A Porta Trancada

Capítulo 38



A Porta Trancada



Berros de desespero chegavam aos ouvidos de Harry como se fossem rasgá-los.

Primeiro fora a dor. A cicatriz que ele quisera morta há quase uma década tinha dilacerado a sua cabeça com o fôlego renovado de algo quase esquecido. Seus olhos estavam firmemente fechados, mas isto não era o suficiente. As imagens continuavam vindo dentro da mente dele, e havia uma parte de si – aquela que Voldemort dominava, a mesma que lhe enviava o espetáculo macabro – que parecia gostar de todo aquele horror. Os gritos engoliram o marulho das ondas, o arfar excitado dos Comensais e a luta amordaçada de seus prisioneiros, mas não pouparam Harry de quase adivinhar o esgar fino da lâmina deslizando sobre o pescoço dos elfos. A morte lhes chegava silenciosa, submissa. Não eram eles que gritavam. Ao contrário, deixavam-se abater como se fossem bonecos numa brincadeira tétrica e, a cada nova batida do martelo de ouro na garrafa, um deles parava de respirar.

Harry reconheceu o martelo como aquele que o dono de uma loja da Travessa do Tranco, atacada meses atrás, descrevera como tendo sido furtado. Ele dissera na ocasião que o martelo era amaldiçoado. Ao percebê-lo ganhar força cada vez que o sangue dos pobres elfos molhava a terra, Harry compreendia o porquê. Um urro de fúria e pavor se estendeu pela noite quando Winky caiu e, no instante seguinte, a garrafa estalou alto, os cacos voando para todos os lados. Mesmo fechados, os olhos de Harry se cobriram de chamas vermelhas e ele passou a se debater, finalmente tomando consciência de que seu corpo estava caído no chão, movimentando-se alucinadamente como se quisesse escapar de cordas invisíveis.

– Você realmente achou que havia me derrotado, Harry Potter?

– HARRY! HARRY! – alguém o chamava por cima dos gritos.

– HARRY! PÁRA, CARA! SE ACALMA!

Duas mãos fortes pressionavam seus ombros obrigando-o a parar de se debater.

– Harry abra os olhos! – suplicou a voz apavorada de Hermione e ele obedeceu.

Só então percebeu que era a sua garganta que gritava desvairada. Estava deitado ao comprido no assoalho, as costas doídas de se baterem contra a madeira dura, as mãos crispadas numa impotência furiosa e o corpo convulsionado por tremores. Rony e Hermione tentavam segurá-lo sem sucesso, ambos muito pálidos e assustados. A visão dos dois o fez parar de se debater.

– Santo Deus, ele está ardendo em febre – disse Hermione tocando em sua testa encharcada de suor. – Rony, me ajude a pô-lo sobre a cama.

Rony o içou do chão e praticamente o arrastou até a cama de casal, onde ele e Hermione ajudaram Harry a se deitar.

– Gi...

– Eu sei, Harry. Acalme-se agora – pediu Hermione muito aflita, sentando ao seu lado na cama e o examinando com atenção.

– Jô...

– O Dobby a tirou daqui assim que você começou a gritar – respondeu Rony. – Ela está assustada, mas está bem. O que houve?

Harry bem que tentou responder, mas sentia-se tonto e nauseado, o esforço para falar era quase insuportável.

– Ele não tem condições de falar agora, Rony. Parece tão doente... – A varinha de Hermione brilhou próximo aos olhos entreabertos de Harry. – A febre está muito alta e não pára de subir. – Ela se ergueu da cama. – Fique de olho nele, vou tentar achar alguma poção para baixar a febre no estoque da Ordem. Se ele continuar assim, acabará tendo uma convulsão.

– Certo – concordou Rony e os passos dela se distanciaram. Pouco tempo depois, Harry sentia um pano úmido lhe enxugar o rosto suado e seu frescor pareceu aliviar a sensação de ferro em brasa que emanava da sua cicatriz. – Mamãe fazia isso quando tínhamos febre, – comentou Rony estendendo o pano sobre a testa do amigo – logo você vai ficar legal.

Harry bem que quis agradecer e acalmar o pavor que sentiu na voz dele, mas não conseguiu porque as coisas voltaram a ficar confusas e embaralhadas na sua cabeça. Tinha vezes em que ele achava estar sozinho em um lugar que era gelado e escaldante ao mesmo tempo. Outras vezes, ouvia os passos no chão de madeira do quarto como se fossem produzidos por elefantes. Teve a vaga impressão de que Mione retornara e que o havia forçado a beber uma coisa gosmenta que lembrava leite talhado e depois um líquido adocicado. Por fim, ele achou que dormiu, mas apenas porque não conseguia lembrar-se de nada quando abriu os olhos e percebeu que já estavam no outro dia.

Virou-se vagarosamente na cama. O corpo doía como se tivesse sido atropelado por uma manada de hipogrifos enfurecidos. Sentada ao seu lado na cama, Hermione tinha a cabeça pendida sobre o peito e a varinha entre os dedos. Rony roncava em uma poltrona que fora puxada para ficar próxima à cabeceira onde Harry estava recostado. Os dois certamente tinham passado a noite ali. Um segundo movimento e Hermione quase saltou sobre ele.

– Harry, como você está se sentindo?

– Vou sobreviver – resmungou o rapaz tentando sentar-se na cama.

Rony também tinha acordado – o que era no mínimo um dado impressionante de preocupação – e já o estava ajudando a se acomodar e colocando travesseiros às suas costas. Harry não precisou mais que um relance nos rostos dos dois para perceber o estado em que estavam. Hermione estava vermelha e tinha os olhos inchados, enquanto Rony exibia aquela coloração esverdeada que ele assumia quando ficava realmente muito nervoso.

– Sirius está bem – disse e Hermione voltou a respirar. – Pelo menos por enquanto, ele, Gina e as outras crianças estão bem.

Rony desabou novamente na poltrona.

– Você gritou o nome dela tantas vezes que eu achei que...

– Não. Ela está bem, Rony. Tenho certeza.

– Graças a Deus – suspirou Mione.

– Cadê a Joanne?

– Com a mamãe – informou Rony e a um olhar de Harry completou – nós dissemos para eles que íamos passar a noite trabalhando em planos de ataque e talvez testássemos uns feitiços.

– Seus pais engoliram?

– Provavelmente não, – disse Rony dando de ombros – mas eles passaram a confiar na gente. Já é alguma coisa.

– Harry? – Hermione o olhava com ansiedade. – O que aconteceu?

Os punhos de Harry se fecharam quase sem que ele mandasse e, por cima de toda a dor física que ele sentia, uma raiva borbulhante ameaçou sufocá-lo.

– Voldemort quis que nosso reencontro fosse marcante – a voz saiu num misto de fúria e frustração. – Ele me deu acesso à mente dele apenas para que eu pudesse vê-lo obrigar Gina a assistir... – respirou fundo para continuar. – Eles trouxeram Mefistófeles de volta.

Rony soltou um palavrão e Hermione deu um gritinho de “nãoooo”.

– Como eles fizeram? – quis saber Rony.

– Com um sacrifício, obviamente – disse Hermione recuperando a voz. – Mas você disse que todas as crianças estavam bem! – Ela acusou Harry como se ele tivesse mentido e o olhava alucinada.

– E estão, Mione. Estão. Fique calma.

– Mas eles mataram alguém, não mataram? – perguntou Rony. – Era o que o Livro de Fausto previa. Foi o imbecil do Oates, não foi? Finalmente resolveram descartar o idiota. Ou quem sabe o bastardo do Throop? Ah esse sim... isso realmente tornaria meu dia festivo – completou com selvageria.

Harry lançou a Hermione um olhar de piedade antes de falar.

– Foram os elfos, Mione... Parece que havia alguns na ilha. Não sei, talvez cuidando das crianças, eu... – Ele viu os olhos da amiga turvarem e lançou um olhar para que Rony agisse, ao invés de ficar olhando para ele com uma cara pasmada. O amigo entendeu e correu para abraçar a esposa. Só quando ele já tinha os braços em torno dela, que continuava a fazer negativas com a cabeça, como quem não quer ouvir, é que Harry completou. – A Winky, ela... Eu sinto muito, Mione. Sinto mesmo. Eu não pude...

Harry sempre soube que haveria um dia, talvez por um motivo qualquer, em que Hermione finalmente quebraria. Acontecera com todos. Mas ela tinha se mantido firme, lúcida, uma rocha enquanto o mundo inteiro desmoronava. Ele próprio tinha arrebentado quando vira sua casa destruída e naqueles minutos infernais em que ele nada sabia sobre o que havia acontecido à sua família. Rony tinha perdido o prumo quando se dera conta de que fora ele que entregara o segredo da casa do amigo e da irmã. Depois, quando a notícia chegara ao resto da família, cada um deles teve sua forma de extravasar. Ana passara tão mal, que eles chegaram a temer pelo bebê e agora ela tinha de fazer repouso para que a gravidez não corresse risco. Obviamente que o Sr. e a Sra. Weasley foram uma grande preocupação durante esses dias; filhos, noras e genro permaneceram próximos para mantê-los o mais calmos possível. Gui e Carlinhos fizeram de tudo para conservar a cabeça no lugar por causa das esposas, respectivamente, uma ferida e a outra em estado delicado. Cátia havia se preocupado em manter A Toca (onde todos haviam se refugiado) “funcionando” normalmente, mas ela teve um acesso na manhã em que viu a foto do filho na manchete do Profeta Diário. Obviamente, o jornal noticiou com estardalhaço o rapto das crianças Weasley e da esposa de Harry Potter. Joanne fora incluída entre os desaparecidos e nenhum deles desmentiu o fato. Era melhor que os Comensais pensassem que a menina havia sido esmagada pelos escombros da casa dos Portter.

O desespero de Cátia não foi o único a marcar àquela semana infernal. Percy se solidarizara com a família, mas tentava obstinadamente achar culpados e não parava de lançar a Harry olhares acusadores. Jorge, Alicia e Fleur ainda ficaram alguns dias no hospital e quando saíram tinham no corpo e nos olhos as marcas da dor de terem os filhos arrancados de si. Foi Fred, na opinião de Harry, que mais demorara a quebrar, afora Hermione. No dia em que Fleur – a última a deixar o St. Mungus – viera para casa, Patrícia, esposa de Percy, caíra na besteira de comentar, ante a comoção coletiva da família, de que agradecia não ter filhos. Carlinhos, Rony e Gui tiveram de segurar Fred ou ele teria partido violentamente para cima da cunhada. Foi preciso um bom tempo para que ele se acalmasse e, desde então, Percy não viera mais à Toca acompanhado por ela.

