Trigésimo Dia
Naquela manhã, Gina acordou cedo.
Na verdade, não conseguira dormir de novo.
Hoje era o grande dia, onde ia descobrir se voltaria ao seu corpo ou se ficaria no corpo de Draco para sempre.
“Eu quero ir embora! Não quero mais ficar no corpo dele!”, pensava Gina, chateada.
Os olhos de Gina recaíram sobre seu diário. Atado à ele, em um pequeno compartimento, estava a pena especial. Gina sorriu e escreveu “Gina Potter”, fazendo com que as páginas do diário se enchessem de escritas.
Com um suspiro cheio de nostalgia, ela se pôs a ler todas as suas anotações, desde o começo do ano.
Depois de reler as cartas de Mandy, Draco soltou um suspiro.
Um mês atrás, aquelas cartas eram as únicas coisas que o divertiam – bom, as cartas e Pansy -, mas, daquela vez, a única coisa que sentia ao lê-las era um imenso vazio, quase como se não se importasse com o que acontecia.
Recostou-se na poltrona e, em silêncio, ficou observando a caixa à sua frente e, para ele, era como se ela estivesse vazia.
Gina virou a última página de sua anotação, quando encontrou sua própria letra, mas ela não havia escrito mais nada!
Curiosa, pôs-se a ler.
“Weasley,
Você me pediu para te contar sobre Mandy Blanck, e, por meio desta carta, o farei.
Mandy era uma ex estudante de Hogwarts, uma sonserina bonita, com um belo corpo e uma mente tão audaz que atraía à tudo e a todos. Posso dizer, mesmo sabendo que isso não agradará – mas, afinal, essa carta não é para agradar, mas para esclarecer -, que toda a noite no quarto de Mandy era uma festa.
Quando eu estava no terceiro ano, ela estava no quinto e foi aí que começamos a nos falar. Ela era tudo o que Pansy – e todas as outras garotas da Sonserina – não era. Embora fosse bonita e com um belo corpo – como a grande maioria -, tinha algo mais, que posso chamar de inteligência. Ela conseguia descobrir seu ponto fraco só de olhar nos seus olhos.
E isso me atraia até ela com uma força imensa, eu queria aprender com ela, descobrir que magia ela utilizava para isso, e, acabamos ficando... amigos.
Não creio que deva esconder de você, Weasley, que nossa amizade implicava em tirar sarro dos Lufa-lufas e, por vezes, passarmos a noite juntos (“Merlim! Ele tinha só treze anos!”, pensou Gina, levemente enojada), mas com ela eu aprendi algumas coisas.
Entretanto, é claro, um dia isso teve que acabar.
Descobri o seu maior segredo, ela era uma trouxa. A primeira sonserina trouxa da história. Completamente trouxa, tão sangue-ruim como sua amiga Granger.
Obviamente, a primeira coisa que eu fiz ao descobrir isso, foi me afastar dela – bem, na verdade, a primeira coisa foi me vestir -, como todo o bom sonserino. No entanto, aparentemente, ela havia gostado da nossa relação e não me deixou afastar.
“Eu sou tão bruxa quanto você, Draco”, ela disse “E, cara... nossa relação... o que é aquilo! Você é o único que me deixa daquele jeito”, terminou ela, olhando-me maliciosamente.
Devo acrescentar que, depois disso, todo o respeito que eu sentia por ela foi levado ralo abaixo, e, quando voltei com ela, foi mais por orgulho – pelo orgulho de “ser o único a deixá-la daquela maneira” – do que por qualquer outra coisa.
Com o passar do tempo, quando chegou o último ano dela em Hogwarts – e eu estava no quinto, com um lance quase sério com a Pansy – ela resolveu mostrar que, como qualquer ser fêmea, tem sua fraqueza.
Gina virou a página.
Me encurralou contra uma parede e começou a me beijar com avidez. No meio de um dos nossos beijos, ela disse, com a voz entrecortada, enquanto minha mão já escorregava para sua saia.
“Eu te amo”, ela disse, e voltou a me beijar.
Não sei se você sabe o quanto é ruim quando alguém com quem você mantém um relação que, para você, é puramente física, vira e diz que sente por você algo que você não admite sentir nem mesmo pela sua mãe.
Bem, claramente, você não sabe o que é isso.
