o julgamento
N/A: desculpa a demora e perdoem os erros de digitação O.O porque o teclado do meu primo é um c*! E eu não tenho uma beta-reader ;~; Bom, acho que vocês vão gostar (espero que sim) ^^ escrevi durante uma noite à madrugada (em que meu primo jogava no PC com a luz ligada e eu não tinha muito o que fazer...). Ponto bom da demora: o cap 04 já tá pronto. ^^v VALEU PELAS REVIEWS! São o que me motivam. ^___^ um especial valeu pra Cá, que me apoiou, e pro Bruno (meu primo) que tá lendo essa N/A que nem retardado agorinha mesmo XD~~ have fun =P~
Capítulo três – o julgamento
Seus olhos perdiam-se dentro dos mares selvagens e vorazes que eram os do outro, levando consigo todo o seu corpo e alma e ser, de todo em devaneio – contra a sua vontade, tentava convencer-se, num furto de certo e implacável -, as ondas propagando-se sobre a superfície azul acinzentada das águas, brutais, porém lascivas, como veneno – sim, como veneno injetado pelas presas de uma serpente, uma víbora mortal, mas que mordera apenas porque sua presa aproximara-se demais, como que deixasse-se ser envenenada... Lá estava ele, Harry Potter, a olhar a figura estática à sua frente por uma fração de segundo – que pareceu demorar a eternidade – e, ao fazê-lo, compreendeu, embora apenas parcialmente. Sentia como se brotassem respostas cujas perguntas jamais foram pronunciadas e, apesar de desconexas e objetivas, elas pareciam fazer sentido para ele. Estavam ali, afinal, pronta para serem agarradas e usadas para acalentar-lhe as dúvidas, as cruéis dúvidas que lhe marcavam o coração, como profundas feridas que talvez jamais fossem preenchidas, que talvez jamais chegassem a cicatrizar. Ele ainda empunhava a varinha a altura dos olhos, apontando-a em direção à razão de seus últimos cinco anos de obsessão calada e sofrida, sujo e ensangüentado. O louro, por sua vez, postava-se a não mais que míseros – e ainda assim, tantos – três metros de distância, a sua própria varinha em punho, os olhos cinzentos cortantes a fitar a imensidão verde esmeralda, esforçando-se para manter-se em pé, tão dolorido estava. Ambos pareciam apontar-se as varinhas, mas outrora ali entre eles estivera Voldemort, agora aos pés do moreno, afinal e tardiamente derrotado. Foram assim encontrados pelos aurores, mirando-se silenciosamente, apenas poucos instantes após a queda do Lorde, mas por tempo suficiente para que jamais pudessem esquecer. Harry baixou a varinha antes dos aurores adiantarem-se ao louro e observou-o, ilegível. Draco parecia perdido, sem reação às pessoas que agarravam-no pelos braços, e a varinha escorregou por entre os seus dedos, caindo no chão com um estalido. Logo depois, o atingiram e seus olhos – que guiavam Harry, como faróis na escuridão – cerraram-se relutantemente. O moreno forçou seu corpo a andar alguns passos. Ofegava como se estivesse correndo os cem metros, e não caminhando três. Era esforço demais para o seu corpo fatigado, depois de tudo o que houve. Ele tropeçou e foi de encontro ao chão, mas não antes que escorregasse uma de suas mãos à varinha do louro e apanhasse-a firmemente. Muitos passos ecoavam-se ao seu redor no chão de pedra úmido e alguém chamava os medibruxos, mas ele apagou antes de qualquer outra coisa acontecer...
xoxoxoxoxox
Draco Malfoy estava quase pegando no sono. Não sabia que dia ou que horas eram desde que Hermione Granger partira. Perdera a noção do tempo há muito. Dormia quando tinha vontade, se era dia ou noite, não importava. Azkaban, porém, não era o lugar mais indicado para um descanso, por um milhão de razões bem óbvias, mas o que mais irritava o Malfoy no momento era que a prisão parecia nunca dormir.
