Sentimentos
DISCLAIMER: Não é meu! É tudo da J. K. Rowling.
AVISO: Esta história se passa no futuro e contém spoilers do livro 6! Esteja avisado/a!
BETA READER: BastetAzazis – muito obrigada!
A/N: Capítulo Vinte! Agora o Nathan sabe a identidade do pai e tem muito para pensar. Mas ele não é o único…
Capítulo 20: Sentimentos
Remo Lupin seguiu os alunos para fora do Salão Principal, mas aqueles que estava mesmo seguindo não estavam no seu campo de visão. Severo saíra há algum tempo; enquanto Harry estivera falando com o afilhado. Harry saíra instantes depois; Nathan ficou terminando o jantar com os amigos. Nathan saíra assim que Harry desaparecera de vista no Saguão de Entrada. Remo sabia aonde eles iam e saiu também, seguindo os alunos da Sonserina que voltavam para a sala comunal nas masmorras do castelo.
Remo tinha certeza que esse encontro entre Harry e Severo tinha tudo para dar errado. Eles nunca conseguiram se entender como bruxos adultos e civilizados. Ele só esperava que não partissem para a violência um contra o outro. Eles duelavam uma vez por ano, e aquilo era suficiente para manter a animosidade sob controle, mas apenas porque eles não se encontravam com freqüência. Neste ano, entretanto...
Ele acabara de virar no corredor onde o escritório do Severo ficava quando um menino passou rápido por ele, correndo.
– Nathan? – perguntou retoricamente, sabendo que o menino que corria não ouviria nesse volume. Remo chamou então: – Nathan! – O grifinório continuou correndo, ignorando-o.
Remo virou-se, determinado a alcançar o escritório de Severo e entender o que estava acontecendo, mas parou no meio do caminho novamente. Severo estava saindo, andando a passos largos com determinação na direção oposta a que Nathan tomara. Remo estava preocupado agora.
Andou os poucos passos restantes e entrou no escritório aberto. Harry estava lá, olhos selvagens, franzindo a testa. Harry, o que foi que você fez?
– Harry? – Remo chamou, assegurando-se de que Harry percebesse sua presença na sala. – O que aconteceu aqui?
Harry abriu e fechou a boca algumas vezes. – Snape... – disse, mas parou antes de dizer qualquer outra coisa, como se não tivesse palavras. Depois de um momento e outro abrir e fechar de boca, ele continuou: – Eu pensei que ele fosse... – Engasgou com as palavras novamente. – Mas saber com certeza... – Harry deixou as palavras morrerem, fechando os olhos como se para limpar as imagens e as palavras da mente, e quando finalmente os abriu de novo, focou em Remo pela primeira vez desde que o lobisomem entrara na sala. – O Snape é o pai do Nathan – Harry revelou, o desamparo manchando sua voz. – Snape!
Naquele momento, Remo estava a par da qualidade catastrófica do que acontecera ali, pouco antes dele chegar.
– Merlin – disse –, Nathan ouviu vocês!
– Eu não o vi. Estava discutindo com o Snape, e... – Harry recontou, e virou-se para o fundo da sala, apontando em descrença para onde Remo podia ver uma bancada cheia de frascos; alguns tombados, mas ainda fechados, outros caídos no chão, quebrados. – E ele estava escondido ali, mas eu não o vi até que os frascos quebraram, logo depois que o Snape disse. – Harry olhou assustado para Remo. – Temos que encontrá-lo primeiro! Não vou deixar o Snape chegar perto dele!
– Acalme-se, Harry. Severo não foi atrás do Nathan – Remo assegurou. – Eles tomaram sentidos opostos. – Remo estava achando difícil absorver tudo que lhe era contado. Severo contou para o Harry? Chocante mesmo. – O que o Severo fez quando descobriu o Nathan na sala? Ele disse alguma coisa?
– Ele pareceu surpreso, mas você nunca sabe o que o Snape está realmente sentindo ou pensando. Ele disse algo sobre a Hermione e um prazo, e depois saiu. Pensei que ele tivesse ido atrás do Nathan – Harry disse. – Tem certeza que ele não foi? – perguntou ao Remo. – Por um momento eu pensei que ele tentava se aproximar do Nathan.
– Eles tomaram sentidos opostos – Remo assegurou-lhe mais uma vez. – Precisamos avisar a Hermione.
– Eu vou atrás do Nathan – Harry disse.
– Fique fora disso, Harry. Você já fez o bastante – Remo avisou.
– Ele é meu afilhado, Remo. Não posso deixá-lo agora, quando ele mais precisa de mim – Harry disse, determinado. – Para que lado? – perguntou.
– Harry, Hermione ficará muito brava quando descobrir que você estava colocando o nariz onde não devia.
– Para que lado, Remo? – ele repetiu, um olhar duro de determinação nos olhos.
– Para o Saguão de Entrada – Remo finalmente respondeu, resignado. – Mas eu realmente acho que você deveria procurar a Hermione primeiro – tentou novamente, mas Harry já estava saindo. – Ou eu poderia – murmurou consigo mesmo e deixou o escritório do Snape também.
Severo invadiu sua sala de estar e bateu a porta atrás de si. O primeiro objeto que viu, o jarro de Pó de Flu, foi o primeiro a voar pela sala, estilhaçando contra a estante distante, espalhando o pó fino por toda parte.
Isso não era para estar acontecendo, isso não era para estar acontecendo – era o mantra em sua mente. Como é que ele, Severo Snape, podia se deixar levar daquele jeito?! Aquelas palavras nunca deveriam ter deixado sua boca; ele nunca deveria ter dito aquilo em voz alta. Ele sabe.
