Uma Nova Perspectiva
DISCLAIMER: Não é meu! É tudo da J. K. Rowling.
BETA READER: BastetAzazis – muito obrigada!
N.A.: Capítulo vinte e seis! Severo e Hermione trabalham juntos, e Nathan descobre uma maneira de ser ouvido.
Capítulo 26: Uma Nova Perspectiva
Nathan observara sua mãe entrar, sem realmente dar muita atenção ao homem que a seguira. Sua mãe viera, e embora ele quisesse evitar este momento desde que percebera o quanto estava encrencado, agora que ela estava ali, Nathan se sentiu apenas triste por não poder abraçá-la apertado.
Ela chorara silenciosamente, e ele chorara com ela. Ela deixara a mão deslizar sobre a testa de sua forma dormente, e ele tentara tocá-la de volta, confortá-la, mas ficou apenas imensamente frustrado no processo, derramando lágrimas furiosas. Ela se sentara ao lado da cama e encarara seu corpo, e ele ficara ao lado da cadeira dela, assistindo com tristeza.
O remorso comia sua pequena alma brilhante, e ele tentara em vão executar o contra-feitiço pela enésima vez, sem resultados.
Sua mãe estivera tão quieta que o assustou quando se levantou repentinamente e beijou sua testa corpórea antes de afagar os cabelos negros.
— Nós vamos descobrir o que está errado. Seu pai pode ser tudo, mas ninguém pode negar que ele é um homem muito inteligente que conhece muito sobre maldições. Ele me ajudará a encontrar uma cura, não se preocupe.
— Eu sei, Mãe.
— Eu vou atrás de alguns livros — ela continuou a lhe dizer numa voz suave e tranqüilizadora —, mas vou voltar para vê-lo mais tarde. — Ela inclinou-se para beijá-lo entre as sobrancelhas e depois a bochecha dele. — Feliz aniversário, querido.
Ela enxugou uma lágrima teimosa, e Nathan observou-a sair com seus olhos tristonhos e translúcidos. — Sinto muito mesmo, Mãe. — A energia pesarosa não podia ser contida e vazou pelo seu rosto – suas próprias lágrimas. Ele nunca mais tentaria um encantamento em si mesmo, e jamais iria querer saber de mais nada sobre as Artes das Trevas enquanto vivesse. Era uma promessa que manteria. Ele queria tanto voltar para o seu corpo. Se ao menos pudesse voltar no tempo e nunca executar aquele encantamento estúpido.
Mas o tempo não voltava. Ao invés disso, um tempo infinito passou, ou assim pareceu para o Nathan. Madame Pomfrey viera visitá-lo antes e depois do almoço; nada mudara. Sua mãe não voltara ainda, e nem o Prof. Snape.
Ele não sabia por que ficara com seu corpo quando sua mãe deixara a ala hospitalar. Sentar no chão ao lado da cama era melancólico. Não havia nada que pudesse fazer ali, e deveria haver algo que ele pudesse fazer além de olhar fixamente para o papel de parede verde da enfermaria em penúria. Ele enlouqueceria de ficar esperando pelo que achava que não viria.
Ele precisava sair da ala hospitalar, testar seus limites. Se sentisse algo de diferente com a distância, poderia sempre voltar e permanecer perto do seu corpo para o resto desta meia existência. A possibilidade doía e ele tinha que tentar; tinha que sair – agora.
Então ele o fez, e decidiu ir para a biblioteca, e para lá ele foi sem sentir nada que o teria feito parar. Examinando o salão, encontrou a razão da sua necessidade de estar ali: sua mãe.
A cabeça de Hermione estava em gritante desordem de tão estressada que estava. Ela precisava se acalmar e ser capaz de completar um raciocínio. Fazia tempo que ela não se sentia assim: doente de preocupação.
O que ela precisava era se focar. O Nathan precisava dela. Ele estava tão pálido que poderia se misturar aos fantasmas. Ela nunca o vira tão desamparado, e aquilo deixava ela desamparada. Ele não estava preparado; ela não o preparara para a vida no mundo bruxo. Estava falhando com seu filho.
Hermione presumira que ele estaria seguro no castelo, que nada além de azarações infantis, geralmente trocadas entre os alunos de Hogwarts, o mandariam para a ala hospitalar e fazê-la ser convocada pela Diretora. Voldemort estava morto, seus seguidores estavam mortos ou presos; não houvera nenhuma razão para se preocupar!
Errado, errado e errado, Hermione! — ela zombou de si mesma, brava.
Mas ele deveria estar sob vigilância – Severo deveria estar cuidando dele. Ele tinha até desenvolvido aquele colar problemático, pelo amor de Deus! Onde ele estava quando o filho que ele dizia que estava vigiando e protegendo era atacado por Deus sabe quem? Dentro do castelo, para piorar!
Hermione fechou os olhos, tentando ser calma e racional. Ela sabia que não era culpa do Severo; a culpa maior era sua. Severo não sabia como ser pai, então ela não tinha o direito de acusá-lo com base nisso.
Então por que ela o acusava?
Porque ele estava aqui e tinha a obrigação de saber o que estava acontecendo!
Hermione suspirou. Esta linha de pensamento não a levava a lugar algum. O que ela precisava era limpar a mente para que pudesse focar em encontrar uma cura para seu bebê.
