Rony
Capítulo 2 – Rony
Quando Rony viu a veste de gala que sua mãe havia comprado para ele, não achou que realmente fosse ter de usa-la. É claro que quando o baile foi anunciado, Rony estava tão preocupado em arranjar um par decente que sequer lembrara das feias vestes cheias de babadinhos ridículos. Depois que finalmente arranjara Padma Patil como seu par (e pensando bem, ela era realmente bonitinha), desencanara totalmente do baile. Até que no dia, faltando uma hora para o baile começar, quando decidiu subir ao dormitório para se arrumar junto com Harry, lembrou-se delas.
As malditas vestes pareciam ter pertencido a alguma senhora velha que tivesse um gosto particularmente ruim para roupas. Cheirava terrivelmente a naftalina e sua bainha estava tristemente desfiada. Harry pareceu achar muita graça desses comentários, mas era fácil pra ele, já que ia vestia bonitas vestes verdes.
“Ora, Rony” – Falou Dino, saindo do banho, quando percebeu que Rony estava a beira das lágrimas – “Porque você simplesmente não usa vestes pretas comuns? Qualquer coisa seria melhor do que isso.”
“Obrigado pelo incentivo, Dino” – Respondeu secamente – “Mas eu não quero parecer estar num velório, ou pior, numa aula de dança. O único que vai usar preto hoje vai ser o Snape, e eu não gostaria de parecer com ele nem nisso.”
Harry, que já tinha vestido suas belas vestes e agora estava tentando inutilmente amansar os cabelos, riu e sugeriu que ele tentasse cortar os babado com um feitiço de corte.
Péssimo conselho. Rony só conseguiu deixar os babados ainda mais esfarrapados. Suspirou e vestiu-a, resignado. A noite já estava começando mal...
Meia hora depois ele e Harry se encontravam com Parvati e Padma Patil, que lançou um olhar de desgosto aos babados de sua veste. Quando entraram as Esquisitonas ainda não tinham começado a tocar, mas Harry teve de ir dançar a Valsa com Parvati, sob os olhares invejosos de sua irmã.
“Você não vai dançar comigo?” – Perguntou Padma, delicadamente. Rony parecia muito ocupado observando Hermione Granger e Vítor Krum dançando.
“Não” – Respondeu Rony, mal-humorado.
Padma achou melhor ir procurar alguém com quem dançar, já que Rony parecia disposto a ficar o resto da noite babando na barra da saia do (belo) vestido de Hermione.
Vendo-se sozinho, Rony pode finalmente colocar as engrenagens de seu cérebro para funcionar. BURRO! IDIOTA, ESTÚPIDO! Rony xingava-se mentalmente por ter sido covarde demais para convidar Hermione antes de Krum. Mas é claro, Rony não era nenhum jogador de quadribol internacionalmente conhecido, e usava aquelas vestes nojentas, e é claro, não tinha os milhões de galeões que Krum provavelmente tinha em sua conta. Mas Rony tinha certeza de que era muito mais bonito que Krum, e era da sua altura. E sabia falar Hermione corretamente, acrescentou aos seus pensamentos quando a viu corrigindo a pronúncia de Krum. Harry, que já tinha se liberto da sua obrigação de dançar e havia deixado Parvati livre para dançar com quem quisesse, analisava Rony atentamente.
Olhava para a parede escura onde via as cabeças de Krum e Hermione perigosamente próximas.
“Você não jantou.” – Falou-lhe Harry; não que parecesse ligar muito para o fato. Estava ocupado demais observando Cho Chang. Rony não respondeu. Viu Hermione se aproximando, linda, vermelha, arfante e cansada:
- Está quente, não acham? Vítor foi apanhar alguma coisa pra gente beber!
- Vítor? Ele ainda não pediu para chamá-lo de Vitinho?
- O que é que há com você?
- Se você não sabe, não sou eu quem vou lhe dizer.
- Rony... Que é...
- Ele é da Durmstrang! Está competindo contra o Harry! Contra Hogwarts! Você está... Confraternizando com o inimigo!
