Adeus, Potter!
Capítulo 2
ADEUS, POTTER!
Harry ainda tinha muito em que pensar. Sua cabeça estava a mil por hora com tudo aquilo que tinha acontecido. Os dias ficavam cada vez mais escuros e a Rua dos Alfeneiros fora coberta por uma densa névoa, que, aliás, estava espalhada por toda Inglaterra.
Rapidamente, Harry subiu as escadas dirigindo-se ao seu quarto mofado onde uma Edwiges estava inquieta em sua gaiola. Harry soltou a coruja e deu a ela um biscoito.
Enquanto a bela coruja branca se deliciava com seu cookie Harry pegou pergaminho e tinta e começou uma carta para sua querida amiga Hermione.
É claro que a possibilidade daquela carta ser confiscada era muito grande, então tinha que ser breve e objetivo:
“Mione, preciso de notícias. Crateras: perigo! Dursley indo embora.
Com urgência,
Harry."
E mesmo que a despedida “Com urgência, Harry” tenha ocupado mais linhas que a carta em si, Harry a enviou assim mesmo. Amarrou a carta na patinha da coruja que brigava com o cookie velho e duro que Harry havia dado. Assim ele olhou a coruja, que subiu em seu braço, e foi até a janela.
- Leve para Mione. E não volte sem uma resposta, mesmo que pequena. Agora, vá... Depressa!
E a bela ave branca partiu por cima das casas de Surrey enquanto Harry tentava achar o Sol por entre as nuvens carregadas. Os dias estavam mesmo ficando mais escuros, principalmente depois que ele voltara de Hogwarts. Então, Harry olhou o calendário, era uma sexta feira, último dia da lua nova. Nova, pensou Harry, vinha depois da minguante. E, no seu sonho, a lua era Cheia! Harry pensou um pouco. Não era bom em astrologia, mas sabia muito bem a ordem da Lua, que, afinal, era a mesma para bruxos e trouxas.
E então Harry olhou novamente para o calendário e abriu um sorriso. Matou a charada. O que quer que tivesse acontecido em Azkaban, tinha acontecido a duas luas atrás. Isso é, duas semanas atrás. Então, provavelmente, quando Dumbledore fora atacado, Lúcio Malfoy já estava livre e podia ajudar os Comensais a entrarem em Hogwarts, embora não tivesse ido pra lá.
Dois dias depois do pesadelo sobre o Chrono Equalium, Harry ainda não tinha recebido uma resposta de Mione. Estava ainda com sono pois eram seis horas da manhã e ele havia ido dormir tarde, o que era bem freqüente já que tantos pensamentos não o deixam dormir facilmente. Ia voltar a dormir quando, de repente, ouviu algumas vozes exaltadas na sala dos Dursley.
A curiosidade o fez descer as escadas e, ao fazê-lo, viu uma imagem nada agradável. Era a tia Guida com seu cachorro assassino e Duda, que Harry não via há mais de ano. Eles estavam lá, próximos da porta com muitas malas de viagens e então Harry percebeu que a Tia Petúnia não estava brincando. Eles iam mesmo embora.
Harry terminou de descer os últimos degraus quando Tia Guida o encarou. Ela ia ralhar com ele. Ela tinha que fazer isso, porque senão não seria ela. Ela lhe fez uma cara de desprezo e Harry já se preparou mentalmente para ouvir alguma grosseria. Mas antes que Harry pudesse formular alguma resposta aos insultos de Tia Guida, ela perguntou:
- E essa coisa? Vai? – O.K.! “Coisa”, pensou Harry, não era, nem de longe, o pior insulto que ele já tinha ouvido. Mas não podia perder a oportunidade de responder.
- Não. A “Coisa” fica. – Guida fez uma cara de muffie azedo e encarou Petúnia e Válter que vinham da cozinha.
- Eu admiro vocês sabem? Manter essa coisa dentro de casa por dezessete anos e ainda dar a casa para ele.
- Não vamos dar a casa. Nós a vendemos – Disse Tio Válter orgulhoso. E como se Harry não estivesse presente, ele completou - O menino só vai poder ficar por aqui mais dois ou três dias. Os novos donos estão voltando de viagem.
- Mas como puderam vender? – Disse Harry tentando fazer-se presente. – Não disseram que a cidade vai ser sitiada? Não disseram que vai passar a ser perigoso morar aqui?
- Sim, mas os novos donos não precisam saber disso não é mesmo? Agora vamos! – respondeu Tio Válter. Aquela foi uma das últimas coisas, pensou Harry, que ele ia ouvir da boca do tio em toda sua vida.
Tio Válter tinha coroado suas últimas palavras com a coisa mais mesquinha, egoísta e repugnante que Harry já tinha ouvido. Nem em suas ofensas, Draco tinha conseguido ser pior. Tio Válter não estava nem um pouco preocupado se os novos donos podiam correr riscos mudando para a Rua dos Alfeneiros, Nº 4. E então Tia Guida abriu a porta e saiu em direção ao carro seguida por Duda. Estava chovendo muito. Tio Válter acompanhou os dois com um grande guarda chuva, deixando Petúnia e Harry sozinhos na casa.
- Tia Petúnia, posso te perguntar uma última coisa?
- Diga logo – Disse áspera como de costume.
- Todo o mundo se esqueceu do que aconteceu da outra vez porque existe um feitiço capaz de fazê-las esquecer. Mas, se nem o Tio Válter se lembra, porque acha que só você se recorda? – Perguntou Harry com humildade. Petúnia suspirou e Harry viu que ela sabia de algo.
- Uma vez aquele velho me disse que nossa casa tinha uma proteção desde que você veio pra cá. E que essa tal proteção fazia nossa casa ficar invisível para todos os da sua espécie. Então penso que seja por isso. Não tinham como me enfeitiçar porque eu estou invisível, e, além disso, nem saio muito de casa, ao contrário do Válter. Depois disso, acho que me esqueceram – ela disse isso com tal amargor que Harry sentiu uma pontada no peito.
Então a cabeça de Tio Válter surgiu na porta resmungando “você não vem, Petúnia?” A tia hesitou e sem olhar para Harry, disse baixinho:
- Adeus, Potter.
E então foram-se os Dursley e Harry sentiu que nunca mais voltaria a vê-los de novo. Harry sentiu-se estranho. Em alguns momentos de sua vida, ver os Dursley partindo seria a melhor das coisas, mas, naquele momento, Harry sentiu um aperto. Apesar dos maus tratos e da indiferença, eles o acolheram por muito tempo. E embora o odiassem, Harry percebeu ali que, pelos menos Petúnia, tinha um coração. A última vez que via os Dursley na vida. Era estranho, mas era óbvio: afinal, se passassem a viver na América, Harry nunca mais voltaria a vê-los.
Harry voltou para o seu quarto e parou de pensar naquilo, pois tinha uma coisa que o preocupava ainda mais: os novos donos. Eles iam chegar ali em dois ou três dias e Harry não tinha para onde ir, e o que era pior: não tinha como avisar ninguém porque Edwiges estava longe e ainda não voltara com a resposta. E se ela não voltasse a tempo? O que diriam os novos donos? Harry não sabia o que fazer, se via de mãos atadas. O jeito era sentar e esperar.
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