UM PEDIDO INESPERADO
Demorou três dias inteiros para que Alex conseguisse falar com Gina. Ele teve que esperar a aula dupla de Poções para que ela não fugisse dele como um dementador de um patrono, como acontecia desde a fatídica tarde das serpentes.
Gina tentou faltar a aula alegando uma dor de cabeça. A desculpa não colou porque a escola contava com Madame Pomfrey, a enfermeira bruxa que curava dores de cabeça usando um método rápido e definitivo: um feitiço Bloqueius, possante analgésico que impedia dores por 20 anos.
Além disso, Snape avisara que descontaria pontos por falta, e ela já devia 50 para a Grifinória. De modo que entrou na sala e escolheu o canto mais escuro, úmido e distante que conseguiu e se fez de morta. O plano funcionou bastante bem. Alex até lhe lançou um olhar de esgoela, mas não se aproximou.
A ruiva relaxou enquanto guardava os ingredientes usados na aula do dia (prepararam uma poção anti-caspa que também servia como revigorante e impedia transes longos provocados por encantamentos divinatórios.). Notou que Snape e Alex conversavam na frente do quadro-negro e saiu rápido para não ser abordada pelo corvinal.
“Será que as suspeitas têm fundamento?”, ponderou, lembrando-se das discussões de Harry, Rony e Mione que ela conseguia ouvir de vez em quando. “Será que Snape é um comensal?”
Nem bem tinha virado à direita na passagem para o saguão e uma mão a parou. Ela estremeceu ao reconhecer a voz.
- Temos que conversar, Virgínia. – Alex estava muito sério. Gina sabia que ele viria. Alex gostava de colocar os pingos nos “is”. – Você não pode fugir para sempre.
Lentamente ela se virou e o encarou, esperando. Um choque percorreu suas costas ao ver quão perto ele estava. O garoto apenas olhava dentro dos olhos dela.
- Eu mereço uma explicação.
Ela continuava sem fala. “Droga! O que ele está fazendo?”
- Eu mereço saber por que você está me tratando assim.
- Você merece? – “Finalmente minha garganta destravou...” – O que você fez para merecer qualquer coisa? – a voz saiu forte e decidida, fato que Gina estranhou pois estava apavorada.
- Virgínia, eu não estou entendendo o seu comportamento. Não sou um brinquedinho para ser manipulado. – Alex parecia estar prestes a explodir.
- O mesmo digo a você e ao seu mestre! – ela dardejou, cuspindo a última palavra. Ele franziu a testa.
- Mestre? Do que você está falando? – era confusão que ela via em seus olhos?
- Eu não sou idiota. Eu vi as serpentes. – exclamou, apontando o braço dele. – Serpentes, cobras, sonserinos, seu mestre, Tom Riddle...
O queixo do loiro caiu.
- Eu não vou mais cair em histórias de diários, de poder, de trevas, ouviu? – “Ah, não! Por que minha voz tem que tremer?” - Pode arrumar outra garotinha boba para os seus joguinhos!
- Gina, eu... – ele fez um gesto de se aproximar, mas ela ergueu a mão.
- Não ouse se aproximar de mim! – Alex estacou. – Você tem as marcas de Você-Sabe-Quem!
- Eu não tenho marca alguma nos braços. Veja! – ele arregaçou as mangas, mostrando os braços brancos para ela. Não havia nenhuma serpente azul. – Além disso, a marca “dele” não são serpentes, e sim um crânio com língua de cobra.
Gina olhou atentamente os braços do rapaz, procurando algum sinal das serpentes, sem sucesso. Um novo sentimento tomou conta dela: vergonha. Buscou os olhos de Alex e eles lhe disseram que ele estava raivoso com a desconfiança dela, e tristes, e que ele jamais faria mal a ela. Sabia que não era mentira.
“Quando a alma dele tornou-se clara para mim?”
- Mas elas estavam aqui.... – ela murmurou.
- Se você viu serpentes em meus braços, isso pode significar várias coisas, mas jamais que eu me tornei um comensal da morte. – ele continuava sério. “Como assim significar várias coisas?” Gina pegou-se desejando que ele sorrisse. Sentiu saudades do sorriso franco do amigo. – Nós podemos não ser mais próximos, mas eu nunca faria mal a você, e você deveria saber disso.
