O que te perturba?



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Cenas do capítulo anterior:

Ele arqueou uma sobrancelha e mais uma vez ensaiou um sorriso. Típico. Estava se divertindo às minhas custas. Mas isso não ia me desanimar. "Olha, o negócio é o seguinte: vai haver um show com 'As Esquisitonas' e eu vim, em toda a minha ingenuidade, convidar o senhor para me acompanhar. Pronto! Pode rir agora!" eu desabafei, cruzando os braços.

De fato ele riu, mas não maldosamente. "Minha cara Ninfadora, eu tenho um grande afeto pelos meus tímpanos e eu não acho que essa banda os trataria com o devido carinho". Nessa altura do campeonato, eu também já gargalhava. Severo me fitou por alguns instantes antes de prosseguir.

Pareceu-me que ele gostou de me ver rindo tão abertamente. Estranho, muito estranho. "De qualquer maneira, eu não acho que me ajustaria à faixa etária para a qual o repertório se dirige. Seria melhor que fosse sozinha, se gosta realmente desse tipo de poluição sonora. Eu não sou boa companhia".

"Severo, pelo amor de Merlin, você não é velho! Provavelmente tem a mesma idade que o Re...bom...enfim, se eu estou te convidando, é porque gosto da sua companhia". Quando notei, eu já tinha dito. As palavras saíram da minha boca mais uma vez sem pedir licença. Tenho absoluta certeza de que corei. E posso jurar que a face de Snape também ficou um pouco menos pálida.

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4- O que te perturba?

Ficamos em silêncio por vários minutos. Acho que ele, como eu, também não sabia o que dizer. Fiquei o observando trabalhar e mais uma vez fiquei hipnotizada por toda aquela magia. Não sei quantos minutos se passaram até que eu me lembrasse de dizer alguma coisa, mas toda a tensão que poderia existir já havia sido dissolvida pelo tempo e eu me sentia bem perto dele novamente. Aproximei-me do caldeirão e percebi que a poção não tinha qualquer odor ou cor. Parecia água pura. Nunca fui boa nessas coisas, mas achei que a Poção da Verdade tinha que ter aquele mesmo aspecto. "Falta muito?".

"Não, só mais alguns minutos" ele respondeu, num fio de voz, sem prestar a mínima atenção em mim. Foi quando desisti e me joguei em uma de suas poltronas, transpirando tédio e chateação. Por pura falta do que fazer, decidi estudar um pouco mais o temido Mestre de Poções de Hogwarts. Severo era alto, magro e pálido, mas isso agora só parecia contribuir para a sua elegância. Eu, a mais desastrada e sem jeito do mundo, poderia dizer que admirava isso nele. Queria poder ter tamanha desenvoltura. Os olhos dele eram negros e penetrantes e muitas vezes eu tinha medo de ficar muito tempo olhando para eles. Tinha medo da Legilimência, de que ele invadisse minha mente e tivesse acesso aos meus mais secretos pensamentos. Mas, ao mesmo tempo, era difícil para mim ignorá-los. Eu tinha que admitir que eles me intrigavam porque mudavam. Eu percebera isso nos últimos dias. Mudavam de acordo com o humor de Severo. Eram opacos às vezes, mas também eram capazes de brilhar. Diferentes dos olhos cor de âmbar de Remo, espelhos da sua alma cristalina, mas mesmo assim tinham os seus encantos.

"Me confundindo com Lockhart, Ninfadora? De antemão, já aviso que não dou autógrafos, mas posso começar a cobrar por minuto se pretende ficar me olhando por mais tempo".

Fiquei roxa. Como ele sabia que eu o olhava se estava de costas para mim? Será que Severo, além de tudo, também tinha olhos na nuca? "Eu estou entediada demais e não tem mais nada aqui que se mova para eu ficar observando. Nem uma mísera fada mordente, o que seria bem mais interessante que você".

Ele caminhou até mim. E riu. Nota sete, talvez, se eu fosse boazinha. Percebi que já havia passado a poção para os pequenos vidros rotulados. Sentou no braço da poltrona ao lado. "Não sei se chegou a notar o adiantado da hora, mas acho que a apresentação já deve ter começado. É melhor se apressar".

"Não quero sair sozinha. E como você não quer ver o show, podemos fazer outra coisa. Que tal dar uma volta até o lago?".

"Estou tentado a negar, mas como vejo que não me deixará em paz se eu fizer isso, acho melhor aceitar o convite. Não tenho mais nada a perder nessa vida" disse ele, com um tom de resignação. E lá fomos nós.

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Estávamos sentados há horas no deck, conversando. É verdade, Severo Snape sabia sim conversar informalmente. Quer dizer, não tanto quanto as pessoas normais, mas sabia. Ele me contou alguns dos mais hilários episódios de suas aulas. Comecei a tentar computar o número de pontos que ele já havia tirado de cada casa, mas desisti no meio do caminho. E eu contei a ele sobre minha família, sobre minhas trapalhadas. Praticamente minha vida toda.

"E então, quando eu entrei para a Ordem, eu comecei a conviver com o Remo e nós..." parei no mesmo instante. Não queria falar sobre aquilo. Era melhor mudar de assunto ou eu choraria na frente dele. Isso seria humilhante demais.

"Você não deve se envergonhar de suas fraquezas, Ninfadora. A guerra já acabou há dois anos e você devia falar dele para se sentir melhor. Já está mais que na hora..." disse, olhando para a superfície escura do lago, que refletia o luar.

"Como se você fosse um livro aberto, Severo. E por que você me chama assim?".

"Assim como?".

Eu estava começando a me irritar. "Ora, de Ninfadora. Você sabe que eu odeio!".

"Eu a chamo assim simplesmente porque acho um lindo nome".

Corei novamente. "Você só pode estar brincando!".

"Faço comentários irônicos e maldosos, que são minha especialidade, mas também sei elogiar de vez em quando" ele disse, sem olhar para mim.

Alguns minutos se passaram, novamente imersos em completo silêncio. Eu sabia que já era tarde e que devíamos estar na cama tentando dormir, mas eu não queria voltar para lá. Não queria voltar para os meus pesadelos."Severo?".

Ele apenas resmungou em resposta, ainda envolto em ponderações pessoais. Pelo menos eu sabia que ele estava me ouvindo. "Você disse que tem pesadelos, não é?". Ele não respondeu, mas ainda assim eu prossegui. "O que te perturba?".

Silêncio.

Mais silêncio. Eu tinha certeza de que ele não iria responder e já ia me desculpar pelo atrevimento quando ele murmurou alguma coisa que eu não pude entender. "O que?".

Ele olhou fundo nos meus olhos antes de responder. E eu pude notar que os dele estavam opacos. "Alvo".

E eu, me sentindo pequena e comovida, não pude fazer mais nada a não ser ceder ao impulso de abraçá-lo.

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Gente, mais um capítulo! As partes que eu mais gosto de escrever são os diálogos. Principalmente, é claro, as falas do Snape... Não sei se estão ficando bons, mas é divertido...rs...
Espero que ainda estejam gostando! rs
Beijos e até mais!

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