Desenterrando o passado (2)
Tinham já aberto todas as caixas que tinham encontrado na despensa por baixo das escadas... Estavam exaustos e já passava da hora do almoço. Tinham passado a manhã a abrir e vasculhar caixas e Ron já se queixava da fome ("Mas eu estou a morrer de fome!!! Não como há horas!").
No fim de arrumarem de novo todas as caixas na despensa, tal como a tinham encontrado, Harry fez um ponto da situação:
- Até agora não encontrámos nada que nos leve aos Horcruxes... Apesar de descobrir os antigos pertences dos meus pais ser muito importante para mim, claro. - Harry abanou a cabeça, como se sentisse que estava a falar de mais. - De qualquer modo, acho que devíamos parar para descansar e comer qualquer coisa, antes que dê um ataque no Ron e ele comece a morder tudo o que vir à frente.
Ron corou, mas acenou a cabeça em concordância com a ideia de pararem para comer.
Ginny começava a ficar sinceramente farta de comer bolo de casamento, mas todos comeram rapidamente (Ron atafulhando-se com ferocidade sob o olhar reprovador de Hermione) para passarem à divisão seguinte da casa.
Saíram da sala e foram para a frente da despensa. Harry tinha decidido deixar a investigação da sala para depois. Em frente à despensa havia uma porta fechada que o intrigava e ele queria a todo o custo saber o que se encontrava lá dentro. A porta estava trancada à chave.
- Alohomora. - Harry apontou a varinha ao puxador da porta que se abriu com um clique suave e a porta deslizou chiando.
Todas as janelas estavam fechadas e nem um raio de claridade entrava na divisão a não ser a faca luz que provinha do hall de entrada.
- Lumos. - disseram os quatro, iluminando aquilo que parecia uma cozinha.
Hermione dirigiu-se às janelas e abriu-as, uma por uma, iluminando melhor uma cozinha muito empoeirada e com um aspecto decadente: um fogão sujo e enferrujado jazia a um canto, a cair em peças; os armários estavam cheios de loiça empoeirada. Fora isto, a cozinha estava vazia, sem um único objecto interessante à vista. Após uma curta inspecção aos armários e gavetas da cozinha, os quatro chegaram à conclusão que nada havia ali para além de loiça, talheres e o fogão desmontado, como se alguém o tivesse tentado consertar.
- Acho melhor passarmos directamente à sala. - disse Ron dando uma última vista de olhos à cozinha. - Não há nada aqui.
Mais uma vez na sala, Hermione e Ginny tinham ficado encarregues de revistar metade da sala e Ron e Harry a outra metade.
Harry e Ron começaram por tirar os lençóis de cima dos sofás e por vasculhá-los por qualquer objecto minúsculo que pudesse ter sido esquecido ou até mesmo escondido lá. Depois procuraram debaixo dos mesmos. Sem sucesso. Voltaram a cobri-los e começaram então a vasculhar o solo por algum alçapão secreto (tinham aprendido uma vez no seu primeiro ano a ter mais atenção aos pormenores no chão). Não encontraram nada.
As raparigas também não tinham tido qualquer sorte em encontrar pistas: vasculharam o fogão de sala, mas nada lá estava para além de um vaso com pó de floo. Hermione ainda arriscou pôr a mão pela parte de dentro, apalpando a parede de tijolos e pressionando-os, procurando uma falha que indicasse uma passagem secreta ou algum esconderijo por ali. Mais uma vez as suas suspeitas estavam erradas. Dedicaram-se então a vasculhar as paredes, o que não foi muito difícil, visto que eram lisas e não tinham qualquer adorno como quadros ou mobília encostada.
Irritados com a falta de pistas, Harry e Ron atiraram-se para os sofás, inundando a sala de pó.
- Oh, vá lá! Ainda falta o piso de cima! - disse Hermione coçando o nariz para não espirrar.
- O andar de cima não tem nada! - desesperou Harry. - Nós já estivemos lá em cima, a dormir. Não me parece que tenha lá muito mais que o que tem cá em baixo...
- Não sabemos Harry. - arriscou timidamente Ginny. - Podemos encontrar mais coisas lá em cima, em sítios que ainda não tenhamos procurado. Não desanimes já.
Como sempre, as palavras de Ginny acalmaram o coração de Harry. Ele respirou fundo e pousou as mãos nos joelhos para se apoiar ao levantar-se.
- Talvez tenhas razão Ginny. Amanhã continuamos a procurar. Hoje estamos todos cansados.
- E eu estou com fome. - queixou-se Ron.
- Tu estás sempre com fome, Ron! - Hermione fulminou-o com um olhar exasperado. - Bem, se achas que é o melhor Harry, vamos parar por hoje, também me sinto exausta. - verificou o relógio de pulso. - Já são seis da tarde de qualquer maneira.
Harry foi buscar de novo o saco de provisões e quando o abriu, a cara expressou o seu desagrado:
- O nosso amigo Ron aqui fez o grande favor de acabar com as nossas provisões para três dias. Agora só tivemos para um dia e meio! - Harry fechou o saco com violência. - Ron! Não podes comer assim! Não estamos de férias, e não podemos comprar comida todos os dias! Agora o que vamos fazer para jantar? Estamos numa zona muggle e não podemos comprar comida com galeões, pois não?