Gárgulas vorazes! Se aqui não fosse o próprio inferno, os mandaria para lá!, pensou com ódio, referindo-se novamente aos guardas. Os detestava por completo. Bando de imbecis. Como poderiam confiar Azkaban a eles? Os costumeiros ecos vindos do assoalho indicavam que aproximavam-se da sua cela... Mais uma vez. Cretinos! Enquanto estive no topo, nem deram-se conta da minha existência, e agora que estou me chafurdando na lama, não deixam-me em paz, os desgraçados?
A porta fora aberta com um ruído particularmente seco e cruel e a chama do lampião apagou-se de vez, abandonando o recinto. O corredor era fracamente iluminado pelos finos primeiros raios de sol do dia, que infiltravam-se nas frestas das celas normais, mas ainda assim, Draco conseguia distinguir os vultos com vultos: o primeiro era o guarda diurno, um babaca infeliz, mas havia outros dois com ele, cobertos por esvoaçantes mantos negros. O louro sentiu-se profundamente infeliz, como se nunca mais fosse sorrir em vida – o que era muito provável – e concluiu, tomado pelo medo, aqueles eram dementadores. O guarda adentrou a cela – via-se claramente que ele também não estava satisfeito com a companhia – e soltou as correntes que prendiam Draco. Depois, puxou do lado de fora da cela um grande balde e despejou seu conteúdo sobre o prisioneiro, que recebeu uma pancada de água fria – e xingou audivelmente. Depois, o homem atirou-lhe algumas vestes trouxas.
- Lave-se e troque as roupas. – ordenou e Draco passou a esfregar o rosto, a contragosto. De fato, estava sujo e malcheiroso, mas o outro mandara-lhe e ele nunca fora do tipo que aceitava isso. Acabou fazendo o que o homem dissera apenas porque sabia o que viria a seguir: a ida ao Ministério da Magia. Depois de pronto, para seu espanto, acontecera algo que não esperava: os dementadores avançaram sobre ele e agarraram-lhe pelos braços – Merlim! Por Merlim, como doía! Ele então deixara o mundo normal para vagar entre a consciência e inconsciência. Ele sabia apenas que eles tirariam-lhe toda a felicidade, mas tentou agarrar-se num momento alegre, para que então não fosse derrubado pela onda de sofrimento que ameaça tomar-lhe. Porém, ele não encontrou nenhum. Afogava-se. Sabia apenas que era arrastado para fora dali e percorria os corredores de Azkaban – os presos encolheram-se aos cantos das celas, as lembranças do efeito dos dementadores a tomá-los, mas alguns ainda faziam um alvoroço ao ver o rapaz sendo arrastado pelas detestáveis criaturas -, os mesmos corredores que há muito conduziram-no a alguns dos seus dias mais angustiantes à espera pela verdade. Depois de algum tempo, o louro forçou a vista e mirou grandes rodas de madeira. A carruagem – ou uma versão mais antiga desta, com grades para transporte de presos e feitiços especiais – estava parada à sua frente, de portas abertas, e sem aviso prévio ele fora atirado com violência para dentro e seus dois acompanhantes o seguiram. Doravante, ninguém saberia o que esperar.
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Harry James Potter esperava defronte à grande porta de aço, um pequeno frasco em mãos. Será que era às oito ao invés das sete e meia?, perguntou-se, passando uma das mãos pelos negros – e habitualmente desarrumados – cabelos e bebeu um gole do líquido. Maldita memória...
- Harry? – chamou-o alguém. Ele virou-se e mirou uma bela morena. Bebera tanto pela madrugada que não sentira-a aproximar-se? É, talvez os outros estivessem certos, afinal... Estava exagerando...
- Hermione. – disse, como quem concluiu algo. Não parecia interessado, mas de fato amargurado.
- Há quanto tempo! – exclamou e deixou um sorriso aflorar sobre os seus lábios. – Estava ficando preocupada com você! Já fazia duas semanas que não vinha trabalhar e...
Ele levantou uma das mãos para interrompê-la.
