Sofrendo



DISCLAIMER: Não é meu! É tudo da J. K. Rowling.

AVISO: Esta história se passa no futuro e contém spoilers do livro 6! Esteja avisado/a!

BETA READER: BastetAzazis – muito obrigada!

A/N: Capítulo vinte e um! Nathan acorda e tem que encarar sua nova realidade. Como ele vai agir?



Capítulo 21: Sofrendo

Nathan sentiu sua boca ficar seca e lançou a língua para fora para molhar os lábios. Respirou fundo, mas não abriu os olhos. Ele se espreguiçou e bocejou, e algo estava estranho; aquilo o seu cérebro adormecido registrou. Rolou e se espreguiçou mais um pouco. O que estava estranho? Claro, essa cama era macia e interminável. Bom – ele pensou –, igual a da mamãe. Mãe? Ele abriu os olhos e avaliou os arredores. Não estava na sua cama. Por que não estou no meu quarto? Ele esfregou os olhos, forçando sua mente a trabalhar.

E ele se arrependeu do esforço.

Os acontecimentos da noite anterior vieram rapidamente com a consciência, e Snape era novamente seu pai. Onde estou? Ele se sentou na cama, agora preocupado. Nathan não se lembrava de deixar a sala dos troféus. Olhou ao redor e finalmente descobriu onde estava. Fechou os olhos e se jogou de volta no travesseiro macio. Aquilo só poderia significar que sua mãe estava aqui. Quem a chamou? Ele não queria vê-la!

Nathan abriu os olhos para olhar fixamente para o dossel da cama da mãe. Precisava sair dali. Sentou-se na cama novamente, procurando suas roupas. Encontrou-as em uma cadeira e se moveu para colocá-las rapidamente. Ele estava se vestindo com as costas viradas para a porta quando a ouviu abrir. Droga!

– Nathan. – Ouviu sua mãe dizer.

Ele parou de abotoar suas vestes e permaneceu imóvel, sem se virar na direção de Hermione.

– Não quis acordá-lo. – Ele ouviu a voz dela dizendo, agora mais próxima. – Você parecia muito cansado na noite passada. Está se sentindo melhor? – A voz macia dela só aumentava sua raiva.

Então uma mão repousou no seu ombro. Nathan ficou ainda mais estático antes de tirar a mão para longe dele.

– Estou bem – ele disse simplesmente e recomeçou a abotoar as vestes.

– Nathan, nós deveríamos conversar sobre o que aconteceu ontem.

– Não quero falar sobre isso – ele a informou.

– Eu sei que você tem muitas perguntas e, pela primeira vez, eu posso lhe dar as respostas. – As palavras da mãe o fizeram virar-se para encará-la.

Nathan queria dizer-lhe o quanto não precisava de nenhuma das respostas dela agora, mas simplesmente falou:

– Já sei o que queria saber, devo estar atrasado para a aula.

Nathan passou por Hermione e foi para a porta, mas esta se fechou com um estrondo. Ele virou-se irritado e olhou feio para ela.

– Você está dispensado das aulas – ela disse. – Temos a manhã toda para conversar.

– Conversar sobre o quê?! – ele devolveu, cansado dela. – Então o Snape é o meu pai. Grande coisa!

– Sim, é uma grande coisa. Você sabe que é uma grande coisa – Hermione retrucou, olhando feio para ele. Ela suspirou. – Por favor, vamos conversar sobre isso.

Nathan segurou os olhos dela com os seus por um momento antes de dizer:

– Não vejo razão.

Hermione franziu a testa. – Você não quer que o seu pai faça parte da sua vida? Não quer conhecê-lo e conviver com ele? Você pode fazer tudo isso agora, esta é a razão.

Nathan sonhara com tudo aquilo que sua mãe lhe dizia. Desejara um pai por tanto tempo, e agora tinha um. Ele sabia quem era o seu pai e sabia que nunca teria aquilo. Não preciso deles.

– Não quero mais nada disso. Não quero e não preciso. Não preciso de nenhum de vocês – Nathan disse.

– Quer saber o quanto ele estava preocupado com você ontem? – Ela andou na sua direção vagarosamente. – Ele estava muito preocupado. E eu também estava muito preocupada. O Severo gosta de você, Nathan.

Nathan balançava a cabeça, recusando-as a acreditar no que ela lhe dizia. Ela é uma mentirosa – lembrou-se. Você não precisa das mentiras dela.

Ele cerrou os dentes e disse:

– Eu não acredito em você. Tudo que você diz é mentira. Você nunca quis que eu soubesse que o Prof. Snape era o meu pai; nunca quis que eu fosse feliz com ele.

– Nathan, isso não é verdade. – Ela se aproximou ainda mais, e ele deu a volta no quarto para longe dela.

– Você poderia ter me contado. Ele não era nenhuma ameaça para nós! Ele não estava em Azkaban, não era perigoso. Você até falou que ele era honrado e bom. Deveria ter me contado! Você sabia que eu queria saber. Eu passei um mês com ele, fazendo perguntas estúpidas sobre o meu pai, me fazendo de bobo! Vocês estavam rindo? Ele lhe contou como eu era patético cada vez que perguntava sobre o meu pai para ele? – Nathan estava gritando agora.

– Nathan – ela tentou interrompê-lo.

– Deve ter sido bom rir de mim, ou vocês teriam me contado antes. Vocês iriam me contar algum dia? Estavam planejando para que eu descobrisse assim e me deixasse ainda mais miserável? Porque é exatamente como me sinto. Está feliz agora?! – Ele respirava com dificuldade. Nathan queria machucá-la fisicamente para que ela pudesse sentir como doía.

Hermione foi rapidamente até ele, não lhe dando chances de escapar. Ela o abraçou forte. O abraço sufocava, e a dor no seu peito ficava insuportável.

– Eu não estou feliz, não estou feliz. Estou miserável também. Nunca quis magoar você. Desculpa, desculpa – ela sussurrava em seu ouvido.

Ele não queria ouvir as desculpas dela, Nathan queria que ela fosse embora; queria que a dor diminuísse. Ele lutou, e ela o abraçou com mais força. Ele urrou e lutou com mais determinação, até que ela não conseguiu mais segurá-lo.

Olhou para ela, respirando com força. Ela estava à beira de lágrimas, e ele não teve dó.

– Não ponha mais as mãos em mim – disse. – Não quero ouvir as suas mentiras nunca mais. Eu odeio você! – Nathan sacou sua varinha, respirou fundo algumas vezes, e entoou o encantamento que abriu a porta para ele. Antes de sair, entretanto, virou-se para sua mãe boquiaberta e acrescentou calmamente: – De agora em diante, eu vou morar com o tio Harry.

Virou-se e a ouviu soluçar. E não voltou atrás. Ele sequer a espiou com o canto do olho. Ela se sentiria tão mal quanto ele, e era isso o que ele queria. Só então, Nathan saiu.

*-*-*-*


Severo passou o que restara da noite anterior pensando sobre o que acontecera. Com uma declaração, ele tomara seu lugar como pai do Nathan e já estava certamente condenado agora. Ele xingou baixinho, mas não tinha como escapar desta vez. Ele o reivindicara, seu coração o reivindicara, e ele era agora oficialmente o pai do Nathan, independente do que era melhor e prudente.

Como Severo havia previsto, logo que percebera quem o menino realmente era, a situação pediu que ele agisse, e sua necessidade de tomar novas decisões, aumentando assim o número de erros que cometeu na vida, já estava dando resultado. O que passou na sua mente enquanto carregara Nathan para a cama revolvia em torno da dor que ele já estava causando ao seu filho, que ele sabia que era apenas uma amostra do que estava por vir. O olhar apavorado no rosto do Nathan no seu escritório, o fato dele tirar o colar, o jeito que ele tomou refúgio na sala dos troféus, eram todas ações que diziam muito sobre como era improvável que tudo ficaria bem, como a Granger continuava dizendo.

Severo revirou os olhos. A mulher era louca, mas amava o menino. Se as reações anteriores ao comportamento odioso do Nathan fossem tomadas como referência, ela estaria miserável no momento em que o menino acordasse.

Ele sabia que o comportamento odioso do Nathan o atingiria também. O que o menino vai fazer? Severo sabia que era inútil tentar prever o comportamento do Nathan, aprendera isso no mês de detenções. Não havia como saber o que o Nathan faria.

Mas não havia meios de convencer sua mente disso.

A última coisa que Severo achou que Nathan faria seria aceitar bem a notícia, embora imagens do seu filho sorrindo para ele enquanto trabalhava em uma poção, exatamente onde aquele lufa-lufa estava agora, cruzou sua mente, e ele podia se ver assentindo em aprovação para reconhecer a poção perfeita apenas para ver o sorriso crescer mais.

