...Apenas uma Missão...

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Cap. 3 – Apenas uma Missão

- Eles logo eram grandes amigos. Ela era sempre tão alegre, tão animada, que não havia como não se sentir contagiado por ela. Ainda assim, ele se recusava a acreditar que a relação deles era mais do que isso. Mais do que uma amizade. Mesmo que as horas com ela fossem as mais felizes de sua vida, e cada minuto de sua ausência se arrastasse lento e torturante. Ele estava se recusando a enxergar.
“Foi naquela época que um grande amigo morreu. Todos estavam fragilizados pelo acontecido, e muitos ainda estavam feridos pela batalha. Nessa hora, em que eles mais precisavam de apoio, ele se esforçou especialmente para não se envolver demais. Mas depois de algum tempo, quando a dor já havia sido ao menos parcialmente superada, houve uma missão, uma única noite, que fez com que todas as suas defesas desmoronassem.”

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Já era bem tarde. Estávamos os dois sentados em uma sala pequena e apertada, em um casebre de onde estávamos vigiando o Beco Diagonal. Já passava da meia noite e ainda não havíamos registrado o menor movimento do lado de fora. Mas ainda estávamos completamente acordados. Ela ria de alguma piada boba que eu havia contado, e eu logo me peguei admirando-a. Hoje seus cabelos estavam ruivos até os ombros, os olhos verdes. Era incrível como ela conseguia ficar linda de qualquer forma que estivesse.
- Remus você tem namorada? – ela perguntou abruptamente.
- Ah, não – disse eu pouco a vontade – Sabe que não posso, sendo, você sabe...
- Lobisomem? Não vejo qual seria o problema.
- Bom, mas e você? – desconversei.
- Ah, faz tempo que não tenho nada sério. A maioria dos caras só quer sair comigo por que posso me transformar no modelo perfeito que eles querem exibir para os outros, não como se realmente gostassem de mim. É um problema de ser metamorfomaga. A gente nunca sabe se é realmente de nós que eles gostam ou da nossa aparência. Mas você – insistiu ela – não sei como ainda não é casado. Deve ter muitas mulheres atrás de você. Só que você é muito lento. – disse rindo – Definitivamente.
- Lento?
- Ah, sim. Totalmente. Fica aí esperando que outra pessoa tome uma atitude, ao invés de você mesmo ir até lá e dizer ou... – ela sorriu maliciosamente – fazer o que quer.
Ela estava muito próxima de mim. Na realidade, não havia se movido nem um centímetro desde que havíamos começado a conversar, o fato é que nós já estávamos muito juntos por estar fazendo frio e nenhum de nós ter trazido um casaco. Mas era a primeira vez que eu me dava conta disso. De como estávamos próximos, quero dizer.
- E o que, você acha, eu deveria fazer? – perguntei com uma sobrancelha erguida, sarcástico. Ela ergueu o rosto e seus olhos perfuraram os meus. Seu rosto corou quase imperceptivelmente, e depois ela sorriu marotamente, pondo a mão em meu rosto.
- Isto – sussurrou ela, antes de encostar seus lábios nos meus.
Eu não conseguiria descrever minha reação naquele momento. Surpresa, é claro, mas mais do que isso. Como se eu tivesse esperado a vida inteira para que aquele momento chegasse. Acho que ainda mais surpresa ela ficou quando me sentiu retribuir. Quando passei as mãos delicadamente por seu rosto até levá-las a sua cintura, ainda a beijando, e a senti se arrepiar.
Quando nós, lentamente, nos afastamos, ela sorriu.
- Era isso que devia fazer – eu deixei um leve sorriso tomar conta de minha expressão. Afinal, qual seria o problema? Acho que eu realmente gostava dela. E fora ela, afinal de contas, quem havia me beijado. Mas ainda havia uma voz em minha cabeça que insistia que eu devia esquecer, que Tonks era nova demais, boa demais para mim. E foi infelizmente, a voz que eu tomei como certa.

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- Depois daquele beijo, ele tinha certeza do que sentia por ela. Mas, mesmo por amá-la, ele achava que era mais do que justo que ela tivesse alguém inteiro, alguém da sua idade. Ele não era bom o bastante.
Tonks se mexeu e abriu a boca, como se fosse protestar ao que ele havia acabado de dizer, mas com apenas um olhar ele a fez calar-se. Já era reconfortante saber que ele a amava, se esta fosse realmente – o que ela já tinha absoluta certeza – a história deles.
“Quando disse isso a ela, ela não compreendeu. Era jovem, tinha uma vida pela frente, nada lhe parecia impossível. Mas ele sabia que estava fazendo o que era certo. Ou ao menos pensava que estava.”

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- Remus... – ela me encarou com lágrimas nos olhos – Remus, o que você está dizendo?
- Tonks, por favor, tente entender...
- M-mas, eu não posso, quer dizer, o quê...?
Eu a havia procurado dois dias depois para falar sobre o acontecido. Disse a ela o que pensava sobre nós, o que pensava sobre mim. Falei que não daríamos certo, que ela era boa demais para alguém tão... alguém como eu. Mas meu sofrimento pareceu aumentar milhares de vezes quando seus olhos – negros, como eu descobri sendo os verdadeiros – encontraram os meus, cheios de lágrimas de dor. Eu não queria que ela sofresse.
- Não tem nada a ver com você – apressei-me a dizer – Sou eu. Eu sou muito velho para você, muito pobre... perigoso demais. Você sabe o que acontece na lua cheia.
- Sei, e não me importo nem um pouco! – disse entre as lágrimas que escorriam por seu rosto – Você sabe que não, sabe que está sendo ridículo...!
- Você não está entendendo, Tonks, eu só quero o que é melhor para você.
- Você é o melhor para mim! – gritou ela, me fazendo temer que mais alguém escutasse. Afinal a Ordem era sempre tão movimentada, apenas fechar a porta de um quarto não impediria que os gêmeos, por exemplo, ouvissem nossa conversa.
- Não, não sou – disse – Você merece alguém melhor.
- Eu não quero alguém melhor! Remus, eu... por favor... você não pode estar falando sério.
- Sinto muito – murmurei, agora observando meus sapatos, para evitar seus olhos tristes.
Eu ouvi os passos dela ecoando na sala, passando por mim, e a porta se batendo. Fiquei ali, parado, no escuro, sem saber por quanto tempo. Então fui embora. Não voltei para procurá-la.

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