Severo fez uma careta de raiva consigo mesmo, balançando a cabeça, fechando as mãos em punhos e contorcendo o rosto em dor visível. Uma dor que ele não experimentara há algum tempo. Causada não por um ferimento físico, mas uma dor conectada a uma parte dele que não deveria mais sentir: seu coração.
Ele sabe. O pequeno menino que invadira sua vida como nada e nem ninguém deveria invadir. O jovem par de insondáveis olhos negros que não o deixava esquecer a ligação de sangue que compartilhavam, uma ligação que tornara esse garoto proibido, essa felicidade desmerecida. O filho que ele não queria ver sofrendo pelo pai que infelizmente tinha, e que a despeito disso tudo tinha a audácia de reivindicá-lo – em voz alta.
Outros objetos voaram do beiral da lareira, espalhando-se pelo chão de pedra, alguns também quebrados como o homem que os jogara. Como isso foi acontecer? Como ele podia ter feito isso com o Nathan? Severo agarrou o beiral da lareira, soltando a cabeça para baixo com os olhos fechados. O olhar de desgosto e dor no rosto do menino assombrava sua mente; as palavras sussurradas de mágoa, as lágrimas, e aqueles olhos suplicantes... Severo não deveria ter deixado aquilo acontecer.
Os olhos de Severo se abriram brilhantes, refletindo as chamas abaixo no seu ódio cego. Potter – o nome invadiu seus pensamentos. Potter e aquele incrível dom de se meter onde não devia; o dom que o homem enfurecedor tinha de fazê-lo passar dos limites. Potter era o responsável. Potter interferira e estragara seu plano cuidadosamente colocado em ação, o qual nunca incluíra Nathan conhecer a verdade.
Nathan…
Severo fechou os olhos novamente e levou a mão ao bolso, tirando o pequeno frasco de vidro que o acompanhava desde o Natal. Seu líquido se remexia em muitas cores de vários tons. Severo tirou o cabelo escorrido do rosto com a mão livre enquanto se afastava da lareira, sentando-se em uma das poltronas viradas para ela. Vermelhos, azuis, verdes, roxos, cinzas, e sim, traços de preto revolviam no amuleto em sua mão – Nathan estava muito confuso, provavelmente em choque. É claro que ele está – Severo pensou. Como não estaria? Ele acabou de descobrir que o professor mais desprezível é o seu tão esperado pai.
Severo observava o grande número de cores como que hipnotizado por elas. Ele observava e franzia a testa com cada sentimento sombrio que lia nelas, esperando que Hermione chegasse logo até Nathan e o acalmasse, como ela fizera com o pesadelo. Ela não demoraria muito agora, se já não estava no castelo. Seu filho precisava de conforto, e embora Severo sentisse um impulso quase incontrolável de sair e encontrá-lo, sabia que deveria deixar isso para a mãe do menino.
As cores estavam ficando sombrias em sentimento. Severo levantou-se e começou a andar de um lado para o outro da sala, suas botas esmagando pedaços de vidro e outros materiais enquanto andava em frente à lareira. A Hermione não está com o Nathan agora? Por que o menino não se acalma, então? Severo andava e olhava fixamente para o amuleto em suas mãos.
Até que a poção assumiu um tom forte de vermelho e... perdeu a cor.
Severo parou de andar e baixou a mão segurando o frasco. Ele fechou os olhos, seus ombros perderam um pouco de altura num suspiro longo. Nathan não estava mais usando seu presente de Natal; ele tirara o colar.
Nathan correu. Ele correu o mais rápido que pôde, tentando se afastar de lá, para longe daquela confusão. Ele não estava certo do seu destino, só sabia que tinha que ir. Tinha que se afastar. Não ajudava o fato de que ele quase não podia ver os corredores e escadas a sua frente, as lágrimas embaçando sua visão. Nathan sentiu-se desequilibrado por vezes, mas nunca ligou isso às pessoas com quem estava colidindo na sua ânsia de estar o mais longe possível do homem – seu pai.
O Prof. Snape é o meu pai. Ele parou de correr, sem fôlego, um soluço alto escapando no seu desamparo. O Prof. Snape é o meu pai. Ele não queria pensar naquilo, então começou a correr de novo, como se pudesse correr de si mesmo.
Nathan não avançou muito nessa segunda fuga desesperada; estava cansado. Suas pernas o levaram até o terceiro andar. Ele limpou os olhos nas mangas das vestes, respirando pesado entre os soluços. Olhou em volta. Sabia que reconhecia a sala; já estivera ali antes. Sentiu que estava longe o suficiente.
As pernas de Nathan finalmente desistiram, e ele se encolheu entre a parede fria de pedra e uma das bases de uma pesada armadura. Abraçou os joelhos e balançou devagar. O Prof. Snape é o meu pai. Era tão difícil de acreditar. Depois de todo esse tempo procurando pelo seu pai, tentando descobrir quem ele era, e agora ele sabia.
E era o Prof. Snape.
Nathan soluçou novamente, enterrando o rosto no confortante vão escuro entre os seus joelhos, apoiando a testa nos braços cruzados. Era o Prof. Snape por todo esse tempo. Ele tentou respirar fundo para parar o seu nariz escorrendo e trazer um pouco de calma para si. Ofegou com o esforço que foi necessário para calar suas lágrimas. Nathan esfregou os olhos inchados com a manga molhada e abriu-os para focar o chão entre suas pernas dobradas.