Então, Alex quebrou o contato visual virando-se para o outro lado sem dar chance dela se desculpar.
O Natal já não estava tão longe assim, mas Gina não tinha cabeça para pensar na tal pesquisa. Na verdade, ela sabia que fazia terrivelmente mal não tentar, mas tinha outras prioridades.
Primeiro, Alex. O garoto mudara consideravelmente de atitude. Nas raras vezes em que se encontravam nos corredores, ele limitava-se a um aceno à guisa de cumprimento. Durante as aulas de Poções, era friamente educado.
Gina sabia que o tratamento congelante era uma punição por ter duvidado dele. Alex não admitia suposições sobre seu caráter.
Ela não sabia mais o que fazer para voltar a falar com ele. Reconhecia que fora louca, mas “ele tinha que entender o que é um trauma, droga!” Afinal, era o Tom! Não qualquer bruxo brincando de malvado...
Além disso, uma responsabilidade inesperada surgiu, e ela não teve como fugir da professora de Adivinhação.
Na primeira aula que Gina assistiu depois da tempestade de neve, a Profa. Lake pediu que ela ficasse depois da saída dos colegas.
“Não é possível que ela saiba que invadi a sala, é?”, pensava ao aproximar-se da mesa onde a professora acabara de colocar uma bacia de prata e uma garrafa de água. “Só me falta outra detenção.”
- Por favor, Virgínia. Sente-se. – Sianna apontou a cadeira onde ela se sentava para as aulas. Quando Gina fez o que foi pedido, ela postou-se ao lado da garota e sorriu. – Não se preocupe. Eu quero apenas conversar com você.
- Sim, senhora.
- Virgínia, você tem se destacado nas minhas aulas. Alguns poderes que esperava apenas de alunos mais adiantados manifestam-se em você de uma maneira especial. – os olhos azuis da professora brilhavam estranhamente. Gina não conseguia pensar em nada para responder. “Tenho que parar com essa mania de ficar sem voz!” – A adivinhação é um dom raro, e você mostra ter potencial. Nas leituras de augúrios no vôo dos pássaros e nas mensagens do vento você é, sem favor nenhum, minha melhor aprendiz. – essa declaração fez Gina ruborizar-se.
- E... e.. eu só me esforço, Profa. Lake. As aulas ficaram bem mais interessantes com a senhora. – o sorriso da professora alargou-se.
- É, já ouvi comentários sobre a Profa. Trelawney. Em todo caso, a licença que ela tirou por estresse nervoso está sendo proveitosa para ambas as partes, não?
- Então foi isso que aconteceu com ela?
- Sim. – Sianna emitiu um barulho de riso contido. - Por alguma razão, ela insistiu com o diretor que não podia dar aulas para alunos condenados à morte certa. – Gina teve vontade de rir, mas conteve-se.
- Ela previa a morte de Rony e Harry em todas as aulas. – disse, em tom divertido.
- Mas não é para falar de Sibila que estamos aqui, não é? Vou direto ao ponto: eu preciso de ajuda com as aulas e escolhi você. – o queixo de Gina caiu e ela fez uma careta. A professora fingiu não ver. - Preciso treiná-la primeiro, se você concordar, é claro.
- Ah, Sra. Lake... Já tenho uma pesquisa do Prof. Snape... Além disso, não sei se sou a mais indicada... Tem a Hermione Granger... – “Eu não posso ter mais esse problema.”
- Eu trato com o Prof. Snape. A Srta. Granger não faz essa matéria, apesar de ela ter vindo conversar comigo algumas vezes, perguntando-me sobre Avalon. – Sianna encarou Gina e enfatizou a última palavra. – Você se importa em ser testada? Não lhe fará mal algum.
A garota olhava espantada para a bruxa. Não conseguia desviar os olhos dos dela. Sentia que estava sendo examinada, desnudada de todo pensamento e lembrança.
