A canção do chapéu
Tom não voltou ao Caldeirão Furado imediatamente. Pagou por sua varinha, desculpando-se por ter vomitado no soalho da loja, mas o Sr.Olivaras parecia muito preocupado. Antes que o garoto saísse de sua loja, pegou em seu ombro e falou:
“Temo o que possa acontecer se essa varinha cair em mãos erradas. Tenha muito cuidado com ela, é poderosa demais para alguém fraco. Mas suponho que, sendo a varinha quem escolhe o seu dono, ela tenha feito a escolha certa. Mas se o senhor preferir outra varinha... Talvez uma com menos carga, possamos dar um jeito...”
“Não”- Respondeu Tom imediatamente. Aquela varinha era sua e ele não queria nenhuma outra. Eram todas fracas demais. “Vou... Vou ficar com esta mesmo. Eu não sou fraco.”
Mas algo aconteceu e o Sr.Olivaras pulou para longe, assustado. Quando Tom apertou a varinha mais uma vez seus olhos brilharam intensamente, refletindo por um breve momento um fulgor vermelho. O dono da loja não falou mais nada e Tom entendeu o silêncio como uma forma de expulsá-lo dali.
Quando retornou à Rua, o garoto não quis guardar a varinha, permaneceu com ela na mão, em parte porque ela ainda estava grudada, em parte porque ele precisava acostumar-se com as ondas de poder que subiam vez por outra a partir da varinha e que faziam seu corpo contrair-se levemente.
Tom experimentou apontar sua varinha para seus pacotes e sacolas que mal conseguia carregar. Ficou satisfeito que pudesse levita-los até seu quarto sem precisar de ajuda. Sabia que era proibido de fazer magia sendo menor de idade, mas não via mal algum em testar sua varinha inocentemente, mesmo porque, não sabia nenhum feitiço. De volta ao seu quarto na estalagem o garoto tentou testar sua varinha contra alguns bibelôs na estante. Sacudiu a varinha, já descolada de sua mão, com força apontando para o nada.
Uma bola de fogo do tamanho de uma bola de boliche saltou da ponta de sua varinha e explodiu com um enorme estrondo. Tom gritou, em pânico, sem saber o que fazer. Seria preso? Expulso da escola sem sequer cursar o primeiro ano? Tom, o dono da estalagem e a mulher aborto arrombaram a porta causando barulho maior ainda.
“Oh, meu Deus, o que você fez, moleque? VOU MATÁ-LO!”
O Outro Tom parecia furioso e apontava sua varinha para um Tom apavorado. A bola de fogo abrira um enorme rombo na parece e a cama estava em chamas.
“Desculpe senhor... E-eu não pretendia...”
“Deixe comigo, Tom.”
A voz de Dumbledore soou para os ouvidos do garoto como um grande alívio. Era bom ver alguém conhecido, finalmente.
Dumbledore fechou o que havia restado da porta e rapidamente consertou o estrago causado pela bola de fogo. Sentou-se na cama ao lado de Tom Riddle. Parecia preocupado, mas não com algum estrago que Riddle pudesse ter causado; estes já haviam sido corrigidos facilmente; e sim com o próprio Tom.
“Senhor” – Perguntou Tom, ainda nervoso - “Senhor, eu vou ser expulso? Ou preso? Eu não fiz... Não foi minha intenção, eu só queria testar...”
“Você não vai ser expulsou e nem preso, Tom. Eu sei que não foi sua culpa. Acontece...”- Dumbledore sorria tranqüilamente, mas Tom ainda o olhava desconfiado – “Não foi você que fez esse feitiço, foi sua varinha. Acabo de receber essa carta do Sr.Olivaras me contando o que aconteceu a algumas horas.”
Tom lembrou-se da expressão do Sr.Olivaras e sorriu intimamente.
“Você é muito poderoso, Tom. E acho que já sabe disso. Essa varinha é só mais uma prova do fato. Na verdade...”- E a expressão do professor se tornou vaga – “Algo parecido aconteceu comigo quando comprei minha primeira varinha. O que não vem ao caso, é claro, mas varinhas como a sua não ocorrem freqüentemente. Não é algo com o que você precise se preocupar muito, você logo chegará a Hogwarts e aprenderá a controlar seus poderes. Mas enquanto isso, pediria a você que guardasse sua varinha na mala, e não tornasse a usa-la.”
Tom não sabia o que dizer. Estava furioso! Não tinha culpa por ser tão poderoso, e agora estava sendo obrigado a viver por um mês como um trouxa... Mas acatou a ordem de Dumbledore, guardando a varinha na mala.
