O verdadeiro Adeus
Capítulo Quinze
O verdadeiro Adeus
A floresta estava encoberta de gelo, as árvores pingavam gotas gélidas no chão espelhado. Os primeiros raios da manhã começavam a iluminar o céu escuro. Assim que Harry caiu na neve rasa da floresta proibida, sentindo o ferimento na cabeça latejar, e com Gina ainda presa aos seus braços. Escutou as passadas leves e suaves de alguém a se aproximar.
O estranho avançava pela floresta até ficar muito próximo, chegando à clareira branca de neve. Era uma figura alva, esguia e que parecia muito fraca. Harry não reconheceu tão logo, a não ser quando Snape exclamou:
_Professor Dumbledore, não é adequado. Faz muito frio.
Mas o diretor meramente sorrira e continuara a se aproximar, com vestes azuis que combinavam muito bem com o brilho de seus olhos. Ele parecia magro e abatido, principalmente em vestes tão compridas.
_Não pode ser... _Exclamou Hermione, levando a mão à boca.
_Sim, Srta. Granger. Para tudo há uma explicação. Se quiserem me seguir até os meus recentes aposentos...
Tudo o que Harry sentia era uma confusão mental muito grande. Já fora demais para ele rever Sirius e agora com Dumbledore ali em sua frente ele não poderia lidar. Sua vista escureceu e ele não viu mais nada.
_Acho que ele está acordando... _A voz de Hermione ecoou longe em sua cabeça.
Tivera um sonho maravilhoso. Conseguira destruir Voldemort e Dumbledore estava vivo. Era só um sonho, com certeza. Conseguiu abrir os olhos, e enxergou o rosto disforme da amiga, que passava algo em sua testa com a ponta dos dedos, seguindo o desenho da cicatriz.
_Mione... _Disse ele, baixinho.
_Harry. _Ela disse, parando e mirando os olhos dele, contente. _Se sente bem?
_Um pouco tonto... _Disse ele, olhando ao redor. _Onde estou?
Estava numa espécie de gruta, cheia de ervas presas às paredes, caldeirões de barro e outras coisas.
_Está em minha caverna, Harry. _Disse alguém numa voz suave e tenra, porém fraca.
Sentado em uma cadeira rústica em um canto estava alguém que se parecia extremamente com Dumbledore. Seus cabelos muito longos e prateados lhe caíam sobre os ombros. Seus olhos azuis cintilavam, mas ele não parecia nada bem.
_E vejo que está chegando a hora, Harry. _Disse ele, levantando-se. _Por isso não tem mais tempo para duvidar ou especular. Quem você está vendo agora é verdadeiramente eu, Dumbledore.
Mas Harry não queria especular nem duvidar. Ele desejava que fosse ele. Snape estava sentado em outro canto, com o olhar depreciativo, como se Harry tivesse escolhido uma má hora para desmaiar.
_Harry, precisa saber que Snape é inocente. _Disse Dumbledore, indo ficar bem próximo do rapaz. _ Ele não me matou ou qualquer coisa parecida.
_Como conseguiu? O que houve naquela noite_ Harry questionou, sentindo vontade de abraçá-lo.
_Professor Dumbledore, o senhor está muito fraco, não acha melhor que eu conte a ele?
_Obrigado, Severo. Mas acho que Harry prefere ouvir estas palavras de minha própria boca para que acredite. Não é algo tão fácil de se explicar, Harry. _Disse Dumbledore, parecendo animado. _Mas tudo começou quando fui envenenado... O anel de Slytherin me lançou uma maldição, da qual jamais poderia sair.
E então dumbledore levantou a manga das vestes, mostrando não só a mão empodrecida, mas todo o braço. Harry quase desmaiara outra vez. Hermione levara a mão à boca, preocupada.