Respirando fundo, ela voltou para o livro que estivera estudando, clicando a caneta trouxa para tomar notas de qualquer informação com o mínimo de importância para ajudar o Nathan. Era o quarto que ela lia sobre o assunto. Encantamentos do Sono... por que havia tantos deles? Isso não deveria ter acontecido...
Ele deveria ter ficado de olho em você, querido.
Nathan se aproximou da mãe, ignorando todos os outros ocupantes do salão. Ela tinha o rosto sobre um livro enorme e de aparência antiga, a caneta na mão, tomando notas sobre o que quer que estivesse lendo. Ele parou perto dela, tentando ler o que ela estudava. Era sobre doenças do sono causadas por mágica.
Nathan suspirou. — Você deveria estar estudando Magia da Alma, Mãe! — Um medo de que ela nunca descobriria o que estava realmente de errado com ele voltou pesado em seu peito etéreo, deixando-o afundado numa cadeira ao lado dela. A desesperança parecia rendê-lo imóvel, sem vontade de renunciar à companhia silenciosa dela, então permaneceu ali, fazendo de tudo para não pensar.
Mais uma vez, o tempo se recusou a andar para trás, e enquanto ele passava, Nathan ficou entediado observando o movimento de alunos na biblioteca e da sua mãe tomando notas. Toda a força necessária para manter a mente vazia se provava inútil, e um pensamento singular não o deixava em paz. Ela estava perdendo o tempo dela – o deles – e ele não conseguia encontrar uma maneira de dizer-lhe isso.
Ele tentou mover a borracha na mesa, mas seus dedos não tão sólidos continuavam passando através dela sem o menor distúrbio. Ele olhou fixamente para o objeto ofensor e se assustou quando a mãe fechou o livro que estivera estudando e começou a juntar as coisas. Ao menos eles estavam deixando a pesquisa inútil para trás.
Nathan a seguiu pelos corredores do castelo de Hogwarts, sem estar pronto para largar dela ainda.
Ela não tentaria negar que o tempo que levara para chegar ao final do último livro selecionado vinha bem a calhar com a sua agenda. As aulas tinham acabado pelo menos há uns quinze minutos, então ela podia ir direto para as masmorras para discutir suas descobertas com o Severo. Quando finalmente conseguira manter a irritação irracional com ele fora do caminho, ela pesquisara sobre feitiços do sono tanto quanto o humanamente possível em uma tarde.
Os alunos, retratos e o que mais cruzou o seu caminho até o núcleo do castelo passaram despercebidos. Ansiosa para repassar as implicações de seus achados e logo provar algum deles correto, Hermione parou apenas para abrir a porta do escritório do Severo, sem nem se lembrar de bater antes.
— Eu listei algumas maldições–
O homem curvado sobre os livros na mesa ergueu uma mão, interrompendo o discurso com êxito, mas não o avanço dela pela sala. Ele terminou de ler e tomar notas num pedaço de pergaminho, e naquele meio tempo ela já estava junto a ele. Quando ele finalmente olhou para cima, ela enfiou a lista cuidadosamente compilada na frente dele.
— Essas são as azarações que eu listei. Estou indo para a ala hospitalar para fazer alguns testes, mas queria verificar com você antes. Pensei que talvez tivesse algo a acrescentar ou que quisesse estar lá para ver os resultados. Eu não achei nada específico sobre os possíveis efeitos colaterais que os testes possam causar, embora eu não veja por que haveria algum. De qualquer forma...
Ela fez uma pausa para respirar antes de dizer tudo aquilo num fôlego só. Quando ia continuar com as explicações de suas suspeitas para cada um dos encantamentos listados, ela segurou a língua, observando-o passar os olhos rapidamente pela lista de maldições e azarações, e até mesmo marcar o papel naquela tinta verde horrível como se fosse mais umas das redações dos alunos dele.
— Eu testei a maioria deles. Não é nenhum — ele disse secamente, voltando para as anotações dele. — Você pode testar os outros que eu marquei, mas eu não acho que vá haver qualquer resposta positiva.
Você fez o quê?
A irritação que Hermione trabalhara diligentemente para moderar estava de volta num piscar de olhos.
— Quando você testou? Você não tinha aulas a tarde toda? — Ela não seria capaz de se segurar nem se quisesse, e neste momento, ela não se importava nem um pouco. — Você sequer pensou que eu talvez quisesse estar lá para algum ou todos esses testes?
Ela olhou brava para ele, notando com agressividade crescente que isso não tinha efeito nenhum no homem enfurecedor.
— Você sabe como faz me sentir estúpida toda vez que me faz descartar uma tarde inteira de trabalho? — ela acusou, abanando a lista agora inútil em sua mão. — Nós dois estamos chegando à mesma lista de maldições! Se eu soubesse que alguém estaria me ajudando com a pesquisa, como você sabia muito bem, eu teria a decência de deixar a pessoa saber quais livros que eu estaria olhando antes ou pediria que a pessoa se juntasse a mim na pesquisa! Nós estamos nisso juntos, pelo amor de Deus! Nós dois somos pais dele!
Seu tom da voz aumentara conforme a tirada era despejada. A raiva de Hermione cresceu a um nível que não atingira há um bom tempo, e Severo sequer tinha a decência de olhar para ela enquanto ela falava.
