O descendente de Griffindor
Capítulo Quatorze
O descendente de Griffindor
_Temos convidados, Rabicho. _Disse Voldemort, ao encarar a expressão desprevenida de Harry. _Guarde a porta.
Rabicho caminhou rapidamente até o portal do quarto, e ficou lá, em pé.
_Não tenho varinha, milorde. E se mais deles estiverem aqui?
_O Potter irá nos contar como foi que fez esta façanha, não irá Potter? _Perguntou ele, caminhando até Harry.
Harry havia colocado a varinha à altura do peito de Voldemort, ameaçadoramente.
_Nós dois sabemos que não pode me matar, Potter. _Disse ele, com o olhar maligno.
_Não por muito tempo... _Disse Harry, ainda ameaçador.
_Accio. _Murmurou Voldemort, tomando a varinha de Harry e guardando nas vestes.
Voldemort fez Harry levitar no ar com um feitiço realizado pela própria varinha do rapaz. Depois, com a expressão triunfante, disse:
_Perfeita. Agora sim, posso matá-lo. _E atirou a varinha de Belatriz contra as costas de Rabicho, que a apanhou rapidamente e foi embora pelo corredor, para vigiar o salão.
_Você tem certeza que quer me matar? _Harry questionou, amargurado assim que voltou ao chão.
_E por que não iria querer? Foi por sua causa que eu perdi quase todos os meus poderes, não foi? _Perguntou ele, com o olhar desconfiado.
_Não, foi por sua causa. _Harry respondeu.
_Ora, não precisa ficar nervoso, Potter... Teremos uma longa conversa... Sente-se. Não o matarei, por agora.
E conjurou uma cadeira para Harry, que foi obrigado a sentar-se. Voldemort caminhava em torno da cadeira com a varinha em punho.
_Onde está a varinha de Ravenclaw? _Questionou, desejando parecer displicente.
_Destruída. _Respondeu Harry, secamente.
_Por que você a roubou? _Ele questionou, fitando-o com os olhos cheios de ódio.
_PRA QUE VOCÊ A QUERIA?
_Isso não é da sua conta, Potter. Não espere que eu aja como aquele velho caduco e lhe conte tudo o que se passa na minha cabeça!
_POR QUE VOCÊ ME ESCOLHEU? _Harry perguntou, berrando. _SÓ ISSO QUE EU QUERO SABER, E ENTÃO PODERÀ FINALMENTE ME MATAR. NÃO ERA O QUE SEMPRE QUIS?
E então o rosto de Voldemort ficou de repente assustado. Uma luz verde brilhava nos olhos amarelados, e ela saía exatamente da cicatriz de Harry.
_O q-que é isso? _Ele perguntou, apontando o dedo longo e trêmulo para a cicatriz.
Harry apalpou o local, mas não sentiu nada, além de uma pequena tontura. Mas isso agora era novidade, por que a luz? De onde ela vinha? Voldemort parecia intrigadíssimo. E então tudo parou outra vez. Mas mesmo assim ele não parecia está satisfeito. Tocou o local da cicatriz com o dedo frio. Harry tentou empurrá-lo, mas ele lançou-lhe um feitiço que o fez voar alguns metros e chocar o corpo contra a parede. Harry sentiu a cabeça rachar, o sangue voltou a escorrer pela sua roupa.
_Não finja que não sabe, Potter... _Disse ele, de repente. _Não pense que vou acreditar em qualquer outra desculpa que dê para ter ido apanhar a varinha. Eu sei que sabe... E quero saber como descobriu.
Harry não sabia exatamente o que fazer. Ainda estava receoso que Voldemort fizesse novas horcruxes caso tivesse certeza que Harry havia descoberto quais eram as que ele já havia feito. Harry mais que nunca queria ter aprendido algo com as aulas de oclumência de Snape. Ter aprendido a fechar a mente. Tinha medo que Voldemort a estivesse lendo naquele exato momento, que ele tivesse colocado tudo a perder. Tentou concentrar-se em não permitir que ele invadisse sua mente.
_Eu não estou com paciência para esperar, Potter. _Disse Voldemort, que o olhava com perspicácia. _Lá fora está acontecendo uma grande guerra e eu sou o grande general, não espera que eu passe muito tempo com você, não é? Não pense que eu não teria coragem de matá-lo...
_Eu e Dumbledore descobrimos. _Disse ele, passando a mão sobre o corte na cabeça, não era muito profundo mais estava causando muita dor. _Pouco antes de ele morrer.
_O QUE DESCOBRIRAM? _Perguntou Voldemort abalado, como se lá no fundo não esperasse ouvir uma resposta afirmativa.
