CHRONO EQUALIUM!
Capítulo 1
CHRONO EQUALIUM!
A noite estava fria e o céu nunca tivera mais nuvens acinzentadas do que naquele dia, de modo que não era possível enxergar nenhuma estrela. Aliás, a única coisa que se podia enxergar era a Lua Cheia e brilhante. Lúcio Malfoy estava preso na última cela de Azkaban que, nesses tempos, estava sendo guardada por bruxos, uma vez que os dementadores tinham deixado aquele lugar para se juntar às Trevas.
O maior dos seguidores de Lord Voldemort estava lá, encolhido de frio e com uma expressão severa. Seu olhar era vago e ele parecia estar maquinando alguma coisa. Fazia quase um ano que tinha sido preso e aquela situação o estava deixando irritado, pois tinha as mãos atadas e não podia servir ao Senhor das Trevas de dentro daquela cela.
Ficou ali por horas sentado, com a mesma expressão medonha até que finalmente Gregory Wonderwood, o carcereiro daquela noite apareceu atrás das grades com um prato de algo que parecia um mingau. Lúcio fitou o carcereiro com tal expressão de ódio parecendo que, se pudesse, mataria o homem ali mesmo. Quando o carcereiro se aproximou da grade e disse “sopa”; Malfoy levantou-se de um pulo, e, em seguida, agarrou e levantou o pobre bruxo pela roupa.
Ao que o prato sujo de sopa caiu no chão espalhando todo o seu conteúdo, Malfoy olhou obsessivamente para Gregory e disse:
- Deixe-me sssair daqui! – Sua voz estava rouca e baixa. Parecia muito uma voz de serpente. O carcereiro se enraiveceu, puxou a varinha do bolso e apontou-a para Malfoy, ameaçando-o. – O que vocccê vai fazer pobre homem? Me matar? Sssei muito bem que é imposssível fazer mágica nasss dependênciasss do Presídio – Malfoy arrastava o “s” como se uma serpente estivesse falando.
- Claro que é possível. – Disse o carcereiro com a voz levemente trêmula.
- Sssério? Bom sssaber! – Malfoy rapidamente puxou Gregory contra a grade, tirou-lhe a varinha da mão e gritou – Bombarda
No mesmo segundo, uma luz emanou da ponta da varinha e houve uma explosão que disparou o portão de ferro da grade contra Gregory. O pobre carcereiro caiu no chão desmaiado com o grande portão em cima dele. Lúcio pensou em correr, mas teve uma idéia melhor. Olhou com nojo a cela onde estava e gritou:
- Chrono Equalium! – Sua varinha lançou um disparo e no instante seguinte via-se uma réplica perfeita de Lúcio Malfoy deitada, como se dormisse, dentro da cela. Depois Malfoy apontou para grande e, ao executar “Reparo”, essa voltou ao seu lugar na grade da cela.
Então Lúcio fitou o pobre carcereiro desmaiado, seu olhar era como o de uma serpente pronta para dar o bote. Ele parecia querer dilacerá-lo ali. Mas, então, apontou a varinha para ele e murmurou – Obliviate!
Harry acordou. Estava lá, naquela mesma cama do segundo quarto de Duda. A cama que, há seis anos não tinha seus lençóis trocados. Afinal, Tia Petúnia se recusava a entrar no quarto e Harry nunca se preocupava muito com ele, já que passava apenas um ou dois meses do seu ano ali.
Ele sentiu sua cicatriz arder um pouco. A mesma cicatriz em forma de raio que o fazia sofrer a quase dezessete anos. Ele estava cansado. Sempre a mesma dor, sempre a mesma angústia. Harry, então, se sentou na cama para refletir e pensar um pouco no sonho que acabara de ter. Lúcio Malfoy fugia de Azkaban e deixara lá um sósia. Um “chrono equalium” que poderia enganar os carcereiros por um bom tempo, ou pelo menos, tempo suficiente para que Lúcio voltasse a servir Voldemort, pensou Harry.
