Ciência Náutica



Vítor releu o título três vezes seguidas.O que quer que fosse que aquele livro em suas mãos estivesse narrando, não era uma matéria habitual para se aprender em uma escola de magia.Isso era tão esquisito, que chegava a ser cômico, fazendo Vítor rir tolamente, deixando o livro escapar de suas mãos abertas.Poliakoff, observava o amigo com cara de quem observava um completo louco.
-Qual é a graça?Certamente eu gostaria de rir também.-Vítor, com os olhos marejados em lágrimas de riso, balbuciou levantando-se e se pondo de pé.
-Focê non... non ecstá fendo Ian... querrem que a gente aprrenda… aprrenda a pilotar... o navio!-Vítor de repente, parou de rir, sentou-se na cama e observou o livro sob os seus pés.Em seguida o pegou novamente.
-O quê é agora?-Perguntou Poliakoff.
-Parra que eles querrem que aprrendamos a guiarr um navio?-Vítor achou muito estranho; agora a situação parecia mais é confusa do que engraçada.Desejou não ter feito papel de idiota na frente de Poliakoff.
-Olhe na lista.-Sugeriu Poliakoff, voltando a se admirar no espelho quando Vítor esticou a mão para pegar a mala, e começou a revirá-la.Depois de ter retirado de seu interior duas penas, mais três rolos de pergaminho brancos, alguns ingredientes de poções, livros usados por ele em seus anos anteriores e um novo livro pedido para este ano, Vítor finalmente encontrou a lista de material dentro de um envelope laranja-avermelhado.Ele abriu-o e leu:

Lista de material escolar do Instituto de Durmstrang para os alunos do sétimo ano:

1. Livro Feitiços Poderosos e Suas Bases Fundamentais de Fabíola Fouks
2. Livro Guia Avançado das Trevas de Phelipe Xerwag
3. Livro O Caminho Negro de Aristócrates Gates
4. Livro Guia Pelos Sete Mares de Capitão Barba Ruiva das Caravelas

Observação:Os alunos do sétimo e alguns do sexto ano incluirão uma nova matéria que necessitará do quarto ítem da lista acima.Lembrando que somente os alunos maiores de idade terão de comprar o quarto ítem da lista.E estes também terão de comparecer a uma aula especial durante sua viagem para o Instituto de Durmstrang, na cabine 1.A aula terá início às 6:00 da tarde do dia um de setembro, e terminará às 9:00 da noite do mesmo dia.(Os alunos deverão comparecer a aula, uniformizados).


