Uma força mais terrível que a
Capítulo 39
Uma força mais terrível que a morte
Gina pode adivinhar o amanhecer um segundo antes do primeiro raio de sol rasgar o negrume da noite. Estava em pé diante da janela do quarto em que era prisioneira e, aos seus olhos, se estendia um mar sem fim, destacado da madrugada sem estrelas apenas por um leve cintilar. Quase não dormira e não insistira muito em tentar fazê-lo. Em parte, porque aquela sensação de horror e pânico que mantinha seu estômago contraído desde o terrível ritual que presenciara, há duas noites, continuava ali, muito forte. Fechar os olhos era ver novamente a lâmina riscar o pescoço de Winky. Vê-la cair mais uma vez e não levantar. De outra parte, seu corpo ainda doía barbaramente após ter sido torturada por Bellatrix.
Mesmo de olhos bem abertos, porém, ela ainda podia sentir a violenta onda de energia, impregnada de maldade, que havia varrido o alto da ilha quando Winky caíra e a garrafa em que estava Mefistófeles estilhaçou. Gina teve certeza de que nunca em sua vida sentira-se tão mal. Era como ser mergulhada no tormento em seu estado puro, não havia dor, apenas uma espécie seca de desespero que não tinha fim. Ela se lembrava de seus olhos terem se toldado com uma grande luz vermelho-marrom e de ter suplicado à própria mente que a permitisse desmaiar, perder os sentidos, apenas para não sentir tanta angústia, tanto terror. Mesmo os braços de Enos Throop, que a seguravam, pareceram amolecer naquele momento. Talvez, ele também sentisse, mas Gina não teve forças para sequer tentar fugir. E, de mais, para onde ela iria? Quando voltou a enxergar além da luz vermelha, percebeu que alguns Comensais estavam caídos, de quatro, no chão. Um deles era Lucius Malfoy. Ao lado dele, Hector abraçava o próprio corpo, trêmulo, e escondia o rosto nos joelhos.
Depois disso, Voldemort ficara muito agitado e ordenara que Bellatrix, Throop e McNair levassem Gina e Hector novamente para o interior da fortaleza e, por isso, ela não pode ver o que aconteceu aos Comensais, aos demônios ou aos pobres elfos mortos. Quando chegaram ao quarto, Bellatrix resolveu que seria bom Gina aprender a ser uma prisioneira mais obediente. E ela somente suspendera a maldição Cruciatus quando Enos Throop a tinha lembrado que Voldemort precisava de Gina inteira; que um trapo implorando pela morte não lhes serviria tão bem. Contrariada, Bellatrix tinha parado e então, agachando-se ao seu lado e erguendo-a pelos cabelos lhe dissera num sussurro grave:
– Se eu fosse você, menina, pensaria duas vezes antes de fazer besteira novamente – Gina identificou uma certa esperança de que ela voltasse a fazer “besteira”. – Porque da próxima vez – ela virou a cabeça de Gina para que a moça visse as crianças que choravam assustadas assistindo tudo aquilo – quem vai assistir, vai ser você.
Gina estremeceu com a lembrança. Mas tinha que reconhecer que se lembrar disso lhe causava algo que se sobrepunha ao medo. Havia uma raiva insana, maior do que já sentira em toda a sua vida, instalada, ela tinha certeza, numa região próxima aos seus punhos, as suas mãos, as suas unhas. A imensa vontade de bater e esmurrar só parava no limite de sua própria exaustão, estava frustrada e machucada. Até mesmo a idéia de pensar no que fazer parecia lhe causar dores na cabeça e no corpo e, para completar aquela horrível sensação de abandono, o perigo pairando sobre o filho e os sobrinhos a estavam deixando perto do descontrole. Apenas uma coisa a impedia de desmoronar. Era a única adulta ali. Mais do que nunca, ela devia ser o ponto de apoio das crianças. Não poderia fraquejar, mostrar-se vulnerável. Não agora.
– Gina...
Ela se voltou e deu de cara com Hector, Mel e Josh. Os rostos deles muito pálidos à luz do amanhecer. Mais atrás, ainda adormecidos, Chantal e os quatro meninos menores pareciam um único monte cheio de curvas sobre a cama grande. Algo dentro de Gina apertou ao ver os três garotos mais velhos ali, tão sérios diante dela, tão cheios de medo e de coragem. Aquela parte sua, agora tão poderosa, que era adulta e mãe queria ver neles crianças indefesas e protegê-los a qualquer custo. Contudo, sua mente teimava em lembrar-lhe que com a idade de Mel, ela mesma fizera coisas horríveis, enquanto estivera sob o poder do diário de Tom Riddle, e somente estava viva, graças à coragem de Harry e de seu irmão que, na época, tinham a idade de Hector e Josh. O fato é que o inimigo não parecia se importar com qual idade eles tinham e Gina intuía que, mais uma vez, vidas dependeriam da coragem de gente jovem demais para passar por tudo aquilo. Ao menos as suas próprias vidas.
– Você está bem? – perguntou Mel tocando-lhe afetuosamente o braço.
– Estou – respondeu no mesmo tom cuidadoso para não acordar os pequenos. – Só um pouco dolorida.
Os olhos de Mel turvaram imediatamente. Os três estavam cheios de cuidados com ela, esforçando-se para parecerem maduros, mas nem sempre conseguiam por muito tempo. Num impulso, Gina puxou a menina para si e se pôs a consolá-la.
– E-eu n-nunca pensei q-que fosse tão ho-horrível – Mel soluçou de encontro ao seu peito.
– Não pense nisso agora, meu bem. Já passou, certo?
Ela olhou para os meninos por cima da cabeça da garota, ambos estavam sérios, compenetrados, as testas luzindo com a promessa de que eles não iriam chorar ou ficar frágeis. Gina lhes deu um pequeno sorriso cheio de gratidão, muito embora, tenha ficado dividida entre a ternura e uma tola vontade de rir dos dois “homenzinhos”.
– Vai ser hoje à noite, não vai? – perguntou Hector.
Gina confirmou. Ela contara tudo o que sabia às três crianças mais velhas. Durante todos aqueles dias de cativeiro, ela só tivera a eles para conversar e trocar idéias e impedir a si mesma de enlouquecer. Tentara por um tempo poupá-los, mas especialmente Hector não desistira enquanto não a fizera falar tudo e Gina descobriu que os três sabiam muito mais do que os adultos supunham. Tinha ficado bastante impressionada com as investigações feitas por eles e os dois amigos que haviam ficado em Hogwarts. Aliás, Andrew e Danna eram um assunto sensível. Como Hector, Mel e Josh não sabiam o que havia acontecido aos dois, sempre que falavam nisso, Mel ficava nervosa. Os meninos então garantiam veementemente para ela, e para si mesmos, de que eles estavam bem. Hector prosseguiu.
– E nós não vamos fazer nada?
Aquilo tinha quase um tom de reclamação, mas de certa forma não se parecia em nada com a velha sede de aventuras que ele gostava de exibir como uma marca de seus sonhos de heroísmo. Dava para reconhecer, no seu jeito de falar, que o que o impulsionava agora era uma clara disposição de não se entregar, de morrer lutando se fosse necessário. Gina achou encantador, embora, por mais que Hector se esforçasse, ele continuava a ser apenas um menino. Mel, no entanto, de alguma forma discordou dela, pois se afastou e postou-se valentemente ao lado do amigo. Josh também a encarava, muito sério, como se dela devessem vir as ordens para organizar a pequena tropa. Gina soltou o ar num longo suspiro.
– Seria bem mais fácil montarmos um plano, se soubéssemos exatamente o que eles pretendem fazer – disse aos três.
– Sabemos algumas coisas – afirmou Hector.
– E você nos disse que o Voldemort está esperando que o Harry venha, não é? – a voz de Josh tinha uma grande esperança.
– É, foi o que ele disse – respondeu Gina. – O ruim é que é bem óbvio de que se trata de uma armadilha. Voldemort deve ter armado tudo para Harry entre aqui sozinho e fique o mais vulnerável possível. Ele nos usará para isso.
Josh baixou a cabeça. Parecia uma miniatura de Quim numa versão muito chateada.
– Bem... então, talvez, ele não venha, não é? Porque ele certamente vai saber que é uma armadilha.
Gina forçou os lábios numa imitação de sorriso.
– Certamente que ele sabe que é uma armadilha e, ainda assim, se conheço bem o Harry, nada vai impedi-lo de entrar aqui.
– Foi o que ele lhe disse quando... – Mel achara muito esquisito o que Gina tinha contado sobre como falara com Harry na noite anterior – vocês se falaram, não é? Ele vem.
Gina confirmou.
– E me prometeu que não viria sozinho, embora não tenhamos tido tempo dele me explicar como vai fazer.
As sobrancelhas da menina, no entanto, se curvaram céticas.
– Ele contar com ajuda? Bem, isso é mais difícil de acreditar em se tratando de Harry Potter.
A mulher riu.
– O grande problema do Harry é que os amigos dele não são exatamente pessoas obedientes que ficam paradas esperando que ele salve o dia.
– Certo – disse Hector um pouco mais alto e logo tornou a baixar a voz após um olhar repressivo de Mel. – E nós não vamos fazer nada? – perguntou novamente.
– Que falou em não fazer nada, Hector? – desafiou Gina. – Aposentei minha versão de donzela em perigo há muito tempo, viu? – O menino se entusiasmou. – Mas temos de pensar em tudo direitinho. Não podemos nos arriscar com os pequenos, ainda mais sem podermos fazer magia.
– É... – lamentou Mel – se ao menos tivéssemos nossas varinhas.
– Sabe que eu estava contando justamente com suas habilidades trouxas? – replicou Gina, com um certo divertimento.
Os dois meninos arregalaram os olhos, sem compreender, mas Mel franziu os dela.
– Habilidades trouxas? O que um trouxa poderia fazer numa situação dessas além de gritar, correr e atirar pedras?
