Reencontro no salão
Hermione realmente não acreditava, que os alunos de Durmstrang chegariam pelo céu, como os alunos de Beauxbatons chegaram cinco minutos atrás.A grande carruagem azul voadora, puxada pelos grandes cavalos alados da diretora, Madame Máxime, agora estava bem firme no gramado, e os alunos de Hogwarts aguardavam ansiosos, a chegada da delegação de Durmstrang, mas até agora nem sinal.
-Vocês estão ouvindo alguma coisa?-Perguntou Rony, de repente.
Hermione apurou os ouvidos, realmente estava ouvindo alguma coisa, um som estranho e abafado, um som de água.Sua cabeça virou depressa para o lago distante, no momento em que Lino Jordan berrou e apontou.
-O lago!Olhem para o lago!
Hermione sentiu todos os olhares dos estudantes se virarem para a superfície do lago, que até um minuto atrás estava lisa, como em espelho refletindo ao luar.Mas agora, ondas quebravam nas margens de terra, e havia bolhas bem no meio do lago, que logo foram substituídas por um grande redemoinho negro.Alguma coisa começou a emergir do redemoinho, algo grande, preto e comprido; que foi seguido por muitas velas...
-É um mastro!-Exclamou Rony, para Harry e Hermione.Foi totalmente desnecessário Rony dizer aquilo, pois Hermione sabia que a coisa comprida e preta, sem dúvida era um mastro.Lentamente, um grande navio, de aparência esquelética, foi se aproximando, depois de emergir inteiramente.Depois, Hermione e os outros ouviram uma âncora ser atirada no lago e um pranchão bater sobre a sua margem.
As pessoas que desembarcaram, pareciam ter um corpo um tanto grande, e quando se aproximaram das luzes do castelo, Hermione viu que a corpulência dos recém chegados, era, na verdade, por causa de seus grandes casacos de pele que usavam.Porém, o homem que os conduzia, usava um tipo de casaco diferente, um casaco sedoso e prateado, igual ao seus cabelos e barba.
- Dumbledore!-Disse o homem, cordialmente, ainda subindo em sua direção.-Como vai, meu caro, como vai?-Dumbledore sorriu para o homem que se aproximava.
-Otimamente, obrigado, prof. Karkaroff.-Karkaroff apertou a mão de Dumbledore com as suas duas, então ergueu os olhos para o castelo e disse, saudoso.
-Minha velha e querida Hogwarts!-Hermione não pode deixar de perceber, que seus dentes eram um tanto amarelos.Agradeceu silenciosamente,por ter os seus dentes, ao menos brancos.Os olhos frios de Karkaroff, provocou em Hermione, uma onda momentânea de arrepio.
-Como é bom estar aqui, como é bom.... Vítor, venha, venha para o calor... você não se importa, Dumbledore?Vítor está com um ligeiro resfriado...-Karkaroff fez um gesto com as mão, para um dos garotos usando os grossos casacos de pele, adiantar-se.O rosto que Hermione viu avançar, era familiar, mas não deu um branco em sua mente.Apenas se lembrou do jeito curvado, e do nariz adunco, quando Rony disse para Harry, aos cochichos.
-Harry, é o Krum!
A delegação de Durmstrang entrou no saguão de entrada, depois de Dumbledore e seu diretor.Os alunos de Hogwarts se enfileiraram nos degraus, atrás deles.Rony parecia estar fora de si.
-Eu não acredito!-Exclamou o garoto.-Krum, Harry!Vítor Krum!-Hermione relembrou do jogo da Copa Mundial, e, por alguma razão, achou que Krum a decepcionara.
-Pelo amor de Deus, Rony, ele é apenas um jogador de quadribol.-Disse Hermione, ficando, de repente, irritada com Rony.
-Apenas um jogador de quadribol?-Repetiu Rony, olhando a amiga, como se ela não estivesse sã.-Mione, ele é um dos melhores apanhadores do mundo!Eu não fazia idéia de que ele ainda estava na escola!
Quando passaram pelo saguão, junto com os outros, Hermione não deixou de perceber que muitos alunos não paravam de espiar as costas Krum.Umas garotas do sexto ano tateavam os bolsos, à procura de penas.
-Ah, não acredito, não trouxe uma única pena comigo... Você acha que ele assinaria o meu chapéu com batom?