Uma voz sussurrava em sua mente: “Você é livre, Virgínia. Livre para conhecer. Livre para trilhar seu caminho. Mas não livre para fugir do seu destino. É chegada a hora. Aqui você começa a despertar.”
- Sim. Aceito o teste. – ela assustou-se ao ouvir a própria voz responder, sem que ela mandasse. Palavras eram postas em sua boca. – Carvalho, água e pedra. Que a benção da Deusa esteja sobre esse momento.
Gina estava flutuando no espaço. Havia névoa em todas as direções. Ela ouvia um canto, mas não entendia do que falava. Foram só alguns segundos, mas a sensação era de que horas se passaram enquanto ela mergulhava dentro da bruma. Uma sensação de conforto e segurança.
- Eu estou certa. – Sianna tocou levemente o ombro da garota, trazendo-a de volta.
- O que... o que aconteceu? – Gina virou os olhos ainda vidrados para a professora.
- Você começou a entrar em transe, Virgínia. Não precisa ficar nervosa. Isso aconteceu porque o ambiente está preparado para isso. Veja – Sianna apontava para um fogareiro atrás delas, de onde saía uma fumaça branca e fofa. – Facilita a abertura da visão.
- E aquilo que disse...? – a língua pesava. As palavras difíceis e enroladas. – Não sei de onde vieram...
- É uma invocação que fazemos na Ilha Sagrada. – os olhos dela faiscaram, Gina teve certeza. – Protege a vidente.
- Então,... Você... A senhora é mesmo de Avalon?... Pensei que a Ilha estivesse perdida há muito tempo...
- Avalon está perdida para aqueles que crêem nisso. Sim, eu nasci e fui criada na Ilha Sagrada. Isto – tocou a lua crescente em sua testa. – é o sinal da sacerdotisa.
Gina notou um formigamento na própria testa.
- E isto – pegou a garrafa e despejou o liquido transparente na bacia. – é água do Poço Sagrado de Avalon. As sacerdotisas que têm a Visão olham o poço e revelam muitas coisas. Para que tudo dê certo, precisamos usar uma bacia de prata que nunca tenha sido tocada. Agora, olhe dentro da bacia e diga o que vê.
Gina hesitou. Estava tonta com o cheiro da fumaça, a cabeça girando, os olhos um tanto ardidos. Encarou a professora, tentando pedir ar puro. Mas Sianna Lake tinha uma expressão dura e decidida no rosto. A garota viu-a crescer, tornar-se maior, terrível em sua fúria e maravilhosa em sua alegria. “Ela não é um ser humano.” Curvando-se à vontade daquela figura temerária, voltou a atenção para a água tranqüila da bacia.
Imediatamente o medo desapareceu. Muito longe, sentiu uma mão tocar-lhe o rosto, conectando-se para ver o que ela via. E o que Virgínia Weasley via?
Fogo. Tochas subindo a montanha com o círculo de pedras no cume. Espadas desembainhadas. Sangue violando o solo que ela sabia ser sagrado. Um grito de dor. Gritos de pânico. E ela estava lá. Correndo desesperada pelos bosques, escondendo-se em buracos no chão. Fechou os olhos com força para não ver a espada que vinha em sua direção.
Quando os abriu, estava afastando-se da ilha que afundava. Um barco conduzia os sacerdotes para o leste, fugindo do ocaso e da destruição. Tinha lágrimas pelo rosto, que enxugou com mãos cujos pulsos eram adornados por braceletes em forma de serpentes douradas. Procurou apreensiva em volta, e encontrou um homem também olhando com tristeza para o oeste.
- Fugimos do caos, minha cara. – a voz dele era rouca e baixa. - Agora vamos para o desconhecido.
Ela encarou os olhos verdes que a miravam da face dele. Conhecia aquela alma, aquele espírito quente e amado, mas nunca tinha visto seu rosto.
- Não nesta vida. – ele sorriu para ela, a imagem sumindo na névoa.
Então, Gina estava de volta à sala de Adivinhação. A primeira coisa que viu foi o crescente azul tatuado no seu reflexo. Instintivamente, passou a mão pela testa, mas ele não estava mais lá.
