E ele realmente não era capaz.

E ele realmente não era capaz.



Vontades
IV. E ele realmente não era capaz...

O casamento foi num dia chuvoso, sem sol. Logo vi que seria um péssimo dia para um casamento. Mas isso pouco importa, já que eu não seria a noiva. A cerimônia foi rápida. Mantive-me com um sorriso forçado ao lado de Severo, que era o padrinho.
A festa, ao contrario da cerimônia, estava muito animada. Bebida para todos os lados, pessoas bêbadas rindo. Narcisa estava bonita (apesar do excesso de adornos) e radiante. Sua felicidade era indescritível. Lúcio, porém, mantinha sua expressão inflexível e indefinível.
Próximo das dez da noite, bebida escassa, decidimos sair para a diversão de verdade. Se assim posso chamá-la.
Colocamos nossas capas e máscaras e saímos pela noite, todos imponentes. Éramos, no mínimo, trinta. Trinta bruxos altos, com suas longas capas, máscaras e capuzes. A sensação de sairmos todos juntos era diferente. Eu nunca havia experimentado.
Parados próximo a uma praça lotada de trouxas, começamos o massacre. Não me condene por achar divertido! A sensação de me sentir no comando era boa demais para ser desperdiçada.
A praça que, outrora, estava cheia de trouxas enamorados, agora era cenário de mortes e choros. E, no alto, a marca. Logo após a aparição da nossa marca, surgiram no mínimo, quinze aurores lançando azarações; todos de cara limpa, sem máscaras. Senti-me covarde, e a sensação de imponência passou a ser uma mera impotência.
Ao vê-los, grande parte dos assaltantes bateram em retirada, eu fiquei duelando com uma das aurores que eu reconheci ser Lílian Evans, namorada de Tiago Potter que estava por ali também. Era muito rápida e astuta.
- Crucio! - gritei. A ruiva urrou de dor e eu ri.
Quando parei, ela tinha a expressão de horror no rosto, e os olhos mareados em lágrimas.
- Sectumsempra! – gritei.
- Protego! – gritou, o feitiço ricochetou no escudo desaparecendo no ar.
- Expelliarmus! – sua varinha voou aterrissando há uns 5 metros. – Desarma-da, sem ninguém pra te ajuda-ar. – cantei.
- Covarde! – gritou.
- Palavras não me afetarão... – eu sorri. – Vocês são fracos demais para conosco, Evans.
- Expelliarmus! – gritou Potter em minha direção, pegando-me desprevenida, minha varinha voou longe.
- Avada Kedavra! – todos pararam de duelar, ao ouvir a voz feminina pronunciar o feitiço. Virei-me para a direção donde fora pronunciado e vi Bellatriz rindo. Só poderia ser Bellatriz. Narcisa era fraca demais para matar alguém. No chão, jazia o corpo de uma mulher de no mínimo vinte anos. Não sorri ao vê-la, na verdade senti um assombro terrível ao reconhecê-la. Andrômeda Tonks, irmã deserdada de Bella e Narcisa.
Bella ria alucinada.
No vácuo da situação, todos dos nossos aparataram, senti um braço me puxar e logo estava na casa dos Malfoy.
- Como você teve coragem! – gritou Narcisa em meio a lágrimas para Bellatriz. – Nossa irmã, Bella, NOSSA IRMÃ.
- A única irmã que tenho, infelizmente, é você, Narcisa. – disse Bellatriz friamente.
- Nosso sangue... como você pôde...
- NOSSO SANGUE? – gritou Bellatriz. – Só se for o SEU. Pra mim é uma traidora, assim como Sirius Black.
Todos encaravam Narcisa com desprezo.
- Bella fez o que era pra ser feito. – disse Lúcio friamente. – Era uma auror como outra qualquer.
- NÃO ERA! Era minha irmã... minha irmã. – choramingou.