E os fechou bem apertado na tentativa de segurar as lágrimas que se formavam mais uma vez com a visão do pingente pendurando no seu pescoço – o presente de Natal do seu pai; o presente de Natal do Prof. Snape. Significara tanto para o Nathan... E agora que ele sabia de quem era. Que o seu colar estimado e apreciado, um objeto dito ser destinado à sua proteção. Proteção do Snape? Uma poção que mostrava seu humor; uma poção preparada pelo seu mestre de Poções. Meu pai.
Nathan urrou de frustração agarrando o pingente, bravo com o Snape, com sua mãe, consigo mesmo. Ele puxou tanto que a corrente não agüentou, e Nathan olhou para ela por algum tempo antes de deixar seu braço cair ao lado do corpo estarrecido, encostando a cabeça na parede de pedra, e fechou os olhos. Sozinho.
Remo olhava para os jardins pela janela do seu escritório quando a porta abriu sem nenhum aviso, despertando-o de seus pensamentos.
– Remo, não consigo encontrá-lo. Ele não está na Torre da Grifinória, nem na biblioteca, e ninguém o viu. Os encantamentos localizadores não estão funcionando. Você tem que me ajudar!
Remo olhou para o Harry, quase não contendo o alívio ao vê-lo de volta da busca sem o menino. Não que ele não quisesse que Nathan fosse encontrado, queria apenas que ele fosse encontrado pela mãe.
– Vamos esperar pela Hermione – Remo disse como resposta. – Ela estará aqui a qualquer momento agora.
Harry olhou Remo nos olhos, numa imposição. Remo segurou os olhos do Harry, determinado e sábio. Harry levou uma mão para esfregar sua testa cicatrizada.
– Remo, ele precisa...
– Remo, onde ele está? – Hermione invadiu a sala, interrompendo-os, levando um tempo para notar a presença do outro bruxo na sala além do professor de Defesa Contra as Artes das Trevas. – Harry? – ela perguntou visivelmente surpresa. – O que você está fazendo aqui?
Remo interferiu antes que Harry pudesse responder. – Ele também estava lá, Hermione – disse intencionalmente.
Hermione levou apenas um momento para confusamente absorver a informação. Harry estava lá? – repetiu mentalmente, questionando-se. Ai meu Deus! Seus olhos se arregalaram quando finalmente percebeu o significado das palavras de Remo: Harry também havia descoberto. Seu choque lentamente deixava seu rosto. Os bruxos na sala permaneceram em silêncio, observando as muitas emoções que passavam pelo rosto de Hermione, até que se fixou para mostrar sua indignação. Ela olhou categoricamente na direção do Harry. – Eu pedi especificamente para você não interferir! Eu não acredito, Harry! – ela acusou seu melhor amigo, conhecendo-o bem o suficiente para deduzir parte do que acontecera naquela noite.
– Não venha me acusando, Hermione – Harry se defendeu num tom de voz bem mais baixo, mas ainda forte. – Dificilmente é culpa minha você ter escolhido esconder que Snape era o pai do Nathan – ele acrescentou, mostrando a aversão pelo homem nas palavras.
Hermione ofegou em descrença.
– Sim, é culpa sua! Eu tinha um motivo para segurar aquela informação, meu caro, mas você tinha só sua necessidade abelhuda de interferir em assuntos alheios!
– Eu pedi para você, Harry – ela continuou sua tirada de raiva, apontando um dedo acusador no peito do amigo. – Deveria ter sido suficiente para lhe dizer que isso não lhe dizia respeito. Estava tentando evitar essa, essa... – ela não tinha palavras para descrever a situação –, mas você não consegue escutar! Você nunca escuta! – Hermione declarou explosivamente, enfatizando cada palavra da sua última acusação com um cutucão.
Hermione ainda estava muito brava e perto do Harry quando ele argumentou: – Você deveria ter me contado. – Ele queria mostrar raiva com aquelas palavras, mas só conseguiu mostrar desapontamento. – Snape, Hermione. Nathan é... um Snape! – Harry estava visivelmente enojado.
Hermione ia retrucar calorosamente, mas sentindo a inquietude de Remo e lembrando que seu filho estava em algum lugar do castelo, precisando dela, desistiu, fechando os olhos e respirando fundo e de modo trêmulo. – Essa conversa não acabou, Harry Tiago Potter, mas agora não é a hora. Nathan é com quem estou preocupada nesse momento – ela disse em uma voz perigosa, olhando com raiva para o receptor do seu aviso.
Harry inquietou-se sob seu poderoso olhar penetrante até que Hermione quebrou a conexão de olhares e perguntou ao Remo:
– Onde está o meu filho?
– Nós ainda não sabemos. Ele passou por mim, correndo. Harry estava tentando encontrá-lo com encantamentos localizadores, mas eles não funcionaram. Eu não quis sair antes de você chegar.
– Vocês não sabem onde ele está? – Aquilo a preocupou ainda mais. – E os encantamentos localizadores não estão funcionando? – ela perguntou, um pouco do seu desespero voltando agora que sua mente estava focada no Nathan novamente. – Tem certeza?
– Pelo menos, nenhum que eu conheço. Parece que tem algo ou alguém agindo contra, bloqueando-os. Não acho que o Nathan saiba como levantar proteções contra encantamentos localizadores. Pelo menos, não todos eles – Harry supriu, aparentemente também focado de novo na tarefa de encontrar o afilhado. – Acho que teremos que encontrá-lo do jeito trouxa. Talvez os fantasmas possam ajudar.
– Bem pensado, Harry – Remo concordou. – Vou convocá-los.
Hermione assentiu uma vez mostrando que ouvia, franzindo a testa. Ela não achava que Nathan saberia como bloquear cada um dos encantamentos localizadores que Harry – um Auror – sabia. Hermione duelou com aquilo um pouco mais, mas finalmente mudou sua linha de raciocínio, concentrando-se em como encontrar Nathan sem os encantamentos, e foi então que ela se lembrou do final de semana anterior.