Assim, teria de chegar um dia em que a fortaleza de Hermione ruiria. E foi ali. Harry sempre admirara o quanto a amiga conseguia engolir suas dores, quando muito chorando baixinho, por vezes, escondida até mesmo dele e Rony. Ela reagira num silêncio dolorido quando Rony fora envenenado no sexto ano; e só contara como manteria seus pais afastados da guerra, no ano seguinte, porque estava expondo um plano e não poderia deixar esta parte de fora. Mesmo quando Rony fora torturado pelos beusclainhs, Hermione se mantivera firme (pelo Sirius, ela dizia). A notícia da morte de Winky arrebentou o dique e Rony levou longos e tortuosos minutos para que Hermione parasse de vociferar, se debatendo contra o corpo dele, com o tamanho da injustiça e da crueldade de tudo aquilo, ao mesmo tempo em que não parava de chamar pelo filho.

Harry só voltou a falar quando finalmente só havia soluços esparsos, que ela emitia com o rosto espremido contra a camiseta de Rony, encharcada de lágrimas.

– Isso não vai ficar assim, Mione. Vamos... eles vão pagar... de algum jeito. Vão pagar.

Ela se afastou abruptamente do peito do marido e olhou para Harry como se recém percebesse que ele estava ali. No segundo seguinte, ela tomou distância de Rony levantando do colo, para onde ele a puxara, e enxugou o rosto com violência.

– E não é sentados aqui que isso vai acontecer – falou decidida. – Nosso tempo está se esgotando e precisamos realmente de um plano de ataque. Como se sente? – interpelou Harry que a olhava um pouco assustado com a mudança repentina de atitude.

– Melhor. Hã... as dores no corpo estão passando.

– Ótimo. Mais algumas doses de poção revigorante e você ficará bem.

Rony analisava Hermione, definitivamente aflito. Ele abriu a boca para dizer algo a ela, então pareceu dar-se conta de alguma coisa e se voltou para o amigo.

– Harry? Você nunca ficou assim. Já passou mal em outras incursões na mente de Voldemort, mas eu jamais tinha visto você ficar nesse estado. Tem alguma idéia do que...?

Harry assentiu com a cabeça.

– Oates. Eu compartilhei a mente de Voldemort no corpo do Oates e, ele está morrendo.

Os lábios de Hermione se partiram em espanto.

– Você tem certeza?

– Tenho. Voldemort o está matando. Está sugando a energia vital dele, exatamente como tentou fazer com Gina no primeiro ano dela. Mas Gina resistiu. Oates não parece perceber, é quase como se fosse uma vítima voluntária.

– Ele é voluntário! – falou Hermione sem nenhuma condescendência ou piedade. – Ele matou Gerard Griffin e Tibério Stuart, não matou? Ajudou a torturar o Rony, não foi? Tudo para preparar o terreno para Voldemort, o que não o torna exatamente uma vítima, não é mesmo? Se ele não imaginava que no fim seria descartado, é porque ele é ainda mais imbecil do que tínhamos pensado.

– Mione... – Rony tentou porque ela parecia prestes a desmoronar novamente e toda aquela intolerância soava quase obscena saindo dela.

– O que importa é deixarmos o Harry saudável – ela continuou do mesmo jeito febril. – Recomendo que pare de tentar entrar na mente dele – disse para o amigo – e também não o deixe entrar na sua ou teremos problemas. Vou levar um bom estoque de poções curativas com a gente. Quem sabe ainda consigamos salvar a vida do infeliz. Quero ele devendo!

Com passos decididos e sem dar atenção às expressões espantadas dos dois, Hermione se dirigiu para a porta do quarto.

– Vou convocar todo o pessoal da Ordem e avisar ao Quim que comece a organizar os Aurores. Rony ajude o Harry a tomar um banho, ele vai se sentir melhor. Espero vocês dois lá embaixo.

Ela saiu com os cabelos enfunando para trás, deixando os dois rapazes pasmos e estáticos. Foi Rony quem finalmente sacudiu a cabeça enquanto dava um assobio baixo.

– Cara, eu cresci com a Hermione, somos um casal há dez anos e acho que viverei a vida inteira com ela sem entendê-la completamente.

Harry havia levantado da cama com algum esforço.

– Está falando isso para mim? De onde ela tirou essa idéia de você me ajudar a tomar banho?

– Pois é. Definitivamente assustadora, não é? – Rony conjurou uma toalha com a varinha e jogou no rosto de Harry. – Agora é melhor se apressar menino-que-sobreviveu! Temos uma missão de resgate para fazer – falou num tom quase debochado. – E eu vou esperar exatamente aqui – acrescentou rápido, sentando na poltrona.

Harry sorriu cansado e saiu para o corredor. Uns quinze minutos depois, sentindo-se renovado, ele descia para a cozinha, acompanhado de Rony. Hermione estava debruçada sobre a longa mesa de madeira, a qual parecia afundar no assoalho sob o peso de inúmeros mapas, gráficos e extensas listas de anotações. Ao seu lado, de forma deliberadamente visível, a espada mítica refulgia à luz das inúmeras velas e lamparinas que precisavam ser acesas ali, mesmo durante o dia.

– Todos avisados – ela anunciou assim que eles entraram, embora continuasse com os olhos fixos no material que estava estudando. – Esta é a lista dos Aurores que participarão da ação e os grupos de comando – ela passou para Harry um pergaminho coberto de nomes – e estes são os membros da Ordem – deu a Rony outra lista igualmente extensa. Os dois passaram os olhos pelos pergaminhos e depois os trocaram entre si. – Achei melhor que McGonagall e os outros professores da escola permanecessem em Hogwarts. Temos de nos precaver caso eles tenham algum plano alternativo e tentem pegar mais crianças como reféns. Não sei se ela gostou muito, mas concordou comigo que era o mais sensato a fazer.

Os dois assentiram um pouco atordoados com a eficiência dela.

– O pessoal do Carlinhos está pronto também, só aguardando as suas ordens, Harry. Rony você vai com eles.

– Vou? Eu achei...

– Não, Rony. O Pendragon nos informou muito bem onde você tem que estar. Você vai com o pessoal do Carlinhos.

Rony lançou um olhar ao bracelete enroscado em seu pulso e achou melhor não discutir.

– Certo, mas nesse caso, teremos de ter um sinal ou eles nos verão chegar antes que Harry tenha tempo de tomar pé da situação – falou enquanto se punha a analisar os mapas.

– Não sei se poderei dar algum tipo de sinal... Talvez devamos combinar um tempo ou algo assim – comentou Harry, sentindo-se novamente um pouco tonto e levando a mão à mesa sob a desculpa de também ver o material sobre ela. – Essa identificação minha com Voldemort pode nos trazer surpresas. Quando eu estiver lá, eu não sei exatamente o que pode acontecer com os malditos poderes que eu tenho e nem com os que ele tem. Nunca “funcionamos” direito, um com o outro.

– Deixe o sinal por minha conta – disse Hermione e Rony pareceu não gostar muito da idéia, mas não disse nada em voz alta. – Agora, temos que dividir todo esse pessoal em grupos de assalto e repassar todos os detalhes antes que eles comecem a chegar.

– Comecem a chegar? – questionou Harry, enquanto baixava mais a cabeça e fechava os olhos. A tontura poderia ser ainda efeito da febre da noite anterior, pensou. Afinal, sua cicatriz estava inerte naquele momento, talvez fosse apenas fraqueza.

– Sim – retorquiu Hermione – precisamos de todos aqui antes de partirmos.

– Não seria melhor marcarmos um ponto de encontro? – quis saber Rony.

– Não Rony. Temos de colocar uma gota de sangue de cada uma das pessoas que vai, dentro do Graal. Não dá para fazer isso num ponto qualquer da costa antes de seguirmos para a ilha.

– E você vai pôr toda essa gente aqui dentro para fazer isso? – Rony colocou as duas extensas listas na frente dela.

– Claro que não. Eu marquei horários diferentes para cada um desses grupos. Teremos umas três horas ainda antes que eles comecem a chegar e isso vai nos dar tempo para acertarmos os detalhes do plano e podermos instruir a todos. Também estou aguardando algumas informações de Tonks e Lupin sobre a região próxima à ilha. E Quim daqui a pouco estará aqui para combinarmos os detalhes e... HARRY!

A voz aflita dela, porém, soou longe e desinteressante para Harry. Só o que ele via importava, mas ele também se deu conta de que precisava ouvir com atenção e, se conseguisse, teria mandado Rony e Hermione, que se alvoroçavam a sua volta, ficarem quietos e pararem de chamar por ele. Uma cadeira foi empurrada contra a parte de trás dos seus joelhos e ele sentou, mas naquele momento a tontura já tinha ido embora, assim como a visão. Harry respirava pesada e dolorosamente.

– Parem... – pediu cansado aos outros dois. – Eu estou bem. Parem de gritar.

– Harry o que aconteceu? Você ficou pálido, parecia que já começaria a gritar de novo.

– Voldemort tentou acessar a sua mente? – Hermione lhe empurrava nas mãos um copo com o que ele reconheceu como poção revitalizante. – Eu disse que você deveria se fechar, Harry. Ele está tentando enfraquecê-lo...

– Não foi Voldemort. Foi Gina.

Um silêncio caiu na sala e os outros o olharam como se ele tivesse pirado.

– Ela tem tentado fazer contato há dias, mas eu estava tão concentrado em Voldemort que não percebi... Parem de me olhar desse jeito! Não enlouqueci. Eu cheguei até a vê-la na noite passada.

– Harry – Hermione fazia esforço para falar calmamente – você tem certeza? Ainda está fraco. Talvez...

– Ah Hermione não comece! – disse perdendo a paciência. – Não sou criança! Eu sei exatamente o que eu vi!

– Mas não faz sentido. Quero dizer, você entra na mente de Voldemort porque vocês têm essa ligação, a identidade mágica, mas com a Gina...

– Depende Mione – atalhou Rony pensativo, sem tirar os olhos de cima de Harry. Ele ainda mantinha a mão no ombro do amigo sustentando-o na cadeira.

– Depende do quê?

– Nunca conseguimos mapear direito os poderes da Sétima Filha. Talvez ela possa entrar na mente das pessoas se quiser, ou em determinadas circunstâncias.

– Legilimência à distância? – ela questionou cética.

– Talvez não só isso. Você lembra quando o Malfoy voltou? Lembra como ela agiu? Eu tive a impressão de que ela entrou na mente dele e o fez ver coisas que ele não queria.

– É diferente Rony! Ela estava a menos de dois metros dele, era fácil manter contato visual.

Rony abriu a boca para retrucar, mas Harry os interrompeu.

– Será que vocês podem dar um tempo! Primeiro, Gina não entrou na minha mente, eu a vi! Foi como se ela, sei lá... tivesse se projetado, ou algo assim. É um poder raro, mas existem referencias dele, não? – Hermione concordou a contragosto. – E depois, não é mais fácil decidirem se estou maluco ou não depois de ouvir o recado que ela mandou?