- Pára, Narcisa! – gritou Lúcio, ela o encarou. Enraivecida e chorosa, subiu as escadas desaparecendo ao virar o corredor.
- Se Narcisa não tivesse casado com você, Lúcio, diria que é outra traidora do sangue. – disse Bella entediada. – Bom, a noite já deu o que tinha que dar. Vamos, Rodolfo? – e os dois desaparataram.
Lúcio ainda mantinha seu rosto escondido entre as mãos, com ar arrependido. Na sala só estavam eu, Lúcio e Régulo (distraído, fechando os cortes nos braços e próximo à boca).
- Tenha paciência com Narcisa. – disse-lhe finalmente, demoradamente ele ergueu a cabeça. Os olhos vermelhos, porém secos.
- Paciência... paciência. Não, compaixão é para fracos. – murmurou com um quê de irritação.
- Ela sempre foi fraca, nunca agüentou muita coisa e você sabe disso. – senti que os olhos de Régulo fitavam minhas costas, apreensivo com a conversa.
- Estando comigo ela tem que aprender a ser menos ridícula. – soltei um suspiro de concordância.
- Bom... eu vou indo. – ele levantou os olhos, me fitou durante um bom tempo e saiu, aparentemente amargurado.
***
Cheguei em casa por volta das quatro da manhã, junto com Régulo. Lane havia conjurado uma cama ao lado da minha, e ele se deitou. Dormiu logo, parecia muito cansado. Eu não dormi, fiquei pensando no rosto de Andrômeda. Uma expressão de horror e provável desapontamento; tenho certeza de que sabia quem era seu oponente...
Sua própria irmã. E ainda por cima, Andrômeda deixava uma filha de uns três ou quatro anos. Difícil acreditar tamanha coragem e frieza de Bellatriz; eu nunca teria essa coragem E acredito ser privilegiada por Rodolfo estar do mesmo lado que eu... Sangue, apesar de traidor, continua sendo o mesmo sangue.
Nesse ponto da noite, comecei a me indagar sobre onde eu estava metida. Será que tudo isso era certo? Será que eu teria a frieza de matar um familiar... um amigo? Onde eu fui me meter! Poderia muito bem... arranjar um emprego normal, ter uma família, dois ou três filhos.
Mas eu já estava marcada, não havia mais volta. Depois dela só a morte me livraria. Se bem que, por enquanto, eu não tinha do que me queixar, trabalhinhos simples. Régulo vivia me dizendo que logo, logo mestre tentaria nos testar, como fizera com Bellatriz, Lúcio e Rodolfo. Os três se saíram muito bem, ou senão estariam mortos.
Enfim, eu tentava não pensar muito nisso. Matar não era comigo. Torturar e persuadir é muito fácil perto de ter a vida de uma pessoa em suas mãos... por isso sempre preferi Cruciatus a qualquer outra...
Régulo se mexeu novamente, estava inquieto e sempre soltava alguns suspiros assustados.
Tentei afastar esses pensamentos da minha cabeça, afinal não eram para mim. Eu escolhi ser uma Comensal, e tendo essa escolha em minha vida, ela era para sempre.
Perto das sete da manhã, Régulo acordou. Eu já estava sentada na penteadeira conjurando feitiços para tirar as olheiras.
- ‘dia. – cumprimentou-me no meio de um bocejo.
- Durma mais um pouco, Régulo... seu trem só sai às onze.
- Terei muito tempo para dormir no trem. – disse-me acariciando meu pescoço.
- Você vai me escrever, não vai?
- Todos os dias. – ele sorriu, pude ver através do espelho.
Ele espreguiçou-se e entrou no banheiro, deitei novamente na cama e apreciei o teto. Imaginei como Lúcio estava se sentindo tendo se casado com Narcisa. Ao contrário da Marca, ele poderia livrar-se dela, caso se sentisse arrependido.
