Capítulo 3
3
Tariq não mentia ao concordar que estava assustado por ser um novato no meio de um grupo que era observado por toda a escola, sem exceção, a espera de serem despachados cada um para uma casa de Hogwarts. Quando foi chamado pela professora McGonalgal achou que os joelhos tinham virado gelatina enquanto o coração parecia Mike Portnoy¹ fazendo um solo de batera para Ytse Jam, mas foi só na segunda ou terceira chamada que cambaleou até o banquinho com o empurrão de um novato ao seu lado. De olhos bem fechados esperou a sentença final como se estivesse indo para a forca:
“Ravenclaw!”
Ainda podia ouvir a potente voz do chapéu seletor ribombando na cabeça enquanto trocava de roupa no dormitório. Havia demorado um pouco mais que os outros novatos, talvez uns dois minutos a mais que os outros apenas isso, mas o suficiente para criar um clima de expectativa acerca de sua casa. E a festa feita ao ser anunciada foi ainda maior com aplausos e vivas o recepcionando da mesa azul e cinza chumbo.
Logo em seguida o diretor havia se levantado para dar os habituais avisos aos novatos e veteranos, e o convite ao banquete. Lembra-se de ter comido bastante, o suficiente para fazê-lo se arrastar até o dormitório e trocar a roupa para então se jogar na cama e apagar. As únicas coisas que se lembrou na manhã seguinte foram o nome de sua casa e o enjôo, resultado do banquete farto da noite anterior e talvez tenha sido por isso que naquela manhã do primeiro dia de aula Tariq tenha se recusado comer qualquer coisa durante o café. Nas outras mesas os estudantes não falavam de outra coisa senão a façanha de dois estudantes que chegaram em Hogwarts por outro meio diferente do Expresso Hogwarts.
-Potter e o amigo dele, o Weasley. -Dizia um garoto quando Tariq se sentou. -Vieram voando num Ford Anglia.
-Sério?! -perguntou um outro num tom de assombro.
-Dizem que serão expulsos. -Comentou uma garota de frente para Tariq. -O próprio diretor foi vê-los.
-Duvido! Desde que chegou aqui Potter tem sido protegido de Dumbledore. -Contou o primeiro que puxou o assunto.
-Eles são malucos, isso sim. Dizem que o estado em que chegaram foi péssimo. -Outro comentou na rodinha.
-Pois como você sabe se quem pegou os dois no flagra foi o professor Snape? Muito mal participou da Seleção. -Perguntou o primeiro para um dos garotos novatos que Tariq viu ser selecionado na noite anterior. O garoto se encolheu.
-Eu ouvi dizerem...
Tariq ouvia a tudo com o rosto apoiado nos punhos enquanto brincava com a colher de sua xícara vazia.
-Deve ter sido ótimo. -Comentou Tariq a meia voz. -voar...
Durante a tarde teriam a primeira aula de poções e a proximidade da hora dessa aula dava a Tariq uma péssima sensação. Coisas que sua mãe chamava hereditariedade, quando pressentia que algo iria acontecer e algo realmente acontecia. Enquanto procurava um lugar próximo de algum conhecido, já que todas as mesas estavam ocupadas, viu quando um garoto sardento e de cabelos loiros arrepiados acenou para alguém que parecia estar logo atrás de si, olhou em volta procurando a outra pessoa que deveria estar nesse mesmo instante acenando de volta, mas não havia a outra pessoa. Olhou de novo pro menino e ele acenou energicamente o chamando.
-Eu? -Perguntou retribuindo com olhar confuso.
O menino afirmou com a cabeça e acenou com a mão. Tariq aproximou-se.
-Sou Eric Collin. -estendeu a mão. -Estou tentando me livrar de Stan
-Stan Cheasemoon?
-Não repita esse nome. -estremeceu. -É um palavrão. Quase como ‘Você-Sabe-Quem’. Cara chato, é o erro do mundo mágico!
Tariq riu.
-Posso sentar aqui? -Uma voz feminina falou na mesa ao lado deles.
-C-claro! -respondeu se virando e recebendo a menina de cabelos claros e anelados, olhos daninhos e rosto salpicado de sardas. -Pode sentar. Não é? Eric?
O rapaz parecia surpreso com a aparição da bruxinha, não conseguia ter reação alguma, a não ser olhar pasmado para a menina com os olhos castanhos bem abertos e a boca entreaberta. Tariq riu novamente Eric estava fazendo uma cara de panaca muito engraçada.
-Me chamo Dorothy Stuart.
-Tariq Samhain. E este é Eric Collin. -Apontou o rapaz.
Dorothy deu um ligeiro sorriso e fez menção de dizer algo para Eric quando foi interrompida com a brusca entrada do professor da matéria fazendo Eric dar um salto na cadeira. Tariq e toda turma, acompanhou a teatral apresentação do professor sobre o que poderiam aprender ao longo do curso e, talvez tivesse sido só impressão sua, mas quando a figura de negro se acomodou diante deles pareceu vacilar por uns instantes o observando.
“Se você quer realmente se tornar um assassino Severus, aconselho que fique bem longe de mim!”