– Sr. Carson, fique com a boca fechada pelo resto da aula. Cinco pontos a menos para a Lufa-lufa – Severo disse indiferentemente ao aluno do terceiro ano falando, pelo que parecia ser a milionésima vez, com seu colega enquanto preparava a poção designada para a aula dupla desta manhã.

Nathan aceitá-lo também era perturbador em muitos sentidos. Ele não sabia como ser pai. E se o menino esperasse mais do que ele pudesse dar? Severo não estava para começar a abraçar e acariciar, como vira Potter fazer. Não podia se imaginar dando voltas de vassoura, jogando Snap Explosivo, ou qualquer dessas coisas bobas. Será que ele gostaria disso? Era isso que ele desejava de um pai? Severo de repente percebeu que não conhecia Nathan nem um pouco, e isso era estranhamente triste.

Ao invés de pensar em tudo que perdeu da vida do Nathan, Severo escolheu se concentrar no que era mais provável de acontecer. Se seu filho já estivesse acordado, ele deveria estar gritando com a mãe, culpando-a por tudo que dera errado na sua jovem vida. Ele vira Nathan fazer isso antes, e Severo não o condenaria por isso. Na posição do Nathan, ele faria pior. Gritos de acusações eram uma brisa leve na tempestade da sua vida.

Severo piscou por mais tempo que o normal para apagar a imagem que aquilo trazia à mente, e quando reabriu os olhos, viu somente uma menina da Corvinal mexendo um caldeirão com grande concentração na bancada mais próxima de sua mesa. A aula logo acabaria, e ele descobriria o que seria da sua vida de agora em diante. Certamente, Granger o estaria esperando para uma conversa, com ou sem o Nathan.

*-*-*-*


Hermione olhava pela janela para a manhã branca e fria. A vista bonita dos jardins nevados ajudara a acalmá-la depois que Nathan saiu há algumas horas. Tudo dera errado. Nathan não estava apenas aborrecido e magoado, ele estava furioso, e a fúria determinada dele de se afastar nesse momento difícil e confuso era devastadora para ela; ele preferira ficar sozinho.

Uma criança que passava pelo que ele acabara de passar não deveria ficar sozinha, mas sua presença parecia trazer o pior dele neste momento. Magoava. Saber que seu próprio filho não conseguia tolerar olhar para ela sem se sentir com raiva, traído, vulnerável... Magoava mais do que Hermione poderia ter imaginado. As coisas que ele dissera...

Ela estava grata por Severo não estar com eles quando Nathan acordou. Depois que as coisas se acalmaram na noite anterior, Hermione repassara a última cena de Severo com Nathan na sua cabeça e desejara que Severo tivesse ficado com eles então. Agora, tudo que podia pensar era em como o desastre seria maior se ele tivesse ficado. Ela não sabia o quão preparado Severo estava para lidar com esse nível de ódio de alguém que ele gostava, sabendo como esse sentimento ainda era frágil para ele e como ele era reservado com relação aos sentimentos. Severo não teria entendido...

Hermione tomara essas horas para ser pessimista para variar. Machucava, mas agora ela se sentia preparada para lutar e endireitar as coisas como deveriam ter sido desde o começo. Era tudo culpa sua que essa situação atingira tais proporções, e ela daria um jeito nisso. Hermione não deixaria suas felicidades escaparem de suas mãos agora que todas as cartas estavam na mesa. Ela não tinha mais nada a perder.

Respirando fundo, Hermione deixou seus aposentos em Hogwarts. Queria acreditar que realmente não tinha nada a perder, mas no fundo ela sabia que só doía porque tudo estava para ser perdido. Hermione queria que o sentimento desaparecesse. Sua ansiedade não a deixava ficar esperando mais. Começaria agora mesmo, e a única espera que faria seria por Severo, no escritório dele.

*-*-*-*


Harry olhava fixamente para o relatório que deveria estar preenchendo. Hermione perdera a cabeça e o levava para a insanidade junto com ela. Esfregou a testa, tentando aliviar a dor ali.

– Dia ruim, chefe? – Tonks perguntou num tom de deboche.

Harry só suspirou.

Quando ele não disse nada, ela perguntou mais séria:

– Está se sentindo bem, Harry?

Harry sentiu a preocupação de Tonks. – Dor de cabeça – disse simplesmente, sem erguer a cabeça para olhá-la; ela agora pegara uma cadeira e sentava-se nela invertida, de frente para o Harry.

– Você sabe qual a causa dela? – ela compeliu.

– Sim – Harry disse, e depois finalmente olhou para ela. – O seu marido.

Tonks segurou o encosto da cadeira com as duas mãos à distância de um braço, afastando-se da mesa de Harry, mas ainda o encarando com a testa franzida.

– E a Hermione – Harry acrescentou.

Os olhos de Tonks se arregalaram, e Harry percebeu seu erro. – Não, não. Você está me entendendo errado.

O rosto da Tonks relaxou, agora observando Harry curiosamente, esperando por uma explicação.

– Fui até Hogwarts ontem. Desde o Natal que venho querendo esclarecer algumas coisas. Agora eu cuidei do que fui lá para resolver, mas todo o resto está claro como lama.

– Harry, você está fazendo tanto sentido quanto Scrimgeour – Tonks comentou.

– Quanto você sabe sobre o pai do Nathan? – Harry perguntou.

Os olhos da Tonks se estreitaram.

– Sei que o Remo sabe, se é isso que quer saber – ele respondeu a pergunta que ela não fez.

– Eu também sei que Remo sabe, mas ele me diz que o segredo não é dele para contar. O que você descobriu?

– Eu descobri – Harry declarou.

Tonks se aproximou da mesa de Harry novamente, agora segurando as costas da cadeira sob o queixo. – Descobriu... – ela comentou conspiratoriamente, os olhos escurecendo um tom.

– Sim, mas seu marido quer que eu fique quieto.

Tonks revirou os olhos, se endireitando na cadeira novamente. – O Remo é um sem graça. Você vai dar ouvidos a ele?

Harry suspirou, jogando a cabeça para trás por um tempo e trazendo-a de volta para frente. – Eu não sei. A Hermione está completamente maluca! Não posso acreditar que ela... – ele parou de desabafar e respirou fundo. Todo esse ódio estava aumentando sua dor de cabeça. – Acho que o Remo pode estar certo sobre isso. – Fechou os olhos com força, segurando o nariz entre os olhos.

– É o Snape – Tonks declarou.

Harry abriu os olhos rapidamente e olhou fixamente para ela.

– Somente o Snape ou Você-Sabe-Quem são capazes de lhe dar uma dor de cabeça dessas, e vamos e venhamos, o Nathan é o Snape escrito.

Não tinha como negar. – Eu achei que o Snape poderia ser o pai dele, claro, mas ter certeza... – Harry admitiu.

– O que me fez repensar foram as ações da Hermione, com a mudança para o mundo trouxa e tudo mais. Aquilo não fez o menor sentido, depois de tudo que ela fez por ele, o que de certa forma sustentava a teoria deles terem algo romanticamente... – Ela analisou as possibilidades. – Mas sério, Harry. Não é como se o mundo estivesse acabando – Tonks acrescentou depois de apenas um momento, dando um tapa no braço dele.

– Tonks, você não entende. O Nathan também descobriu. Ele estava lá quando o Snape gritou que era o pai dele. Você deveria ter visto a cara dele; o menino estava horrorizado, e com razão – Harry apontou, deixando claro que a situação era grave. – E a Hermione está alimentando a idéia maluca de fazer o Nathan e o Snape interagirem; ela o deixou sozinho com o Snape. Ela perdeu a cabeça!

– O Snape gritou aquilo para o Nathan? – Tonks parecia chocada.

– Ele gritou para mim e nós não sabíamos que o Nathan estava lá, mas mesmo assim... – Harry disse sem dar importância. – Como a Hermione pode confiar no Snape assim? É o Snape!

Tonks deu de ombros. – Se ele é o pai... – Ela bateu o olho no relógio pendurado na parede atrás do Harry e se levantou, colocando a cadeira no lugar. – Preciso correr. Podemos conversar mais depois, Harry. – Ela deixou o escritório, chamando outro auror que acabara de passar pela porta.

Será que eles não conseguem ver? – ele pensou, irritado. Parece que Harry era o único pensando no Nathan nesta situação. A Hermione tinha perdido a cabeça, o Remo não estava interferindo, como sempre, e agora a Tonks não se importava nem um pouco. Bem, ele se importava.

*-*-*-*


Severo entrou no seu escritório e não se surpreendeu em encontrar a mulher olhando fixamente para os flocos de neve caindo na janela redonda alta, talvez um pouco decepcionado por ela estar sozinha, mas nem um pouco surpreso.