- Pare... Dor... Cabeça... – murmurou de leve e levou a mão à têmpora, massageando-a. Não precisa se preocupar, não tem mais ninguém atrás de mim... Hermione olhou-o, terna. Afastou-se e dali a uns minutos voltou, trazendo-lhe um café puro bem quente.
- Beba. Se sentirá melhor. – disse a garota, abaixando o tom de voz. Harry forçou um sorriso fraco. Café? Café? Ele precisava era ingerir algo, isso sim o faria melhor, um pouco de firewhisky, vinho trouxa, smirnoff ice ou qualquer outra coisa, não um concentrado de cafeína escaldante. Mesmo assim, bebericou o café. Tentou relaxar. Talvez a dor de cabeça – provavelmente por causa do porre logo de madrugada – se aliviasse.
- Harry... – começou Hermione, lançando-lhe um olhar preocupado. – Você andou bebendo de novo?
- Não. – resmungou irritado. Quando ela vai aprender a cuidar da própria vida?
- Então, o que foi que guardou quando cheguei? – indagou precisa. Harry deixou a xícara de café de lado e estreitou os olhos. Falou pausadamente, de maneira suave, mas perigosa, que Hermione nunca pensou que ele poderia usar:
- Acho que já sei cuidar de mim.
Hermione entreabriu os lábios para retrucar, mas eles se detiveram enquanto seu olhar mirou algo por cima dos ombros de Harry. Ele concentrou-se e pôde contar – sem usar os olhos - um grupo de doze bruxos, incluindo duas mulheres e Ronald Weasley. Eles aproximaram-se.
- Vejo que chegou adiantado, Harry. – disse Arthur Weasley, mirando-o.
- Eu nunca fui bom com horários, Ministro. – respondeu o moreno, sem emoção. O Sr Weasley deu-lhe um pequeno sorriso e adentrou a grande porta de aço, que abriu-se devagar, junto de vários outros – Alastor Moody, Ninfadora Tonks, Remus John Lupin, Kingsley Shaklebolt e mais pessoas que Harry não conhecia. Ginny e Ron Weasley, que estavam entre eles, pararam ao lado dos dois.
- Oi, Harry! Hermione, meu... – começou Ron, mas fora interrompido.
- Não era para ter voltado há três dias? – perguntou a garota, fuzilando-o com o olhar.
- Sim, Mione, mas você sabe como é... As comemorações da vitória da taça... Nós demoramos um pouco mais e... – tentava explicar, mas parecia não obter bom resultado, porque a morena parecia estar preste a explodir.
- Quer saber? – Hermione apontou-lhe o dedo indicador. – Da próxima vez que se atrasar meio segundo, nem volte, ou os Chudley Cannons ficarão sem goleiro! – ameaçou.
- Por que as mulheres dessa família têm que ser assim? – resmungou o ruivo para Harry. A cena de ciúmes era tão patética e lembrava-lhe tanto a infância que o moreno não pôde deixar de rir.
- Ei! Eu não sou assim! – protestou Ginny. Ron e Hermione a ignoraram, afastando-se ainda brigando.
- Pois ainda está em tempo de arranjar outra, Ronald, porque ainda não se casou comigo! – foram as últimas palavras que os outros dois ouviram da briga.
- Impressionante, não? – murmurou Ginny e Harry olhou-a examinador pela primeira vez no dia. O lindo rosto, os olhos castanhos amendoados, os rubros lábios de que ele se lembrava tão bem, os cabelos cor-de-cobre. Tudo nela era perfeito. Até demais.
- O que? A fina e tênue linha que separa o amor da insanidade? – perguntou mirando-a. Falou tão sério que Ginny riu.
