Bordo, pena de fenix, trinta e
Tom Riddle arrumou sua maleta naquela noite mesmo e saiu sem se despedir de ninguém. Devolveu cada objeto roubado ao seu respectivo dono e fugiu pela porta da frente, sem deixar sequer um bilhete. Que se danassem seus malditos colegas, odiava todos. Esperava sinceramente que Billy morresse da catapora.
Saiu andando pela Londres escura e fria tentando não fazer muito barulho ou chamar muita atenção. Afinal a Sra.Cole tinha uma certa razão não tinha, esses tempos de guerra eram perigosos...
Apesar de ainda sentir a euforia percorrer seu corpo, Tom sentiu medo pela primeira vez em muito tempo. Fora atirado de um penhasco sem fundo, do qual jamais voltaria e mesmo agora, horas depois da revelação (ou melhor, da confirmação), estava diferente. Ele sempre soube que era diferente, então não era surpresa que estava sentindo. Mas mesmo tendo encontrado seus iguais ainda sentia-se deslocado. Lembrou-se, enquanto seus pés o levavam pelo caminho que Dumbledore o havia ensinado, do dia em que quis saber mais sobre sua origem. Ele tinha mais ou menos uns cinco anos então e estava inconformado com seu nome estranho. “Servolo Riddle”, diziam os garotos, não era nome de gente. Era esquisito como tudo mais nele o era.
Então a Sra.Cole contou-lhe da sua mãe, que se chamava Mérope Riddle, uma mulher “exótica” (foi essa mesma a palavra usada pela diretora), que chegara ali sem um tostão, parecia muito doente apesar de jovem e morrera assim que dera à luz a Tom. Ah, sim, e seu último desejo fora que ele, Tom, se parecesse com o pai. Certamente isso significava que a sua mãe era trouxa e queria que ele fosse bruxo como o pai. Bem, ela conseguiu.
Tom sempre gostara de saber muito, muito sobre muito. Por isso talvez gostasse tanto de ler. E não eram os best-sellers que o atraiam; Tom gostava de buscar livros nas prateleiras das estantes mais escondidas da biblioteca. Desse modo conseguia descobrir coisas muitíssimo interessantes como um livro que garantia imortalidade a todos que o assinassem, e outro intitulado “Nobres Famílias da Grã-Bretanha”, no qual Tom não conseguiu encontrar o verbete Riddle de jeito nenhum, embora o papel esquisito e o fato de que era escrito a mão não ajudava.
Quando deu por si, já havia chegado ao seu destino.
Hospedou-se no Caldeirão furado (garantindo que o pagamento seria realizado mais tarde), e resolveu que ia ficar ali até setembro quando fosse para Hogwarts.
Sua primeira noite como bruxo oficial foi recheada de sonhos estranhos, que pareciam muito reais. No primeiro estava no saguão de entrada de um enorme castelo, enquanto todos batiam palmas para ele. Depois, aparecia segurando um objeto que lembrava um medalhão, e ouvia um barulho de algo se partindo dentro dele mesmo.
No último deles Tom aparecia maior e bem mais velho na casa de algum casal e tentava matar seu filho com uma dessas varetas de bruxos, mas o feitiço pareceu voltar contra ele mesmo e aí... Tom acordou.
Percebeu que o Outro Tom, o dono da estalagem batia na sua porta.
“Já vou” – Gritou o menino.
Vestiu-se rapidamente e abriu a porta com raiva, querendo saber porque raios o haviam acordado.
Mas quando abriu a porta ele já não estava lá. Resignado, o menino Tom resolveu sair para fazer suas compras. Mas como...?
“Com licença, Senhor... Err... O senhor poderia me informar como eu faço para entrar no beco diagonal?”
Tom Riddle estava na área do bar do Caldeirão Furado e dirigia-se a um bruxo de aparência muito macabra. O bruxo riu alto e estridentemente.
“Veja, Tom. Mais um daquela ralé sangue-ruim. Achei que Grindewald já tinha dado conta de todos...”