— Severo! — ela chamou.
O mais inacreditavelmente exasperador de todos os bruxos continuou a mover a pena sobre o pergaminho como se não houvesse ninguém ali, muito menos gritando com ele. Ela fechou as mãos em punhos, amassando o canto do papel que ela segurava e sentindo vontade de bater nele por tamanho desdém. Ela se inclinou rapidamente sobre a mesa que o protegia e... e... arrancou a pena da mão dele como um prêmio de consolação.
— Estou falando com você! — ela sibilou.
— Mas que maduro — foi tudo que ele disse, pegando outra pena do pote na mesa e mergulhando na tinta verde escuro. — Estou tentando acrescentar o máximo de detalhe às observações que fiz em cada teste, então se puder conter a histeria enquanto recordo, eu apreciaria muito.
Ah, ela acertaria aquele narigão e o faria engolir o que falou, tamanha era a sua raiva! Só que...
Ela precisava saber o que ele descobrira sobre o que afligia o filho deles tanto quanto precisava de ar. Hermione tentou encontrar a força que a vinha empurrando desde que Severo a encontrara na universidade, e não estava mais lá. Fraca e derrotada, ela deixou o corpo cair pesadamente na cadeira desconfortável logo atrás dela, escondendo o rosto nas mãos.
Meu Deus, como eu sou patética!
Nathan observava a cena se desenrolar diante dele com apreensão. Ele estava certo de que sua mãe iria explodir se ela não fizesse alguma coisa para dissipar a raiva rapidamente. Nathan vira a mãe brava em muitas ocasiões e sabia que ela alcançara o nível mais alto que já vira na vida. Ele nunca a forçaria para além daquele estágio de raiva.
Ele olhou para o seu pai; o homem agiu como se ele não tivesse sido interrompido, ignorando-a completamente. O desdém que ele mostrou pela aflição de sua mãe começava a irritar o Nathan cada vez mais. Seu descontentamento com o Prof. Snape aumentou quando sua mãe caiu pesadamente numa cadeira em frente à mesa e segurou a cabeça nas mãos, com os cotovelos nos joelhos. Nathan até levou uma mão para tocar o cabelo volumoso dela, mas recuou ao lembrar que era incapaz de confortá-la pelo toque ou qualquer outro meio.
— Olhe o que você fez! — ele disse ao homem, mesmo sabendo que não podia ser ouvido. — Por que você tem que ser um idiota o tempo todo?
— Só... não faça isso de novo — sua mãe disse para as mãos. Nathan continuou a olhar feio para o Prof. Snape.
Por mais improvável que pudesse parecer, aquelas poucas palavras suaves de sua mãe, depois de toda a gritaria, ganharam a atenção do Prof. Snape. Nathan viu quando ele parou de escrever e levantou os olhos, observando-a atentamente. A expressão dele era aquela que Nathan normalmente via naquelas feições severas: impassível e exasperadamente vazia. O que fez a desaprovação de Nathan com a atitude do homem se abater um pouco foi o tempo que ele ficou olhando fixamente para a sua mãe, como se contemplasse algo muito sério e importante sobre ela. O suspiro dramático do Prof. Snape chamou a atenção de sua mãe, fazendo-a olhar para ele; os olhares deles se encontraram.
— O que você sugere, então? Que eu pare de tentar encontrar uma cura porque interfere com o seu planejamento?
Sua mãe se reclinou na cadeira, jogando uma mão no ar.
— Faça como quiser — ela disse. — Eu só não quero mais perder tempo com pesquisa inútil. Só não faça isso de novo.
— Eu vou descobrir o que há de errado com o Nathan.
A maneira como seu pai disse aquilo, pontuado com seu primeiro nome, fez o restante da raiva de Nathan dissipar – seu pai estava realmente tentando ajudá-lo. Sua mãe ainda segurava o olhar do Prof. Snape, como se eles pudessem comunicar mais através daquela conexão que com palavras. O que quer que eles tenham transmitido um para o outro, eles pareciam ter chegado a um acordo qualquer. Sua mãe fechou os olhos e suspirou.
— Conte o que aprendeu com os testes — ela pediu.
— Não é uma maldição do sono — seu pai disse a ela.
Com a interação anterior – os gritos, as palavras ásperas – esquecida, eles começaram a conversar sobre as informações que os testes do Prof. Snape revelaram. Nathan ouviu por um tempo, com sua esperança renovada depois da declaração do seu pai, mas logo sua atenção se dispersou, antes que sua frustração ao assistir dois adultos brilhantes brigando com mais teorias erradas o levasse além do limite da sua sanidade fracamente mantida.
Ele inspecionou os frascos nas prateleiras – alguns contendo coisas flutuando que ele conseguia reconhecer, outros mais desafiadores. Nathan ainda ouvia o que seus pais discutiam à mesa, mas tentou não pensar no que ouvia, preferindo a distração dos frascos e seus conteúdos.
Independente da distração, sua mente se desviaria e tentaria encontrar maneiras de terminar este tormento. Ele tentou reverter o encantamento mais de uma dúzia de vezes sem sucesso, antes de desistir novamente. Se ao menos ele pudesse dizer ao casal à mesa o que acontecera, onde o livro certo poderia ser encontrado...
