Sobre Despedidas
Você mudou ou sempre foi a mesma? As horas revezaram-se com velocidade, se transformando em dias e em semanas. Sirius não vira sinal de Bellatrix em Hogwarts. Nos primeiros dias, ainda tentava enxergá-la entre os estudantes da Sonserina, sentada em algum lugar à mesa decorada com verde e prata. O Dia das Bruxas aproximava-se e o rapaz não conseguia imaginar como contatar a prima. Sabia que ela estava, de alguma forma, presa no Largo Grimmauld. Então seu coração parecia gelar, porque pensava que ela escolhera tal destino. Tentou escrever, mas as corujas jamais traziam alguma resposta. Tinha momentos de introspecção romântica, nos quais procurava algum canto escuro e solitário, que fosse a céu aberto, para que pudesse observar cada um dos pontos gélidos presos ao firmamento, enquanto pensava nos olhos da mulher amada. Então, cansava-se dessa existência miserável e agia como o velho Sirius Black de sempre, fazendo brincadeiras e participando das festas secretas dos estudantes. Ocorria-lhe com frequência que Bellatrix fora realmente um ponto de fuga pouco convencional durante férias tediosas em um lugar que detestava. Não tinha mais certeza se a amava como havia dito e prometido. Era uma sexta-feira, véspera do feriado, quando Régulo, acompanhado por uma chorosa Narcisa, pediu para conversar com Sirius. - Ela precisa te dizer algo. - Foi o que o garoto disse ao irmão mais velho, olhando muito sério de um parente para o outro. - E-eu... - Ela murmurou, encarando os próprios sapatos. Era perceptível que andara chorando - ...Sirius, eu contei a todos sobre você e minha irmã. Ela está presa em casa, irá se casar amanhã com Lestrange. Porém, tudo que Sirius sentiu foi desprezo por Bellatrix. Ela não possuía coragem para enfrentar a família e garantir a própria liberdade! Ele não teria, não queria, fazer isso por ela. Podia ajudá-la, mas apenas se ouvi-se dos lábios curvilíneos que assim desejava. - Se é só isso, Narcisa, nada que não suspeitasse. Preparou-se para sair, quando Régulo segurou seu pulso. - Não é só isso, meu irmão. - O jovem voltou-se para a prima – Ciça, conte a ele aquilo que me disse. - Um filho seu, Sirius. Com ela. §o§o§ Sirius jamais soube porque o irmão havia resolvido convencer Narcisa a contar tal coisa. Podia ser mentira de ambos, alguma ideia de brincadeira estúpida. Não. Eles pareciam sérios. Sirius abraçou os joelhos, sentado em uma das poltronas espalhadas pelo Salão Comunal da Grifinória. Mal percebeu a aproximação de outra pessoa. - Desculpe, te assustei? - Lily Evans estava parada diante do colega e parecia preocupada. - Ah, oi Evans. Não foi nada. - Andei conversando com Potter – ela disse, mal escondendo um pequeno sorriso ao pronunciar o nome de Pontas, mas Sirius não deu muita atenção a algo que de outra forma, seria uma boa piada – Ele me contou sobre... suas férias. E me pediu para conversar com você. - Não, obrigada. - Sirius respondeu, quase automaticamente. Registrou que deveria repreender o amigo por comentar sobre sua vida pessoal com terceiros, mesmo que a pessoa fosse a amada de James. Insistente, a ruiva sentou na poltrona ao lado e curvou o corpo na direção do rapaz, para que ninguém ouvisse a conversa. - Olha, eu não sei como estão agora, mas... Não deixe que o hábito destrua algo que se construiu de forma excepcional. - Eu não sei o que você está pensando, mas o que quero dizer é... Vá atrás dela e certifique-se de suas aflições. - Lily falou, de forma conclusiva, antes de deixar o rapaz com seus próprios pensamentos. Sirius teve que admitir que as palavras da moça, de alguma forma semelhante a Andie, haviam lhe insuflado a força motriz para que agisse. A mente trabalhando muito, correu para pedir a capa de James e começou a traçar