– Eu sei de uma maneira de encontrá-lo – revelou –, mas eu vou precisar da ajuda do Severo.
Harry fez moção de protestar, mas nada saiu da sua boca aberta depois do segundo olhar penetrante e mortal de aviso que recebeu de Hermione naquela noite.
– Se quer ajudar, cale a boca e comece a procurar pelo castelo. Se encontrá-lo, mande-me um Patrono – Hermione disse simplesmente e foi até a porta. Antes de deixar o escritório do Lupin, ela virou-se para ele e acrescentou: – Eu farei o mesmo.
Remo assentiu, aproximando-se de um Harry ainda enraivecido, mas calado.
Nathan descansou encostado na parede por um longo tempo, concentrando-se em respirar. Ele abriu os olhos, mas não se moveu. Olhava fixamente para o teto alto enquanto cedia aos pensamentos que enchiam sua mente confusa.
Ele moveu a cabeça para a direita, ainda encostando-a na parede de pedra. Havia prateleiras protegidas com vidros cristalinos, e ele podia distinguir as insígnias e os troféus brilhantes mantidos lá dentro. Olhou para um troféu em particular, mas não se importava realmente para quem ou por qual mérito ele fora concedido. Ele olhava, via, mas não se importava muito com nada.
Agora que o choque da revelação estava passando, ele sentia um torpor estranho. Era como se um peso oprimindo seu coração finalmente fosse levantado, e era deslumbrante e estranhamente triste.
Era tão obvio agora. Todos os sinais, todas as pistas que ele falhara em notar. O olhar estranho no rosto do Snape quando lhe dissera que não sabia quem era seu pai, o jeito como seu professor o olhava e tratava depois daquela noite, durante as detenções. Ele tentou se livrar de mim mais de uma vez – lembrou, fazendo uma careta com a dor que isso causava.
Nathan endireitou a cabeça e estava novamente encarando o teto da sala dos troféus. Ele sabia que eu estava procurando por ele. Levou os olhos para o seu colo, onde suas mãos entrelaçadas descansavam. Ele nunca quis que eu descobrisse. Seus olhos perderam o foco. Ele nunca me quis. Aquilo trouxe um sentimento desconfortável e pesado para seu peito. Nathan reviveu todas aquelas vezes que fora enxotado das masmorras sem nenhum motivo aparente, todas aquelas vezes que seu professor – não, pai – mostrou seu desgosto por ele pelo que parecia nada demais, mas que agora Nathan sabia porquê.
Ele sentiu um nó na garganta, mas não tinha forças ou vontade de chorar mais. Sim, era como se fosse um pesadelo e ele queria acordar, mas seus olhos já estavam abertos e não havia mais nada que ele pudesse fazer. Então ele olhou fixamente para suas mãos e trouxe os joelhos para mais perto do seu peito.
Uma saliência de forma curiosa no chão de pedra prendeu sua atenção enquanto ele se concentrava novamente em respirar. Por que ele não me contou? Poderiam ter tantas razões... Por que ela não me contou? A voz suplicante da sua mãe pedindo por compreensão soou em sua cabeça. Por que ela continuou dizendo que não podia me contar? Razões para aquilo, Nathan pensou, eram mais difíceis de encontrar. Nathan sempre achou que ela mantivera seu pai em segredo, longe dele, porque ele era perigoso de alguma forma. Essa idéia não caía bem com o que Hermione sempre lhe dissera sobre o Prof. Snape.
Nathan apertou os lábios, franzindo a testa, agarrando as vestes, arranhando os joelhos. Fechou os olhos, tentando controlar a onda de sentimentos, mas sua respiração ainda saía em sopros. Como ele poderia suportar tudo que eles fizeram para ele? Por que eles iriam querer me magoar assim? Sua mãe, seu pai; eles eram seus pais! Eles deveriam tomar conta dele. Deveriam amá-lo! O tecido preso em suas mãos era tudo que o prevenia de machucá-las. Ele tentou rasgar o tecido, mas estava muito fraco para conseguir fazer algo além de amassá-lo. Então ele olhou fixamente para suas mãos de nós esbranquiçados mais uma vez.
E olhar não era mais suficiente, então em frustração irada, Nathan levantou-se do canto e atravessou a sala, parando em frente a uma vitrine. A luz amarela das tochas iluminando a sala fez o prato à sua frente brilhar, e seu foco mudou. Agora ele olhava para si mesmo refletido no vidro.
– Estúpido! – Ele fez uma careta. – Você é tão estúpido! – urrou para si mesmo. Aborrecido, ele espalmou uma mão sobre seu reflexo.
Ainda frustrado, esmurrou o vidro, e o esmurrou novamente com mais força. Sentiu-se um pouco melhor, então continuou acertando o vidro.
Nathan ficou esgotado em sua raiva, derrubando alguns dos prêmios dentro das vitrines. Ele estava agora de joelhos, respirando com dificuldade.
– Estúpido – disse sussurro choroso. Nathan levantou os olhos, e algo brilhante chamou sua atenção. Ele choramingou, percebendo que era o colar. Reunindo todas as forças que lhe restavam, engatinhou até ele, agarrando-o e jogando-o para o mais longe que seus braços doloridos conseguiam jogar. – Eu odeio você!
Recolhendo-se naquele mesmo canto frio e duro, Nathan chorou mais uma vez, mas desta vez ele não viu a enxurrada de lágrimas secar; caiu num sono abençoado.