– Uma descrição precisa, Mel – agora os três a olhavam como se ela tivesse enlouquecido, mas a mente de Gina trabalhava rápido. Ela sabia exatamente do que precisava no momento e, mesmo que não fosse uma especialista no assunto, crescera com dois irmãos que eram. – Escutem, eu não consegui falar com Harry tempo o suficiente para saber o que ele pretende, mas tudo o que pesquisamos sobre a magia dos beusclainhs e mais o que eu vi na outra noite, me deram uma certeza: estes seres acreditam em magia ritual. Isso significa que, para eles, a mágica somente se realiza em circunstâncias únicas: posição dos astros, lua, data, hora. Eles têm sons específicos para cada momento, silêncios, gestos, reverências. Você viu, Hector. Os Comensais foram deixados de fora, para não atrapalhar. Para eles um mínimo erro significa ter de esperar um outro momento para realizarem a sua magia de forma adequada.
– E onde gritar, correr e atirar pedras entram? – perguntou Hector, quase como se não acreditasse no que ela propunha.
– Ora Hector, como dizem Fred e Jorge, um pouco de caos, na hora certa, pode ser tudo o que precisamos para que eles não consigam fazer o que querem.
A palavra caos agradou aos garotos visivelmente e Mel deu um sorriso de quem tinha ótimas idéias circulando na cabecinha. Gina convidou os três para sentarem sobre um tapete desbotado que havia próximo à janela, por onde o sol agora começava a entrar tímido. O que tinham de fazer era traçar um plano que os permitisse serem as vítimas mais inconvenientes possíveis.
– E os seus poderes Gina? – perguntou Josh a certa altura. Apesar das idéias mirabolantes de Mel e Hector, o garoto Shacklebolt ainda mantinha uma fé inabalável na magia. – Os que você falou. Os poderes de Sétima Filha.
– Bem, desde que vim para cá, tenho me concentrado neles mais do que nunca. Quando estava grávida eram praticamente espontâneos, mas depois que Lyan e Joanne nasceram, eles simplesmente pareceram sumir.
– Mas você falou com o Harry – argumentou Mel.
– Sim. E também consegui saber se Joanne estava bem por duas vezes.
– Você disse que tem se concentrado neles – falou Hector. – Acha que sabe o que pode fazer?
Gina encarou o menino e se impressionou não apenas com a objetividade, mas com o tom professoral, que muitas vezes Remo usava quando propunha alguma questão que esperava que eles fossem capazes de responder.
– Eu acho que sim. Ainda não tenho idéia sobre o tal poder religare, mas... – ela inspirou fundo – vamos lá: Além dos sonhos, eu consigo fazer plantas brotarem apenas tocando nelas; consigo me projetar, sem ir fisicamente, a alguma distância, mas nem todos podem me ver; posso entrar na mente das pessoas e acessar lembranças incômodas, fazê-las lembrar.
Os três assentiram. Eles estavam acompanhando as experiências que Gina vinha fazendo desde que chegara ali. Ela as vinha praticando com muito cuidado, pois tinha certeza de que os níveis de magia no quarto estavam sendo vigiados e não quis se exceder. No entanto, as experiências agora lhe davam uma certa segurança sobre suas habilidades.
Os sonhos, que no início da gravidez haviam lhe alertado sobre o perigo que corriam as crianças trouxas raptadas, tinham voltado com força total. Neles, ela sempre estava com Joanne. E a filha, algumas vezes parecendo não um bebê, mas uma menina que andava e falava, lhe dizia o que fazer. Não era raro Gina acordar chorando de saudades da sua pequena. Por outro lado, àqueles estranhos poderes pareciam mantê-las unidas todo o tempo, independente da distância que estivessem uma da outra e era Joanne quem lhe ensinava a usá-los.
– Não me leve à mal, Gina – Josh tinha uma careta de incerteza. – Mas não parece muito. Ainda mais depois de você ter acabado de dizer que vamos lutar como se estivéssemos na idade da pedra.
– Eu sei Josh, mas foi tudo o que consegui até agora. Tem... – ela parou. Era o sonho mais recorrente, o mais difícil, o mais terrível, e ela não tinha a menor idéia do que significava. Não adiantaria em nada assustar aos três. Não adiantaria nada contar-lhes que, nas vezes em que ela perguntara a Joanne mais velha dos sonhos o que fazer, a filha lhe mostrara a morte sob uma luz verde como à única saída. Sacudiu a cabeça como quem espanta uma mosca irritante. Era melhor não pensar e tampouco falar nisso para os seus três companheiros. – Eu só tenho certeza disso. Foi o que conseguimos testar.
– Não é isso que me preocupa – comentou Hector ainda com os olhos fixos em Gina, quase sem piscar.
– E o que é?
– Não poderemos atrapalhar o ritual se eles nos deixarem inconscientes. E eu não acho que eles se arriscarão a nos levar acordados para lá.
Gina deu um sorriso lento. Ela tinha pensado nisso. Na verdade, tinha pensado muito nisso e agradeceu por ter Hermione como amiga e pelos livros que ela lhe indicava, agradeceu também todos os últimos anos, em que passara pesquisando Defesa contra as Artes das Trevas para escrever seus próprios livros. Talvez, ela nunca saísse daquela ilha e pudesse ser professora da matéria em Hogwarts, mas ela pretendia ensinar umas coisinhas àqueles três. Pescou do bolso das vestes uma das sementes que ela achara grudada em seus cabelos após a incursão na superfície da ilha. Era uma semente grudenta, daquelas que, quando se anda pelo campo, se agarram às barras das calças, aos cadarços dos tênis e, se estiverem voando, aos cabelos. Fazendo-a germinar, o máximo que obteria seria um tipo bem ordinário de grama, mas, e era por isso que Gina ainda sorria quando a fechou nas mãos, o poder da Sétima poderia fazer um pouco mais por ela.
Os três garotos observavam com atenção e certamente esperavam alguma luz ou brilho, contudo, passados alguns minutos, o que aconteceu foi Gina ter de abrir as mãos porque estavam cheias com as folhas muito verdes de uma erva que lembrava um musgo de parede ou um brócolis em miniatura.
– Alguma idéia do que é isso? – perguntou se sentindo feliz em bancar a professora.
– Musgo? – arriscou Hector. Gina negou.
– Não era semente disto que você tinha nas mãos – constatou Josh assombrado e Gina assentiu.
– Uau! Você transfigurou a semente! – Mel estava obviamente de queixo caído.
– Não me decepcionem, vocês três – reclamou bem humorada. – Estão se prendendo ao show de luzes e não à mágica de verdade. Não é você que gosta de poções e herbologia, Josh? Certamente sabe que erva é essa. Se me lembro só tem um único pé em Hogwarts e a Prof. Sprout cuida dele como se fosse de ouro.
Os olhos do menino brilharam.
– Erva móli!
– Como? – perguntou Mel.
– Ora, não é você que diz que gosta de História da Magia – reagiu o garoto. – Certamente lembra desta, porque o Prof. Bins fala nela quando estudamos antiguidade. As propriedades da erva móli foram descritas pela bruxa Circe.
– Perfeito, Josh. Adoraria poder atribuir pontos para Lufa-lufa por esta.
Josh ajeitou os óculos e sorriu. No entanto, Mel é que agora parecia mais assombrada, finalmente se dando conta do que havia nas mãos de Gina. O único um pouco perdido era Hector.
– Alguém vai me explicar ou eu vou ter de confessar que não presto a mínima atenção às aulas do Bins?
– Bem, você deveria – assegurou Mel. – Se prestasse atenção ia saber que a erva móli é um potente antídoto contra transfiguração não desejada e que também pode te deixar imune à maioria dos feitiços feitos com varinhas, menos os fatais, claro.
– Wow! – Assombrou-se ele. – Isso é realmente útil.
– É, mas a erva também é tóxica se usá-la em quantidade ou por um tempo prolongado – explicou Gina – além de ser bem rara e caríssima. É por isso que a maioria dos bruxos tem muito cuidado em se servir dos seus poderes. Mas acho que na nossa situação ela será bem útil, sim.
– Vamos comê-la? – perguntou Hector e Gina assentiu com a cabeça.
– Isso garantirá que fiquemos lúcidos quando nos levarem para o ritual, mesmo que a gente tenha de fingir que perdeu os sentidos ou que ficou em transe.
– E os pequenos? – quis saber Mel, olhando por cima do ombro para a cama, onde o dia já revelava a inusitada combinação de cores de cabelos dos primos ali adormecidos. O de Chantal de um louro quase branco, os vermelhos de Sirius, Sean e Kenneth e os muito escuros e arrepiados de Lyan.
– Eu prefiro que eles fiquem adormecidos, Mel. Quanto menos eles virem ou sentirem, melhor.
Os três garotos concordaram.
– Bem – Hector esfregou as mãos – agora nós podemos realmente pensar no que fazer para atrapalhar ao máximo a festinha deles.
– Eu gosto da idéia da erva mágica – disse Josh. – Mas vocês têm certeza de que gritos e pedras vão poder alguma coisa contra Comensais da Morte e demônios assassinos?
– Bem, isso vai depender a altura e da potência com que você grita – assegurou Mel com a presunção própria das meninas que têm irmãos e sabem do que um bom berro é capaz. Gina concordou imediatamente.
– E, claro, de onde você acerta a pedra – afirmou Hector com tanta maldade que Gina riu.
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O Átrio do Ministério estava ainda vazio àquela hora. A grande maioria dos funcionários só chegaria mais tarde, de preferência após o sol já ter nascido por completo e, certamente, não antes de o relógio bater oito horas. Em todo caso, era provável que nenhum deles se apresentasse ao trabalho com olheiras tão fundas, barba por fazer e olhos vidrados como o homem que cruzava determinado os corredores e cujos passos ecoavam alto no chão de mármore, apesar do marulho da fonte dos irmãos mágicos. A aparência de Harry não o recomendava em nada, pelo contrário, um desavisado poderia confundi-lo com um prisioneiro recém saído de Azkaban. Contudo, não era a consciência do desleixo que o fazia agradecer a ausência de outras pessoas para chamar seu nome e, talvez, apontá-lo de longe, com expressões cheias de piedade.