a rota que faria. Iriam passear em Hogsmead no dia seguinte. O que ele tinha que fazer era entrar numa casa vazia e usar a lareira para chegar a casa dos Potter. Daria um jeito de desvincilhar-se da família do amigo, então pegaria a moto voadora, estacionada no depósito da casa... Era uma droga de plano arriscado, mas isso era mero detalhe diante da necessidade que Sirius sentia de fazer algo, de ao menos conversar com Bellatrix, nem que fosse pela última vez, seja lá o que isso pudesse significar. O dano está feito, tudo acabou agora Pouco prevaleceu a sensação gloriosa do plano que deu certo. Invadiu com facilidade uma das casas de Hogsmead e depois, a mãe de James pareceu compreender a situação para não ralhar com o rapaz e mandá-lo de volta para a Escócia. O sol começava a sumir no horizonte quando a enorme moto negra cortava o céu, em direção ao Largo Grimmauld. Sirius acelerava cada vez mais. Tinha a sensação de estar atrasado, muito além do que pudesse ser aceitável. Fez o possível para reduzir o ronco da moto o mínimo, para que ninguém o ouvisse descer até altura da janela e bater levemente nas pesadas folhas de madeira escura. Surpreendeu-se que ainda conseguisse ver e aproximar-se da casa. Realmente aquela tapeçaria não significava nada e Sirius continuaria sendo sempre o herdeiro natural do lugar. Abanou a cabeça: nada disso importava. Estava abrindo mão de tudo por Bellatrix e o bebê. Ouviu um “clique” suave e a luz do ambiente interno iluminou o rosto do rapaz. Trix estava muito séria. Seu rosto pálido estava sujo com maquiagem borrada e os cabelos muito negros estavam despenteados, tão bagunçados quanto as vestes negras com detalhes em verde que vestia. Ela andou alguns passos para trás, dando espaço para que o primo saltasse felinamente da moto voadora para dentro do aposento. Sem dizer nenhuma palavra, ele a envolveu em um abraço apertado. Bellatrix não se moveu, apenas inclinou a cabeça lentamente, a apoiando sobre o ombro do rapaz. - Eu vim buscar você. E o bebê. Vai ficar tudo bem. Bellatrix sacudiu-se de forma repentina e violenta. Sirius soltou-a do abraço, mas manteve as mão apertadas um pouco a cima dos cotovelos dela. Achou que ela estivesse chorando, quando percebeu os lábios dela se enviesarem de uma forma estranha, quase demoníaca. - Que bebê? Em silêncio, um súbito desespero surgindo na face morena do rapaz, ele tocou o ventre de prima. Ela fechou os olhos por alguns segundos e pôs as próprias mãos sobre as dele. Quando os olhos dela tornaram-se a abrir, tudo que Sirius viu foi uma escuridão desvairada que remetia à morte. - Trix, vou matá-los. Eles machucaram você! Mataram nosso... nosso... - Sirius levantou e andou pelo quarto, apertando o rosto com as mãos. Sentia-se culpado. Se tivesse convencido Trix da forma que fosse, ela e o bebê estariam a salvo. Dumbledore certamente os esconderia em Hogwarts. - Eu não seria uma boa mãe, mesmo. - A moça comentou, sentando-se sobre a cama. Da forma como ela apoiou-se na cabeceira, Sirius percebeu que a prima estava fisicamente abalada. - Pena que não poderei mais gerar nenhum filho. - Pare de falar besteira, Bellatrix. Vamos, vamos para a casa dos Potter. Podemos passar a noite lá e... - Não vou a lugar nenhum. - A brincadeira acabou, Trix. Você não precisa mais fingir que gosta daqui. É uma questão de vida ou morte! - Exato. Sirius, o fato é que obedecer os que tem mais poder, inclusive sobre nossos destinos, nos garante sobrevivência. Foi por isso que papai e tio Alphard morreram, entende? - É realmente um pacto, meu caro primo. Nós oferecemos filhos às fileiras e rituais de sangue deles, apoio irrestrito, e então permanecemos imunes. É realmente um ciclo fechado. Tio Alphard tentou quebrá-lo e pagou com a própria