– Severo – ela reconheceu sua presença, parecendo um pouco alarmada, mas também aliviada.

Ele foi até a mesa, tomando seu lugar atrás dela, de frente para a cadeira de braço que ela ocupava. – Granger – ele disse então, sem saber o que mais dizer.

O silêncio caiu sobre eles enquanto ele observava a luta dela para construir as sentenças na cabeça.

– Ele estava muito chateado – ela lhe contou finalmente. – Ele não sabe o que fazer com a notícia.

Severo não disse nada. Aquilo era esperado como ele lhe dissera antes, mas preferiu ouvir mais antes de jogar isso na cara dela.

Ela continuou:

– Ele está tentando fingir que não é importante e ficou muito receoso quando tentei dizer-lhe o contrário. Ele também não me deixou explicar nada.

Os olhos dela ficaram mais duros quando terminou de dizer aquilo, mas qualquer outra mudança se perdeu para ele quando ela abaixou o olhar para o colo.

– Ele já disse quanto a odeia? – Severo perguntou depois de um tempo.

Ela respirou fundo e olhou para ele, queixo erguido. – Ele não me odeia realmente – ela disse –, ou você.

Então ele dissera que me odeia também – Severo concluiu. – Quanto ele não nos odeia? – perguntou, erguendo uma sobrancelha.

Ela suspirou. – Muito – Granger admitiu.

– Posso falar agora? – ele ousou provocar.

– Não, não pode! – ela contrariou firmemente, os olhos cansados reganhando um pouco do brilho usual. – Se tivesse me ouvido, isso não teria acontecido. Você não pode dizer absolutamente nenhuma palavra, Severo Snape!

Severo reclinou na cadeira, erguendo as duas sobrancelhas para transmitir uma surpresa que ele não sentia realmente com relação à explosão dela. – Ele nos odeia tanto assim?

– Ele disse que vai morar com o Harry. Isto é o quanto ele nos odeia!

Aquelas palavras realmente o surpreenderam, fazendo-o franzir a testa. – Ele não vai morar com o Potter.

Hermione revirou os olhos. – Estou aqui dizendo que o Nathan está chateado, confuso, e recluso, e você só se importa quando ouve o nome do Harry! – Ela estava para lá de irritada e nervosa e aflita. – Já passou da hora de você escolher suas prioridades, Severo!

Severo estreitou os olhos com o tom dela, mas ao invés de responder as acusações, ele finalmente decidiu usar suas próximas palavras para colocar algum senso na mulher. – Você obviamente sabe que isso tudo é culpa sua, Granger. Você trouxe esse menino à vida e decidiu criá-lo dentro de uma bolha de mentiras e falsas esperanças. Como você poderia esperar que ele não a odiasse? – E sentindo a vontade dela de interrompê-lo, ele acrescentou rapidamente: – Sim, ele a odeia de verdade, e me odeia também, claro, mas não há nenhuma novidade nisso. Cresça, mulher! Você não pode mais viver seu conto de fadas!

O lábio inferior dela tremeu com a resposta que ele sabia que ela lutava para segurar. Mas era verdade; tudo que dissera não era nada além da verdade.

Depois de um silêncio tenso, ela falou numa voz surpreendentemente controlada. – Você conhece o Nathan, Severo? – ela perguntou e fez uma pausa. – Eu sei que não e não estou feliz por isso, mas estou feliz, sim, com o fato de eu conhecê-lo. Sei como o coração dele é grande, como ele é realmente sensível e carinhoso. – A verdade que ela entregava com os olhos deixava impossível duvidar das palavras dela.

– Ele está bravo, sentindo-se traído. Nathan está sofrendo. – A voz dela perdeu um pouco da firmeza anterior. Ela levantou-se para andar de um lado para o outro na sala e, depois de respirar fundo algumas vezes, continuou: – Ele também está confuso, Severo. Por mais prudente que ele seja, não acho que tinha algo preparado para esse cenário. – Ela jogou os braços para o ar para enfatizar o ponto. – Ele precisa de nós agora, para ajudá-lo a esclarecer as coisas. Ele não vai fazer as coisas ficarem fáceis para nós, mas se o deixarmos resolver por si só, ele alimentará as idéias erradas e pode vir a realmente nos odiar, então. Nathan é muito introspectivo, Severo. Se não agirmos agora, não haverá volta. Ele é muito teimoso e assim que tomar uma decisão, será muito difícil fazê-lo ver a razão.

Granger ainda andava de um lado para o outro, mas parou o movimento por um pequeno instante. Ela parecia perturbada por alguma memória. Fechou os olhos e disse: – Não quero ouvir o Nathan dizer que me odeia nunca mais – e olhando para ele, acrescentou –, especialmente se o sentimento estiver realmente ali. – Um olhar assombrado tomou conta do rosto dela. – Sei que se importa com ele, Severo. Não vai querer ouvir também, acredite.

Severo poderia ter dito a ela que estava acostumado com o ódio que as pessoas sentiam por ele, ou tentar dissuadi-la de saber que se importava com o Nathan, mas não sentiu vontade. Era uma compreensão estranha, mas ele realmente queria se importar com o menino e queria que as pessoas, ou pelo menos essa mulher aqui, soubessem que ele se importava com o filho. – Pare de divagar e me diga qual é o seu plano.

E o sorriso que encheu o rosto da mulher era ofuscante.

– Sorrir como uma louca não vai me ressegurar. – Irritantemente, aquilo só fez o sorriso dela mais autêntico, agora alcançando os olhos castanhos.

Ela sentou-se novamente. – Vocês dois precisam passar algum tempo juntos, fora da sala de aula, claro. Ele precisa vê-lo como mais que professor dele. – Ela batia nos lábios com um dedo, obviamente pensando.

Severo fez uso daquele tempo para entender o que ela acabara de dizer. Passar tempo com o Nathan fora da sala de aula? Aquilo significava que ele agiria como... pai! E a realidade do momento o atingiu. Sou pai.

– Livros! – Granger exclamou, despertando-o. – Ele adora livros, e você tem uma coleção impressionante nos seus aposentos. – Ela sorriu novamente.

– Não posso fazer isso – ele se viu dizendo.

Ela ficou séria. – É claro que pode – assegurou. – Tudo que você tem que fazer é dizer que tem um livro para dar a ele, e ele seguirá como uma abelha atrás de mel.

– Eu simplesmente não posso – ele reafirmou e levantou-se, dando as costas para ela para satisfazer a necessidade de privacidade dos seus pensamentos. Severo podia sentir os olhos dela nas suas costas, mas a idéia de falhar dominava seus sentidos. Falharia com seu filho, sabia que sim. Maldita hora que o Potter apareceu! Tudo estava perfeito antes daquele estorvo decidir desafiá-lo. Potter estúpido!

Nathan não precisava dele. Seu filho ia bem sem saber a verdade. Severo repassou a noite anterior na mente mais uma vez e lembrou como seu filho estivera impotente. Quando carregara Nathan para a cama, Severo pensara sobre como o menino nos seus braços era vulnerável. Quando ajudara a prepará-lo para a noite de sono, Severo estivera ressegurado pelo peso no menino recostado contra o seu peito; o jeito como Granger manipulava Nathan tão carinhosamente... Agora ele só podia pensar em como seu filho era frágil... Expressões desprotegidas, cruas; Nathan parecera sereno quando dormia, tão inocente...

E agora, Severo certamente destruiria o que restava de bom na vida do seu filho. Não podia fazer isso, mas não podia impedir que acontecesse – ele não era nenhum pai. Severo fechou os olhos, pesaroso. Não podia repetir o que seu pai fizera com ele.

Uma mão pousou no seu ombro direito e Severo quase se contraiu. – Será um bom pai, Severo. Já é. – A voz dela era um carinho, mas as palavras não traziam nenhum conforto. Severo não podia acreditar nela. – Sei que acha que não, mas ser um bom pai tem tudo a ver com se importar e querer o que é melhor para o seu filho, e você já faz isso. – A mão saiu do seu ombro depois de um aperto encorajador somente para tocar o seu rosto, puxando seu cabelo para trás da orelha e efetivamente fazendo seus olhos se abrirem novamente. – Você pode fazer isso, Severo. Acredito em você – ela acrescentou, e a voz, mão e palavras acariciavam seus sentidos, e desta vez eram todas efetivas.

Severo estava confuso com Hermione Granger mais uma vez. Como ela pode acreditar em mim assim? E estranhamente, sentia que deveria acreditar nela em contrapartida. Será que conseguiria? Severo virou a cabeça e a viu olhando para ele com clara preocupação. Quem é essa mulher? Ele só podia olhar fixamente para ela.