Desde que sua família fora levada e sua casa destruída, Harry viera poucas vezes ao Ministério e, em todas elas, se deparara com pessoas e conversas demais. Ele recebera da maioria uma comovente solidariedade. Muitos vieram lhe dizer o quanto achavam injusto que aquilo estivesse acontecendo após tudo o que ele já tinha passado na vida. Mas também havia os que tinham calado quando ele passara e depois voltavam a falar assim que o julgavam suficientemente distante.
Era necessário reconhecer que a culpa não era toda deles. Harry estimulara isso. E a verdade é que ele não fizera nada do que achava que faria numa situação como aquela. Ele não fora até os jornais e contara em detalhes tudo o que estava acontecendo. Mesmo antes de Gina e Lyan terem sido raptados, Harry tinha sido a favor e conivente com a divulgação de informações apenas parciais. Claro que suas razões, como ele não cansava de repetir a si mesmo, eram muito diferentes das de ministros como Cornélio Fudge e Rufus Scringeour, durante a segunda guerra bruxa. Não se tratava de manter uma paz aparente ou uma ilusão de segurança. Pelo contrário, logo após a batalha em Stonehenge e assim que Rony se recuperara, ele incentivou o ministro Gwidyon Norwood e Quim a irem para os jornais alertar as pessoas do perigo que a comunidade bruxa estava correndo novamente. Porém, ele e Quim concordaram em contar muito menos do que sabiam e nem de longe responder a todas as perguntas e insinuações que o Profeta Diário vinha fazendo. Eles acreditavam que, se os Comensais da Morte continuassem a achar que estavam um passo à frente deles, seria uma vantagem, estariam mais seguros. O ruim era ter de admitir agora o quanto estavam errados.
O fato é que o sumiço dos Potter – levados de dentro de sua própria casa – parecia ter aberto todas as velhas feridas. As pessoas voltaram a andar em grupos, a ter medo, a desconfiar, a se perguntar o que o governo escondia deles, porque era claro para todo mundo que os governos sempre escondiam alguma coisa. E, afinal, por que os Comensais da Morte pareciam obcecados por Harry Potter? Vingança? Uma nova conspiração? Ou algo mais? Algo pior? Não se poderia culpá-los por fazerem teorias já que, de fato, eles nunca souberam realmente como um garoto nada excepcional de dezoito anos liquidara o maior bruxo das trevas que já existira. Harry nunca contara. Nunca deixara que soubessem que ele havia absorvido os poderes de Voldemort que estavam em suas horcruxes. Ele não conseguiria agüentar se descobrissem, nem mesmo para Rony e Hermione ele tinha contado a extensão do que tinha se tornado. Uma extensão do próprio Voldemort...
Nunca mais repita isso!
A voz de Gina ralhou com ele dentro da sua cabeça. É claro que naquele tempo juntos ela fora percebendo, mesmo que ele não contasse. Claro que houve um dia em que ela o colocou contra a parede e ele teve de confessar, cheio de vergonha, que não era comum, nem mesmo para um bruxo. Que as marcas de Voldemort em sua vida eram muito mais profundas e que ele detestava ser quem era por causa disso. Então, ela tinha ralhado com ele. Ralhara muitas vezes, em todas as que percebera que ele sentia pena de si mesmo, e até nas ocasiões em que ele não dissera nada.
Acha que eu o amaria se você fosse como ele?
Mas, é claro, Harry jamais poderia esperar que todos o compreendessem e admirassem como a sua mulher. Havia muitas pessoas que, por conta dos seus silêncios, conservavam grandes reticências quanto ao “Eleito”, “o menino que sobreviveu”. Talvez fosse o fato dele ter sobrevivido e tantos outros não, que incomodasse algumas pessoas.
Harry não se tornara uma unanimidade por vencer Voldemort. Sua atitude de levar o bruxo para longe da batalha em Hogwarts não foi entendida, depois que os acontecimentos daquela noite permaneceram sem explicação, como uma tentativa de proteção. Rita Skeeter sugerira, diversas vezes em seus artigos, que Harry afastou sua luta com Voldemort dos olhos de todos, para poder usar contra ele terríveis as artes das trevas que lhe tinham sido ensinadas por Dumbledore. Claro que a maioria das pessoas não dava atenção aos artigos maldosos da repórter, mas eles eram mais que suficientes para por dúvidas nas cabeças das pessoas.
O bruxo-vigia, que controlava a entrada no saguão do Ministério, pareceu estupefato ao reconhecer Harry vindo na sua direção. O rapaz não se surpreendeu ao encontrar, no olhar que ele lhe dirigiu, toda aquela soma de incerteza e respeito que Harry se acostumara a receber.
– Sr. Potter! – ele se ergueu rápido da cadeira, esbarrando com a barriga protuberante na mesa pequena em que trabalhava.
– Bom dia, Érico.
– Er... bom dia. O senhor... chegou cedo, hoje.
Harry não comentou e manteve o semblante impassível para não estimular nenhum tipo de pergunta. Era bem óbvio que, após tantos dias de ausência ao trabalho, e tendo em vista tudo o que acontecera, o guarda não tinha a menor idéia do que dizer ante a estranheza de vê-lo ali. Por isso mesmo, Harry achou melhor não lhe dar muito tempo para pensar ou avaliar a sua aparência (o que obviamente o homem já estava fazendo e sem sucesso de disfarçar o choque).
– Alguém do Departamento de Mistérios já chegou?
O guarda piscou várias vezes.
– Hã, não senhor. O turno da noite já acabou e o próximo só se inicia às oito horas.
– Certo. Obrigado Érico.
Harry passou pelo guarda e se dirigiu para os elevadores.
– Eu – ele o chamou – posso avisar para o primeiro Inominável que chegar que o senhor quer falar com alguém de lá, Sr. Potter.
– Não se preocupe com isso – disse Harry calmamente enquanto as portas de ferro dourado do elevador abriam a sua frente com um estrépito. – Eu mesmo me encarrego disso mais tarde.
– Como quiser, Sr. Potter – tornou Érico solícito, mas com o mesmo tom assombrado.
Assim que ele se virou para sentar novamente em sua cadeira, Harry esticou a mão direita e mexeu brevemente os dedos, mentalizando: obliviate. Não lhe interessava nem um pouco que qualquer funcionário do departamento de Mistérios soubesse que ele havia feito perguntas. Tinha certeza de que Cassiopéia Dipper saberia somar os pontos sobre o seu interesse e ficaria no mínimo ansiosa em encontrá-lo. De fato, era melhor que ninguém soubesse que ele estava ali. Os olhos do guarda saíram de foco e ele ainda estava assim quando as portas do elevador fecharam e Harry começou a descer.
Sua mente finalmente voltou a se concentrar na porta trancada que havia no Departamento de Mistérios. A única que ele não transpusera quando estivera lá, pela primeira vez, em seu quinto ano em Hogwarts. Apenas Dumbledore lhe falara sobre ela. Uma sala que está sempre trancada, ele tinha dito, e que guardava uma força mais maravilhosa e mais terrível que a morte. Seria uma mentira Harry dizer que o que havia lá dentro ocupara a sua mente por mais que alguns segundos em todos aqueles anos.
Não era nela que ele pensava. Era sempre a sala do véu, aquela na qual Sirius desaparecera e o deixara para sempre, que ocupava os seus pensamentos. A sala em que Harry sabia existir um portal entre o mundo dos vivos e o mundo dos mortos. Um lugar onde era possível ouvir as vozes dos que já haviam partido, saber que havia algo além, algo que, de alguma forma, continuava. Nem todos podiam ouvi-los e somente Harry conseguiu perceber quando as vozes subitamente silenciaram. Agora, meses depois, ele finalmente tinha uma idéia do porquê. Naquela noite, algo contra a natureza tinha acontecido. Uma coisa cujo horror fizera com que as vozes do outro lado se calassem por algum tempo. O retorno da alma de Voldemort. Não como um fantasma ou uma sombra espectral do passado, mas como algo maligno, deturpado, algo tão ruim ou pior do que Riddle já fora em vida.
As portas do elevador se abriram num guincho metálico e Harry saiu do elevador sem hesitar, seguindo pelo corredor cinzento com passos largos. Ao fim deste, uma porta simples, pintada de preto, descerrou num clic tão logo Harry tocou nela. E, da mesma forma decidida com que chegara até ali, ele entrou na sala circular.
A escuridão o envolveu imediatamente. Tudo ali continuava, como na sua memória, pintado de preto: do chão de mármore granitino ao teto, até as doze portas que cobriam toda a extensão da sala. Nenhuma delas tinha qualquer tipo de identificação ou mesmo uma maçaneta. Somente os candelabros de chamas azuis traziam alguma luz ao lugar, brilhando esforçada e fantasmagoricamente. Harry deixou que a porta, pela qual havia entrado, se fechasse atrás dele. Um barulho alto o informou, por sobre a escuridão, que a sala começara a girar e Harry se manteve parado até que as paredes estivessem novamente quietas. Ele piscou várias vezes para apagar as luzes azuis gravadas em sua retina e então... Foi quase sem que ele se esforçasse: todas as portas se abriram de uma vez só. Menos uma.
Harry lembrava de que a aquela porta resistira a todas as tentativas de ser arrombada na outra vez. Resistiu à força, aos feitiços de Hermione, ao canivete do Sirius. Quando pensou em como poderia abri-la, tudo o que Harry pode confiar foi em seu instinto. Mas, ele já vencera uma guerra fazendo isso.