Encontrou a Profa. Lake atrás dela, um sorriso de satisfação nos lábios. Subitamente sua mente estava liberta do torpor da fumaça.
- O que significa tudo isso? – levantou-se e afastou-se da mulher. “Ultimamente coisas sem sentido acontecem comigo”, constatou.
- Significa apenas que você é a minha ajudante. – a mão da professora ergueu-se, parando a pergunta de Gina antes dela formulá-la em voz alta. – Existem coisas, Virgínia, que só compreendemos depois de vivenciá-las. A sua experiência com a Visão está apenas começando. Seja paciente e persistente.
- Mas...
- Esteja aqui todas as terças, quintas e sábados às sete horas da noite.
- Mas...
- Não se preocupe. Falarei com o Prof. Snape que você precisará de mais tempo para sua pesquisa. Agora vá, Virgínia. A outra turma já deve estar chegando.
Gina achava-se perplexa o suficiente para não dizer nada além de “Sim, senhora.” Estava, ao mesmo tempo, ansiosa e assustada. Tinha que conversar com alguém. E, naquele momento, só pensou em uma pessoa...
Já passava da hora do jantar, por isso ela disparou para o salão principal. Procurou na mesa da Corvinal. Alex não estava lá.
“Eu sou uma estúpida! Por que ele iria querer me ouvir?”
Vasculhou as mesas restantes e descobriu Hermione, Rony e Harry na extremidade próxima à mesa dos professores. Aproximou-se, respirando fundo para tentar se acalmar.
- Harry, você precisa se alimentar! - Hermione aconselhava para um Harry de braços cruzados e expressão tediosa.
- Mas o jogo é só amanhã!
- Você precisa treinar muito, temos que ganhar o jogo!
- Calma, Mione - disse ele - já treinei muito, nós vamos ganhar.
"O jogo!", pensava Gina. "Tenho tanta coisa pra fazer que nem me lembrava mais... Acho que terei que deixar a conversa para depois... Hei, que dia é hoje?" Abriu rapidamente a mochila, procurando o calendário. “Essa não!”
O dia seguinte também era o aniversário do Alex... No ano passado, ela tinha lhe dado um pequeno colar. Não era muita coisa; era simples, dourado, mas ela achou que combinava com ele. Tinha comprado com suas economias e com muito carinho.
“O que vou fazer da minha vida?”. Sem ter sido notada, saiu arrastando os pés. “Ele vai ter que me ouvir!”
Gina não sabia como, mas ela falaria com Alex. O dia seguinte seria perfeito! Ela precisava dar algum presente para ele. “Mas... o quê?”, pensava. “E se ele não gostar? E se não adiantar?” Além de tudo, ela não tinha tempo para comprar um presente legal para ele. Já era noite, e ela planejava entregar algo logo no café da manhã.
Disse a senha para a Mulher Gorda (“Sonhos de chocolate”) e correu para o dormitório.
- Feitiços... cadê meu livro?? - Ela falava sozinha, revirando sua mochila. - Achei! - Exclamou, pouco depois, com o livro na mão. Fechou a cortina da sua cama e não dormiu enquanto não terminou de preparar o “presente”.
Acordou cedo, ansiosa. Queria saber o que Alex acharia do cartão... além disso, havia o jogo de quadribol. Harry jogaria contra Cho pela primeira vez desde o começo do namoro deles. Isso não deixava de mexer com Gina, claro. Ao mesmo tempo que ela queria que Harry ganhasse, ela sabia que seria o melhor presente de aniversário para Alex se a Corvinal saísse vencedora.
Foi uma das primeiras a descer para o café da manhã. Sabia que os monitores acordavam antes dos outros alunos; talvez encontrasse Alex lá. Quando estava saindo do salão comunal, encontrou Hermione entrando.
- Já acordada, Gina? Eu estava entrando pra chamar vocês...
- Estava sem sono. - Dizia ela, apressada. - Mione, todos os monitores já saíram de lá?
- Todos foram acordar os alunos, por quê? - perguntou ela, curiosa.
- Nada. - Respondeu, correndo para o salão principal.