Harry Potter então trocou de roupa e desceu para mais um café da manhã na casa dos Dursley, após um turbulento ano na escola de Magia e Bruxaria. Horcruxes, a história de Riddle, Draco, as memórias da Penseira e... Dumbledore! Dumbledore tinha morrido! O bruxo mais poderoso do mundo, a pessoa em que Harry mais confiava para ajudá-lo a destruir o Lord das trevas estava morta...
Harry suspirou e engoliu as lágrimas. Não ia chorar, não podia chorar. Tinha que pensar em coisas mais sérias e Dumbledore não ia querer que Harry ficasse se lamentando. Ele tinha que lutar, agora mais do que nunca. Já tinha todo um plano em mente. Tinha mandado uma carta para Lupin e outra para McGonagall avisando que não ia voltar para Hogwarts, mesmo que a escola reabrisse, e que ia voltar para a casa de Sirius no Largo Grimmauld 12, que agora era dele. Entretanto as respostas não eram bem o que Harry queria ouvir.
Sr. Potter,
Não sabemos se Hogwarts vai ou não voltar a funcionar neste ano. Não sabemos de nada, de fato. Mas, se voltar a funcionar, como quer o Ministério da Magia, o senhor continua sendo um aluno e, mesmo sendo maior de idade, tem que freqüentar a escola até o final do curso! Pense Potter: era isso que o professor Dumbledore ia querer, e você não vai querer desapontá-lo.
Atenciosamente,
Professora McGonagall.
As palavras de Minerva ainda martelavam na cabeça de Harry: “você não vai querer desapontá-lo”. Mas como voltar a Hogwarts? Como voltar a Hogwarts sem Dumbledore? Harry simplesmente não podia imaginar a escola sem Alvo Dumbledore. Era impossível e incabível. E cada vez que pensava nisso, Harry acumulava mais ódio de Snape. Ele era o culpado. Mas as palavras de Minerva foram leves perto da resposta que Lupin mandou para Harry...
Harry,
Você ficou louco?
Seu pai, sua mãe e Sirius... Eles deram a vida por você, garoto! Eles se mataram para que você tivesse uma vida descente! Deixaram uma herança para que pudessem te ver formado! Um bruxo com toda formação que você merece! E agora você vai jogar a vida que eles te deram no lixo, por um desejo de vingança infantil?
Lupin
E, em seguida à carta de Lupin, vieram outras:
Harry querido!
Lupin me contou dos seus planos! Harry esqueça isso! Você tem que voltar para Hogwarts! Lá é o seu lugar! Onde está a brilhante carreira de Auror que você queria? Vai jogar tudo fora? Ficou louco? Se Hogwarts reabrir fique certo de que você vai, nem que eu tenha que amarrá-lo!
Com Amor,
Sra. Weasley.
Harry,
Acalme-se. Não tome decisões precipitadas. Lembre-se que quando completar dezessete anos a casa dos seus tios não será mais segura. Você terá que procurar um outro lugar e Hogwarts é o lugar mais seguro Harry. Pense nisso.
Mione
Todas essas cartas pesavam na consciência de Harry. Mione, Sra. Weasley, Lupin e, de certo modo, até a professora Minerva eram muito amigos. Só queriam o bem dele, mas ainda sim Harry não podia se ver em Hogwarts sem Dumbledore. As coisas estavam confusas, então ele achou melhor descer as escadas e agüentar a falação matinal dos Dursley.
Entrou na cozinha e estavam lá Petúnia e Valter, sentados a mesa e comendo feito porcos esganiçados. Duda, por um motivo que Harry já imaginava, não estava lá e Harry ficou imensamente agradecido por isso. Tio Válter estava com uma expressão particularmente ameaçadora e então Harry decidiu não abrir a boca.
- Porque acordou tão tarde moleque? – A voz de Tio Válter, mesmo depois de anos de convivência, ainda não era bem recebida aos ouvidos de Harry.
Ao ouvir a pergunta Harry viu que tinha três opções: ser mal educado, não responder e ser indiferente. Como tinha que pensar rápido Harry ficou com a terceira opção, que era menos arriscada:
- Não sei.