Enfiou a mão no bolso interno das vestes e retirou de lá uma pedra pequena, antes de um branco leitoso, mas que em sua mão brilhava como uma esmeralda. Antes de vir para o Ministério, Harry passara no Largo Grimmauld e pegara o Graal. Encontrara somente Rony, dormindo sobre a mesa e montando guarda para a pedra. Fez tudo para que o amigo não acordasse e o sono pesado de Rony não o decepcionou. O Graal agora estava mais quente e pesado do que quando Harry o tocara pela primeira vez. Carregava uma gota de sangue de cada pessoa que se comprometera a lutar com Harry esta nova guerra, havia um verdadeiro exército ali. Talvez, fosse por isso que o Graal pulsasse parecendo carregar vida dentro dele, mas era um pulsar agradável, como o que se ouve quando se abraça um amigo.
De alguma forma, Harry sabia que ser o portador do Graal faria com que a porta daquela sala se abrisse para ele. Talvez ele precisasse entoar uma fórmula simples, antiga, um feitiço esquecido e que tinha a fama de abrir qualquer porta. Harry o aprendera na mesma época em que finalmente tinha entendido porque – durante todo o tempo em que lutara contra Voldemort – havia vezes em que ele simplesmente sabia o que tinha de fazer. Não era algo que as aulas em Hogwarts, ou Dumbledore, ou as longas preleções de Hermione sobre seus livros, o houvessem ensinado.
Após a guerra, durante o ano em que viajara pelos lugares repletos da magia antiga, Harry tinha entendido finalmente que, o que ele chamava de instinto era, na verdade, a Mágica. E esta – assim, com letra maiúscula – era bem mais do agitar varinhas e dizer palavras estranhas. A Mágica era algo que residia em todas as coisas do universo, e ela falava com ele. Não há um jeito melhor de explicar: a mágica falava com Harry.
Ele conversara sobre isso com Rony, Hermione e Gina, mas fora Remo quem lhe dissera o que ele realmente queria ouvir.
“Eu não sei como acontece, Harry. Não sei por que acontece com alguns bruxos e outros não. Dumbledore conseguia, mas não creio que ele tivesse aprendido lendo livros. E, bem, seu pai era assim. Quando se esgotavam meus livros, as artimanhas do Sirius e as sugestões do Peter, Tiago sempre sabia o que fazer. Por isso ele era o líder e nunca nenhum de nós contestou isso. O engraçado é que quando perguntávamos, ele sempre respondia isso: a magia fala comigo. Claro que ele ria das nossas caras e acho que nunca elaborou isso como um poder, como você está fazendo agora. Mas é certamente um poder maravilhoso, ainda mais se usado para o bem”.
Harry se lembrou de cada uma daquelas palavras enquanto olhava o Graal em sua mão.
– Me guie – pediu num sussurro – e fique comigo.
Se aproximando da porta, Harry estendeu a pedra presa a sua mão direita até que ela encostasse na madeira. Então, recitou em voz baixa:
– Saritap pernisox ottarim.
A frase era uma junção alquímica e aritimântica criada pelos bruxos medievais, seu sentido não poderia ser traduzido em palavras modernas, talvez num longo texto, como o que Hermione publicara sobre na Wizards Today, e que muitos consideraram hermético. A Harry só importava, no momento, que a fórmula funcionasse.
A porta não reagiu imediatamente, levou tortuosos segundos até que num estalido muito baixo ela abrisse finalmente, com as dobradiças enferrujadas cantando alto. Harry manteve o Graal seguro na mão direita e entrou. Ele certamente esperava um lugar estranho, como eram a maioria das salas do Departamento de Mistérios. Um lugar grande, com algum objeto de aparência extraordinária. Não foi o que encontrou. Estava em uma sala vazia, não maior que o andar térreo d’A Toca. Exceto pelas paredes de rocha crua que lhe davam a aparência de uma caverna, nada tinha de excepcional. A única coisa estranha nela, Harry só percebeu quando a porta fechou atrás de si e foi engolfada pela rocha, desaparecendo de sua vista. Ele esperara ficar na mais profunda escuridão, mas não aconteceu. Como se a rocha estivesse molhada e possuísse um fulgor próprio, ele continuava a enxergar seu corpo, o chão sob os pés, o teto baixo. Mas não havia nada ali. Nada o que ser “estudado”, como lhe dissera Dumbledore.
Ele andou um pouco ouvindo apenas os solados dos sapatos rasparem no chão rochoso. Deu uma volta completa na sala e nada. Frustrado e raivoso, Harry abriu a mão que segurava o Graal, colocando-o diante dos olhos.
– Você me deixou entrar aqui. Tem que haver alguma coisa! Tem que ter um jeito!
A pedra não iria lhe responder, Harry sabia disso. Ele voltou a olhar em volta, podia sentir um leve desespero subir pelo seu corpo exausto de sofrimento.
– Tem que ter um jeito – sussurrou para si mesmo. – Dumbledore achava que o amor era a resposta suprema para todas as coisas. Que amar era o único poder real. – Voltou a encarar a pedra. – Você tem alguma idéia do é que perder quem você ama? Do que é perder sempre?
O Graal pulsou. Foi um segundo, talvez menos, mas Harry sentiu. Maravilhado ele viu a pedra sólida se converter apenas em luz. Uma luz clara esbranquiçada, suave, com o mesmo formato da pedra. Então, a mágica lhe disse o que fazer e Harry levou a mão direita até o centro do seu peito e ali a luz ficou. Fazia parte dele agora.
Um barulho à frente lhe chamou a atenção e Harry quase precisou esfregar os olhos para acreditar no que via. Olhando-o, sereno e altivo, ocupando um espaço grande, pois impressionantemente a caverna parecia um pouco maior, estava um veado castanho. O rapaz ofegou.
– Pai? – falou atônito e logo se sentiu tolo, pois o que tinha diante de si não era uma forma de luz como o seu patrono. Era um animal real. Enorme. A galhada roçava o teto. As quatro patas postadas firmemente no solo revelavam os músculos poderosos do bicho e, certamente, ele encarava Harry com desafio.
Ainda seguindo o instinto, Harry não recuou nem desviou o olhar, mas também não avançou. Deixou que o animal o medisse por longos minutos. Sentia o Graal pulsando em seu peito, a luz que ele emitia, visível e quente.
Depois de um tempo o bicho virou-lhe as costas e começou a andar, sumindo, pelo que pareceu a Harry, uma fenda na parede. O rapaz o seguiu. Foi aí que percebeu que a rocha escura escondia inúmeras entradas, cada uma delas levando a túneis que se estendiam por grandes galerias que desciam mais e mais fundo. Ainda seguindo o veado, Harry se viu percorrendo um longo túnel, hora mais largo, hora mais estreito, onde a rocha tinha o mesmo odor de umidade que sua aparência sugeria. Às vezes, o animal olhava para traz certificando-se de que ele ainda estava ali. Mas, na maior parte do tempo, Harry tinha de manter a atenção ao chão e às paredes para não escorregar. Suas mãos já estavam escuras de buscarem equilíbrio junto à rocha e, por duas vezes, ele se ferira ao apoiar-se em uma pedra mais pontiaguda. Depois de muito e longos minutos de caminhada, os dois saíram no que Harry identificou como o coração de uma caverna imensa. Ele alongou o corpo para poder ver direito o lugar.
Apesar de grande, uma enorme quantidade de estalactites rebaixava o teto e dava, junto com as estalagmites, a impressão de se estar na boca de um imenso animal. De algum lugar, ou de vários, entravam luzes que se precipitavam pelos diferentes tipos de rocha, brilhando em cores fantásticas: verde, amarelo, rosa. Do pequeno e cristalino lago à frente saía uma luz azul que se projetava para o alto mesclando-se com as outras. Harry buscou pelo seu guia. O veado estava descendo em direção ao centro da caverna e indo se postar junto ao elemento mais inusitado que havia naquele lugar: um antigo e alquebrado carvalho. Longas raízes saíam da árvore de idade inimaginável por seu tamanho e aparência, se estendiam em direção ao lago e tomavam boa parte do terreno seco.
Harry começou a descer em direção ao fundo da caverna. Por muitas vezes teve de se apoiar nas rochas para não cair, mas procurou não perder de vista nem o carvalho, nem o veado castanho, que agora curvava sua majestosa cabeça para beber da água azul. Num certo momento, a profusão das raízes do carvalho começou realmente a dificultar a descida e isso o fez demorar algum tempo até chegar ao sopé da árvore. Apesar da idade evidente, era um tronco magnífico e... vivo! Não era excepcionalmente alto, mas seus galhos tocavam o teto da caverna e dali se dobravam para baixo e para os lados. O tronco, para ser circulado, precisaria de uns três ou quatro homens adultos. Havia folhas verdes em seus galhos e mesmo bolotas penduradas em cachos ou caídas sobre o chão da caverna, mas nenhuma delas parecia ter conseguido germinar outras mudas. Como ele podia estar ali, sem qualquer luz solar, só a magia poderia responder. Harry chegou bem perto e estendeu a mão tocando-o com reverência. Não sabia o que ele era ou representava e se era aquela árvore o objeto de estudo daquela sala, mas todo aquele lugar lhe dava uma sensação de calma, de purificação; toda aquela dor que queimava dentro dele parecia estar recebendo um bálsamo ali. Em muitos e muitos dias, Harry finalmente se sentia quase saudável.
Algo agitou a água e Harry desviou os olhos do carvalho rapidamente, porém o veado castanho não estava mais à vista.
– Olá!
Mesmo tendo falado em voz baixa, o som reverberou pelo lugar inteiro, retornando em ondas de eco seguidas. Harry começou a fazer o contorno da árvore, procurando o animal atrás de cada saliência e se dando conta do quanto avançara confiante apenas pelo guia ter a forma do seu patrono. Não foi algo realmente inteligente e muito menos cuidadoso da parte dele.
– Onde você foi?
Era ridículo achar um animal daquele tamanho pudesse se esconder atrás de alguma saliência. Harry fez toda a volta no carvalho e o veado castanho tinha simplesmente desaparecido, ele estava novamente sozinho.
– Você entrou aqui sozinho, como esperaria estar?