_Entenda que não me resta muito tempo por aqui. _Disse Dumbledore. _Consequentemente, eu deveria bolar um plano para deixá-lo o mais próximo possível de destruir, finalmente, Voldemort. Tive conhecimento, por Snape, a quem ordenei fingir ser servo de Voldemort logo que Cedrico morreu, e Voldemort retornou a um corpo, que Voldemort pretendia usar algo contra Draco. Que pretendia usá-lo de alguma forma. Bem, já podia imaginar o que seria. E instrui Snape, que a qualquer hora Narcisa poderia pedir sua ajuda. Já que Snape sempre fora amigo da família Malfoy. Foi o que aconteceu, assim que ela veio procurá-lo, ele se viu obrigado a fazer o voto, até porque não sabia do que se tratava exatamente, embora tivesse de fingir saber para Belatriz e Narcisa. Na época ele não tinha conhecimento, mas se fizesse o voto e fingisse me matar, estaria se tornando um dos servos mais fieis de Voldemort. Eu, no entanto, comecei a ligar vários fatos quando ele me contou o que ocorrera, e já sabia que deveria forjar minha própria morte assim que fosse necessário. E poderia agir sozinho, da melhor forma possível para auxiliá-lo. Fazendo Voldemort acreditar que você estava sozinho, e ao mesmo tempo fazendo você mesmo acreditar que precisava crescer. Foi uma atitude audaciosa, e que somente conferiu mais poder a Snape na sua farsa de comensal da morte. Àquela noite, eu já suspeitava dos planos para a invasão de Hogwarts. Não, é claro, que eu soubesse que seria àquele mesmo dia, mas que estaria cada vez mais próximo. Snape, na verdade, usou um feitiço estuporante não-verbal, enquanto pronunciou o Avada Kedrava. Claro que houve algum tipo de convergência nos feitiços e eu fui meramente jogado para fora da torre... Tive tempo para chegar seguro ao chão, transformar uma moita em um corpo igual ao meu, e tirar a horcrux, colocando uma falsa no local. Que eu já havia preparado muito antes, para colocar no local da horcrux verdadeira, mas como estava sob o forte efeito daquela poção, não pude lembrar de colocar.
_Então você é o R.A.B? _Perguntou Harry, abismado. _Eu pensei em Régulo Black...
Hermione deixara cair um vidro com algo vermelho que lembrava muito sangue, as pontas dos dedos da garota também estavam sujos da mesma cor.
_Jamais. O pobre Régulo nunca teria acesso às horcruxes... _Disse Dumbledore, penalizado. _Morrera apenas por deixar o grupo, nada mais. Deve ter pensado isso porque as iniciais dele são R.A.B, não? Ora, se fosse realmente ele, acha que ele iria usar as próprias iniciais? Não acha que ficaria óbvio demais?
_Sim, é verdade. _Admitiu Harry.
_Pois bem. R.A.B quer dizer o Rebelde da Armada Branca. Bem, era um apelido que eu usava há muito tempo na Armada Branca, um exército que lutava contra as forças de Grindewald. Meus amigos costumavam me chamar assim... Depois, é claro, abreviaram para R.A.B, por ser um apelido muito grande. Como ninguém mais o conhecia, pensei em adotá-lo. Veja bem, Harry, sabia que viria morrer. Afinal, conhecia que a maldição dentro da horcrux de Slytherin era incurável, e então, quando Snape me procurou, pouco antes da nossa viagem à caverna, para dizer-me que descobrira sobre as horcruxes. Fiquei muito surpreso, mas sabia que as coisas ficariam mais fáceis assim. Disse a ele o que deveria fazer quando chegasse a hora, e que eu iria para esta caverna, onde ele deveria me procurar, é claro.
_E por que o chamavam de rebelde, Dumbledore? _Hermione questionou, curiosa.
_Bom, eu não costumava acatar todas as ordens do general. _Disse ele, divertido. _Pois bem, tenho vivido aqui desde este dia. E Snape vinha sempre me ajudar, não foi muito fácil. Aquela poção que tomei para resgatar o medalhão, muito menos este veneno que vem me consumindo desde essa época.
_Por que não me disse nada? _Perguntou Harry, confuso. _Nós todos sofremos tanto. .
_Acho que as coisas jamais dariam tão certo se você soubesse, Harry. Pense bem. Me encontrei com Sirius logo depois, na verdade ele me achou, ao perambular pela floresta. Eu lhe expliquei tudo, e pedi que ele usasse o título de guardião branco para amedrontar Voldemort, desviar sua atenção de você, para que você pudesse traduzir os postulados. Era algo que eu tinha intenção de fazer sob o título de R.A.B.