Vítor leu a observação muito vagarosamente, mesmo assim achou que não entendera muito bem o que ela lhe transmitira.Uma aula especial?Dentro do próprio navio?Quem seria o professor?Naturalmente, depois de seis anos de convivência dentro do Navio de Durmstrang, Vítor sabia muito bem que os professores do Instituto não viajavam para a escola, junto com os alunos, embarcados no navio.Na verdade, nem sabia como viajavam, só sabia que não era no mesmo lugar que ele e os demais estudantes estavam no momento.
-O quê você achou?-Vítor ouviu a voz de Poliakoff atrás de si, então virou para o amigo.
-É realmente muito estrranho.-Concordou, franzindo a testa.-Mas deverremos comparrecer.Diz aqui na lista.-Vítor apontou a lista que acabara de ler para seu amigo.
-Eu vou tomar meu banho antes de servirem o almoço.-Anunciou Poliakoff como se Vítor não tivesse falado com ele .Ele foi até uma das gavetas de sua cama, pegou uma toalha, roupas limpas, e saiu da cabine, fechando a porta ao passar.
A cozinheira do navio chegou uma hora e meia da tarde, com um carrinho carregado de bandejas e travessas, e pôs o seu conteúdo em cima da mesinha de tecido xadrez.Ela desejou um bom apetite para Vítor e Poliakoff, que estavam conversando absortos sobre a tão misteriosa matéria extra que teriam, e qual seria realmente, a sua necessidade de aprendê-la.
-Então Vítor, a questão é a seguinte... –dizia Poliakoff, retirando um grande pedaço de peixe defumado da terrina de latão, sentado diante da mesa xadrez.-Como é que nos obrigam a comprar um livro deste, se há marinheiros comandando a navio?Quer dizer, realmente não a real necessidade de aprender a pilotá-lo.
-Non sei... –Disse Vítor, preocupado, tomando um gole de vinho de uva, do seu cálice de porcelana, ao mesmo tempo em que Poliakoff deixava derramar o conteúdo do seu cálice na roupa nova.-Eu acho que terremos uma viagem nova.E os marrinheirros do navio non von nos poderr acompañar.Enton, terremos de aprrender a guiarr o navio.
-É uma possibilidade válida.Mas, que viagem tão importante seria esta?
-Non faço a menorr idéia.-Respondeu Vítor, agora repentinamente interessado na aula que teriam, quatro horas e meia, mais tarde.Como se isso fosse ajudar a passar o tempo mais rápido, Vítor virou o vinho do cálice todo em sua garganta, deixando derramar grande parte da bebida, em sua roupa.
As horas passaram lentamente, como se o relógio estivesse preguiça de trabalhar.Pelo que informou o relógio de pulço do Vítor, faltavam apenas dez minutos para a aula misteriosa.O rapaz tomou um banho ligeiro, vestiu o seu uniforme vermelho-sangue, limpo, arrumou sua mochila com um tinteiro novo, uma grande pena verde-clara, dois rolos de pergaminho e o livro de couro marrom.
-Pom, famos?-Disse, embolsando a varinha no interior das vestes.Poliakoff, que até agora estava se decidindo se colocava o seu broche de ouro, em forma de uma caveirinha, no peito, ou próximo à cintura, falou de costas para Vítor.
-Sim, sim.Eu já estou arrumado.-Disse Poliakoff.-Vítor, você acha que o meu broche fica melhor no peito, ou junto ao cinto?-Vítor entortou os olhos para o teto, fingiu que não escutou, pegou a mochila, pôs suas alças nos ombros e saiu rapidamente da cabine, antes de Poliakoff o chamá-lo.
Ele cruzou os corredores desertos do navio, iluminado por archotes e à medida que seguia para a cabine um, sua perspectiva de saber, finalmente o significado de tudo aquilo, o fazia andar depressa, quase correndo.Uma ou duas vezes, Vítor esbarrou com dois estudantes, vindo do banheiro, ou da cabine dos amigos.Eles o olharam, arregalados, mas Vítor os ignorou.O rapaz sabia que a cabine um, ficava fora do navio, em um tombadilho, mas nunca percebera o quanto ficava tão distante de sua própria cabine.Enfim saiu de dentro do navio, pelo grande alçapão.
Submerso na água, o Navio de Durmstrang parecia mais fantasmagórico do que na superfície.As luzes dos lampiões, refletiam sobre as águas escuras, que lutavam em vão, contra a parede invisível, cobrindo toda a parte externa do navio, impedindo as águas salgadas de penetrarem na embarcação.Vítor foi invadido por uma onda de frio cortante, nada que superasse o frio que sentiria assim que chegasse no instituto.Mas desejou der trazido consigo, o seu casaco de pele.
A cabine um, localizava-se logo atrás do alçapão, pelo qual Vítor saiu.O tombadilho era forrado igual a todo o convés do navio, exceto que, o numero correspondente ao da cabine, fora pregado à porta com um grande ‘‘1’’, em vermelho bordô.Vítor ergueu a cabeça para cima, e avistou com clareza, mesmo sobre a escuridão das águas, entre as muitas velas, o homem do cesto de gávea (todos o conheciam por esse apelido).Parecia sonolento, e mantinha os calcanhares apoiados na borda do cesto.Vítor desviou o olhar para a proa do navio, onde o timoneiro guiava o timão, ao mesmo tempo em que o fazia de travesseiro.Tudo estava deserto, exceto por ele e os dois marinheiros cansados.
-Vítor!-Vítor pousou os olhos na tampa do alçapão, pelo qual acabara de sair, e viu ela tornando a ser levantada, desta vez por um Poliakoff irritado, segurando uma elegante maleta de couro preto na mão direita.
-Obrigado por me esperar!-Disse Poliakoff, ao se aproximar do amigo.
-Estamos atrrasados Ian.-Informou Vítor, caminhando apressado para a cabine um, com Poliakoff o seguindo.Mesmo sabendo que ainda estavam cinco minutos adiantados, Vítor não deixou de se surpreender devido ao fato de não ver mais ninguém rumando para a primeira aula.
-Engraçado.Eu não vi nenhum aluno vindo para cá.-Comentou Poliakoff, ainda irritado com Vítor, por ignorá-lo na hora de sua acusação.
-Eu também non vi ninguém.-Ele e Poliakoff pararam diante da porta com o número um cravado na altura dos olhos de Vítor, então entraram.
A primeira visão de Vítor, foi dois grandes arcos de um círculo, formado por mais ou menos cinqüenta alunos.Todos se espremiam, sentados no banco de alvenaria, do qual formava os arcos.Suas mochilas e pastas se concentravam no meio da cabine e em mesinhas grudadas nos ângulos das quatro paredes, logo atrás dos alunos que ali estavam sentados.Havia uma única porta, defronte a porta em que estavam Vítor e Poliakoff, pregados no chão escuro, que refletia a fraca luz dos archotes do ambiente abafado.