“Sim, senhor” – Disse, já conformado.
“Ah, sim, e acho que gostará de saber que sua estadia no Caldeirão furado será por conta da casa” – Disse Dumbledore sorrindo, antes de sair.
Setembro chegou rapidamente apesar da proibição de Tom usar sua varinha. Passava o dia no beco diagonal passeando, cobiçando tudo aquilo que não podia ter e fazendo descobertas novas a cada dia. Gostava particularmente de enfurnar-se na livraria Floreios e Borrões e só saia de lá à noite, quando a loja fechava. Foi assim que descobriu tudo a respeito do mundo Mágico, desde capas da invisibilidade até o quadribol, e leu “Hogwarts, uma história” em apenas um dia. Tom não era muito interessado em esportes, mas ficou tentado a experimentar uma dessas vassouras voadoras. Também gostava de passar horas na loja de logros, imaginando como seria se começasse a atirar freesbees dentados contra seus colegas do orfanato.
Quando o dia tão aguardado chegou, Tom já estava desperto às cinco da manhã, ansioso. Arrumou seu malão e saiu carregando-o pelas ruas, sob o olhar espantado do povo na rua. Sua vontade de sair levitando a mala pelo meio da rua era grande, mas o garoto resistiu com bravura.
Algumas horas de caminhada depois, chegou à Estação de King´s Cross e só então lembrou-se de verificar seu bilhete de trem. Ali dizia “Plataforma 9 ½ ” mas, obviamente, não havia nenhuma plataforma 9 ½ . Tom ficou ali parado, sem saber o que fazer. Até que se lembrou de um trecho de “Hogwarts, uma história”. Desconfiado, ainda olhou duas vezes para a parede à sua frente e tomou impulso, atravessando a barreira.
Suspirou aliviado quando constatou que estava em frente a um grande vagão vermelho com o emblema de Hogwarts e uma placa acima de sua cabeça dizia “Plataforma 9 ½ ” . Ainda eram dez horas e poucas pessoas haviam chegado, mas Tom achou melhor assim. Sentou-se no último vagão, esperando não ser incomodado por ninguém. Tirou um de seus livros escolares do malão e começou a lê-lo com maior atenção. Era o livro de DCAT. Passava os olhos pelas palavras, mas não as absorvia. Nada ali lhe parecia importante. Muitas dessas coisas ele havia lido sobre com mais profundidade nos livros da Floreios e Borrões. Até que um capítulo em especial chamou sua atenção:
[i]Ofidioglotia, a habilidade de falar com as cobras é, há muito, considerado um poder pertencente aos bruxos das trevas mais poderosos. De fato, existem muito poucas pessoas com essa habilidade, e a maioria esconde seu dom de outros temendo o preconceito que ainda existe na sociedade bruxa. Presume-se que tal habilidade tenha origem muito antiga. Diz a lenda que a habilidade foi desenvolvida por Caim após ser amaldiçoado por Deus, quando buscou as cobras como suas companheiras devido à extrema solidão a qual foi condenado. Atualmente apenas uma família é conhecida por possuir tais dons e admiti-los e, conseqüentemente, transmiti-los a seus descendentes. A família Gaunt é conhecida por seus freqüentes casamentos consangüíneos, o que fortalece a habilidade a tal ponto que os membros conseguem conversar entre si usando essa linguagem, mesmo não havendo uma cobra presente, o que geralmente é necessário para que os dons sejam manifestados. [/i]
Após ler esse trecho do texto, Tom sentiu como se um quebra-cabeças enfim se ajeitasse dentro de sua cabeça. Tudo finalmente fazia sentido. Se seu pai era Riddle e Tom sendo ofidioglota, obviamente esse dom só poderia ter sido transmitido pelo lado materno. Ou seja, sua mãe era Mérope Gaunt. A primeira coisa que faria quando chegasse a Hogwarts seria procurar algo ou alguém que lhe pudesse dar maiores informações a respeito da família Gaunt.
Mas seus pensamentos foram subitamente interrompidos pelo barulho da porta de sua cabine se abrindo. Um garoto de cabelos escuros e escorridos, pele pálida como a dele e olhos azuis entrou discretamente na cabine e sentou-se em frente a Tom.
“Oi. Sou James Amundsen. As outras cabines estão lotadas, posso sentar aqui com você?”
“Pode” – Respondeu Riddle de mau humor.