- Não seja tão burro! O inimigo! Francamente, quem é que ficou todo animado quando viu o Krum? Quem é que tem um modelinho dele no dormitório?
- Suponho que ele a tenha convidado quando os dois estavam na biblioteca?
- Isso mesmo! E daí?
- Que aconteceu, estava tentando convencê-lo a participar do fale, é?
- Não, não estava, não! Se você quer realmente saber, ele... ele disse que estava indo todos os dias à biblioteca para tentar falar comigo, mas não conseguia reunir coragem.
- Que aconteceu, estava tentando convencê-lo a participar do fale, é?
- Não, não estava, não! Se você quer realmente saber, ele... ele disse que estava indo todos os dias à biblioteca para tentar falar comigo, mas não conseguia reunir coragem.
- E, é... isto é o que ele conta - disse Rony em tom desagradável.
- E o que é que você quer dizer com isso?
- É óbvio, não é? Ele é aluno do Karkaroff não é? E sabe que você anda em companhia do... ele só está tentando se aproximar do Harry, tirar informações sobre ele ou até chegar perto bastante para
azarar ele...
Hermione chocou-se. Respondeu com a voz trêmula:
- Para sua informação, ele não me fez uma única pergunta sobre o Harry, nem umazinha...
- Então está na esperança de você o ajudar a decifrar a mensagem do ovo! Suponho que tenham andado juntando as cabeças durante aquelas sessõezinhas íntimas na biblioteca...
- Eu nunca o ajudaria com aquele ovo! Nunca. Como é que você pode dizer uma coisa dessas... eu quero que Harry vença o torneio. Harry sabe disso, não sabe, Harry?
- Você tem um jeito engraçado de demonstrar isso - desdenhou Rony.
- O torneio é justamente para se conhecer bruxos estrangeiros e fazer amizade com eles! – disse Hermione com voz aguda.
- Não é, não. É para se ganhar!
As pessoas estavam começando a olhar para eles.
- Rony - disse Harry em voz baixa - Eu não tenho nada contra Hermione vir com o Krum...
Mas Rony não deu atenção a Harry.
- Por que você não vai procurar o Vitinho, ele deve estar se perguntando aonde é que você anda- disse Rony.
- Pare de chamá-lo de Vitinho!- Hermione ficou de pé e saiu decidida pela pista de dança, desaparecendo na multidão.
Olhava para a parede escura onde via as cabeças de Krum e Hermione perigosamente próximas. Resmungou mais alto do que pretendia.
Harry sumira mais uma vez; estava conversando com Percy. Coitado, pensou. Harry voltou, parecendo cansado do monólogo de seu irmão.
E sugeriu a Harry que fossem dar uma volta nos jardins para refrescar as idéias.
Banquinhos duplos haviam sido escondidos atrás dos roseirais, numa idéia bastante sábia de Dumbledore. Quando passaram pelos arbustos, notaram que alguns mexiam-se de forma suspeita, movimento este entremeado por risinhos, sons por demais molhados para desagrado de Rony, que pensou ter ouvido até mesmo gemidinhos arfantes.
Quando Harry fez menção de sentar num dos poucos banquinho que não estavam cobertos por um roseiral (Rony preferiu assim; não queria ter sua estreita amizade com Harry confundida com algo a mais), começaram a ouvir uma conversa de Hagrid com a diretora de Beauxbatons, Madame Máxime. Harry parecia constrangido. Mas não era nisso que Rony prestava atenção. Hermione passara a pouco de mãos dadas com Krum e ambos se sentaram em um dos bancos escondidos ali perto, para desespero do ruivo, que fazia o máximo de esforço para ouvir a conversa dos dois. Ficou satisfeito de constatar que eles ainda conversavam, e era melhor que mantivessem a boca razoavelmente ocupada, pois se elas de desocupassem, Rony não queria imaginar o que tipo de idéia eles poderiam ter...