Hermione andava rapidamente pelos velhos corredores do castelo de Hogwarts, dirigindo-se para as masmorras. Ela estava certa que nada poderia bloquear qualquer encantamento que Severo colocara no colar do Nathan; eles o encontrariam bem rápido, eles tinham que encontrá-lo rápido.
Desde que a cabeça do Remo aparecera em sua lareira até que ela invadira o escritório dele, pensamentos de como isso fora acontecer e de como seu bebê estava se saindo fervilhavam na sua mente, implacáveis. Por mais que ela tivesse passado esse momento vezes e vezes na sua cabeça, nunca teria certeza. Seu coração queria acreditar que Nathan entenderia, que ele finalmente encontraria felicidade na resposta à pergunta feita por tanto tempo. Ela podia ter esperança; teria esperança.
Até que entrou no escritório de Remo. Lá, suas esperanças vacilaram um pouco pela presença do Harry, mas o que a atingiu com mais força foram as palavras do Remo, descrevendo como ele vira Nathan pela última vez: correndo, perdido. Ela precisava encontrá-lo, tinha que encontrá-lo, e o encontraria. E depois... depois o quê? Ela não sabia mais, mas Hermione sabia que seu lugar era aonde quer que seu filho estivesse.
Respirando forte, ela entrou no escritório de Severo. Não havia ninguém na sala. Ela entrou rapidamente, alcançando a porta escondida do laboratório, abrindo-a apenas para encontrar mais uma sala vazia. Os aposentos dele – pensou, virando nos calcanhares, determinada. Sim, notara a desordem dos frascos no fundo do escritório e ouvira o vidro estalando sob seus sapatos, mas aquilo apenas encaixava na imagem que se formava em sua mente sobre o desastre que acontecera ali hoje.
Os aposentos de Severo não eram longe dali. Severo... O que aconteceu aqui? Nathan e depois Harry, isso era um pesadelo! Ela bateu na porta e chamou:
– Severo! – Bateu novamente. – Severo, abra a porta! – A porta se abriu, e ela entrou antes de ser convidada, parando em frente à lareira. Ela ouviu novamente, o mesmo som de vidro sendo pisado vindo dos seus sapatos. Ela avaliou os arredores, notando o beiral da lareira vazio. Olhou de volta para o homem a estudando por entre a cortina de cabelos negros escorridos.
– Preciso...
– Como ele... – Severo falou ao mesmo tempo.
Ambos pararam de falar, esperando que o outro terminasse. Nenhum continuou. Severo assentiu, cedendo-lhe a vez de falar.
– Preciso da sua ajuda para encontrar o Nathan – ela disse, intrigada pelo cenário que encontrava na sala de estar do mestre de Poções, incluindo o próprio mestre. – Você pode chegar até ele por aquele colar, não pode?
Ele não respondeu de cara. Ela esperou pelas palavras dele, quase sem esconder seu desespero por elas. Tinha que encontrar o Nathan, mas precisava da ajuda dele, então ela esperou. Segundos, intoleráveis segundos.
– Severo? – solicitou com insistência.
– Não posso – ele finalmente respondeu, mas não elaborou.
Hermione o achou suspeitosamente... distante, impassível.
– Você não pode, ou não quer?
– Não posso – ele repetiu, os olhos negros brilhando furiosamente para ela. – Ele tirou o colar.
Não tão impassível – ela percebeu antes de desviar seus olhos dos dele e lamentar os atos de Nathan. Ela estava contando com o colar. Hermione virou-se, tirando o cabelo do rosto num movimento nervoso.
– Se isso é tudo, você pode sempre recorrer a encantamentos localizadores. Estou certo que sabe ao menos um. – A avidez dele para tirá-la dali não a surpreendeu, mas a irritação que isso fez surgir era difícil de ignorar.
– Os encantamentos localizadores não estão funcionando, é por isso que pensei que poderíamos usar o colar – ela explicou sucintamente, com suas costas ainda viradas para ele.
Ele ficou calado novamente. Hermione virou-se para ver a razão e encontrou-o perdido em pensamentos. Como que sentindo os olhos dela nele, Severo disse:
– Ele não quer ser encontrado.
Hermione nem lutou contra a vontade de revirar os olhos.
– Isso é bem óbvio, Severo, e também não é uma opção. – A ansiedade fez Hermione acrescentar maliciosamente: – Você vai me ajudar ou não? Porque se não vai, está me fazendo perder tempo, e eu realmente não quero perder mais tempo algum que poderia estar usando para encon...
– Espere aqui – ele disse com certa força na voz normalmente suave para sobrepor o tagarelar dela, e depois se retirou para outro cômodo dos aposentos.
Hermione não teve muito tempo para protestar. Severo logo estava de volta, vestido em seu casaco de lã preto. Ele passou por ela, dirigindo-se à saída. Ela não seguiu.
– Pensei que não queria perder tempo – ele destacou, despertando-a para segui-lo até o corredor das masmorras.
Quando ele andou a passos largos propositalmente em direção às escadas encantadas, ela disse:
– Pensei em começar a busca pelas masmorras.
– Ele não está aqui embaixo – ele disse simplesmente, sem diminuir o passo ou virar-se para ela.
– Ele pode estar aqui embaixo, e como já estamos aqui mesmo, deveríamos começar pelas masmorras – Hermione insistiu, esforçando-se para acompanhar Severo.
– Ele não está nas masmorras – ela assegurou novamente.
Hermione correu uns poucos passos para ficar na frente dele, levando uma mão ao peito dele para parar seu avanço.
– Acho que ele pode estar aqui embaixo. – Seus olhos eram pura determinação.