-Francamente!-Exclamou Hermione, irritando-se cada vez mais, sem saber o porquê.Rony discutiu com Harry sobre pegar um autografo de Krum até sentarem à mesa da Grifinória.Para tentar distrair-se, Hermione desviou o olhar para a mesa da Corvinal, onde os alunos de Beauxbatons já estavam acomodados, com ares de tristeza no rosto.Três deles ainda protegiam as cabeças com os echarpes e chalés.
-Não está fazendo tanto frio assim.-Comentou, extravasando a sua raiva involuntária, naqueles estudantes.-Por que não trouxeram as capas?
-... Mione chega pra lá, abre um espaço!-Hermione tira os olhos da mesa da Corvinal, e pousou-os em Rony.
-Quê?-Murmurou a garota.
-Tarde demais.-Hermione virou para ver o que Rony estava olhando, e descobre que Krum e seus colegas foram se sentar à mesa da Sonserina.**Vítor sentou-se do lado de um garoto louro, de pele pálida.Os talheres e pratos são de ouro!-pensou Vítor admirado, e antes que pudesse examinar mais atentamente a sua volta, o garoto louro se curvou para ele.
-Então, fizeram uma boa viagem?-Vítor, despindo o casaco de pele, responde um tanto mais grosso do que queria.
-Sim.-O garoto louro dá uma rápida olhada para a outra mesa, mais perto, então torna a se curvar para Vítor.
-Meu nome é Draco Malfoy.Muito prazer.-Malfoy estende a mão para Vítor, e este a aperta, sentindo um toque de bajulação em seu rosto pálido.
-Vítor Krum...-Começa Vítor, mais antes de terminar, Malfoy o interrompe.
-Eu vi você na Copa.Eu estava no camarote de honra.Um convite do Ministro da Magia.Você é realmente fenomenal.-Vítor encara Malfoy, então o garoto espia a mesa defronte, novamente.Um pouco curioso, Vítor ergue os olhos rapidamente para a mesa em frente a que estava, exatamente aonde Malfoy observava, como se esperasse que o vissem em tal companhia.
-Mas... eu sempre digo para meu pai que você é o melhor jogador que existe.Ele até me prometeu que iria pedir ao Ministro, para eu ir vê-lo na Mansão da Bulgária...-Mas Vítor não ouvia uma só palavra.De fato, ainda havia pessoas que não o observavam, excitados, e uma delas, era uma garota de cabelos lanzudos de costas para ele.Não era.Não podia ser aquela garota.Não a garota no camarote de honra.Ela estava ao lado de dois garotos, um, de cabelos pretos, outro de cabelos ruivos.
-Vítor?Sr. Krum?-Vítor tirou rapidamente o olhar das costas da garota, e viu que o garoto Malfoy, o observava.-Está se sentindo bem?-Vítor não estava prestando a mínima atenção em Malfoy.Tentava olhar, de relance para as costas da garota, mas com o garoto o observando, ia parecer suspeito que algo lhe tivesse chamado a atenção.
De repente, o salão ficou silencioso.Vítor ficou feliz de desviar os olhos para a mesa principal, onde o diretor de Hogwarts começara a falar.
-Boa noite, senhoras e senhores, fantasmas e, muito especialmente, hóspedes.-Disse, sorrindo para os recém chegados.-Tenho o prazer de dar as boas vindas a todos...-Nesse momento, Vítor tornou a olhar para a garota, agora com os olhos vidrados em seu diretor.Foi nessa hora que Vítor pôde ver o seu rosto.Seus olhos penetrantes não mesclavam com a sua feição de mais profunda atenção nas palavras de Dumbledore.Todos pareciam olhar para o diretor.Constrangido, Vítor voltou à atenção para ele, mas já acabara de falar e começara imediatamente, uma conversa com Karkaroff.As travessas vazias, se encheram de comida, e para o espanto de Vítor, os alunos de preto sentados a sua volta não se surpreenderam com o acontecido.
-Credo.Tem cada comida esquisita!-Vítor ouviu Malfoy reclamar, e de fato, havia tipos de ensopado comuns em sua terra, isso fez aumentar a sua antipatia pelo garoto.Evitando erguer a cabeça do seu prato de ouro, agora cheio de sopa avermelhada, Vítor apurou os ouvidos, e pode escutar muitos cochichos dele.