Granger sorriu. – Venha, vamos encontrar mais maneiras de fazer o Nathan falar com você – ela disse, puxando seu braço, chamando-o para sua mesa. – Ele adora poções, mas isso está fora de questão já que é tudo que fazem juntos durante a aula.

Severo a seguiu até a mesa e a observou, fascinado com a fé que ela tinha nas pessoas e em como ela era realmente corajosa. Talvez aquelas características que sempre o fizera pensar nos grifinórios como imbecis imprudentes fossem, na verdade, algo a se admirar neles. Granger ainda falava animadamente, como se todos os problemas da vida dela estivessem para ser resolvidos da melhor maneira imaginável, quando a verdade era que estavam apenas piorando.

– ...mas não tenho certeza. Ele pode se interessar em falar sobre...

– Vou tentar – ele se pegou interrompendo o relato incoerente das muitas formas de chegar ao Nathan. O que diabos estou fazendo? Perdi a cabeça!

Ela olhava fixamente para ele agora, procurando, deixando-o desconfortável com tal exame minucioso, até que finalmente assentiu. – É tudo que precisamos.

Severo baixou os olhos para a superfície da mesa, querendo que o silêncio que seguiu aquela declaração curta, bem como essa conversa como um todo, acabasse logo. Droga! Ele estava comprometido; não tinha como voltar atrás agora.

– Por mais que eu não queira, preciso voltar para Londres – ela abençoadamente respondeu às suas preces silenciosas. – Manterei contato com você para notícias e outras coisas – Granger acrescentou.

Severo a ouviu levantar-se para sair e levantou-se também. Ele continuou em silêncio enquanto a acompanhava até a porta do seu escritório, que ela esperou que ele abrisse para ela e assim ele o fez. Ela estava passando por ele na porta quando se virou para encará-lo novamente, uma luminosidade perturbadora nos grandes olhos castanhos. – Obrigada, Severo. – E ela deu um meio sorriso antes de tomar o rumo pelo corredor em direção ao Saguão de Entrada.

Ele a acompanhou com os olhos até não conseguir mais vê-la. Quando notara que não estava sozinho ali, era tarde demais. Severo olhou para a sonserina o observando estranhamente. – Perdeu alguma coisa, Srta. Yaxley? – A menina balançou a cabeça em resposta e saiu rapidamente. Severo bateu a porta.

*-*-*-*


– Nathan! – Andy exclamou ao vê-lo parado à janela do dormitório.

– Ei, Andy – Nathan respondeu, não tão entusiasticamente.

– O que aconteceu com você? Harry Potter estava lhe procurando ontem à noite, e depois você não voltou para dormir. O Prof. Lupin veio aqui para dizer que você estava dispensado das aulas esta manhã, mas ele não disse o porquê. Você está metido em confusão?

– Não. – Nathan se esquecera de seus amigos. Não podia contar a eles que tinha finalmente descoberto quem era o seu pai. Ele não diria que era filho do Snape. – Eu... – Pense em alguma coisa! – Eu estava com a minha mãe – pôs para fora.

Andy ainda olhava para ele, esperando pelo resto da explicação. Nathan abriu a boca para dizer o que quer que viesse a mente, mas Kevin chegou naquele exato momento. – Nathan! Onde você estava?

– Ele estava com a mãe dele – Andy se adiantou em responder.

– Sua mãe? Era por isso que Harry Potter estava atrás de você ontem à noite? – Kevin complementou sua pergunta.

– Estava com a minha mãe. Ela... veio me visitar. – Nathan conseguiu mais tempo para pensar em alguma outra coisa para explicar sua ausência.

– Algum problema? – Andy perguntou cuidadosamente.

Nathan pensou em usar a desculpa da sua mãe doente, mas pensando nas possibilidades daquela mentira, achou melhor não. Eles a veriam no final de semana, de qualquer forma. – Na verdade, não – respondeu. – Minha mãe está bem, mas... ela queria me ver.

– Mas ela está aqui todo fim de semana, não está? – Kevin comentou. – Podemos ser dispensados das aulas se nossos pais vêm nos visitar? – A expressão do Kevin mudou de confusa para pensativa. – Isso seria útil...

– Vocês sabem como são as mães. – Nathan deu de ombros. – De qualquer forma, ficou tarde e eu fiquei nos aposentos dela para passar a noite. Ela ia ficar aqui toda a manhã de hoje, então pediu ao Prof. Lupin que me dispensasse das aulas. – Aqui está. É verdade, mas não toda a verdade. Excelente! – parabenizou-se.

– Que sorte! – Andy disse. – Talvez eu possa convencer meus pais a me visitarem numa segunda-feira de manhã. Seria ótimo ser dispensado da aula do Snape.

Snape. Nathan ficou sério. – Podemos ir ao Salão Principal para almoçar? Não comi muito no café da manhã; estou com fome – disse, querendo esquecer o homem e seguir com sua vida normal.

Não houve objeções à sua sugestão, e eles falavam sobre o que ele perdera naquela manhã de aulas enquanto desciam para o Salão Principal. Nada extraordinário aconteceu no caminho para lá, como esperado. Claro que nada mudou na vida da escola! – Nathan pensou, irritado consigo mesmo. Por que algo mudaria no castelo porque o Prof. Snape era o seu pai? Não mudaria. Mas ele não podia encarar aqueles que passavam por eles nos corredores. Nathan andava olhando para os pés.

Somente quando Nathan viu os pés de Andy pisarem no que ele sabia ser o piso do Salão Principal foi que percebeu que o Prof. Snape estaria lá. Ele não seguiu Andy ou Kevin. Outros alunos passaram por ele, e só depois de um tempo, convencendo-se de que estava sendo um bebê covarde, foi que olhou para cima. Seus olhos foram diretamente para o lugar à esquerda da Diretora – o lugar vazio. Aliviado, Nathan olhou para o resto do corpo docente que se juntava à Diretora para o almoço e encontrou o Prof. Lupin o observando. Aquilo o deixou apreensivo novamente.

– Você não estava com fome? – Kevin chamou, e Nathan finalmente foi para a mesa, sentando-se com eles. Kevin olhava para ele, e Andy também. Mais entretidos com a conversa ao redor, eles logo se esqueceram do comportamento estranho do Nathan.

Nathan comeu pouco. Ele ainda podia sentir os olhos do Prof. Lupin nele de tempos em tempos. O que ele quer? A mamãe deve ter lhe dito para ficar de olho em mim – pensou, bravo com Hermione novamente. Ele nem provou a sobremesa. Os outros terminaram e estavam prontos para seguir para as aulas da tarde quando Andy, sentado em frente ao Nathan, cumprimentou:

– Boa tarde, Prof. Lupin.

– Boa tarde, Andrew, meninas, meninos – veio a resposta acima da cabeça do Nathan. – Como estão hoje?

Várias respostas seguiram a pergunta do Prof. Lupin, mas Nathan ficou em silêncio.

– E você, Nathan? – ele ouviu, então. – Não gosta de torta de maçã?

– Não muito, professor. Não tem chocolate nela.

– Eu sempre tenho chocolate no meu escritório, se precisar – Prof. Lupin disse, os olhos transmitindo o significado real daquela oferta.

Nathan queria aceitar a oferta do Prof. Lupin, mas sabia que ele trabalhava sob as ordens da sua mãe. Sentiu a necessidade de agradece mesmo assim:

– Obrigado, professor.

Lupin assentiu solenemente e deixou o Salão Principal pelas portas principais. Nathan baixou o olhar para a torta intocada. Ele queria confiar no Prof. Lupin, mas… Realmente ele não tinha ninguém.

– Já vi você comer torta de maçã antes. O problema não é a torta, é? – Kevin perguntou para ele.

– Eu não quero comer a torta estúpida! Será que eu não posso ter um dia sem torta?! – Nathan devolveu, bravo com seus pais novamente, mas tendo somente Kevin em quem descontar sua frustração.

– Está bem, está bem! – Kevin afastou-se dele. – Não coma a torta.

Nathan pegou o garfo e cravou na torta ofensiva. Ele não ligou para o recuo dos seus amigos; só precisava de um tempo para si mesmo.

Depois que Nathan deixou o Salão Principal, Josefina virou-se para Andy e perguntou:

– O que há de errado com ele?

– Não sei, Jose. Ele está assim desde que voltou do tempo que passou com a mãe – Andy respondeu.

– Talvez devêssemos ir atrás dele... – ela sugeriu.

– Boa sorte! – Kevin disse.

Jose olhava recriminatoriamente para Kevin. – Era por isso que Harry Potter estava aqui ontem? – ela perguntou então. – Ele é o padrinho do Nathan, não é?

– Talvez – Kevin respondeu franzindo a testa. – Acho que alguma coisa está errada, mas ele não quer contar para nós.

