Sobre o Fim da Estação - Pt. 2

Sobre o Fim da Estação - Pt. 2




Ignorando seu incessante enjôo, Bella havia saltado da cama do primo, atravessado o quarto e descido as escadas, deixando para trás uma Ciça assustada e tentando adivinhar o que viria a seguir.


Na sala da tapeçaria, Walburga espumava de raiva enquanto Mifula e Druella tentavam fazê-la desistir de destroçar o nome do filho da árvore dos Black. “Oh...” elas diziam “Você sabe o que isso significa, ele é só um garoto, não faça, por Slytherin”. Bellatrix andou dois passos para trás e saiu da sala antes que a tia a visse. Ainda esbarrou com um Regulo extremamente atordoado, mas chegou a tempo de pôr-se na frente de Sirius, que já estava a meio caminho da saída.


- Tente explicar – ela disse, imitando o tom de voz do primo.


- Eu não posso ficar mais aqui, Bella... Não é meu lugar, nunca foi... Se você não pode ir comigo...  Te espero em Hogwarts.


Os dois se encararam. Ela soube que o que quer que tivesse acontecido, Walburga ainda não sabia do envolvimento deles, que Sirius inventara uma história qualquer na qual ele era o culpado. Foi o que ele disse que faria. E ela? Só precisaria esperar, esperar que algo acontecesse, que indicasse seu caminho... Fosse ele qual fosse.


- Você não vai contar por que aceitou o anel do Lestrange?


Ela permaneceu em silêncio. Apenas negou com um gesto e baixou a cabeça, fitando os próprios pés. Ele jamais entenderia. Sirius suspirou e abriu a porta, a meio caminho de sair, como se um raio o tivesse atingido, voltou atrás e puxou Bellatrix para junto de si, ela a meio caminho de alcançar os braços dele. Mas não a beijou.


- Até, Trix.


Sirius saiu, mal batendo a porta. Ele me deixou. Bella ficou um tempo parada, observando a madeira escura que acabara de se fechar. Logo ouviu o barulho da moto cortando o silêncio da rua vazia. Me deixou aqui, sozinha no escuro. Não queria saber que ele prometera esperá-la em Hogwarts. Aquele sentimento das pessoas tolas e apaixonadas, deixadas pelo amante, remoeu seu peito, só não a dominando mais que o impacto quase voluptuoso daquela voz fria e dominante que ouvira a dois dias atrás. Agora podia ouvir essa mesma voz, ou algo muito parecido com ela, zombando de como a garota consternava-se diante de uma adversidade tola. Sozinha, sozinha... Sentia-se estúpida, fraca em demasia por ter se envolvido de forma irremediavelmente intensa com Sirius. Maldito Verão.


Sem saber o que faria a seguir, subiu as escadas lentamente. Acabara de dar-se conta: Sirius não levara absolutamente nada, só a varinha e a moto... Então, interrompendo as mais confusas conjecturas, algo muito vivo agitou-se em seu ventre. Nos deixou. Seria possível?


 


 Toda essa confusão de lamúrias


 


A grande motocicleta negra corria velozmente pelos céus londrinos. Podia ir para qualquer lugar. Para onde quisesse. Por que não pensara nisso antes? – Não que sonhos de fugas não povoassem desde muito tempo a mente de Sirius Black – Mas naquele exato momento tudo que importava era o sabor da liberdade, do vento gelado da noite. Sirius era um Black egoísta. Aquela garota falsa. Tudo que ele desejou foi não ter se enganado com Bellatrix. Porque ainda tinha o gosto dela sobre os lábios. E não era muito diferente do arrebatador sopro gelado.


Em Setembro... pouco tempo... Poderia esperar até Setembro... Tudo agora era tão rápido!


 


Vamos, está na hora


 


- Você dormiu com sua prima? - James encarava o amigo, boquiaberto.


- Eu a pedi em casamento, cara.


James ficou em silêncio por um momento, encarando a expressão séria do amigo. Por fim,  desatou a rir.


- Desculpa, Almofadinha, mas é que um cara incorrigível como você, pedindo a prima em casamento... Ainda mais alguém como Bellatrix... A outra, Andrômeda, sempre me pareceu mais... humana.


E voltou a rir.


- É bem hilário sim, Pontas, tanto que chega a ser... deprimente. - Sirius concluiu, apoiando os braços na batente da janela do quarto do amigo. - De qualquer forma, diga pra sua mãe que eu agradeço por me deixarem ficar aqui até o fim das férias.


- Que é isso - James deu de ombros - Até parece o Aluado.


 


 Preso nesse mundo


 


Uma semana. Esse era o tempo necessário para haver um novo Verão e Bellatrix ser feliz ao lado de seu escolhido. E teria dado certo, se não fosse a maldita Narcisa querendo acelerar as coisas. Porque, no dia seguinte a partida de Sirius, ela perguntou para a irmã, diante de toda família, se ela sentia saudades do namorado.


- Não sei do que você está falando, irmã querida.