-Eu não acredito!-Dizia uma garotinha, à três cadeiras de distância de Vítor.-Vítor Krum na nossa mesa!
-Onde será que ele vai dormir?-Sussurrou um garoto mais velho para seu amigo, ao lado de Poliakoff.Agradecendo, aliviado, que fosse dormir no próprio navio, Vítor terminou o ensopado e meia hora depois, as travessas foram substituídas por várias tigelas de pudins e tortas.Devia ser assim, na hora das refeições de Durmstrang.-Pensou Vítor, aborrecido.
Quando finalmente, os pratos de ouro foram limpos, Dumbledore levantou pela segunda vez, e o salão mergulhou em um profundo silêncio, mas muitos rostos não deixavam transpassar a tensão e excitação do que viria à seguir.
-Chegou o momento.-Anunciou Dumbledore para todos do salão.-O Torneio Tribruxo vai começar.Eu gostaria de dizer algumas palavras de explicação antes de mandar trazer o escrínio, apenas para esclarecer as regras que vigorarão este ano.Mas primeiramente, gostaria de apresentar àqueles que ainda não os conhecem...-Dumbledore apresentou para os estudantes, os outros dois juizes do torneio (pelo que informou Karkaroff, antes de partirem do Instituto), sentados à mesa principal.Vítor não os tinha visto entrar.Quando o diretor disse o nome do primeiro bruxo, ouve uma rodada de aplausos educados por todo o salão, mas quando o segundo bruxo foi apresentado, os aplausos se tornaram mais animados; mesmo assim, o primeiro bruxo, Bartolomeu Crouch, não demonstrou aborrecimento, nem acenou, como seu colega, Ludo Bagman, ao ser aplaudido.
Dumbledore confirmou a estadia de Crouch e Bagman na banca dos juizes, junto com os diretores das outras escolas, e ele próprio.
-O escrínio, então, por favor, sr. Filch.-Vítor aproveitou que as atenções estavam voltadas para um homem magro, que vinha trazendo uma arca de madeira, cheia de pedras preciosas, para Dumbledore, e deu mais uma espiada na garota de cabelos crespos.Tinha que ter absoluta certeza de que era ela que encontrara no camarote de honra; embora não tivesse muita certeza do que iria fazer com esta informação.Quando a arca foi depositada na mesa, em frente ao diretor, este recomeçou a falar.À medida que Dumbledore explicava, os alunos de Hogwarts aguçavam mais a atenção, mas Vítor, que já tinha obtido todas aquelas informações através de Karkaroff, se concentrou mais, em recordar as instruções, do que escutá-las novamente.
-... Os campeões serão escolhidos por um juiz imparcial... o Cálice de Fogo.-Dumbledore tirou a varinha das vestes, deu três toques na tampa da arca, que abriu com um rangido, e retirou dela, um cálice tosco de madeira.Apenas as chamas branco-azuladas que o enchiam até a borda, dava a impressão de que ele passava de um cálice comum.
-Quem quiser se candidatar a campeão deve escrever seu nome e escola claramente em um pedaço de pergaminho e depositá-lo no cálice.Os candidatos terão vinte e quatro horas para apresentar seus nomes.Amanhã à noite, Festa das Bruxas, o cálice devolverá o nome dos três que ele julgou mais dignos de representar suas escolas.O cálice será colocado no saguão de entrada hoje à noite, onde estará perfeitamente acessível a todos que queiram competir...-Vítor contemplou o cálice por alguns segundos, e então as palavras vieram em sua cabeça: o cálice devolverá o nome dos três que ele julgou mais dignos de representar suas escolas...-Dignidade.Era umas das qualidades que Vítor mais prezava em sua vida.Será que teria dignidade o suficiente para competir?Para colocar o seu nome no cálice?Todos aqueles pensamentos; todo o sacrifício de Vítor aprender Ciência Náutica em menos de dois meses, seriam jogados fora pelo seu acesso de medo e dúvida?Iria admitir a derrota, como fizera na Copa Mundial?Vítor olhou para a garota da qual invadia até os seus sonhos, e um repentino desejo de ser escolhido como campeão e vencer este torneio invadiu cada parte do seu corpo, vencendo todos os outros sentimentos que viam aflorando nele, desde que se alistou para a viagem.Antes que Vítor se desse conta de que os estudantes foram liberados e que Dumbledore parara de falar, Karkaroff veio ao seu encontro.