vida, arrastando meu pai consigo. Você e Andie irão perecer também, porque bem sabemos quem irá ganhar a guerra! Ela ainda recuperou ar suficiente para gargalhar, logo em seguida caindo sobre o colchão, soltando um longo suspiro de dor. Trêmulo, Sirius foi até ela. Tinha que haver uma forma de fazê-la entender que estava errada. Com um solavanco no peito, notou que a manga esquerda das vestes dela estavam ensopadas de sangue. - E você está com febre. O que aconteceu, Trix? - Vá embora – Ela murmurou, tentando impedi-lo de tocar em seu braço ferido – Eu não te amo mais, Sirius. Ele soltou lentamente o braço dela e a encarou. Realmente ela não possuía mais o antigo olhar intenso e cortante. Era como se a única coisa que ela fosse capaz de transmitir agora era agressividade, feito um animal feroz, criado em uma jaula. - Estou apaixonada, Sirius! - ela continuou, ainda deitada, sorrindo de forma sinistra para o teto. Começou a falar em um tom de voz infantil e irritante, meio cantarolado – Ele é um Lorde e vai me fazer uma rainha! Você perdeu nosso casamento...! Sirius entendeu que ela não estava delirando. Não pode evitar de olhar fixamente para a mancha de sangue bem sobre o ante-braço esquerdo da moça. Ela o ergueu lentamente e a veste caiu feito o pano que revela a obra-de-arte. Era uma queimadura deformada, preta e carne-viva, quase dando para distinguir um desenho, um desenho que frequentemente aparecia no Profeta Diário em manchetes sobre assassinatos em massa e outros crimes terríveis. Quanto mais Bellatrix ria, se engasgando, quase desfalecendo; Sirius sentia uma dor aguda no peito, uma manifestação emocional tomando forma física. Sabia que não tinha nada mais a fazer ali. Não possuía artifícios para vencer e estava se sentindo muito cansado, arrependido de, cerca de três meses atrás, jamais ter voltado para o Largo Grimmauld. - Eu sempre fui assim – Ela continuou, agora um pouco menos afetada – O Mestre apenas me libertou, priminho. Você deveria pensar a respeito... Posso te compensar como quiser! - Bellatrix Black Lestrange, eu não quero absolutamente nada de você. Esquece que um dia estivemos juntos. Mas lembre-se que você deixou meu filho morrer. Você vai pagar por isso. - Você que vai pagar! - Bellatrix gritou, com o resto de suas forças – Você teria odiado ter estado em meu lugar e vou te retribuir um dia. Traidorzinho imundo. Ela ainda berrou um último insulto, mas Sirius não ouviu. Saltou sobre a moto e dirigiu para o mais longe o possível daquele inferno. Estava sobrevoando Birmingham quando deixou as lágrimas escorrerem livremente por seu rosto jovem. Um grito de dor e pesar ecoou na noite fria do último dia de outubro. O caminho que você escolheu é cheio de espinhos Era um parque trouxa comum, com balanços e escorregadores. Sirius achou que aquilo realmente combinava com Andrômeda. Abriu um grande sorriso ao vê-la acenar, segurando no colo uma menina de cerca de quatro anos de idade e uma cabeleira azul. - Dora, querida, vá brincar. - Andie disse para a filha, que depois de estalar um beijo no rosto de Sirius e outro no rosto de uma moça que o acompanhava, correu em direção aos brinquedos. - Ela irá causar confusões, Andie. - Sirius disse, sentando ao lado da prima e a abraçando – Como vai o velho Ted? - Ótimo. Você não apresentou sua amiga. Sirius riu e a moça também. Tinha um rosto redondo e corado, emoldurado por cabelos claros. - Essa é a Marlene, nos conhecemos na Ordem. Andrômeda cumprimentou a moça. Marlene era filha dos McKinnon, um clã puro-sangue influente que havia rejeitado publicamente as ações de Você-Sabe-Quem. - Ultimamente não tem feito dias amenos como esse. - Andrômeda disse, meio séria, meio divertida. - Estamos nos saindo bem. - Sirius respondeu – Já