_Sobre suas horcruxes. _Disse Harry, sinceramente. Não sabia o porquê, mas sentia-se feliz em dizer que descobrira o segredo dele.
_Então... Como, como descobriram? _Perguntou ele, ainda estarrecido. _O que sabem, Potter? Quem mais sabe?
_Você é um pouco previsível... _Zombou Harry. _Querendo coisas especiais pra transformar...
Voldemort parecia ter sido apunhalado, ele encarava Harry com tanto ódio quando era possível e parecia prestes a lançar um feitiço fatal nele.
_Sei que eram sete. _Disse Harry, começando a se divertir com a situação. _E sei exatamente quais são...
_ Veritas! _Murmurou Voldemort, apontando a varinha para o peito de Harry.
Harry sentiu como se dois ganchos perfurassem o seu tórax. Voldemort estava fora de si, caminhava de um lado para o outro, nervoso. Apesar de a dor ser tremenda, o rapaz continuou, determinado:
_O diário, a cobra, o anel, o medalhão, a varinha de Ravenclaw... Todas estão destruídas. Com exceção de mim... Você me escolheu ao invés da taça... Na última hora resolveu não apanhar o objeto da Lufa-lufa. Mas você queria todos... Queria até um objeto da Grifinória, mas é claro que nunca teria a espada de Griffindor.
Voldemort parecia próximo à loucura, estava desprevenido, louco. Conjurara mais um feitiço em Harry, que o fez cair de joelhos. Agora a dor na cabeça estava mais forte, aliada à dor no tórax. Harry mal conseguia se manter acordado.
_Idiota... Eu tenho uma horcrux da grifinória... _Disse ele, fora de si. _Eu tenho você... Nunca se perguntou por que eu preferi você ao filho dos Longbottom? Dumbledore não sabia que você é o descendente de Godric Griffindor?
Fora como receber de repente a notícia que o papai Noel existia. Não fazia o menor sentido. Como Harry poderia ser descendente do fundador da Grifinória? Voldemort queria fazer algum tipo de brincadeira?
_Talvez aquele velho caduco não soubesse... _Disse-lhe Voldemort, sorrindo alucinadamente. _Ou nunca quis contar a você... Mas isso é o que nos faz rivais, inimigos fatais. Você, descendente do fundador da Grifinória... Carregando o sangue de Griffindor, enquanto o sangue de Slytherin corre nas minhas veias.
_Você ficou louco...
Mas Harry acabara de sentir algo cair dentro de suas calças, algo pesado, deveria ser a espada de Griffindor. Ele só não entendia qual seria sua serventia, já que não poderia matá-lo.
E então ele começou a torturar Harry, que caía no chão, gemendo de dor e contorcendo-se. Sentindo que não poderia agüentar muito mais tempo, e desejando que Snape ou qualquer outro derrotasse Voldemort quando ele se fosse.
_O que você fez com as horcruxes? _Voldemort perguntou, com a voz agoniada.
_Eu as destruí, foi isso que eu fiz. _Disse Harry, em meio à dor. _Estão todas destruídas, você é mortal outra vez...
_Talvez eu conheça mais sobre você que você mesmo, Potter. Acha que eu o escolheria de graça para ser uma de minhas horcruxes? Jamais. Tudo foi muito planejado... Você seria protegido. Sua família era rica... Jamais correria riscos, seria uma de minhas horcruxes mais perfeitas. Mas infelizmente aquela mulher lançou em você essa maldita proteção... Que me fez perder a maioria de meus poderes... E eu, toda a vida ansiei por saber se você tinha de fato virado uma delas ou não. Mas agora eu não me importo mais com isso, Potter. Você descobriu minhas horcruxes, mas não vai impedir que eu transforme a taça em uma. E eu vou fazê-la com sua morte... Você terá um final glorioso, afinal. De...
_Impedimenta. _Disse uma voz esganiçada, no portal.
Hermione acabara de adentrar a sala, com o rosto ferido, e parecendo exausta. Ficou pálida ao perceber o estado de Harry e Percy caído no chão.
_Hermione, deixe ele me matar. _Pediu Harry, indo até a amiga. _Foi o que combinamos, não foi? É o único jeito, mais cedo ou mais tarde irá acontecer e...
_Estupore. _Disse mais uma vez a garota para Voldemort, sem dar atenção ao que Harry lhe dizia. _Accio.
Voldemort caiu desacordado no chão. Hermione devolveu a varinha de Harry assim que percebeu que pertencia a ele. Os dois se abraçaram por um breve momento. Era bom revê-la, mas eles não tinham muito tempo. Ele queria que ela o tivesse deixado morrer. Mas naquele momento ela chorava e sorria ao mesmo tempo.