A voz jocosa feminina pôs Harry em imediato alerta, mas também lhe soou muito estranha por causa da total ausência de eco que se seguiu a ela. Harry procurou sua dona virando a cabeça para todos os lados até encontrá-la, comodamente sentada, sobre uma grossa raiz que se projetava sobre o lago. Era uma mulher pequena, morena, de idade indefinida. Tinha longos cabelos azeviche e olhos profundos e inteligentes que o miravam com curiosidade. Usava um vestido que lembrava vestes bruxas muito antiquadas, do tipo que só se vêem em livros ou no armário da tia Muriel. O tecido claro contrastava com a tez morena e em todas as suas bordas ele possuía bordados representando, o que Harry achou serem, runas antigas. Os pés, no entanto, encostavam descalços no espelho d’água.
Era obviamente estranha a presença daquela mulher ali e Harry tinha certeza de que não se tratava de nenhuma Inominável. De qualquer forma, ela não era mais estranha que todo o resto que ele via e a voz sem eco, lhe dizia que ele estava diante de um ser mágico e não de uma pessoa qualquer.
– Olá – cumprimentou, cuidadoso.
A mulher não respondeu ou achou que não era necessário responder porque ele também não respondera à pergunta dela.
– Eu... não entrei sozinho. O veado castanho... ele, ele me guiou até aqui.
Ela revirou os olhos.
– Claro, é bem dele, fazer isso. O que é que está brilhando no seu peito?
Harry olhou para baixo, a luz do Graal pulsava visível ali. Ele poderia simplesmente responder, mas era evidente pelo tom jocoso e despeitado da bruxa (ou o que quer que fosse) que ela o estava testando e Harry já não estava tão confiante, a ponto de não testá-la também.
– Achei que “ele” seria facilmente reconhecido num lugar como este.
A mulher arqueou a sobrancelha antes de falar sem mudar o tom.
– E você sabe o que é aqui?
– Uma sala trancada que existe no Ministério da Magia – disse Harry, sabendo que esta não era a resposta certa, ao mesmo tempo em que se perguntava por que ela não lhe inspirava reverência ou respeito. Afinal, era o que ele esperaria encontrar num lugar como aquele.
Ela gargalhou alto, a risada cristalina circulando pela caverna sem provocar eco.
– Para alguém de aparência tão desesperada, você até que tem senso de humor.
– Alguns dizem – continuou Harry – que esta sala guarda o “Amor”.
– Hum – ela parou de rir e ficou balançando os pés sobre a água – dizem, é?
Harry deu mais uns passos na direção dela, não sem dificuldade, por causa do terreno acidentado. Contudo, se esperava que a mulher se retraísse ou mudasse de atitude, se enganou, pois ela continuou exatamente como estava e não parou de analisá-lo por um segundo sequer.
– Dizem que é a força mais poderosa do universo; a mais maravilhosa, a mais terrível, maior que tudo, maior que a natureza ou que a alma humana.
– Que bonito – ela comentou pensativa. – Dizem isso, é?
– Sim.
– Parece muito... filosófico, não acha? E, sem dúvida, bem crédulo. – As solas dos sapatos de Harry encostaram à beirada do lago e ele parou. – As pessoas lá fora acreditam nisso?
– Algumas.
– Você não?
– Eu? Eu mais do que qualquer outro acredito nisso.
Ela estreitou os olhos como se soubesse que, por muito tempo, Harry desprezara aquele poder.
– Por quê?
– Meus pais me amaram o suficiente para morrer por mim. Eu mesmo... não tenho medo de morrer pelos que eu amo.
– Bem digno de um portador do Graal – ela comentou sem parecer nem um pouco impressionada. – Mas você fala como se o amor fosse uma coisa só. O amor pode ser bem tolo, mesquinho, egoísta, até mesmo cruel.
– Isso não é amor – reagiu Harry.
De novo, ela riu dele.
– Você é muito ingênuo – disse num tom de piedade que o irritou.
– Afinal, quem é você?
– Você é rude, menino – ela retorquiu num tom de voz ameaçador e momentaneamente parecendo maior do que realmente era. – Esta é a minha casa, portador do Graal, e eu não me lembro de você ter se apresentado a mim.
Harry controlou o gênio e a sensação cada vez maior de perda de tempo, respirou fundo e respondeu com o máximo de cordialidade que conseguiu.
– Meu nome é Harry Potter e vim aqui em busca de ajuda para salvar a vida dos meus filhos.
– Hum, que pomposo.
– Quem está sendo rude agora? Isso é sério! Minha esposa e meus bebês estão correndo perigo enquanto perco meu tempo com você. Um maníaco assassino quer usá-los para voltar à vida. – Harry deu um passo na direção dela, afundando os pés na água. – Eu sei como posso destruí-lo, sei como acabar com ele, mas... eu quero uma maneira de salvar a vida do meu menino, não quero que ele cresça marcado como eu cresci!
Sem alterar a expressão, ela inclinou a cabeça para o lado, deitando-a sobre o ombro.
– Garoto, os horrores da sua vidinha são minúsculos aqui dentro. O que para você é uma vida inteira, me parecem segundos. Sua dor não é nada na trama do universo. Um humano, mesmo sendo bom, mesmo sendo mágico, mesmo sendo poderoso, é um inseto no todo da criação.
Ele contou até cinco, pois foi até onde sua raiva lhe permitiu chegar. De qualquer forma, não adiantava se enfurecer com ela.
– E quem é você? Será que eu posso saber agora?
– Ah, eu era como você. Não tão cheia de bondade é claro. Mas fiz o mais poderoso feitiço de amor que já se fez neste mundo – contou orgulhosa.
– O mais poderoso feitiço de amor?
– Foi o que você ouviu, não foi? Eu prendi meu amor para sempre junto a mim e ele nunca mais me deixou. – Ela deu um sorriso e se ergueu num salto ágil, caminhando até o tronco e descendo da árvore até chegar ao lado dele. – Já ouviu falar em felizes para sempre?
– E como veio parar aqui?
– Você não ouviu o que eu disse? – De novo, ela revirou os olhos parecendo muito enfadada. – Isso aqui é o feitiço! Estamos os dois aqui, livres do mundo, seguros, nenhum mal pode nos alcançar, só nós dois, nos amando. Não é perfeito?
– Wow – Harry olhou em volta, compreendendo. – Seu feitiço aprisionou você e o seu amor aqui, para sempre. – Ele deixou o ar sair de seus pulmões, havia decepção se juntando com a irritação e a cada vez mais tangível sensação de perda de tempo. Será que era aquilo que os Inomináveis estudavam: um feitiço. Ou, talvez, estudassem a doida na sua frente, porque com certeza alguém deveria estudá-la e criar algum tipo de remédio ou poção que impedisse de surgir gente assim no mundo. – Brilhante! Realmente brilhante!
Sentindo-se um idiota por estar ali e não traçando planos reais com Rony e Hermione, Harry já se preparava para dar as costas para a mulher quando ela falou.
– Posso ensinar a você, se quiser?
Ele a olhou incrédulo.
– Me ensinar?
– É! Você é surdo? Não foi o que eu disse? Vocês seriam felizes para sempre. Claro que, se quiser incluir os seus filhos teremos de fazer algumas adaptações e...
– Você é maluca! Eu... eu nunca...
A mulher lhe lançou um olhar ofendido.
– Pensei que fosse o que queria? Ser feliz para sempre. Você, o seu amor e os... as crianças de vocês. Não é o que quer?
– Não! Quero dizer, sim, mas... não desse jeito – ele esticou os braços abarcando o lugar.
– De que jeito, então? Lá fora, você sempre vai correr o risco de perdê-los.
– Não se eu puder evitar.
– Quanta onipotência, menino. Homens muito mais poderosos que você perderam até mais. Lá fora, todos perdem, o tempo todo. Eu consegui criar um feitiço que impede que isso aconteça, será que não entende? E... – ela fez uma pose de quem concedia algo muito importante e falou solenemente – estou disposta a ensiná-lo a você, Harry Potter, portador do Graal.
– Muito obrigado, mas eu não eu não tenho o menor interesse em aprisionar ninguém ao meu lado para sempre – Harry lhe deu as costas, pronto para sair dali.
Ela pegou sua mão esquerda, impedindo-o de se afastar e Harry voltou a olhar para ela.
– Mas você é casado, – ela disse erguendo a mão dele onde brilhava uma fina aliança de ouro – esse “feitiço” também quer ser para sempre, não é?
Harry puxou a mão de volta.
– A diferença é que qualquer um pode sair dele a hora que quiser.
– Há! – debochou a mulher e ficou esperando que Harry reagisse.
Contudo, não era algum tipo de assombração, ou fosse lá o que ela era, que iria fazê-lo perder de vez a paciência. Se tinha uma coisa com a qual Harry sabia lidar eram provocações e, bem, ela era bem infantil nesse sentido. Além disso, estava tão decepcionado com o que encontrara ali. Não que houvesse entendido, mas de qualquer forma, não era o que ele imaginava. De todo jeito, ele certamente tinha mais o que fazer, precisava era achar uma maneira de sair dali o mais rápido que possível.
Assim, se limitou a dar de ombros, frustrando-a, e se virar para tentar ir embora. Não dera três passos e a bruxa tinha corrido e se colocado a sua frente.
– Você nunca se apaixonou, não é? – Ela parecia realmente disposta a discutir e Harry se perguntava se seus poderes funcionariam ali dentro, pois sentia uma enorme tentação de estuporá-la. – Nunca sentiu a vontade avassaladora de devorar alguém e ser devorado por ela? Destruir e ser destruído na mesma medida, até não sobrar nada? Consumir-se no fogo de uma paixão sem nenhum limite? Nunca quis tanto alguém a ponto de querer morrer se essa pessoa não estivesse com você? Nunca desejou ser o único dono de cada nesga de olhar, sentindo-se viver somente por ouvir um fiapo de voz ou o som dos passos de quem você ama?
– Eu não acho...
– Eu não perguntei se você não tinha se apaixonado, eu afirmei. Você é bem transparente, portador do Graal. Aliás, os outros portadores também eram.
– Como pode afirmar...