– Gina mandou um recado? – os dois perguntaram em uníssono.

Harry revirou os olhos e levantou da cadeira. As pernas estavam firmes e ele pode andar pela sala. Sem pensar, caminhou exatamente até o lugar em que a imagem de Gina estivera. Fechou os olhos por um instante, tendo a impressão de que poderia sentir o cheiro dela ali e o seu peito se apertou numa saudade tão intensa, que era como se alguém o estivesse ferindo. Mas talvez, nisso, ele estivesse realmente delirando. Voltou-se para Rony e Hermione que o olhavam curiosos.

– O que sabemos sobre a fortaleza que tem na ilha?

– Apenas o que o Malfoy contou – disse Hermione. – Que ela é subterrânea.

– Mais algum detalhe?

– Não – falou Rony girando a cadeira onde Harry estivera e sentado a cavalo nela. – Acha que isso é importante?

– Gina disse para conseguirmos informações sobre a fortaleza. Ela e as crianças estão presas lá dentro. Não podemos supor que ao chegarmos eles estejam na superfície ou que os acharemos rapidamente se entrarmos lá dentro. Gina também teme que eles tentem fugir ou até levar a ela e as crianças para outro lugar através de passagens secretas. – Ele cruzou os braços, desafiador. – Então, acham que inventei ou que ela esteve aqui?

Hermione deixou os ombros caírem. Não pareceu que o contestaria.

– Como ela sabe que iremos em grupo?

– Foi a primeira coisa. Gina disse que tinha pouco tempo, que Voldemort estava a minha espera e perguntou se eu iria sozinho, como tentei fazer da outra vez, há nove anos. Quando eu neguei, ela começou a dizer o que a estava preocupando. E pode ser que tenhamos realmente dificuldades com a estrutura da fortaleza, pois ao que parece todas as entradas estão camufladas.

– Que ótimo! – Resmungou Rony, parecia contrariado com a situação, mas não demonstrava duvidar mais da aparição de Gina para o marido. – E como, supostamente, vamos conseguir a planta do maldito lugar? Alguém que conhecemos já esteve lá?

– Bom, o Malfoy me pareceu bem informado – comentou Harry, satisfeito por não ter mais oposição. Interessante como a aceitação dos outros dois lhe deu a sensação de que realmente Gina estivera ao seu lado.

A sala caiu em silêncio por uns dois segundos, então Hermione pegou sua varinha e seguiu determinada em direção à lareira ao lado do fogão.

– Nesse caso, só há uma coisa a fazer.

– Aonde você vai? – perguntou Rony se erguendo, mas ela já tinha pegado um punhado de Pó de Flu e entrado na lareira.

– Fazer uma visita ao Malfoy, claro. – Jogou o pó e anunciou: – Lar de Elisabeth!

E, numa lufada de chamas verde-esmeralda, ela sumiu; deixando, pela segunda vez no dia, os dois rapazes, completamente boquiabertos, para trás.

– É, ela está realmente fora de controle – comentou Harry.

– Tem vezes que a Hermione me apavora de verdade – afirmou Rony num sussurro assombrado. – Vamos! Não tenho simpatias pelo Malfoy, mas não acho que fará bem para a saúde dele ser interrogado pela Mione sem supervisão.

Os dois usaram a lareira um de cada vez e quando Harry emergiu na sala da diretora do orfanato da Ordem, apenas Sarah o aguardava, esfregando as mãos nervosamente.

– O que houve Harry? Hermione chegou aqui perguntando pelo Draco e saiu da sala como um tufão. O Rony foi atrás dela.

– Estamos pressionados pelo tempo, Sarah – explicou Harry indo em direção à porta que saía para o interior do prédio. Ela o seguiu. – Nosso prazo esgota amanhã e precisamos de algumas informações. Talvez Malfoy possa dá-las.

– Se não puder terá de inventar – disse Sarah apressando o passo para acompanhá-lo. – Hermione não me pareceu estar disposta a aceitar um não como resposta.

– É. Foi por isso que viemos atrás dela.

– Harry? – Ela tomou fôlego como se precisasse de coragem para falar. – Eu vi que hoje pela manhã todos os membros da Ordem foram avisados para se prepararem para ir salvar as crianças amanhã à noite. – Harry continuou resolutamente não olhando para ela. – Sei que sou nova por aqui, talvez vocês ainda não confiem plenamente em mim, mas tenho me esforçado para me tornar uma boa bruxa. Então, eu queria saber por que eu...

– Como pode dizer que não confiamos em você, Sarah? Acha que administraria esse lugar se não confiássemos? – Ela respirou para voltar à carga, mas Harry parou e finalmente olhou para ela. – Não podemos levar todo mundo, Sarah. E isso não é uma escolha de quem é melhor ou não. É uma estratégia. Não podemos deixar lugares como este ou Hogwarts, desprotegidos. Precisamos que fique aqui. Precisamos que proteja as crianças que estão aqui.

Ela o olhava muito séria e Harry podia ver que ela concordava, mas havia algo que a estava atormentando.

– Eu... eu entendo, apenas...

– Qual o problema? – Harry usou um tom de voz consolador e persuasivo.

– Olha Harry, eu sei que vocês todos têm resistências ao Severo. Acredite, não os culpo. Sei que ele é difícil e, muitas vezes, insuportável. Sei que ele pode ser muito mesquinho, mas... ele traiu aquela gente. O que acha que os Comensais farão assim que colocarem os olhos nele?

Harry passou a mão pelos cabelos, desconfortável. Ela tinha razão.

– E não acho que algum de vocês se desviaria de salvar as crianças para salvá-lo, não é?

– Ninguém simplesmente o deixará ser morto, se é isso que pensa, Sarah – defendeu-se Harry, indignado. Afinal, o que ela pensava? Que usariam o irmão dela como escudo humano?

– Além disso – a voz de Severo Snape se ergueu contrariada atrás dos dois – é presumível que um bruxo da minha idade com as minhas qualificações, saiba se defender, não é mesmo Serena? Acredite, quando me alistei nesse serviço, eu “li as letras miúdas do contrato”.

Ela colocou as duas mãos na cintura e o fuzilou com o olhar. Harry já observara mulheres o suficiente para reconhecer a atitude. Não tinha certeza de que um misantropo como Snape saberia lidar com aquilo.

– Letras miúdas ou não, você é meu irmão, Severo! Não pode pedir que eu não me preocupe ou que não queira ir para ficar de olho em você.

– Não preciso nem de babá nem de guarda-costas, muito obrigado! – vociferou Snape lívido.

Harry começou a achar a situação muito constrangedora, especialmente porque envolvia Snape; a quem ele jamais imaginara tendo qualquer espécie de relação afetiva. Por outro lado, o ex-professor também não parecia estar nada satisfeito com esse tipo de exposição em frente ao garoto. Sem esperar que a discussão prosseguisse, o rapaz perguntou por Draco e, no que teve a resposta, saiu o mais rápido que podia pelo corredor, pisando forte para tapar as recriminações de Sarah e os sibilos de Snape.

Acabara de começar a subir as escadas para chegar ao quarto ocupado por Malfoy no orfanato e Snape emparelhou com ele. Tinha as sobrancelhas unidas numa única e os lábios crispados.

– Desconsidere as preocupações da minha irmã – falou em tom de ordem.

Harry simplesmente deu de ombros e Snape rosnou entre os dentes.

– Ao que parece, seus argumentos foram mais convincentes que os meus. Ela se conformou em ficar tomando conta do orfanato.

– Apenas falei a verdade.

– Humm.

Os dois continuaram a andar em silêncio. Harry não achou que pudesse conversar normalmente com Snape sobre qualquer outra coisa que não a única que eles tinham em comum: a luta contra Voldemort. O acordo mudo de tolerância entre eles, certamente não incluía qualquer tipo de confidência pessoal.

– Afinal, o que o “trio perfeito” veio fazer aqui? – perguntou Snape com rispidez.

– Queremos umas informações do Draco – respondeu Harry com displicência, sem dar atenção à provocação.

– Eu posso saber sobre o quê, ou é algum tipo de conhecimento privilegiado?

– Bem, não será mais depois que o Draco falar.

Harry pensou um pouco e num impulso contou tudo o que acontecera a Snape. Preferira mil vezes ter repartido aquilo com Dumbledore ou com Lupin, mas o diretor partira há muito tempo e Lupin não estava ao seu lado naquele instante. E ele precisava de uma opinião que não fosse a de Rony e Hermione. Os amigos, quase sempre, tendiam a ver as coisas pelos seus olhos. Contou sobre as aparições de Gina, sobre o contato com a mente de Voldemort no corpo já moribundo de Oates e sobre a libertação de Mefistófeles. Snape ouviu tudo em silêncio, enquanto os dois continuavam a andar vagarosamente, e pareceu pesar cada uma das informações antes de tornar a falar.

– Parece que o Lord das Trevas tem todas as peças no tabuleiro.

– Também temos nossas cartas na manga, Snape.

– É... o Graal, uma espada que não pode ferir, alguns dragões e, claro, os poderes mal conhecidos e não dominados da sua mulher. Diga, Potter: você tem alguma idéia sobre como essas coisas poderão ser usadas? Porque acredite, o Lord das Trevas sabe exatamente o que fazer.

– Você se esqueceu de contar mais uma coisa a nosso favor – Snape arqueou a sobrancelha – eu. Ainda sou o único com o poder de destruí-lo.

Snape negou com a cabeça, muito desagradado.

– Sempre o mesmo tolo arrogante, não é Potter? O Lord das Trevas conta com anos de planejamento e, até onde pudemos perceber, Enos Throop não costuma deixar coisas ao acaso. Mas o fantástico Harry Potter acha que pode se dar ao luxo de ir ao encontro deles contando forças que não domina e... sorte – falou com desdém. – Achei que todo esse tempo o tivesse tornado mais cuidadoso, mas pelo visto você continua o mesmo garoto presunçoso e descuidado de antes. Você cresceu e apenas conseguiu ficar ainda mais parecido com o seu pai.

– Deixe o meu pai fora disso – Harry falou sem se alterar enquanto encarava o ex-professor. Era o tipo de provocação que há muito não mais o incomodava. Ou talvez, Snape achasse que esta era a forma pedagógica de fazê-lo agir diferente apenas para provar que estava errado. Ele estava enganado em mais de uma dessas idéias. – Em que momento eu dei a entender que não sei exatamente o que vou fazer, Snape?

– Sabe? E o que... – Snape estreitou os olhos perfurando os de Harry, mas o rapaz nem ao menos alterou a expressão para bloqueá-lo. – Demônios! O que é que você pretende fazer, Potter?

Havia raiva e receio na voz dele, Harry se limitou a um meio sorriso.