prendemos um pessoal e agora estamos procurando possíveis espiões entre os nossos. Conversas em tempos de guerra eram estranhas, na opinião de Sirius. Mas ele tinha que admitir que não se imaginava em outro lugar que não fosse caçando bruxos das trevas. - Narcisa mandou-me um cartão anunciando que teve um filho. Como estava sublinhado que o menino é puro-sangue, imagino que tenha feito só para me provocar. Marlene ficou bem séria e olhou para Sirius, ansiosa pela resposta desse. Ele sabia que ela reagia assim porque havia lhe contado que renegara a família e que jamais gostara da própria mãe. Sirius dobrou os ombros como se houvesse um grande peso sobre suas costas. Falar dos parentes realmente não era a coisa mais legal do mundo. - Bom para Ciça. - respondeu, por fim – Não houvi mais nada sobre eles. Só soube que o Régulos morreu por uma nota no jornal e alguns boatos. - As pessoas fazem boatos demais. - Marlene comentou, séria. Então disse que ia experimentar um sorvete trouxa. Ela era uma garota atenta e certamente havia saído para que Sirius tivesse um pouco de privacidade com a prima. - Sirius, faz alguns anos que Bellatrix não me escreve... - Andrômeda comentou, assim que ficaram a sós. - Foi o que te contei, deve estar no meio dos vilões. Junto com meu irmãozinho falecido e aquele pessoal todo da Sonserina. - Sirius falou, meio amargurado – Na verdade, realmente não gosto de falar deles. - Eu sei. - Andie respondeu, acompanhando as brincadeiras da filha com o olhar atento – Talvez, para ela não tenha esperança. Mas não se deixe consumir pelo remorso e pela vingança, primo. Peço desculpas por ter achado que você era o elemento necessário para salvá-la. Realmente imaginei que se ela fosse com você, os outros, Régulo e Ciça, acabariam vindo também. Desculpe. - Andie, não se culpe por ser uma pessoa decente. Eu cheguei a achar também que... Bom, éramos jovens e inocentes. - Sirius suspirou profundamente e acenou para Marlene, do outro lado do parque infantil, segurando dois cones de sorvete. - E você e essa moça fofa? - Estamos bem. Marlene é realmente doce. Ela me faz achar cada vez mais que essa guerra está perdida, para o lado dos caras maus. Você é tão iludida, você quer estar no controle FIM
Desisto por você, é hora de parar.
Nada se move, é como uma morte súbita
Todos esse anos esquecidos jamais irão voltar.
Sirius concordou com um acendo de cabeça. Não tinha a menor vontade de ter o menor contato com quaisquer outros membros da família, principalmente gente como Narcisa.
Sirius continuou quieto, olhando as chamas vermelhas da lareira. Ela provavelmente estava usando como referência a amizade dela com aquele sonserino ranhoso. Tinha certeza que não era isso que James tinha em mente quando sugeriu a ela conversar com o amigo. Não estava com cabeça para essas coisas. Só conseguia pensar que não podia deixar seu futuro filho – e a mãe dele – encerrados em um lugar repleto de gente insana.
Então não reclame, não o mencione de novo.
É você ou sou eu, quem não pode enxergar?
Sirius parou de caminhar em círculos e encarou a mulher. Abriu a boca umas duas vezes, mas não conseguiu dizer nada. Era ultrajante a explicação de tudo aquilo. Com um fio de voz, Bellatrix continuou a falar:
Uma rua sem saída para onde ninguém vai.
Então agora crucifique-me, mas por que faria o mesmo?
Por mim, não nouve promessas, foi tudo em vão.
Um bando de andorinhas mergulhou verticalmente em direção aos escorregadores e subiu de novo, em direção do céu tão azul quanto os cabelos da filha de Andrômeda. Era um lindo dia de verão.
Diga o que você quer e eu digo o que quero de você
Eu não largaria tudo por nada
Talvez eu seja cruel por ser gentil.
Você mudou ou sempre foi a mesma?
Desisto por você, é hora de parar.