– Você gostou de uma menina e depois amou outra. Não sabe o que é perder a razão por pura paixão – disse com desprezo.
Harry suspirou e massageou o pescoço que voltara a incomodar, dolorido de tensão.
– Se eu concordar com tudo o que você disser, você me deixa sair daqui?
– Eu pensei que queria ajuda.
– Eu quero sim, mas acho que não do tipo que pode me dar. Agora, se a senhora me concede licença?
Mais uma vez ela agarrou o seu braço para impedi-lo de partir. Parecia brava agora.
– Você se acha muito superior, não é? Acha que o seu jeito é o único jeito. Acha que é tão bom, tão correto, que suas decisões são sempre as mais altruístas, que o sacrifício é sempre a resposta suprema do amor.
– É! – Desafiou Harry aproximando o rosto do dela, perdendo de vez a paciência. – Eu acho sim!
Um sorriso lento iluminou o rosto dela e, finalmente, ela lhe soltou o braço.
– É bom vê-lo sem máscaras, menino. Agora, antes de desprezar o “meu” jeito de amar, admita: você não é menos egoísta que qualquer outro ser que ama.
– Egoísta?
– Não é como se chama quem se preocupa mais com a própria dor do que com a dos outros? Você diz que está disposto a morrer pelos que ama porque simplesmente odeia a dor ou sequer a possibilidade de perdê-los. Se estiver morto, não sentirá, não é?
– É a segurança deles que me importa.
– Você esteve seguro toda a sua infância. Me diga, foi o suficiente? Nunca pensou que teria sido melhor se você tivesse morrido junto com os seus pais ou até no lugar deles, ao invés de ter ficado sozinho, somente com a dor de não tê-los. – Ela certamente leu os olhos de Harry, porque quando acabou tinha um sorriso leve nos lábios. – O seu sacrifício trará mais dor às pessoas que ama do que a você. Isso, Harry Potter, portador do Graal, é egoísmo!
– E a sua alternativa é aprisionar a vida de quem você ama em uma árvore? Me desculpe, mas eu ainda prefiro do meu jeito.
Ela bateu o pé no chão, irada como uma criança cujas palavras encontram a descrença dos adultos, e ergueu o dedo indicador para retorquir.
– Já chega, Viviane.
Uma voz masculina, vinda de lugar algum, interferiu com autoridade e igual quantidade de condescendência. Harry girou a cabeça e o corpo em busca da origem da voz. Quando voltou a olhar para frente, ficou tão atônito que teve de recuar dois passos e quase caiu de susto.
– Santo Deus!
Diante dele, a mulher se transfigurou lentamente até se transformar no bruxo mais impressionante que ele já tinha visto desde que pusera os olhos, pela primeira vez, em Alvo Dumbledore. Tinha mais ou menos a altura de Harry, mas parecia ser muito maior e era, definitivamente, mais largo. O corpo era o de um velho guerreiro, cujos músculos haviam sido ampliados com a gordura da idade. Os olhos, vivos e inteligentes como os da bruxa, eram, no entanto, de um azul índigo tão inacreditável que pareciam ter sido pintados nele. Era grisalho e tinha longos cabelos cacheados caindo sobre os ombros. Uma barba crespa e ampla roçava a mesma altura dos cachos.
– Deve perdoar Viviane – a voz grave era firme e bondosa – ela é muito combativa em suas opiniões. Você deve ter despertado algo nela, sabe? Normalmente, ela gosta de se apresentar venerável para que tenham medo dela. Acho que ela realmente gostou de você.
Harry estava tão tonto que apenas conseguiu acenar afirmativamente com a cabeça, pois não encontrou voz para responder. O velho sorriu.
– Deixe-me olhar para você – ele pegou Harry pelos ombros e o fez girar sobre si mesmo como um avô orgulhoso que recebia um neto crescido, depois de muitos anos. – Eu nunca imaginei que um dia voltaria a ver novamente um portador do Graal em minha frente. Você é mais alto que Galahaad, talvez um pouco mais velho. E, claro, ele era louro, mas... pelos deuses, os olhos... – ele mirou detidamente dentro dos olhos de Harry. – Esse verde... É quase idêntico. Uma magnífica coincidência, não? – completou com um tapinha bem humorado no braço de Harry.
Foi com esforço que a voz voltou o suficiente para o rapaz balbuciar uma interjeição assombrada.
– Meu Mérlin!
– Muito prazer – disse ele estendendo a mão para Harry, que a tomou, pasmo.
– Eu... eu sou...
– Harry Potter. Eu sei. Ouvi a conversa de vocês. Acha que eu não ficaria por perto com um homem jovem e atraente conversando com a minha mulher? Ainda mais com ela ficando tão impressionada. – disse se inclinando e dando a Harry uma piscadela cúmplice.
A cabeça de Harry parecia ter dado um giro de 360 graus sobre os ombros. Mesmo sem Hermione, ele conhecia aquela história. Lera-a pela primeira vez quando folheava seus livros antes do primeiro ano escolar. A lenda permanecera em sua memória e ele ainda se lembrava de cada detalhe.
Mérlin, o maior bruxo que já existiu, um dos fundadores da sociedade bruxa como ela existe hoje, já era muito poderoso e reconhecido quando se apaixonou por uma jovem bruxa nascida trouxa de nome Viviane. Durante anos, ele saíra de sua alta posição na corte do rei Artur e ia visitá-la sob disfarce. Porém, a jovem fora astuta e sedutora o suficiente para descobrir quem era o seu amante e convencê-lo a ensiná-la os todos os segredos de sua magia. O tempo passou e Viviane foi se tornando uma bruxa cada vez mais poderosa. Um dia, ela pediu ao homem que amava que lhe ensinasse o supremo segredo dos amantes: um feitiço capaz de prender o amor para sempre junto a si. Mérlin lhe respondeu que este feitiço não existia, mas ela insistiu até que ele revelou uma parte da magia, embora soubesse que sua amada era tão inteligente que logo descobriria o resto. Então, ele partiu. Viajou por todo o reino, despediu-se de todos os seus amigos. De fato, ele poderia jamais ter voltado para os braços de Viviane. Mas, mesmo sabendo o que iria acontecer, Mérlin não só retornou como se deixou aprisionar, segundo a lenda, em um carvalho. O maior de todos os bruxos, incapaz de resistir, se tornou prisioneiro de um feitiço de amor, para sempre.
– Eu não acredito – Harry conseguiu finalmente formular uma frase completa.
– No quê? Que eu estava de olho em vocês ou em mim?
– Não acredito que é você, aqui dentro. Que é isto que o Ministério guarda.
– Seu Ministério guarda somente um feitiço, rapaz. Nada mais.
– Mas você... ela disse que...
– Sim estamos aqui. Mas somos apenas parte do feitiço original. Nem eu, nem minha amada somos pessoas, ou mesmo personalidades. Tornamos-nos parte do feitiço e apenas encarnamos facetas do sentimento que um dia partilhamos.
Harry registrou as informações por alguns instantes – ao mesmo tempo em que, finalmente, digeria a estupefação – antes de voltar a falar.
– Eu... posso fazer uma pergunta, senhor?
– O que quiser, meu jovem.
– Por que voltou? Por que se deixou prender aqui?
– Eu não esperaria essa pergunta de você. Por que se ama?
– Mas...
– Nada no mundo poderia ser mais importante do estar com ela. Apenas isso. Quando entreguei meu coração, Harry Potter, todo o resto perdeu o sentido. Esse é o meu tipo de amor. Não é o seu? – Seu sorriso franco não trouxe paz à ansiedade de Harry. – Não acha que seria loucura tentar racionalizar algo assim?
O rapaz apenas arfou por um instante. Se a resposta fosse diferente, ele talvez pudesse fazer outra pergunta que não a que lhe queimava na garganta. Porém, Mérlin, mesmo falando coisas diferentes das que Viviane lhe tinha falado, apontava para o mesmo caminho.
– Esse feitiço... ele é tudo o que esse lugar pode me ensinar?
Mérlin esticou os dedos até quase encostar a luz que brilhava no peito de Harry, parando à apenas alguns centímetros.
– Eu nunca pude tocá-lo – disse suavemente. – Preparei os homens que o buscaram. Preparei aqueles que finalmente o encontraram e até mesmo aquele, dentre todos, que foi escolhido para portar o Graal, mas jamais pude tocá-lo. Não, meu caro rapaz, não precisa ficar assustado. Você certamente jamais será tão poderoso quanto eu fui. Seus poderes são de outro tipo. Falo dos “seus” próprios, não destes outros que você carrega por conta de sua guerra.
Ele baixou a mão e fitou Harry com aqueles olhos de um azul irreal.
– Não há nada que este lugar possa lhe dar, em termos de magia, que você já não tenha, Harry Potter.
Por um instante, após ouvir aquilo, Harry apenas ficou ali, respirando. Depois, zilhões de cenas brotaram em sua memória, todas ao mesmo tempo, e ele se deu conta do que o tinha impulsionado até ali. Por algumas horas, ele tinha conseguido se agarrar a um tênue fiapo de esperança que, agora, sob o olhar condescendente de Mérlin, se desvanecia. O abandonava. Viviane tinha razão. Ele era um egoísta. Aquilo não doeria tanto se não fosse por Gina, Lyan e Joanne. Harry sabia o quanto preferiria morrer a perder qualquer um deles. Respirou profundamente, não havia mais nada para ele fazer naquele lugar.
– Eu agradeço muito, senhor, por terem me permitido entrar aqui.
– Mesmo que não tenhamos lhe dado nada.
– Mesmo assim – retorquiu Harry com uma serenidade tão irreconhecível que parecia que outra pessoa falava por ele. – Sei que foi uma honra terem permitido que eu entrasse aqui.
Ele inclinou a cabeça num gesto de despedida.