– O necessário. – Snape abriu a boca, mas o garoto não o deixou falar. – Não é o que sempre fazemos? Não é o que Dumbledore esperava que fizéssemos? Apenas o que fosse necessário para livrar o nosso mundo dele.

– Dumbledore sempre esperou que você ficasse vivo.

– Ganhei quase dez anos de bônus. Foi bem mais do que os meus pais tiveram.

– Vai tornar o sacrifício deles em vão, então? Acha que sua mulher e seus amigos entenderiam isso?

– Não, provavelmente eles não entenderão agora, mas... depois que tudo acabar. Quanto aos meus pais, tenho certeza de que apoiariam minha decisão.

Snape deu um passo na sua direção.

– Escute, seu pequeno idiota, não acha que se eu acreditasse que essa era a única maneira eu mesmo não o instruiria sobre o que fazer?

– Você tem um plano alternativo? Que ótimo, Snape, porque eu estou aberto a sugestões!

Os dois se enfrentaram em silêncio. Deixar Harry levar adiante o seu plano significava, para Snape, perder a batalha que ele lutava a vinte e seis anos. Aquela que iniciara quando ele prometera proteger o bebê cujos pais ele tinha levado à morte. A sua guerra particular contra Voldemort significava manter Harry vivo, fora assim que ele a encarara por todos aqueles anos. Por mais que tivesse raiva do garoto, por mais que visse nele o pai e o padrinho que ele tanto odiara. Voldemort morto não bastava. Snape precisava que Harry continuasse vivo para que ele pudesse insultá-lo, xingar o Tiago através dele, ver os netos de Lílian em seu colo, para que ele pudesse se sentir vencedor naquela guerra.

– Você tem poderes que muitos bruxos venderiam a alma para ter e vai simplesmente escolher morrer? – rosnou baixo.

– É. E sabe, é uma decisão absurdamente fácil se isso significa que Lyan e Gina sairão inteiros de lá.

– É uma maneira tola de usar tanto poder.

– A magia do sacrifício já se mostrou eficiente uma vez. Você mesmo me acusou a pouco de contar com a sorte. Viu? Não estou contando com ela ou com amigos mais habilidosos, como você me culpou certa vez.

– Não era esse o seu poder de que Dumbledore tinha tanto orgulho.

– Snape, Dumbledore está morto. Talvez ele pudesse ter me dito mais coisas, me ensinado mais, mas não podemos contar com isso agora. Você sabe tanto quanto eu que nem que fossemos ao quadro dele ou mesmo à sombra que ele colocou no Espelho de Ojesed teríamos mais do que temos. Farei qualquer coisa para destruir Voldemort e manter a minha família a salvo. É assim que vai ser e pronto. E eu agradeceria que mantivesse sua boca fechada. Não quero que Rony e Hermione saibam, eles intuem, mas não tem certeza do que pretendo. E eu prefiro que não tenham.

Uma luz se acendeu nos olhos negros do ex-professor.

– Você já eliminou Voldemort uma vez. Se tivesse morrido naquela ocasião ele nunca mais poderia retornar. Talvez pudesse voltar como uma alma penada, mas fisicamente... só você pode conceder um corpo a ele. Vocês têm o mesmo sangue, a mesma identidade mágica. Está ciente de que seus filhos partilham disto, não está? Acha que se deixar abater num matadouro vai livrá-los de, no futuro, ter de passar por tudo isso? E pior, passar por isso sem a sua ajuda.

– O sacrifício da minha mãe me salvou.

– Por quanto tempo? Ela salvou a sua vida, mas o colou a ele para sempre! Pense, Potter! Destruí-lo não é o suficiente! Destruir-se para conseguir isto é apenas acabar com nossa principal arma contra ele!

– Não é verdade. Temos Gina e...

– Sua mulher é inútil enquanto não entender o que é capaz de fazer. Todos os bons bruxos da Ordem são apenas isso: bons bruxos.

Harry puxou o ar com força. Aquela conversa não estava levando a nada.

– Se você tem algum plano melhor, Snape, eu sugiro que o dê. E logo.

– Bem, nesse caso, a nossa conversa está tomando o meu tempo – disse com determinação e sem esperar que Harry reagisse, ele o ultrapassou, mancando apenas levemente e seguindo pelo corredor em direção ao andar de baixo. – Eu entro em contato.

Não havia como negar que uma grande parte de Harry – aquela que queria ver seus filhos crescidos, que queria ter Gina novamente em seus braços – estava desesperada para que Snape achasse essa saída que ele pensava existir. Porém, havia igualmente uma enorme porção, resignada e cética, que somente queria que aquilo acabasse de uma vez. Como naqueles momentos em que, independente da idade que se tenha, você sente muito velho e cansando para continuar. Harry conhecia essa sensação desde que vira a primeira pessoa ser assassinada diante dos seus olhos. É um tipo de luz que se apaga dentro da gente para sempre. Depois de todos aqueles anos, ele sabia que apenas estar do lado certo em uma guerra não a tornava mais suportável. Ele tinha uma idéia de como acabar com ela para sempre. E era o que ia fazer.

Algumas crianças apareceram na ponta do corredor junto com uma monitora que tentava impedi-los de correr. O grupo passou por ele ruidoso e alegre, sem dar muita atenção ao bruxo adulto, apenas a monitora fixou os olhos em Harry por um segundo a mais e abriu a boca impressionada. O rapaz se limitou a sorrir e fazer um breve aceno de cabeça. Havia poucas crianças no orfanato naquela época do ano. As aulas em Hogwarts ainda não tinham terminado e somente os menores, que ainda freqüentavam o ensino fundamental estavam por ali. Certamente que alguns deles já tinham ouvido falar de Harry Potter, alguns até mesmo já o haviam visto em festas e outras visitas dele ao lar de Elisabeth, mas naquele momento, pareciam tão absortos na vontade de correr e decidir quem seria a vítima da próxima brincadeira de pegador que o bruxo adulto lhes passou quase despercebido.

O grupo sumiu ao dobrar o corredor. Se forçando a não pensar nos filhos e sequer imaginar sobre o que ele estava disposto a abrir mão, Harry seguiu na direção oposta, só parando quando chegou à frente da porta do quarto de Malfoy. Bateu umas três vezes e entrou sem esperar convite, não achava que fosse necessário já que Hermione e Rony já estavam lá. A última coisa que esperava foi que Draco o olhasse como a um salvador. Não que ele não compreendesse o porquê.

– Escuta aqui, Malfoy: eu posso não ter os poderes da Gina ou do Harry, – esganiçava furiosa, Hermione – mas eu sei usar uma varinha com perfeição e ainda tenho um ótimo cruzado de direita, se você está lembrando, então é melhor ir abrindo essa matraca!

– Potter! – Draco levantou da poltrona onde Hermione o tinha imprensado e caminhou em passos largos para o outro lado do quarto, indo ficar perto de uma cômoda, encimada por um espelho antigo. – Quer fazer o favor de segurar essa maluca, já que o marido dela parece incapaz de fazer isso!

Harry trocou um breve olhar com os dois amigos ao mesmo tempo em que analisava rapidamente o lugar. Era um quarto confortável, mas não muito grande. Havia uma cama de madeira escura com uma mesinha de cabeceira, um pequeno guarda-roupas de duas portas e a cômoda. Próxima à única janela uma faustosa poltrona de veludo verde, que não combinava em absoluto com o resto do ambiente.

– Acho mais fácil você responder o que a Mione está perguntando, Malfoy.

Uma expressão de desprezo perpassou as feições pálidas de Draco.

– A bruxidade certamente ficaria encantada em conhecer o comportamento intimidante usado pelos seus maiores heróis, não é mesmo!

– Com certeza – concordou Harry – porque você não dá uma exclusiva para a Rita Skeeter? Ela ficaria encantada em mostrar o seu ponto de vista. Quero dizer, o ponto de vista de um ex-Comensal que se recusa a dar informações que podem ajudar a nos salvar de uma nova ameaça. Wow! Pensando bem, foi exatamente isso que aconteceu da outra vez, não foi? É claro que naquela você estava envolvido e agora... bem, sabe como é, Malfoy? As pessoas costumam a ser realmente preconceituosas. Mas não se preocupe, se Rita for favorável (embora ela não aprecie esse ângulo da notícia) eles irão perdoar você.

– Você é um cretino, Potter.

Harry se limitou a cruzar os braços, enquanto Rony dava uma risada debochada.

– Está bem – ele disse resignado, mas com a cara de quem ia extrair um dente – eu falo. Mas eu tenho um preço.

Houve um bufo alto e Rony precisou avançar, meio atropelado, da parede onde estava escorado e segurar Hermione.

– Você é um doente, Malfoy! Sabe o que está em jogo e fica se fazendo de importante. Será que nem com crianças correndo risco de vida você é capaz de se comportar como um ser humano? Seu canalha, filho da...

– Mione, por favor, se acalma!

Rony estava tendo muito trabalho em controlá-la, pois Hermione não parava de saltar querendo atingir Draco e de insultá-lo com nomes que nenhum dos dois amigos jamais a tinham ouvido falar.

– Harry! – Rony pediu apavorado para que ele fizesse alguma coisa.

– Eu imagino – disse Harry, erguendo a voz para se sobrepor aos palavrões ditos por Hermione – que eu não preciso lembrá-lo de que só estamos te perguntando por educação. Que temos formas de conseguir o que queremos, sem precisa contar com a sua “boa vontade”.

– É mesmo? E eu poderia lembrá-lo Potter, que sou um excelente oclumente. Até onde sei, melhor do que você!

– E eu tenho veritasserum no meu bolso em quantidade o suficiente para fazer você narrar em detalhes a última vez em que fez xixi na cama! – Berrou Hermione irada, mas ao menos ela já não saltava e apenas rosnava os nomes pelos quais continuava a chamar Draco.

– Será que vocês dois não podem controlá-la?

– Não, e nem tentaríamos. Mas podemos diminuir nosso tempo de convivência – sugeriu Harry num tom educado. – O que acha de voltarmos ao assunto que nos trouxe aqui? Você já esteve na fortaleza do Throop.

Obviamente não era uma pergunta e Draco não negou, contudo havia uma forma como seus olhos corriam pelo ambiente que sugeria que ele estava tentando pensar rápido. Parecia alguém em busca de uma saída, ou tentando aproveitar uma oportunidade. Uma espécie de sexto sentido disse a Harry que havia algo mais ali, possivelmente algo de grande importância para Draco Malfoy.

– Diga o que quer.

Os olhos azul pálido lampejaram ao ouvir isso.

– Você garante que fará o que eu pedir e eu lhe conto o que quiser sobre o lugar.

– Caramba, Malfoy! Para de enrolar ou eu vou usar o “meu” método – rugiu Rony perdendo a paciência a ponto de soltar Hermione e inverter a situação, pois foi ela que o pegou pelo braço dessa vez.

