...Nasce uma Amizade...
Cap. 2 – Nasce uma Amizade
Ela se afastou dele bruscamente, e encarou-o com uma sobrancelha erguida, como se não achasse que a situação pedisse uma história. Mas, ainda assim, se manteve quieta, escutando, curiosa sobre o que viria a seguir. Por uma terceira vez ele suspirou, e então continuou.
- Era uma vez um homem. E era uma vez um lobo. Uma maldição os manteve presos em um mesmo ser. O homem era calmo, racional, comandava na maior parte do tempo. Enquanto isso, o lobo dentro dele jazia adormecido, esperando o momento para se libertar.
“Era por isso que ele evitava as pessoas, não queria se envolver. Sabia que quando se sentisse seguro o monstro o trairia. Era o único meio, pensava ele, de poupar as pessoas que amava. Não queria vê-las sofrer como ele havia sofrido.
Estes pensamentos foram os que o fizeram passar as mais longas noites em claro. Por mais que disfarçassem, todos o temiam. Podiam fingir que não, dizer que estava tudo bem, mas sabia que, se algum dia acontecesse um acidente, ele seria o culpado. Todos o consideravam perigoso, todos queriam distância.
Menos alguém. Uma pessoa que entrou em sua vida como um raio de luz, como se o fizesse sentir-se outra vez normal e feliz. A única que o fez sentir que ele poderia ser muito mais... muito mais que um monstro.
Ainda assim, quando a conheceu, ele não viu nela nada mais que uma boa amiga. Mas, ora, amigos são sempre bem-vindos quando se é um lobisomem e se tem tão poucos.”
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Eu ouvi passos do lado de fora, e a campainha tocou em seguida. Estava absorto em minha leitura no momento, não dei muita atenção ao fato. Provavelmente algum membro da Ordem entrando para o jantar, ou para a próxima reunião. Então ouvi duas vozes conversando. Uma grave, muito conhecida, pertencente ao diretor Dumbledore. A outra não sabia de quem era. Mas fosse quem fosse havia tropeçado na entrada, por que um objeto sólido caiu com um forte baque na outra sala e a Sra. Black imediatamente pôs-se a gritar.
“Mestiços imundos, escória, traidores do próprio sangue... como ousam emporcalhar minha casa, ralé...!”
Entediado, eu automaticamente pousei o livro na mesinha ao lado do sofá, apanhei a varinha e fui calar o quadro. Ao passar pelo Saguão, vi repentinamente uma jovem levantando-se do chão, e erguendo o porta guarda-chuvas feito de perna de trasgo.
- Ah, desculpe, desculpe – dizia ela – Realmente, eu sinto muito – ela parecia muito envergonhada, mas eu pude observar que o diretor parecia bastante divertido.
- Oh, não se preocupe, Ninfadora – o rosto bonito dela fez uma careta ao ouvir o nome – Pessoalmente, sempre achei este porta guarda-chuvas extremamente feio, e realmente não me importaria se o quebrasse. Só peço que tome mais cuidado na presença do professor Snape, entende... se bem que depois de tantos caldeirões derretidos e armários de ingredientes que você quebrou em suas aulas ele já não deve mais ficar surpreso.
Eu não consegui evitar parar e ouvir a conversa. A moça fez novamente uma careta à menção de Snape. Então ela me viu e sorriu. Retribui com um breve sorriso e examinei-a mais atentamente. Usava um jeans rasgado, e uma camiseta roxa das Esquisitonas. Tinha os cabelos compridos até a metade das costas, loiros, e olhos castanhos escuros.
- Ah, olá, Remus – disse Dumbledore olhando na mesma direção dos olhos da moça – Esta é Ninfadora...
- Tonks!
-... Ninfadora Tonks, ela é nova na Ordem. Trabalha no ministério. Este aqui é Remus Lupin, é muito útil para a Ordem, sabe – ele se dirigiu a ela – até por poder se disfarçar muito bem durante as noites de lua cheia...
- Dumbledore! – exclamei rapidamente, trazendo o olhar de Ninfadora de volta para mim.
-... Ele é lobisomem, sabe.
Desviei o olhar rapidamente, para não ver a expressão de medo que devia estar tomando conta de seu rosto. Mas, ao contrário, eu a ouvi exclamar, em um tom de voz que me dava certeza de que ela estava sorrindo, “Uau!”. Encarei-a outra vez e nossos olhos se encontraram. Por um segundo eu pareci esquecer tudo o mais ao redor, então a voz do diretor me trouxe de volta.
- Muito bem, Remus, acho melhor você ir acalmar a Sra. Black, e depois pode apresentar Ninfadora aos outros e contar-lhe um pouco sobre o que estamos fazendo. Tenho que ir.
Ele se retirou, não antes de passar na cozinha e pegar uma xícara de chá que Molly havia preparado, e nós ficamos sozinhos no aposento. Senti-me um tanto desconfortável por ela estar me observando tão atentamente, mas não quis ser indelicado.
- E aí – disse ela – Você é mesmo lobisomem, então?
- Ah, sou, sou sim.
- Legal! – ela não tinha a menor noção do que estava dizendo, pensei – Nunca havia conhecido um antes. Mas você realmente parece bem... normal. Achei que talvez houvesse alguma diferença visível, sabe, entre um lobisomem e um... – ela se calou, constrangida em dizer “uma pessoa normal” – Bem, é melhor você ir fazer a mulher ficar quieta, não é? – ela mudou de assunto. Eu repentinamente me dei conta que os gritos de “ralé, escória, filhos da imundice” continuavam. Dei meia volta para subir as escadas, mas ela me seguiu, sempre falando sem parar.
- Dumbledore disse que você é do Ministério? – perguntei quando ela parou para respirar depois de falar por vários minutos, e passou a observar o quadro que gritava com grande interesse.
- Ah, sim. Sou auror. Mas é claro que o velho Fudge não tem idéia do que está acontecendo por que continua nos mandando atrás de Sirius Black, e se sabemos que Você-Sabe-Quem está de volta, deveríamos estar fazendo algo para impedir. Scrimgeour também não está ajudando muito, se quer saber. É o nosso chefe. Continua cem por cento ao lado do ministério. Acho que é realmente uma idiotice, quer dizer, Dumbledore não iria andar por aí dizendo que ele retornou se não fosse totalmente verdade...
Logo pude perceber que ela era muito curiosa. E então que era ainda mais desastrada. Mas não podia negar que era encantadora. Sempre estava disposta a ajudar, fosse em missões das mais perigosas, fosse a preparar o jantar junto com Molly – o que podia chegar a ser mais perigoso do que as missões.
Era uma das mais novas da Ordem, mas podia conversar livremente com qualquer um. Foi por isso que eu gostei dela. Podíamos ficar horas conversando. Ela era quem falava mais na verdade, mas ainda assim, se situava em qualquer que fosse o assunto em pauta.
Quando as crianças se mudaram para a Ordem, não foi preciso mais de uma semana de convívio para que todas concordassem quanto a quem de nós elas preferiam. Era unanimidade.
Ninfadora Tonks.
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