Corações escuros
O primeiro impulso dela foi correr e abraçar a filha, mas uma sensação estranha a fez ficar imóvel no mesmo instante. A garota parou e permaneceu estática, com a cabeça baixa e completamente muda.
_ Meggy? _ Charlotte a chamou de novo _ O que aconteceu?
A franja da menina escondia seus olhos e o seu rosto não demonstrava qualquer tipo e reação ao chamado da mãe.
_ Meggy! O que fizeram com você?
Ela levantou a cabeça de repente e Charlotte deu um passo para trás com o choque do que viu. A filha tinha os olhos cobertos por uma névoa branca que escondia parcialmente suas íris azuis. Um sentimento de completo pavor percorreu Charlotte: estavam usando uma maldição imperdoável nela.
_ Me-Meggy? _ ela tentou mais uma vez.
Em resposta, a menina levantou os braços e a encarou firmemente com seu olhar desfocado, como se dissesse que dali ela não passaria.
_ Alguém vai pagar muito caro por isso! _ disse Charlotte entre os dentes ao perceber qual seria a única alternativa para aquela situação _ Estupefaça!
O feitiço acertou o alvo em cheio no peito e o impacto fez com que ela fosse jogada para trás e caísse deslizando pelo chão de pedra. Imediatamente Charlotte correu até lá e a pegou, verificando se a tinha machucado. A garota estava desmaiada.
_ Desculpa, Meggy. _ disse Charlotte tirando os cabelos vermelhos do rosto da filha _ Prometo que vou...
Os olhos da menina abriram de repente e eles ainda estavam recobertos pela névoa branca. E antes que Charlotte pudesse fazer qualquer coisa, ela ergueu as mãos para ela e gritou:
_ ESTUPEFAÇA!
Charlotte foi jogada para trás da mesma maneira que tinha feito com a menina. Chocada, tanto pela forçar do feitiço, quanto por ele ter sido executado por uma aprendiz de magia sem varinha, quanto pela maldição ainda permanecer na filha, Charlotte tentou levantar imediatamente mas não conseguiu. Um feitiço de estuporamento fraco como o que ela lançara na menina seria o suficiente para liberta-la do controle da maldição.
Tonta e confusa, ela ergueu-se com dificuldade e encarou a filha que novamente erguia os braços impedindo o caminho. Mas dessa vez, ela riu de um jeito estranho:
_ E então, Charlotte? _ disse ela com a sua voz, mas ao mesmo tempo com uma voz mais grossa que definitivamente não era dela.
_ Quem é você?! _ perguntou Charlotte deixando transparecer toda a sua raiva.
_ Quer mesmo saber? Passe por ela.
Por um momento a névoa que cobria os olhos da garota se desfez e ela olhou assustada para Charlotte:
_ Mãe?!
_ Meggy!
Charlotte correu até ela, mas novamente a névoa voltou e a menina gritou:
_ ESTUPEFAÇA!
Charlotte quase foi atingida, conseguiu desviar a tempo girando para o lado.
_ Passe por ela, Charlotte. _ disse Meggy _ É a única maneira de chegar até onde estou. Só devo avisar que essa não é uma maldição muito... conhecida.
_ COVARDE! _ Charlotte gritou para além da filha.
A menina riu satisfeita e ergue as mãos para a mãe:
_ FLAMMIS!
***
Emily olhou em volta e não viu mais ninguém ao seu lado. Estava em um lugar escuro e uma única réstia de luz vinha de uma porta entreaberta. Mas logo a luz sumiu, porque alguém entrara e fechara a porta. Imediatamente Emily pegou a varinha e a acendeu, seu susto só não foi maior que o seu alívio. Malthus estava ali, em pé, com os braços esticados como se protegesse a porta contra a própria mãe.
Ela correu para o filho, com lágrimas teimando em escorrer pelo rosto. Abraçou-o firmemente, sem bem esperar ele dizer algo.
_ Malthus?! Você está bem?! _ ela o beijou e o segurou o rosto dele nas mãos, olhando-o atentamente. Uma sensação gelada percorreu todo o seu corpo quando viu os olhos do menino.
_ Malthus?
O menino sorriu, mas não era o sorriso do seu filho. Era um sorriso cínico e maldoso. E não combinava nada com o rosto do menino. Não era Malthus.
_ Crucio!
Sem nenhuma resistência, o feitiço atingiu Emily em cheio no peito, fazendo com que uma dor insuportável tomasse conta dela. Ela tentou chamar o nome do filho mais vezes, mas a dor era muito forte. Em segundos parou e ele disse com uma voz estranha:
_ Olá... Emily.
