Trabalhando Juntos
DISCLAIMER: Não é meu! É tudo da J. K. Rowling.
BETA READER: BastetAzazis – muito obrigada!
A/N: Capítulo vinte e sete! O livro é encontrado, e eles trabalham no contra-feitiço.
Capítulo 27: Trabalhando Juntos
Severo dormira mal. As poucas horas que devotara ao descanso foram perturbadas por sonhos sobre coisas que ainda o perturbavam pela manhã. Ele sonhara com o filho, e as imagens soltas que conseguia juntar não tranqüilizavam sua mente. Severo estava acostumado à pressão de tirar o sono, mas isso era de certa forma diferente. Ele não ficava tão preocupado assim desde os “dias de Potter”.
De banho tomado e em vestes limpas, ele entrou na sala de estar e olhou para a mesa coberta de livros no canto. De certa forma, ele sabia que voltar para aqueles textos era inútil. Olhar em volta - para todos os livros ali - tinha o mesmo efeito. Havia um peso em sua mente lhe dizendo que a resposta não estava naqueles livros. Eles precisavam de algo que não poderia ser encontrada na sala.
Talvez recorrer a palavras impressas não fosse a resposta afinal. Só que...
A resposta deveria estar num livro em algum lugar, e a voz em sua mente soava estranhamente como a da Granger.
Quando foi que ele começara a dar ouvidos para o que a mulher dizia? Fazia sentindo, entretanto, mesmo que fosse apenas um sentimento forte que lhe dava certeza disso. Aquele mesmo sentimento lhe dizia que o livro em questão não estava ali.
Onde, então? A biblioteca era a escolha óbvia, e Severo ficou feliz porque discordaria daquela vozinha feminina que sugerira aquilo em sua mente desta vez. Ele tinha uma idéia diferente de onde: a cena do crime.
A resposta seria encontrada dentro da Torre da Grifinória. Ele não questionou porque a Torre era importante; ele não tinha certeza se entendia também. O que ele não sabia era que estaria questionando um par de grifinórios assim que colocasse os olhos neles.
Nathan observava, em expectativa, seu pai passar pelo que ele supunha ser os rituais matinais dele. O relógio na mureta da lareira lhe dizia que era cedo demais para o café da manhã no Salão Principal, e também fez Nathan pensar se seu pai sempre estava em pé uma hora dessas.
O jeito que o homem olhou para os livros na mesa disse ao Nathan que esta não era uma manhã comum para o Prof. Snape. Nathan queria acreditar que seu pai estava acordado mais cedo por preocupação com ele, e estava conseguindo. Era infinitamente mais fácil aceitar que seu pai se importava com ele depois dos eventos da noite anterior.
Será que o Prof. Snape se lembraria do que se passou entre eles? Será que ele vai encontrar o livro no malão do Kevin? Talvez Nathan devesse ir atrás de um fantasma, mas até mesmo a idéia de andar pelo castelo inteiro à procura de um disposto a ouvi-lo era desanimador. Provavelmente levaria menos tempo esperar até o café da manhã e ver se seu pai abordaria seus amigos.
O tempo passou num silêncio impaciente, com o Nathan observando seu pai e incapaz de reviver seu encontro com a alma do homem. Observou e comparou o agora com o então, procurando sinais de que a alma atenciosa estava de fato dentro da casca austera. Num segundo – ou talvez fosse num terceiro ou quarto olhar – a névoa escondendo os sentimentos do Prof. Snape não parecia tão densa. Os olhos estavam mais vivos enquanto olhavam para o fogo, os gestos mais humanos enquanto manipulava uma xícara de chá. Talvez sempre fora dessa forma, só que Nathan nunca notara antes.
Talvez.
Imagens que Nathan banira da mente, de sonhos que não tinha mais, estavam lá, não rogados, trazidos de volta por seu coração esperançoso. Ele se sentiu menor, uma criança segurando a mão do pai enquanto andavam até o parque. Uma mão que Nathan não lembraria mais fechada em punhos de lívida raiva, mas acariciando de leve o couro de uma capa de livro. Ele podia sentir o carinho como se fosse de fato na pele da própria mão.
Talvez.
No espaço brilhando seu vazio na luz do fogo – nunca quente o suficiente – Nathan podia se ver. Ele se juntaria ao pai para ler à noite, e quando as letras impressas se embaralhassem, Nathan emprestaria seu calor às coxas do pai ao descansar a cabeça ali. Logo a mão estaria de volta, e Nathan já conseguia senti-la – uma lembrança de seu encontro com a liberdade. Talvez ele revivesse aquilo um dia.
Talvez.
Mesmo que o dia não fosse hoje ou amanhã, Nathan sentia vontade de esperar novamente. Os sonhos poderiam voltar, não mais proibidos, e da próxima vez que ele sonhasse, Nathan saberia que era real e possível.