Nada se move, é como uma morte súbita
Todos esse anos esquecidos jamais irão voltar.
As horas revezaram-se com velocidade, se transformando em dias e em semanas. Sirius não vira sinal de Bellatrix em Hogwarts. Nos primeiros dias, ainda tentava enxergá-la entre os estudantes da Sonserina, sentada em algum lugar à mesa decorada com verde e prata. O Dia das Bruxas aproximava-se e o rapaz não conseguia imaginar como contatar a prima. Sabia que ela estava, de alguma forma, presa no Largo Grimmauld. Então seu coração parecia gelar, porque pensava que ela escolhera tal destino. Tentou escrever, mas as corujas jamais traziam alguma resposta. Tinha momentos de introspecção romântica, nos quais procurava algum canto escuro e solitário, que fosse a céu aberto, para que pudesse observar cada um dos pontos gélidos presos ao firmamento, enquanto pensava nos olhos da mulher amada. Então, cansava-se dessa existência miserável e agia como o velho Sirius Black de sempre, fazendo brincadeiras e participando das festas secretas dos estudantes. Ocorria-lhe com frequência que Bellatrix fora realmente um ponto de fuga pouco convencional durante férias tediosas em um lugar que detestava. Não tinha mais certeza se a amava como havia dito e prometido.
Era uma sexta-feira, véspera do feriado, quando Régulo, acompanhado por uma chorosa Narcisa, pediu para conversar com Sirius.
- Ela precisa te dizer algo. - Foi o que o garoto disse ao irmão mais velho, olhando muito sério de um parente para o outro.
Sirius concordou com um acendo de cabeça. Não tinha a menor vontade de ter o menor contato com quaisquer outros membros da família, principalmente gente como Narcisa.
- E-eu... - Ela murmurou, encarando os próprios sapatos. Era perceptível que andara chorando - ...Sirius, eu contei a todos sobre você e minha irmã. Ela está presa em casa, irá se casar amanhã com Lestrange.
Porém, tudo que Sirius sentiu foi desprezo por Bellatrix. Ela não possuía coragem para enfrentar a família e garantir a própria liberdade! Ele não teria, não queria, fazer isso por ela. Podia ajudá-la, mas apenas se ouvi-se dos lábios curvilíneos que assim desejava.
- Se é só isso, Narcisa, nada que não suspeitasse.
Preparou-se para sair, quando Régulo segurou seu pulso.
- Não é só isso, meu irmão. - O jovem voltou-se para a prima – Ciça, conte a ele aquilo que me disse.
- Um filho seu, Sirius. Com ela.
§o§o§
Sirius jamais soube porque o irmão havia resolvido convencer Narcisa a contar tal coisa. Podia ser mentira de ambos, alguma ideia de brincadeira estúpida. Não. Eles pareciam sérios. Sirius abraçou os joelhos, sentado em uma das poltronas espalhadas pelo Salão Comunal da Grifinória. Mal percebeu a aproximação de outra pessoa.
- Desculpe, te assustei? - Lily Evans estava parada diante do colega e parecia preocupada.
- Ah, oi Evans. Não foi nada.
- Andei conversando com Potter – ela disse, mal escondendo um pequeno sorriso ao pronunciar o nome de Pontas, mas Sirius não deu muita atenção a algo que de outra forma, seria uma boa piada – Ele me contou sobre... suas férias. E me pediu para conversar com você.
- Não, obrigada. - Sirius respondeu, quase automaticamente. Registrou que deveria repreender o amigo por comentar sobre sua vida pessoal com terceiros, mesmo que a pessoa fosse a amada de James.
Insistente, a ruiva sentou na poltrona ao lado e curvou o corpo na direção do rapaz, para que ninguém ouvisse a conversa.
- Olha, eu não sei como estão agora, mas... Não deixe que o hábito destrua algo que se construiu de forma excepcional.