Assim que os dois cruzaram a porta, todos os olhares se detiveram em Vítor.Alguns sorriam, outros, o olhavam com ar de deboche e outros visivelmente excitados.Tentando atrair menos a atenção dos rostos que o observavam, Vítor foi até o meio da cabine, colocou sua mochila no chão, e voltou rapidamente, para se sentar no finzinho do arco à esquerda da porta que passou, enquanto Poliakoff se sentava no fim do outro arco, à direita.Os cochichos aumentavam à medida que o tempo ia passando.Vítor estava começando a irritar-se.Decidiu ficar olhando para o chão, fingindo não ouvir os sussurros que penetravam seus ouvidos.
Passaram-se cinco longos minutos, agora havia uma grande onda de conversas perante os presentes.Poliakoff conversava com um garoto ao seu lado.Vítor não dissera uma palavra, até o presente momento, ainda mirava o chão, se perguntando quanto tempo mais ia demorar pra alguma coisa acontecer.Tais pensamentos o invadiram, e a porta mais distante dele se abriu, entrando na cabine, um homem corpulento, com a pele escura, usando um colete azul escuro, e um chapéu de marinheiro igual.O homem caminhou para o meio da cabine, ao mesmo tempo em que as conversas cessaram.
-Boa tarde.-Disse, e sua voz era grossa, como se fizesse força para soá-la.Os alunos murmuraram um ‘‘boa tarde’’, mas logo pararam, prestando muita atenção nas palavras seguintes do homem.
-Meu nome é Richard Quiquer, e sou professor de Ciência Náutica no mundo bruxo, e capitão do Navio Bombar, Rússia, no mundo trouxa.Muito prazer, e sejam bem vindos.-Ouve murmúrios à menção das duas profissões de Richard Quiquer, mas logo acabaram, quando Quiquer tornou a falar.
-Embora a minha segunda profissão que eu acabei de relatar para vocês, ocupe a maior parte do meu tempo, ela não vem ao caso no exato momento.Bem, o diretor do Instituto de Durmstrang me contratou para ensiná-los a manusear este navio...-Quiquer parou de falar, por que a mão de uma garota do sexto ano acabara de levantar.
-Seu nome, senhorita...?
-Ethel.Scarlett Ethel.Mas senõr Quiquerr, parra quê manusearr ecste nafio, se possue marrinheirros à borrdo?
-Muito bem pensado, sra. Ethel.Eu não posso lhe passar muitas informações no momento.Igor Karkaroff me deu o emprego para ensiná-los até um determinado tempo, e eu aceitei.Mas eu não sei muito sobre as normas do Instituto de Durmstrang, já que minha educação foi prestigiada em Hogwarts.Creio que o seu diretor irá informá-los pessoalmente tudo o que precisam saber.-Quiquer deu as costas para a garota, e tirou uma varinha muito pequena do interior do colete, e com um gesto, afastou as mochilas e maletas do meio do chão, fazendo-as voarem, respectivamente para o seu dono, que pegos de surpresa, levaram várias cabeçadas dos colegas que tentaram desviar-se.Vítor apenas esticou a mão e recebeu a mochila.Pondo-a sobre os pés, enqüanto Poliakoff se levantava.
-Como esta aula é uma aula suplementar, eu gostaria de lhes informar, hoje, apenas o básico dos nossos estudos.Por favor, abra o seu livro Guia Pelos Sete Mares, na página cinco, onde encontraram a representação quase exata de um navio como este.-Agora o único som era das mochilas se abrindo, e o barulho das folhas do livro encapado de marrom.Assim que todos abriram na página pedida, Quiquer desenhou algo no ar, e bem no meio da cabine, entre os dois arcos, surgiu uma maquete detalhada do Navio de Durmstrang semitransparente, tornando visível todos as cabines e corredores.A miniatura do navio era do tamanho da mesa da cozinha da mansão que Vítor estivera, durante a Copa Mundial.Flutuando alguns centímetros do convés, a aparência do navio não mudava nada, em relação ao real.
-Como podem ver claramente, a análise detalhada do Navio de Durmstrang pode ser vista neste mapa.-Explicou Quiquer, contornando a estranha figura semitransparente.Muitos alunos exclamaram, mas Vítor não se deixou levar pela surpresa.-Como este navio possuí propriedades mágicas, seria prudente dividirmos vocês em grupos, para poderem estudar e manusearem uma determinada parte do navio, que como vocês sabem, não é só guiá-lo através do timão...-Desta vez, foi Poliakoff quem ergueu a mão.
-Sim, senhor...?
-Poliakoff.Ianevski Poliakoff.-Disse Poliakoff.
-Sim sr. Poliakoff?
-O que chega a ser um timão, professor?-Alguns alunos também pareciam ter a mesma dúvida, o que para Quiquer, foi como se pensasse que os alunos não soubessem somar dois mais dois.Respirando profundamente, Quiquer respondeu.
-O sr. não tem nem idéia do que vem a ser um timão, sr. Poliakoff?-Ao ver Ianevski acenar negativamente com a cabeça, Quiquer respira fundo mais uma vez.
-Realmente, pensei que os senhores já estivessem uma idéia formada sobre o assunto.Mas, como Ciência Náutica é uma matéria meio importuna, não os culpo por saberem tão pouco.-Vítor não gostou do modo com que Quiquer respondeu, ele sabia o que era um timão, mas mesmo assim, considerou muito ofensiva a resposta para os que não sabiam, e ele mesmo não saberia, se não fosse amigo do timoneiro do navio.
-Bem, timão é o nome que se dá a um guia do navio, um volante.O responsável pelo timão, é denominado timoneiro, e essa função, não é uma função fácil, uma vez que o timão precisa ser pesado para ter o absoluto controle sobre ele e o navio do qual guia.Entendeu sr. Poliakoff?-Perguntou Quiquer, sem olhar para o rapaz.
-Sim, senhor.-Respondeu Poliakoff, um pouco mais grosseiro do que pretendia.
-Continuando.-Disse Quiquer, como se não estivesse havido nenhuma interrupção.-Não se pode controlar um navio como este apenas por um timão, ainda mais tendo propriedades mágicas para se misturarem com as funções dos navios comuns.Eu irei passar a cada um de vocês, com esta caixinha de madeira.-Disse Quiquer, tirando de outro bolso, uma caixinha de madeira simples.-Nela, vocês tiraram um papelzinho informando a função que você exercerá neste navio, e, seja mágica ou comum, não poderá trocá-la, vendê-la, jogá-la fora, modificá-la ou não cumpri-la corretamente, pois embora haja diferentes funções, eu irei ensinar todas.É claro em dias e horários diferentes das outras.Por isso, eu não admito nada disto enqüanto estiver ensinando.Aceite o que você escolheu.-Quiquer se dirigiu até a ponta extrema do arco que Vítor estava, e abriu a caixinha, para a garota sentada lá, poder pegar o papelzinho.À medida que o marinheiro passava com a caixinha de madeira, e os alunos olhavam os seus respectivos papeizinhos, a ansiedade de Vítor continuava a crescer.Quando ele retirou o seu papelzinho, já não cabia em si de curiosidade, embora não demonstrasse.Ele desdobrou-o rapidamente, e com letras garrafais, havia escrito ‘‘telecinesia-parte mágica’’.