_Por que nunca levou em frente a tradução dos postulados, professor? _Hermione questionou.
_Bem, Srta. Granger, nem sempre tomamos as mais sábias decisões. _Disse ele, encarando Hermione com consideração. _Na época não conseguia entender a importância que eles teriam. E só vim a compreender pouco antes de eu e Harry partirmos para a caverna, foi quando acabei esquecendo a lembrança lá. E tem mais um motivo para eu ter me afastado, Potter. Eu acreditava que você fosse uma horcrux, temia essa possibilidade. E jamais iria querer encarar esta situação. Achei melhor que você decidisse sozinho, caso viesse a descobrir. Entenda o grande dilema ao qual estava inserido. Felizmente a nossa querida Granger terminou a tradução dos postulados e conseguiu descobrir que a sua cicatriz o salvou da morte.
_Como assim? _Harry perguntou, ainda confuso.
_Lembro-me uma vez da profa. Mcgonagall ter questionado-me, por que não dava um jeito na cicatriz que carregava na testa. Na ocasião nem ao menos podia imaginar, mas disse a ela, que poderia ter alguma serventia. Muito bem, a sua cicatriz, como a Srta. Granger descobriu com a tradução dos postulados, é o sinal que não houve a verdadeira concretização da horcrux. Ou seja, você estava protegido, e não poderia ser tocado pela Magia Negra. Contudo, ao ser molestado, a proteção e a Magia Negra entraram em choque e ao mesmo tempo o pedaço de alma de Voldemort foi parar em seu corpo, por outro lado, abriu-se uma fenda, por onde ela deixaria seu corpo assim que Voldemort fosse destruído. Cada horcrux que ele perdia, o deixava mais fraco. Depois de perder o diário, o medalhão e o anel, quando Voldemort perdeu a varinha, a proteção que estava em você, o amor, passou a dominar o pedaço de alma de Voldemort, por isso a luz verde. Era como se aos poucos tudo que Voldemort deixou em você estivesse o deixando. Foi o que houve, não foi?
_Sim, isso aconteceu três vezes. _Disse Harry, tocando a cicatriz.
_Agora você está curado, Harry. _Disse Dumbledore, sorrindo. _não existe mais nada de Voldemort em você. E logo a cicatriz sumirá, com a ajuda do sangue de dragão.
_E-então quer dizer que eu perdi a capacidade de falar com as cobras?_Harry questionou, confuso.
_Não, não, creio que não. Essas habilidades você jamais perderá. _Disse ele, ainda a sorrir.
_O senhor sabia que eu era descendente de Griffindor? _Perguntou Harry, ao senti a espada nas vestes. _Foi o que Voldemort me disse, foi porque me escolheu.
Dumbledore parecia realmente surpreso. Snape levantara a sobrancelha incredulamente.
_Não, não fazia idéia, Harry. Mas é bem possível, afinal, o bairro em que morava seus pais foi onde Godric e os pais moraram por anos. _Disse ele.
_Bem, ele disse que meu pai era um filho bastardo de um neto de Godric.
_Sim, sim, é possível. Voldemort daria muito valor a isso, sendo ele próprio descendente de Slytherin. Faz todo o sentido, Harry. Acho que desvendamos essa parte da história, não? Acho que deveria herdá-la, então. Mas qual é a importância que tem para você ser parente dele?
_Não tem grande importância. Se meu pai foi filho bastardo, mal deve ter convivido com o a verdadeira família Griffindor, não é?
_Sim. Por isso ele não herdou o sobrenome. _Disse Dumbledore, perspicaz. _Isto explica a sua coragem, Harry. Bem, acho que já sabemos de praticamente tudo. Talvez vocês devessem ir agora...
_Como assim? O senhor não vai voltar? _Perguntou Harry, estupefato.
_Estou mais fraco, Harry. _Disse ele, com o olhar perdido. _A qualquer hora irei partir. Receio que não me reste muitas horas, no momento. Prefiro repousar tranquilo neste pouco tempo que me resta. O veneno irá me consumir a qualquer momento. Já tomou grande parte do meu corpo.