– Não vou te dar nenhuma garantia além das que já te dei, Malfoy – Harry continuou sem se alterar. – Você não está em Azkaban e já falei que quando isso acabar terá meu testemunho de sua colaboração para reaver a sua fortuna. Isso é bem mais do que você merece.

O controle de Harry certamente pareceu a Draco mais ameaçador que os destemperos de Rony e Hermione. Talvez por isso, ele tenha resolvido mudar de tática e passar a uma abordagem direta.

– Quero ir com vocês.

– Ah bom! – disse Rony aliviado. – Por que não falou antes? – Ele virou para Harry e Hermione com os olhos vidrados e rodou um dedo ao lado da cabeça mexendo com os lábios: “Maluco”!

– Eu estou falando sério!

– Claro que está – continuou Rony com o mesmo tom condescendente. – Nós não estamos rindo, estamos?

Sem dar atenção ao deboche, Draco fixou os olhos em Harry.

– O que você diz?

– Por que diabos eu levaria você?

Novamente ele correu os olhos pelo aposento, como se esperasse alguma idéia brilhante pular de uma fresta.

– Eu quero participar disso. Eu dou as informações que vocês querem, e ainda marco a minha redenção com um ato heróico.

– Conta outra – resmungou Rony, enquanto Hermione o olhava negando com a cabeça como se achasse inacreditável o que ele sugeria.

– Pensei que a você bastasse ter de volta sua mansão e seus galeões – comentou Harry.

Draco esboçou um sorrisinho nervoso.

– Acho que esta seria realmente uma boa manchete para o Profeta.

– Sinto muito, Malfoy – Harry falou no mesmo tom agradável. – Mas nada feito. Acho melhor você simplesmente se contentar em voltar a ser obscenamente rico. Não creio que ser heróico seja bem a sua praia.

– E é a sua, não é? Assassino.

Os braços de Harry descruzaram imediatamente e a calma que ele mantinha evaporou no mesmo instante.

– Cala a boca, Malfoy! – ameaçou Rony.

– Por quê? Os ouvidos sensíveis do seu amigo não podem ouvir a verdade? Você matou a minha mãe, Potter.

– Eu já disse que nunca pretendi matar ninguém. O que aconteceu foi um acidente.

– É, um acidente que saiu da sua varinha e da do Longbotton.

– Sua mãe usava o rosto da Bellatrix. O que queria, que convidássemos ela para o chá? Estávamos em guerra. Foi um duelo justo.

– Do seu ponto de vista. Do meu, você, Longbotton e minha “querida” titia foram os responsáveis pela morte da minha mãe! Acho que nossas idéias de justiça são bem diferentes. – Ele deu uns dois passos na direção de Harry com as mãos crispadas de ódio; Rony também se aproximou, pronto para impedi-lo se tentasse qualquer coisa. – Você está me devendo, Potter!

Harry fez um grande esforço e quando falou sua voz era firme e controlada.

– Já discutimos isso, não Malfoy? E eu lhe disse: não te devo nada! Não depois de você ter enchido Hogwarts de Comensais da Morte. Não depois de você ter planejado e proporcionado as condições para que Dumbledore fosse assassinado! – Foi a vez de Harry avançar com os punhos igualmente fechados. – Se um feitiço seu nunca matou ninguém não foi por falta de tentativa, certo? Estamos quites.

– NÃO! Não estamos! Eu quero... Potter você me deve ao menos a chance de tentar salvar o meu pai!

Por longos segundos nenhum deles soube o que dizer. Harry e Draco continuavam a fitar-se com um ódio intenso e Rony tinha a boca levemente aberta, absolutamente chocado. Foi Hermione que se manifestou primeiro.

– Você tem idéia do que está pedindo, Malfoy? Seu pai tem sido o pior, o mais...

– Exato! – atalhou Rony segurando a esposa pela mão antes que ela perdesse as estribeiras novamente. – Você só pode estar maluco em querer negociar uma coisa dessas.

Os olhos de Draco, porém, continuavam fixos em Harry e ele sabia o porquê. Era na sua culpa que ele pretendia encontrar uma brecha para o seu pedido. Afinal, naquela negociação, de repente, não era Lucius Malfoy que estava em questão, mas a única família de alguém cuja maior perda pessoal na guerra anterior se devia a Harry. Por um instante, ele conseguiu até mesmo se impressionar com a inteligência do ardil, especialmente vindo de Draco. Talvez, exatamente por isso, ele soubesse que seu inimigo de infância não havia pesado todas as variáveis daquele pedido.

– Em todo o tempo em que eu te conheço, Draco, eu jamais imaginei que você fosse tão corajoso – ironizou. – Se voluntariar para entrar, com um grupo invasor, no covil de uma gente a quem você desertou e traiu? Uau! Estou impressionado. Me diga, você tem algum plano de ação caso concordemos em levá-lo conosco? Sim, porque lá no meio da batalha, eu não sei se você conseguirá manter sua confortável posição em cima do muro. Pense Malfoy! Terá de escolher um dos lados e não poderá errar. Um segundo de indecisão e você estará carimbando sua passagem ou para Azkaban ou para o inferno. Além disso, caso você pretenda se bandear para o lado deles, espero que tenha certeza de que eles vão ouvi-lo antes de mandar maldições contra você. Digo isso porque, quando você chegar naquela ilha com o exército que estamos preparando, eles saberão que você os traiu mais uma vez e... misericórdia não é exatamente uma das qualidades do seu senhor, não é? Será que o seu pai vale todo esse esforço?

Draco engoliu em seco e, por um instante, Harry teve a desagradável impressão de que ele ia chorar, o que, para seu alívio, não aconteceu.

– É-o-meu-pai, Potter – crocitou entre os dentes.

– Sei – disse Harry com aversão. – O homem que usou uma garotinha de onze anos para atingir o pai dela, me matar e levar o horror a uma escola infantil. O mesmo que, bêbado, juntou um bando de mal-feitores e torturou trouxas inocentes na Copa Mundial. Que pretendia ser conivente com o assassinato de um garoto de quatorze anos! Que não hesitou em mandar maldições mortais contra seis bruxos menores de idade! E, claro, não tenho como esquecer de todos os que ele torturou e matou ao longo da guerra! Você quer que eu ignore todas essas coisas e deixe que você o resgate?

A cada acusação, Harry avançava sobre Draco, que recuava com o rosto estranhamente contorcido.

– Não estou negando o que o meu pai fez. Só quero que ele fique vivo.

– Seu pai não presta! Acha que pode pedir por ele depois de tudo o que ele fez? Acha que vamos explicar nosso plano em detalhes para um pequeno canalha como você, para que chegue lá e ache um jeito de contar tudo a eles?

Draco arquejou. Parecia novamente a beira das lágrimas.

– Se ele não – falou com visível esforço – não participar a batalha, pode haver uma chance dele ser julgado, não pode? Sei como vocês agem... Aurores, a Ordem, vocês não lançam maldições mortais, não matam a não ser em último caso...

– Pensei que tinha me chamado de assassino ainda há pouco.

– Potter, eu estou me oferecendo para tirar de circulação um dos seus inimigos mais poderosos. Posso me aproximar e estuporá-lo. Ele ficará fora de combate e depois, você poderá levá-lo a julgamento. Tem a minha palavra. – Era impressionante, mas a imitação de sinceridade soava bastante genuína, mesmo para quem conhecia muito bem o Draco.

– Sua palavra não vale nada, Malfoy – disse Rony que o olhava como se estivesse sendo obrigado a observar uma larva particularmente asquerosa. – Só está fazendo isso porque você mesmo traiu o seu pai e não quer a morte dele pesando nas suas costas. E julgamento? Com todo o ouro que você irá colocar a mão? Você dará um jeito de provar mais uma vez que ele foi o quê... uma vítima das circunstâncias?

Harry se virou para Hermione. Ela assistia a toda a discussão quieta, de mãos dadas com Rony e, pelos nós dos dedos esbranquiçados, dava para perceber que sua posição não era muito diferente da dos dois rapazes.

– Mesmo que houvesse uma remota possibilidade de que seu pai merecesse qualquer tipo de piedade – ela falou com a voz surpreendentemente calma – nenhum de nós arriscaria a operação incluindo você nela. Eu sinto muito, Draco.

A fala de Hermione era definitiva e por mais que Harry se sentisse culpado em relação à Draco, ele não arriscaria a sua própria família por um verme como Lucius Malfoy.

– Eu faço um Voto Perpétuo!

Se Harry estivesse segurando qualquer coisa naquele momento, teria deixado cair.

– Vo-você o quê? – balbuciou Rony, incrédulo.

– Faço um Voto Perpétuo. Do que vocês quiserem. Faço um mapa da casa, dou as minhas lembranças para que vocês examinem. – Ele deu um passo na direção de Harry. – Estou sendo sincero, Potter. Você pode dizer o que quiser dele, mas é o meu pai e eu já o abandonei uma vez, não quero fazer isso de novo. E, para que fique bem claro Weasley – ele se voltou e enfrentou Rony – assim que colocar a mão na minha fortuna vou fazer o que puder para libertá-lo, sim. Estou jogando limpo. O que vocês três me dizem?





Uma hora depois, já sentados na cozinha do Largo Grimmauld e tendo cada uma fumegante xícara de chá nas mãos, o que havia acontecido ainda parecia irreal.

– Eu não acredito termos concordado com isso – disse Rony pelo que Harry contou ser a sétima vez.

– Está feito, Rony.

– É – concordou Hermione com um suspiro – nunca pensei que o Draco considerasse tanto assim o pai.

– Por que não consideraria? Sempre teve tudo o que quis. Nunca me pareceu que os Malfoys fossem maus pais – comentou Harry.

– É. Lembram? Tudo era meu pai isso, meu pai aquilo, bolinhos e doces que a “mamãe” mandava numa carga semanal para ele... sustentou Crable e Goyle por anos – resmungou Rony.

– Eu... eu até fiquei com pena dele.

– Ah Hermione! – Reclamou Rony como se ela tivesse derrubado alguma coisa nojenta em cima dele.

– Mas é verdade! É claro que eu o detesto, quero dizer detesto os dois, e acho que nenhum deles vale o ar que respira, mas... você conseguiria olhar no rosto do seu filho se tivesse impedido alguém de salvar o próprio pai? – Rony não respondeu, apenas mexeu-se incomodamente na cadeira. – Ele só quer tirá-lo de combate. Lucius irá para as mãos das autoridades do Ministério e Draco não pode nos trair porque fez o Voto Perpétuo. Acho que estamos bem escudados. Fizemos a coisa certa.

Nem Harry nem Rony conseguiram concordar ou discordar. O provável é que tivessem feito uma grande besteira.