_H-harry... V-você não é... Q-quer dizer, você é... M-mas pode deixar d-de ser, Harry. Mate ele... Agora.
Mesmo sem saber o que a garota estava dizendo, ele confiava nela, ela jamais o enganaria. Mirou a varinha em direção à nuca desnuda e cheia de veias de Voldemort, mas foi impedido por Rabicho, que acabara de estuporar Hermione e vinha cercado de quatro ou cinco comensais.
_Enervate. _Disse ele, acordando seu lorde.
Voldemort levantou-se imediatamente, tomado por um acesso de fúria tomou mais uma vez a varinha das mãos de Rabicho e o atirou a alguns metros de distância, fazendo-o cair na sala escondida ao lado.
_Quer que eu o mate, milorde? _Questionou um dos comensais, segurando Harry pelo braço.
_Sumam todos vocês daqui, agora... Eu posso matá-lo... Sozinho. Vão procurar os outros, devem ter mais deles aqui no castelo...
Três comensais deixaram os aposentos, hesitantes. Mais um acabara de ajoelhar-se próximo à Hermione. Ele a carregava nos braços.
_Solte-a... _Harry berrou, apontando a varinha para ele.
_Eu vou levar, Hermionini...
Aquela voz não lhe era estranha, ele tinha certeza de que já havia escutado antes. Era voz de Krum. Com certeza era ele por debaixo daquelas vestes negras.
_Leve a garota, mate-a. _Disse Voldemort, em uma voz fria e maléfica. _faça o que quiser. Suma daqui...
_Farei o pior, milorde. _Prometeu Krum, levando a garota inerte nos braços.
Harry, por alguma razão, sabia que ele não a faria mal. Mas mesmo assim não desejava que ele a levasse, não saberia se teria forças para matar Voldemort se estivesse ali sozinho.
_Então há mais pessoas na minha Fortaleza, Potter. _Disse Voldemort, aproximando-se do rapaz. _Nenhum de vocês deixará este lugar vivo.
Mas Harry já havia tirado a enorme espada prateada da calça e enfiado-a no peito de Voldemort. Um líquido negro deixou o peito do bruxo, mas assim que Harry tirou a espada, o ferimento se curou.
_Precisa mais que uma espada para me matar, Potter... _Disse Voldemort, segurando o peito com admiração. _Tenho me protegido contra ferimentos como este, rapaz. Guarde essa espada, ela não poderá me atingir.
Então Harry percebeu o bruxo minúsculo se mexendo atrás de Voldemort, era Rabicho. Seu rosto estava repentinamente malvado, ele carregava a caixinha de prata nas mãos.
_Rabicho, seu idiota, guarde essa coisa. Vá. _Ordenou Voldemort.
Mas o bruxo não parecia querer guardá-la, ele acabara de abri-la, e a voltava contra Voldemort. Seus olhos miúdos e lacrimosos dotados de uma excitada maldade.
_Você está louco... _Sibilou Voldemort, pondo as mãos na cabeça. _Avada Kedrava!
Rabicho fora pego tão desprevenido que não tivera tempo de esquivar-se, caindo morto, com o rosto espantoso. A caixinha caíra ao lado dele, e antes que Voldemort a pegasse, ele caíra ao chão, fraco.
_Tire isso daqui, Potter... _Implorou Voldemort, rastejando e tentando alcançar a caixinha aberta e emanando a forte luz verde.
_Já é hora de pagar pelos seus pecados, Riddle. _Disse Harry com desprezo.
_Idiota... Jamais poderá me matar... Eu nunca poderei morrer enquanto você estiver vivo... E você jamais viverá tranquilo enquanto isso... Eu modifiquei a profecia, e mudei o destino. Você está atrelado a mim, Potter. Você é um pedaço de mim... _Disse Voldemort, caindo ao chão, fraco.
_ São nossas escolhas que nos diz quem somos, Riddle. Você deveria saber disso...
Harry não tocara na caixa, mas tinha medo que Voldemort a alcançasse. Contudo, não tinha idéia do que poderia se tratar. Voldemort, gemia e urrava de dor, implorando e delirando. Parecia ter se transformado numa coisa cinzenta e disforme, como um toco de vela que aos poucos ia queimando-se e deformando-se.
_Eu jamais morrerei... _Disse num chiado, audível. _Eu jamais morrerei...
Mas não era o que estava acontecendo, um odor muito forte de cabelo queimado começava a invadir todo o quarto, e se intensificou até que com um estouro, Voldemort explodiu em cinzas e em líquido negro. Estava acabado.
