Sussurros



Eu tentei evitar Severo, achando que talvez a convivência constante estivesse me confundindo. Eu já estava passando por um período difícil, estava emotiva e frágil demais e poderia muito bem estar fantasiando sentimentos que, na verdade, não existiam nem da minha parte nem da dele.

O problema foi que essa situação me fez notar que toda a minha força de vontade havia desaparecido. Determinação não fazia mais parte do meu dicionário, pelo que pude perceber. Tudo bem, eu não atendi a porta da primeira vez que ele bateu pela manhã. Afundei minha cabeça nos travesseiros. Nem da segunda. Talvez teria sido mais eficiente me trancar no banheiro. Mas antes que ele pudesse bater uma terceira vez ou desistir, eu já estava com minhas melhores vestes e com a mão na maçaneta. Certo, certo...ele não merecia tanta falta de educação da minha parte. Atender à porta foi apenas uma atitude gentil e eu deveria me orgulhar disso, afinal de contas, o pobre não tinha culpa de nada e poderia ficar preocupado comigo. De qualquer maneira, nem tudo estava perdido. Eu ainda poderia dar uma desculpa para não sair. E foi aí que eu tive certeza mais que absoluta de que minha voz agia por conta própria e não me devia satisfações. Um sonoro "sim" e inúmeras borboletas em polvorosa foram a resposta ao convite dele para fazer uma caminhada até as estufas do estabelecimento.

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Eu precisava parar de me enganar. Sem dúvida nenhuma a situação era desesperadora. Uma emergência, eu diria. Eu precisava desabafar com alguém, expressar minhas dúvidas para tentar clarear minhas idéias. Mas quem? Teria que ser uma pessoa neutra, que ao saber do meu interesse por Snape, não o acusasse no mesmo instante de ter me lançado a maldição Imperius. Sinceramente, eu não tinha muitas opções. Havia a minha mãe, mas esse não era exatamente um assunto que eu dividiria com ela logo de cara sem morrer de vergonha, por mais amiga e mente aberta que ela fosse. As outras possibilidades eram Molly e Minerva, mulheres que me ajudaram muito no pior período da minha vida. Mas Molly era impulsiva demais. E sua língua bem mais independente que a minha. Se por distração ela comentasse alguma coisa durante o jantar, todos os Weasley e agregados (uma grande parte da população bruxa, para ser mais exata) já ficariam sabendo. E depois, as expectativas dela sobre Carlinhos e eu seriam destruídas. Isso a chatearia e talvez ela não fosse imparcial ao falar de Severo. Bom, restara Minerva. Um pouco fria, talvez, mas conhecia muito mais da vida do que eu. E respeitava Severo. Tomei minha decisão e escrevi a ela o mais rápido possível. A resposta também veio sem demora, como eu esperava. Eram poucas as frases, confirmando o jeito direto e prático da diretora.

Minha cara Tonks,
Devo dizer que fiquei um tanto surpresa com o que li em sua carta. Pude sentir o quão desnorteada você está, querida. Mas você e somente você pode responder tais perguntas. A única maneira que encontrei para tentar te ajudar é também a única certeza que tenho e que você também deveria ter. Remo sempre quis a sua felicidade. Você está feliz?
Minerva


Li aquele papel umas trinta vezes seguidas. Era verdade. Remo sempre quis que eu fosse feliz e sempre se esforçou para me fazer sorrir. Mas será que era justo eu me dar ao luxo de viver a felicidade novamente sendo que ele estava...morto? E será que eu estava mesmo feliz? Fiquei um bom tempo pensando, repassando mentalmente todos os momentos que passei com Snape desde que o conheci melhor. Que Gryffindor me protegesse, mas eu estava! Não completamente, mas nos momentos em que eu conseguia deixar de lado todo aquele impasse, Severo só me fazia bem!

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Mais dois dias se foram e eu ainda estava confusa. A idéia de ser feliz sem Remo precisava ser amadurecida, porque eu ainda me sentia um pouco culpada. E então uma noite, após ter acordado aos gritos por causa de mais um pesadelo, eu ainda tentava forçar meu corpo cheio de preguiça a ir até o banheiro para pegar um pouco da poção de Severo quando escutei um som estranho vindo de fora. Quase caí da cama e meu coração quase saiu pela boca no instante em que ouvi a porta do meu quarto se abrindo lentamente. Tudo o que pude fazer em um piscar de olhos foi pegar minha varinha, que estava sobre o criado-mudo, e voltar a deitar, tentando fingir que dormia, na esperança de pegar o invasor de surpresa. A luz fraca do corredor invadiu a escuridão do meu quarto por míseros segundos, até que um longo vulto a bloqueou e a porta foi fechada suavemente.

Eu não fazia idéia de quem seria. Não havia chaves porque tudo naquele retiro era planejado para fortalecer ou para reconstruir a confiança dos hóspedes nas outras pessoas e neles mesmos. Era permitido, porém, o uso de feitiços para proteger as portas se fosse a nossa vontade, mas eu, para variar, havia me esquecido desse detalhe naquela noite. Eu não sabia o que fazer ou o que pensar. Poderia ser alguém querendo me machucar ou me matar. Depois do que presenciei na guerra, eu tinha pleno conhecimento de que muitas pessoas nesse mundo eram capazes de coisas inomináveis.

Eu ouvi os passos leves se aproximando da cama, amaldiçoando a mim mesma por ser tão descuidada. Abri um pouco os olhos, e então eu o vi. Lutando para controlar minha respiração e meus nervos, eu fechei novamente os olhos, como se dormisse o sono dos justos. Por que ele estava lá? Por que Severo Snape entraria sorrateiramente no meu quarto no meio da madrugada?