– Não há nada que possamos lhe dar em termos de magia, meu jovem. Mas podemos lhe dar algo muito mais importante: entendimento. – Harry o encarou e o homem velho sorria. – Compreensão para você usar com sabedoria os seus imensos poderes. O que existe aqui, filho, você já tem e em quantidade. Não é possível aumentar ou torná-lo ainda mais poderoso. Seu desprendimento, sua entrega, seu belo coração, são admiráveis.
– É, mas ela tem razão – Harry apontou instintivamente para o carvalho. Sabia que era onde Viviane estava. – Meu medo de perdê-los, de ficar sozinho novamente... eu realmente não suportaria. Prefiro que eles não me tenham a eu não tê-los.
– Bem, eu acho que esta é somente uma forma de ver as coisas. Deixe-me perguntar uma coisa: nos piores momentos de sua vida – e posso ler em seus olhos que não foram poucos – você se sentiu ou “realmente” esteve sozinho?
Uma sucessão de imagens e sentimentos voltou a aflorar na mente de Harry. Desde os sonhos de sua infância, quando ele se sentia no colo de alguém ou voando em uma motocicleta, até a voz de seus pais, que ele somente escutava quando os horríveis dementadores chegavam perto dele.
“Aqueles a quem amamos, nunca nos deixam realmente”, Dumbledore lhe dissera isso vezes sem conta.
– Você vê – falou Mérlin, que parecia acompanhar os seus pensamentos – quem ama como você, é porque foi amado sem restrições, sem limites. Acha mesmo que aqueles que foram capazes de tanta coisa por você, puderam de fato abandoná-lo? Há uma coisa em que Viviane tem realmente razão. Nada o enfraquece mais nessa luta que o seu medo de perder. Isso o faz perder o controle, agir de forma precipitada, não dominar os poderes que, de outra forma, seriam imensos. Seus inimigos sabem disso e usarão isso contra você. De todas, é a maior arma que eles têm.
– Eu entendo. Mas a verdade, é que, no fim, dá na mesma. Eu não vou simplesmente me dizer: pare de temer que as pessoas que você mais ama em todo o mundo sejam arrancadas de você. Não vai acontecer.
– Não. É claro que não – Mérlin concordou enfático. – Mas nós, que amamos, assumimos esse risco desde o começo, não é? Nos jogamos de cabeça neste medo insuperável e, de uma forma ou de outra, iremos perder um dia. É inevitável.
Seu adversário, aquele contra o qual você luta, tem tal pavor de perder o que quer que seja, que jamais se ligou a qualquer coisa. Apega-se a vida como se isso lhe garantisse “possuir”, mas ele nada tem que possa chamar de dele, nem mesmo o poder. Tudo perece um dia e, mesmo que ele consiga alcançar o que sonha, um dia será derrotado e perecerá.
– Mas resta algo de você aqui neste lugar. Ele acharia que você é imortal.
– Oh não. Sou pouco mais que uma imagem, meu caro. Somente está aqui nesta forma, como Viviane esteve antes de mim, para fazê-lo compreender o tamanho do seu poder, Harry. Você consegue entender agora que nunca esteve sozinho e que nunca estará? Que quando você ama e partilha isso, recebe em igual medida, mesmo que de fontes que você nunca suspeitaria? Entende que a perda, a morte, a solidão são apenas estágios do corpo e não da alma? Uma ilusão dos sentidos, mas não uma realidade. Não é à vida que o amor se prende, Harry, é por isso que ele não pode morrer.
Não seria possível contestar uma fala tão apaixonada e serena. Havia uma verdade íntima ali, a qual Harry não seria capaz de negar nem para Mérlin, nem para si mesmo.
– Eu compreendo. De verdade – garantiu. – Apenas... eu gostaria de saber o que fazer.
Mérlin se aproximou o suficiente para que seus olhos atravessassem os de Harry com tal força e poder que a luz do Graal, em seu peito, aqueceu até quase queimá-lo.
–Você é o portador do Graal! Sabe quantos séculos ele esperou para encontrar alguém que o merecesse? Confie nele, filho. Confie no amor que você sente. Ouça seu chamado, jogue-se do alto desse abismo com as mãos vazias. É o que ele pede em troca por tê-lo escolhido: FÉ. A magia lhe fala, não é? Ela agora é alimentada pelo Graal: ouça-a, acredite nela. Chame de crença, confiança, entrega. Mas é disso que se a magia do amor trata: de fé.
Ele ficou quieto, sorrindo para Harry e lendo no rosto do rapaz o efeito de suas palavras, então, parecendo satisfeito ele deu um tapinha no ombro do jovem.
– Agora é melhor você ir. Venha, vou acompanhá-lo até a saída, mas se não se importa em ainda trocar umas palavras com um velho, irei nesta forma agora.
Ele saiu à frente de Harry subindo com agilidade pelo terreno escapado e pulando as raízes com a facilidade de quem as decorara.
– Espere – Harry já o seguia – era você? O veado castanho.
– Sim. Eu era animago, sabe. Esta era uma das formas que costumava assumir.
Aquilo fez Harry sorrir.
– Meu patrono é um veado.
Mérlin olhou-o por cima do ombro.
– Uma magnífica coincidência, não?
*********
Exatamente doze horas depois, ao pôr do sol, Harry aparatava sobre um precário arrecife a quilômetros da costa oeste do centro da Inglaterra. O ar, saturado de gotículas frias e salgadas, arrebentou em seus pulmões com violência. Ele precisou de um segundo a mais para manter o equilíbrio e não ser jogado pelo vento de encontro às ondas, que o encharcaram em questão de segundos.
Tinha passado o dia ouvindo os planos traçados por Rony, Hermione e Snape, e também organizado a abordagem que fariam à ilha de Enos Throop. Contudo, a presença do ex-professor o impedira de contar aos amigos sua pequena aventura. Não era algo que mudasse qualquer coisa do que eles pretendiam fazer, mas Harry teria gostado de ouvir Rony e Hermione dizerem que ele tinha razões para se apegar àquela crença impalpável, àquela esperança sem corpo de que, no fim, tudo daria certo. Infelizmente, não houve tempo para essa conversa.
Harry olhou o Graal preso firmemente em sua mão. Ele retornara à forma de pedra esmeralda assim que Harry saiu do Departamento de Mistérios. Continuava pulsando, vivo. Por segurança, Harry o colocou no bolso da camisa que vestia sob a jaqueta. Depois passou a ponta da unha do indicador direito na palma da mão esquerda murmurando um feitiço de corte. O sangue apareceu imediatamente.
A mensagem que recebera de Voldemort há poucos minutos, lhe dando as coordenadas da ilha, ainda fazia sua cicatriz arder barbaramente. Contudo também lhe dera à certeza de que, como na caverna da Horcrux, seria seu sangue que lhe daria acesso à ilha. Harry olhou por alguns segundos a paisagem de pedras baixas e ondas ferozes e percebeu um lugar em que o vento batia e retornava. Aos olhos, apresentava-se somente o mar longínquo, mas os olhos não vêem tudo. Harry caminhou até a ponta do arrecife, quase caindo na água, e estendeu a mão para o alto, manchando o portal oculto com o sangue da sua mão. Tão logo terminou, recuou alguns passos. Imediatamente, um enorme rochedo começou a se materializar à sua frente, para cima, para os lados, cobrindo toda a sua visão. Em pouco tempo, o mar sem fim, que ele via, tinha se transformado em um enorme paredão rochoso, com metros e metros de altura e se estendendo por quase um quilômetro à sua esquerda e à sua direita.
Com um gesto e um pensamento, Harry fechou o corte e em ato contínuo tirou do cós do jeans a varinha, que continuava usar diante de todos que não fossem Rony e Hermione. De um jeito ou de outro, aquilo tudo teria de acabar ali.
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N/B Sônia: Toda vez que eu faço quaisquer das poucas sugestões, ou levanto uma raríssima dúvida, betando as fics da Sally, me vem a sensação extremamente constrangedora de estar sendo pretensiosa. Como uma criança recém matriculada no primário que pensa saber o suficiente para questionar a autora do livro... E nesse caso, que livro! - Texto forte, com conteúdo. Personagens que não “se perdem” de suas características. Descrições que nos levam à situação e ao lugar, sem jamais tornarem-se enfadonhas ou desnecessárias. E quantas reviravoltas! Tudo com sentido, com razão de estar acontecendo, com continuidade perfeccionista. Neste capítulo... - Por Merlin! (Literalmente ;D) – Neste você me tirou do prumo. Impecável, corajoso, esclarecedor, instigante e surpreendente! Foi tudo isso, e mais! Comecei a arrepiar ao ler o título, e permaneço emocionada até agora! De coração, Anam... ARRASOU!!! Dar os parabéns não parece o suficiente, então, considere-se ovacionada, abraçada, celebrada! Um enorme beijo! Se prepare e se cuide aos escrever os próximos capítulos, que serão intensos ao extremo, e bem sabemos o que isto custa ao escritor... ADORO VOCÊ, TALENTOSA AMIGA-IRMÃ! Adoro aprender contigo! Até os próximos! =D P.s.: EU AMO O HECTOR!!!!!!!!!!
N/A: Perdão pela demora, gente, mas se vocês perceberam, este não foi exatamente um capítulo fácil. Sinceramente, eu espero que tenham gostado e não feito leitura dinâmica para passar de uma vez.
Apesar de ter demorado bem mais do que pretendia – alguns problemas pessoais interferiam – meus planos continuam os mesmos do aviso que postei para vocês. O capítulo entra hoje e já começo a trabalhar nos próximos.
Sobre este: existem muitas referências neste capítulo e a maioria delas foi retirada do Manual do Bruxo, escrito pelo casal Kronzek. O livro ficou realmente muito bom. Dali retirei a erva móli, as palavras que Harry usa para entrar na sala e a forma animaga do Mérlin. Outras coisas pesquisei em outros livros e o resto inventei. Espero que a salada tenha ficado boa.
Sobre a bruxa que prendeu Mérlin, as lendas lhe dão nomes diversos: Viviane, Nínive, Niniane. Algumas fazem desta mulher e da Senhora do Lago, a mesma mulher. Bruxa, sacerdotisa, deusa. Eu não seria maluca em tentar resolver em uma fic esse mistério, hihi.
