Beijo de amizade
Por mais que Vítor se esforçasse, não conseguia mais se concentrar no seu treinamento para a terceira e última tarefa; para o azar de Poliakoff, pois Vítor sempre tinha que repetir algum feitiço nele, ou para aperfeiçoá-lo, ou para mirá-lo em outro lugar.
A falta de concentração de Vítor, tinha apenas um nome: ‘‘Hermione’’.Desde que descobriu da falsidade do artigo de Rita Skeeter, falando sobre Hermione e Harry, o rapaz nem sequer vira a garota.Estava começando a se sentir mais infeliz, toda vez que entrava na biblioteca, e não via Hermione debruçada em um livro de mil páginas, ou durante as refeições no salão, quando se sentava à mesa da Soncerina, era apenas para ouvir Draco Malfoy puxando o seu saco.
No terceiro dia de junho, Vitor acordou bem cedo, vestiu o seu uniforme e saiu para o castelo, tomar café.Cruzou as portas de carvalho, atravessou o saguão de entrada e quando entrou no Salão Principal, os olhares se voltaram para ele.Pessoas de todas as mesas, começaram a cutucar os seus vizinhos e cochicharem, olhando Vítor, que tratou de sumir na mesa da Soncerina e para o seu azar, Malfoy foi se sentar logo do seu lado.
-Bom dia, Vítor.-Cumprimentou o garoto, todo animado, puxando um prato de mingau para si, enquanto Vítor brincava com o seu garfo, espetando o seu bacon.-Dormiu bem?-Vítor tomou um gole de suco de abóbora e encarou Malfoy.
-Sim.
-Que bom.Então... está treinando para a terceira tarefa?Sabe, está todo mundo muito ansioso para você vencer este torneio.Foi uma tremenda injustiça te darem o terceiro lugar na segunda tarefa!Ei, eu li o artigo da Skeeter e faz tempo que eu quero te perguntar uma coisa: você gosta mesmo daquele sangue-ruim da Granger?É claro que eu não acreditei naquela baboseira toda e, e... Vítor?Vai para onde?
Mas Vítor já tinha deixado a mesa e o café, e já estava na metade do saguão, quando parou e apertou as mãos.Como Malfoy se atreve a chamar Hermione de sangue-ruim?Estava furioso com todos.Nada parecia estar dando certo na sua vida.Era Hermione não querer falar com ele, era Malfoy irritando-o, era Karkaroff o mimando-o era Poliakoff, choramingando...Vítor segurou um jorro de palavrões que queria gritar naquele momento, e engoliu-os, como se fosse chá de limão.
Caminhou lentamente, com as mãos no interior dos bolsos e pela primeira vez, em muito tempo, Vítor se sentia totalmente sozinho.Ao invés de rumar para o Navio de Durmstrang, o rapaz desviou o curso, para uma margem mais distante do lago.E lá, se sentou, longe dos olhos das pessoas que ali passavam, porque se acomodara atrás de alguns arbustos repolhudos.**
Não muito longe dali, Hermione, Rony e Harry, conversavam, sentados debaixo de uma grande faia folhuda, a beira do lago.Hermione e Rony estavam procurando ajudar Harry, o máximo possível, para ele se preparar bem para a terceira tarefa.Mas naquele momento, Hermione estava revisando História de Magia enquanto Rony e Harry falavam sobre o assunto mais entendido e que a garota detestava: quadribol, mais especificamente, falavam sobre a Copa Mundial de Quadribol.
-Não, foi Ivanova que marcou o primeiro gol para a Bulgária.-Contestava Harry, para Rony.
-Não foi, não, Harry!Foi o Dimitrov!Eu tenho certeza!-Revidava o outro, deitado sobre a sombra da árvore.
-Sabe.Vocês deviam é pensar em como Harry vai passar pelo labirinto!Especialmente você, Harry!-Hermione entrou na conversa dos dois tão inesperadamente, que Rony se levantou impressionado.
-Ah, Hermione!-Queixou Rony, batendo na grama.-Nós já ajudamos o Harry a dominar um monte de feitiços e azarações...
-Mas Harry ainda precisa aperfeiçoá-los!E além disso, ainda temos feitiços mais para Harry praticar...