Um arranhar de pedra na madeira, seguido da voz de seu pai, quebrou a concentração de Nathan.
— Preciso comparecer ao Salão Principal para o jantar — o professor reclamou, depois acrescentou num grunhido: — Baderneiros estúpidos.
— Eu vou mudar para o laboratório — sua mãe disse em resposta, levantando-se também e juntando as coisas dela.
Nathan aproximou-se da mesa para ouvir melhor os pais.
— Você deveria vir comigo. — O Prof. Snape franzia a testa para ela, mas ela não pareceu notar.
— Prometo que não vou brincar com os seus brinquedos enquanto estiver fora — ela o assegurou, ajustando os livros e papéis nos braços antes de levantar os olhos para ele.
— Você dará menos trabalho se estiver alimentada.
Aquilo foi um insulto, certo? Nathan podia jurar que era, mas sua mãe olhava para o Prof. Snape com aquela expressão que ela usava quando ele fazia alguma coisa que ela achava encantador; uma expressão que era quase sempre seguida por um beijo molhado na bochecha e uma passada de mão na cabeça. Aquilo fez Nathan parar e pensar. Será que sua mãe tentaria beijar o Prof. Snape na bochecha? Bom, não era incomum as mães beijarem os pais no rosto; ele vira mães de amigos seus beijando os pais deles na bochecha mais de uma vez...
— Eu pedirei alguma coisa da cozinha, não se preocupe — ela respondeu, tentando sorrir. O brilho nos olhos dela era quase genuíno, Nathan notou. O Prof. Snape a insultara e aquilo a deixou feliz? Ele nunca entenderia os adultos.
A carranca do Prof. Snape se aprofundou antes dele assentir com a cabeça e sair do escritório sem olhar para trás. Nathan e sua mãe observaram-no sair. Nathan seguiu sua mãe com o olhar quando ela finalmente se retirou para o laboratório. Pensou por um segundo e decidiu que o Salão Principal seria menos entediante que uma hora ou mais olhando sua mãe ler.
Ele atravessou a porta trotando, os olhos apertados, e seguiu os passos do seu pai pelos corredores escuros das masmorras.
— O Nathan ainda está dormindo, então? — perguntou Jose.
— Sim — Kevin confirmou para ela e Anna, que levantara os olhos quando ele se aproximou da mesa com o Andy.
Jose pareceu triste com a notícia.
Nenhum deles estava ciente do companheiro invisível enquanto falavam sobre os acontecimentos do dia. Nathan encontrara os amigos no caminho para o Salão Principal e agora ouvia com atenção, parado em pé bem atrás de Kevin e Andy na mesa da Grifinória.
— O que você acha que aconteceu com ele? — Jose perguntou. — Eles sabem?
— Eu pensei que o Prof. Lupin já teria descoberto, mas depois de uma tarde interrogando a Casa toda por nada, eu não tenho tanta certeza. Teve uma hora que eu achei que as perguntas não iam acabar nunca — Anna confessou.
— Elas acabaram, só que ele voltou para as mesmas perguntas de novo e de novo — Andy disse.
— Então eles ainda não sabem... — concluiu Jose.
— Talvez ele ache que vocês estão escondendo alguma coisa — Anna acusou. — O que vocês estavam fazendo ontem à noite, afinal?
Andy estava prestes a dizer algo quando Kevin o cutucou com o cotovelo.
— Isso não é da sua conta.
Andy esfregou o lado das costelas, olhando feio para o Kevin, antes de dizer:
— Não, não estamos escondendo nada, Anna.
Eles estavam, como Nathan sabia muito bem; eles escondiam o livro – bem o que ajudaria seus pais e o Prof. Lupin a consertar as coisas.
— Vocês deveriam entregar o livro para o Prof. Lupin — ele disse a eles, sabendo que não podiam ouvi-lo, mas nem se importando.
— Nós não sabemos o que aconteceu, ou teríamos dito ao Prof. Lupin — Kevin acrescentou, e aquilo Nathan sabia que era verdade.
— Talvez o Snape esteja por trás disso. Ele poderia ter amaldiçoado o Nathan — Anna conspirou, cuidadosa para não ser ouvida por mais ninguém. — Se ele estivesse preocupado, vocês não acham que ele preferiria estar com o Nathan do que aparecer para o jantar? Ele não deveria estar preocupado? — ela perguntou, desviando todos os olhares para a Mesa Principal. — O Prof. Lupin está ausente.
— Coitado do Nathan... — Jose lamentou.
— O Prof. Snape não tem nada a ver com isso. O Nathan não ia gostar se ouvir vocês dizendo isso. — Nathan ficou grato por Andy ter desdito a acusação. O único que podia ser culpado era ele mesmo.
Ninguém comentou mais nada, mas Nathan não se enganou com a dúvida evidente nas expressões das meninas antes de se voltarem para as refeições. Kevin fez o mesmo; só que a fisionomia dela não mostrava a dúvida que Nathan viu nos rostos das meninas. Andy olhou para o professor por mais um tempo antes de voltar a comer calmamente.