- Lore, eu estava pensando... – disse-me quando saiu do banheiro. – Estamos noivos há quase seis meses e... não seria hora de marcar o casamento?
Levantei subitamente da cama.
- Tenho pensado nisso também. – menti.
- Ótimo! – comemorou enxugando os cabelos com a toalha. – Assim que eu sair de Hogwarts podíamos... comprar uma casa.
- Sim, sim. Eu preciso arranjar um emprego. – espreguicei-me. – Papai viu algo no Ministério... – disse entediada. – Seria bom, quero dizer, não quero viver na dependência deles...
- Ah, é claro. O Ministério seria realmente bom em vários sentidos.
- Talvez...
- Seria sim, Loraine. – disse firmemente. – Eles pagam bem e mestre ficaria satisfeito com mais um de nós lá dentro. – disse baixando o tom de voz.
- É, é. Não precisamos resolver isso agora, não é? – perguntei abraçando-o.
- Não... – ele me puxou pela cintura e me beijou. – Veja isso assim que eu embarcar... não vejo a hora de ter você sempre comigo.
Não concordei, nem discordei. Mantive-me junta a ele durante os instantes que se passaram. Aquilo não era, definitivamente, amor; era mais uma obrigação que eu tinha com ele. De ficar com ele, conversar. Conseqüência de uma culpa de ter assumido um noivado, culpa de ter pedido pra voltar, culpa do meu egoísmo, que não queria me ver sozinha.
Ficamos um bom tempo nos beijando, corpos enlaçados como um só; mãos para todos os lados, respiração acelerada.
É engraçado como na maioria das vezes o corpo não responde como a cabeça pensa. A mente diz NÃO; o corpo, como um menino travesso, desobedece. Durante aquele momento uma guerra era travada dentro de mim, eu queria e não queria ter aquele instante especial com Régulo. Era importante para mim pensar antes de iludi-lo com uma falsa vontade. E por outro lado, suas mãos faziam a “falsa vontade” cansar-se de ser falsa.
Cabeça pelo corpo, o corpo venceu.

No início de fevereiro, comecei a trabalhar no Ministério na seção de Controle do Uso Indevido de Magia. Não era um emprego empolgante, na verdade, trabalhar competia com o tédio.
Mas afinal, eu estava dentro do Ministério. Mestre ficou muito empolgado em saber disso... disse que precisava de bruxos competentes lá dentro, pois ultimamente os demais estavam falhando ou até não fazendo nada.
Meu trabalho era basicamente anotar memorandos, uma tarefa boba. Se assim posso chamá-la. Desempenhava a função de Auxiliar de Mafalda Hopkirk, uma bruxa de seus quarenta e poucos anos, gordinha e de cabelos escuros.
Com duas semanas fui transferida para o Departamento de Reversão de Feitiços acidentais. Era no mínimo engraçado trabalhar nessa seção, eu passava o dia inteiro no escritório recebendo alertas de bules de chá espirrantes, facas indomáveis... às vezes coisas mais sérias que pediam obliviadores. Normalmente só se envolviam bruxos atrapalhados, que Bella chamaria de “traidores do sangue”. Eu não conseguia ser tão dura com eles, vendo o quão podiam ser engraçados...
Duas ou três vezes por semana eu encontrava Lúcio pelos corredores, ainda acredito que ele tenha sido admitido no setor de “puxa-saquismo” do Ministro. Bom, não, não existe essa seção, porém, era sempre desempenhando essa função que eu o encontrava. Encontrei diversas vezes a trupe do Potter pelos corredores também, todos, sem exceção, lançavam-me olhares de esguelha quando eu passava, e sempre fiz questão de empinar o nariz.

No final de abril, fui promovida a obliviadora. E assim pude comprar uma casa pequena num bairro trouxa de Londres. A mãe de Régulo me ajudou a mobilhá-la, seu pai a escondê-la dos trouxas. Apesar de ter ficado muito escura, eu gostei. Parecia uma versão compacta da minha antiga casa, com uma mescla da de Régulo, no Largo Grimmauld.
