Como Calda de Chocolate



No final de uma das agradáveis tardes que passamos juntos, fomos jogar xadrez de bruxo no salão de jogos. É lógico que Snape reclamou muito, dizendo que seria perda de tempo e ele tinha muito mais o que fazer. Porém, não foi tão difícil convencer aquele professor ranzinza. Eu só precisei desafiá-lo, dizendo que, na minha opinião, ele não tinha o perfil de um bom jogador de xadrez porque era muito previsível. Menti, mas funcionou. Quando chegamos à sala, havia alguns hóspedes lá dentro e, para variar, nos tornamos o centro das atenções. Pensei que Severo ia desistir e me arrastar novamente para o nosso exílio às margens do lago, mas bastou um de seus olhares mortíferos mais caprichados para todos evacuarem o local.

Arrependi-me profundamente. Se eu soubesse que ele ganharia de mim tão facilmente, eu teria sugerido uma outra atividade. Talvez um dos jogos trouxas que meu pai me ensinou, como truco ou buraco. Bom, pelo menos ele estava se divertindo. Com a minha desgraça, lógico, mas eu não ligava. Sentia-me orgulhosa demais por ter sido a responsável pelos primeiros risos sinceros que ele emitira nos últimos anos...ou talvez em toda a sua vida...

Snape me olhava com a astúcia característica. Era a minha vez de jogar, mas algo me dizia que eu não tinha mais saída. Tentei me concentrar, mas sempre tive essa dificuldade. Ainda mais com aqueles olhos enigmáticos observando cada movimento meu. Foi quando um dos funcionários do hotel entrou na sala. Pelas espinhas, não devia ter mais que dezessete anos. E pelo modo como tremia ao olhar desconfiado para Severo, ele já conhecia a fama do mestre. Carregava uma ave agonizante nos braços. "Com licença... Acho que essa coruja procura pela Srta. Tonks".

Sorri. Já havia reconhecido Errol no momento em que notei o estado em que a ave se encontrava. Alegrei-me ao pensar nos Weasley. Eram uma família amistosa e invejável onde sempre havia lugar para mais um. Aliás, eu mesma era uma das "adoções" de Molly. Não que lhe faltassem filhos legítimos, mas lhe sobrava amor no coração. Ao me entregar com cuidado a coruja decrépita, o jovem deixou o local mais rápido que um pomo de ouro.

"Creio que aquele menino foi extremamente bondoso ao chamar esse velho monte de penas de coruja..." disse Severo, estreitando os olhos ao observar como Errol parecia sem vida em minhas mãos. "Mas garanto que a mensagem chegou em uma hora muito conveniente para você, Ninfadora. Salvou sua vida, devo dizer. Note a posição do seu rei. O xeque-mate era inevitável".

Eu ri, ainda tentando abrir o envelope. "Acho que você não vai se importar muito, não é, Severo? Me vencer já devia estar se tornando um tanto quanto monótono".

"De fato" riu ele. "Bom, espero que sejam boas notícias. Duvido, contudo. Aqueles Weasley adoram um melodrama".

Não respondi. Já lia a carta com atenção. Quando terminei de ler, olhei para Severo. Com o queixo apoiado em uma das mãos, ele me fitava com uma expressão que parecia indicar extremo tédio. Mas eu tinha certeza de que ele estava curioso e não queria demonstrar, então resolvi não torturá-lo. "Os Weasley que você tanto critica estão lhe enviando votos de melhoras, Severo. De resto, nada de novo. Molly me perguntando se eu estou comendo bastante, se estou me agasalhando, se estou escovando os dentes, se estou dormindo o suficiente e me comportando bem em geral. Também está me convidando para ir visitá-los assim que possível porque Carlinhos está na Inglaterra...".

Quando voltei a olhar para Severo, percebi que sua expressão tinha mudado. Parecia estar bem mal humorado. Como ele conseguia ter um humor tão inconstante? "O que foi agora?" perguntei, intrigada.

Ele, de início, não disse nada. Apenas me encarava com olhos inquisidores. Notando que eu ainda não havia entendido a sua súbita mudança, ele resolveu se pronunciar. "Estou tentando entender qual a relação entre você ter que visitar os Weasley e o fato de um dos seus 55 filhos estar no país...".

Não pude deixar de gargalhar. Com certeza Severo ainda não sabia das pretensões de Molly. Primeiro queria que eu me casasse com Gui, que aliás é muito bem apessoado, mas ele amava Fleur Delacour e eu amava Remo. Só que Molly não era uma mulher que desistia facilmente. Agora o objetivo era me casar com o segundo filho. Expliquei tudo a Severo, mas a expressão dele não parecia ter melhorado.

"Não sabia que você era assim tão íntima daquele domador de lagartos...".

"Que eufemismo, Severo! Eu não chamaria aqueles dragões de lagartos nem por brincadeira! Saiba que Carlinhos é muito respeitado por seu trabalho na Romênia".

"Pois eu não consigo ver heroísmo nenhum nisso...".

"Severo, Severo... Se eu tivesse te conhecido hoje e não soubesse do seu desprendimento em relação aos sentimentos mundanos, diria que está tendo um ataque de ciúmes". Eu estava tentando parecer irônica, mas não podia negar que ficaria feliz se minhas suspeitas fossem confirmadas.

Snape ergueu uma de suas sobrancelhas novamente. "Ora, não seja ingênua! Eu, com ciúmes de...você? E por causa daquele caipira grosseiro que mal largou as fraldas?".

Sorri, triunfante. "Exatamente!".

Um sorriso se formou em seus lábios. Naquele momento, ele era pura malícia e estava, para o meu desespero, extremamente atraente. Ele se levantou lentamente como se calculasse cada movimento e caminhou até mim, parando atrás da minha cadeira. Arrepios percorreram a minha nuca e eu me vi indefesa apenas por sentir aquela poderosa presença tão perto de mim. Eu estava petrificada e não me atrevi a me virar e dar de cara com aqueles olhos tão...negros, profundos, embriagantes. Então, ele pousou levemente suas mãos em meus ombros e inclinou-se, quase roçando os lábios finos no meu ouvido. Juro que eu não me sentia mais parte desse mundo. Parecia que um universo alternativo havia se formado à minha volta e não existia nada além de nós dois, além do toque dele. Merlin, fazia tanto tempo que eu não me sentia leve daquele jeito. E quando eu pensava que nada mais pudesse me atingir, a voz dele deslizou até o âmago da minha alma. Aquecendo-me...morna, doce e tentadora como calda de chocolate no inverno. "Não me subestime, minha cara Ninfadora. Severo Snape tem muito mais a oferecer que aquele simples rapazola ruivo. Acredite, não tenho motivos para me sentir ameaçado...". E me deixou lá plantada na cadeira, totalmente corada, com calafrios teimosos percorrendo todo o meu corpo e um sorriso bobo pairando em meus lábios. Céus, ele sabia mesmo como argumentar!

*****************************************************
Olá, pessoal!
Esse capítulo não fazia parte da estrutura inicial da minha narrativa, mas achei que seria legal escrevê-lo. Espero mais uma vez que gostem!!
Tudo de bom para vocês!
Respirem fundo e voem alto! Sempre! :o)

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.