Quando, de repente, o som que vinha do arbusto onde se encontrava Hermione cessou. Era o que Rony mais temia. Krum parecia ter lançado um feitiço imperturbável, pois era impossível ouvir qualquer tipo de ruído. Rony resolveu se concentrar na conversa de Hagrid, que Harry ouvia com tanta atenção. Ouviu a varinha de Snape estourar a roseira de Hermione e Krum e ficou satisfeito pela primeira vez com o professor. Mas logo em seguida, ele avistou-os e perguntou, mal-humoradíssimo:
“O que vocês estão fazendo aí?”
“Passeando. Isso agora é crime?”- Respondeu Rony, antes que pudesse se conter.
Krum e Hermione saíram dali e voltaram para o Salão onde as Esquisitonas já se apresentavam. As velas estavam apagadas e até mesmo um grande globo espelhado de discoteca trouxa havia sido pendurado (ou levitado, pois Rony não tinha muita certeza se o salão principal de Hogwarts tinha teto), para desgosto de Percy, que havia se retirado, recusando-se a ouvir aquele “barulho”. Dumbledore parecia animado e cantava junto com a multidão de alunos, mas ainda não bebera o bastante para se permitir dançar com as sandálias nas mãos como faziam Parvati e Lilá. Todos pareciam se divertir muito, até mesmo Malfoy, a quem Rony vira enroscado com uma garota da Sonserina que lembrava muito Pansy Parkinson, ainda que Rony achasse que até Draco teria um gosto melhor.
Aliás, Rony não entendia porque estava tão triste. Hermione nunca fora para ele mais do que amiga e no entanto, sentia uma vontade imensa de bater em Krum. Certamente não era nada além de seu instinto protetor, querendo proteger Hermione e Harry de possíveis danos que Krum pudesse causar aos dois. Tentou calar a vozinha chata em sua cabeça que discordava de sua teoria, mas não conseguiu. Recusava-se a acreditar que via Hermione como mais que sua amiga. De repente uma voz alta e feminina, de Madame Máxime, gritou indignada, fazendo vários casais, entre eles Fleur e Rogério, caírem de seus roseirais, assustados. Pelo que Rony entendera, Hagrid acusara Máxime de ser Meio-gigante e isso era bastante grave. Puxou Harry para longe dali e sentou-se em uma das mesinhas, para explicar ao amigo o significado de se ter uma mãe giganta. Harry não parecia entender muito bem.
“Então? Qual é o problema de ser gigante?”
Rony suspirou. Continuou a discutir com Harry sobre o assunto durante o resto da noite; Hermione parecia ter desaparecido. Vez por outra Cho Chang e Cedrico passavam por ali, desviando a atenção de Harry que Rony via, ardia-se em inveja.
Finalmente a festa chegou ao fim. As Esquisitonas foram embora, deixando muita gente triste, mas Rony ficou particularmente animado quando as velas foram acesas novamente e ele pôde ver Hermione se despedindo de Krum, antes de passar por ele e lhe dar um olhar de frio desprezo. Harry parou para conversar com Cedrico sobre alguma coisa, mas Rony prosseguiu subindo as escadas. Ouviu Hermione gritar para Krum que ele beijava muito bem, mas não quis acreditar que ouvira aquilo, certamente estava ficando paranóico; não era do feitio de Hermione dizer uma coisa dessas. Mas assim que a viu, começou a discutir com a garota. Ela estava ficando louca, certamente. Envolver-se com o adversário de Harry no Torneio, um estudante avançado de Durmstrang, que sabidamente ensinava Arte das Trevas a seus alunos... Mas todos esses argumentos desapareceram quando começou a discutir e viu que o batom vermelho de Hermione estava claramente borrado. Simplesmente não pôde ficar calado...
- Que história é essa, Hermione? Você pode me explicar? Eu vi muito bem o que vocês estavam fazendo atrás da roseira.
- Isso é da sua conta, por acaso? – Respondeu, sarcasticamente. Estava se sentindo muito bem.
- Sim, é da minha conta!
- Ora, se você não gosta, sabe qual é a solução, não sabe?
- Ah, é? Qual é?
Da próxima vez que houver um baile, me convide antes que outro garoto o faça e não como ultimo recurso!
Mas não pôde conter uma lágrima antes de subir para seu dormitório.
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