Quando ele voltou de Hogwarts, ficou maravilhado e excitado para marcarmos logo o casamento... eu enrolei o máximo que pude.
- O que você acha de março? – perguntou-me.
- É um bom mês... – disse distraída.
- Se bem que nós começamos a namorar em Fevereiro...
- É um bom mês também.
- É, é sim. – ele espreguiçou-se animado.
Enfim, marcamos o casamento para dia catorze de fevereiro de 1980. Faltavam apenas quatro meses, e os preparativos, por conta de Régulo, estavam indo muito bem. Sentia-me muito mal por conta disso tudo, eu estava desperdiçando minha vida com escolhas contrárias do que eu realmente queria.
A única coisa que espantava o casamento da minha cabeça era servir ao Mestre.
Com o passar dos dias, minha trajetória diária era do Ministério para a sede, da sede para o Ministério. Se eu ficava três horas dentro da minha casa, era muito.
- Essa nova era de comensais quase não tem tido erros... – disse-me Avery, um dos Comensais mais antigos. – Isso deixa o Lord realmente muito satisfeito.
Sorri, mas um sorriso vazio. Eu não participava de quase nada... Lord não me confiava serviços importantes.
- Sua hora vai chegar, Lestrange. – disse-me Avery.
- Será? – perguntei distraída. – Sinto-me tão inútil aqui dentro...
- Se quer prestígio – disse-me baixando o tom de voz. – Surpreenda-o. Traga informações importantes... sem precisar ser mandada. – ele pigarreou. – Foi assim que Bellatriz chegou ao topo.
Endireitei-me na cadeira, pensativa.
“Uma forma de... conquistar Lord das Trevas. Informações importantes...” pensei.
Ele acreditava em mim, sabia que eu tinha potencial. E confiava na minha lealdade. Disseram-me que isso era raro; entre todos, essa confiança adquirida logo de cara, só eu e Severo possuíamos. Eu e Snape.
Resolvi voltar para casa, Régulo estava lá, em cima de um livro de Artes das Trevas muito grosso, nem percebeu minha chegada.
Parei logo atrás dele, e acariciei seu peitoral. Ele fechou o livro num estrondo.
- Q-que susto Loraine! – exclamou.
- Boa noite para você também. – disse com veemência.
- Desculpe, é que você me assustou.
- É, eu percebi. – subi as escadas.
- Calma... foi só um susto. – ele segurou meu braço, na escada e me puxou me fazendo escorregar para o degrau de baixo.
- O que você estava lendo? – perguntei. Ele me puxou novamente, escorreguei mais dois degraus e fiquei apenas a um degrau de diferença dele, porém, da mesma altura.
- Estou com saudades, por que não pára mais em casa?
- O que você estava lendo? – insisti.
- Um livro de magia, satisfeita? – respondeu de contragosto.
- Se é apenas um livro de magia, por que fechou quando eu entrei?
- Larga de ser paranóica! – ele me soltou.
- Paranóica... – resmunguei tentando me equilibrar. – Não tem porquê esconder isso aí de mim. – indiquei o livro com a cabeça. – Somos noivos, vamos nos casar... se você não confia em mim, eu...
- Ah, bem lembrado. Somo noivos. – ele deu um sorriso sarcástico e subiu até nosso quarto com o livro nas mãos.
Subi atrás dele, pela milésima vez na semana, iríamos discutir a relação.
- Você não pode me deixar falando sozinha! – exclamei irritada.
- E desde quando você se importa se tem ou não alguém sozinho? – replicou.
- O que você quer dizer? – perguntei. – Eu trabalho, você trabalha. Tenho culpa se nossos horários não batem?
