Uma noite quente de Verão



Depois do jantar, Hermione quase se sentiu obrigada a sair da sala. Ela sentia um clima pesado entre Harry e Ginny, sentia-se a mais naquela história e decidiu subir para ir para o quarto.
Harry tinha levantado a mesa e posto a louça a lavar-se sozinha com um feitiço, voltando para a sala onde Ginny estava deitada no sofá, brincando com uma madeixa do cabelo. Controlava-se para não lhe perguntar o que se passava com ela, porque estava tão calada e porque o evitava. De alguma forma sentia que se lhe perguntasse só ia piorar a situação. Mas se não perguntasse, nunca saberia e podia ser ainda pior. Sentiu-se tentado a atirar um galeão ao ar para decidir o que fazer, mas arriscou pelo seu bom senso e tentou perguntar da maneira mais gentil e despreocupada possível.
- Passa-se alguma coisa? - Harry sentou-se no sofá ao lado do qual ela estava deitada.
- Hum? - Ginny sentou-se e olhou para Harry. - Nada, porque perguntas?
- Por nada... Pareces-me muito calada, é só.
- É imaginação tua. - Ginny fez menção de se voltar a deitar, mas Harry foi rápido e sentou-se no sofá onde ela estava, de modo a que ela deitasse a cabeça sobre o colo dele.
Ginny não fez nada, agiu naturalmente e deitou-se no colo de Harry. Parecia magia como todos os seus problemas pareciam longe quando estava com ele. Mesmo as preocupações sobre a relação dos dois evaporavam-se. Aquela sua atitude na cozinha estava bem longe e ela já nem pensava mais na velocidade que a sua relação com Harry tinha atingido. Apenas queria estar ali com ele, naquele momento, esquecer o resto do mundo, esquecer a sua vida, esquecer a guerra e os Horcruxes, esquecer tudo e ficar ali a contemplar o olhos do rapaz que mais tinha amado em toda a sua vida.
Harry curvou-se até os seus lábios tocarem os lábios de Ginny e depositou neles um beijo suave. Depois recostou-se no sofá, entrelaçou a sua mão esquerda na mão direita da ruiva e com a sua mão direita afagava-lhe o cabelo. E assim ficaram, minutos, horas... Nem Harry sabia o tempo que tinham ficado assim.
Hermione estava deitada na cama, com uma vela acesa e lia um livro intitulado "Runas Antigas: as últimas descobertas". Mas Hermione já não o lia. Passava apenas os olhos, nem prestava atenção no que lia. Sem dar por ela, tinha lido cinco vezes a mesma página sem sequer saber o que lá estava escrito. Irritada amaldiçoou-se por se deixar afectar tanto pelos seus problemas pessoais. Principalmente por pensar naquele rapaz insuportável... e tão adorável...
Sacudiu a cabeça e fechou o livro com força. Fitou a parede em frente, que era a parede que dividia o seu quarto do quarto do Ron. Levantou-se da cama e aproximou-se da parede, encostando o ouvido à parede. Esperava ouvir Ron a ressonar, mas nunca pensou ouvi-lo a soluçar. Os seus soluços eram baixos e pausados, como se já tivesse estado a chorar imenso tempo e já lhe faltasse o fôlego.
Hermione levou uma mão ao peito, incrédula. Ron? A chorar? Quem diria que ele iria ficar tão perturbado com a atitude dela? De repente foi assaltada por uma sensação de culpa avassaladora e sentiu vontade de chorar também. Mas não o fez. Tomou outra decisão. Era capaz de errar, mas ela estava decidida a fazê-lo.
Saiu do quarto e foi directa à porta do lado. Bateu três vezes e aguardou. Mal bateu, os soluços cessaram e ouviu as molas do colchão chiarem enquanto Ron se levantava da cama.
- Já vou. - a sua voz soou anasalada.