Distraíram-se do caso Malfoy quando os membros da ordem e os Aurores começaram a chegar em grupos para se interarem dos planos de ataque e, cada um, depositar uma gota de sangue na pedra do Graal, que permitiria Harry a levar um exército para dentro da fortaleza dos Comensais. Por decisão de Hermione, com total concordância de Harry, eles preferiram dizer apenas que se tratava de uma poderosa pedra mágica. O nome Graal causaria comoção e era o tipo de publicidade que não agradaria em nada a Harry se vazasse. A pedra fora colocada ao centro da mesa da cozinha sobre uma baixela de prata lavrada que se encaixava a um pedestal. Dobby, que veio trazer o almoço para os três, a tinha encontrado em meio aos refinados pertences da família Black e insistira que um objeto como aquele não poderia simplesmente ficar jogado sobre a mesa como algo qualquer e tampouco “Harry Potter, em sua grandeza”, poderia ficar segurando-o o tempo todo.

– Seria possível ele ficar ainda mais insuportável na adoração por você? – O elfo depositou mais uma tigela de sobremesa na frente de Harry com os olhos marejados. – É seria. – admitiu Rony entre o desgosto e a troça.

Foi um dia muito atarefado. Desde o momento em que Aurores e membros da Ordem começaram a chegar, a casa permaneceu sempre cheia e em burburinho. Os planos de ataque foram acertados, cada detalhe repassado exaustivamente. Apenas no momento em que se falava de um duelo direto com Voldemort é que as coisas ficavam obscuras. Harry dizia que a responsabilidade era dele e que os outros não deveriam se preocupar com isso, pois a profecia – atualmente de domínio público – ainda valia. Todos estavam muito certos de que como Harry já vencera uma vez (ou várias, dependendo do ponto de vista), ele o faria de novo. Rony e Hermione, porém, trocavam olhares assustados e se abstinham de comentar. Quando todos partissem, Harry sabia que o assunto voltaria. Tinha certeza de que os amigos tentariam saber exatamente o que ele decidira fazer e que, também, teriam seus próprios planos para impedi-lo.

Houve pelo menos um momento durante a tarde em que eles chegaram a descontrair, quando os antigos membros da A.D. apareceram em peso se voluntariando para a batalha. Colegas do tempo de Hogwards dispostos a se arriscarem pela família de Harry e dos Weasley deixaram os três amigos realmente sensibilizados. É claro que eles esperavam por Neville e Luna, que lhes eram mais próximos, e também Colin por ser marido da moça. Mas à meia tarde lá estavam: Lino Jordan e Angelina (agora Jordan também) que vieram acompanhados dos gêmeos e das esposas destes; Ernesto McMillan, Ana Abbot, Lilá Brown (Hermione ficou excessivamente simpática), as irmãs Patil, Terêncio Boot, Susana Bones, Simas Finnigan, Dino Thomas e Cho Chang. Muitos membros da A.D. não estavam ali por haverem perecido na segunda guerra como Miguel Corner, Denis Creevey, Justino Finch-Fletchley e Antônio Goldstein. Percy também viera. Muito sério, apertou firmemente a mão de Harry e garantiu que eles não voltariam de lá sem Gina e as crianças. Ao que parece, Patrícia não achou seguro ficar perto de Fred e não apareceu, tampouco alguém lamentou. Outra surpresa foi Olívio Wood. Mesmo não tendo pertencido a A.D., por já estar fora da escola, o rapaz chegou resoluto acompanhado de uma parte de seu time de quadribol, o União de Pudlemere.

– Como diabos vocês ficaram sabendo? – admirou-se Rony.

– Ah bem, o Lino meio que comentou comigo, dia desses – explicou Olívio. – Sei que era para ser segredo. Mas eu não poderia deixar você na mão, Harry. E os caras que eu trouxe, foram escolhidos à dedo. Cada um deles perdeu um membro da família nas outras guerras. Eles não deixariam a informação vazar.

Harry não comentou, mas ficou apreensivo. Afinal, não conhecia aquelas pessoas, como confiar que seus planos não seriam colocados a perder. Ficou observando, ainda preocupado, Olívio se afastar para colocar uma gota de sangue na pedra do Graal.

– Não esquente – alguém colocou a mão no seu ombro. Harry se virou e deu de cara com Dino e, logo atrás dele, Simas. – Ninguém aqui seria capaz de trair você.

– Não é que eu não acredite nisso, Dino. Há coisas importantes demais em jogo para que eu confie tanto assim.

– Mas isto é sério, Harry – disse Simas. – Quando a gente olha para trás, especialmente nós, que estivemos em Hogwarts com você... A gente sabe tudo o que você passou, tudo o que fez. Estamos com você.

– Você se arriscou e ainda achou tempo de ensinar a gente a se defender. Estamos devendo, cara! – Dino pressionou o ombro de Harry e baixou a voz. – Vamos trazer a Gina e os seus bebês de volta, ok?

Com um aceno de confiança os dois se dirigiram para a mesa a fim de se juntarem à pequena fila em frente ao Graal.

– Não é que as crianças sabem ser gentis – comentou Quim chegando ao seu lado.

– Sempre fomos amigos.

– Eu sei. Mas poucos amigos nos provocam a vontade de segui-los em qualquer situação. Você é um deles.

Harry riu.

– Você não, Quim. Você é meu chefe.

– É, e sigo suas ordens desde que tem 17 anos. Talvez estejamos nos cargos errados.

– Não diga bobagem, você é o melhor Auror que conheço.

Desta vez foi a voz retumbante de Quim que chamou a atenção das pessoas da sala numa sonora gargalhada.

– Tem razão – ele disse – e você é o maior bruxo... Ok, desde Alvo Dumbledore, você é o maior...

– O que o Otwani está fazendo aqui? – perguntou Harry surpreso e cortando a fala do amigo. – Ele não deveria estar na escola?

De fato, Otwani Shacklebolt acabava de entrar na sala. Certamente que ele não parecia tão confiante quanto nos corredores de Hogwarts, mas ninguém poderia duvidar de que ele chegara ali muito decidido. Quim se afastou de Harry indo em direção ao filho, o qual pegou pelo braço e levou para fora da cozinha.

Harry foi até Tonks e Lupin, que haviam chegado a pouco com informações sobre a costa de onde partiriam para a fortaleza. A Auror estava observando o marido tomar uma generosa dose de poção revitalizante. Pelo que ambos haviam contado a viagem fora bem difícil.

– Têm idéia do ele veio fazer aqui?

– É óbvio que ele quer ir junto, Harry! – comentou Tonks.

– Mas ele ainda está na escola.

– Isso não impediu você, impediu? – Remo questionou-o com uma nota de carinho na voz. – Bem, se Quim não o convencer com argumentos não poderá impedi-lo. Ele já é maior, então... – Remo apontou para porta, pai e filho retornavam e Otwani seguia decidido para a o lugar em que estava o Graal.

Por volta das nove da noite, Harry conseguiu driblar amigos e admiradores e falou rapidamente para Hermione e Rony que iria passar a noite na Toca para ficar com Joanne. Rony tentou argumentar para ele trazer a sobrinha, mas era óbvio que havia gente demais na casa e Hermione acabou concordando que era melhor Harry descansar com a menina, lá. Quanto aos dois, revezariam com Quim, Tonks, Remo e Moody (que chegara a pouco) para guardarem o Graal, enquanto ele recebia mais e mais gotas de sangue do exército que se aglomerava agora, em torno de Harry Potter.




Sem nenhuma vontade de ser dramático, Harry procurou não pensar naquela noite como sendo a sua última. Comeu a excelente comida da Sra. Weasley, conversou longamente com ela e o sogro e brincou com a filha até que, exausta, ela parasse de lutar contra o sono e adormecesse aninhada nele. Cuidadosamente, Harry a levou para o quarto de solteira de Gina, que a Sra. Weasley havia arrumado para os dois. Artur trouxe levitando o berço em que a menina vinha dormindo e que estava no quarto dos avós. Contudo, Harry preferiu deitar o bebê ao seu lado na cama.

Nem poderia dizer quanto tempo ficou ali apenas olhando a filha dormir. Uma das coisas interessantes sobre Joanne é que adormecida, ela não lembrava em absoluto uma Weasley, apesar dos cabelos ruivos que formavam um único topete no alto da cabecinha. Joanne se parecia com a mãe de Harry. Pelo menos com as fotos que ele tinha dela. Bem, era a quem ela se assemelhava quando adormecida, porque acordada era impossível não perceber que se tratava da filha de Gina Weasley. Harry sorriu. As duas tinham exatamente o mesmo jeito, o mesmo sorriso e o mesmo gênio. Embora, nesse caso, Harry reconhecesse que havia contribuído com uma boa dose de sangue quente. Lyan é que era a exceção. Era difícil saber a quem o garoto, sempre calmo, tinha puxado.

Harry se reacomodou na cama, colocando o braço por sob a cabeça e fitando o teto. Será que os dois continuariam assim? Como seriam na infância? Ou adolescentes?

“Pare!”, ordenou a si mesmo. Isso não o levaria a nada. Todavia, o pensamento não se rendeu facilmente a sua vontade, apenas mudou de curso, de Joanne e Lyan foi para Tiago e Lílian. Por muito tempo, Harry tinha se perguntado por que os pais não tinham conseguido ficar vivos, ou o que teria sido sua infância e adolescência se, ao invés dele, fosse Neville o escolhido por Voldemort. Houve mesmo a época em que ele alimentara uma inconfessada culpa pela morte dos dois. Afinal, ele era o alvo. Seus pais estariam vivos se não fosse ele.

Seu olhar voltou a recair sobre Joanne. Era uma pena, mas uma criança ou mesmo um adolescente não seria capaz de entender aquilo. Era preciso ser pai. Harry, agora, entendia Tiago e Lílian como nunca fora capaz. Não havia medo ou hesitação e seria muito difícil de explicar que existia uma entrega maluca e sem limites àquelas criaturinhas, inconscientes do que eram capaz de causar. Será que um dia algum dos dois entenderia que se eles ficassem a salvo, Harry teria morrido feliz.

Foi quase imediato, Dumbledore aparecer na mente de Harry. Do alto de todo o tempo que viveu e de todo o poder que tinha, ele morreu advogando o poder daquilo que Harry sentia quase infinitamente pela mulher e pelos filhos, pela sua família que eram Rony, Mione, Sirius e os Weasley e pelos amigos, que pareciam ser num número muito maior do que ele imaginava. Era uma pena que sentir tanto não era o suficiente para vencer as coisas que os ameaçavam. O medo de perdê-los é que devorava Harry por dentro.

Novamente, ele se forçou a desviar o rumo dos pensamentos e mais uma vez se viu diante da imagem de Dumbledore. Ele teria gostado de viver aquele dia estranho que Harry tinha vivido. Certamente ele teria apreciado imensamente ver Snape e a irmã discutindo com a única intenção de um defender o outro, uma demonstração de afeto muito espantosa em se tratando do morcegão. E, provavelmente, o velho diretor, teria delirado com o desprendimento de Draco em sua determinação para salvar a vida do pai. Com um pequeno sorriso, Harry também imaginou que Dumbledore assistiria satisfeito e, talvez, não muito surpreso a vinda de tantos amigos para se juntar a ele naquela luta. Ele diria que era o amor vencendo e riria da expressão de Harry dizendo que mesmo que o chamassem de velho piegas, ele sabia que tinha razão.