- ÓTIMO. –exclamou. – Finja que está certa, que eu finjo que estou errado. – ergui as sobrancelhas, ele me encarou irritado. – Pensa que não percebi que tem me evitado? Desde que marcamos a porra do casamento! Se você não quer compromisso, ÓTIMO. Avise-me para que eu não fiquei aqui, como um idiota.
- Eu... eu... – gaguejei. – Não estou te evitando, Régulo.
- Está sim... e olha, se eu descobrir que você... você está de...
- Eu estou de quê?
- Caso com o Lúcio de novo, eu...
- Lúcio? – ri amargurada. – Sai dessa, Régulo. – ele me encarou nervoso. – Se você não confia no seu próprio taco, eu...
- Está bem, está bem. Não vamos discutir de novo. – interrompeu-me. – Desculpe-me. – disse-me estendendo a mão, segurei-a com firmeza.
- Você me ofende falando do Lúcio...
- Não tornarei a mencioná-lo.
- Ótimo. – espreguicei-me, e deitei na cama. – Que livro era aquele, Régulo? – insisti.
- Um livro... comum de magia. – mentiu. – Não se preocupe, não é nada demais. – ajoelhou sobre a cama, debruçou-se sobre mim e me beijou.
- Estou toda suada Régulo... – disse, desvencilhando-me.
- Não me importo. – segurou-me pelos pulsos.
- Bom, já que não se importa... – com esforço, beijei seu pescoço, ele riu. – Se você me soltasse, talvez... – disse rindo.
- Talvez você ficasse menos adorável. – gracejou. Abracei-o com as pernas e ficamos assim, numa luta muda. Cheia de gracejos e sorrisos.
- Tá! – gritei rindo. – Perdi, me solta.
- Está bem. – ele deitou-se ao meu lado ofegante.
- Estou três vezes mais suada, vou tomar um banho. – levantei-me num salto e entrei no banheiro batendo a porta.
Ele não é tão ruim assim, pensei. Era muito compreensivo, excessivamente. Talvez gostasse tanto de mim que passava por cima de todos os meus erros despropositais. Além disso, bonito... e sabia muito bem o que fazia. Tão bem quanto Lúcio, às vezes, melhor.
Quando me despi e liguei o chuveiro ele entrou no banheiro, sorrindo. Antes de qualquer movimento meu, me empurrou para debaixo do chuveiro e me beijou. Tão intenso quanto da outra vez, tão contraditório aos meus sentimentos, que a partir daquele momento prometi fazê-lo o mais feliz possível.
***
Uma semana antes de nosso casamento, Régulo foi chamado logo pela manhã à sede. Sua reação foi a mais inesperada para mim. Ficou branco, suava muito e, pelo que percebi, estava a ponto de cair no choro.
- O que foi? – perguntei assustada.
- M-me-mestre me chama. – disse, nervoso.
- Por que desse nervosismo? – perguntei desconfiada.
- N-não estou nervoso. – gaguejou.
- Está sim! – repliquei. – O que você andou aprontando pra ficar... desse jeito?
- N-nada, Lore!
“Legilimens” pensei. E no mesmo instante bloqueou minha passagem, ele era um ótimo oclumente.
- Ótimo saber que sua confiança em mim decaiu tanto. – murmurei irritada. – Ande, diga-me o que está acontecendo.
- Ai! – gemeu de dor, apertando o braço. - Escute, - disse apressado. - qualquer coisa... qualquer coisa que mandarem você fazer, faça. Não se arrisque por mim. Amo-a demais para que perca sua vida por minha causa. Me arrependi no momento errado e... pensei que poderia, poderia... bom, não importa. Olhe para mim. – encarei-o sem entender - Prometa.
- Está bem! – resmunguei. – Mas ex...
CRAQUE.
Ele desaparatou, sem deixar vestígio; muito menos, explicações.
Não sei por quanto tempo fiquei dando voltas na sala, só sei que perto do horário do almoço minha Marca também ardeu, muito mais do que normalmente. Pelo visto, um chamado urgente.