-Tá legal, é meio esquisito este negócio de aprender a guiar o navio, mesmo sabendo que tem marinheiros aqui, mas ter de aprender a pilotar o timão, sem mágica é demais!-Reclamou Poliakoff para Vítor, enqüanto caminhavam de volta para a cabine vinte e nove, depois de passarem mais de duas horas escutando Quiquer repetir cada uma das funções que ele havia colocado nos papeizinhos, enqüanto os alunos anotavam as suas respectivas tarefas no Navio de Durmstrang.Alguns não entenderam nada, qual era a sua tarefa, muitos ficaram com raiva ao lerem que não iriam usar mágica em sua função, e poucos, felizes com o que receberam para fazerem.Poliakoff tirou o papelzinho ‘‘Pilotar o timão-parte não mágica’’, e ficou muito enfurecido com isso.
-Relaxa Ian.Eu ainda non entendi muito pem o que significa a minha funson.-Disse Vítor, entrando na cabine vinte e nove.
-E daí?Você vai usar magia mesmo não vai?-Resmungou Poliakoff, atirando a sua maleta na mesinha xadrez.-Essa Ciência Náutica vai ser um saco.Escreve o que eu estou de dizendo.-Vítor e Poliakoff se trocaram em silêncio, mas quando Poliakoff murmurou um ‘‘boa noite’’, Vítor continuou deitado, sem fechar os olhos, observando os peixinhos de sua cama piscarem, e acenderem uma luz azul-pérola em todo o seu corpo redondo, fazendo iluminar os seus cobertores.
Embora não soubesse o verdadeiro motivo de aprender Ciência Náutica, Vítor tinha uma leve impressão de que esta não seria a única surpresa deste ano.À medida que o navio rumava para o norte do globo, a água que aparecia pela escotilha ficava mais densa, e hora ou outra, batiam contra o vidro, pedacinhos de gelo.Vítor somente adormeceu, quando já passavam da meia-noite, e seu sonho foi invadido por uma garota de cabelos crespos, mas com um rabo de peixe, sentada na proa do navio.Ela sorria, mostrando seus dentes da frente um tanto grandes, ao mesmo tempo em que ele, Vítor, guiava o Navio de Durmstrang pelo meio do estádio da Copa de Quadribol.

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