- Não sabe! Pois bem, escute: se naquela escola, aquele bruxo velho deixa você... – Parou por aí. Tio Válter continuou falando, mas Harry não podia ouvir mais nada. Ele tinha ofendido Dumbledore! Isso não podia passar despercebido. E enquanto Tio Válter murmurava um blá, blá, blá, Harry pegou sua fatia de pão e a amassou nas mãos:
- Cale-se!
- O que foi que você disse? – Tio Valter se levantou.
- Fique sabendo que o Duda não é nenhum retardado, porque pelo menos ele estuda em escola de gente normal.
- De trouxas.
- Venha aqui seu moleque! – Válter foi à direção de Harry, afinal “trouxa” ainda era uma palavra de ofensa para os Dursley.
O menino rapidamente puxou a varinha e apontou na fussa do tio, que resmungou:
– Eu sei que você não pode nada contra mim.
- Você não sabe de nada, Dursley e se não fechar sua boca eu te meto duas orelhas de burro maiores que rabo de porco do seu filho! – Tio Válter murmurou alguma coisa, mas Harry continuou – Aliás, onde está ele? Não precisa responder! Já sei! Deve estar numa daquelas escolas especiais para meninos com distúrbio comportamental! O que foi que ele fez dessa vez, hein? Depredou um parque infantil ou bateu em alguma criancinha?
- Nada disso!
- Então já descobriram do envolvimento dele com drogas?
- Potter, não tente ofender o meu filho! O que foi, hein? Ficou nervoso porque eu chamei aquele seu professor de “bruxo velho”.
Harry não podia mais agüentar. Estava prestes a estuporar o tio, mas daí pensou “Não! Não posso usar magia fora da escola! Ainda não tenho 17 anos!” Então Harry, de mãos atadas, explodiu:
- Fique sabendo que aquele velho bruxo morreu! E que o assassino dele está por aí, a solta... Não duvido nada que ele não queira atacar você Dursley. Afinal ele me odeia e, querendo ou não, você é meu parente!
- Pare! – Tia Petúnia tinha gritado como Harry nunca tinha ouvido antes – Parem os dois! Válter pare de provocar o menino! Harry, graças a Deus esse é o último verão que passa conosco. Tentem não brigar! Já me chegam os meus problemas.
Harry, pela primeira vez na vida, tinha concordado com Tia Petúnia. Não era hora de brigar. Ele então limpou o pão esmigalhado, pegou outra fatia e foi comer no sofá assistindo ao noticiário. Enquanto via o jornalista falar alguma coisa sobre “uma cratera gigante que tinha aparecido da noite para o dia em uma estrada ao norte de Londres”, uma coruja bateu na janela trazendo uma carta.
Era uma coruja pequena de penas claras, que Harry conhecia bem há três anos. Enquanto disse “Olá Pitch”, Harry desamarrou O Profeta Diário que a Sra. Weasley sempre mandava para ele. Desamassou o jornal e pensou “enfim notícias do meu mundo!”.
Quando abriu o jornal, sua surpresa não poderia ter sido maior. Em letras garrafais, a manchete da primeira página era: “CHRONO EQUALIUM”. Harry então viu a foto de vários carcereiros, aurores e oficiais do ministério da magia carregando um corpo mole e sem vida que Harry reconheceu como sendo o corpo de Lúcio Malfoy! Então era verdade! Então Harry tinha sonhado com o que tinha realmente acontecido naquela noite! Mas não era bem assim. O texto dizia:
“Encontrado hoje pela manhã um Chrono Equalium do fugitivo Lúcio Malfoy. O bruxo ficou conhecido no mundo por ser um dos maiores conjuradores do feitiço que é capaz de imitar perfeitamente a imagem material daquele que o conjurou. Especialistas dizem que Chrono Equalium de Lúcio não é recente! Deve estar aí a pelo menos duas ou três semanas.”