Harry foi ate o corpo inerte de Percy e o fez levitar com um feitiço, em seguida, desceu os lances de escada tão rapidamente sob a capa de invisibilidade que apanhara do chão, que quando vira já estava nos jardins. Grande foi seu espanto ao encarar Sirius e Rony correndo em direção ao corpo de Percy, que levitava aparentemente sozinho. Harry despiu a capa, e os encarou, mortificado.
_Sinto muito, Rony...
Rony agarrara o corpo do irmão e tentava ouvir as batidas do coração dele, logo depois encarou Harry, arrasado.
_Eu não acredito... Como aconteceu? _Perguntou, com cara de choro.
_Foi Voldemort... Ele está acabado.
_Você o destruiu? _Perguntou Sirius, com as feições surpresas. _Conseguiu?
_Não foi trabalho meu... _Disse Harry, ainda encarando a tristeza de Rony ao descobrir o irmão morto.
_Eu sabia que mais cedo ou mais tarde iria acontecer... _Disse ele, resignado. _Tenho que levá-lo. E Hermione?
_ O Krum estava com ela, acho que está segura. _Disse Harry. _E os comensais? E a guerra?
_Krum? _Perguntou Rony, surpreso, mas não insistira na pergunta.
_Ainda estávamos em guerra quando deixamos o castelo. _Sirius explicou. _Acho que não há mais nenhum comensal aqui. Lutamos com muitos, junto com... Snape. Rony, quer que eu o leve com você?
Rony fez que sim, totalmente arrasado.
_Harry, espere aqui. _Pediu Sirius. _Snape está lá em cima, não tardará a vir. Ele está bloqueando a aparatação na enfermaria. Fale com ele sobre Hermione, talvez ela esteja com ele. Tenho que ajudar na guerra... Mas é melhor você ficar aqui, por enquanto.
Harry concordou, não queria encontrar muitas pessoas naquele momento, não sabia o que aconteceria com ele e sentia muita pena de Rony, que agora chorava, agarrado ao corpo do irmão. Sirius deu um leve tapinha nas costas de Rony e o fez caminhar, em direção às muralhas.
Harry voltou o olhar para o castelo, parecendo vazio e fúnebre. Queria saber onde estaria Hermione, se ela não estaria correndo perigo. Se Krum seria totalmente confiável. Iria voltar para o castelo quando avistou dois vultos saindo do bosque em direção ao lago. Harry, sem ao menos pensar, correu para o local.
Mesmo estando no meio da noite, o rapaz pôde divisar os cabelos espessos de Hermione e Krum, que trazia algo envolto em uma manta. A garota corria em direção a Harry, enquanto Krum tentava segui-la a passos largos.
Então o céu foi ficando escalarte, da cor de sangue. Do castelo começou a sair pelas janelas uma fumaça negra e fétida. Hermione o abraçou, assustada. Enquanto os três avistavam alguém deixar o castelo, cambaleante.
_Harry, você conseguiu, não foi? _Perguntou, com o rosto marejado de lágrimas.
_Ele está acabado. _Disse Harry, sentindo o quanto aquilo o aliviava.
_Harry, aquela luz, ela voltou... De novo. _Disse a garota, olhando assustada para a cicatriz de Harry.
E como vira nos olhos desprezíveis de Voldemort, ele agora enxergava através dos olhos cor de caramelo da amiga, a luz verde que deixava a cicatriz ainda mais intensamente. E desta vez demorou muito mais para acabar.
_Harry, achamos a Gina. _Disse ela, logo depois que a luz cessou. _Ela deve ter nos seguido e foi apanhada por algum comensal, não sei... Está desacordada, mas acho que está bem. Não conseguimos acordá-la.
_Como ela pôde chegar aqui? _Perguntou Harry, tirando a menina das mãos de Krum e a pondo em seus braços.
Snape aproximava-se, aparentemente mancando. Suas vestes estavam amarrotadas e sujas, e ele parecia exausto. Seus cabelos oleosos estavam suados, e seu rosto pálido e doentio.
_Acho que é melhor sairmos daqui... _Disse ele, numa voz impaciente. _Este lugar não vai demorar muito depois do fim dele...
Harry os seguiu, sentindo-se aliviado e mesmo assim com o coração pesado pela perda que os Weasley tiveram, carregando uma Gina desacordada nos braços. Sem ter a mínima idéia do que aconteceria com ele nos minutos seguintes, Harry aceitou usar uma corda para deixar a fortaleza, em direção à floresta proibida. Antes que o rapaz deixasse as muralhas, assistiu à destruição do belo palácio de Voldemort, que estava envolto em chamas.
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