-Mione.-Hermione se virou para Harry, que estava sentado ao seu lado.-Eu sei que é muitíssimo importante que eu aprenda a dominar esses feitiços, mas treinamos praticamente o dia todo, ontem.Vamos descansar, não é?-Hermione olhou indignada para Harry e logo voltou a sua atenção para o livro que estava lendo.Talvez fosse verdade, talvez estivesse exagerando na dose.Mas andava tão preocupada que queria sempre fazer mais.Harry corria algum perigo, e Hermione tinha certeza disso.
-Bom, vou subir.-Disse Hermione, fechando o livro dez minutos depois.Estava apertada.
-Mas já?Nem está na hora do almoço ainda.-Surpreendeu Rony.
-Eu vou ao banheiro, depois vou guardar o meu livro e pegar algum na biblioteca.Sabe, faz tempo que eu não vou lá.
-Hum, OK, agente de vê mais tarde então.
-OK, até mais Rony, tchau Harry.Hermione se levantou, e com o livro debaixo do braço, rumou para o castelo.
-Até mais tarde.-Disse Harry, acompanhando-a com o olhar.A garota se virou e acenou para os meninos e continuou a subir a encosta.
Mesmo preocupada com o Harry, Hermione ainda tinha uma outra preocupação: os exames se aproximavam e seus estudos e revisões, acabavam que eram vistos com menos freqüência, por ela, devido aos tempos vagos, estar gastando-os ajudando Harry.
Já estava na trilha que os alunos de Durmstrang pegavam para ir ao castelo.O livro em suas mãos, era pesado, mas assim que uma repentina ventania penetrou nas aberturas das vestes de Hermione, fez soltar o livro, contudo, ao invés de cair com estrondo no gramado, ele subiu, subiu até ficar em uma altura, em que Hermione não podia alcançá-lo, nem se pulasse.De repente, ele começou a mover-se em direção a margem do lago, flutuando, como se estivesse sento puxando por uma corda invisível.
Por um instante, Hermione observou, parada no lugar onde deixara o livro cair, o mesmo sendo levado pelo vento seco de junho como se fosse uma simples pluma.Depois, sacudiu a cabeça, confusa e correu atrás do livro.Puxou a varinha, ainda correndo.
-Accio!-Gritou, apontando para o livro, que agora ultrapassava o Navio de Durmstrang e começara a seguir o caminho pela margem.Pareceu que o livro ia voltar para as suas mãos, mas o que ele fez, foi um breve tremor no ar e logo voltou a seguir o seu misterioso caminho.
-O que?Mas... accio!ACCIO!-Mais uma vez, o livro deu uma tremedeira, mas parou quase no mesmo instante em que começou.Hermione começou a correr mais depressa, temendo que o livro, de alguma forma, desviasse o seu rumo para o lago.Custara caro, comprar um novo, seus pais batalharam para comprar matérias melhores.E ela não ia decepcioná-los.
-Accio!Accio!Acciooo!!ACCI...!-Hermione parou num embalo que a fez escorregar e cair de frente, na grama.Quando tirou um bocado de terra e folha de seu rosto e cabelos, a garota olhou para ver o que a fizera cair.
O livro estava nas mãos de uma pessoa que ela esquecera completamente; havia tempo que não se falavam ou se viam.O livro estava nas mãos de Vítor, que rapidamente, o deixou de lado e ajudou Hermione a se levantar.Desconcertada, a garota aceitou a mão de Vítor e subiu muito rápido, desequilibrando-se e tendo de segurar na gola do rapaz para não cair no lago.
-Me desculpa, Vítor!-Ofegou Hermione, se endireitando.
-Não foi nada, Hermi-ô-nini.-Disse Vítor, massageando o pescoço.Ele parecia ligeiramente entusiasmado e, ao mesmo tempo, envergonhado.Hermione se sentia completamente enrubescida.Não procurara Vítor desde a reportagem da Skeeter e isso, talvez o tenha afetado, pois quase não tinha contato com o pessoal de fora.Devia estar bastante sozinho, por causa daquele maldito artigo.Praticamente, esquecera de sua existência.
-Enton...-Começou ele, se agachando e apanhando o livro de Hermione, limpando-o e entregando-o a dona.