Nathan se sentiu muito cansado de repente. O dia pareceu ter durado uma semana, e ele podia apenas imaginar como seria uma semana disso. Suspirou e fechou os olhos, e quando os abriu, foi para encontrar um menino correndo em rota de colisão com ele. Instintivamente, deu um passo para mais perto da mesa, esticando o braço para algum apoio, mas não encontrando nada que fosse sólido para ajudá-lo. Olhou para baixo e viu com olhos arregalados que sua mão tinha atravessado o ombro do Andy. Tirou a mão rapidamente.
Andy estremeceu com o toque imaterial, ou foi imaginação do Nathan?
— Aquilo foi um fantasma? — o menino perguntou ao Kevin.
— Não, foi o Aston. Ele já está perdendo pontos por correr. — Kevin estalou a língua.
Nathan esticou a mão para tocar o amigo novamente, agora de propósito, e observou-o tremer. Andy olhou por cima do ombro onde ele estava. Se seu amigo podia sentir aquilo...
— Acho que era um fantasma — Andy insistiu, confirmando as suspeitas do Nathan de que ele sentira algo.
Kevin deu de ombros, mas Nathan só podia sorrir. Andy sentira seu toque! Inadvertidamente, Nathan repetiu o ato e riu quando Andy estremeceu e deixou o garfo cair, olhando de um lado para o outro, procurando pela fonte do desconforto.
— Estou bem atrás de você — Nathan disse, sorrindo, pelo que não teve nenhuma resposta.
Bem, mesmo que eles pudessem sentir sua presença, ainda não podiam ouvi-lo. Mas mesmo assim! Nathan tentou tocar o Kevin da mesma forma que fez com o Andy, mas não pareceu funcionar.
Hmm, interessante — pensou.
Ele tocou Andy de novo. Desta vez o amigo se levantou rapidamente, girando no lugar, pronto para repreender quem ou o que ele achava que estava causando os calafrios.
Nathan riu dele, mas era mais por felicidade com a descoberta que pela situação em que o amigo se encontrava. Tinha vontade de abraçá-lo. Isso era um avanço e tanto!
— Nick! — Andy disse, e Nathan girou nos calcanhares translúcidos para ver o que seu amigo estava olhando. — Estou tentando jantar!
— Por obséquio? — Nick-Quase-Sem-Cabeça perguntou.
Nathan sorriu com malícia. Andy pensou que o culpado era o fantasma! Ele tocou o ombro do Andy só para deixar claro. Andy estremeceu, rosnando enquanto o tremor corria pela espinha.
— Não tem graça! — seu amigo protestou.
Nathan olhou em volta. Havia alguns alunos encarando. Talvez ele pudesse chamar a atenção dos professores; talvez seu pai notasse e entenderia o que estava acontecendo com o Andy; talvez ele encontrasse uma maneira de se comunicar!
Ele usou as duas mãos para tocar Andy dessa vez, esperando que fosse causar uma reação mais forte.
E causou. Andy deu um pulo para frente.
— Pare com isso! — Andy olhou feio para o Nick. — Eu achei que vocês fantasmas não fizessem isso!
O fantasma se aproximou e disse:
— Não tem nenhum fantasma perturbando você, menino. Talvez devesse pedir para o seu amigo adormecido ali parar de pregar peças em você.
Nick olhou feio para o Nathan, cujos olhos se arregalaram.
— Você pode me ver! — exclamou.
— Claro que posso. Agora pare de tocar os despertos — o fantasma reprimiu.
— Você pode me ouvir também! — Os olhos do Nathan não podiam se arregalar mais.
— Com quem você está falando? — Andy perguntou.
— Não será mais incomodado, menino. Deveria aproveitar a comida enquanto ainda pode. — Os olhos do Nick se demoraram no prato de comida do Andy, depois o fantasma saiu flutuando, murmurando algo sobre almôndegas.
Nathan deixou o amigo confuso e praticamente correu atrás do fantasma da Grifinória, gritando:
— Espere! Espere, Nick!
Depois de procurar pelo primeiro e segundo andares, Nathan estava desacorçoado. Onde estavam todos os fantasmas do castelo quando se precisava deles? Agora que ele sabia que eles podiam ver e falar com ele, não tinha nenhum por perto.
Encontrou alguns fantasmas durante a perambulação, mas assim que o viam, fugiam. Já era bem depois das nove horas quando Nathan andava pelas masmorras e viu um brilho alumiar depois da curva do corredor. Sorriu quando notou que o fantasma não fugiu quando ele se aproximou.
Mas assim que reconheceu quem era o fantasma, o sorriso do Nathan se desfez. Ele encarou a figura flutuando há apenas alguns metros dele enquanto decidia como abordá-lo. Ele não pode lhe machucar. Não tenha medo. Você é um grifinório — disse a si mesmo, mentalmente.
— O quê? — perguntou a figura intimidadora, assustando Nathan, que não achou que o fantasma o vira ali...
— Eu... — ele começou, erguendo a cabeça para ajustar ao fantasma alto que se aproximava.
— Você não é um sonserino — o fantasma supôs. — O que você quer aqui?
— Preciso da sua ajuda, Barão, senhor. Preciso que fale com o Prof. Snape. — A voz do Nathan não era das mais firmes, mas saiu estável suficiente.
— Que assuntos teria um grifinório a tratar com o Diretor da Sonserina? — o fantasma desconfiado perguntou, estreitando os olhos.