Tentarei descrever: é quase como se, todo prazer que eu sentia em relação à ela sumiu e, em lugar avidez, meus beijos ficaram vazios e sem significado. Entenda, eu não a amava, mas sentia por ela algo forte que nunca senti por ninguém.
Ao longo dos dois anos que ficamos juntos, estabeleceu-se, novamente, aquele velho respeito que eu tinha por ela, mas amor, Weasley, AMOR não era.
A verdade, no entanto, é que me faltou coragem para dizer um misero “sinto muito”, e, em toda a minha covardia, disse que sentia o mesmo por ela.
Tinham só mais dois dias de aula e ela partiria em breve. Aos poucos, o que era um problema, tornou-se pura diversão, e eu comecei a tirar sarro dela, em suas costas.
Tinha conseguido fazer a garota que todos queriam se apaixonar por mim e a subjugava como bem queria.
A verdade é essa, ela me mandava cartas e eu gostava, porque significava que, lá fora, uma garota inteigente, estonteante estava esperando por mim.
No entanto, o maior defeito dela, é que...”
E a carta estava borrada como se algo a tivesse manchado.
Manchando, também, estava o rosto de Gina, por algumas poucas lágrimas que desciam dos olhos azuis.
Às sete horas da noite, Draco estava sentado no jardim, perguntou-se se Gina tinha lido a carta e, caso tivesse, se ela a tinha entendido.
Foi quando ele ouviu passos pesados atrás dele e se virou.
“Gin...”
“Espero, de fato, que a gente mude de corpo para que você seja muito feliz com a idiota da Mandy!”, berrou ela, olhando-o com os olhos frios.
“Você leu a carta?”
“Claro que li!”, berrou ela, de volta “O que você queria? Que eu ficasse feliz com o fato de você manter uma relação de quatro anos com uma menina que você tira sarro pelas costas? Você não respeita ninguém, Malfoy!”
“Do que...?”
“Ah, é, e o defeito dela? Bom, não consegui ler, tava manchado, mas com certeza, o que tem um defeitinho, não é? Ela tem tantas qualidades! Aliás, o defeito deve ser que ela é uma trouxa, não é? Uma sangue-ruim idiota!”, berrou Gina, acusadoramente.
“Não é isso!”, rebateu Draco “Não é possível que você não tenha lido!”
“ESTAVA BORRADO, ORAS!”, berrou Gina, séria.
“E você não quer saber qual era o defeito dela?”, perguntou Draco, sério.
“Não... quero... eu...”, disse Gina, confusa “Eu não sei!”
“O defeito dela, Gina...”, disse Draco, lentamente, e se controlando para não corar “É que ela não é você. Ela não é sarcástica, como você, não é bonita, como você é, e não me abala, como você abala. Eu não me importo com ela, como me importo com você...”, terminou ele, fechando os olhos para tentar controlar o sangue que teimava em tentar subir-lhe ao rosto.
“O quê?”, perguntou ela, erguendo uma sobrancelha “Você tá falando sério ou é só para ter mais uma garota te mandando cartas todos os dias?”, perguntou, séria.
Draco deu um risinho e aproximou-se dela.
“Não é, Virgínia Weasley. Estou sendo sincero...”, disse ele, sério, aproximando-se.
Gina sentiu que seu corpo, outrora frio devido à neve, ficar repentinamente quente, ele aproximou-se um pouco mais e disse:
“Sinto muito por tudo isso”, disse ele, aproximando-se um pouco mais e Gina sentiu o coração batendo muito rápido.
“Tá tudo bem...”, mas foi interrompida por um beijo.
E, pela primeira vez em um mês, não conseguiram pensar em nada que pudesse separar aquele beijo. Draco sabia muito bem que nada do que dissera para Gina era mentira, ele só conseguia pensar nela, se preocupava com ela como nunca se preocupou com ninguém em toda a sua vida e Gina tinha que admitir que a vida de Draco não era vazia e sem sentido como ela achou.
Estavam apaixonados.
E, pela primeira vez, isso não pareceu um erro.
“Mas o que diabos está acon...?”, Gina ouviu Draco dizendo, bem perto do seu ouvido, mas tudo foi ficando embaçado e as vozes começaram a se perder.
E, de repente, tudo se apagou.
anúncio
Comentários (0)
Não há comentários. Seja o primeiro!