- Até porque... – Lestrange interveio com seus modos untuosos de sempre -  Eu e sua irmã somos noivos, não namorados.
Narcisa riu com a mão sobre a boca e Walburga pareceu repentinamente curiosa:


- Do que você está falando, sobrinha?
Narcisa ergueu o rosto, vitoriosa. Bellatrix parecia prestes a matar a irmã.
- Que Bellatrix passou todas as férias mantendo um relacionamento secreto com Sirius.
A indignação foi geral. Bellatrix falou que era mentira da mais nova, que odiava o primo e que jamais se envolveria com um traidor do próprio sangue.


- Você diria o mesmo depois de beber uma poção da verdade? - Narcisa insistiu.
Bellatrix não soube qual seria a melhor resposta. Não que acreditasse que os parentes acatariam a idéia de Narcisa, mas se acontecesse, não havia uma maneira simples de extrair de sua mente as memórias sobre Sirius. Queria que ele ainda estivesse em casa, para tomar toda a culpa novamente – Sirius jamais se importaria em ser expulso, mesmo que isso significasse sua destruição.


- Que bobagem Narcisa, você deveria tomar mais cuidado com o que fala – Rodolfo interrompeu a discussão e a reunião entre a família Black e membros de outras famílias de sangue-puro, condolentes com a morte de dois patriarcas, decorreu normalmente.


Porém, quando todos começaram a se despedir e Bellatrix viu-se sozinha com Rodolfo, este fez questão de deixar bem clara sua verdadeira opinião:


- Escute aqui, pirralha... Se eu souber que for verdade o que sua irmã falou, você não irá mais voltar para Hogwarts.


- Mas...


- Você sabe com quem está sua lealdade, Bellatrix. É bom que você considere seus desvios adolescentes como encerrados, pois o Mestre jamais irá tolerar esse tipo de...


- Acho que você se incomoda mais com isso do que qualquer mestre. - Bella desafiou o homem.


Ele apertou o pulso da moça com força, então soltou e concluiu:


- Faça o que quiser e seja morta, então.


Antes que Bellatrix pudesse pensar em uma resposta, ele abandonou a saleta de visitas e foi despedir-se de Druella.



Solitário e apagado


 


Narcisa estava sentada no corredor, ao lado da porta do quarto de Bellatrix. Ela estava chorando copiosamente – a irmã mais velha havia lhe machucado a valer como vingança pela delação feita durante a reunião – mas chorava também porque logo depois que os visitantes deixaram a casa dos Black, Walburga quis utilizar de um meio nem um pouco nobre ou digno para saber se a sobrinha relacionara-se com algum homem. Isso era horrível. – Narcisa esperava que fossem expulsar a irmã e não tratá-la dessa forma! Tinha que chegar a Sirius de alguma forma, para que ele a levasse dali de uma vez por todas.



Bellatrix não conseguia chorar, apenas mirava o dossel da cama, inerte. Estava deitada, a tia lhe segurando os braços com um feitiço, enquanto a mãe conferia a integridade moral da moça. Se sentia humilhada e, mais que isso, furiosa com a irmã delatora e com o primo, simplesmente porque ele era culpado em ser a única criatura luminosa em uma morada de gente obscura.


- Bellatrix, com quem você se deitou? - Walburga libertou os braços da sobrinha e começou o inquérito logo que ela se levantou, sem se importar com o evidente mal estar estampado na face da moça.


- Rodolfo.


- Não minta, minha filha – Druella disse, sentada na beirada da cama - Sabemos que você visitou Lestrange poucas vezes e jamais saíram de nossas vistas.


- De que importa, eu vou me casar com Lestrange, não é?


Então as duas mulheres ficaram muito sérias. Druella apontou a varinha para a filha e murmurou um feitiço que a moça não conhecia. Uma luz avermelhada contornou o corpo de Bellatrix e, confirmando uma miníma e terrível suspeita, parou sobre o ventre da moça e passou a pulsar como se indicasse que lá havia vida.


- Bom, será uma criança de puro sangue, de qualquer forma.


- Lestrange não precisa saber...


- Oras, vamos, o homem não é um estúpido, ele saberia contar.


Elas conversavam, tentando decidir o destino de Bellatrix. Esta mantinha uma postura um tanto catatônica, pois sabia que se tentasse fazer qualquer coisa, apenas pioraria sua situação. Mal conseguia, na verdade, ver uma saída. Não queria ter um filho, a maternidade jamais lhe fora atraente e abriria mão dessa gravidez sem pestanejar, caso sua liberdade dependesse disso. A maior frustração é que estava arcando sozinha com as consequências, afinal Sirius estava muito bem, obviamente feliz por ter sido expulso. O que era preciso para que Bellatrix mudasse de idéia? Ela sabia bem quais eram as opções disponíveis e ela era a única que arcaria com qualquer que fosse a escolha.


 


Coração partido e esperando...
Você para partir


 


Sirius estava um bocado ansioso para embarcar no Expresso de Hogwarts. Não que ele agisse feito uma criancinha empolgada, mas mal dava atenção para a conversa dos amigos e, enquanto empurravam a bagagem pela plataforma 9¾, o rapaz não parava de olhar por cima da agitação de pessoas em busca de algo.