Nathan não sabia como o Barão descobrira que ele era um grifinório. Este fantasma era decididamente de arrepiar, e Nathan queria que a conversa se mantivesse mínima.
— Eu sou filho do Prof. Snape, Barão, senhor — respondeu sem preâmbulos. — Estou sem corpo e ele não consegue me ouvir e nem me ver. Preciso da ajuda dele para desfazer o encantamento que fez isso comigo. O senhor falaria com ele por mim, Barão?
O silêncio que se seguiu foi a coisa mais sinistra que Nathan jamais experimentou. Sua alma estremeceu, desafiando a falta de corpo, quando o fantasma ensangüentado se aproximou ainda mais, como se ele tentasse sentir o Nathan pelo cheiro.
— Siga-me — o Barão disse, flutuando rapidamente por uma parede.
Nathan odiava, mas o seguiu através da parede, e muitos outros objetos ele teve que transpassar antes deles chegarem ao centro da sala de estar do seu pai. Estava mais escuro que o normal com apenas as chamas que morriam na lareira para iluminá-la. Olhou em volta, mas seu pai não estava ali.
— Ele está dormindo — veio o suspiro áspero do fantasma saindo de uma parede que Nathan não o vira atravessar até então.
Nathan abriu a boca para perguntar se havia alguma maneira de acordar o professor, mas o fantasma já tinha saído flutuando, deixando os aposentos do seu pai. Nathan só podia olhar fixamente para o ponto na parede que o fantasma escolheu atravessar.
— Ele sabia que eu precisava dele — disse, e achou que soava desesperado até para os seus próprios ouvidos etéreos.
— Nathan?
Ao som de outra voz – daquela voz grave – chamando seu nome, Nathan girou no lugar numa velocidade que o teria feito perder o equilíbrio se não fosse por sua falta de massa. Ali, diante do seu rosto pasmo, estava, tão transparente quanto ele, a alma do seu pai.
Como podia ser? Nathan não sabia, e ele não estava em condições de raciocinar além da pergunta.
— Graças a Merlin, é você — a alma do seu pai deixou escapar num tom suave que Nathan nunca ouvira do homem antes.
O Prof. Snape estava vendo e falando com ele, e aquilo era tudo que ele desejara desde que toda aquela confusão começara. O alívio de finalmente completar a busca que começou quando o Nick-Quase-Sem-Cabeça falara com ele era desarmador, mas não era nada comparado à energia vibrante emanando do seu pai, que cruzava a sala em sua direção, e apenas intensificou-se quando o Prof. Snape segurou sua cabeçinha com mãos longas. A luz emanando dos olhos normalmente tão negros capturou toda a atenção do Nathan, e ele se deixou ser completamente inspecionado.
— Onde você estava?
Nathan por pouco nem registrara as palavras, de tão baixa que fora a pergunta.
— Eu... — ele tentou responder, mas era difícil formar algo coerente quando envolto por sentimentos tão fortes. Ansiedade, alívio, contentamento, e algo afetuoso que não conseguia identificar pareciam dançar nele, e Nathan estava quase certo de que as emoções que sentia não eram totalmente de si mesmo.
— Você me deixou preocupado — seu pai continuou. — Não pode simplesmente deixar seu corpo e não voltar desse jeito, rapazinho!
Mesmo o tom mais áspero da última declaração não era nada comparado às demonstrações usuais de desagrado do Prof. Snape. Era, entretanto, o suficiente para a energia inebriante dissipar um pouco, deixando Nathan com uma sensação de perda que não conseguia entender direito.
— Eu quero voltar — finalmente conseguiu responder. — Tentei — acrescentou —, muitas e muitas vezes, professor. — Nathan teve vontade de chorar, a habilidade de absorver aquelas ondas de sentimentos estranhos combinados com seus próprios era mais do que ele podia agüentar.
Aquilo deve ter transparecido em seu rosto brilhante. Uma das mãos descansando em seus ombros veio deslizar em seus cabelos finos da mesma forma confortadora que ele a vira fazer na cabeça de seu corpo naquela manhã quando ninguém estava olhando.
— Explique-se, Nathan.
Fechou os olhos.
— É um feitiço — começou após o pedido do pai. — Eu lancei em mim mesmo, e agora não consigo lançar o contra-feitiço, e estou trancado para fora do meu corpo, mas quero voltar, só não sei como, e eu segui todas as instruções, eu fiz tudo certo, e ainda assim não funcionou, e eu não sei o que fazer–
— Shhh. — Seu pai interrompeu sua explicação desconexa, trazendo a cabeça do Nathan para pressionar contra o peito dele. Nathan ficou silencioso como as lágrimas que estivera derramando, revelando-se no contato tão intenso.
— Você precisa se acalmar se quiser que eu entenda o que está dizendo.
Instintivamente, Nathan se pôs a fazer os movimentos envolvidos em respirar fundo, e mesmo que nenhum ar fosse necessário, o ato fez a vibração da luz bruxuleante de que eles eram feitos se aquietar um pouco. Ele se sentiu protegido, e aquilo era tudo o que era necessário para cessar o fluxo de lágrimas riscando seu rosto.
— Você mencionou um feitiço.
Nathan assentiu, concordando.
— Que tipo de feitiço?
— Um feitiço de alma — ele respondeu à voz grave. Não se sentia tão pequeno assim desde que saíra da pré-escola para a primeira série.