- Na verdade, em como o amor necessita de uma porrada de paciência... Mas isso também é interessante. – disse. Olhou Harry nos olhos por um segundo. O moreno teve a sensação de que ela nunca o esquecera, mas agora, vendo-a ali à sua frente, receptiva, ele teve certeza: não sentia mais nada. Ela desviou os olhos dele e entrou na sala. Harry a seguiu. Era a mesma sala circular que vira pela primeira vez em seu quarto ano, na penseira de Dumbledore, durante o julgamento de Igor Karkaroff. Ficou de pé ao fundo. Todos estavam acomodados. Havia até que poucos bruxos presentes. Harry passou os olhos pela sala e, além daqueles que já vira, ainda pôde notar Neville Longbottom ali presente, mais alto e magro que nos tempos de escola, e o Sr Lovegood, novo editor do Profeta Diário, que carregava pergaminhos para o depoimento de Harry. Ainda viu Percy Ignatius Weasley, que fizera as pazes com a família durante a guerra, e Quentin Trimble, um novo auror, autor de A força das trevas: um guia de autoproteção. Ele não reconheceu apenas um homem, moreno, não muito alto, que remexia o conteúdo de sua pasta, nervoso. O Sr Weasley, a autoridade máxima ali presente – quando Rufus Scrimgeour abdicou, aterrorizado com os ataques dos Death Eaters, foi ele quem assumiu tudo – levantou-se.
- Está pronto, Sr Jones? – perguntou. O moreno, muito nervoso, assentiu com gestos exagerados de sua cabeça. – Façam com que ele entre. – mandou Arthur. Ouviu-se um ruído e ao centro da sala uma plataforma pareceu abrir-se. Dali surgiu uma espécie de gaiola, que subiu até parar sobre o chão, e lá estava ele, quase como da última vez que o vira – qualquer um que tivesse prestado atenção ao moreno dos fundos teria captado seus olhos verdes cintilando, como pedras preciosas, em cobiça. Draco não olhou nenhum nos olhos. Ainda estava tonto. Acabara de sair da companhia dos dementadores, com os quais ficou por muito tempo. Ele parecia achar o assoalho decididamente interessante.
- Estamos aqui hoje – o Sr Weasley parecia mais firme agora. – para decidir o futuro de Draco Lucius Malfoy, sendo este sem pena alguma... – ele fez uma pequena pausa, talvez deliciando-se com as próprias palavras (porque, de certo, não estava apiedando-se daquele ali) – ou com a pena máxima, de morte.
Draco levantou seus olhos zonzos para mirá-los nos do Ministro. Morte? Ele falou em me matar?
- Começaremos então pelo testemunho decisivo. – Arthur virou-se ao rapaz aos fundos (e todos os olhares o acompanharam) – Harry James Potter, por favor.
Harry encheu os pulmões de dar e caminhou em direção a uma mesa próxima ao centro da sala, ignorando todos os olhares – à exceção de um par de olhos azuis lunares a examinarem-no. Sentou-se ao seu lugar.
- Certo. Harry, diga-nos um pouco à respeito da relação com os nascidos trouxas.
- Péssima, senhor. – disse simplesmente. Draco olhou-o de longe e soube que, de fato, estava ferrado. Edward Jones começou a ficar mais nervoso, enquanto o Sr Lovegood rabiscava o seu pergaminho.
- A que ponto, Sr Potter, ele chegaria em relação aos trouxas? – continuou o Ministro.
- Está me perguntando se ele os mataria? – indagou Harry, e o Sr Weasley assentiu. – Duvido muito.
Murmúrios encheram a sala circular e Arthur teve de esperar algum tempo para que se silenciassem. Harry tentava concentrar-se. Diria a verdade. Toda ela.
- Por que duvida, Sr Potter?
- Porque foi assim que Draco Malfoy agiu na noite da morte de Albus Percival Wulfric Brian Dumbledore. – disse o garoto, pontualmente. – Acho que já lhes contei que, embora tivesse todas as chances que nunca ousaria ter imaginado em conseguir, ele não o matou.
Draco boquiabriu-se. Como assim ELE contou? Não sabia de nada! Como...? Lembrou-se então da segunda vassoura na noite em que pegou Dumbledore na torre. Sim, ele devia estar lá...
- Mas Albus morreu naquela noite, Harry, e ,de maneira direta ou indireta, a culpa é de Draco Malfoy. – argumentou o Ministro.
