Retribuindo a Visita



"Bom dia, Severo!" saudei, com um tom de voz bem mais estridente do que eu pretendia. Ele acabara de abrir a porta e eu tive que corar, já que meu coração bateu tão rápido e tão forte que acho que até ele ouviu. Mesmo poucas horas depois de sua adorável visita ao meu quarto, a necessidade de estar com ele era tanta que acho que quebrei uma grande regra da boa educação: fui importuná-lo assim que o sol começou a nascer. Era cedo demais para qualquer mortal em férias, mas não para Severo Snape, como acabei descobrindo ao encontrá-lo já vestido e em plena atividade, com três vidros de ingredientes gosmentos e malcheirosos nas mãos. Notei, ao correr os olhos curiosos pelo cômodo, que o caldeirão já borbulhava e que dezenas de pergaminhos com anotações jaziam na escrivaninha escura. Meus olhos estavam cheios de uma ansiedade adolescente por estar com ele e minha alegria era tão óbvia e tão sem motivo aparente que se tornava tremendamente embaraçosa. "Como você está?".

Severo lançou-me um olhar desconfiado, provavelmente achando que eu perdera de vez a minha sanidade mental. Afinal, como alguém era capaz de estar radiante e cheio de energia quando até o dia ainda lutava para acordar? "Estou bem, na medida do possível. Aproveitei a insônia para desenvolver algumas experiências novas. E você, como está? Teve pesadelos?".

Sorri. Ele disfarçava muito bem. Diferente de mim, que estava agindo como uma menina de treze anos que se depara com seu ídolo pop no meio da rua. Tentei ser mais sensata e manter o diálogo. "Apenas um, Severo. Depois, não mais. Sua poção é mesmo ótima...".

E ele sorriu também. Não um pseudo-sorriso, mas um sorriso genuíno que eu nunca pensei que existisse no repertório de um homem como aquele. Intrigante, lindo, teimoso, lindo, carrancudo...e lindo. Minha língua começou a coçar e eu achei que contaria a verdade, contaria o que havia visto e escutado. Mas não era a hora certa. Eu ainda não tinha certeza do que responder a ele ou de como proceder e poderia parecer uma idiota completa. Não que eu já não estivesse rumando para esse caminho, mas tentar ainda não custava nada.

"O que houve, Ninfadora? Há algum tipo de espinha crescendo no meio do meu nariz?" perguntou ele, trazendo minha mente de volta ao meu corpo ao fazer uso de seu sorriso sarcástico que, diga-se de passagem, andava meio esquecido. Bom, assim ele também era lindo.

Soltei um suspiro bem suspeito. Não denotava cansaço, nem tédio, nem derrota. Para minha vergonha, se parecia muito com um suspiro terno, apaixonado. Escolhi bem as palavras antes de abrir a boca porque eu sentia que poderia colocar tudo a perder a qualquer minuto. "Não, Severo. É que você me surpreende a cada dia. Juro que nunca pensei que você fosse capaz de sorrir de verdade".

E, como se ele soubesse que aquilo me fazia derreter e se divertisse muito com os resultados, ele riu. Nota máxima e com louvor. "Se me permite o trocadilho trouxa, tenho alguns truques na manga. E por mais desgosto que tais manifestações de satisfação me causem, preciso praticá-las de vez em quando para que a musculatura do meu rosto não atrofie. Recomendações médicas".

Rimos juntos por um bom tempo até que Severo se lembrou de voltar ao trabalho. Depois de cansar de resmungar e protestar contra meus insistentes pedidos, ele até me deixou ser sua assistente no preparo de uma poção que nem me lembro mais para que servia porque, enquanto ele me explicava, eu estava muito mais preocupada em estudar como pequenas e charmosas linhas de expressão apareciam em sua testa quando ele estava concentrado ou em como seu maxilar ficava tenso quando os resultados não eram os esperados. Devo ter deixado escapar um ou outro daqueles suspiros suspeitos durante o preparo da poção. E devo ter me esquecido de alguns pequenos detalhes, como usar a temperatura adequada ou...o ingrediente correto.

Snape, que estava escrevendo páginas e mais páginas enquanto me passava as instruções, arregalou os olhos ao voltar sua atenção para o caldeirão. O líquido violeta (que deveria ser amarelo) espirrava para todos os lados. "Não tenho dúvidas de que me arrisquei bem menos em meus tempos de agente duplo! Como mãos tão delicadas podem sofrer de tamanha falta de sensibilidade? Francamente, Ninfadora!".

Não sei por que razão me lembrei de Hermione. Certo, digamos que eu atrapalhei mais que ajudei, mas ele estava exagerando. Não causei maiores catástrofes e nenhum de nós estava ferido. E nem me importei com a grande mancha nas minhas roupas novas, já que ele havia dito, mesmo em meio a um sermão, que minhas mãos eram delicadas...

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Durante várias noites, fingi que dormia, esperando pela visita dele. E ele nunca faltou, pontual até em seu compromisso secreto. Eu podia ver, durante as manhãs, que as olheiras dele estavam cada vez mais escuras e isso me preocupava, de certa maneira. Sentia-me egoísta por ansiar, por querer que ele passasse a maior parte da noite ao meu lado, velando meu sono, murmurando doçuras no meu ouvido e me fazendo carinho sem esperar uma resposta, sem esperar nada em troca, porque tudo o que eu fazia era "dormir" profundamente.

Certa noite, ele não apareceu. Eu esperei, esperei e esperei. Nada. Eu estava preocupada e sentia...saudades. "Provavelmente ele desmaiou de sono. Pobrezinho..." murmurei, me sentando na cama. Cruzei e descruzei nervosamente as pernas e uma idéia se formou em minha cabeça. Não, de jeito nenhum! Eu não ia cometer aquela loucura. Ninfadora Tonks era senhora de suas ações. Joguei-me na cama e fitei o teto por um tempo, enrolando meus cabelos em volta dos meus dedos. Tentei contar carneirinhos, unicórnios e até elfos domésticos. Mais cinco minutos de resistência e eu já estaria dormindo. Doce ilusão! Quando dei por mim, eu já estava vestindo meu roupão por cima da camisola e minha mão já empurrava a porta. Eu precisava mesmo ser menos impulsiva e teimosa. Espiei pelo corredor e procurei por algum sinal de outros hóspedes. Não havia ninguém, todos deveriam estar dormindo. Saí do meu quarto e fechei a porta.

Silenciosamente, toquei a porta de Severo. Nenhum feitiço. Mas como? Severo Snape nunca baixaria a guarda dessa maneira. Isso era coisa para descabeçados e ingênuos como...bom...como eu. Imaginei que talvez ele ainda pretendesse me fazer a habitual visita antes de se recolher e proteger a porta, mas o sono o havia vencido. Ou talvez ele estivesse mesmo recobrando sua confiança nas pessoas. O pânico percorria meu corpo. O que eu estava fazendo? Eu não sabia e não me importava. Respirei fundo e, corajosa, abri a porta, entrando nos domínios obscuros do Mestre de Poções. Merlin que olhasse por mim!



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E aqui estamos nós mais uma vez! rs
Nossa, além da falta de tempo, tive um certo bloqueio criativo ao escrever esse capítulo, por isso demorei um pouco mais que o normal. É que estamos na reta final... Obrigada Star, Bruna, Krika, Morgana e Lut pelos comentários!
Tudo de bom para vocês, meninas!
OBS: Star, eu também fui má quando terminei o capítulo hoje...rs...

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