Ron abriu e fechou a boca várias vezes, mas acabou por não conseguir arranjar desculpa, por isso calou-se e fitou o chão, corando de vergonha. Hermione, com pena do rapaz, atalhou:
- Eu tenho algumas libras que os meus pais me deram para trocar quando fosse a Gringotts. Posso ir com a Ginny comprar algo para comermos. Deve haver uma loja perto.
Harry olhou para Ginny demoradamente. Preocupava-o que as duas raparigas saíssem ao escurecer. Não queria que elas se arriscassem, por isso respondeu com firmeza:
- Não. É melhor irmos eu e o Ron. Afinal ele é que arranjou esta trapalhada toda e eu sei mexer com dinheiro muggle. Vocês podiam ir tentando lavar alguma da loiça da cozinha para termos pratos e panelas para fazer uma refeição quente.
Quando Ginny falou, notou-se uma certa nota de espanto e ironia na voz:
- Estás a tentar dizer que o lugar da mulher é na cozinha, Harry?
Harry teve que se controlar para não rir perante a expressão da ruiva.
- Não... é que não acho justo terem que ir vocês as duas comprar a comida, e enquanto vocês ficam aqui à espera podiam usar magia para limpar a louça. Eu e o Ron somos muito, hum, trapalhões para isso.
Ginny não pareceu muito convencida, mas Hermione puxou-a por um braço e disse:
- Ele tem razão, Ginny, éramos capazes de chegar aqui com a louça toda partida e a cozinha inundada...
Tirou do bolso do casaco que trazia vestido um porta-moedas e entregou-o a Harry, piscando-lhe o olho. Harry encarou-a, pensando se ela tinha percebido o outro motivo pelo qual ele queria ir com Ron.
Hermione e Ginny foram para a cozinha e Harry e Ron saíram juntos, tendo o cuidado de levar consigo a chave e o papel.
Começava a escurecer e já não se via muita gente na rua. Era uma zona pouco movimentada por ali. Para poupar esforços, Harry tinha perguntado a uma velhinha de ar simpático qual era a loja de comida mais perto dali.
Já dentro da loja, Ron ficava admirado com a caixa registadora, as prateleiras, achando toda aquela comida empacotada muito estranha. Harry, habituado a ir às compras com a Sra. Figg escolheu rapidamente alguma comida que daria para muitos mais dias, sendo alguma dela para essa noite. Harry tinha ouvido falar dos dotes culinários de Ginny e tentava escolher alguma comida que desse para ela cozinhar. O resto eram sacos de batatas fritas, pão, queijo e outros snacks que eles pudessem comer até poderem parar noutro sítio para comprar mais provisões.
Ao saírem da loja, levando sacas cheias de comida, Harry arriscou dar uma olhada ao melhor amigo. Ele parecia bem disposto. Arriscou falar com ele acerca de um assunto que havia uns meses que ele tentava falar.
- Er, Ron? - disse timidamente.
- Hum? - resmungou o outro.
- Eu... Eu nunca te disse nada em relação a... Hum, bem... namorar com a Ginny.
O outro encarou-o com interesse.
- O que tem?
- Oh, nada... É só que tu és o meu melhor amigo e eu tive alguns problemas por causa de gostar da tua irmã. Não é todos os dias que alguém se apaixona pela irmã mais nova do melhor amigo... quero dizer... é complicado.
- Harry, esta conversa traz água no bico. Diz duma vez o que me queres dizer.
Harry ficou surpreendido com a resposta directa do amigo, mas recompôs-se rapidamente.
- O que eu quero dizer Ron, é que eu e ela estamos juntos outra vez. Eu sei que a deixei por ter medo que Voldemort lhe fizesse mal, mas eu não consigo estar longe dela. E... bem, achei que precisavas de saber.
O amigo parou de andar e encarou demoradamente Harry, estudando-o.
- Sabes, eu gosto muito da Ginny. Ela é a minha irmã mais nova, e eu quero protegê-la de tudo. Quando eu a vi com o Michael ou com o Dean, não gostei. Mas contigo foi diferente. Eras o meu melhor amigo, eu sabia que eras o único à altura dela, por isso, se tinha que ser com alguém, que fosse contigo. - Ron inspirou e continuou. - Mas depois passou-se tudo aquilo, com o Quem-nós-sabemos e mudou tudo. Antes de vires lá para casa para o casamento do Bill com a Fleur, Ginny andava muito estranha, não comia direito, quase nem saía do quarto. Ela não dizia nada, mas todos sabíamos que tu devias ter terminado tudo com ela.
Harry mostrou-se entre o surpreendido e o constrangido, por isso Ron emendou:
- Ninguém te recriminou, Harry. Achámos que foi uma atitude muito nobre da tua parte quereres protegê-la. Mas, Harry, eu não gosto de ver a minha irmã a sofrer. Ela é a alegria daquela casa. Não a magoes mais, Harry. Promete-me só isso e tens todo o meu apoio.
Harry ainda estava zonzo com o discurso de Ron, mas acenou com a cabeça e os dois continuaram a andar em silêncio até chegarem em frente a Godric's Hollow, lerem o papel e abrirem a porta.
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