Sirius continuou quieto, olhando as chamas vermelhas da lareira. Ela provavelmente estava usando como referência a amizade dela com aquele sonserino ranhoso. Tinha certeza que não era isso que James tinha em mente quando sugeriu a ela conversar com o amigo. Não estava com cabeça para essas coisas. Só conseguia pensar que não podia deixar seu futuro filho – e a mãe dele – encerrados em um lugar repleto de gente insana.
- Eu não sei o que você está pensando, mas o que quero dizer é... Vá atrás dela e certifique-se de suas aflições. - Lily falou, de forma conclusiva, antes de deixar o rapaz com seus próprios pensamentos. Sirius teve que admitir que as palavras da moça, de alguma forma semelhante a Andie, haviam lhe insuflado a força motriz para que agisse. A mente trabalhando muito, correu para pedir a capa de James e começou a traçar a rota que faria. Iriam passear em Hogsmead no dia seguinte. O que ele tinha que fazer era entrar numa casa vazia e usar a lareira para chegar a casa dos Potter. Daria um jeito de desvincilhar-se da família do amigo, então pegaria a moto voadora, estacionada no depósito da casa... Era uma droga de plano arriscado, mas isso era mero detalhe diante da necessidade que Sirius sentia de fazer algo, de ao menos conversar com Bellatrix, nem que fosse pela última vez, seja lá o que isso pudesse significar.
O dano está feito, tudo acabou agora
Então não reclame, não o mencione de novo.
É você ou sou eu, quem não pode enxergar?
Pouco prevaleceu a sensação gloriosa do plano que deu certo. Invadiu com facilidade uma das casas de Hogsmead e depois, a mãe de James pareceu compreender a situação para não ralhar com o rapaz e mandá-lo de volta para a Escócia. O sol começava a sumir no horizonte quando a enorme moto negra cortava o céu, em direção ao Largo Grimmauld. Sirius acelerava cada vez mais. Tinha a sensação de estar atrasado, muito além do que pudesse ser aceitável.
Fez o possível para reduzir o ronco da moto o mínimo, para que ninguém o ouvisse descer até altura da janela e bater levemente nas pesadas folhas de madeira escura. Surpreendeu-se que ainda conseguisse ver e aproximar-se da casa. Realmente aquela tapeçaria não significava nada e Sirius continuaria sendo sempre o herdeiro natural do lugar. Abanou a cabeça: nada disso importava. Estava abrindo mão de tudo por Bellatrix e o bebê.
Ouviu um “clique” suave e a luz do ambiente interno iluminou o rosto do rapaz. Trix estava muito séria. Seu rosto pálido estava sujo com maquiagem borrada e os cabelos muito negros estavam despenteados, tão bagunçados quanto as vestes negras com detalhes em verde que vestia. Ela andou alguns passos para trás, dando espaço para que o primo saltasse felinamente da moto voadora para dentro do aposento. Sem dizer nenhuma palavra, ele a envolveu em um abraço apertado. Bellatrix não se moveu, apenas inclinou a cabeça lentamente, a apoiando sobre o ombro do rapaz.
- Eu vim buscar você. E o bebê. Vai ficar tudo bem.
Bellatrix sacudiu-se de forma repentina e violenta. Sirius soltou-a do abraço, mas manteve as mão apertadas um pouco a cima dos cotovelos dela. Achou que ela estivesse chorando, quando percebeu os lábios dela se enviesarem de uma forma estranha, quase demoníaca.
- Que bebê?
Em silêncio, um súbito desespero surgindo na face morena do rapaz, ele tocou o ventre de prima. Ela fechou os olhos por alguns segundos e pôs as próprias mãos sobre as dele. Quando os olhos dela tornaram-se a abrir, tudo que Sirius viu foi uma escuridão desvairada que remetia à morte.
- Trix, vou matá-los. Eles machucaram você! Mataram nosso... nosso... - Sirius levantou e andou pelo quarto, apertando o rosto com as mãos. Sentia-se culpado. Se tivesse convencido Trix da forma que fosse, ela e o bebê estariam a salvo. Dumbledore certamente os esconderia em Hogwarts.
- Eu não seria uma boa mãe, mesmo. - A moça comentou, sentando-se sobre a cama. Da forma como ela apoiou-se na cabeceira, Sirius percebeu que a prima estava fisicamente abalada. - Pena que não poderei mais gerar nenhum filho.