_Mas professor, não há nada que o professor Snape possa fazer pelo senhor? _Perguntou Hermione, pálida.
_Receio que não, Srta. Granger. Já me ajudou bastante com a poção que protegia o medalhão. Mas não se preocupem, já está mais que na hora de eu me ir, não é mesmo? Lembrem-se que a morte é só a grande viagem. Já estive muito tempo neste mundo, e conheço mais coisas por aqui do que é permitido a alguém saber. Devo deixar o mundo para os mais jovens.
_Professor, quero ficar com você. _Implorou Harry.
Dumbledore o fitou por alguns instantes, depois disse:
_Se é o seu desejo, ficar e cuidar de um velho doente, Harry. Mas acho que não será muito demorada a sua estadia por aqui. _Ele disse, levantando-se.
_Harry, também quero ficar... _Pediu Hermione.
_Não, Mione. Tem que levar Gina para Hogwarts. Ela não está bem. _Disse Harry, olhando para a garota que estava deitada em uma cama ao lado dele. _Além do mais, tem que explicar aos outros o que houve. Mas por favor, não conte onde Dumbledore está.
Krum que também estava no local, parecia estar tão surpreso quanto confuso com tudo que ouvira.
_Tudo bem, Harry. Mas e Hagrid? Quando ele souber vai querer vê-lo...
_Talvez devêssemos receber duas visitas especiais, Harry. A de Mcgonagall e Hagrid. _Opinou Dumbledore, que fora deitar-se em uma cama, parecendo profundamente cansado. _Eles talvez queiram me deixar o último adeus...
_Professor, como fez com o quadro na diretoria? _Harry perguntou, de repente.
_Ah, era como eu sabia o que estava acontecendo com você e os outros, Harry. _Disse ele, sorrindo. _Era eu o tempo inteiro. As outras pinturas também me diziam tudo que se passava no castelo ou na casa dos Black. Bom dia a todos.
A caverna estava iluminada com a nova manhã que nascera, a primeira em muito tempo, que o mundo bruxo não estaria ameaçado por Voldemort e seus comensais.
_Ah, diretor, queria só agradecer pela bolsa de ouro... Não sei exatamente por que o senhor resolveu isso, mas...
_Ora, Srta. Granger. A senhorita e o Sr. Weasley ajudaram Harry, não receberam nada de graça. Foi como um pagamento, eu já sabia que iriam ajuda-lo até o final.
Quando Hermione levou Gina junto com os outros e deixou Dumbledore sozinho com Harry, eles não tiveram muito tempo para conversar. O ancião fechou os olhos e dormiu, para nunca mais acordar. Seu rosto estava calmo e alegre, como se estivesse tendo os sonhos mais belos de sua vida.
Mesmo quando Hagrid e a profa. Mcgonagall vieram vê-lo encontraram não mais que seu corpo, dormindo e sonhando, dizendo palavras doces.
_Queria tanto que acordasse... _Disse Hagrid, passando a mão enorme sobre os cabelos prateados de Dumbledore.
_Acho que ele cumpriu a missão dele, Hagrid. _Disse Mcgonagall, com os olhos marejados de lágrimas. _Agora ele só quer está descansado para a grande viagem.
Harry e Hagrid se afastaram. O meio-gigante contou a Harry como terminara a guerra. Os centauros foram de grande ajuda, derrotando a maioria dos comensais com seus poderes assombrosos. No entanto, muitas perdas foram conferidas. O pobre Quim Shacklebolt, Moody e tantos outros aurores morreram no campo de batalha. Haickel perdera uma perna e estava em estado grave no Saint. Mungus.
_Moody lutou bravamente, mas já estava muito velho, o pobre Alastor. Não conseguiu resistir ao ser estuporado seguidamente por quase uma dúzia de comensais.
_E Lupin, eu vi ele lutando contra Fenrir... _Disse Harry, preocupado.
_Ah, sim, ele o derrotou. Mas também ficou muito ferido, mas tenho certeza que vai se recuperar.
_ E Grope?
_Perdeu o braço... _Disse ele, em um soluço. _Mas voltou para as montanhas com a namorada. Tem uma força de leão o Gropezinho...