– Você acha que tem algo a ver com o Malfoy? Harry Potter estava falando com ele sobre isso ontem, lembra? – Andy sugeriu.

– Sim, você pode estar certo, mas por que ele não nos contaria então? – Kevin contrariou.

Andy deu de ombros. Jose ficou quieta por um tempo, mas logo se virou para falar sobre outras coisas com as demais meninas. Kevin estava intrigado, mas foi trazido de volta de suas divagações por uma discussão dos últimos resultados do quadribol profissional.

Nathan foi para a biblioteca. Estava quieto, apenas alguns alunos mais velhos estavam lá, a maioria corvinais. Ele escolheu uma mesa isolada num canto escuro e sentou-se segurando a cabeça nas mãos, os cotovelos apoiados no tampo da mesa. Eles não podem me atingir assim! – Nathan chamou sua própria atenção. Como ele iria fazer sua vida voltar ao normal se não conseguia ignorar os seus pais? E o Prof. Snape nem estava lá! Nathan esmurrou a mesa em frustração atraindo olhares curiosos dos outros na biblioteca. Ele olhou feio para eles, mas depois suspirou. Droga!

Era mais difícil do que Nathan esperava, mas ele conseguiria. Não precisava deles e viveria sua vida muito bem sem eles. Só precisava se esforçar mais. Nathan tinha uma tarde inteira para ignorar seus pais e ser apenas ele mesmo, com suas aulas e amigos. Levantou-se e saiu determinado da biblioteca, pronto para encarar um Trasgo, ou assim ele pensou.

As aulas da tarde passaram sem maiores problemas para ele. Seus problemas ressurgiram quando chegou ao Salão Principal para o jantar. Ele estava lá – seu pai. Nathan não podia entrar. Não estava olhando, mas sabia que o Prof. Snape tinha os olhos fixos nele. Tinha que ir embora.

– Eu... esqueci uma coisa na sala de aula. Vou para a biblioteca depois disso, vejo vocês mais tarde – Nathan disse rapidamente aos amigos e, sem deixar espaço para perguntas, saiu por onde entrara.

Dois lances de escada depois, ele parou, respirando com dificuldade. – O que está errado comigo? – murmurou. Por mais que estivesse se punindo, Nathan não voltou ao Salão Principal naquela noite.

Na manhã seguinte, ele acordou com uma resolução nova. Tomaria café da manhã não importasse quem estivesse no Salão Principal. Ele não dormiu bem, estava com fome e não deixaria nenhum morcego o encarando fazer seu dia ficar ainda pior!

Nathan sorriu quando não encontrou nenhum morcego no salão. Ótimo! Ainda melhor! Estava no meio do café da manhã quando o morcegão chegou por uma porta lateral. Eles travaram olhares quando Snape parou a meio caminho do seu lugar. Nathan engoliu seu suco com dificuldade. O momento passou em segundos, mas pareceram horas para Nathan. Sentindo um aperto no peito, se levantou. Snape não tirou os olhos dele. O aperto aumentou, e Nathan tinha que deixar o Salão Principal para respirar.

Severo observou Nathan sair, suspirando e finalmente tomando seu lugar. O menino ainda estava fugindo dele, provando ser tão imprevisível quanto Severo achou que seria. Quem diria que um grifinório, um dos únicos na sua história de professor a nunca temê-lo, estaria fugindo do Salão Principal ao vê-lo? Seu filho, um covarde? Ele sabia que Nathan não era um covarde, mas…

O raciocínio de Severo foi interrompido pelo correio corujal. Para ser mais específico, por uma carta que uma das corujas derrubou nos seus ovos mexidos. Severo revirou os olhos quando percebeu quem era o remetente.

Caro Severo,

Como estão as coisas em Hogwarts? Espero que tenha falado com o Nathan e que ele esteja se sentindo melhor. Por favor, mande notícias.

Sinceramente,
Hermione Granger


Como posso falar com o menino se ele está fugindo de mim?
E ela estaria em Hogwarts naquela tarde; poderia ficar a par da situação por si mesma então! Severo amassou a carta sem pensar duas vezes. Sabia que perdera a cabeça quando concordara em participar do plano maluco dela. Mas a verdade era que Severo queria falar com Nathan, só não sabia como.

Severo espantou a coruja que certamente estivera esperando para levar uma resposta que ele não escreveria. Olhou de volta para o seu prato para ver que sua refeição estava espalhada por tudo e arruinada. Murmurando baixinho, deixou o Salão Principal para outra manhã de aulas. Pelo menos não teria que aturar cabeças-ocas à tarde.

Durante a aula, Severo decidira que não apareceria para o almoço no Salão Principal. Dissera a si mesmo que era porque não queria ver pessoas depois da aula que tivera, mas se fosse honesto, sabia que a razão era outra: Severo não queria perturbar o filho com a sua presença.

Escolhendo passar a tarde em seu laboratório, ele convocou um elfo doméstico e pediu um sanduíche e chá. Severo repassava algumas anotações de pesquisa quando Granger chegou mais tarde naquele dia.

– Por que não respondeu minha carta? – ela perguntou, pulando o costumeiro e educado boa tarde.

– Por que responder a uma carta se você estaria aqui para me perguntar pessoalmente? – Severo respondeu.

Ela respirou fundo. – Você falou com ele?

Ele olhou para ela, contemplando suas opções, depois abaixou a cabeça para continuar tomando notas. – Não.

A luz foi bloqueada pelo corpo dela parado bem em frente à sua mesa então. Ele não deu atenção, mas ficou impossível evitá-la quando agachou e ficou cara a cara com ele, segurando a beirada da mesa.

– Não espere muito, Severo. Ele não virá até você. Eu disse que ele não facilitaria as coisas para nós. – A voz dela era suave, manchada com tristeza.

Severo colocou a pena na mesa e encarou Granger. – Já estou fazendo isso contra a minha vontade. Não pressione.

– Eu também não queria que as coisas chegassem a esse ponto. Não estou pressionando... – Ele estreitou os olhos, cortando as palavras dela. – Está bem, então estou pressionando, mas não temos tempo, Severo. – Seu olhar de reprimenda ganhou mais força com as palavras dela. – Não olhe para mim desse jeito! Você pisou na bola desta vez, concerte! Não importa mais o que você quer, não vê? Você disse que era o pai dele, agora é.

– Não me diga o que eu posso ou não fazer, mulher! – ele devolveu.

Ela se levantou à frente da mesa dele. – Então você me diga o que pode ou não fazer, Severo.

– Eu não posso me aproximar de alguém que não está pronto para me encarar, sem estragar seu plano perfeito! Não posso ser quem não sou da noite para o dia só porque você está iludida! Não posso concertar os seus erros!

– E o que você pode fazer, Severo? – A voz dela era forte, mas não rude.

O silêncio seguiu aquela pergunta, mas os olhos dela continuaram falando, fortes, incisivos, penetrando nos dele. Ele podia azará-la dali. Podia expulsá-la do seu laboratório. Podia ignorar que ela sequer entrara na sua vida. Podia, mas não faria nada disso. E não teve mesmo, porque ela escolheu sair por si mesma. Perfeito! – pensou sarcasticamente.

*-*-*-*


Nathan passou todo o final de semana no dormitório. Não queria encontrar acidentalmente com sua mãe nos corredores ou na biblioteca. Ele sequer queria ser ocasionalmente encontrado na sala comunal, se qualquer um deles ousasse vir procurá-lo lá. Sim, eles, porque os Professores Lupin e Snape estavam na sua lista de evitados também. Se fosse sincero consigo mesmo, teria que admitir que até seus amigos o deixavam inquieto nestes dias. Era como se todo mundo olhasse para ele e visse Snape escrito na sua testa. Nathan sabia que não era verdade, mas... Ele podia ver isso toda vez que olhava no espelho ou numa janela o refletindo, como agora.

Ele se virou da janela e voltou para a cama. Os livros o mantinham ocupado neste final de semana. Estava quase no fim; quase na hora do almoço deste domingo chato. Ele freqüentava o Salão Principal para as refeições, mas só entrava quando tinha certeza de que nenhum deles estava lá. Teve que esperar até sua mãe sair durante o jantar de ontem, mas as outras refeições foram tranqüilas.

Ele ouviu risos. Os outros meninos estavam vindo para o dormitório.

– ...e não fez nada! Imagine o Prof. Flitwick correndo com aquelas pernas minúsculas dele e dizendo: “Não toquem na coisa peluda! Não toquem na coisa peluda!” – Malcolm Lesner guinchou numa imitação do Prof. Flitwick. Todos os meninos riram. – Foi engraçado demais! – Malcolm acrescentou.