A espera imediata de Nathan acabou com aquela promessa quando seu pai se levantou e pegou sua capa preta, preparando-se para deixar os aposentos. Eles se dirigiriam ao Salão Principal, e Nathan esperava que seu pai procurasse o Kevin. Nathan já não desejava ou tinha motivos para ficar fora da vida material. Mais do que nunca, eles precisavam do livro.
Severo não pretendia sair tão cedo para o café da manhã, mas esperar inutilmente em seus aposentos não ajudava a trazer seu filho de volta. Tempo à toa inundava sua mente com pensamentos, e quanto mais ele considerava, mais ele sentia certeza de que sua decisão em procurar respostas na Torre da Grifinória. Lupin não o procurara no dia anterior, e aquilo irritava Severo imensamente. O professor de Defesa Contra as Artes das Trevas certamente investigara sua Casa, Severo sabia, mesmo que ele não tivesse se sentido obrigado a esclarecê-lo das descobertas ainda.
A não ser que Lupin tenha se reportado à Granger ao invés disso, embora isso não fosse nenhuma melhora. Porque se ele o fizera, isso significava que a Granger não achou conveniente compartilhar o conhecimento com ele. Ela usaria conhecimento como forma de vingança? Severo sabia que sim, embora a possibilidade desse ser o caso agora se provou falsa pelas próprias palavras dela de que não reteria informações referentes ao bem estar do Nathan.
Lupin era o idiota, então.
Severo não precisava da ajuda deles para conseguir a informação que precisava. Ele poderia muito bem adquirir suas próprias respostas dos garotos. Ele foi um dos primeiros a chegar no Salão Principal e tinha toda a refeição para esperar por suas fontes. Apenas Hagrid ocupava a Mesa Principal quando ele tomou seu lugar costumeiro e varreu o salão ainda vazio em sua maior parte.
Esperar pelo momento propício teria sido menos penoso sem a companhia indesejável de seus colegas.
— Alguma alteração nas condições do Sr. Granger, Severo? — Minerva perguntou.
— Você foi informada de alguma alteração? — Severo devolveu a questão, depois tomou um golinho da xícara de café que ele pretendia fazer durar até os grifinórios chegarem.
— Um simples não já seria suficiente.
— Não houve alteração. — Antes que Minerva pudesse continuar com o papo furado, Severo acrescentou: — E não, a Papoula não pode transferi-lo para o St. Mungus.
— O que a Hermione tem a dizer sobre o assunto? — Minerva perguntou.
— Ela também não vai concordar com a transferência — Severo assegurou, agora franzindo a testa.
— Ela pode responder por si mesma, obrigada — a pessoa em questão interveio. Granger tomou o lugar do outro lado dele antes de acrescentar: — Se não encontrarmos uma forma de acordar o Nathan até o fim do dia, eu mesma contatarei St. Mungos.
— E arriscará a vida dele fazendo isso. É uma decisão bem razoável, especialmente vindo da própria mãe dele. — Ele podia sentir o gosto das palavras sarcásticas se misturando com o sabor amargo do café.
— Você fez algum progresso?
A pergunta o irritou. Não só porque ela propositalmente ignorou seu comentário, mas também porque ela já sabia a resposta. O que ele poderia ter descoberto desde que eles se despediram tarde da noite ontem?
Ele podia ver que a atitude dela não melhorara muito da tarde anterior. Desde que ela começara a gritar com ele pelo simples motivo dele desempenhar seu papel de pai do Nathan, Granger vinha tentando magoá-lo com o que ela achava que eram palavras mordazes a cada oportunidade que ela tinha. Será que ela o culpava pelo que acontecera? Se esse era o caso, ela estava completamente enganada. Se estava procurando por um bode expiatório para a doença do filho deles, ela deveria estar culpando o Lupin. Aquilo o lembrou...
— O Lupin falou com você? — ele a perguntou.
— Ele deveria?
— Lobisomem imprestável — ele xingou.
— Ele me encontrou na biblioteca quando eu estava coletando todas aquelas informações inúteis ontem.
Severo não apreciou o sarcasmo barato e deixou o sentimento transparecer pelos seus olhos.
— Ele estava bem aflito por não poder fazer mais para ajudar. Ele pediu desculpas por deixar o Nathan se machucar quando era o responsável pela proteção dele, mas eu lhe garanti que ele não era o único responsável. Eu não esperaria que ele olhasse o Nathan o tempo todo. Havia outros que alegavam fazer isso, de qualquer forma.
Ele demonstrou apenas desdém às acusações abertas dela. Severo não daria a ela a satisfação de uma cena no Salão Principal, mas também não a deixaria sair impune por acusá-lo pelo que aconteceu.
— Grifinórios são famosos por sua irresponsabilidade — foi o seu comentário. Ele se certificou que ela entendeu a ameaça intrincada em suas palavras.