-Ah, obrigada.-Ao pegar no livro, a mão de Hermione roçou na de Vítor.Ela ficou vermelhíssima e abaixou os olhos para o livro.Vítor enfiou as mãos nos bolsos das vestes; muito constrangido.
-Hum... faz tempo que non nos vemos, non é?-Falou ele, por fim.Hermione estremeceu.O que Vítor acabara de falar, denunciara a sua posição solitária e cheia de perspectiva perdida nas últimas semanas.
-É, faz tempo.-Concordou, rezando para que ele tomasse a concordância, como se fosse um educado pedido de desculpas.-Escuta Vítor, eu sinto muito por não ter te procurado antes, eu estava muito preocupada com o Harry e a terceira tarefa se aproxima...
-Fique trranqüila, Hermi-ônini.-Acalmou-a Vítor, e timidamente, colocou a mão em seu ombro.Pareceu que ele não dera conta do que fizera, e logo tirou a mão dali.-Eu, err, sape, eu também tenho tido muito que fazerr...
-Não queria que você pensasse que eu te esqueci, Vítor.Você é muito legal, mas o Harry...
-Eu sei.Focê ecstá ajudando ele parra a terrceirra tarrefa.O que, parra mim, eu... –Mas Vítor se calou.Hermione franziu a testa para ele, se perguntando por que este repentino silêncio.
-Para você o que, Vítor?-Vítor a olhou, depois encarou o lago.Ainda o olhando, falou num tropeço de palavras:
-Eu acho que o Potter sabe fazerr coisas que eu nem sei.Usarr aquele coisa parra respirrar, prraticamente, nunca usei um feitiço convocatórrio... enfim.Ele sabe fazerr coisas que nem eu sei.E devido a ecste fato, eu...-Mas ele se calou de novo, ainda mais envergonhado.Porém, Hermione sabia o que ele ia dizer.E ao contrário do que ele esperava que ela dissesse, completou a sua frase, admirada.
-Você acha que não é necessário que eu ajude o Harry?É isso?-Vítor voltou a encará-la.Seu olhar transmitia algo semelhante a um silencioso pedido de desculpas.Hermione sorriu.
-Vítor.Você acaba de provar que é um homem honesto que não esconde o que pensa.Fico feliz que você desabafe comigo e...-Desta vez, Hermione levou a mão livre à boca.Seu coração começou a acelerar, suas pernas tremeram e deu um gemido rouco.
-O que foi, Hermi-ô-nini?Ecstá se sentindo pem?-Hermione olhava para o chão, em pânico.O coração doendo muito.Acabara de se dar conta da estupidez que fizera.Contara para Vítor que estava ajudando Harry, a se preparar para a tarefa, o que era um segredo entre ela, Harry, Rony e tinha a impressão de que a prof.ª Minerva também sabia e até incentivara, dando a sua sala, para Harry treinar, durante o intervalo do almoço.Mas fora eles, ninguém sabia, e Vítor o era rival de Harry.Não se dera conta de como extrapolara nas explicações para ele.Ocorreu-lhe a única explicação plausível: Vítor passava segurança para Hermione, tanta segurança, que ela achava fácil conversar com ele, assim como era fácil conversar com Gina, a sua confidente fiel.
-Eu, o Harry... ajudando... –Não conseguia pensar no que falar.Por mais ridícula que fosse essa explicação, era totalmente com sentido, embora Hermione nunca deixara transparecer nada além de uma simples amizade, entre ela e Vítor.Não sabia o por quê desta segurança ao falar com o rapaz que a observava, mas sabia da sua verdade e era isso que a incomodava.Quase nunca tiveram um contado mais íntimo.O máximo foi no baile, mais especificamente, durante a dança.Desta vez, foi Vítor quem sorriu.
-Calma, Hermi-ô-nini.Se for a minha boca que te prreocupa, eu te digo, que nada vai sairr dela, afinal, Poliakoff também ecstá me ajudando a me prreparrar parra a tarrefa.-Pareceu que um peso de cinqüenta quilos saiu do estômago de Hermione.Sentiu-se leve, como não se sentia havia muito tempo.De repente, as palavras voltaram e ela falou, sorrindo:
-Bem, parece que estamos quites, então.