- Não, foi culpa de Voldemort. Afinal, foi ele quem o forçou a fazer tudo, como muitos de nós. – ele lançou um olhar a Moody e a Shaklebolt, que foram ambos usados de alguma maneira para arquitetar os plano do Lorde das Trevas.
- Harry, essas suas afirmações são pouquíssimo seguras! – desta vez quem falou foi Hermione Granger, a encarregada de examinar detalhadamente o relato de Draco. – Não vê? Ele odeia trouxas e cobiça poder! Por que não se juntar a Voldemort? Isso não faz sentido! Afinal, ele nunca fez nada que provasse não estar ao lado do Lorde das Trevas! Eu mesma li e reli o relato dele! Não há nada!
As entranhas de Draco pareciam travar uma batalha contra elas mesmas. Arrependia-se de não ter falado sobre aquilo, e como se arrependia! Edward Jones olhou-o com severidade, mas não precisou fazer muita coisa, pois Harry voltou a falar.
- Não, Hermione. Ele fez algo, sim. – o moreno largou-se na cadeira, um tanto aflito. Levou uma das mãos às têmporas.
- O que ele fez, Sr Potter? – indagou o Sr Weasley, atento. A sala estava tão quieta agora que ninguém mais parecia respirar.
- Foi há uns três meses, um pouco mais... Não agüentava mais esperar por nada, então eu fui sozinho... Não demorei a chegar à caverna, afinal, eu já a tinha visitado antes, mas em circunstâncias diferentes...
Harry entrou pela fenda da gruta nadando e chegou a uma estreita faixa de terra dentro da mesma. Lá, secou suas roupas com um feitiço e aproximara-se de uma pedra. Sacando uma faca, fez como Albus, o diretor que seria vingado, assim como os seus pais, e cortou de leve o braço esquerdo. Aproximou-se da pedra que um dia bebera do sangue de Dumbledore e derramou o seu próprio. Uma porta materializou-se a sua frente e ele passou por ela. Não fazia idéia do que esperar, mas de certo não esperava por aquilo: dezenas de corpos – os Inferi – atirados uns sobre os outros no lugar que antes fora o lago que habitavam; os mortos – não tão mortos assim – com os olhos abertos, vidrados, sem vida ou emoção, mirando-o. Se Harry temia algo eram os mortos, aqueles que ele já não podia matar. A imagem o fez hesitar um pouco, mas logo foi tomado por tamanho ódio que esqueceu-os. Ao centro da gruta, brotaram verdes chamas do chão, serpenteando dançantes em volta de seis vultos. Harry reconheceu-os de longe: Narcisa Malfoy e Peter Pettigrew à esquerda, Bellatrix Lestange e Rodolphus Lestrange à direita; ao centro estava Voldemort e, alguns passos atrás da grotesca criatura que Tom Marvolo Riddle transformara-se estava Draco Malfoy. “O grande Harry Potter”, zombou Voldemort. “Aproxime-se, garoto... Vamos terminar logo com isso.” Harry explodiu em ódio e revolta e adentrou o caminho apinhado de mortos até o Lorde das Trevas. Os Inferi não moveram-se e logo ele estava a alguns metros apenas da razão de sua vida estar tão... Errada. “Ora, ora, ora, Harry...”, murmurou o homem – se é que se podia chamá-lo de humano – e Bellatrix desarmou-o com um aceno de varinha. “Vamos, milorde! Quando acabar com o bebê Potter, tudo e todos estarão aos seus pés!” Voldemort sorriu – o que o deixava mais deformado – e com a varinha derrubou o garoto no chão. “Draco”, chamou. “Mate-o.” Draco arregalou os olhos. Harry percebeu que ele mancava quando o louro deu um passo para trás. “Não... Não vou mais seguir as suas ordens! Já fiz o que você queria! Deixe-me em paz!”, disse num tom tão fraco que chegava a parecer uma súplica. Voldemort voltou-se a Narcisa. “Vou matá-lo, Narcisa. Não agüento vê-lo como um Death Eater”, disse friamente. “Draco, faça o que ele manda!”, ordenou