_Que bom que tudo deu certo. _Disse Harry, satisfeito. _Quer dizer, apesar das perdas... Acabamos vencendo.
_Eu nem posso acreditar, Harry. _Disse Hagrid, o abraçando com muita força. _Você o venceu...
Quando os dois voltaram para a caverna, encontraram uma cena um tanto estranha. Mcgonagall curvara-se sobre Dumbledore, e lhe dera um rápido beijo nos lábios. Ela se virou totalmente desconcertada ao avista-los.
_Ele se foi...
Harry foi até o diretor, era verdade, ele havia se ido. Desta vez para sempre. Mas ele sorria, como um anjo. Hagrid arrumara flores e colocara próximo a Dumbledore, em seguida arrastara uma enorme pedra e trancara a caverna. A profa. Mcgonagall conjurou um feitiço para fazê-la inviolável.
_Agora demos o verdadeiro adeus... _Ela disse, melancólica. _E ainda temos mais um enterro para ir. O do jovem Percy Weasley.
Quando Harry e os outros chegaram à Toca, encontraram o senhor e a senhora Weasley parecendo arrasados. O caixão simples e de madeira escura de Percy estava depositada no meio da sala de estar, onde os irmãos, a cunhada e os pais faziam sentinela.
_Harry, querido... _Disse a senhora Weasley, abraçando o rapaz, em prantos. _Soube de tudo... Você foi tão corajoso. Infelizmente o Percy escolheu o caminho errado...
_O Percy colheu o que plantou. _Disse o Sr. Weasley, cumprimentando os presentes, resignadamente.
_Era um aluno tão brilhante! _lamentou a profa. Mcgonagall. _A ambição lhe subiu à cabeça...
Gina estava em um canto, melancólica, com os olhos vermelhos de tanto chorar. Harry foi até ela, tentando escolher palavras para amenizar sua dor.
_Eu sei, Harry. Sei tudo que vai dizer... _Ela disse, antes que ele dissesse qualquer coisa. _Mas, por favor, não diga nada.
E então a garota o abraçou, e os dois ficaram assim por muito tempo.
_O que aconteceu com você na fortaleza de Voldemort? _Harry perguntou, enxugando as lágrimas da garota.
_Tentei saber pra onde você ia... Acabei sendo pega, algum comensal me atacou e quando acordei estava em casa.
_Que bom que você está bem...
_Hermione me contou tudo. _Ela disse, sentida. _Por que não confiou em mim?
_Dumbledore não queria que eu contasse a ninguém, mesmo assim eu queria poupá-la. Por favor, não vamos discutir, as coisas já estão bem ruins.
A menina concordou, e voltou a encostar-se no canto da parede, triste. Rony estava encostado sobre o caixão, mirando o corpo inexpressivamente. Hermione o segurava no ombro e tentava acalmá-lo.
_Harry, como está Dumbledore? _Hermione perguntou.
_Ele se foi... _Disse Harry.
Acordado com as últimas palavras, Rony abraçou o amigo, melancólico.
_Que bom que deu tudo certo, Harry. Você saiu dessa...
Fred e Jorge não pareciam nem de longe os brincalhões de sempre. Estavam muito calados, tomando enormes canecas de chá, amuados. Enquanto Gui e Carlinhos conversavam sobre a infância com o irmão, os bons momentos. Harry entendeu que não importava quem tivesse sido Percy, eles o amavam e estava sentindo muito sua perda. Com certeza todos acreditavam na sua mudança.
O caixão foi levado algum tempo depois para fora, onde entre íntimos incineraram o caixão. As chamas azuladas ficariam marcadas para sempre no seio da família. Eles nunca esqueceriam aquele momento. Nem o quanto o mal poderia corromper as pessoas. A namorada de Percy dos tempos de Hogwarts, Penélope, fora à cerimônia. Parecia abatida e triste, como os outros não acreditara que o jovem de futuro promissor pudesse ter mudado tanto.
Depois do enterro, todos se dispersaram, Hermione foi para casa e Harry aceitou ir para o largo Grimmauld com Sirius. Assim que os dois adentraram a velha mansão, Annie, vestida em um vestido florido, veio atendê-los. Ela parecia tão surpresa quanto Sirius, que por sinal, estava muito bem vestido para o enterro.