Antes de passar aos agradecimentos individuais, quero apenas reforçar o que sempre digo: é muito, mas muito bom mesmo escrever para vocês e, meu marido é testemunha (e vítima, disse ele ao meu lado agora) de quanto fico insuportável quando não escrevo. Então, se eu demoro, não é por vontade própria, mesmo.
Beatrice Potter – Depois deste capítulo haverá a batalha que vai ser um capítulo, talvez em duas partes, ainda não sei, vai depender do tamanho e um epílogo. Obrigada e beijos.
Mimi Potter – Desculpe a demora e obrigada. Beijão.
Drika Granger – Valeu Drika. Sim a Gina conseguiu fazer um tipo de projeção e apareceu mesmo para o marido. Quanto aos planos do Snape, do Rony e da Mione, vocês só irão saber na batalha, hehe. Bjs.
Henrique Malfoy – Você acertou meu nome direitinho, Henrique, sem retoques, rsrs. Assim que der passo na sua fic e sim a Floresta das Sombras vai sair imediatamente na seqüência, sem descanso, pois já a venho planejando há um ano. Eu entendo o que é se demitir de um trabalho que a gente não gosta, mesmo precisando... vc não imagina o quanto! Sou professora de História na faculdade (chegou pertinho, hehe).
Daiana Braga – Este e mais um a princípio, Daí. O próximo é o último, mas pode vir em duas partes. Depois o epílogo. Obrigadão. Beijokas.
Lola Potter – Tb acho estranhíssimo ele se apegar a alguma coisa, mas depois do livro 7 parece que não estivemos tão erradas (falo de mim, da Bel e da Regina). Espero que tenha gostado da sala do Ministério. Beijos.
Bernardo Cardoso – Valeu, querido. Acredite, as demoras são duríssimas para mim também. Um beijo carinhoso.
Ana Eulina Carvalho – Hahaha! Que bom que gostou. Ah o Zacharias foi. Apenas não citei o nome dele porque ele chegou depois que o Harry saiu. Mas, tenho a impressão de que ele foi mais por causa da Ana (eu, sinceramente, acho ele um mala hihi). Beijão!
Bru Black – Logo vai ter Harry e Gina, mas não vai ser fácil. Muito obrigada. Beijão!
Edu Pimentel – Valeu Edu!
Clara – Querida, acredite, meus sumiços não são por vontade própria, em geral, são as épocas que sou raptada ou por Dementadores ou Comensais da Morte ou pior: Dursleys, rsrs. Obrigada pela leitura e o carinho.
Naty L. Potter – Não exagera Naty, hihi. Logo tem H/G, mas como eu já disse não vai ser moleza. Beijão.
Lii Black – Vc é uma fofa, sabia? Estou aqui sorrindo como boba para os seus comentários. Obrigada, obrigada, obrigada. Como doida pelo ciclo arturiano (eu também sou), eu acredito que você tenha gostado um “pouquinho” (rsrs) deste capítulo, não? Um beijo enorme querida!
Danielle C. Pereira – É no próximo capítulo. Aaiiii... sabe que dá meio... uma coisa... estranha de escrever? Rsrs beijos
Charlotte Ravenclaw – Brigadão, minha amiga. Obrigada pela leitura prévia. É sempre bom contar com vc. Fiquei mais segura. Bjs!
Gina W. Potter – E tem dúvida de que o Voldie é um FDP e o Harry “O cara”? Também acho que esse é o grande poder do Harry, ele inspira lealdade por ser correto e bom embora não seja nem santo nem irreal. Talvez seja isso querida, as pessoas têm dificuldades em encarar um herói real ou estão é desfazendo de si mesmas, pois não conseguem se espelhar nele. Tb não compreendo, mas fazer o que? Beijos superlativos rsrs
Ana Carol – Blog anotado, querida. Vou reservar um dia das férias para percorrer os convites de vocês, pode deixar. Obrigada pelos elogios. Espero que tenha gostado do capítulo, mesmo que ainda não tenha sido o da batalha. Beijão.
Gianna – Sim, o Draco surpreendeu, mas acho que os Malfoys, com todos os defeitos que têm e são muitos, sempre foram uma família que, da sua maneira, se ama. Acho que isso passa bem nos livros e, por isso, acho que o Draco realmente se arriscaria pelo pai. Valeu pelo comentário, querida. Beijão!
Alessandra Amorim – Obrigada, querida. Acredite, meu maior esforço é não fugir do que ela traçou para cada um (aliás, foi por isso que a Mione demorou a estourar, hehe). Mas a tia Jô é ligada em mulheres fortes, vide Mione, Molly e Gina e também no contrário vide a CHOrona (o que foi que desencantou o Harry?). E eu realmente gosto disso. Um beijo enorme e obrigada pela compreensão.
Doug Potter – Brigadão, querido!
Sônia Sag – Hahaha!! Valeu Anam! O sentimento é recíproco quando leio o que vc escreve: “UAU ela é minha amiga!!” Hehehe Sonhando com nosso pacto mágico, querida. Vai ser!
Priscila Louredo – Foi por causa do Sirius, foi por causa de tudo, mana. Também to com saudades, querida. Agora as aulas e provas acabam e eu volto mesmo. Um beijo enorme! P.S.: Tem pra todas hehe
Carol Lee – Valeu, Carol!
Lica Martins – Minha querida amiga, eu realmente não sei o que dizer. Seu comentário me emocionou de uma forma que nem tenho como expressar. Não sei mais quantas coisas eu devo ao mundo HP, mas vc e a sua família são certamente uma delas. Obrigada pelo teu carinho diário e pelo teu coração imenso. Sei que imaginou essa sala de forma muito diferente e, se já não soubesse como ela era, eu vampirizaria a tua idéia. Espero, de coração, que você tenha gostado. Um beijo muito carinhoso.
Belzinha – Que bom, amada! Logo, eu resolvo, juro! Beijão!
Liliane Mangano – Mas ele é ranzinza! Hihi é toda a graça do Snape a ranzinzisse e eu confesso que me divirto escrevendo ele assim, hehe.E o seu elogio é enorme mesmo. Muito obrigada, Beijo grande.
Hellzita – Ahh sou má não. Só um pouquinho, hehe.Também adoro a amizade dos meninos, acho-a comovente. Obrigada pelos elogios às fics, querida. Beijão!
Rafaela Coelho Iukelzon – A luta é só no próximo, querida. Ainda assim, espero que tenha gostado deste. Um beijão!
Pamela Black – Ah Pam, eu tb acho isso, sabia? Que o harry é perfeito, mesmo quando erra hehe. Beijão amiga!
Regina McGonagall – Valeu, amiga! Eu tb acho, viu? Hihihi Mas toda a via a Serenna com o Sirius. Ela merece o melhor, não é? Beijão!
Paty Black – Vc sabe que tb não morro de amores pelo morcegão, Paty. Mas tenho de ser coerente, fazer o que? Mas ele continua um chato hihi. Beijão.
Sô – Brigadão minha linda. Valeu mesmo!
Suellen Espósito Rei – Muito obrigada, querida! Beijão.
Patrícia Ribeiro – Desculpe a demora querida, mas realmente tenho um trabalho exigente (como o de todo mundo, mas ele me tira também o tempo de pensar). Obrigada mesmo pelos elogios. Um beijo grande.
Mirella Silveira – Sim, Mirella, no caso do Draco só segui o que foi marcado pela tia Jô. Apesar de ser um cretino, o Draco ama a família e é o que o redime. Beijão!
Amanda – Valeu, querida! Bjs.
Feba – Espero seja, Feba. Beijos!
HP-Laurinha-HP – Que bom que gostou e a indicação não furou, hehe. Beijos!
Mimis – Vou tentar ir olhar, Mimis. Obrigada, que bom que gostou.
Ana Karynne – Muito obrigada, querida. Me elogia ainda mais ter emocionado você. Beijos.
Panny Lane – Seria bom se os problemas se solucionassem tão fácil, não é? Mas o Harry vai ter que descobrir como essa arma pode ser usada, usando-a. Adorei o seu comentário rsrs. Beijão.
MárciaM – Muito obrigada querida, pelos elogios e pela benção. Espero que tenha gostado do “lugar”. Um beijo carinhoso.
Aline de Mello Pitombo – Seja muitíssimo Bem vinda, Aline. Espero que continue gostando da fic e, humildemente, eu acho que melhora depois do seis hehe. Beijão.
Thayse Couto – Muito obrigada Thayse. Tento manter a magia ao máximo e fico muito feliz de você ter gostado da minha filhota (a Danna). Espero que goste das minhas outras fics também. Beijos!
Fábio Jr. – Obrigada. Pretendo sim, de preferência já quero começar a escrever no presente, hehe. Bjs.
Almir Potter-Granger-Weasley – Muito, mas muito obrigada mesmo!!! Sabe que ela lê em português? Morou anos em Portugal, rsrsrs. Quem sabe um dia. Seria uma honra.
Pandora Potter – Eu amei o seu comentário, Pandora. Obrigada mesmo, mesmo, mesmo. Espero poder contar com seus comentários nestes últimos capítulos. Valeu pela força. Beijo grande.
Anderson – Valeu mesmo! Olha, agora fui o olhar, a fic nasceu em 29 de dezembro. Queria terminá-la no aniversário dela e farei o possível e o impossível para isso. Talvez não consiga postar o epílogo, mas vou tentar. Bjs.
Victor Farias – Oi meu amigo. Fim de ano é tempo de fechar o balanço, não é? Mas a gente sobrevive. Obrigada pela compreensão.
Mayara Potter – Valeu!
Luísa Lima – Pois é, as Federais atrasaram, né? Eu acabei os exames ontem, mas ainda tem os trabalhos de final de curso (Oh céus), eu chego lá. Que bom que deu para vc passar aqui Lu. Beijo enorme.
Um beijo estalado na bochecha de cada um
Sally
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