- Credo, você parece o Pontas caçando a Evans! - Peter Petigrew, um rapaz louro e baixo, cujo nariz arrebitado assemelhava-se ao de um camundongo, reclamou do comportamento do amigo.


- Relaxa Rabicho! - Remus Lupin salvou Sirius de maiores explicações – Vamos logo achar uma cabine vazia.


Os dois entraram no trem, seguidos por James Potter, que ainda se deteu para uma última palavra com Sirius:


- Almofadinhas, você tem certeza que está bem?


- Sim.


- Está procurando sua prima?


- Bom, eu...


- Sirius, eu não comentei nada até agora porque não era problema meu, mas não é do seu feitio agir desse jeito por uma garota; e você é quem mais sabe o quanto Bellatrix pode ser indigesta. Sem falar que ela esfregou na sua cara que ia casar com outro sujeito.


- Ótimo.- Sirius respondeu, mal-humorado. James não tinha a menor moral para falar de como se comportar diante de uma garota, e mais, ele não fazia a menor idéia de como funcionavam as coisas para a família Black - obviamente Bellatrix não tivera outra escolha, não é? Enquanto James, com um suspiro resignado, desistia de advertir o amigo e sumia pelo corredor do trem, em busca dos outros Marotos, Sirius teve o que lhe pareceu uma compreensão súbita da situação: ele era diferente da maioria de seus parentes, por conseguir ver outros caminhos além do que lhe fora imposto ao nascer. Bellatrix havia rebelado-se durante todo o Verão, ou pelo menos, pelo tempo que fora confortável experimentar o estilo de vida do primo, mas assim que alguma coisa que Sirius não sabia exatamente o que era entrou no caminho, a prima fora compelida a voltar atrás em suas promessas de amor. Daí surgiam duas possibilidades: ou Bellatrix jamais amou o primo de verdade e desistiu diante do primeiro obstáculo ou ela apenas tinha medo de algo que, possivelmente, estivesse ligado à morte de Alphard e Órion! Se assim fosse, poderia ser realmente perigoso, e mais, Bellatrix tivesse aceitado casar-se somente por formalidade e fugiria com Sirius quando se encontrassem em Hogwarts, não é? Aquele dramalhão que ela fizera só podia ter sido uma encenação para incentivar o impulsivo Sirius a sair de casa, pois com o rapaz distante, seria muito mais fácil fingir-se de filha exemplar. Claro, Bellatrix não era sonserina por acaso: faria qualquer coisa para atingir seus objetivos, afinal. Um tanto quanto revoltado por ter sido manipulado, mas sentindo contente e aliviado com a forma como as peças se encaixaram, caminhou para dentro do trem. Quando encontrasse Bellatrix, finalmente ia entender toda a trama maligna e porque isso, por pouco, interferira no romance entre ambos.


Nós estamos presos nesse mundo
Sem sentido para mim
Para mim


 


- Bellatrix, você andou se comportando de forma bem pouco inapropriada. - Lestrange sentenciou, assustando a moça sentada a mesa posta para um discreto jantar a dois.


- Como assim, Rodolfo? - ela fez uma expressão doce, o encarando por debaixo dos cílios muito compridos.


- Oras, sabemos bem que você tem aí um bastardinho que arrumou com aquele traidor do próprio sangue.


Bellatrix estava atônita. Como ela podia saber de alguma coisa dessas? Sabia que nem Walburga, nem Druella ou qualquer outra pessoa teria sido estúpida o suficiente para deixar algo assim escapar. Ela encarou o homem e viu, por trás dos olhos claros e comuns dele, havia um brilho avermelhado que só poderia pertencer ao mestre de uma marionete muito estúpida.


- Você precisa aprender, mocinha... - ele continuou, se levantando da própria cadeira e forçando Bellatrix a se levantar também. Tudo que ela sentia era um medo absurdo. E uma curiosidade doentia em conhecer aquele que detinha o poder de controle sobre os gestos de Lestrange – Que amor não existe para pessoas como nós.


Ela foi derrubada no chão. O que aconteceria agora? Morrer parecia simples demais e pouco cruel. Afinal, o que estava havendo com ela? Por que imaginava todas as cenas de seus momentos com o primo e o significado disso tudo parecia dissolver-se? Desesperada, agarrou-se com força a idéia de que queria revê-lo e que teriam um filho. Não havia mais nada o que fazer.


- Se você não que perecer junto aos fracos e traidores, deve obedecer. Crucio!
Ela sentiu a dor de mil facas incandescentes rasgarem seu corpo, ao mesmo tempo que a sensação de haver algo minimo e vivo dentro de si era retalhada em uma onda de sangue escorrendo por entre suas coxas.


E daí se você teve
Mais uma chance
Me parece
Que você não precisava
Vamos…!
Está me matando, veja só
Você conseguiu meu rancor
Venha buscá-lo por inteiro


 


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