Ranhoso – Comentou Erica, tomando um gole da garrafa de cerveja amanteigada.
- Ele é um sujeitinho bem estranho mesmo – Falou Julie.
- Metido até o nariz com as artes das trevas. Tenho certeza que ele é seguidor de Você-Sabe-Quem. Ele e aqueles amiguinhos dele. – Sirius balançou a garrafa vazia que segurava. O olhar de Julie encontrou casualmente o de Erica; Rosier andava com Snape.
- Não é por isso que você tem que ficar atacando o Snape de cinco em cinco minutos – Ralhou Erica. – Isso só dá mais motivo para ele ficar odiando vocês.
- É – Concordou Remo, sem prestar atenção.
- Nem vem, Remo – Riu Sirius. – Você sempre tá com a gente quando fazemos alguma coisa com o Ranhoso.
- Ah, vou buscar mais cervejas amanteigadas – Falou Erica inocentemente, quando um vento forte bateu. Julie percebeu na hora que a intenção da amiga era a mesma que a de Lílian quando saiu para dançar com Tiago. – Vem comigo, Sirius?
Erica puxou Sirius pela mão, mas ele não parecia querer mover-se. Finalmente, cedeu e levantou-se, olhando de um jeito torto para Remo. Quando os dois se afastaram e o silêncio pairou, Julie encarou Remo, interessada, por alguns instantes; ele parecia imensamente absorto analisando o chão.
- Remo – Falou ela, num tom de voz quase inaudível – Posso perguntar uma coisa?
Remo a encarou, levemente preocupado, e concordou com a cabeça.
- O que levou você a me... hã... beijar na festa do meu irmão?
O rapaz arregalou os olhos para ela, abriu a boca várias vezes como se fosse falar, e desistia por algum motivo. Estava sobressaltado, fora pego de surpresa, e Julie não tinha certeza por causa do escuro, mas achava que ele ficara vermelho.
- Eu achava que você não lembrava... eu estava um pouco... alegre... demais aquela noite – Murmurou ele lentamente. – Uísque de fogo, Tiago e Sirius me fizeram beber...
Julie soltou um “ah”.
- Mas desculpe de qualquer jeito. Não deveria ter feito aquilo. – Ele acrescentou.
- Não me incomodei – Falou Julie rapidamente.
- Não? – Remo levantou os olhos para encará-la.
- Tirando o cheiro de uísque, lógico – Julie sorriu. Remo riu, parecendo sem-graça. – Mas não vamos ter muito problema com cerveja amanteigada, eu gosto do cheiro. - Julie endireitou-se, surpresa com a própria iniciativa e pensando de onde tirara aquilo; Remo arregalou os olhos para ela, agora totalmente envergonhado, e depois encarou o chão novamente.
Julie também olhou para o chão, e começou a querer cavar um buraco nele para colocar a cabeça, já que Remo não tomara atitude alguma. Desejou imensamente não ter dito nada, estava muito óbvio que ele não queria beijá-la de novo. Apoiou o queixo na mão e procurou ficar o mais longe possível de Remo. Estava ardendo de vergonha. Um silêncio pesado tomou conta.
Depois do que pareceu um longo tempo, Julie sentiu a mão de Remo tocar levemente seu ombro, como se pedisse para que ela lhe olhasse. Ela levantou o olhar, e viu que ele estava extremamente perto – como ele chegara tão perto assim sem que ela percebesse?
Remo tinha uma expressão esquisita de determinação apreensiva; não falou nada, mesmo quando Julie se endireitou tão depressa que quase acertou o queixo dele com sua cabeça. Ele não hesitou quando estendeu a mão e postou-a do lado direito do rosto de Julie, tampouco quando se inclinou o suficiente para que os lábios dela tocassem os seus. Ela pensou imediatamente que o gosto da cerveja amanteigada fazia toda a diferença do mundo.