Ela teve a audácia de bufar.
— Que seja, Severo.
Sua atenção estava então nos alunos entrando no salão, mas do canto dos olhos, Severo podia ver a Granger virando a xícara e dando mordidas apressadas no que quer que estivesse no prato dela. Não o surpreendeu quando ela se levantou para sair, ainda bem, exatamente quando suas testemunhas em potencial cruzavam o pórtico. Quando ele também se levantou, Granger interpretou mal sua intenção.
— Eu não preciso que me escolte.
Sentiu prazer em bufar antes de deixá-la para trás sem um olhar de relance a caminho da Mesa da Grifinória. Lá chegando, ele parou apenas a tempo suficiente para dizer:
— Sr. Brown e Sr. Wood, uma palavrinha no meu escritório. Vocês têm quinze minutos.
Se algum fantasma estivesse prestando atenção a meninos dormindo naquele dia, seria testemunha do sorriso enorme que radiava amor suficiente para ser denominado um abraço etéreo. O fantasma em questão talvez ficasse até curioso para seguir o rastro de esperança que estranhamente acompanhava os grifinórios para dentro das masmorras naquela manhã.
Ele se colocou rígido na cadeira e observou os meninos se aproximarem de sua mesa com o cuidado que seu olhar firme pedia.
— O que realmente aconteceu naquela torre? — Severo perguntou assim que os grifinórios pararam na sua frente.
Eles se entreolharam, irritando Severo com o silêncio hesitante deles.
— Estou esperando — ele apressou.
— Eu não sei, professor — Wood respondeu.
— E você, Sr. Brown? — Severo incitou. — Importa-se em me dizer o que aconteceu?
— Eu não sei o que aconteceu, professor.
Os meninos se encolheram quando Severo rosnou.
— Vocês vão me dizer o que acontecendo, querendo ou não, então eu sugiro que comecem a falar.
— Nós realmente não sabemos, professor. — A voz de Wood tinha um tom de angústia. — Quando subimos para o dormitório, o Nathan já estava na cama. Eu só descobri que tinha algo de errado de manhã.
— Vocês não estavam juntos? — Severo quis saber, surpreso por seu filho estar na cama antes dos amigos. Depois Severo percebeu que não sabia nada sobre a rotina do filho na sala comunal.
— Nathan foi dormir mais cedo naquela noite — Wood, novamente, respondeu.
— Por quê? — Severo demandou.
Silêncio.
— Eu perguntei, por quê? — Severo entoou gravemente.
— Ele estava chateado, professor — Wood, mais uma vez, respondeu. Brown continuava quieto.
— Eu vou ter que continuar perguntando, ou vocês vão me dizer o que aconteceu antes que eu perca a minha paciência?
Wood engoliu seco; Brown permaneceu em silêncio, com o ar grave.
— O Malfoy aprontou para ele, professor — Brown finalmente disse. — Ele desafiou o Nathan a entrar na Sessão Restrita da biblioteca, sabendo que ele se meteria em encrenca se alguém o pegasse ali. No momento em que o Nathan entrou, o Malfoy correu para chamar a Madame Pince.
Severo estreitou os olhos.
— Mas ninguém foi pego, ou eu já estaria sabendo desta estupidez uma hora dessas — ele colocou, com raiva crescendo e o fazendo querer gritar detenções naquele exato momento. Como o Nathan podia se deixar levar pelo Devon mais uma vez, depois de todos os avisos que deu a ele... a eles? Sentia vontade de chacoalhar ambos. Ao invés disso, ele se concentrou na tarefa em mãos, olhando feio para os dois meninos que tinha em sua presença. — Qual foi o desafio?
Brown trocou de pé, mas Wood respondeu:
— Nathan tinha que trazer um livro, professor.
— Que livro? — Severo insistiu.
Wood olhou para o Brown como se pedindo suporte; Brown olhava para tudo menos para os dois bruxos na sala. Severo soube que havia chegado ao coração da situação.
— Onde está o livro? — ele perguntou.
Brown ficou tenso e Wood olhou fixamente para os pés.
— Sr. Brown, eu quero esse livro aqui AGORA!
Os dois meninos pularam com o último comando.
— Mexam-se! — ele vociferou, e eles finalmente obedeceram, saindo a passos apressados com a promessa de voltarem num instante.
Ele suspirou. Um livro da Sessão Restrita... O que o Nathan estava pensando? Até ver que livro era, Severo não podia ter certeza, mas estava quase certo de que o que amaldiçoava seu filho vinha dali. Um livro de Arte das Trevas, muito provavelmente, e Severo só podia esperar que fosse algo que ele conseguisse reverter.
Ele não queria pensar no que aconteceria se ele não conseguisse.