-É verrdade.Ecstamos quites.-Os dois riram.A garota nunca vira Vítor sorrir daquele jeito.Um sorriso cintilante e bonito estampado naquela cara, muitas vezes, carrancuda.Seus olhos escuros, dançavam acima das sobrancelhas grossa e negras e a sua pele morena, reluzia a luz.Hermione não agüentou, ficou na ponta dos pés e deu um beijo na bochecha de Vítor.
A reação foi imediata.Vítor parou de sorrir.Sua expressão se transformou em um absoluto perplexo, e muito sem graça, Hermione procurou algum aluno que possa ter visto aquilo, mas parece que todos estavam no castelo.Estudou Vítor, e deu um sorrisinho nervoso.
-Bom, eu já vou indo.-Se dera conta de que estava apertada e antes de tudo aquilo acontecer, rumava para o banheiro feminino.-Agente se vê por aí.Até mais Vítor.-E saiu, deixando Vítor a olhando, sem dizer uma única palavra.
Enquanto tomava novamente a trilha dos alunos de Durmstrang, Hermione refletia sobre o que acabara de fazer.E chegou a conclusão de que isso não a incomodava.Afinal, ninguém estava os olhando, e aquele beijo, foi um beijo amistoso, entre amigos.Não havia nada com que se preocupar.Certamente, Vítor entendera os motivos por Hermione não procurá-lo.Já bastava isso para amenizar a diferença entre os dois.
-Onde você esteve?-Quis saber Rony, assim que Hermione entrou na sala comunal, depois do jantar.-Você demorou.
Hermione se sentou ao lado de Harry, ao redor da lareira.Contemplou o fogo por um tempo, enquanto os dois amigos a encaravam, se entreolhando misteriosamente.Bichento logo foi ao encontro da dona.Aconchegou-se no seu colo e se encolheu, parecendo uma almofadinha laranja e peluda.
-Hermione?-Disse Harry, inseguro, olhando a amiga.-Você está aí?
-Hã...?O que foi Harry?-Perguntou, sem tirar os olhos das chamas.Harry lançou a Rony um olhar significativo, depois coçou a cabeça.
-O que aconteceu com você?-Perguntou Rony, sério.Hermione começou a acariciar Bichento, antes de se voltar para Rony.
-Nada, Rony.-Respondeu, com simplicidade.-Só estou pensando, posso?
-Na Skeeter?-A garota se virou para Rony, sem entender.
-Por que a primeira coisa que veio a sua cabeça, foi essa Skeeter?
-Por causa da sua cara.Está fazendo tanta careta ao pensar, que deve ser alguma coisa irritante, o que está pensando.
Hermione franziu a testa.Como assim, fazendo uma careta?Não estava nem lembrando da Rita Skeeter quando Rony perguntou.Na verdade, estava pensando em Vítor, mais especificamente, no que aconteceu entre eles.O fato de ela ter dado um beijo amistoso na bochecha de Vítor, não mudava o estranho sentimento que brotara em seu coração, desde o ocorrido.Nunca chegara a dar um beijo daqueles em Rony, ou em Harry, e pensando bem, não seria tão difícil de fazê-lo.Bastava apenas esperar quando chegasse o momento próprio para esta ocasião.Contudo, aquele beijo causara uma reação diferente de amizade.Algo muito mais profundo.E sobre a questão de fazer careta, Hermione supunha que estaria relembrando do momento constrangedor do qual passara, mas desta vez o via como um encontro cômico, já que tudo foi esclarecido entre eles de forma tão natural.Para ela, Vítor era muito mais alegre, além do que aquele rosto carrancudo lhe mostrava, muito mais extrovertido, do que aquele jeito lhe passava...
-Hermione!-Hermione assustou-se e encarou Rony, de pé.Bichento saltara e já estava do outro lado da sala, miando.
-Não enche Rony!Dá licença que eu vou dormir.E Harry, amanhã continuamos o treinamento.Boa noite para vocês.
E subiu para o dormitório feminino, com o livro de História de Magia em sua mão direita.Assim que se enfiou na cama e cobriu todo o corpo, Hermione finalizou os seus pensamentos e tremeu toda, tomada pelo horror e pelo medo de suas conclusões, não totalmente, mais possivelmente concretas: estaria começando a gostar de Vítor, de verdade?
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