Depois disso, ele adormeceu ou foi o que pareceu, embora Dumbledore continuasse a surgir nos seus sonhos falando sem parar. Mas eram frases que ele já tinha ouvido em conversas antigas com o diretor e quando Harry tentava situá-las, Dumbledore se transformava em Snape e dizia que ele estava desonrando seus pais e desvalorizando o sacrifício deles. Em todas as vezes que Harry tentou argumentar, Gina aparecia e o distraía, mas então ela saía correndo e o chamava para ir buscá-la. Harry tinha de correr para segui-la, mas ela entrava por um corredor no fim do qual tinha uma porta pintada de preto, por onde ela sumia. Depois da porta tinha uma sala circular cheia de portas, todas abertas, escancaradas, e Harry seguia para a única que continuava fechada. A voz de Gina tornava a chamá-lo, por trás da porta. Num instante, ele estava com a mão na maçaneta e, no outro, acordou arquejando, agitado e com o corpo em chamas como se tivesse feito um enorme esforço.

– Mas eu não tenho perícia e poder incomuns – protestou Harry sem conseguir se refrear.
– Tem sim – disse Dumbledore com firmeza. – Você tem um poder que Voldemort nunca teve. Você pode...
– Eu sei – interpôs Harry impaciente. – Sou capaz de amar! – E foi com extrema dificuldade que deixou de acrescentar: “Grande coisa!”[1]

Harry levantou da cama antes que sua agitação acordasse a filha.

– Apesar de todas as tentações que você suportou, de todo o sofrimento, o seu coração permanece puro, tão puro quanto era aos onze anos, quando você se mirou no espelho que refletia o maior desejo de seu coração, e ele lhe mostrou apenas o caminho para frustrar Lord Voldemort em vez de imortalidade ou riqueza.[2]

Ele coçou o rosto áspero da barba por fazer e respirou fundo. Uma série sem fim de sinapses corria pela sua cabeça, ligando pontos, mostrando coisas que haviam ficado nos cantos da sua mente sem que ele processasse todos aqueles anos. Abriu a janela respirando profundamente o ar da noite de verão. As imagens do Espelho vieram claras em sua cabeça. Seus pais ao seu lado, bruxos desconhecidos que acenavam para ele, e a outra imagem, aquela que ele vira quando fora atrás do Livro de Fausto: Gina, confortavelmente sentada na sala da casa deles, grávida dos filhos dele.

– Humm, você deseja algo que já tem! – dissera Dumbledore. – Interessante![3]

Sua família. Sua capacidade de amar irrestritamente. Ele dissera que era a sua arma. Seu maior poder. Harry tinha certeza de que ainda hoje, com todos aqueles poderes incomuns que adquirira, Dumbledore novamente lhe diria que era no amor que estava a sua maior possibilidade de vitória. Mas como?

– Há uma sala no Departamento de Mistérios – interrompeu-o Dumbledore – que está sempre trancada. Contém uma força mais maravilhosa e mais terrível do que a morte, do que a inteligência humana, do que as forças da natureza. E talvez seja também o mais misterioso dos muitos objetos de estudo que são guardados lá. É o poder guardado naquela sala que você possui. Esse poder o levou a tentar salvar Sirius hoje à noite. Esse poder também o salvou de ser possuído por Voldemort, por que ele não poderia suportar residir em um corpo tomado por uma força que ele detesta... Foi seu coração que o salvou.[4]

Harry massageou o peito como se pudesse prender o que havia ali, mas...

– Você ainda não tem ódio o suficiente no seu coração para me tentar a subjugá-lo... mas vou cuidar disso. Quando nos encontrarmos novamente... aí sim...”[5]

O líder dos beusclainhs lhe dissera isso na noite em que ele salvara as crianças trouxas. E Snape insistira para que ele não matasse quando estivesse lá. Ele achara, então, que morrer pelos outros era a resposta, só que algo ainda se remexia dentro da mente dele...

– Há uma sala no Departamento de Mistérios que está sempre trancada. Contém uma força mais maravilhosa e mais terrível do que a morte...

Não havia dúvidas ou pelo menos, ele seria um idiota se não tentasse. Trocou de roupa rapidamente e tomou Joanne cuidadosamente nos braços.

– Meu anjo – sussurrou para ela – perdoe o papai por não ficar para vê-la acordar, garanto que é por uma boa causa. Prometa que vai se comportar e obedecer ao vovô e a vovó. – O bebê ressonou mais alto como se estivesse entendendo e ele sorriu. – Boa menina!

Ele abriu a porta e foi até o quarto do Sr. e da Sra. Weasley. Bateu e esperou. Menos de um minuto depois Artur abriu a porta sonolento e assustado, colocando os óculos no rosto.

– Harry, meu filho, aconteceu alguma coisa? – A Sra. Weasley apareceu atrás dele igualmente aflita.

– Joanne está doente?

– Não, ela está bem, mas eu vou precisar sair agora. Vocês podem ficar com ela?

Artur pegou a neta com o rosto marcado por uma interrogação.

– Algum problema?

– Bem... talvez algumas soluções, arriscadas, mas preciso tentar...

– Harry, querido – Molly já o olhava, cheia daquela angústia maternal que ele aprendera a identificar e agora respeitava mais do que nunca.

– Vou me cuidar, Sra. Weasley. Pode ficar descansada. – e baixando-se até a altura do rosto da filha, Harry lhe deu um beijo e sussurrou: – Eu volto.


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[1] Harry Potter e o Enigma do Príncipe, p. 399.
[2] Harry Potter e o Enigma do Príncipe, p. 401.
[3] Harry Potter e o Retorno das Trevas, cap. 16.
[4] Harry Potter e a Ordem da Fênix, p. 681.
[5] Harry Potter e o Retorno das Trevas, cap. 25.

N/B Sônia : Minha Anam vai levar o Harry àquela sala do Ministério!!!!! Yes! Yes! E graças a Merlin e para o bem do meu coraçãozinho, ele há de encontrar ajuda lá!!! Aquela idéia de “vou-bancar-o-homem-bomba-mágico-e-explodir-comigo-o-Voldie!” estava me deixando com o coração no lugar dos rins e o pulmão perdido lá pelas bandas do fígado! Affff... Me chamem de piegas os céticos de plantão, mas, sempre que vejo um exército do bem se formando, liderado por um herói em toda a glória de seus defeitos e virtudes, ... Eu arrepio sim! E marejo os olhos! E você, Sally Owens, sabe descrever uma situação tão carregada de emoções feito esta como ninguém! =D – Você disse que se escorou na JK... Um pouco, talvez! Mas é o SEU talento explícito nessas palavras! O SEU TALENTO!!! – Esse comentário ficou confuso? Desculpem, mas ainda estou “tremilique” com o capítulo! E ansiosa com o que está por vir! E orgulhosa de participar, de alguma maneira, dessa história que minha Anam está magistralmente nos contando! – A você, Mestra Sally, meus fervorosos e ardidos, de tão fortes, aplausos! E o pedido encarecido de fã para que não nos deixe esperar muito! ISSO AQUI ESTÁ BOM DEMAAAIIIISSSSSS! Beijos no seu coração! Te adoro! Até o próximo! =D P.s.: E não é que eu QUASE senti empatia pela doninha descolorida??? Quase! ;D


N/A: Autora má, muito, mas muito má mesmo!! Autora batendo com a cabeça na parede, prendendo as orelhas no forno, passando as mãos à ferro, bebendo Olina por refrigerante!!

Verdade gente. Hoje me dei conta que o último capítulo foi postado em setembro. Tudo o que posso alegar em minha defesa é que realmente trabalhei muito nesses dois meses e que o Retorno exige muito de engajamento meu na hora da escrita.

Agradeço de coração a todos os que não desistiram de mim e ficaram vindo aqui, pedindo atualização, mandando recados. Isso certamente contribuiu para que eu me sentisse mais culpada (rsrs). Um agradecimento muito especial a todos os que lembraram do meu aniversário e deixaram um recadinho de parabéns. Encheu o meu dia com esse carinho. Um beijo estalado na bochecha de cada um.

Espero que todo esse tempo tenha sido pelo menos parcialmente compensado pelo capítulo, que também saiu bem grandinho.

Aos que comentaram:

Beatrice Potter – Obrigada.

Shrie Perevell – Ahh bom saber, hehe. Obrigada mesmo e mais uma vez! P.S.: Espero que a raiva diminua hehe

Natinha Weasley – O Graal é um dos objetos mais poderosos e misteriosos da terra. Seus poderes são impressionantes, mas apenas acessíveis àqueles de coração puro. Então, acho que ainda podemos esperar algumas coisas dele, não é? Agradeço muito seu esforço para ler a e vontade de esperar. Bjs!

Edu Pimentel – Bem, a verdade é que nem mesmo tinha pensado que isso poderia ser associado às relíquias da morte, Edu. Sei que a varinha do Harry é falsa desde o capítulo da Rebelião em Azkaban (é, foi quando eu fiquei sabendo). Eu sabia que o Graal teria uma função e escolhi a forma de pedra para associá-lo à pedra da lua. E mesmo a capa terá uma função ainda. Mas sinceramente, pensei isso antes de ler o livro e nem me dei conta de que poderia haver uma associação. Fico contente de, de alguma forma, ter chegado perto. Bjs.

Drika Granger – Querida, obrigada pela empolgação, pela paciência e compreensão.

Gessy Silva – Ah Gessy vc não imagina a felicidade de ler que vc considera a fic um livro. Muito obrigada, mesmo! Anda sumida, né? Espero que seja por coisas boas. Beijos!

Priscila Louredo – Valeu amiga! Ah, eu não podia perder de dar uma dura no Hector, não é? E o Harry quase diz isso mesmo no quinto livro hihi. Tb com saudade, mas acho que agora vou poder voltar a aparecer. Beijão!

Mirella Silveira – Bem, acho que seus coments nem precisam de emoticons, rsrs. Obrigada querida! Quanto ao seu movimento, humm... guerra é guerra, farei o possível.

MarciaM – Linda, leia o recado para a Mirella, rsrs. Ah a cena da “casa” surgiu assim que terminei a leitura de DH, achei tão plausível, rsrs. Bjs.

Bruna Perazollo – Valeu Bru! Muito obrigada mesmo! Quanto ao Hector e a Mel, sim a Bel pensou muita coisa para os dois, mas eu ainda imagino me animar e talvez escrever um short, quem sabe... Um beijo enorme!