Seu pai o soltou, afastando um passo.
— Você não deveria conhecer nenhum feitiço desses. Onde aprendeu?
— Num livro, professor.
— Claro.
— Eu sinto muito — Nathan se desculpou.
— Eu sei que sente.
Agora que havia uma distância entre ele e o Prof. Snape, o campo energético que abalara sua alma perdera força, e ele conseguia pensar além das emoções. O Prof. Snape tinha realmente reconhecido suas desculpas.
Nathan olhou fixamente para o homem acomodando-se no sofá e tentou filtrar as ações das ondas de emoções que se alojaram nele desde o momento em que ouvira seu nome naquela noite. Não era um exercício fácil, e o silêncio nas masmorras naquela hora avançada da noite tornou-se perturbador.
Seu pai o recebera com preocupação, e embora ele pudesse lembrar de uma ou duas ocasiões isoladas quando pensara que o Prof. Snape pudesse estar preocupado com ele, havia sempre uma dúvida pairando no ar, trazida pelas ações que as seguiam. Porém, não hoje.
Hoje seu pai estivera abertamente preocupado, chegando ao ponto de exprimir-se com palavras.
Nathan continuou olhando fixamente para a alma do seu pai enquanto se deixava transportar de volta para o momento em que fora abraçado, ousando pensar que ternamente, por aqueles braços brilhantes, encapsulado num calor que não era completamente, ou sequer um pouco, físico.
Seu pai o abraçara, realmente o abraçara.
— Você estava me abraçando. — Finalmente transformou-se em palavras.
Os olhos que não o deixaram um momento sequer em todo o tempo que o estivera encarando dançaram, dando ao Nathan toda a resposta que receberia, e ele se sentiu abraçado novamente.
— Venha cá — seu pai chamou, e Nathan obedeceu, hipnotizado por aquela luz recém descoberta que insistia em conferir-lhe calor de olhos negros outrora frios. — Você teve um dia cansativo. — Aquilo e um aceno com a cabeça para a direita completaram o convite para juntar-se a ele no sofá.
Nathan se sentou e depois franziu a testa.
— Quem é você?
Seu pai ergueu uma sobrancelha para a pergunta.
— Foi um feitiço de alma ou de memória?
— Você me abraçou.
— Você estava aflito.
— E você me abraçou.
O Prof. Snape revirou os olhos e, com aquilo, dispensou a questão.
— Fale sobre o feitiço — ele incitou.
Nathan colocou a confusão de lado em favor de explicar o feitiço que lançara em si mesmo. Ao recontar suas ações na noite anterior, percebeu como o feitiço fora simples, e que mesmo assim tornara-se uma complicação de proporções tão astronômicas...
— Onde está esse livro? — seu pai quis saber depois.
— Está no malão do Kevin.
— Fale sobre o contra-feitiço de novo.
O quê? Ele não vai sair correndo para punir seus amigos por tamanho desrespeito às regras da escola? Ele não vai nem mencioná-lo, descontar pontos ou... ou... sei lá o quê?
Quando Nathan decidira contar ao professor onde o livro estava, preparou-se para o pior. O que recebeu foi ainda mais do que ele classificaria como o melhor. Isso era simplesmente estranho. Era como se o Prof. Snape não se importasse com o fato de um livro da Secção Restrita estar escondido num malão dentro da Torre da Grifinória. As suspeitas crescentes do Nathan não podiam mais ser silenciadas.
— Você não é o Prof. Snape. — Ele estava em pé para fazer aquela acusação. Pegou a impressão mágica de sua varinha na mão.
— Prof. Snape, Nathan?
Seu nome e o tom com que era dito o fizeram realmente apontar a varinha para aquele estranho.
O homem olhou da varinha para o seu rosto e... sorriu.
— Sempre preparado. — Ele assentiu com apreciação. — Esse é o meu garoto.
— Não sou! — Nathan disse, e energia se acumulou na ponta da varinha, brilhando perigosamente para o homem, que abriu os braços e as mãos ao lado da cabeça numa demonstração de que não lutaria contra a mágica de Nathan. — Eu não sei quem você é, mas você não é o Prof. Snape — acrescentou, mais controlado.
— Sou Severo, seu pai.
— Não pode ser! Ele não agiria assim, não falaria comigo desse jeito. Ele não saberia como deixar o corpo e estar–
— Aqui em espírito com você? — o homem completou antes que ele pudesse. — Vejo que reteve sua consciência... Venha cá — o homem chamou.
Nathan não saiu do lugar, nem abaixou a varinha.
— Está bem. — Seu pai pareceu se entristecer com aquela aceitação. — Quando o corpo descansa durante o sono, a alma fica livre para descansar também — ele começou a explicar.
Aquilo não era suficiente para o Nathan, que encarou o homem duramente até que ele continuou:
— Ficamos livres para sermos quem seríamos se não estivéssemos sob a tirania de nossos cérebros o tempo todo. — Seus olhares se encontraram por insistência do homem. — Estou livre para ser simplesmente Severo, seu pai.
Nathan não percebeu que abaixara sua varinha enquanto sua mente trabalhava para entender o que lhe era dito. Confuso, ele perguntou:
— Nós estamos dormindo?
O homem sorriu com uma sinceridade que Nathan nunca vira nele antes.