Severo apertou os olhos, sentindo uma tristeza que ele não deixava reinar sobre a sua raiva com freqüência. Ele talvez entendesse melhor que o arrependimento opressor que dominava seus sentimentos se pudesse ver o menino em pé ao seu lado, com uma mão pairando sobre sua cabeça baixa.
Andy e Kevin voltaram com o Anima Codex, e a detenção que eles ganharam por escondê-lo para começo de conversa – acompanhada pela perca de quarenta pontos pela Grifinória – não surpreendeu, dado os lábios retorcidos e a testa franzida que os encontrou para a entrega do livro. Espantoso, entretanto, era o olhar de apreensão que seu pai dispensava ao livro de Artes das Trevas agora que os meninos se foram. A ansiedade de Nathan aumentou.
Por um momento, o Prof. Snape apenas olhou fixamente para o livro na mesa, parecendo perdido em pensamentos, e sua expressão fez Nathan enxergar, uma vez mais, um vislumbre da alma que ele sabia que residia no interior. Os olhos de seu pai estavam quase vitrificados, e Nathan almejava ver quais os pensamentos que passavam pela mente dele, entender por que tinha vontade de abraçar e confortar o homem ao seu lado, revertendo seus papéis esta manhã.
Os dois se assustaram com o som da porta, abrindo para dar passagem à sua mãe. Ela parou quando os viu – não, só ao seu pai – na sala.
— Desculpa, eu achei que já estaria na sala de aula agora — ela se desculpou pela invasão não anunciada.
— Como eu deveria estar — seu pai, de volta às feições de sempre, disse. Ele se levantou, recolhendo as coisas, e com elas, o Anima Codex. Quando Nathan tinha certeza que o Prof. Snape se aproximaria da mãe com a notícia, ele simplesmente passou por ela e saiu, levando com ele o único meio de ajudá-la a descobrir uma maneira de trazer o Nathan de volta.
— Ei! — Nathan protestou. Se ele tinha aulas para dar, o Prof. Snape deveria ter deixado o livro com a sua mãe, pelo menos pela manhã.
Sua indignação não fez nada para impedir a cena acontecendo em sua frente, e Nathan estava prestes a mais uma manhã fora do corpo. Pensou em procurar um fantasma, mas depois desistiu da idéia. O que ele precisava era de alguém estudando aquele livro o mais rápido possível, e se o Prof. Snape o levara, talvez fosse o que ele planejasse fazer. Deixando sua mãe que não desconfiava de nada com os livros inúteis dela, Nathan se dirigiu à sala de aula de Poções, onde a esperança residia no momento.
— Cinco pontos, Sr. Riley — Severo disse. Ele designara a poção mais rápida que um aluno do primeiro ano poderia preparar, e ainda assim os cabeças-ocas cometiam erros inimagináveis e o atrasavam.
Ele trouxera o livro com ele, mas não ousara abri-lo numa sala de aula cheia de alunos. Este era o tipo de texto que ninguém deveria confiar. Estes textos das Trevas nunca deveriam ter chegado às mãos do seu filho. Magia da alma... Isso não podia ser boa coisa.
Se o Severo fosse um bruxo inferior, ele admitiria que era pior do que apenas não ser uma boa coisa. Uma alma adulterada...
Severo não pensaria em Dementadores.
Severo não pensaria no Lorde das Trevas.
Um arrepio lhe correu a espinha indiferente à sua vontade de não pensar no passado. Ele precisava se livrar dos alunos, já que sentia que o tempo era da maior importância agora, mais do que antes.
— Vocês têm vinte minutos para terminar a poção e dar o fora daqui — ele disse à classe, dando as costas para eles e indo em direção à sua mesa na frente da sala.
— Vinte minutos? Mas isso não é suficiente!
Severo ouviu aquele protesto e cerrou os dentes, girando para encontrar seu afilhado com um olhar de desprezo no rosto.
— Cinco pontos a menos para a Sonserina, Sr. Malfoy — disse sem nem piscar, depois acrescentou: — e uma detenção.
Devon não foi o único a ofegar na sala.
— Mas, Tio...
— Outros cinco pontos a menos para a Sonserina, Sr. Malfoy — Severo cortou o menino antes que ele pudesse protestar. Depois do que descobrira mais cedo, ouvir a voz do afilhado sem culpá-lo pelo que estava acontecendo com seu filho se tornara um desafio. Severo sabia que ele não era o único culpado, mas não mudava o fato dele ser culpado assim mesmo.
Severo deveria ter colocado um fim nessa rivalidade imatura estúpida antes. Se ele soubesse que chegaria a isso, ele o teria feito.
O que estava acontecendo com a alma do seu filho...?
O tempo parecia passar mais devagar quando deveria fazer o contrário. Severo voltou à mesa, e assim que seu tempo estipulado fora alcançado, ele expulsou os alunos do primeiro ano da sala de aula e se preparou para sair imediatamente depois deles.