O Dono do bar não sorriu. Apenas lhe disse:
“São três tijolos pra cima e dois para o lado. ”
É claro que Tom não fazia idéia do que isso significava, mas não se sentiu suficientemente seguro para continuar fazendo perguntas. Saiu pela portinha de trás apontada pelo Outro Tom até encontrar um muro de tijolos. Contou três tijolos para cima e dois para o lado, sentindo-se idiota por estar ali contando tijolos de um muro. Resolveu sentar ali até que algum outro bruxo mais educado passasse e lhe fizesse o favor de ensinar o caminho.
Acabou dormindo ali sentado e acordou alguns minutos depois com uma mulher muito ruidosa entrando no lugar.
Assim que bateu os olhos na mulher percebeu que teria problemas com ela. Era exatamente o tipo de gente que Tom evitava a todo custo. Era jovem, baixinha, meio gorducha. Tinha volumosos cabelos crespos e ruivos e usava óculos fundo de garrafa. Suas roupas estavam pessimamente combinando, usava uma calça marrom muito larga amarrada em sua cintura com uma corda e camisa social masculina para dentro da calça. Meias desparelhadas até o joelho e um sobretudo de lã vermelho completavam o conjunto. Ria ruidosamente e falava com algum amigo que estava dentro do bar como se estivessem cada um de um lado oposto de um campo de futebol. A mulher pareceu particularmente excitada quando viu Tom ali e disse:
“Oh, você está sozinho, querido? Venha comigo, eu posso ajuda-lo... Mas onde estão seus pais?”
O garoto irritou-se ao perceber que ela o examinava por de trás dos óculos de três centímetros de espessura como se ele fosse um bichinho muito curioso. Mas mesmo assim respondeu o mais educadamente tentando não deixar transparecer demais seu desprezo por aquela figura.
“Sim senhora, estou sozinho mas não preciso de ajuda. Apenas que alguém me ajude a entrar no Beco Diagonal...”
“Oh”- Respondeu a figura com um certo tom de frustração – “Receio não poder ajuda-lo porque, sabe, eu... eu sou um aborto.”
A mulher falou essa ultima palavra como se fosse obscena, e corou profundamente.
“Mas eu sei como ajuda-lo. Acho que você ainda não tem sua varinha, certo?”
“Não, senhora”
A mulher gritou por alguém, e Tom exasperou-se. Seria tão difícil...?
O homem que chamara Tom de Sangue Ruim estava de volta. Lançou um olhar de profundo desprezo ao garoto e simplesmente tocou com sua varinha do tal tijolo, que encolheu e o buraquinho aumentou, rapidamente transformando-se num portal que dava, enfim, acesso ao Beco Diagonal.
Tom suspirou aliviado e entrou no lugar.
Ficou fascinado.
Era grande porém não amplo, eram ruas tortuosas com muitas vitrines com coisas coloridas piscando atrás, soltando fumaça, movimentando-se. Mas, o melhor de tudo era o ar pesado e carregado de magia, que Tom só havia sentido naquela caverna do rochedo. Sentiu-se confortável e feliz como nunca, até se dar conta que estava parado no meio da rua, a boca abertas e várias pessoas o olhando. Recompôs-se e viu um grande letreiro bem na sua frente onde lia-se “Gringotes” e um prédio alto e muito branco erguia-se, imponente.
Entrou e observou bem o lugar onde estava. Era todo de mármore e bronze polido, o que fazia o lugar brilhar muito.
“Posso ajuda-lo?”
Um ser pequeno e careca, de rosto franzido e orelhas e nariz muito grande dirigiu-se a ele.
Tom não sabia como deveria agir. Estava assustado e ao mesmo tempo curioso. Mas, [i] curiosamente [/i] aquele ser de meio metro parecia impor respeito. Não parecia ser alguém a quem se pudesse intimidar. Tom teve vontade de rir da insignificância da pobre criatura, mas não o fez. Respondeu educadamente.
“Sou aluno novato de Hogwarts. Acontece que eu... Bem, eu não tenho... Fundos... Na verdade...Eu sou órfão de modo que não possuo nada... Dumbledore me disse que talvez houvesse um fundo para alunos como eu...”