a mulher. “Não vou fazer mais nada!!”, teimou como uma criança. “Eu já lutei muito, por minha causa, ganhou Dumbledore, agora vire-se sozinho!!” O Lorde não aturou suas palavras e um feitiço propagou-se pelo ar junto de um murmúrio: “Crucio!” Draco caiu no chão e já não sentia-se mais como um: era milhares de pedacinhos dele mesmo, debatendo-se, destruindo-se, quebrando-se e se ferindo. “Piedade, milorde! Piedade!”, rogou Narcisa, mas Bellatrix calou. “É seu sobrinho!”, implorou a mulher a irmã. “Só tenho uma família, os Death Eaters”, disse a morena cruelmente. A loura debulhou-se em lágrimas vendo o seu filho. Harry percebeu, então, o quão Voldemort era pior do que ele imaginava: destruía a todos que se opunham a ele, não importasse quem foram ou o que fizeram por ele. Sentiu um ódio mais que profundo espalhar-se por toda a sua alma: queria a morte daquele homem, queria mais do que qualquer outra coisa. Voldemort livrou Draco do feitiço. “Ajeite-se, moleque, ou não me servirá mais”, disse. Depois, virou-se a Harry. “Parece que desta vez não haverá brincadeira. Pena que será a última”.Ouviram-se passos do lado de fora da gruta. “Seus amiguinhos chegaram, é? Bellatrix. Rodolphus. Vão dar-lhes as boas vindas”, ordenou e os dois afastaram-se, obedientes. Narcisa ainda estava de joelhos, o rosto molhado. Peter observava Voldemort, entretido. “Últimas palavras?” Harry fuzilou-o com o olhar. Tinha de fazer algo, mas aquela coisa grotesca o desarmara. O que faria então? “Avada Kedav...”, começou o Lorde, mas fora atingido por algo que interrompeu-o. Um grito ecoou-se nas paredes da gruta: “Expelliarmus!”, berrara Draco e o desarmara. A varinha de Voldemort escorregou por entre os seus dedos e foi cair às mãos de Harry, que agarrou-a com convicção. Era agora ou nunca. Apontou a varinha para o bruxo – que só teve tempo de arregalar os olhos – e berrou a plenos pulmões: “AVADA KEDAVRA!!” Voldemort ainda teve forças para urrar, mas logo caiu com um baque surdo sobre a terra úmida, aos pés de Harry. Quando o homem caiu, o moreno pôde ver Draco a observar a cena, chocado. Peter horrorizara-se e saíra correndo dali, mas Narcisa apenas olhou o corpo de Tom Marvolo Riddle, paralisada. Passos ecoaram-se por todos os lados, além dos Inferi, aproximando-se. Os aurores chegavam...
- E eu apaguei. – terminou Harry. Todas as pessoas pareciam ter sido esbofeteadas e ele imaginou que nunca acertaria tantas pessoas ao mesmo tempo. Draco parecia que infartaria a qualquer instante. Desgraçado... Contou tudo... Tudo isso?
- Q-QUÊ? – o primeiro a recuperar a fala foi Ron Weasley.
- Impossível!! – exclamou Hermione, apoiando-se no noivo, como se fosse cair. Ginny boquiabriu-se, mas não teve forças para falar.
- N-não... – Alastor Moody estava pasmo. No fundo, ele queria que o garoto fosse preso – odiava os Malfoy.
- Eu não brincaria com isso! – falou Harry, irritado. – Sabe, eu devo uma a ele, então vou terminar o que comecei. – o moreno olhou para Draco, que ainda desacreditava tudo aquilo. – Segundo a profecia, era eu ou Voldemort. Se não fosse por ele... Teria sido Voldemort. – o jovem olhou as pessoas a sua volta novamente. – Ele não salvou a mim... Mas a todos vocês.
Os olhares caíram sobre Draco. Eu os salvei?, pensou ainda sem conseguir raciocinar direito. Edward Jones levantou-se, agora muito confiante.
- Eu suponho, Sr Ministro, que, devido às circunstâncias, ele seja considerado inocente, não? – arriscou, certo de que vencera. Harry levantou-se de repente e cruzou o recinto, saindo de lá depressa. O Sr Weasley mirou o Malfoy.
