...Covarde...



Cap. 4 - Covarde

- Então ele passou a evitá-la. Ela logo começou a fazer o mesmo. E, enquanto fingiam que nada havia acontecido, ela ia perdendo a alegria, perdendo as cores. Ninguém sabia ao certo o que estava acontecendo, mas quem olhava para ela via uma pessoa que parecia ter perdido a razão de viver.
“Cada um deles havia sido destinado para missões diferentes, por um longo período, o que dificultou ainda mais seus raros encontros. Ainda mais duas vezes ela havia tentado convencê-lo, mas ele estava certo de sua decisão por mais que sentisse sua falta, por mais que doesse.”
“Ele tinha sido escolhido para espionar os lobisomens de Greyback. Havia centenas deles lá, o que significava que ele poderia se ausentar por curtos períodos sem que ninguém notasse, uma vez que encontrara o esconderijo. As transformações eram mais difíceis, não havia como impedi-las, ou controlá-las. Ele se tornava selvagem, um verdadeiro lobo. E tudo isso fazia particularmente dolorosa sua volta à forma humana.”
“Um dia, durante o inverno, após uma longa semana de transformações, ele sentiu que não podia mais agüentar ficar naquela caverna fria e úmida onde estavam os homens e mulheres amaldiçoados, todos extremamente abatidos. Levantou-se com dificuldade e saiu facilmente despercebido.”
“Lá fora estava nevando muito, e ele estava ardendo em febre, não suportando mais o peso de sua tarefa. Havia cortes e arranhões em todo o seu corpo, sua cabeça estava a ponto de explodir, e um suor gelado escorria por sua testa, misturado a neve. Quando estava quase cedendo, ela o encontrou e, mesmo depois de todos os desentendidos, ajudou-o a se recuperar. Provou que não se importava.”

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Quando recuperei os sentidos, me encontrei deitado em um quarto da mansão Black. Ainda era dia, não devia fazer muito tempo que eu estava ali. Minha visão estava anuviada pela febre e pela dor, mas eu pude ver a neve caindo lá fora. E então, ouvi passos no corredor. Depois a cabeça de Tonks no quarto.
- Toc toc – murmurou ela, espiando para dentro para ver se eu já estava acordado – Ah, Remus, você está bem? – perguntou enquanto entrava e se sentava ao meu lado na cama. Ela pôs as costas da mão em minha testa – Está ardendo em febre. Vamos, beba isso – ela forçou contra meus lábios um frasco com uma poção vermelha fumegante, com um gosto terrivelmente amargo – Vai fazer passar.
Realmente, minutos depois, tanto a febre, quanto a ardência dos cortes haviam passado. Ainda estava dolorido, mas o pior passara. Ela limpou e fechou cada machucado em meu rosto e braços.
- Melhor agora?
- Bastante – disse, me sentando – Obrigada.
- Então talvez agora você possa me explicar o que tinha na cabeça! – disse com a voz um tanto esganiçada – Como pode sair de lá assim, nesse estado? Com os comensais espalhados por aí, a febre, a nevasca... Tinha tudo e mais um pouco para que você morresse! Tem idéia da sorte que foi eu tê-lo achado?
- Me desculpe – murmurei, sem graça. Ela conseguiu me fazer sentir como uma criança levando bronca de sua mãe por aprontar alguma coisa infantil e idiota. Eu estava envergonhado de mim mesmo – Desculpe por... tudo isso.
Ela repentinamente me puxou para um abraço apertado, encaixando o rosto na curva de meu pescoço.
- Graças a Deus você está bem – murmurou em meu ouvido.
O som de sua voz sussurrando em meu ouvido fez como se algo muito quente estivesse se espalhando por dentro do meu corpo. Eu senti vontade de esquecer tudo, de beijá-la, de ser feliz para sempre com ela ao meu lado, mas, ainda guiado pela parte racional de meu cérebro, eu sabia que estava sendo egoísta, que se desse um tempo, ela iria encontrar alguém que fosse digno de seus sentimentos. Alguém que não a fizesse passar por tudo aquilo que eu a estava fazendo.
- Eu não sei o que faria se acontecesse algo com você... Não sei como você consegue viver desse jeito, mas eu não agüento mais... Eu amo você, Remus, qual é o seu problema, pare de dificultar as coisas – ela disse ainda naquele tom de voz baixo que me estava fazendo estremecer. Com toda a força de vontade que consegui reunir eu empurrei-a para longe. Ela não estava chorando, parecia desapontada, perdida.
Ela me encarou por um longo tempo, quase como no dia em que havíamos nos conhecido. Mas dessa vez, ela não demonstrava o menor interesse, parecia enjoada, como se estivesse descobrindo um lado meu que não conhecia. Não o fraco – como poderia pensar, por causa das transformações –, mas o covarde.


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