Ele tentava manter um mínimo de dignidade, mas não pôde evitar de corar. Porém o estranho serzinho não permaneceu impassível, e apenas mandou que Tom o seguisse. Entraram num frágil trenzinho que começou a percorrer trilhos tortuosos, penetrando mais e mais no subsolo. Quando o trem parou, o ser orelhudo pulou e anunciou:
“Este é o fundo monetário de Hogwarts. Cada aluno tem direito a cem galeões por ano até sua formatura, ou até que ache fundos próprios.”
O duende (ou assim o chamava Tom mentalmente) abriu o cofre, onde haviam centenas de saquinhos iguais com o mesmo brasão com um H no meio. Tirou um de lá e disse:
“As moedas de ouro são galeões, as de prata são sicles e as de bronze são nuques”
Quando voltou ao Beco Diagonal pôde observar mais atentamente sem o fascínio inicial. Ainda era muitíssimo interessante passear por suas ruas. Passava por lojas e mais lojas recheadas de coisas interessantes e seu cérebro parecia coçar de curiosidade. Queria tocar cada uma delas, queria ter cada uma delas...
Tom Riddle entrou numa loja de objetos mágicos. Reparou que não havia ninguém no balcão. Cobiçoso, pegou coisa por coisa e analisou, tentando descobrir para que cada uma servia. Cheirou um frasco de sangue de dragão e colocou-o no lugar. Sua mão formigava, mas ele sabia que seria descoberto se resolvesse afanar qualquer coisa dali. Foi embora, sentindo-se frustrado. Mas não era nenhuma novidade para ele, não poder ter coisas... Não que realmente fosse tão ligado a coisas materiais, mas gostava de colecionar troféus de cada uma de suas... digamos... vítimas.
No final do dia o garoto estava exausto e faminto. Na sua lista só faltava uma varinha. Havia comprado vestes novas, mas livros e instrumentos de segunda mão. E optara por não ter nenhum bicho; eram caros demais. Ainda precisava pagar sua estadia n´O Caldeirão Furado. Então rumou com seu monte de sacolas até a última loja do Beco, chamada Olivaras.
Era um lugar cheio de caixas empilhadas até o chão. O ar pesado de magia também pareceu ficar mais carregado. O Sr.Olivaras o recebeu com um sorriso e uma fita métrica nas mãos.
“Boa tarde, meu caro rapaz. Essa é sua primeira visita à minha loja, estou certo?”
“Sim, senhor”
“Primeiro preciso saber se você é destro ou canhoto...”
“Bem, sou destro.”
O Sr. Olivaras começou a medir um Tom muito confuso de cima a baixo, a circunferência da cabeça, o comprimento do braço, a distância do antebraço ao cotovelo. Por fim, disse:
“Experimente essa. Carvalho, 23 cm, pêlo de unicórnio, muito dura e boa para transfigurações.”
Acenou a varinha e nada aconteceu. Sentiu-se bobo quando o Sr.Olivaras retirou-a de sua mão e entregou-lhe outra.
“Tente esta. Trinta e quatro centímetros, bordo, pena de fênix. Maleável, extremamente poderosa.”
Tom Riddle sentiu um calor percorrer todo o seu corpo. A varinha parecia ter grudado na sua mão, e o garoto sentiu que podia... que podia tudo. Fechou os olhos e sentiu o corpo pesado de magia poderosa. Aquela varinha para Tom era simplesmente o mundo e nada mais importava. Só ele e sua varinha. Parecia ter sido lançado novamente num abismo e sentia um imenso frio na barriga, como se caísse de uma montanha-russa. Algo parecia sair de seu corpo, vazando através de todos os seus poros; Tom Riddle tomava consciência a partir daquele momento, do poder que tinha. Toda aquela magia bruta buscava um meio de vazar e aos poucos, Tom foi voltando a si, abriu os olhos e viu um Sr.Olivaras assustado. Em seguida vomitou o pouco que tinha no estômago no chão de mogno da loja. Sentia-se nauseado, mas a sensação de poder já o tinha dominado. Era questão de se acostumar...
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