– Layla teve sorte – Kevin comentou. – Você pode imaginar o que o Snape faria se ela cometesse um erro daqueles em Poções?

Várias demonstrações de pesar seguiram aquela declaração, e eles ficaram sérios na mesma hora. Nathan observava os meninos com o canto dos olhos enquanto fingia ler seu livro.

Andy decidiu descontrair um pouco. – Você está destruindo minha sala de aula menina estúpida! Cem pontos a menos para a Grifinória! – ele disse, tentando, mas falhando em imitar o mestre de Poções. Os meninos sorriram com aquilo.

– Você esqueceu da sobrancelha – Kevin disse e repetiu a frase do Andy completando com um exagero de movimentos de sobrancelha. Todos riram daquilo.

Bem, nem todos. Nathan não riu. De fato, ele estava muito sério e concentrado em não chamar a atenção deles. E falhou.

– Nathan faz muito melhor! – Kevin destacou. – Mostra para eles, Nathan.

Todos os presentes se viraram para o Nathan, esperando. Nathan olhava fixamente para o seu livro, sem saber o que fazer. Bem, o que ele sabia era que definitivamente não imitaria seu pai. Sem chance!

– Agora não, Kevin. Estou tentando estudar aqui – disse e fingiu estar concentrado na leitura.

Nathan podia ver pelo canto do olho que eles olhavam um para o outro. Ele podia até ouvir alguns deles comentando sobre algo, mas não tirou os olhos do livro.

O movimento no quarto logo acabou quando a maioria dos meninos voltou para o andar de baixo. No dormitório com Nathan ficaram somente Andy e Kevin.

– O que há de errado com você? – Kevin perguntou num tom acusatório. – Não consegue mais fazer piada? Onde está o Nathan, e o que você fez com ele?

Nathan suspirou, finalmente desviando o olhar do livro. – Não estou com humor para brincadeiras, está bem? Sinto muito se pessoas tentando estudar numa escola o incomodam – disse mais rude do que pretendia. Nathan não podia olhar para seus amigos depois daquilo.

– Não acho que somos bem vindos aqui, Andy. Não vamos perturbar o gênio – Kevin disse, puxando as vestes do Andy, arrastando-o para a porta. Andy resistiu, mas finalmente se deixou levar.

Assim que estava sozinho novamente, Nathan fechou o livro e o jogou nos pés da cama. Queria fingir que nada mudara. Queria, mas não podia. O que aconteceria quando seus amigos descobrissem? E ainda tinha que ir à aula de Poções... Amanhã era sua primeira aula depois do que ouvira no escritório do Snape, e não sabia o que esperar.

Decidiu não pensar naquilo agora e preparou-se para descer ao Salão Principal para o almoço. Ainda estava no meio da hora do almoço quando chegou ao topo do último lance de escadas de mármore que levava ao Saguão de Entrada. E parou. Na porta principal do Salão Principal estava sua mãe, e ela o vira.

Nathan pensou em voltar para a Torre da Grifinória, mas quando ela não veio em sua direção logo de cara, ficou sem saber o que fazer, o que pensar. Então decidiu que se ela não falasse com ele, também não precisava falar com ela. Como se Hermione não estivesse lá, Nathan continuou seu caminho para o Salão Principal.

Quando chegou ao nível do Saguão de Entrada, ouviu: – Nathan. – Ele ignorou e continuou andando, ignorando sua mãe. Nathan não desviou os olhos da sua meta – a mesa da Grifinória –, e só soube que Hermione não o seguira quando já estava sentado. Relaxou os ombros e suspirou. Torta de frango era a única coisa em que queria pensar no momento.

*-*-*-*


A manhã de segunda-feira chegou, e Nathan podia ver os primeiros raios de luz invadindo o quarto. Não dormira nem um pouco. Nem mesmo a tarde agradável que passara no dia anterior tirara sua mente da aula que tinha naquela manhã. Sim, depois do que chamara de um encontro bem sucedido com sua mãe no Saguão de Entrada, Nathan reganhara um pouco da sua liberdade e se juntara aos outros grifinórios na sala comunal na tarde anterior. Não achava que o Prof. Snape viria atrás dele na sala comunal, embora ele já tivesse feito isso no passado.

Mas nada que se passara no dia anterior importava agora. Não quando era ele quem iria ao encontro do Prof. Snape agora, e não o contrário. O que Snape faria? O que Snape diria? Como ele podia encarar o homem? Nathan não sabia e não estava muito interessado em descobrir.

O quarto estava mais claro agora. Quanto mais o tempo passava, menos Nathan sabia o que fazer. O primeiro colega de quarto se mexeu no sono leve, acordando para o dia que começava. Mais movimento. Vozes. Entretanto, Nathan não se mexeu. Podia ver pelo vão da cortina que alguns de seus colegas estavam de pé e se vestindo para o dia. Eu posso fazer isso. Levantou-se da cama e começou a vestir o uniforme como fazia todo dia de semana. Sou um grifinório. Posso fazer isso.

Entrou no banheiro. Tudo que restava do seu ritual matinal era pentear os cabelos e escovar os dentes, e não teria mais nada a fazer para adiar o café da manhã e a aula com seu pai. Sentiu uma agitação no estômago ao sentir o gosto da pasta de dentes. Passou mais tempo que o normal lavando a boca e o rosto, e quando Nathan finalmente se encarou no espelho, não podia mais segurar seu jantar no estômago. Correu para um cubículo.

Nathan não ouviu Andy entrar. Ainda estava concentrando-se em respirar, querendo que a náusea passasse.

– Nathan? – Andy chamou. – Está passando mal?

Nathan estava prestes a responder quando outra onda de náusea o acometeu.

– Vou chamar o Cornwell – Andy disse e, depois de minutos, estava de volta com o Monitor Chefe.

– O que está sentindo, Sr. Granger? – o menino mais velho perguntou.

– Náusea – Nathan conseguiu dizer em meio a respiração rápida.

– Que aula vocês têm esta manhã? – Nathan ouviu o menino perguntar.

– Poções – Andy respondeu.

– O Prof. Snape não vai acreditar que você está passando mal – o Monitor Chefe disse, e Nathan perdeu o controle do seu estômago novamente. – Vá buscar o Prof. Lupin. – Era um comando para Andy, que saiu na mesma hora.

Nathan se sentou, olhos fechados, recostado na parede perto da privada quando seu diretor de Casa chegou.

– Ele está passando mal mesmo, professor – Cornwell informou.

– Obrigado, Michael – Prof. Lupin dispensou o Monitor Chefe.

Nathan não abriu os olhos; a agitação no seu estômago ainda estava lá. Ele sentiu uma mão fria tocar sua testa.

– Você sabe o que fez você passar mal? – Lupin perguntou.

Nathan balançou vagarosamente a cabeça em negação. Logo sentiu o formigamento da magia atingindo seu corpo; o Prof. Lupin estava lançando algum encantamento nele. Nathan suspirou quando seu estômago assentou, sentindo-se mais calmo do que estivera num longo tempo. Aproveitou o sentimento por um momento e depois abriu os olhos para encontrar o Prof. Lupin o estudando, como se pensando no que fazer com ele.

– Melhor? – Lupin perguntou.

– Sim, obrigado.

O Prof. Lupin oferece-lhe a mão e Nathan aceitou. Seu diretor de Casa o ajudou a se levantar, esperou enquanto lavava a boca e o acompanhou para fora do banheiro. – Acha que pode ir para a aula de Poções?

Nathan parou, virou-se e estava de volta dentro do banheiro num instante. Seu corpo ignorou o fato de que não havia mais nada no estômago. O Prof. Lupin conjurou uma toalha e ofereceu a ele, Nathan aceitou sem dizer uma palavra. Quando tinha se acalmado um pouco, o Prof. Lupin voltou a falar:

– Eu sei que deve ser difícil para você, Nathan, mas não pode evitar seu pai por muito mais tempo.

Nathan focou na parede à sua frente. Por que isso estava acontecendo com ele? Por que tinha que ser tão difícil?

– Mesmo que pudesse continuar evitando, ele é um professor aqui – o Prof. Lupin continuou. – O que você faria? Desistiria de Poções?

Nathan olhou para seu diretor de Casa com olhos esperançosos, suplicantes.

– Não, você não pode desistir de Poções – Lupin disse, franzindo a testa para o Nathan. – Por que está evitando ele, para começo de conversa, é o que devo lhe perguntar. Pensei que quisesse saber quem era o seu pai, conhecê-lo, falar com ele. Estou errado?

– Não, não está – Nathan respondeu num murmúrio.

– Então o que está esperando? – o professor persistiu.

– Não quero mais nada disso – ele respondeu e respirou fundo.