_Sirius... Pensei que estivesse morto. _Disse ela, sem fôlego.
_E você era a última pessoa que eu esperaria aqui...
Harry observava os bruxos comerem e conversarem alegremente no Caldeirão Furado enquanto tomava sua chícara de chocolate quente. Havia feito exatamente uma semana desde que tudo acontecera e quase não tinha sossego. Os jornais não paravam de falar no nome dele e dos envolvidos na destruição de Voldemort. Não vira mais os amigos desde então, mas por carta, marcara de encontrá-los ali. Rony e Gina foram os primeiros a chegar, parecendo mais magros e abatidos. Porém, os dois sorriram ao encontrar o amigo.
_Ele voltou... _Disse Rony, ao sentar-se. _Como fantasma. Eu sei que não é a mesma coisa, ter um irmão fantasma, mas a mamãe está radiante. Ah, e o filho da Fleur nasceu, o Gui resolveu chamá-lo de Percy Jr. Que nome horrível...
_As coisas tem melhorado lá em casa. _Disse Gina, segurando a mão de Harry, alegre. _Desde que papai virou ministro... Você nem vai reconhecer a Toca quando voltar lá...
_Nossa. _Disse Harry, sem fôlego. _Estou louco para voltar lá. E como é o Percy Jr.?
_Ah, parece comigo, é claro. _Disse Rony, orgulhoso. _Se tiver sorte vai ficar tão alto quanto eu.
Então Hermione entrou, mais corada e com os cabelos dourados.
_Você parece ótima... _Disse Rony, levantando-se e abraçando-a.
_Estive na praia com os meus pais. _Ela falou, sorrindo.
Era verdade, ela parecia ótima. E apesar de tudo ele também estava ótimo. Sua vida toda estava muito mais fácil. Viver com Annie e Sirius era muito bom. Ele tinha muita liberdade e podia fazer tudo que quisesse, até porque já era maior de idade. Os dois estavam morando juntos e pareciam realmente apaixonados. Harry nunca vira o padrinho tão feliz.
_E Krum? Já voltou para a Bulgária, não é? _Perguntou Rony, ciumento.
_Já, Rony... Ele se juntara aos comensais, mas se arrependeu... Eu o perdoei, se quer saber.
_O perdoou? _Ele questionou, abismado. _Eu sempre desconfiei que ele não era boa peça...
_Rony, ele me salvou! _Disse Hermione, indignada.
_Ah, e quando eu te salvei do Malfoy você não conta?
Era realmente ótimo estar ali de volta, conversando sobre coisas fúteis, sem se preocupar com o futuro ou o que ele reservaria. Ele sabia que nem tudo estava acabado ou resolvido. Draco e Lúcio, por exemplo, haviam fugido sem deixar rastro, mas parecia que nada havia mais tanta importância.
Haickel dera a Hermione e Harry um tempo para decidir se queriam mesmo ser aurores ou voltarem para o estudo em Hogwarts. Depois de muito pensar sobre o assunto, os dois resolveram voltar à escola, e retomar os estudos. No entanto, quando se formassem, poderiam concorrer a uma vaga no Departamento dos Mistérios, que era o que mais excitava os dois. Seria um tempo que poderiam relaxar na quietude de Hogwarts. Tirar umas férias dos problemas. Com essa decisão tomada, todos partiram para as férias, e Harry teve uma grande surpresa ao receber uma carta de Rony, na sua estadia no Brasil:
Harry,
Você não sabe o que me aconteceu! O Wodja resolveu me indicar para aquele amigo que ele tem no Chudley Cannons, e adivinha? Eu já sou um goleiro contratado! A temporada de jogos começa agora em setembro, mas vai dar tempo de encontrar com você na estação de King Cross.
Por outro lado eu e a Mione terminamos... Ela acha que não vai dar pra levarmos o namoro quando estivermos separados. Ela também reclamou dos meus ciúmes. Bom, acho que meu negócio com ela era mais amizade que qualquer coisa mesmo. Eu a considerava amais como uma irmã, por isso sentia tantos ciúmes. De qualquer forma vou superar isso.