_ O que fizeram com você, Malthus? _ Emily percebeu que ele não tinha uma varinha.
_ Que mesmo saber?
Ela levantou-se, um pouco tonta e encarou o filho. Agora ela tinha certeza de que ele estava sendo controlado, não havia outra explicação.
_ O que quer de mim? _ ela gritou apontando sua varinha par a filho, mas não pretendendo realmente atacar.
_ Quero que passe por ele... FULMINATIO!
***
Draco acordou sentindo a cabeça latejando e não conseguiu abrir os olhos de imediato. Tentou lembrar do que tinha lhe acontecido e como ficara nesse estado, mas nada lhe vinha a mente. Procurou mover o corpo mas ele não queria responder aos seus comandos. Sentindo-se toneladas mais pesado ele investiu todas as suas forças em abrir os olhos e, com dificuldade, conseguiu.
Não era um lugar muito iluminado, foi a primeira coisa que percebeu.Parecia uma cela, fria a escura... Mas que raios ele estava fazendo em um lugar como aquele?, pensou com raiva. Reparou que estava deitado em um suporte de madeira que era sustentado por correntes descidas do teto de pedra, como o resto da cela.
Ele levantou-se de vagar, sentindo todos os seus músculos protestarem com dor, como se tivesse dormindo li por dias sem se mover. Olhou para as próprias mãos e tentou lembrar-se de algo, qualquer coisa. Ao ver as roupas que estava usando lembrou-se imediatamente de ter pego uma mala e conseqüentemente lembrou da viajem para a França. Estava na estação e então... sua varinha! Ele procurou por ela no bolso interno das vestes e respirou aliviado ao encontra-la. Mas o alívio foi momentâneo... Primeiro: o que estava fazendo ali? Segundo: Como chegara ali? Terceiro: Por que não lhe tiraram a sua varinha?
Quase que instintivamente ele percebeu um movimento n parede oposta a que estava, no lugar mais escuro da cela. Ele pegou sua varinha e a ascendeu. O que viu o imobilizou instantaneamente. Lá estava um garoto de cabelos negros bagunçados, que mantinha a cabeça baixa e parecia a aguardar alguma coisa. Sem dúvida alguma, Draco chamou:
_ Gregory? O que faz aqui?
Então o garoto ergueu a cabeça e Draco pode ver seus olhos cobertos por uma névoa branca que lhe fazia parecer um zumbi.
_ O que você aprontou dessa vez, Gregory? _ perguntou Draco furioso passando a desconfiar do filho.
_ É tão fácil culpar os outros, não Draco? _ disse o garoto.
Draco percebeu que não era seu filho quem estava falando. Não só pela voz totalmente estranha para o garoto, mas também pelo modo como ele dissera o seu nome, sem rancor ou desdém, como lhe era tão familiar.
_ Quem é você?
Gregory sorriu e disse?
_ Infelizmente não posso responder isso tão simplesmente assim. Para conseguir essa resposta, _ ele indicou uma porta atrás dele _ terá que passar por ele e me encontrar.
_ Passar?
_ ESTUPEFAÇA! _ gritou o garoto.
Draco ficou alguns segundos prensado contra a parede devido a força do ataque.
_ Sim, passar.
_ Como fez isso?! Nem ao menos tem uma varinha!
_ Varinhas somente facilitam. Quando descobrimos nossos verdadeiros poderes, varinhas tornam-se inúteis. E então, senhor Curandeiro fracassado, será que ainda resta algum orgulho sonseriano em você? Ou vai desistir, como estava prestes a fazer quando eu lhe impedi?
_ Ora seu... _ Draco avançou com varinha em punho, mas, como se essa reação fosse a esperada, a névoa dos olhos de Gregory sumiram e o garoto pestanejou olhando em volta.
_ Draco? O que faz aqui? Onde estão o outros? Onde esta o malthus?!
_ Outros? _ perguntou Draco parando surpreso.
A névoa voltou aos olhos do garoto e junto a voz estranha.
_ Sim, os outros. Uma reunião de família. Que ta, Malfoy? Sua esposa também está aqui.
_ O QUE VOCÊ COM A EMILY?!
_ Se quiser saber, _ o garoto deu um sorriso sinistro esticando os braços e protegendo a porta _ Passe por ele.