- Pare de falar besteira, Bellatrix. Vamos, vamos para a casa dos Potter. Podemos passar a noite lá e...
- Não vou a lugar nenhum.
- A brincadeira acabou, Trix. Você não precisa mais fingir que gosta daqui. É uma questão de vida ou morte!
- Exato. Sirius, o fato é que obedecer os que tem mais poder, inclusive sobre nossos destinos, nos garante sobrevivência. Foi por isso que papai e tio Alphard morreram, entende?
Sirius parou de caminhar em círculos e encarou a mulher. Abriu a boca umas duas vezes, mas não conseguiu dizer nada. Era ultrajante a explicação de tudo aquilo. Com um fio de voz, Bellatrix continuou a falar:
- É realmente um pacto, meu caro primo. Nós oferecemos filhos às fileiras e rituais de sangue deles, apoio irrestrito, e então permanecemos imunes. É realmente um ciclo fechado. Tio Alphard tentou quebrá-lo e pagou com a própria vida, arrastando meu pai consigo. Você e Andie irão perecer também, porque bem sabemos quem irá ganhar a guerra!
Ela ainda recuperou ar suficiente para gargalhar, logo em seguida caindo sobre o colchão, soltando um longo suspiro de dor. Trêmulo, Sirius foi até ela. Tinha que haver uma forma de fazê-la entender que estava errada. Com um solavanco no peito, notou que a manga esquerda das vestes dela estavam ensopadas de sangue.
- E você está com febre. O que aconteceu, Trix?
- Vá embora – Ela murmurou, tentando impedi-lo de tocar em seu braço ferido – Eu não te amo mais, Sirius.
Ele soltou lentamente o braço dela e a encarou. Realmente ela não possuía mais o antigo olhar intenso e cortante. Era como se a única coisa que ela fosse capaz de transmitir agora era agressividade, feito um animal feroz, criado em uma jaula.
- Estou apaixonada, Sirius! - ela continuou, ainda deitada, sorrindo de forma sinistra para o teto. Começou a falar em um tom de voz infantil e irritante, meio cantarolado – Ele é um Lorde e vai me fazer uma rainha! Você perdeu nosso casamento...!
Sirius entendeu que ela não estava delirando. Não pode evitar de olhar fixamente para a mancha de sangue bem sobre o ante-braço esquerdo da moça. Ela o ergueu lentamente e a veste caiu feito o pano que revela a obra-de-arte. Era uma queimadura deformada, preta e carne-viva, quase dando para distinguir um desenho, um desenho que frequentemente aparecia no Profeta Diário em manchetes sobre assassinatos em massa e outros crimes terríveis.
Quanto mais Bellatrix ria, se engasgando, quase desfalecendo; Sirius sentia uma dor aguda no peito, uma manifestação emocional tomando forma física. Sabia que não tinha nada mais a fazer ali. Não possuía artifícios para vencer e estava se sentindo muito cansado, arrependido de, cerca de três meses atrás, jamais ter voltado para o Largo Grimmauld.
- Eu sempre fui assim – Ela continuou, agora um pouco menos afetada – O Mestre apenas me libertou, priminho. Você deveria pensar a respeito... Posso te compensar como quiser!
- Bellatrix Black Lestrange, eu não quero absolutamente nada de você. Esquece que um dia estivemos juntos. Mas lembre-se que você deixou meu filho morrer. Você vai pagar por isso.
- Você que vai pagar! - Bellatrix gritou, com o resto de suas forças – Você teria odiado ter estado em meu lugar e vou te retribuir um dia. Traidorzinho imundo.
Ela ainda berrou um último insulto, mas Sirius não ouviu. Saltou sobre a moto e dirigiu para o mais longe o possível daquele inferno. Estava sobrevoando Birmingham quando deixou as lágrimas escorrerem livremente por seu rosto jovem. Um grito de dor e pesar ecoou na noite fria do último dia de outubro.