– Está se sentindo melhor? – Prof. Lupin perguntou. – Acha que é seguro sair do banheiro? Não é o meu lugar preferido para conversar... – Lupin provocou.

Nathan respirou fundo novamente antes de assentir com a cabeça que estava se sentindo melhor. Eles saíram para o dormitório, onde se sentaram na cama de Nathan. O Prof. Lupin estava novamente olhando fixamente para ele de um jeito bem desconfortável. Nathan mudou de lugar na cama.

– Por que está evitando seu pai, Nathan? – seu professor perguntou mais uma vez.

Aqueles olhos castanhos estavam implacáveis nele, e Nathan se sentiu obrigado a responder. – Não estou evitando ele de verdade – disse e sabia que estava sendo ridículo no momento que aquilo saiu da sua boca. Ficou quieto depois, sem querer piorar as coisas ainda mais.

– E se o Severo viesse aqui lhe procurar? O que você faria então? – Lupin perguntou.

Nathan finalmente olhou no rosto do seu professor. – Ele não virá. – Era um desejo que gostaria que permanecesse verdadeiro.

– Por que você acha que ele não virá?

E Nathan estava novamente em face às verdades que estivera construindo desde o dia em que descobriu que o Prof. Snape era seu pai. Ele não o procuraria porque não se importava nem um pouco com ele. – O Prof. Snape não virá atrás de mim porque... – Doía pensar naquilo de novo, e doeria ainda mais admitir em voz alta. – Ele não quer nada comigo, professor. – A faca que estivera alojada em seu peito desde que descobrira a verdade fora torcida.

– Como pode saber disso? – Lupin insistiu.

– Passei um mês de detenções com ele, professor. Eu sei. – Nathan não queria discutir aquilo. Não queria que o Prof. Lupin viesse com nenhuma desculpa do tipo que sabia que sua mãe inventaria.

– Conheço o Severo desde que tínhamos a sua idade – o Prof. Lupin começou. – Ele se importa com você como ouso dizer que ele nunca se importou com ninguém antes. Pode não ser evidente. Como lhe disse, ele não é um homem fácil de lidar, e ele é muito complicado para um simples entendimento. O que quer que tenha passado durante aquele mês de detenções, pode não ser o que parece.

Nathan ouvia ceticamente a opinião do seu professor. Ninguém sabia o que passara com seu pai durante aquelas detenções.

– Não seria melhor realmente perguntar para ele, realmente ouvir dele o que ele acha de você? Não posso acreditar que esteja com medo de fazer isso, porque você é o grifinório no comando – seu diretor de Casa lhe disse, inclinando a cabeça para transmitir sua total descrença quanto a Nathan não ser corajoso suficiente para tanto. – Talvez deva tentar? Talvez Severo o surpreenda; ele já fez isso antes. – Lupin sorriu para ele. – Não vou obrigá-lo a ir para a aula de Poções hoje, mas não espere ser dispensado na próxima semana – o professor acrescentou mais seriamente. – Não pense no que pode dar errado, quando tanta coisa pode dar certo. – Lupin se levantou. – Vejo você na aula. – E com aquilo, ele deixou Nathan com muito em que pensar.

*-*-*-*


Mesmo com as palavras de Remo, Nathan ainda estava evitando Severo a semana toda, nunca olhando para ele, sempre evitando as masmorras para não cruzar com ele nos corredores, embora pudesse sentir aqueles olhos frios sempre que estavam na mesma sala. Pelo menos se convencera a ir à aula de Poções independente de qualquer coisa. Não que ele tivesse qualquer outra escolha, mas não deixaria o Snape transformar isso num pesadelo.

O mesmo valia para sua mãe, especialmente depois da carta que recebera do seu padrinho. A biblioteca era um lugar que gostava de visitar, e não pararia de ir lá nos finais de semana por causa dela. Ela o pegara lá no sábado de manhã; fora esquisito, mas Nathan conseguira se desvencilhar das tentativas dela de falar com ele.

Com a fé renovada na sua força, Nathan deixou o Salão Principal para seu primeiríssimo encontro com seu agora conhecido pai. Entrou na sala de aula de Poções como se nada tivesse acontecido, tomando seu lugar de sempre na primeira fila. Nathan estava bem confiante, até o mestre de Poções entrar na sala pela porta. Nathan não olhou na direção dele. Segurou a respiração e olhou fixamente para a bancada manchada.

– Abram os livros na página duzentos e dez – o Prof. Snape disse e começou a discursar como normalmente fazia.

Nathan não conseguia classificar o sentimento de vazio que aquele comportamento normal lhe trouxe. Colocara tanta expectativa neste encontro que estava de certa forma desapontado com a habilidade do homem de agir como se nada tivesse mudado. Enquanto a aula progredia, a frustração confusa do Nathan se transformava em aborrecimento e ódio com a aparente indiferença do seu pai.

A raiva de Nathan com o homem só cresceu quando eles foram colocados para preparar a poção do dia. Não havia graça nos movimentos dele enquanto picava e fatiava e triturava. Seguia mecanicamente a receita, nem mesmo pensando em por que ele estava realmente juntando todas aquelas raízes e partes de animais num caldeirão.

Severo andava entre as bancadas, comentando os procedimentos de cada aluno como fazia toda aula. Também tirava pontos quando necessário. Não queria que Nathan achasse que as coisas seriam diferentes agora que ele sabia que era seu pai. Severo era o mesmo professor que ele conhecera na primeira aula, que a mãe dele havia conhecido na primeira aula dela. Aquilo não mudaria.

Nada de errado acontecera até agora. Severo não lhe fizera nenhuma pergunta direta, e Nathan não se oferecera para responder nenhuma delas também, o que Severo achou que era consistente com o jogo de indiferença que o menino estivera praticando desde aquela noite fatídica. Estava quase no caldeirão do Nathan agora. – A poção não vai mexer sozinha, Srta. Parks – comentou para a menina que agora mexia freneticamente o conteúdo do caldeirão e continuou até a primeira fileira de alunos, parando atrás do seu filho.

Severo notou imediatamente a falta de cuidado que Nathan empregara no preparo dos ingredientes, deixando todos misturados num canto da bancada. O menino fatiava a raiz com uma força desnecessária, tirando nacos irregulares dela e nem se importando com isso. Severo olhou dentro do caldeirão, ainda quieto. O conteúdo dele era de uma cor amarronzada horrível, como presumira.

– Que cor a poção deveria estar neste ponto do preparo, Sr. Granger?

– Amarelo claro, professor.

Claro que seu filho sabia daquilo, e a resposta correta não o surpreendeu, embora o tom em seu título chamara sua atenção.

– E que cor está a sua? – Severo perguntou então.

– O senhor pode ver por si só, professor – Nathan respondeu sem tirar os olhos das raízes que dilacerava.

Severo deu a volta na bancada para ficar na frente dele. – Cinco pontos a menos para a Grifinória. Que cor está sua poção, Sr. Granger? – perguntou novamente.

Nathan olhou dentro do caldeirão. – Amarronzada, eu acho, mas o senhor já sabia disso, professor – o menino disse e, como se nada estivesse acontecendo, pegou um punhado de raiz dilacerada e jogou no caldeirão, fazendo a mistura sibilar. Quando ele estava prestes a jogar uma cauda de salamandra inteira nele, Severo segurou sua mão. Nathan finalmente olhou para ele, pura raiva luzindo daqueles profundos olhos negros.

A classe toda fingia trabalhar enquanto observava a interação.

– O que acontecerá se eu deixá-lo acrescentar isso naquela sopa que está preparando? – Severo inquiriu segurando os olhos e a mão do filho.

– Vamos descobrir – Nathan disse, forçando sua mão na direção do caldeirão.

Severo o segurou com firmeza. – Não o deixarei explodir minha sala de aula só porque está com vontade. – Tirou sua varinha de suas vestes e evanescou o conteúdo do caldeirão. – Dez pontos a menos para a Grifinória, Sr. Granger, e você reprovou nesta tarefa – acrescentou num sibilo, finalmente soltando o pulso do seu filho. – Quero uma redação sobre as possíveis reações que esses ingredientes podem produzir se misturados inadequadamente, na minha mesa, até o final desta aula.

Severo repreendeu os outros alunos, que mais que rapidamente voltaram ao trabalho. Qual o jogo dele? – pensou quando sentava a sua mesa novamente. Ele ia realmente explodir o caldeirão. Aquele era um pensamento perturbador, especialmente quando Severo sabia que seu filho estava completamente consciente daquilo. Vingança? Era uma possibilidade. Severo observava Nathan escrevendo com uma preocupação que não mostrava no rosto.

Antes do que Severo esperava, Nathan estava à frente da sua mesa, entregando um pedaço de pergaminho e virando-se para apanhar suas coisas e sair.