***
Fred pestanejou diante da figura que encontrou na sua frente assim que pôs-se de pé. Depois de ter caído naquele lugar que mais parecia os andares inferiores abandonados do Ministério, seu filho aparecera e se posicionara na frente da única porta do local. Ele o encarava com olhos enevoados e demonstrava totalmente que não o deixaria passar. Era uma maldição de controle, sem sombra de dúvidas, e ele teria que ser cauteloso:
_ Gareth? _ ele tentou chamá-lo para procurar alguma reação ao nome.
O menino pareceu querer esboçar um sorriso, mas não conseguiu. Dava-se para notar que ele apertava os dentes com força, como se estivesse se segurando. Depois de alguns instantes, em que o garoto pareceu se controlar para ficar calmo, disse com uma voz rouca estranha:
_ Como vai... auror Weasley?
_ O que quer? _ Fred percebeu o rancor com que seu nome foi proferido.
_ O que eu quero? Ainda não está bem claro?
_ Por que está fazendo tudo isso? O que pretende? Por que nãos e revela e fica manipulando uma criança?
_ Não só uma, todas. _ ele sorriu de um jeito orgulhoso.
Fred percebeu imediatamente que aquela maldição não era algo simples. Não só estavam só manipulando o corpo do filho, havia algo mais.
_ Se quer mesmo saber que sou eu, _ continuou o garoto _ passe por ele. CRUCIO!
***
Lune caiu em um grande salão subterrâneo todo construído de pedras irregulares. Sem deixar-se abalar pela dor nos joelhos por ter caído de mau jeito, ela levantou-se com a varinha em punho e iluminou a sua volta. Charlotte, Emily e Fred não estavam ali, embora ela tivesse certeza de que eles também tivessem caído. O mais estranho, era que ela teve a nítida impressão de, por instantes, ter viajado por uma chave do portal.
_ Então você é Lune Montesquieu Lupin? Aquela que foi capaz de usar magia antiga poderosa contra o grande Lord das Trevas e transformá-lo em um aborto inútil?
Lune iluminou na direção de que vinha a voz, mas isso foi desnecessário. Com um estalo de dedos, vários archotes espalhados pelo salão iluminaram-se e o lugar ficou totalmente visível. Era um lugar em forma de círculo, como se fosse uma torre bem ampla. Havia uma escada de pedra ligada a parede que fazia toda a volta no salão até parar em uma grande porta de madeira escura fechada. E na metade dessa escada, estava alguém que Lune já tinha visto antes.
_ Você é uma das professoras! _ disse ela indignada.
_ Sou sim! _ Respondeu satisfeita a moça de mechas rosas no cabelo _ Formada em Beauxbatons e recentemente aceita como professora de História da Magia em Hogwarts. Você era uma heroína entra as alunas da minha geração, sabia?
_ Então é você quem está por trás de tudo isso?
_ Eu? _ ela riu como se estivesse em um bate-papo descontraído com uma colega e terminou de descer as escadas _ Infelizmente eu não teria como fazer tudo isso. Algumas coisas eu fiz sim, como trazer aquela pirralha sardenta. Mas não posso reclamar todos os créditos já que foi uma estupidez da parte de vocês a deixarem sozinha.
_ Tem mais alguém? Quem?
_ Calma. Sei que na sua idade não se pode perder muito tempo, mas não vou lhe entregar tudo de bandeja.
Lune encrespou-se com o velha por tabela e perguntou cerrando os dentes.
_ O que ele quer?
_ Bom. Tenho ordens de dificultar seu caminho. Devo admitir que a situação dos seus amigos é bem mais desesperadora, mas prometo que vou duelar a sua altura se for preciso.
_ Minha altura? Acho que temos que medi direito essa altura toda. _ Lune não deixou por menos e usou da mesma arma verbal que a outra, que era notoriamente pequena perto dela.
E funcionou. Foi a vez da moça ficar irritada. Ela puxou a varinha e estava preste a lançar uma maldição quando Lune a desarmou.
_ Não tenho tempo para isso, como você mesma lembrou. _ disse Lune avançando para ela _ Erga as mãos e fique parada, sua situação já está bem complicada, não piores as coisas.
A moça ergueu as mãos, como Lune havia mondado, mas seu rosto não demonstrava sinal algum de derrota:
_ Não venha com esse papo de WIB para cima de mim. Tenho ordens superiores às suas, tia velha! DEFICIO!
Os pés de Lune forma tirados do chão com violência e ela caiu de costas. A moça riu e disse alegremente:
_ Ah, que falta de educação. Já a derrubei e ainda nem me apresentei. Sou Parvana Faucher, a primeira e única seguidora aceita. E, como pode ver, estou aprendendo todas as lições do meu mestre.