Espero que você esteja bem. Como é que tá o Sirius e a Annie?
Se cuida,
Rony Weasley.
Foi com surpresa que Harry recebeu a notícia que seu amigo agora seria goleiro do seu time favorito, o Chudley Cannons. Ele podia imaginar como o rapaz estaria feliz.
Quando retornaram para o Largo Grimmauld, nos meados de agosto, Sirius e Annie resolveram fazer uma grande mudança na casa. Pintando as paredes e colocando mobília nova, por outro lado resolvera construir uma casa para si onde antes ficava a casa deteriorada dos pais, em Godric´s Hollow. Levaria para lá a fênix, a coruja, a espada e outros pertences e poderia deixar os padrinhos mais à vontade quando o bebê nascesse. Porque Annie agora estava grávida.
_Uma boa idéia, Harry. _Disse Sirius, com o rosto sujo de tinta. _Seu pai não gostaria de deixar aquele terreno daquele jeito. Ele adorava Godric´s Hollow. Mas quero que esteja sempre por aqui. A não ser que resolva casar com a Weasley...
_Ah, não, nem tão cedo. _Disse Harry, sorrindo a esta perspectiva.
Então Harry ouviu o ranger de correntes e foi ver quem era à porta. Lá estavam Lupin e Tonks. Ela com o cabelo Pink e numa camiseta de uma banda bruxa de rock e ele num terno novo.
_Oi, Harry, beleza? _Perguntou Tonks, sorridente.
_Como vai, Harry? _Cumprimentou Lupin.
Os dois entraram e passaram o resto do dia lá. Pareciam em perfeita sintonia, e muito felizes.
_Estávamos pensando em casar... _Disse Tonks, segurando a mão de Lupin. _Mas acho que não é para agora.
_Bom, quando decidirem não deixem de nos avisar, aí poderemos fazer um casamento duplo.
Quando primeiro de setembro chegou e Harry rumou para a estação de King Cross acompanhando de Annie e Sirius, encontrou os amigos próximo ao expresso de Hogwarts.
_Cara, já estava com saudade do barulho dessa maria-fumaça... _Disse Rony, cumprimentando Harry. _Oi, Sirius, oi Annie?
Gina o abraçou, mas os dois não se beijaram, afinal, a estação estava lotada. Ela estava mais alta e crescida. Cortara os cabelos pouco acima dos ombros, e parecia mais bonita que nunca. Sorria e cumprimentava todos, era extremamente popular. Muitos alunos também cumprimentaram Harry, mas o garoto não lhes deu muita atenção, a maioria deles já havia duvidado dele, como Simas Finnigan, que também voltara ao colégio.
_Oi, Harry. Oi pessoal?_Cumprimentou Neville, parecendo radiante. _Você reconhece?
E então o menino reparou, lá estava o casal Longbottom parecendo tão sãos quanto qualquer um ali. Eles também sorriam.
_Oi, Harry. _Disse o Sr. Longbottom, estendendo a mão para o garoto. _Queria te agradecer por tudo que nos fez.
_Não há de que... _Disse Harry, desconcertado.
Então o menino virou-se com os pais, parecendo muito orgulhoso. Harry não cabia em si de tanta felicidade. Nem poderia entender como o casal que antes mal podia articular palavras agora estava tão bem.
_Olha, é a Di-lua. _Disse Rony, apontando para a garota loura que se aproximava.
A menina também estava mais crescida, e apesar de parecer excêntrica estava também mais bonita. Seus cabelos louros e crespos caíam-lhe sobre os ombros e ela sorria.
_Oi, Di-lua. _Disse Rony, sorrindo.
A menina parou, olhando para ele, parecia prestes a sorrir, mas então disse:
_Ah, oi, Rony.
E então Harry percebeu, ela gostava dele. O modo como o olhava, parecendo achar que ele era um desenho animado ou coisa assim. Era a forma da Luna gostar de alguém. Por alguma razão Harry pareceu achar que ele daria mais certo com ela que com Hermione.
_Oi Gina, Oi Harry. _Ela disse, ainda sorrindo. _Um ano letivo cheio de novidades, hein? Já ouviram falar do vampiro que a profa. Mcgonagall contratou para ser nosso professor de defesa contra as artes das trevas.