— Venha se sentar comigo — ele convidou.
Nathan andou devagar até o sofá e, franzindo a testa, sentou-se ao lado da alma que dizia ser de seu pai.
— Parte do que está acontecendo aqui está sendo registrado no subconsciente do meu cérebro, então sim, isso registrará como um sonho — o homem explicou mais.
Nathan olhou de soslaio para a figura de seu pai quando uma mistura de sentimentos o atingiu de uma só vez.
— Isso tudo é um sonho, então?
— Ah, eu lhe asseguro que isso é bem real. Aparentemente, você se lembrará de tudo quando voltar para o seu corpo, já que reteve sua consciência. Eu, por outro lado, conseguirei lembrar só relances do que estamos vivendo agora, fora dos confins da carne, se lembrar de alguma coisa.
A tristeza que Nathan sentiu não era só sua. Ele ergueu o olhar e encontrou o olhar abatido do seu pai. Acostumado a encontrar ali feições inexpressivas, era fascinante ver – e sentir – todas aquelas emoções vindo do bruxo sempre tão guardado, e Nathan foi prontamente lembrado daquela manhã na ala hospitalar, quando se sentiu triste por não ser capaz de sentir os carinhos do pai no seu rosto e mão. Como se tivesse dito aquilo em voz alta, dedos tocaram seu rosto, levando os cabelos para trás.
Com as duas mãos descansando nos ombros de Nathan, Severo disse:
— Eu sinto muito, meu menino.
Pelo que seu pai pedia perdão, não ficou claro. Nathan se deixou absorver pelas emoções envolventes e sentiu os ombros sendo apertados afetivamente antes de ser solto.
— Precisamos reverter o feitiço. Você disse que o livro onde o aprendeu está com um de seus amigos. Quem era mesmo?
— Kevin — respondeu. — O Anima Codex está no malão do Kevin.
— Eu provavelmente não me lembrarei de muito desta conversa quando meu corpo acordar. — Nathan tentou interromper e dizer que ele podia pedir aos fantasmas para ajudá-los a se comunicarem, mas seu pai ergueu uma mão e continuou urgentemente: — Isso é importante, Nathan, por favor, escute. Meu corpo está acordando neste exato momento. Levará alguns minutos até que ele acorde completamente. É importante que eu me lembre pelo menos de onde procurar pelo livro, e eis o que eu preciso que faça. — Ele se levantou do sofá. — Siga-me — comandou, e saiu por uma porta fechada.
Nathan atravessou a porta que agora ele sabia que levava ao quarto do seu pai. Olhou em volta; nunca pensou sobre como era o quarto do Prof. Snape, e mesmo assim, ele ficou surpreso. A cama dominava o cômodo, e as cores leves das cortinas – um verde musgo – eram algo que Nathan não esperava do homem sempre trajado em preto. Havia um tapete que parecia macio numa cor creme meio suja do lado da cama, onde ele encontrou a alma do dono do quarto em pé. Ele parecia divertido, mas o momento durou pouco.
— Você terá tempo para olhar o quarto mais tarde, agora eu preciso que você venha aqui.
Nathan obedeceu. Ele se aproximou da cama e só então desviou sua atenção da alma para sua habitual sustentadora. O corpo do seu pai descansava pacificamente sob um edredom volumoso, os lábios estavam entreabertos e o nariz era ainda mais proeminente deste ângulo.
— Preciso voltar para dentro — a alma lhe disse. — Faça como eu digo. Fale com o meu corpo sobre onde encontrar o livro. Repita até que eu esteja acordado e talvez eu me lembre. Estendeu?
— Não preci–
— Comece agora, Nathan.
Nathan ficou desconcertado com a interrupção, mas fez como era dito e começou a dizer ao seu pai onde o livro estava.
— O livro está no malão do Kevin.
— Diga como uma ordem, Nathan. — A alma do seu pai se posicionava na cama. — Diga para eu procurar o livro com o Kevin.
Nathan observou fascinado quando a alma do seu pai ajustou sua parte de baixo no corpo deitado ali na cama.
— Peça o livro para o Kevin – disse.
— Continue — a alma instruiu.
— Peça o livro para o Kevin — ele repetiu, depois de novo e de novo. A alma se deitou sobre o corpo, desaparecendo completamente, e Nathan chegou mais perto do homem e continuou a entoar:
— Peça o livro para o Kevin. Peça o livro para o Kevin.
Um par de olhos negros se abriu tão de repente que a respiração de Nathan se prendeu na garganta, num ofego entalado. Seu pai olhou diretamente para ele, e por um momento, Nathan pensou que ele podia vê-lo. Essa suposição logo se provou errada quando seu pai piscou e olhou fixamente para as cortinhas verdes claras sobre ele. O homem respirou fundo e se mexeu, deslocando o edredom. Nathan deu um passo para trás quando seu pai se sentou cama, alongando o pescoço. Quando ele se levantou, era o estritamente rígido Prof. Snape que Nathan reconheceria mesmo usando uma camisola.
Nathan já sentia saudades da alma liberta de seu pai.
N.A.: E assim Nathan conheceu o verdadeiro Severo Snape. Espero que tenham gostado. :0)
No próximo capítulo… O livro é encontrado, e eles trabalham no contra-feitiço.
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