Lune sentiu como se cordas invisíveis brotassem do chão e prendesse seus tornozelos, punhos e cintura e pescoço.
_ Uma amostra grátis para você não ficar perdida. _ a moça aproximou-se sentou-se tranqüilamente ao lado da agente, que debatia-se tentando se livrar das cordas _ Não adianta você me desarmar. Varinhas são meros instrumentos que só sevem para canalizar nossa magia. Quando aprendemos a canalizar nosso verdadeiro poder, não precisamos mais delas. É difícil, mas não impossível.
_ É insano! _ escandalizou-se Lune _ Varinhas não servem somente para canalizar nosso poder! Elas permitem um fluxo seguro de magia! Sem elas nosso corpo pode não resistir e ser consumido!
A moça riu:
_ Isso é o que aprendemos, mas será que é verdade?... Ou será apenas uma maneira de nos manter sob controle?
Lune a encarou demonstrando sua total contrariedade.
_ Pensa comigo. _ continuou a moça sem deixar-se intimidar _ Usar magia com o próprio corpo nos torna muito mais poderosos e conseqüentemente mais poderosos, entendeu? Poder mágico e poder sobre os outros e contra os outros. Isso seria um problema para as autoridades mágicas, não acha? E os magos do grande escalão, o que faria? Qualquer um poderia ser capaz de usar poderes equivalentes ao do lendário Merlin! Não é fantástico?!
_ Você é louca!
A professora deu os ombros e retrucou:
_ Não sou eu quem está presa no chão... Vejamos, vou contar o que está acontecendo enquanto você fica presa aí. A antiga comensal, a Charlotte, contra a menina ruiva, Meggy acho que é o nome. Emily contra o seu filho mais novo, Fred contra o loirinho mal encarado e Draco contra o filho revoltado. Todas as crianças estão sendo controladas pelo meu mestre com Tenebrae.
_ Tenebrae?! _ repetiu Lune enquanto a bruxa continuava a falar despreocupadamente.
_ Sim. _ ela confirmou feliz _ E a única maneira de retirar o controle é de dentro para fora, ou seja, as crianças são quem tem que sair do controle. Quanto mais escuro os corações delas, mas presas em seus medos elas ficam. Simples! _ ela sorriu meigamente e continuou empolgada _ Ah, ele é demais, não? Supera de longe aquele velho gagá que vocês seguia cegamente, o Dumb-alguma-coisa.
A mente de Lune trabalhava rapidamente em busca de uma saída para aquela situação. Assim que a moça se perdeu em devaneios falando o quando seu mestre era inteligente e poderoso, Lune pôs em prática o seu plano:
_ Então seu mestre usa magia antiga?
A moça tomou uma posição de total orgulho para responder:
_ Não só magia antiga! Meu mestre se especializou em toda a História Mágica. E sabe qual é o principal objetivo de quem estuda a História? Aprender com os erros antigos. Meu mestre aprendeu com os erros dos maiores bruxos das trevas que quase foram bem sucedidos.
_ E você, aprendiz, também sabe sobre Magia Antiga? _ Lune a cortou.
_ Claro que sei! _ disse ela com ferocidade, tanto por ter sido interrompida, quanto por Lune ter usado um tom de descrença e acrescentou furiosa:
_ Não foi a toa que entrei para Hogwarts, tomando o lugar de um professor de trocentos anos!
_ Então, _ disse Lune tentando parecer o mais perigosa possível _ Você sabe que eu sou a única que conseguiu executar um encantamento de retirada de poder perfeitamente.
_ Claro que sei! Já falei que você foi a heroína da minha geração!
_ E não está com medo?
_ Medo? _ a moça deu uma risadinha fraca de deboche.
_ Sim. _ continuou Lune.
_ Você nem ao menos tem uma varinha.
_ Posso não ter uma varinha, mas tenho anos de aprimoramento. O que acha?
_ Hunf! _ a moça pôs-se de pé, mas foi imediatamente jogada no chão.
Ao seu lado, Lune levantou-se e foi sua vez de rir:
_ Vocês não foram os únicos que estudaram magia antiga. Pensou que a única coisa que aprendi Foi o Abedictus? Pois saiba que ainda tenho alguns truques na manga.
_ Isso é...
_ Duplicatu. _ completou a agente _ Eu dupliquei o seu encantamento e o passei para você mesma. Estranho como coisas ruins acontecem quando falamos demais, não? Mas quando se é muito imaturo isso é normal. _ Lune pegou a sua varinha no chão e apontou para o rosto da moça _ Agora me diga onde estão os outros!
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