— Tio Severo.
Ele rosnou. O menino trocou de pé, mas manteve a posição, esperando ser endereçado.
— O quê? — Severo falou rispidamente, não querendo mais nada além de livrar-se do atraso incômodo.
— Você falou sério quando disse detenção? — seu afilhado teve a temeridade de perguntar.
— Você já me ouviu dizer detenção e não estar falando sério? — Severo retrucou, estreitando os olhos.
— Nunca... — Devon disse, o instinto sonserino urgindo-o a acrescentar tardiamente: — senhor.
Quando Severo se virou para sair novamente, o menino insistiu:
— Mas por quê?
Severo olhou feio para ele por sobre o ombro.
— Por ser um moleque egoísta e mimado e desobedecer ao seu padrinho e, assim, colocar a vida do meu filho em risco. E agora que eu tive tempo para reconsiderar, você está em detenção todos os dias começando hoje à noite até eu bem entender. — Ele manteve o olhar no rosto do menino apenas tempo suficiente para vê-lo perder toda a cor, depois se virou e saiu.
Se outro garoto, que também estava na sala, pudesse perder cor, ele o teria feito. Nathan olhava boquiaberto para a porta que seu pai usara para sair, sem acreditar em seus olhos e ouvidos etéreos. O Prof. Snape dera ao Malfoy detenções sem fim? Ainda mais por sua causa! Um coração que não poderia ser real ameaçava pular pela boca.
Um fungado alto lembrou Nathan de que ele não estava sozinho na sala de aula. Virou-se para ver o Malfoy esfregando os olhos com a mão, visivelmente para limpar as lágrimas. Malfoy estava chorando.
— Quem está chorando agora? — ele tirou sarro, sabendo que o loiro não podia ouvi-lo. — Ele é o meu pai, não o seu!
Nathan achou que tinha o direito de sentir-se jubiloso com a visão do inimigo chorando, mas não se sentia. Insistiu:
— O quanto é bom ouvir que decepção você é?
Novamente, nenhuma alegria quando as palavras saíram. Nathan franziu a testa para o menino que fungava e respondeu sua própria pergunta: era horrível ouvir que era uma decepção. Sua mente o levou até Harry, seu padrinho, e Nathan não conseguiu imaginar como seria horrível ouvir aquilo dele; como fora horrível ouvir aquilo do seu pai...
Nathan decidiu deixar a sala antes que começasse a sentir pena do Malfoy. Aquilo já seria demais.
Hermione foi desviada de suas quietas anotações quando Severo entrou no laboratório.
— Fico feliz que você tenha voltado. Precisamos começar algumas poções imediatamente — ela lhe disse.
— Esqueça — ele respondeu.
Hermione ficou boquiaberta, franzindo a testa à sua recusa.
— Escute aqui, Severo. Se você...
— A alma dele foi mexida — ele anunciou e manteve aqueles olhos escuros nos dela.
Muitas perguntas passaram por sua mente no período curto de alguns segundos, mas nenhum encontrou voz. Ela encarou Severo, atônita, até sua boca se mover e articulou um baixo e sussurrado:
— Alma?
— Isso estava em posse dele. — Ele mostrou-lhe um livro. — Então, se me dá licença, eu preciso do meu laboratório.
Ela desviou os olhos rapidamente do livro para o rosto de Severo.
— Dê-me esse livro, Severo.
— Você não terá uso para ele. As Artes das Trevas são...
— Accio livro! — Hermione disse, e o livro deixou as mãos de Severo e voou para as dela. Antes que ela pudesse abri-lo, entretanto, Severo tinha as mãos nele, segurando-o fechado.
— Perdeu os poucos neurônios que tinha? — ele rosnou. — Solte o livro neste instante!
— Solte, Severo.
Se ele achava que ia tirar o livro dela, estava muito enganado. Uma guerra de olhares se seguiu, até que ele suspirou, ainda segurando um lado do livro.
— Está bem, você não precisa sair enquanto eu o examino.
— Se acha que pode me descartar, você não me conhece nenhum pouco.
— Granger, você não pode simplesmente abrir um livro de Artes das Trevas sem examiná-lo com relação a maldições e azarações primeiro, como você deveria saber. O que está afetando o Nathan... Mas que inferno!
Severo soltou o livro, balançando a mão para dissipar a dor que Hermione sabia que ele deveria estar sentindo depois da azaração não verbal. Sem esperar pela resposta ofensiva dele – certa de que viria – ela abriu o livro. Aquilo pareceu fazê-lo parar o avanço por apenas segundo antes de tentar tirar o livro dela novamente.
— Eu ainda estou inteira, Severo. Nunca achei que você fosse um covarde, então pare de agir como um — ela o repreendeu, segurando o livro fora do alcance dele.