Aparatei a sede, e entrei correndo na sala de Milorde.
- Lestrange. – bradou irritado quando entrei, forcei uma reverência.
- Milorde.
- Sabe que sou extremamente habilidoso com Legilimencia.
- Com certeza, Milorde.
- Sabe também que eu sei quando me enganam, sei quando tentam me trapacear.
- Não entendo o porquê disso, Milorde.
- Acredito que realmente não saiba dos planos de seu ex-futuro marido. – enfatizou o “ex”.
- Ex...?
- Exatamente, ex.
- Não compreendo, Milorde.
- Compreenderá! – bradou. – Vejo que não há por que castigá-la pelos erros de seu ex-cônjuge... – levantei-lhe os olhos, sem compreender. – Como eu já lhe disse, diversas e diversas vezes, sempre vi uma rara lealdade em seus olhos. Difícil de se encontrar.
- Lembro-me perfeitamente, Milorde. – Disse com um quê de satisfação.
- Impossível de se desperdiçar. – seus olhos faiscaram. – Porém, creio que posso me enganar...
- Não, Milorde. Lord das Trevas nunca se engana, principalmente a respeito de minha lealdade. – interrompi nervosa; ele pigarreou.
- Espero não me enganar. Tragam-no! – bradou.
As portas se escancararam e atravessaram o portal três bruxos. Dois deles eu conhecia de longa data; o da esquerda, alto e musculoso era McNair, o do meio, Régulo. E o terceiro, não sabia quem era. Porém era alto e forte como McNair.
- Loraine...! – exclamou Régulo nervoso, estava suado e com os olhos vermelhos.
- Régulo... o que está acontecendo?
- Ah, então ele realmente não lhe contou. – disse Lord.
- Não, eu... Milorde, não entendo...
- Lestrange, seu noivo achou que podia com o poder de Lord das Trevas...
- C-como assim? – gaguejei.
- Isso mesmo, pensou que podia com o meu poder... – ele riu friamente. – E você acha que ele pode, Lestrange?
- N-não, claro que não. Ninguém pode.
- EXATAMENTE! – gritou, no meio de uma risada. – Você NÃO pode Black, NÃO PODE COMIGO.
- Régulo... – disse nervosa, com os olhos mareados em lágrimas. Lorde iria matá-lo! na minha frente...
- Chegou sua hora, Lestrange.
- Mi-minha hora, Milorde? – perguntei sem pestanejar, para não correr o risco de lágrimas escorrerem enquanto Milorde me encarava.
- Mate-o. – prendi a respiração nervosa.
- Q-quê?
- MATE-O, LESTRANGE! – bradou, agora irritado. – Não me faça ordenar novamente!
Encarei Régulo, que agora não chorava. Mantinha-se inflexível.
Acenou com a cabeça, como se me autorizasse para terminar com o que Milorde não queria fazer... terminar o que Milorde não se importava em fazer.
“Escute, qualquer coisa... qualquer coisa que mandarem você fazer, faça. Não se arrisque por mim. Amo-a demais para que perca sua vida por minha causa. Me arrependi no momento errado e... pensei que poderia, poderia... bom, não importa. Olhe para mim. Prometa.”
E eu prometi... olhei novamente seus olhos suplicantes, como se ao mesmo tempo pedisse para que eu terminasse logo com aquilo, e também pedisse para que fugíssemos dali...
Sem pensar duas vezes tirei a varinha de dentro das vestes, minhas mãos tremiam, estavam suadas. Mas eu precisava fazer aquilo... era uma promessa.
Mais uma vez, meu egoísmo, minha vontade de não me prejudicar... falou mais alto. E eu acabei, talvez, com único que me amou de verdade. Aquele que fazia de tudo por mim, que queria viver comigo... para sempre.
- Avada Kedavra! – gritei. Numa expressão que era tudo menos decepção. Régulo morreu, antes de bater no chão.


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