_Não. _Disse Harry, enfático. _O Lupin vai continuar a ser nosso professor, assim como o Wodja.
_Ah, que pena... _Disse a garota, um tantinho desapontada.
E para espanto de Harry, Rony começou a sorrir.
_Sabe, Luna, você é uma piada!
Os olhos da garota se iluminaram, e ela também começou a rir, muito alto. Enquanto isso Gina acabara de avistar o professor Wodja, cruzando a estação e dissera a Harry que iria cumprimentá-lo. Harry sentiu algo estranho no estômago.
Então ele avistou Hermione chegando na plataforma, seus cabelos voando com o vento do verão. Ela sorria, como Harry sentira falta daquele sorriso. O último ano inteiro estivera mais perto de Hermione que jamais estivera, e estava se sentindo muito feliz por ela voltar com ele para escola. Quando a menina aproximou-se e o abraçou, uma frase que Wodja lhe dissera uma vez passou pela sua cabeça, e ele sentiu uma contração no estômago: A distância da amizade para o amor é a distância de duas faces e o primeiro beijo.
_Só porque acabamos isso não te dá o direito de nem me cumprimentar. _Disse Rony, sentido.
A frase de Rony tirou qualquer pensamento da cabeça de Harry. Ela era sua amiga, e namorara seu melhor amigo. Como poderia ter pensado em algo assim?
_Rony, é claro que eu ia te cumprimentar. _Disse ela, abraçando-o brevemente. _Na verdade pensei que você não quisesse falar comigo, agora que é goleiro do Chudley Cannons...
_Tá vendo o partidão que perdeu? _Perguntou Rony, brincando.
_Hey, Rony... _Chamou Lilá Brown. _Pode me dar um autógrafo?
O garoto partiu vaidoso em direção à garota. Enquanto isso Hermione e Harry ficaram ali parados, sem saber exatamente o que dizer.
_Eu ainda não entendo, já que o voto entre eu e a Gina não foi de verdade, porque desmaiei assim que terminei a última prova, na seleção de aurores.
_Acho que foi alguma coisa relacionada ao seu psicológico, e também não estava nada bem... Não foi fácil aquela prova...
_É, acho que tem razão. _Respondeu Harry, pensativo.
_Nem dá para acreditar, não é? _Questionou Hermione. _Que você está aqui... Que vamos voltar para Hogwarts.
_Mione, você sabe que eu não faria nada sem você. _Disse Harry, sinceramente.
_Vai ser um ano incrível, Harry. Finalmente passaremos um ano sem nos preocupar com o perigo...
_Ah, mas ainda tem o perigo dos N.I.E.M.S...
A menina pareceu preocupada. Então, a mulher que vende doces no expresso de Hogwarts passou por eles, para entrar no trem.
_Ah, cheiro de torta de abóbora, eu adoro isso! _Disse Hermione, sentindo o cheiro no ar.
Rony acabava de retornar, parecendo radiante. Vestia um casaco oficial do Chudley Cannons e um par de botas estilosas.
_Hey, eu não sei quando isso vai acabar! Não param de me pedir autógrafos antes mesmo de eu virar um goleiro...
_Ah, Ron, todos sabemos da sua grande parte na destruição de Voldemort... É por isso que eles te adoram! _Disse Hermione, sarcástica. _Hey, Harry... Sua cicatriz...
Hermione tinha a testa enrugada, apontando para o local onde deveria estar a cicatriz.
_Ah, é... Sumiu. _Harry disse, aliviado. _Dumbledore me disse que aconteceria. Lembra daquela coisa que você passou na minha cabeça quando estávamos na caverna?
_O sangue de dragão?
_É... É um dos usos, cicatrizante.
_Nossa, Harry, eu mal posso imagina-lo sem a sua cicatriz... _Disse Rony, abismado.
Hermione e Rony o encaravam com estranheza. O trem preparava-se para partir. Os alunos entravam apressados e Gina fez um sinal para que Harry e Hermione se apressassem. Mas os dois ainda encaravam os amigos. Nem Hermione e nem Rony jamais viu aquela cicatriz outra vez.
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