— E o seu vasto conhecimento das Artes das Trevas lhe garantia que nada aconteceria quando você abrisse esse livro, tenho certeza. Pare de ser infantil e comece a pensar antes de agir, ó corajosa grifinória! — ele desdenhou. — Você vai acabar numa cama ao lado do Nathan; ou pior, vai me levar para lá com você!
Severo continuou a observá-la gravemente, parecendo não perceber o que tinha insinuado. Hermione corou e desviou o olhar, tentando esconder os pensamentos – uma esperança juvenil. Na verdade, ele estava certo sobre seu comportamento infantil, mas aquilo não o isentava da parte dele na discussão.
— Quando você encontrou este livro? — ela perguntou, tentando mudar o assunto de volta para a questão em discussão. — E como você sabia que o Nathan estava com ele?
— Lupin não tem controle nenhum sobre os grifinórios ou qualquer conhecimento do que acontece na torre deles. O Nathan pegou o livro na Sessão Restrita e estava com ele na noite em que tudo isso aconteceu. Os amigos dele estavam escondendo este pequeno e insignificante pedaço de informação. — Severo transpirava sarcasmo, e Hermione já sabia que esse era um mecanismo de defesa que ele usava com excelência.
Ignorando as acusações infundadas, ela perguntou: — Você disse que a alma dele foi mexida. Você tem certeza, ou está só supondo? — Hermione encontrou o olhar dele novamente, implicando que aceitaria sinceridade e nada mais.
— Espero que esteja errado — Severo disse, e Hermione mordeu o lábio inferior.
— Severo... — Hermione tentou, mas simplesmente não conseguiu expressar seus medos em palavras, com receio de que as transformasse em verdades ou tivesse uma confirmação.
— Eu sei — ele confirmou assim mesmo, modulando a voz de uma maneira quente que ela nunca ouvira antes. — Acho que já perdemos tempo demais discutindo. Deixe-me trabalhar no livro, Hermione.
Ah, que bastardo de um sonserino!
— Acho que você deveria trabalhar nas suas habilidades de persuasão ao invés disso, Severo; elas estão deficientes. Chamar-me de Hermione com essa sua voz de veludo não vai me fazer entregar o livro para você e deixá-lo livre para me azarar para fora daqui. — Ela corou novamente, mas desta vez sustentou o que esperava que fosse uma postura resoluta e continuou olhando fixamente para ele. Quando ele não negou a estratégia manipulativa, ela continuou: — Acho que somos perfeitamente capazes de trabalhar no livro juntos. Ambos queremos o Nathan bem, então eu não vejo por que não.
Hermione viu as sobrancelhas dele se aproximarem, depois não viu mais nada quando deu as costas para ele e foi até a bancada, colocando o livro aberto nela. Virou as páginas, procurando o sumário, e ouviu ele se aproximar, sentindo-o parar atrás dela.
— Parece que você está determinada a ser deliberadamente descuidada. Eu não me importo nem um pouco, porém você deveria estar pensando no Nathan quando age assim.
— Ele é tudo em que estou pensando. Você está quebrando a minha concentração. — Não era verdade, ela nem começara a ler ainda. Mesmo assim, isso o fez segurar a língua, e quando ela finalmente começou a ler, sua concentração foi de fato quebrada pelo som do banco raspando no chão de pedra e a voz irritada dele pedindo espaço e acesso ao livro. A boca de Hermione repuxou nos cantos, mas logo ela ficou séria com a gravidade da situação. A alma do Nathan estava... Ela nem conseguia pensar nas possibilidades, então abandonou os pensamentos pela racionalidade e estudou o livro com o Severo.
Um suspiro que nenhum deles podia ouvir soou na sala, e um menino que estava apenas meio ali subiu na beirada da bancada para observar os pais teimosos trabalharem juntos.
Nathan andava de um lado para o outro em frente à bancada no laboratório de seu pai. Seus pais tinham revisado metade do livro, discutindo muitos aspectos dele, mas não o mais importante de todos. Eles ainda não sabiam o que estava errado com ele, mesmo já tendo lido o feitiço que ele usara. O Prof. Snape fora ao Salão Principal, sua mãe estava debruçada sobre o Anima Codex, e Nathan não sabia mais o que fazer.
Ele ainda andava de um lado para o outro quando um ponto brilhante chamou a atenção pelo canto do olho. Nathan parou abruptamente.
— Mãe?
Sua mãe virou para ele com o chamado, e Nathan assistiu com uma satisfação estranha quando ela ofegou e arregalou os olhos à visão dele.
— Nathan! — Ela correu para abraçá-lo apertado. — Nathan, meu pequeno Nathan — ela murmurou com os lábios no alto da sua cabeça. — Você está aqui. Você está mesmo aqui. — Ela se afastou, movendo-se apenas à distância de um braço para olhá-lo da cabeça aos pés, virá-lo, e abraçá-lo apertado novamente. — Inteiro, graças a Deus! Por um instante, pensei que você pudesse estar perdido, dividido e levado para longe de nós.