-Voltamos ao navio, então.-Disse Karkaroff, passando pelo amontoamento de estudantes, para chegar aos seus alunos.Vítor se levantou da cadeira e pegou seu casaco.-Vítor, como é que você está se sentindo?Comeu o suficiente?Devo mandar buscar um pouco de quentão na cozinha?-Vítor, querendo sair o mais rápido possível, da maré de estudantes que passavam por ele, aos sussurros, acenou negativamente com a cabeça.
-Professor, eu gostaria de beber um pouco de vinho.-Pediu Poliakoff, com expectativa, o uniforme manchado de sopa.
-Eu não ofereci a você, Poliakoff.-Retorquiu o diretor, deixando de lado, o jeito paternal.-Vejo que derramou comida nas vestes outra vez, moleque porcalhão...-Vitor foi conduzido, com o restante de seus colegas, para fora do salão.Tomando cuidado para se camuflar, Vítor caminhou entre Poliakoff e Plum.
-Obrigado.-Agradeceu Karkaroff, à um menino de cabelos pretos, usando óculos redondos, que parou junto à porta, para deixá-lo passar.Mas algo fez Karkaroff parar.Ele voltou-se para o menino de cabelos pretos, e ficou encarando-o perplexo.Vítor, como seus colegas de Durmstrang, o observaram também.Olhando mais atentamente, Vítor viu uma fina cicatriz, em forma de raio, na testa do garoto, e mais uma vez, o espanto cresceu dentro de si.Era Harry Potter, o menino que sobreviveu das garras de Você-Sabe-Quem, ainda bebê.Os olhos de Vítor detiveram, por um momento, na cicatriz, então, ele viu, bem atrás de Harry Potter, ao lado de um garoto de cabelos muito ruivos, e sardas pelo rosto todo, a menina de cabelos lanzudos e castanhos.Então ela era amiga do famoso Harry Potter.Se ao menos, ela desse um sorriso, como dera no camarote de honra, ele saberia se era ela, ou não.Vítor não ouvia nada, não mexia um só músculo.Sentiu um calorzinho na barriga.Se fosse mesmo a menina que estivera na Copa Mundial, seria a primeira vez que Vítor e ela estavam mais próximos, um do outro.Por um instante fugaz, a garota pareceu notar que Vítor à observava.Os dois se encararam, pela segunda vez, desde a noite em que surgiu a Marca Negra no céu.Ela encarou-o com aquele seu jeito de olhar, que deu no camarote de honra, então mordeu os lábios, talvez para demonstrar nervosismo, ou vergonha; isso Vítor não soube dizer.Mas aquilo foi mais do que ele esperava, em tão pouco tempo.Vítor poderia reconhecer aqueles dentes grandes, sem vê-los durante dez anos.Realmente era a garota.A garota que muitas vezes, lhe tirou o sono.A garota que muitas vezes, o fez perguntar para si mesmo, onde ela estaria naquele momento.Se estaria se divertindo ou estudando.Se estaria alegre ou triste.
Vítor não soube quanto tempo eles ficaram se encarando, mas logo sentiu uma mão o puxando, rumo à saída do castelo.
-Que horror!Você viu a cara que o Karkaroff fez quando viu aquele homem?-Perguntou Poliakoff, enqüanto desciam a encosta, com o resto dos estudantes de Durmstrang, em direção ao navio.
-Non tenho a mínima idéia do que focê está falando, Ian.-Respondeu Vítor, cujos pensamentos ainda estavam na garota que acabara de reencontrar.
-Eu quero todos na cama assim que chegarem as suas cabines.Nada de conversas, e amanhã cedo, quero todos prontos para irem depositar os seus nomes no Cálice de Fogo.-Ordenou Karkaroff, seu rosto se misturava ódio e pavor.Sem dar boa noite, o diretor foi o primeiro a entrar no navio, e quando Vítor e Poliakoff chegaram na cabine vinte e nove, Poliakoff começou a narrar o que acontecera na saída, quando um homem com um olho grande e cheio de cicatrizes se dirigiu à Karkaroff, quando estava olhando para Harry Potter, o menino que sobreviveu.
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