– Sim, porque alguém fugindo de mim iria obviamente se esconder nas masmorras – ele concordou sarcasticamente, com os olhos nos dela.
– Porque seria o último lugar onde você procuraria – ela devolveu, e um momento encarando depois, acrescentou –, e ele pode não estar correndo de você.
– Fique, se preferir – ele disse, removendo a mão dela do seu peito.
Ele estava quase no Saguão de Entrada quando ela suspirou e o seguiu. Hermione não sabia o que estava passando pela cabeça de Severo, assim como não sabia o que se passara ali mais cedo nesta noite. Alcançando-o, ela subiu o primeiro lance de escadas em silêncio, reunindo fôlego depois da corrida.
– Aonde você acha que ele está? – Hermione não era boba; ela percebeu que ele se dirigia para algum lugar específico.
– No sétimo andar – ele respondeu.
– Por que no sétimo andar? – ela perguntou, agora também curiosa com o palpite dele.
Ele parou de andar, irritado.
– Eu sempre o encontro lá quando está chateado. Agora, se você parasse de fazer perguntas irritantes, nós chegaríamos lá mais rápido. – Severo virou-se e recomeçou a andar.
– Você ainda terá que responder muitas das minhas perguntas irritantes, Severo. Não pense que vou me deter de fazê-las só porque me olha com o seu olhar assusta lufa-lufas.
Ele não respondeu.
– O que aconteceu hoje? – Hermione perguntou.
– O Potter aconteceu – ele rosnou.
Hermione andava perto de Severo. Quando ele não elaborou, ela insistiu:
– O que o Harry fez?
Nenhuma resposta.
– Severo, eu preciso saber o que aconteceu. Quando chegarmos até o Nathan, preciso estar preparada. – Ela viu os músculos flexionando enquanto a mandíbula dele trabalhava furiosamente.
– Ele veio aqui para me dizer como lidar com meus alunos, o moleque arrogante! Tenho feito isso a minha vida inteira e não preciso de um estorvo de um Potter para me dizer como devo educar meus alunos! – Severo mostrou os dentes e rosnou xingamentos baixinho.
– E ele lhe disse que não devia tratar o Nathan como o tratou. – Ela não estava perguntando. Hermione conhecia o Harry muito bem para duvidar que ele não tivesse dito isso.
Severo parou para olhar para ela novamente; os olhos eram chamas negras de fúria determinada. – Ele não pode me dizer como tratar o meu filho!
Hermione segurou o olhar dele, por mais difícil que parecesse.
– Não, ele não pode – ela concordou depois de um tempo. Era visível o quanto suas palavras o surpreenderam. – Harry não tinha o direito de interferir, eu concordo com você.
Severo voltou a caminhar, mais devagar agora, e ela achou mais fácil acompanhá-lo. – Então você simplesmente disse isso a ele. – Sua afirmação era uma pergunta; o silêncio dele, sua resposta. – E Nathan ouviu – ela lamentou, ainda olhando para ele. Ele baixou a cabeça apenas o suficiente para esconder o rosto.
Eles terminaram de subir o restante dos degraus em silêncio contemplativo. Hermione ligava os pedaços de informação e desenhava a visão maior do que aconteceu. Se Severo discutia com Harry quando admitiu sua paternidade, então Nathan descobrira da pior forma possível. Que desastre – lamentou consigo mesmo.
Eles andavam nos corredores do sétimo andar agora. Severo andava mais rápido novamente. Eles viraram num corredor, e ele diminuiu o passo, parando por completo em frente a uma janela grande. Ela não precisava de Legilimência para saber que aquele era o lugar que ele se dirigia. Mas Nathan não estava lá, e ela sentiu seu coração apertar-se mais. Onde você está, bebê? – pensou aflita.
– Nunca tive a intenção de deixá-lo saber, especialmente não assim – Severo quebrou o silêncio, ainda olhando pela janela para os jardins.
– Nós vamos encontrá-lo – ela se ouviu assegurando-o. – Onde mais você acha que ele pode estar?
Severo balançou a cabeça, as costas ainda para ela. Hermione aproximou-se da janela, parando ao lado dele. Ela nunca o vira assim. Não é que ela nunca tenha visto emoções nele, porque ela já tinha. Raiva, repugnância, irritação, indiferença, convencimento, mas nunca esse... desamparo? Pesar? Arrependimento? Ela não conseguia decifrar; mas seu impulso de fazê-lo sentir-se melhor ela conseguia.
– Tudo vai ficar bem. Nós o encontraremos e resolveremos as coisas – ela o assegurou novamente, colocando uma mão na dobra do braço cruzado dele. Ele trouxe o olhar dos jardins para a mão dela. Ela apertou o braço dele, reassegurando-o, e virou-se para continuar sua procura. Severo era quem a seguia agora.
Eles rondaram o andar e ainda nenhum sinal do Nathan. Eles desceram um andar, nada. Desceram outro andar, e Hermione se assustou com uma luz roxa brilhando atrás dela.
– O que foi aquilo? – ela questionou Severo, que tinha a varinha na mão.
– Ele ainda está bloqueando os encantamentos localizadores – ele respondeu franzindo a testa. – Você ensinou isso para ele?
Hermione balançou a cabeça.
– Ele aprende um monte de coisas sozinho, pelos livros – ela comentou. – Ele é um orgulhoso sabe-tudo – acrescentou com um sorriso apologético.
– Isso ele é – ele concordou.
– Mas eu não acho que ele esteja realmente lançando qualquer escudo ou proteção – ela continuou. – A magia pura dele sempre foi muito perceptível, e ele tem um temperamento forte.
– Sim, ele tem – Severo concordou de novo.