Nathan devolveu o abraço com igual entusiasmo, sentindo o amor e o alívio dela fluir em espasmos de energia.
— Mas não foi, certo? Você está inteiro, não está? — ela perguntou, pegando sua cabeça entre as mãos gentilmente. Ela usou o dedão para limpar seu rosto das lágrimas de felicidade e alívio que escaparam seu olho. Nathan só conseguia assentir com a cabeça antes de ser abraçado apertado novamente, nunca reclamando. Desde seu inesperado encontro com a alma de seu pai na noite anterior, ele vinha antecipando um encontro com sua mãe ansiosamente, até mesmo ficando por perto e esperando que as almas dos pais sentissem sua ansiedade e encontrassem uma forma de levar seus corpos ao descanso e à liberdade.
— Por que não volta para o seu corpo, então? — sua mãe perguntou a ele. Um nó ainda apertava sua garganta, e sua voz estava engasgada com a energia de suas lágrimas. — Você não quer? — ela insistiu, e o tom fraco fez Nathan se agarrar a ela mais firmemente. — Fale comigo, querido — ela implorou.
— Mãe... — ele começou, mas não conseguiu seguir adiante.
— Estou aqui, querido. A mamãe está aqui. — Os braços dela ainda envolvendo-o significavam mais do que qualquer palavras. Nathan fechou os olhos, lembrando da noite anterior, quando seu pai o acalmara antes que ele conseguisse falar. Uma mão viajou das costas rumo a sua cabeça, onde ela pairou, como que contornando alguma coisa. — Você ainda está conectado ao seu corpo. Por favor, volte para mim, meu bebê.
— Eu quero — ele disse entre lágrimas.
Sua mãe o segurou gentilmente pelos braços, franzindo a testa na altura dos olhos dele.
— Então por que você não volta? Aquele livro o machucou de alguma forma? — ela perguntou urgentemente. — Eu não posso viver sem você, Nathan. Por favor...
— É o feitiço — ele lhe disse. — Eu não consigo reverter o feitiço.
A testa se alisou, e determinação encheu os olhos dela.
— A mamãe vai ajudá-lo, querido. Você sabe que feitiço que era?
Sentindo-se como um garotinho de cinco anos e não se importando com isso, Nathan assentiu com a cabeça e se pôs a explicar o que tinha acontecido com ele. Ao final de sua narrativa ele sentia vontade de desculpar-se entre uma sentença e outra.
— Eu não conseguia lhe contar porque eu não sabia como fazer me ouvir. Sinto muito, Mãe. Eu tentei explicar aos fantasmas, mas eles não entendiam.
— Tenho certeza que você tentou — ela o confortou, acariciando seu rosto enquanto o fazia, e depois colocou um beijo em sua testa, puxando-o para o peito dela novamente. — Vai ficar tudo bem. Seu pai e eu vamos ajudá-lo a encontrar o caminho de volta. — As palavras tranqüilas e a compreensão dela o acalmaram mais do que qualquer coisa poderia porque ele acreditava nela. Nathan sabia que sua mãe faria o que fosse necessário para ficar tudo bem de novo, e eles tinham o que era necessário com eles.
— Vocês têm o livro agora — ele concordou, assentindo com a cabeça e encontrando alguma força para mudar de posição nos braços dela quando a porta se abriu para olhar seu pai entrar na sala. Nathan ficou tenso quando o Prof. Snape se aproximou da forma adormecida de sua mãe. Ele saiu do abraço dela e fez menção de interrompê-lo. — Não! Não acorde ela!
— Ele não vai fazer isso — sua mãe lhe garantiu, segurando o Nathan pela mão.
Nathan deixou sua mãe puxá-lo de volta para ela quando seu pai se sentou, deixando o corpo adormecido de lado. Ele suspirou, confortado, fechando os olhos; uma mão leve acariciava seus cabelos, e ele aproveitava o contato anteriormente negado. Nathan poderia jurar que a mão dela era quente, mesmo sendo intangível.
Eles permaneceram daquela maneira, envolvidos num silêncio intrigante. Nathan inclinou a cabeça para trás e encontrou a mãe observando o outro na sala. O Prof. Snape estava sentado do lado oposto ao da forma material dela, e embora ele segurasse o Anima Codex aberto nas mãos, a única leitura que ele fazia era o das feições de Hermione.
— Ele está tentando me achar — ela explicou.
Nathan levantou o olhar para ela, confuso.
— Você está bem ali.