- Ele disse a verdade?
Draco assentiu em silêncio, embora borbulhasse de raiva. Nunca duvidaram de Harry Potter, mas falar bem de um Malfoy seria motivo para questionar, sem dúvidas, pensou irritado. Arthur consultou Moody, que estivera observando o louro e assentiu aos olhos do Ministro. O Sr Weasley suspirou, derrotado.
- Soltem-no.
xoxoxoxoxox
Harry esperava do lado de fora da sala circular, sentado num degrau de pedra de uma escadaria a um canto. A dor de cabeça deixara-lhe. É, talvez já tivesse acostumado-se aos porres. Talvez fosse apenas a ansiedade por depor, por contar tudo... Mas fora aquilo que o fizera beber, afinal. Tudo acontecera de forma tão estranha, com Draco o salvando. Harry sabia que livrá-lo de Azkaban não seria o suficiente para recompensá-lo. Talvez nem chegasse a fazê-lo de todo em vida... Ele tirou um frasco do bolso e abriu-o vagarosamente, pensando em tudo e em nada.
- AHÁ! – de repente ouviu e Hermione surgiu só sabe Deus de onde e arrancou-lhe o frasco das mãos. – Eu sabia! Sabia!
- Ah, não enche e me devolve essa porcaria antes que... – resmungou cansado, mas fora cortado.
- Aquilo é verdade? – perguntou Ron, ainda meio pálido. Ginny e ele acabavam de sair da sala. Harry não o culpava pela dúvida porque Weasleys e Malfoys nunca estiveram do mesmo lado antes. Aquilo era quase como... Pecar.
- O que? Do Malfoy? É, sim. – afirmou o jovem e tirou o frasco de Hermione, que se distraíra. Bebeu um gole. – Ele se recusou a me matar. Depois, me salvou.
- E-eu... – Ron parecia sofrer um conflito interno. – Eu ainda não acredito! – e saiu marchando. Hermione correu atrás dele.
- Bem... Boa noite, Harry. – Ginny deu-lhe um beijo na bochecha. – E pare de beber. Faz mal. – virou-se e se foi. Harry observou-a partir até sumir do alcance de seus olhos. Por ele ainda passaram Tonks com Lupin, Moody, Shacklbolt e o Sr Weasley, que pareciam muito chocados. Ele virou-se a tempo de captar os olhos de Draco Malfoy a examinarem-no. O louro aproximou-se.
- Por que fez aquilo? – perguntou, a voz serpenteando.
- Aquilo o que? – Harry parecia desinteressado, embora estivesse é distraído, lembrando-se do sonho que tivera após o porre da madrugada, em que observava aqueles mesmos olhos.
- Por que disse aquilo sobre eu ter salvado todos eles? – ele arqueou uma das sobrancelhas, observando um Harry distante, curioso.
- Porque é verdade que o fez.
- Mas não é verdade que era o que eu queria com aquilo. – retrucou o jovem, estreitando os olhos perigosamente. Harry olhou-o, ilegível, embora um sorriso teimasse em aflorar pelos cantos dos lábios.
- Eu não disse que era o que queria, e sim o que fez. – ele esticou um dos braços a Draco e abriu caminho para ele passar. – Vamos. Venha. É hora de ir.
- Para onde? – perguntou o louro.
- Para casa.
- Para a minha, você quer dizer. – corrigiu-o. Harry olhou-o sem emoção.
- Não. Acredite. Você não quererá ir até lá.
- Quero sim. Leve-me ou arranjarei um jeito de ir sozinho. – teimou Draco. Harry sorriu.
- Como quiser. Siga-me.
Deu-lhe as costas e começou a andar. O louro hesitou por um instante, olhando-o a distanciar-se. Por algum motivo, porém, suas pernas forçaram-se para a frente e ele passou a seguí-lo, sem nem saber ao certo se a mansão era mesmo o seu destino, como que no escuro, tendo que confiar de todo e completamente em outro.
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