Um barulho vindo do final do corredor os deixou em alerta. Severo andou a passos largos na direção do som, varinha preparada. Hermione estava logo atrás dele. Perto de uma estátua, Severo parou e murmurou o que Hermione percebeu ser um encantamento. Dois meninos apareceram do nada.
– Sr. Henderson e Sr. Farner – Severo disse, encarando os meninos em tempo com os nomes. – Vinte pontos a menos para a Grifinória por perambular pelo castelo depois das nove – ele declarou. – E detenção – acrescentou.
Os meninos apenas suspiraram, baixando as cabeças e preparando-se para voltar para a Torre da Grifinória. Hermione os fez recuarem. – Vocês viram Nathan Granger, meu filho? – ela perguntou para eles.
– Não, não o vimos, Sra. Granger – o mais alto respondeu.
Hermione assentiu em compreensão, baixando os olhos.
– A senhora quer nossa ajuda para procurá-lo? – o mais baixo – Sr. Henderson, ela achou – ofereceu.
– Isso não será necessário. Já perambularam demais por esta noite. Agora, de volta para a sala comunal – Severo ordenou antes que Hermione pudesse sequer pensar sobre a oferta do menino.
Eles desapareceram rapidamente no outro corredor, dirigindo-se para as escadas de mármore.
Hermione suspirou.
– Aqueles cabeças-ocas atrapalhariam mais do que ajudariam – Severo disse, já a passos à frente dela.
Hermione não se deu ao trabalho de discutir. Ela ficava mais ansiosa e preocupada com cada corredor e sala que encontravam vazios ou habitados por alunos que não eram o Nathan.
– Onde você está, querido? – ela murmurou. Se Severo a ouviu, alguém tomaria o apertar de passo dele como uma resposta.
Outro andar completamente vasculhado e ainda nenhum sinal do Nathan. Estavam no quarto andar agora.
– Onde ele está? – Hermione perguntou nervosa. – Já estivemos em metade do castelo e nenhum sinal dele! Você acha que ele pode estar lá fora, na Floresta? Talvez eu deva mandar o Harry e o Remo lá, só por precaução. Se ele estiver machucado e não puder voltar, como da última vez... Não posso mais agüentar isso!
– Controle-se, mulher! – Severo chamou sua atenção. – Ele não está na Floresta. Nós temos três andares e as masmorras para procurar. – Ele sacou sua varinha e tentou o encantamento localizador novamente. A luz roxa brilhou e estabilizou-se numa flecha apontando para o andar de baixo.
Hermione passou por Severo, chamando:
– Nathan!
Severo suspirou aliviado e seguiu. Eles desceram mais um lance de escadas e agora entravam no terceiro andar. Dois corredores à frente, Severo abriu a porta para uma sala: a sala dos troféus. Mesmo que o encantamento localizador não tivesse apontado para esta sala, as tochas iluminando-a eram uma evidência suficiente da presença de alguém ali. As mesmas tochas fizeram um objeto no chão brilhar, e Severo foi até ele, mas Hermione estava absorta. Ela olhava em volta; a sala não era pequena.
– Eu o encontrei – Severo disse, alguns metros dali, olhando para a base de uma armadura. Hermione estava rapidamente ao lado dele, olhando na mesma direção. Ali, com a cabeça deitada de um lado, reclinado na parede, pernas encolhidas sob si, estava Nathan.
– Nathan! – Hermione disse, apressando-se para ir até ele. Severo a fez parar com uma pegada firme no seu braço. Ela olhou brava para ele.
– Você vai acordá-lo – ele disse. Ela lutou para se soltar, ignorando as palavras dele. – Ele não virá se estiver acordado – Severo insistiu. Hermione parou de lutar.
Severo a soltou e aproximou-se do menino no chão. Hermione observou como parecia fácil para ele pegar Nathan nos braços e carregá-lo. Severo arrumou cautelosamente Nathan em seus braços e o filho deles resmungou no sono, mas não acordou. Ela foi até eles e cuidadosamente moveu o braço do Nathan que estava debilmente pendurando para o peito dele.
– Onde? – Severo perguntou numa voz suave.
– Para os meus aposentos no quarto andar – Hermione sussurrou de volta. Ela sacou sua varinha e conjurou um Patrono, mandando-o para Harry e Remo com a mensagem de que eles haviam encontrado o Nathan. Severo olhou com desaprovação, mas não disse nada.
Hermione também não disse nada enquanto andavam pelos corredores e escadas que os separavam dos seus aposentos, e nem Severo disse alguma coisa, mas os pensamentos em sua mente a distraíam do som que ecoava dos sapatos deles no chão de pedra. Ela andava ao lado de Severo, olhando o rosto adormecido de Nathan e pensando sobre tudo que se passara naquele dia. Seu filho sabia o que ela mantivera em segredo por todos aqueles anos; sabia quem era o pai dele. Seria um alívio, se não fosse como as coisas aconteceram.
Nathan não deveria estar tão perturbado pela notícia, pelo menos na cabeça de Hermione. Ela sempre fora tão cuidadosa em dizer-lhe como Severo era, apontando as muitas qualidades e tentando explicar os muitos defeitos. Estava certa que Nathan achava Severo interessante e inteligente, admirável. Descobrir que o mestre de Poções era na verdade o pai dele não deveria ser tamanho desastre. Mas o cenário que encontrara hoje à noite lhe dizia o contrário. Será que ele vai me perdoar? – pensou, absorta na respiração compassada de Nathan, que soprava uma mecha do cabelo de Severo. Será que ele vai perdoar o Severo?