Não sabia exatamente por que corria tanto. “Ele não vai estar lá agora, mesmo...” Ainda pensava se entregaria pessoalmente, ou se usaria uma coruja... provavelmente ele estaria rodeado de amigos o dia inteiro. Como não teriam aulas, seria muito mais difícil achá-lo sozinho.
Não o viu a manhã inteira. Hermione também não havia aparecido; “os monitores devem estar em reunião”, pensava Gina. Ela não tinha certeza do motivo pelo qual queria tanto voltar a ser amiga de Alex. Só sabia que, desde o dia anterior, depois que saiu da sala de Sianna, ela desejava isso profundamente. Nem pensou em contar para Hermione tudo isso; ela queria que o primeiro a saber fosse ele.
O jogo de quadribol começaria às duas horas da tarde. Na hora do almoço, era o único assunto que se ouvia em todas as mesas. Gina o viu sentado na mesa da Corvinal, rodeado de amigos. Não queria ir lá. Chamaria muita atenção, e ela era muito tímida. Olhava para ele o tempo todo. Não deixava de olhar, mesmo quando ele olhava para ela. Mas o olhar dele era frio... isso a deixava mais insegura quanto ao cartão. Mas ela estava decidida a entregar; conferia se o presente estava no bolso da capa o tempo todo, e seu coração batia mais forte cada vez que pensava no que ele acharia.
À uma e meia, o salão comunal começou a esvaziar. Os alunos asseguravam seus lugares nas arquibancadas, mas Gina continuava sentada. Os monitores eram os últimos a sair, e ela queria entregar o cartão para Alex quando ele estivesse sozinho. Acabou se perdendo em seus pensamentos e, quando voltou à realidade, Alex já saía do salão principal. Correu para alcançá-lo.
- Alex! - gritou, já do lado de fora do castelo.
Ele virou-se e, para surpresa dela, não voltou a andar. Gina se aproximou dele, tirando o cartão das vestes.
- Toma - ela disse, olhando para o cartão quando entregava. - Eu não tive tempo de comprar um presente...
Dizendo isso, voltou a correr, em direção à arquibancada da Grifinória. Quando se sentou, ao lado de Rony e Hermione, que parou para pensar. “Que burra!!! Eu não tinha algo melhor pra falar, não? Nem esperei que ele dissesse alguma coisa!”
Pegou o onióculo da mão de Rony sem pedir licença e procurou Alex no meio dos corvinais. Ele não estava lá. Continuou procurando e viu que ele ainda não tinha ido para as arquibancadas. Estava abrindo o cartão, não muito longe dali. Ela não pôde ouvir nada, mas viu os lábios dele se mexendo quando fechou o cartão. Devolveu o onióculo ao irmão quando, tranqüilizada, percebeu um sorriso no rosto do garoto.
O jogo estava começando. David Adams, um sextanista da Lufa-Lufa, era o narrador desde a formatura de Lino Jordan. Os jogadores entraram em campo. Gina olhava Harry vestido no uniforme vermelho; ele ficava bonito assim... mas não o admirava como das outras vezes. Alguma coisa havia mudado, percebeu. Não sabia o que, e também não queria descobrir. Ela o amava, sabia disso e não queria mudar. Achava que não...
Gina não estava prestando tanta atenção no jogo. Olhava para todos os lados, procurando Alex. Queria que aquele jogo acabasse logo para poder falar com ele. Olhava para Harry muitas vezes, também. Era somente um pontinho vermelho, muito alto, acima de todos os outros jogadores. Às vezes via Cho atrás dele, em mergulhos com a vassoura, atrás do pomo de ouro. Harry era um ótimo apanhador; ela sabia que o jogo não demoraria muito se ele enxergasse o pomo. Cho também jogava muito bem, mas sua vassoura era mais lenta, e isso dificultava.
Depois de 2 horas de defesas incríveis e algumas contusões sérias, especialmente infligidas pelos batedores da Corvinal, Harry apanhou o pomo. Fez uma manobra arriscada, quase quebrou sua vassoura. Ficou com alguns ferimentos leves, mas pegou o pomo. Os grifinórios gritavam de felicidade. Gina sabia que teria uma festa no salão comunal, mas ela não estava nem um pouco interessada em participar. Correu para o banco na frente do lago, esperando que Alex fosse ao local marcado.