Como saído de um devaneio, o professor tornou a falar.
-Sou o professor Severus Snape, e serei seu professor de poções durante este curso. -Disse Severus se perguntando porque agora lembrava dessas palavras.
Em sua sala privada, Snape lia o recém chegado pergaminho. Não que tivesse sido uma total surpresa, havia tido uma maior e mais bizarra mais cedo com uma turma de primeiranistas, mas também não era o tipo de coruja esperada. Leu e releu aquele pedaço de pergaminho mais de uma vez talvez para assimilar o que dizia, ou para acreditar no que dizia, ou apenas para relembrar. Ainda tinha aquela forma de letra em alguns de seus livros da época de Hogwarts, talvez elas estivessem agora um pouco mais firmes que antes.
Haviam se passado 12 anos talvez mais, aquela época foi um bocado conturbada para se contar os dias, desde que se separaram e de uma forma não muito boa. Suas lembranças acabaram o levando para aquele tempo em que não tinha muitas preocupações, ou melhor, onde as únicas coisas que deveria se preocupar eram manter a boa nota na escola, tentar sobreviver às humilhações de Black e Potter e colocar o quarteto ternura numa saia justa, apesar de que Pettigrew nunca fora uma ameaça perto dos outros dois terroristas que faziam parte do grupo dos Marotos. E lembrou-se de uma tarde vaga numa sala vazia de Hogwarts, quando havia decidido seguir o novo grande bruxo que se projetava sobre a comunidade mágica.
“Se você quer realmente se tornar um assassino Severus, aconselho que fique bem longe de mim!” uma jovem bradou se levantando da cadeira e batendo com violência seu xale na mesa de uma sala abandonada de Hogwarts. Ao seu lado, um Severus Snape bem mais jovem, apesar do cabelo oleoso costumeiro e o nariz adunco, havia encostado na beirada da mesa de braços cruzados vendo a cadeira ir ao chão.
“Não quero que a gente termine assim Black Moon.” Falou num tom sem emoção porém suave.
“Sevius...” sussurrou tentando se controlar. “estou sempre com você em quase tudo o que decide, mas não posso aceitar que se arrisque tanto. Você sabe que é perigoso. Existe Dumbledore, e sabemos que o velho não vai ficar de braços cruzados sorrindo para o que esse Voldemort está fazendo.”
O rapaz soltou um sorriso discreto que só deixava fazer quando só, e se aproximou da jovem abraçando sua cintura relaxando a cabeça no ombro delicado, sentindo o perfume fresco que exalava.
“Eu tenho meus motivos e não vai ser um velho quem vai me parar.”
A garota se virou ficando frente a frente com os negros olhos de Snape. Os verdes intensos contra a escuridão.
“Que Merlin te mantenha longe de mim, porque não quero machucar um amigo meu.” Confessou séria. Severus apenas deu aquele sorrisinho debochado apertando os lábios.
“E perder a oportunidade de ter um verdadeiro duelo?”
E há poucos minutos recebia uma coruja dessa mesma pessoa pedindo que orientasse seu filho? Filho? Sabia que aquele rosto não era estranho, tão parecido com a mãe... Não poderia se enganar. Mas quando ela havia casado?
“Querido Sevius,
Será que ainda posso lhe chamar assim? Faz tempo que não nos vemos, nos falamos... Como está? Por aqui tudo corre bem, sabe que sim não é? A última vez que nos vimos foi no Ministério da Magia, durante uma excitante audiência dos comensais seguidores de Voldemort, do qual foi poupado graças ao velho... Devo admitir que fiquei ligeiramente feliz e também decepcionada. Não terei mais aquele duelo até a morte com o meu amigo, não é?
Mas como acredito que saiba, não estou escrevendo por falta do que fazer, nem me bateu saudades de você, meu amigo. Mordo a língua ao escrever isso.
Escrevo sem saber o que colocar no papel e sem saber como lhe pedir um favor. Se possível.
Indo direto ao assunto, existe um rapaz este ano em Hogwarts, um novato que será seu aluno, tenho certeza, e quero que cuide dele. Seu nome é Tariq Samhain, meu filho. E apesar de não terem se conhecido mais cedo, tenho certeza que chamará sua atenção.
Qualquer problema me reporte.
Com amor,
Wyrnie Samhain.
‘Black Moon’
PS.: o que acha de um duelo no final de semana?”
E ainda convidava para um duelo? Um encontro? Não seria sensato reencontrar uma pessoa que já acreditava participar apenas de seu passado.
-Tariq Samhain... -sussurrou baixo. -Vamos ver se esse seu filho merece mesmo minha proteção, Black Moon.
Jogou o pergaminho entre as chamas da lareira e deixou que queimasse saindo de seu escritório para uma ronda pelos corredores do castelo. Com alguma sorte poderia dar uma detenção há algum aluno fujão.
Naquela noite não conseguiu afastar as lembranças passadas naqueles mesmos corredores de Hogwarts...
Continua...
Notas:
Ytse Jam é música da banda Dream Theater da qual Mike Portnoy é baterista. ^^
Procurem no YouTube Dream Theater - Ytse Jam é muito boa! ^___^
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