Duas ou três semanas! Harry então sonhou com o passado! Há três semanas Harry estava em Hogwarts fazendo as provas finais e a menos de duas semanas ele tinha estado na gruta dos Inferi com Dumbledore para pegar a falsa Horcrux! Mas agora não adiantava mais chorar pelo leite derramado. O fato é que agora Voldemort estava acompanhado de Lúcio além de outros comensais como Snape, Belatriz, McNair, Crable, Goyle e Draco...! Lúcio era só mais um!
Então Petúnia entrou na sala prestando atenção ao noticiário que ainda mostrava cenas da cratera gigante que tinha se formado. Petúnia viu o noticiário, mas não parecia assustada. Sua expressão mostrava mais preocupação que qualquer outra coisa. Harry percebeu que Petúnia estava preocupada e fitou a tia quando ela murmurou:
- Pellagium!
Harry não podia acreditar! Tinha ouvido direito ou... Petúnia tinha murmurado o nome de um feitiço e o que era mais assustador: era um feitiço que Harry não conhecia! Harry então abandonou o jornal no colo e virou-se para a tia:
- Disse alguma coisa, tia Petúnia?
- É tudo culpa sua!
- O que é culpa minha?
- O que foi que ele fez Petúnia? – perguntou Válter vindo da cozinha.
- Aquilo! Aquilo é culpa de gente como você! – Petúnia apontava para a televisão que mostrava a cratera.
- Como sabe que foram os bruxos? – perguntou Harry confuso.
- Aconteceu da outra vez. Sua mãe ainda estava grávida de você! Apareceu a mesma cratera numa estrada ao Sul de Londres! E Lili disse que era coisa de um bruxo ruim! Ela disse que Ele estava tentando encurralar os trouxas... Deixá-los sem saída! E daí criava essas crateras nas estradas... Pellagium ela dizia!
- Eu não conheço esse feitiço.
- Todo mundo se esquece, sabe... Se esquecem das coisas, mas não eu! Eu me lembro! Válter! Vamos sair de Surrey!
- O que? – Válter também estava muito assustado. Não sabia como reagir.
- Vocês vão para onde? – Perguntou Harry.
- Isso não é da sua conta. Tenho parentes na América. Uma prima. Válter também... Ele tem parentes na Califórnia.
- Sim, mas... – Tio Válter estava feito barata tonta. Também não sabia o que dizer.
- Mas e se a senhora estiver enganada? – Disse Harry com respeito.
- Não senhor Potter! Você não se lembra! Ninguém sabia o que eram. Apareceram essas crateras... Já faz quase dezoito anos! Apareceram e ninguém sabia explicar. Então, quando as estradas principais estavam interditadas... Da noite para o dia... Pediram para evacuar a cidade... Sim senhor... Disseram que era caso de epidemia! Os que podiam sair de avião, saiam... E muitos aviões caíram. Felizes daqueles que conseguiram escapar por atalhos de carro... Virou o caos! Mas então... Foi estranho que... – A voz da Sra. Dursley começou a ficar mais calma – Justamente no dia em que Lilian e o Potter morreram... – Silêncio. - As crateras sumiram! Não teve mais assassinato!
Harry então foi percebendo que a história fazia sentido.
- Mas não dessa vez! Todo mundo se esqueceu, mas eu não esqueci! Vamos sair Válter! Vamos pegar o Dudoca e vamos embora daqui!
- E eu?
- Você! – exclamou Tia Petúnia – Você pode incendiar a casa! Se quiser pode até... Explodir tudo! Faça o que quiser! Mas nós vamos embora!
Harry se sentou no sofá. A história da Tia Petúnia fazia todo o sentido. Os comensais da morte sitiaram a cidade para encurralar os trouxas, mas tudo acabou quando seus pais morreram, porque foi no mesmo dia que Voldemort perdeu seus poderes! Fazia todo sentido. Mas é claro que o Ministério da Magia conseguiu Obliviar os trouxas depois disso... E, como tia Petúnia disse, ninguém mais se lembrou! Mas, uma dúvida ainda restava na cabeça de Harry. Porque será que Petúnia se lembrara? Porque só ela?
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