Demorou cerca de dez segundos. Obviamente tinha estado a enxugar as lágrimas. Hermione ouviu também uma fungadela. Finalmente o trinco da porta abriu-se e um Ron mais vermelho que o habitual e de olhos muito inchados e vermelhos surgiu à porta. Parecia surpreso por ver Hermione ali e por momentos nem sabia onde se esconder.
Tudo aconteceu muito rápido: Hermione aproximou-se de Ron e fechou os olhos, beijando-o sem aviso. Ron arregalou os olhos de surpresa, mas fechou-os de seguida, enlaçando Hermione pela cintura, quase instintivamente. Esta acariciou-lhe a face com uma mão e pôs a outra no seu ombro. Ficaram assim alguns momentos até o beijo se quebrar. Muito embaraçada, Hermione evitou o olhar de Ron, que parecia surpreso, confuso, abalado, mas sobretudo maravilhado. Maravilhado com a atitude de Hermione e com o beijo que os dois tinham partilhado, muito diferente do beijo que ele lhe tinha tentado roubar antes. Tinha sido quente, sentido...
Hermione sorriu fracamente e fez menção de ir outra vez para o seu quarto, mas Ron segurou-lhe a mão. Hermione virou-se e viu que o ruivo a olhava nos olhos, como se algo tivesse ficado por dizer. Puxou-a para dentro do quarto e fechou a porta atrás de si.
Estavam os dois frente a frente e Ron ofegava. Fazia aquilo sempre que estava nervoso. Acabou por se sentar na cama e menear a cabeça para que Hermione se sentasse ao seu lado. Tomou as mãos dela entre as suas.
- Hermione, desculpa... eu não sei o que me passou pela cabeça lá em baixo. Eu...
- Shhh. - Hermione colocou o dedo indicador sobre os lábios de Ron. - Não é preciso Ron. Eu acho que foi corajoso da tua parte finalmente teres dado o primeiro passo... Eu é que fui egoísta. Há muito que nos devíamos ter deixado de joguinhos infantis. Isto tem que ser resolvido já, antes que seja tarde de mais.
Ron notou uma certa nota de fatalismo naquela última frase e entendeu perfeitamente ao que ela se referia. Tinha percebido esse mesmo sentimento em Harry quando ele falara sobre Ginny.
- Eu sei, Hermione. - inspirou fundo e falou tudo de uma vez. - Eu sempre senti...algo por ti. Sempre que estive com Lavender era em ti que eu pensava e o que eu mais queria era que reparasses em mim, embora eu pensasse que ia ser impossível, sendo tu... como és e eu... um nada.
- Tu não és um nada, Ron. És fantástico e eu sempre gostei de ti. Mesmo quando implicava contigo. E é contigo que eu quero estar.
Ficaram os dois em silêncio, digerindo as palavras um do outro. Depois voltaram a aproximar-se lentamente, selando aquelas declarações com um beijo verdadeiramente romântico.
Na sala, Ginny tinha adormecido no colo de Harry. Harry pegou nela ao colo, com cuidado para não a acordar. Levou-a escadas acima e percorreu o corredor. Ao espreitar para o quarto de Hermione que tinha deixado a porta entreaberta pode perceber que ela não estava lá. Harry sorriu triunfante ao pensar que ela só podia estar num sítio e continuou o seu caminho para o seu quarto.
Deitou Ginny na cama e descalçou-a. Cobriu-a com os lençóis e tirou as suas roupas, deitando-se ao lado dela. Aconchegou-se ao seu lado e Ginny mexeu-se ligeiramente, passando um braço pelo peito de Harry e assim ficou, abraçada a ele. Harry adormeceu a afagar o braço de Ginny sobre o seu peito.
No quarto ao fundo do corredor, Hermione e Ron estavam também deitados sobre a cama, vestidos, abraçados. Ron afagava gentilmente os cabelos de Hermione e esta brincava com a mão esquerda do ruivo.
E assim adormeceu Godric's Hollow, numa noite quente de Verão.

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