Não conseguiu calcular quanto tempo passaram se beijando – a bem da verdade, ela sequer conseguira pensar em outra coisa que não fosse continuar o beijando. Saiu do transe em que estava quando ouviu as vozes entusiasmadas de Sirius e Erica voltando – aparentemente Tiago estava com eles. Se afastou rapidamente de Remo, e ele fez o mesmo, apoiando-se na lateral da janela como se nada tivesse acontecido, e olhando para qualquer lugar, menos para Julie. Os três chegaram, animados, distribuindo cervejas amanteigadas, e Julie resolveu abaixar a cabeça e ficar quieta porque sentia que as palavras “eu beijei Remo Lupin” estavam gravadas a ferro na sua testa. Ela e Erica trocaram olhares rapidamente, e ela pôde confirmar isso; Erica entendera e mordeu o lábio para segurar um sorriso.
- Ela é absolutamente chata, Pontas. O arrependimento da minha vida foi sair com aquela garota. – Sirius abriu uma garrafa e retomou seu lugar no peitoril.
- Além de não ser lá aquelas coisas em matéria de beleza. Não sei como você saiu com aquilo, Sirius – Tiago falou.
- Vocês dois são cruéis, ela não é tão feia nem tão chata assim – Replicou Erica, ainda tentando não sorrir. – Vocês é que são exigentes demais.
- Convivendo com gente tipo você, é impossível que o nosso padrão de beleza não fique exigente demais, srta. Mais Bonita de Hogwarts – Sirius brincou. Erica sorriu, muito envergonhada.
- A chame para sair, então, Almofadinhas – Tiago apontou Erica com a garrafa que segurava.
- Eu convido a dois anos, ela nunca aceitou porque...
- Eu sei porquê – Tiago levantou a garrafa, interrompendo Sirius e murmurando audivelmente para Erica. - Sirius não está dentro do seu padrão de beleza, certo? É, sempre o achei meio feio mesmo... – E sorriu para o amigo.
- Não é por isso - Erica riu. – É porque somos bons amigos e estamos ótimos assim. – Sirius deu de ombros.
Passos apressados no corredor; Lílian estava se aproximando.
- Potter, preciso de você agora! - Gritou ela.
- Já, Lílian querida? Achei que tivéssemos combinado somente para mais tarde! – Falou Tiago numa voz entediada e todos riram. Lílian parou com a mão no quadril e a expressão mais séria que pôde.
- Não – tem – graça. McGonagall está procurando você há horas, quer nós dois lá embaixo.
- Eba – Tiago ergueu um braço e fingiu comemorar, levantando-se com a garrafa e se dirigindo cambaleante até Lílian. – Depois a gente volta... ou não – Acrescentou, esperançoso. Lílian o encarou, incrédula, balançou a cabeça e saiu novamente pelo corredor.
- Tiago está bêbado? – Perguntou Erica.
- Provavelmente sim - Respondeu Remo, levantando a cabeça levemente.
- Mas não há bebidas alcoólicas no castelo...
- Temos nossas fontes – Sirius sorriu para as garotas. – Um dia, talvez, vamos mostrar a vocês. Temos mais do que certeza de que vocês são de confiança.
- Obrigada – Exclamou Julie, admirada. – Isso se estende à Lílian também?
- Acho que sim – Falou Sirius despreocupado. – Apesar de odiar eu, Tiago e Pedro, ela nunca... dedurou a gente em nada. Isso para mim é o suficiente.
- Ela não odeia vocês – Explicou Erica. – É mais... por não saber o que fazer, sabe? Lílian realmente não gostava de vocês nos primeiros anos. Depois, começou até a simpatizar, mas já tinha se acostumado a tratar vocês como se os odiasse. Bem... Tiago é uma exceção. Mas ela não sabe muito como lidar com vocês, mostrar que não tem nada contra vocês... então deixa do jeito que está. Se acomodou com a situação.
Sirius admirou-se e riu.
- Mulheres são incríveis.

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