O caminho que você escolheu é cheio de espinhos
Uma rua sem saída para onde ninguém vai.
Então agora crucifique-me, mas por que faria o mesmo?
Por mim, não nouve promessas, foi tudo em vão.
Era um parque trouxa comum, com balanços e escorregadores. Sirius achou que aquilo realmente combinava com Andrômeda. Abriu um grande sorriso ao vê-la acenar, segurando no colo uma menina de cerca de quatro anos de idade e uma cabeleira azul.
- Dora, querida, vá brincar. - Andie disse para a filha, que depois de estalar um beijo no rosto de Sirius e outro no rosto de uma moça que o acompanhava, correu em direção aos brinquedos.
- Ela irá causar confusões, Andie. - Sirius disse, sentando ao lado da prima e a abraçando – Como vai o velho Ted?
- Ótimo. Você não apresentou sua amiga.
Sirius riu e a moça também. Tinha um rosto redondo e corado, emoldurado por cabelos claros.
- Essa é a Marlene, nos conhecemos na Ordem.
Andrômeda cumprimentou a moça. Marlene era filha dos McKinnon, um clã puro-sangue influente que havia rejeitado publicamente as ações de Você-Sabe-Quem.
- Ultimamente não tem feito dias amenos como esse. - Andrômeda disse, meio séria, meio divertida.
- Estamos nos saindo bem. - Sirius respondeu – Já prendemos um pessoal e agora estamos procurando possíveis espiões entre os nossos.
Conversas em tempos de guerra eram estranhas, na opinião de Sirius. Mas ele tinha que admitir que não se imaginava em outro lugar que não fosse caçando bruxos das trevas.
- Narcisa mandou-me um cartão anunciando que teve um filho. Como estava sublinhado que o menino é puro-sangue, imagino que tenha feito só para me provocar.
Marlene ficou bem séria e olhou para Sirius, ansiosa pela resposta desse. Ele sabia que ela reagia assim porque havia lhe contado que renegara a família e que jamais gostara da própria mãe. Sirius dobrou os ombros como se houvesse um grande peso sobre suas costas. Falar dos parentes realmente não era a coisa mais legal do mundo.
- Bom para Ciça. - respondeu, por fim – Não houvi mais nada sobre eles. Só soube que o Régulos morreu por uma nota no jornal e alguns boatos.
- As pessoas fazem boatos demais. - Marlene comentou, séria. Então disse que ia experimentar um sorvete trouxa. Ela era uma garota atenta e certamente havia saído para que Sirius tivesse um pouco de privacidade com a prima.
- Sirius, faz alguns anos que Bellatrix não me escreve... - Andrômeda comentou, assim que ficaram a sós.
- Foi o que te contei, deve estar no meio dos vilões. Junto com meu irmãozinho falecido e aquele pessoal todo da Sonserina. - Sirius falou, meio amargurado – Na verdade, realmente não gosto de falar deles.
- Eu sei. - Andie respondeu, acompanhando as brincadeiras da filha com o olhar atento – Talvez, para ela não tenha esperança. Mas não se deixe consumir pelo remorso e pela vingança, primo. Peço desculpas por ter achado que você era o elemento necessário para salvá-la. Realmente imaginei que se ela fosse com você, os outros, Régulo e Ciça, acabariam vindo também. Desculpe.
- Andie, não se culpe por ser uma pessoa decente. Eu cheguei a achar também que... Bom, éramos jovens e inocentes. - Sirius suspirou profundamente e acenou para Marlene, do outro lado do parque infantil, segurando dois cones de sorvete.
- E você e essa moça fofa?
- Estamos bem. Marlene é realmente doce. Ela me faz achar cada vez mais que essa guerra está perdida, para o lado dos caras maus.
Um bando de andorinhas mergulhou verticalmente em direção aos escorregadores e subiu de novo, em direção do céu tão azul quanto os cabelos da filha de Andrômeda. Era um lindo dia de verão.
Você é tão iludida, você quer estar no controle
Diga o que você quer e eu digo o que quero de você
Eu não largaria tudo por nada
Talvez eu seja cruel por ser gentil.
FIM
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