Amundsen pareceu desapontado quando percebeu que Tom não estava disposto a ter uma conversa amigável. O trem deu um solavanco e começou a andar. Algum tempo depois, quando a estação já não podia mais ser vista, e as paisagens resumiam-se a campos verdes ou extensas plantações de trigo com vacas e cavalos pastando aqui e acolá, Amundsen resolveu fazer uma nova tentativa de conversar com Tom.
“Qual o seu nome?”
Tom demorou um pouco para responder, perguntando-se porque raios esse garoto insistia tanto em conversar.
“Eu sou Tom Riddle” – Respondeu por fim.
“Riddle? Não conheço nenhum Riddle! Se bem que isso não é surpresa... Eu sou nascido trouxa, sabe. E você?”
“Eu sou puro sangue.”
A resposta saiu da boca de Tom antes que ele pudesse se controlar. Não entendeu muito bem porquê, mas passou a sentir uma enorme repugnância por Amundsen imediatamente. Não queria se lembrar do fato de que tinha um passado muito recente ligado ao mundo trouxa. Parecia desonra-lo o fato de que um bruxo tão poderoso como ele pudesse ter um pai trouxa.
“Oh, humm...” – James parecia desapontado novamente – “Você já faz idéia de que casa vai ficar? Eu espero ficar na Corvinal ou Grifinória. Se bem que um primo distante meu também é bruxo e ficou na Corvinal, então acho que é pra essa que eu vou.”
“Já eu, espero cair na Sonserina.”
Falou Tom novamente sem pensar. Lera “Hogwarts, uma história” e pensou que gostaria de ser sorteado para a Sonserina, ou talvez, para a Corvinal. A Grifinória também não o desagradava muito.
Algumas horas de silêncio depois, um monitor bateu na porta de sua cabine e anunciou que era hora de se trocarem e vestirem o uniforme, pois estariam chegando dentro de instantes. Após trocar-se rapidamente, Tom ficou ansiosamente esperando a parada do Trem, esperando em frente à porta, dando graças a deus de ter despistado Amundsen pelo caminho. Sujeitinho grudento!
Quando, por fim, o Trem parou e abriram-se as portas, Tom pode ver o imenso castelo de pedra, grande, alto, imponente. Ficou fascinado por aquele prédio, que parecia estar envolvido por uma forte aura de magia poderosa. Quando despertou de seu torpor, ouviu algum professor chamando os alunos do primeiro ano para barquinhos que atravessariam o lago.
Sabe-se lá como, James Amundsen o encontrou em seu barquinho, e como Tom não pretendia remar sozinho, deixou o garoto ajuda-lo, não sem antes enfeitiçar seus remos para que fizessem todo o trabalho e deixassem James remar sozinho.
Rapidamente chegaram à entrada do grande salão principal, onde todos os alunos veteranos já esperavam confortavelmente sentados às quatro grande mesas. Em frente à mesa dos professores estava um banquinho com o chapéu muito velho e surrado. Assim que todos os alunos assustados do primeiro ano se ajeitaram em uma longa fila única em ordem alfabética, o chapéu abriu um rasgo em sua aba e começou a falar:
[i]”Há mais de mil anos Hogwarts foi criada
Por quatro bruxos muito valentes
Uma escola de magia iriam criar
Para jovens bruxos poderosos tornar
Havia o bravo Gryffindor de coração valente e nobre
E havia o astuto Slytherin de grande garra e saber
E a sábia Ravenclaw, de mente alerta e grande inteligência
E a meiga Hufflepuff que tratou os outros como iguais
Permitam-me apresentar-me
Sou o chapéu seletor
E irei selecionar
A casa digna de seu coração
Onde seu corpo irá morar” [/i]
O salão irrompeu em aplausos. A seleção teve início com Amy Abbot sendo mandada à Lufa-Lufa. Seu colega de remo, Amundsen, foi o próximo e foi selecionado para sua amada Corvinal. Os nomes seguiam... Anen... Awl... Bawyller... Bishop... E mais tarde, Quimble... Ratherwood... Riddle. Seu nome soou estranho a seu ouvido como se não fosse dele, mas Tom foi assim mesmo. Sentou no banquinho, ansioso. Colocou o chapéu na cabeça, que falou:
[i] “Nossa, garoto, o que você tem nessa sua cabeça? Tome muito cuidado... Sendo assim, vou coloca-lo na... SONSERINA...” Espero que não cometa nenhum erro... [/i]
Tom rumou, feliz, para a segunda mesa, sob um grande brasão de serpente.
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