Guida Potter – Querida, seu comentário foi um daqueles que me deixou absolutamente muda (e, acredite, isso é bem difícil). Não tenho palavras para agradecer tantos elogios e a forma como você os escreveu me deixaram realmente muito lisonjeada. Para alguém que descobriu em escrever não apenas uma paixão, mas uma vocação e um oficio que quero seguir, suas palavras calaram bem fundo. De todo o coração, muito, mas muito obrigada, mesmo! Beijo grande.

Carol Lee – Obrigada Carol, tanto pelos comentários à fic quanto ao Multiply (lá é o meu parquinho, hihi). Sobre as lendas, bem sou uma fanática por todo o tipo de mitologia e coleciono livros desde pequena sobre o assunto. Acho que enquanto os mitos apaixonarem, eles não morrerão. Bjs!

Charlotte Ravenclaw – Snape o House do mundo bruxo?! Céus, eu ri muito com essa. Amiga meus muitíssimos obrigadas pela leitura atenta e cuidadosa desse capítulo e tb pelas sugestões. Amo vc!

Sônia Sag – Amada, obrigada pela leitura e pelas sugestões. É muito bom poder contar com você, seu carinho, talento, cuidado e entusiasmo. Te adoro, querida. Muito obrigada por ter entrado na minha vida. Um beijo do tamanho do mundo.

[*cris potter*] – Cris, eu pretendia mais três capítulos, mas não posso fazer afirmações, pois este mesmo, eu tive de parar antes do que o planejado. E sim, tem uma fic no forno, pois todo esse tempo tenho pesquisado e trabalhado na Floresta das Sombras. Acho que vocês irão gostar. Bjs!

Mimi Potter – Rsrs, obrigada, querida!

Lola Potter – Bem, o ritual foi completado, mas ainda haverão umas surpresinhas, é só aguardar! Bjs.

Bernardo Cardoso – Valeu amigo!!! Estou esperando o próximo das Lembranças! Bjs.

Ana Eulina Carvalho – É bom ainda causar surpresas hihi. Beijão!

Hellzita – Puxa, menina! Obrigada! É muito legal quando uma fic (a Just) leva a buscar outra coisa escrita pelo mesmo autor e mais legal ainda quando duas histórias conseguem conquistar. Obrigada mesmo. Sobre o Rony, pois é, eu sempre achei que ele cresceria e ficaria assim e depois de DH tive certeza rsrs. Beijão!

Lili Negrão (Liz) – Tb estou com saudade da família reunida, Liz. E parei naquela hora, porque foi muito difícil escrever o veio a seguir, acredite. Bjs!

Mayara Potter – Obrigada Mayara e realmente sinto muito mesmo pela demora. Beijão!

Daniella Granger – Ah valeu mesmo Dani. Sei que tenho sacrificado com as demoras, mas é o único jeito. Um beijo grande!

Morgana Black – Sei que vc anda carregada, amiga. Cheia de trabalhos e coisas da facu, então obrigada por vir ler, viu? E, continue guardando o meu segredo, tá? Confio no meu Fiel! Um beijo grande!

Gina W. Potter – Obrigada querida, mesmo! Pois é, afinal, um dia o morcegão tinha de admitir, não é? Mesmo às avessas. Quanto ao Voldie, sinto informar, ele mal começou, ai, ai... Beijo grande!

Regina McGonagall – Sua PO tá me saindo uma figuraça, Regina. Muito obrigada por ela. Eu simplesmente adoro escrevê-la. Um beijo enorme!

Eleonora – Muito obrigada!

Expert 2001 – Valeu! Olha, essa trindade ainda vai aparecer um bocado, então aguarde, ok? Nem vocês, nem os demônios perdem por esperar, rsrs.

Naty L. Potter – Valeu querida! Eu sei que as coisas não estão fáceis, mas... primeiro o pior, não é? Beijão!

Liliane Mangano – Beijos querida e obrigada pela leitura, compreensão e espera =D

Paty Black – Não adianta mesmo mana. Meus fins são meu maior talento hahahaha (deixar os outros doidos rsrs). Obrigadão, linda! Um beijo enorme!

Lica Martins – Ahh minha amada, vc e a Cacá também tem sido um presente. É tão bom encontrar gente como vc e a sua família. Inteligentes, engraçados de coração bom... fazem a gente acreditar na humanidade. Obrigada pelo apoio e o carinho, sempre.

Ana Carol * ₣ℓр® - Brigadão, querida! Quanto ao Snape, eu optei por um tipo de narrativa dele que agora, numa entrevista, a tia Jô confirmou. O Snape é um cara, no fundo, inseguro. Ele precisa usar o medo e o menosprezo para se reafirmar. É o jeito como ele aprendeu a se relacionar com os outros. Mas o resultado, vc a de convir, é hilário às vezes. Um beijão!

Ana Rocco – Valeu!

Pamela Black – Pam leia o que escrevi sobre o Snape para a Ana Carol. Eu realmente acredito nisso. Embora, como vc sabe, ainda faça parte do clube “Baixo o Morcegão!” fico contente que esteja conseguindo explorar outras facetas do personagem. Um beijo enorme querida!

Doug Potter – Rsrs Valeu!

Suelle Espósito Rei – Muito obrigada! Fiquei feliz que você tenha gostado e obrigada pelos Parabéns.

Patrícia Ribeiro – Obrigadão, querida! Espero que você também tenha gostado deste.

Belle Sarmanho – Valeu querida!!! Eu também amo minha pequena família e, como mão zelosa, já estou pensando na muda de fraudas da caçula e gestando mais um bebê rsrsrs (vão dizer que tenho pensamento fixo). Adorei a descrição das suas emoções, fique pensando na propaganda da Feira do Livro de Porto Alegre deste ano (ainda serei autora lá!). Beijos e até a Just!

Luísa Lima – Lu, eu me arrebento de rir com você sabia? E quanto ao livro, não briguem, quando sair, é possível que tenha apenas vocês duas na fila rsrs. Adorei o ser planejadora de invasões (rsrs meu marido tb acha isso), mas acredito que vivia com os bardos, contando histórias hehe. Obrigada pelo elogio aos bebês. Tb sou doida por crianças e gosto de observá-las, fico feliz de saber retratar isso. Quanto ao Hector... o problema todo é que ele “quer” ser o Harry. Ele é bem menos doce e talvez, um pouco mais malvado e obviamente, obcecado por ser um aventureiro. Obrigada de coração, querida! Ando com saudades de vc. Beijão!

Victor Farias – Uau! Agradando mais que ELA? Victor, acho que você exagera, sabia? Rsrs. De qualquer forma muito, mas muito obrigada, você tem sido um grande amigo (sim, vc é meu amigo) e um leitor generoso. Seu carinho tem sido muito importante no decorrer desta fic. O comentário no meu aniversário me emocionou muito e me deixou sem palavras. Obrigada por poder contar com vc. Tb abençôo o dia em vc começou a ler a fic. Um beijo enorme!

Sô – Obrigada, querida! Sabe tem um capítulo em DH (no meio) em que quase vi este meu Harry pai (não falo por causa dos spoillers). Mas fiquei muito satisfeita, pois só consigo imaginá-lo assim: carinhoso, apaixonado, dedicado. Quanto ao Graal, a Espada e o Pendragon, só posso dizer que nossos heróis não estão sozinhos. Bjs.

Henrique Malfoy – Tb achei legal quando o número de leitores igualou a ID e mais ainda quando passou hehe. Valeu Henrique! Um beijão! P.S.: Todos os patrões são Comensais da Morte!

Feba – Espero que consiga ler este, Feba. Beijão!

Clara – Que bom!!! Fico feliz de uma ter conquistado para a outra rsrs. Obrigada pelos elogios!

Andie – Muito obrigada, Andie. Mas, mas... eu sou boazinha... sou sim. Carrego até uma auréola na bolsa. O problema é que ela nem sempre combina com a minha roupa kkkkk. Tentarei, tentarei, ok? Um beijo bem grandão.

Bru Black – Bem vinda, Bru. Fico feliz por não ter decepcionado a propaganda (a Naty ficaria em maus lençóis e eu não ia querer isso). Tb agradeço por esperar e tomara que o capítulo continue à altura. Um beijão!

Kendra Owen – Sim, acho que pode ter sido coisa do escrivão, vc sabe como eles tem mania de mudar as grafias, não é? Kendra nunca me incomodei com nada do que você disse, viu? E fico feliz que minha fic tenha mudado a sua opinião. Quanto a ganhar a vida, pois é... ainda haverá o dia em que escrever será meu único ganha pão (estou trabalhando para isso). Até lá... Um beijo grande querida!

Tonks Butterfly – Valeu querida!

Belzinha – Obrigada, minha linda. Fico muito feliz em saber que logo vc estará de volta com tudo, não é? Que bom que gostou da “ponte”, mas eu não vou entregar, viu? É com vc. Beijos!

Liih Black – Li sim, li. Sou uma fanática pelo ciclo arturiano (daquelas que leu as obras originais do século XII – olha a nerd se entregando). Pois é, fico feliz de ter de alguma forma transportado o clima. E eu tenho que agradecer Liih, por todos os comentários legais que tenho recebido de você. Saiba que li a todos com muito carinho e encantada por conseguir tocar alguém assim. Muito obrigada mesmo. Um beijo bem grande!

Gianna – Espero que não seja “era uma vez Gianna” porque ainda pretendo escrever mais coisas e não quero perder leitores de jeito nenhum, rsrs. Um beijo e obrigada, querida.

Larissa Manhães – Espero não decepcionar nem neste nem a seguir, Larissa. Obrigada!

Clow Reed – Seu, seu, seu sumido!!!!!!! Achei que tinha me abandonado para sempre! Ok, querido, sei que às vezes a vida nos engole e precisamos ficar enclausurados como Jonas na baleia. Que bom que vc leu e gostou. Fiquei muito feliz em encontrar os seus coments por aqui. Um beijo grande e te cuida, tá?

Rafaela coelho iukelzon – Talvez acabem sendo mais de três (ups, se esconde). Fazer o quê? Sou lenta, gosto de detalhes. Fico feliz que esteja curtindo. Bjs!

Nefer Potter – Mione grávida?? O.O!! Onde foi que eu disse isso? Eu disse? Humm acho que não... (ainda) não rsrsrs

Almir – Que bom!! Fico feliz de ter conquistado alguém cuja praia não é essa. Obrigada!

Danielle C. Pereira – Muito obrigada! Conseguir transportar é um feito, fico muito lisonjeada. Bjs!

Jaja Weasley – Ah querido, que bom ter você por aqui. Espero que continue gostando. Beijão!


Vocês tem sido leitores incríveis e cada comentário me faz não querer parar de escrever nuncaaaa!! Obrigada de todo o coração.

Um beijo carinhoso e até a Just

Sally

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