Ela foi trazida de volta de suas reflexões pela necessidade de entregar a senha que lhe deu acesso aos seus aposentos. Eles entraram, e ela avançou rapidamente para o quarto, puxando as cobertas da cama para que Severo pudesse colocar Nathan gentilmente nela. Hermione sentou-se nos pés da cama e cuidadosamente tirou os sapatos dele. Ela se levantou, desabotoou as vestes e desfez o nó já solto da gravata dele, removendo-a também. Queria tirar as vestes dele, mas não podia fazer isso sozinha.
– Severo – ela sussurrou. – Você pode segurá-lo sentado? Eu quero tirar as vestes dele – ela pediu.
Quando estava pronta, Hermione assentiu para Severo, que vagarosamente levantou Nathan para uma posição sentada. Ela tirou as vestes do filho como se ele fosse o seu bebê de quatro anos novamente. Quando Severo não o colocou de volta imediatamente, ela mudou sua atenção do Nathan para o homem que o segurava. Severo olhava para suas mãos segurando as mãos menores do filho deles juntas, com Nathan reclinado sobre ele, a cabeça descansando perto do queixo dele. Foi com pesar que ela interrompeu o momento:
– Terminei.
Severo colocou Nathan de volta no colchão calmamente, abaixando a cabeça dele cuidadosamente no travesseiro. Hermione cobriu seu menino e depois sentiu as proteções avisando-a que alguém estava na porta. Ela beijou a testa dele e deixou o quarto, deixando pai e filho sozinhos e fechando a porta atrás de si.
Hermione abriu a porta dos seus aposentos para Harry e Remo.
– Como ele está? – Harry perguntou assim que entrou na sala de estar.
– Ele está dormindo, como o encontramos. Ele está fisicamente bem. Nós saberemos mais de manhã – ela disse, sentando-se perto da lareira com um suspiro.
– Ele ficará bem, Hermione – Remo assegurou. – Ele é um menino esperto e forte; ele entenderá.
Hermione assentiu. Estava emocional e fisicamente cansada, agora que a adrenalina voltava aos níveis normais.
– Onde está o Snape? – Harry perguntou, afiado.
– Ele está com o Nathan – Hermione respondeu.
– O quê? – Harry se levantou da poltrona que acabara de ocupar para mover-se em direção ao quarto. Hermione trancou a porta em tempo de obstruir o avanço de Harry. – Abra a porta, Hermione – ele ordenou.
– Não, Harry – ela disse. – Você já interferiu demais.
– Você deixou o Nathan sozinho com o Snape! É Claro que eu vou interferir! – ele disse tudo muito alto.
– Não, não vai, e abaixe a voz! – Hermione sibilou.
– Harry – Remo disse com uma voz de advertência.
– Fique fora disso, Remo – ele avisou o lobisomem. – Hermione! – Harry estava indignado. – Abra a porta, ou eu vou... – Ele a encarava.
Ela fechou os olhos, cansada demais para passar um discurso no Harry. – Eu não vou abrir, e nem você vai. Estou cansada demais para discutir com você, Harry. – Ela deixou a poltrona e foi até ele. – Severo é o pai dele, e ele pode ficar com o Nathan quando quiser – acrescentou, tirando a mão dele da maçaneta com alguma dificuldade. – Vá para casa, Harry – ela pediu. – Podemos conversar quando não estiver tão cansada para infernizá-lo. – Ela o encarou.
– Hermione, você não pode deixar o Snape lá dentro...
– Agora não, Harry – ela ergueu a voz para interrompê-lo. – Vá para casa.
– Venha, Harry. – Remo o puxou.
– Isso não está certo, Hermione – ele disse antes de sair com Remo. Ela suspirou quando a porta se fechou.
Sacando sua varinha mais uma vez, ela destrancou a porta do quarto e entrou silenciosamente, para não perturbar o sono do menino dormindo. A cena que seus olhos encontraram lhe tirou o fôlego e fez sua esperança ressurgir no seu peito. Severo estava sentado no canto da cama, olhando para o rosto do Nathan, com uma mão na cabeça do filho, traçando formas confortantes com o dedão na testa do menino. Na outra mão, ele tinha o colar pressionado ao peito do Nathan e estava obviamente sentindo as batidas do coração dele. Severo não notou a entrada dela. Ela aproximou-se do par vagarosamente, mas despertou Severo assim mesmo, que tirou suas mãos de Nathan e colocou o colar no criado mudo.
– Vou deixá-lo com você – ele disse, obviamente sentindo-se estranho com quão descuidado ela o encontrara.
Hermione tomou as mãos dele nas suas e, olhando nos olhos dele, disse:
– Tudo vai ficar bem. – E ela quis dizer cada palavra, na sua esperança renovada no futuro deles. – Ele vai nos perdoar.
Severo deslizou as mãos das suas e assentiu. Ele baixou a cabeça e tinha a mão na maçaneta da porta para sair quando Hermione disse:
– Feliz Aniversário, Severo. – Ele saiu sem deixar uma palavra ou um olhar para trás, e Hermione não esperava que ele agisse de forma diferente. Ela tomou o lugar dele no canto da cama e observou o subir e descer do peito do Nathan. – Você foi o presente dele – ela murmurou –, e ele aceitou. – Ela sorriu. – Tudo vai ficar bem.
A/N: Sim, as coisas estão complicadas para alguns, mas aparentemente melhores para outros. E você? Como você se sente? Quero saber; deixe um review. :0)
Quero agradecer minha beta BastetAzazis, mas também as outras pessoas que colaboram com essa fic: Mi_Granger, Snarkyroxy e GinnyW. Muito obrigada. :0)
No próximo capítulo… Nathan acorda e enfrenta seus pais.
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