– Ainda não está dispensado desta aula, Sr. Granger – disse a ele. – Sente-se.

Nathan parecia furioso, mas não precisou falar duas vezes. Severo olhou para o pergaminho em sua mesa. Estava longe de ser uma redação apropriada. Tudo que continha eram linhas de ingrediente x mais ingrediente y igual a alguma coisa. Estavam todas corretas, mas aquela não era a questão. Isso era mais uma afronta ao comando de Severo.

A aula terminou, e Severo chegara a uma decisão. – Estão dispensados – disse, mas acrescentou: – Você não, Sr. Granger.

Logo eram os únicos na sala de aula. Severo aproximou-se do seu filho, que deliberadamente não olhava para ele. – Não sei o que esperava conseguir com tal comportamento, mas esteja certo que isso não será tolerado.

Nathan não reagiu. Severo colocou as mãos na bancada. – Se tivesse deixado derrubar a cauda de salamandra dentro do caldeirão, eu, você e vários de seus amiguinhos estariam na ala hospitalar agora, mas acredito não tenha pensado nisso. – Fez uma pausa para deixar aquilo penetrar na cabeça do Nathan. – Claro que não pensou, a segurança de todos não é uma preocupação sua, mas minha.

Nathan se recusava a olhar para ele. Era irritante. – Olhe para mim – Severo comandou. Nathan não moveu a cabeça, mas seus olhos se mexeram para encontrar os de Severo. – Ignore-me o quanto quiser, fique tão bravo quanto quiser, mas não tente explodir um caldeirão na minha aula. – A voz de Severo estava perigosamente baixa. Nathan tinha a boca numa linha fina. – Agora vá. Já está atrasado.

Nathan pegou suas coisas, levantou-se e, antes de virar-se para sair, disse:

– E o que lhe importa?

Severo observava o menino saindo apressadamente. Aparentemente mais do que deveria – Severo respondeu para si mesmo.

*-*-*-*


Cada dia que passava, a tensão entre pai e filho crescia. Severo era carregado não só pelo comportamento nocivo do Nathan, mas também pelas cartas diárias da Granger. O terceiro final de semana depois do seu deslize se aproximava, e as únicas palavras que falara com seu filho foram aquelas trocadas na aula.

Pelo menos uma coisa mudara depois daquele dia; Nathan agora não o ignorava como antes. Não, eles não conversavam, mas podiam ser vistos na mesma sala, especialmente no Salão Principal para as refeições, como agora. Severo fizera uma questão de honra poder passar pela mesa da Grifinória no seu caminho para fora do salão a cada refeição. Queria ter certeza de que Nathan sabia que estava sendo observado, que ele estava por perto.

Na primeira vez que fizera isso, sentira a imobilidade do Nathan. Nas vezes seguintes, só podia sentir a raiva que seu filho lhe dirigia. Hoje, entretanto...

Quando Nathan viu que o Prof. Snape estava deixando o lugar dele, ele levantou-se também. A nova rotina de passar pela mesa da Grifinória cada vez que o Prof. Snape deixava o Salão Principal estava irritando Nathan sem precedentes. Mas ele já estava farto daquela dança, e hoje daria o troco.

Seus amigos levantaram-se com ele; seguiam para as portas principais e estavam quase lá quando Nathan sentiu que seu pai estava perto o bastante para ouvir o que iria dizer. – Tenho uma coisa para contar para vocês – disse aos amigos. – Descobri quem é o meu pai.

– Descobriu! – Andy exclamou.

Nathan podia ver com o canto dos olhos que tinha a atenção total de seu pai. – Foi – assentiu. – Mas infelizmente, ele está morto. – Seus amigos lamentaram a notícia como ele esperava, e ele acrescentou: – Tudo bem, verdade. Não é como se minha vida fosse mudar muito se ele não estivesse. Ele era só um ninguém.

E a reação que isso despertou no mestre de Poções, Nathan não previra. Em segundos estava sendo agarrado pelo braço. – Isso é ridículo! Pare com essa bobagem agora – seu pai sibilou.

– Ou o quê? – Nathan devolveu. – O que vai fazer? – desafiou.

– Não pode falar assim comigo, menino! Perdi minha paciência com seu joginho de esconde-esconde e não tolerarei mais o seu desrespeito!

– Como se eu lhe devesse algum respeito! Você zombou de mim toda vez que entrei na sua sala de aula, me assistindo fazer papel de bobo. Você podia ter contado para mim, mas tudo o que fez foi me tratar como um cabeça-oca estúpido!

– Então me dê um motivo para não lhe tratar como um! Dez pontos a menos para a Grifinória! – Snape rosnou.

– Tire dez, tire cem, tire quantos malditos pontos quiser! Não me importo! – A voz do Nathan estava alta o suficiente para chamar a atenção de toda a escola. – Você é o monstro que todos dizem que é! Nunca vou respeitá-lo! Eu odeio você! – Nathan rosnou. – EU ODEIO VOCÊ! Me solta! – gritou e soltou seu braço.

Severo soltou o filho, os olhos perdidos na expressão de verdadeiro ódio no rosto do Nathan mesmo depois que seu filho saíra correndo. Ele só ficou lá; as palavras do Nathan machucando sua alma perturbada. Sentiu uma mão no cotovelo e, pela sombra de um momento, desejou que ela fosse da Granger e não da Minerva.

– Prof. Snape, o que acabou de acontecer aqui? – A seriedade no tom da Diretora o trouxe de volta para sua figura preocupada e repreensiva, e Severo percebeu todos os olhos nele.

– É uma história longa, Diretora. Se me dá licença – ele disse a ela, deixando o Salão Principal.

Minerva seguiu. – Prof. Snape – chamou. Ele parou, irritado. – Quero saber o que está acontecendo agora. – Ela usava seu tom de sala de aula com ele. – Estarei esperando no meu escritório – ela lhe disse e saiu.

Severo sentiu alguém se aproximando vindo do Salão Principal. – Eu não quero ouvir o que você tem a dizer, Lupin – dispensou, sem nem se virar para encarar seu colega, a presença dele só aumentando a irritação de Severo.

– Vou cuidar do Nathan – o lobisomem lhe disse mesmo assim e saiu para as escadas.

Severo suspirou e seguiu o mesmo caminho que Minerva.

*-*-*-*


– Você está me dizendo que a Hermione... que ela... com o Snape?! Isso é simplesmente nojento! – Rony exclamou indignado com a notícia de Harry.

– Fale mais alto! Eu não acho que os trouxas passando o ouviram! – Harry repreendeu.

Rony ainda estava pasmo. – Ela saiu comigo! Por que ela iria querer sair com o Snape?

Harry revirou os olhos. – Rony, isso não vem ao caso. Estou preocupado com o Nathan agora.

– Claro, desculpe. É só que... É o Snape. Coitado do Nathan, ele não merecia ser parente daquele morcego!

– É, e a Hermione quer que eles interajam. Não podemos deixar o Snape ter qualquer influência na vida do Nathan. A Hermione está iludida se acha que eu vou sentar e assistir só porque o Snape é o pai do Nathan – Harry comentou. – Ela veio na minha casa me dizer para deixar isso para ela e o Snape. Acho que ela realmente acredita que o Snape é capaz de ser um bom pai!

– Ela disse isso para você? – Rony perguntou incrédulo.

– Ela estava realmente fora de si quando eu disse que o Snape não era capaz de cuidar de um rato.

– Mas o que podemos fazer se ela decidir trazer o Snape para a vida do Nathan? Digo, a Hermione é a mãe dele e o... e o Snape é o pai dele. – Rony contorceu o rosto novamente. – Eu ainda não consigo acreditar que ela foi capaz daquilo!

– Bem, deve ter um jeito de convencê-la. Nathan me mandou uma carta muito perturbadora. Eu mostrei para ela, e tudo que ela fez foi chorar – O tom de Harry era mais indulgente agora. – Eu só quero ajudá-la a ver o erro que está cometendo.

– Vamos dar um jeito, cara – Rony assegurou, batendo no ombro de Harry.

Eles terminaram suas bebidas e deixaram o Caldeirão Furado.

Mas mesmo depois da partida deles, uma pena escrevia freneticamente, encantada para tomar notas de todos os detalhes falados. Uma bruxa presunçosa esperava a pena com certa impaciência. – Talvez possamos conseguir a primeira página, minha querida. Sim, definitivamente material de primeira página.



A/N: Sim, eu criei um monstro! Esse capítulo ficou enorme! Agora você sabe porque demorou tanto... Espero que não tenha sido chato. :0P

Quero agradecer a todos que deixaram reviews, obrigada! :0)

No próximo capítulo… A notícia se espalha e as coisas complicam.

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