Subitamente, o suspiro dele quebrou o silêncio do cômodo e eu entendi ainda menos. Ele estava em pé ao lado da minha cama, com os braços cruzados. Eu podia observá-lo precariamente pelas pequenas fendas dos meus olhos semicerrados. A luz da lua dançava na pele pálida do rosto dele enquanto longas mechas de seu cabelo escondiam seus olhos poderosos. Ele vestia um robe negro sobre seus pijamas da mesma cor. Nada muito diferente do habitual, mas havia menos camadas. E isso o fazia parecer menos sério.

Ele se aproximou ainda mais da minha cama, descruzando os braços e se ajoelhando ao meu lado. Fechei os olhos rapidamente, me sentindo arrebatada pela emoção que tomava conta de todos os meus sentidos. Eu não queria que ele soubesse que eu estava acordada porque eu precisava descobrir o motivo daquela visita tão fora dos padrões. Com os olhos ainda cerrados, eu respirei profundamente, deixando que o aroma de sua pele me invadisse. O som suave da respiração dele flutuava pelos meus ouvidos e eu podia sentir os olhos dele acariciando meu corpo. Merlin! Eu não podia me sentir daquele jeito, não naquele momento! Remo ainda estava em mim...

"Ninfadora..." ele sussurrou, afastando uma mecha de cabelo da minha testa. Meus cabelos estavam negros e longos ainda e eu havia acrescentado cachos nas pontas. Eu percebi que aquele estilo agradava Severo e não tive mais vontade de mudar. Os dedos dele tocaram minha pele como pétalas de rosa. Eu me controlei para não tremer ao toque dele. Isso me denunciaria. Com certeza ele pensava que eu havia tomado a poção e que não acordaria até o dia seguinte nem que um grupo trouxa de rock pesado fosse tocar dentro da minha suíte. "Ouvi seus gritos. Você chamava por ele..." disse em voz baixa.

Mais uma vez ele tocou meu rosto, acariciando com leveza. Meu corpo ardia e eu não podia mais evitar. "Eu sei que você está sofrendo e que ainda o ama, mas nesses meses em que convivemos eu... Eu não pude deixar de...". Ele suspirou fundo novamente e pude notar que estava irritado consigo mesmo. "Veja o que fez comigo! Perdi todo o senso do ridículo! Estou agindo como um moleque imbecil! Nem sei por que razão me desloquei até aqui no meio da madrugada, para ser sincero. Desconfio que senti a sua falta! Depois de apenas três horas de separação! Isso é uma sandice! É totalmente ilógico e...inadequado!".

Parei de respirar por um tempo. Minha batalha interior contra meus sentimentos estava cada vez mais avassaladora. Eu queria rir do monólogo de Snape e, ao mesmo tempo, chorar. Queria me sentar, segurá-lo pelos ombros, sacudi-lo e discutir o que ele considerava lógico ou adequado em um relacionamento, porque eu também queria saber. Mas a minha maior vontade era beijá-lo de uma vez por todas e acabar com tudo aquilo.

Ele resolveu prosseguir e mais uma faceta de Severo se revelou. Ele, que sempre se comunicou mais com os olhos do que pela fala, despejou uma torrente de idéias que pareciam se materializar em suas palavras atropeladas. Nunca vi Severo falar tanto e com tanta paixão. "Consolidar a minha reputação de solitário infame e cruel me deu tanto trabalho e eu a estimava tanto! Porque pelo menos eu tinha paz! Mas agora não tenho mais e a culpa é somente sua! Penso em você todo o tempo! Todos os meus malditos pensamentos incluem seus olhos, seus cabelos, sua pele, seu sorriso! É uma luta me conter e não te beijar quando estamos juntos! E não está sendo nada fácil lidar com o que estou sentindo, mas eu preciso dizer com todas as letras antes que essa ânsia me enlouqueça. Eu nunca poderia estar dizendo isso lá fora, quando você estivesse acordada e me olhando nos olhos porque seria...surreal. Mas eu estou apaixonado por você, Ninfadora...irremediavelmente e com todas as minhas forças...".

Eu não precisava mais me importar que ele notasse algum movimento meu. Fiquei paralisada. Eu queria tanto dizer que eu sentia o mesmo, mas não poderia. Acho que fiquei temporariamente muda. "Até amanhã" foi o último sussurro dele antes de se levantar e me beijar. Um beijo tão leve que parecia o toque de uma pluma. Então ele se foi antes que eu pudesse esboçar qualquer reação.

Já sozinha em meu quarto, eu me sentei, levando meus dedos aos lábios. Parecia que a boca dele ainda os tocava, queimando. Severo Snape estava apaixonado por mim! Pensamentos sobre ele inundaram minha mente, brigando pelo espaço das lembranças infindáveis sobre Remo.



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Oi, pessoal!
Nossa, esse foi um capítulo bem difícil de escrever. Sabe quando a gente escreve, apaga, escreve e apaga de novo e ainda assim não fica feliz com o resultado? Parece que falta alguma coisa. Bom, mas eu entendi o motivo: nesse momento, Snape revela como se sente. Há uma mudança na maneira de agir dele e foi difícil fazer essa transição...
Bom, mas espero que tenha ficado bom. De qualquer maneira, eu sempre acabo mudando alguma coisa mesmo depois de postado, caso eu tenha uma idéia melhor...rs...
Bom, é isso! Tudo de bom para vocês todas. Obrigada pelos comentários, Stardust, Cris, Krika, Morgana. E continuem comentando, porque me ajuda muito e seria mais importante ainda nesse capítulo!
Até mais!
Vinola

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