Esperou uns dez minutos em pé, olhando constantemente na direção do campo. Todos os alunos saíam, mas nenhum sinal de Alex. Ela tinha certeza de que ele iria. Sentou-se e esperou, lembrando-se de acontecimentos do ano passado. Quando ela o conheceu sentia que não era a primeira vez que eles se encontravam... foi acordada de suas lembranças com um toque no seu ombro. Levantou-se depressa com o susto.
- Ei, Linda... - ele olhava para ela, sorrindo.
Ela não sabia o que falar. Só olhava para ele, para aqueles olhos verdes. Através deles, ela sabia exatamente o que Alex sentia. “Como eu consigo fazer isso?” Continuou olhando, mas não conseguia falar. Foi ele quem começou:
- Foi um jogo e tanto, não acha? Minha casa perdeu, mas foi justo... Harry foi muito bom. - Ele continuava sorrindo, sem desviar seus olhos dos dela.
- É... - Gina não sabia o que falar. Ela queria falar muita coisa, mas não sabia como...
- Gostei muito do seu cartão - ele voltou a falar. Parecia que ele lia os olhos dela... ela teve certeza de que não precisaria dizer nada, ele já sabia.
- Alex, eu... desculpa...
- Tudo bem, Gina, não precisa dizer nada... amigos outra vez?
Ela olhou para ele, balançando a cabeça positivamente.
- Feliz Aniversário! - ela sorriu.
Então eles se abraçaram e ficaram vários minutos ali, juntos, sem falar nada. Só aquele gesto já dizia tudo que eles queriam. Gina sabia que, a partir dali, a amizade deles ficaria mais forte do que nunca foi.
Passaram o resto da tarde conversando, como se nunca tivessem passado meses longe um do outro. Eles falaram de tudo, desde as férias de verão até o jogo de quadribol. Gina também contou para ele sobre Sianna e as novas aulas de adivinhação que teria, que ainda não sabia exatamente o que era.
- Ela disse que eu vou ser ajudante dela, mas ainda não sei exatamente O QUE eu vou fazer... amanhã começamos a treinar...
- Então você vai ter menos tempo pra fazer o trabalho do Snape... Gina, será que a Sianna pensou nisso?
- Ela disse que vai falar com ele pra aumentar o prazo do trabalho.
- E como anda o trabalho, Virginia Weasley? - perguntou ele, com uma cara de “eu-sei-que-você-está-enrolando”.
- O trabalho? Er... - ela olhava para o chão. - Não muito bem...
- Você ainda nem leu o livro, não é, Linda?
- Não adianta, eu não consigo esconder as coisas de você, né, Alex? - ela riu, batendo no ombro dele. - Tive muita coisa pra pensar e fazer esses dias, não deu tempo...
- Eu te ofereci ajuda; se precisar de mim...
- Obrigada, mas eu acho que vou fazer isso sozinha...
- Gina, você tem dificuldade em Poções, sabe disso. E sabe também que essa poção é complicada... eu vou te ajudar SIM. - ele falou, decidido.
- Bem... então tá, se você diz... - Gina respondeu, com cara de quem queria que isso tivesse acontecido.
- Nossa - ele disse, olhando para o céu. - Tá tarde, todo mundo deve estar jantando... eu devia ter ido lá pra dentro ajudar e fiquei aqui... vamos, Gina, tô morrendo de fome, também.
No salão comunal da Grifinória, a comemoração havia começado. Os garotos conseguiram comida com os elfos na cozinha, e Hermione nem tinha reclamado. Ela ainda era contra a exploração das pobres criaturas, mas estava muito feliz com o resultado do jogo para reparar. Gina participou da festa, parabenizou os jogadores (abraçou Harry, o que todos - inclusive ela - acharam muito estranho) e curtiu bastante.
Sentia-se leve e confiante. Sorria, brincava com os colegas de casa e até atreveu-se a enfrentar Rony numa partida de xadrez de bruxo (que ela perdeu fragorosamente meia hora depois). Quando caiu na cama, dormiu como não fazia há séculos.
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