— O exterior que ele pode ver facilmente, sim — ela disse suavemente —, mas não o interior, e é isso que ele está tentando encontrar. — Hermione tirou o cabelo de seus olhos e depois olhou para o professor novamente. — Ele está quase entendendo... quase. A razão pode ser um obstáculo e tanto quando você está tão acostumado à sua segurança. Só o tempo pode ensinar os caminhos da integridade. — Ela olhou para o Nathan novamente. — Ele está quase entendendo. — Ela sorriu, beijando sua testa de novo. A paz que Nathan sentiu curvou seus lábios, mesmo não sabendo por que ouvir aquelas palavras o fazia se sentir assim. Ele ainda sorria alegremente, contente em esquecer todo o resto por enquanto, quando sua mãe decidiu falar novamente.
— Agora, está na hora de trabalharmos naquele contra-feitiço que você me falou, antes que eu acorde. Não sei por quanto tempo eu vou dormir numa posição tão desconfortável. — Sua mãe parecia aflita em lembrá-lo de que ela teria que ir embora, e Nathan suspirou.
Eles tentaram o contra-feitiço de várias maneiras e línguas, com diferentes movimentos e varinhas imateriais, mas nem mesmo sua mãe foi capaz de restaurá-lo à ordem. — Por que não está funcionando? — ela murmurou consigo mesma.
Nathan também não sabia. Como um feitiço tão simples poderia ser tão difícil de reverter? Frustrado, ele se afastou de sua mãe para mais perto do pai. Talvez ele soubesse algo que eles não tentaram ainda. Por que ele não caia no sono também?
— Deve haver alguma coisa a mais nesse feitiço que não estamos enxergando — sua mãe disse, aproximando-se do Prof. Snape pelo outro lado.
— Você não consegue fazê-lo dormir? — Nathan perguntou.
Ela estendeu uma mão sobre os cabelos negos e longos de seu pai, e por um breve momento, o Prof. Snape fechou os olhos e inclinou a cabeça para trás como se estivesse se recostando no toque dela. Um suspiro profundo escapou-lhe, expondo o cansaço e talvez a vontade de estar com eles. Nathan acrescentou sua própria contribuição aos esforços de sua mãe, ou era o que ele pretendia com a mão que colocou no ombro de seu pai. O sorriso de sua mãe lhe disse que ele estava ajudando.
Os olhos abertos de seu pai diziam-lhe que não estava.
— Eu não acho que ele vá se deixar levar comigo dormindo bem ali — sua mãe explicou. Ela afagou os cabelos e a testa do Prof. Snape uma, duas vezes, com o Nathan observando os movimentos calmantes até eles pararem. Ele levantou o olhar e encontrou ambos olhando para a forma adormecida quando ela se mexeu. Nathan sentiu um aperto no peito, procurando a alma da mãe por qualquer sinal de que ela estava desaparecendo de vista.
Ela saiu de perto do seu pai e simplesmente puxou o Nathan em seus braços, desculpando-se com o gesto e as ondas de tristeza que ele sentia com o abraço.
— Nós descobriremos o que está de errado com o contra-feitiço. Não descansaremos até que esteja de volta conosco. — Ela o soltou, e Nathan a seguiu com olhos úmidos, observando-a se sentar na cadeira com o corpo dela, se curvar para frente e suspirar: — Eu amo você — e se misturar a ela mesma.
— Nathan! — ela disse, acordando assustada com que poderia apenas ser o pesadelo de deixá-lo.
— Mãe... — Nathan soluçou.
O Barão Sangrento entrou no laboratório e flutuou por ali. As vezes que o fantasma visitava Severo eram apenas aquelas em que a Sonserina estava sob ameaça de destruição iminente. Ele suspirou e reconheceu a presença dele.
— O que posso fazer pelo senhor, Barão?
— Eu trago uma mensagem do seu filho, Professor.
— Nathan? — Granger perguntou, abandonando rapidamente tudo o que estava fazendo e aproximando-se do fantasma.
O Barão dispensou um olhar de soslaio para a mulher enquanto Severo se preparava para a mensagem – se um fantasma a trazia, isso significaria que...? O Barão Sangrento falou com Severo novamente:
— Ele não consegue acordar sozinho porque o contra-feitiço falhou.
Ele não conseguia acordar. O contra-feitiço falhou. Severo ouviu um soluço estrangulado.
— Qual é o feitiço que precisamos reverter? — ele perguntou, tentando manter a mente o mais racional possível.
— Anima Libertas — o fantasma ofereceu.
Severo já lera sobre o feitiço no livro.
— Nós lemos sobre ele. Está naquele livro. Eu sei que li sobre ele — Granger tagarelou, correndo para o livro com mãos trêmulas e virando as páginas descuidosamente. — Onde está ele? Onde está ELE!
Severo assistiu o desespero da mulher com os pensamentos correndo em sua mente. O contra-feitiço falhara.
— Se eu tivesse perguntas para o meu filho, você seria capaz de entregá-las a ele e voltar com as respostas? — Severo inquiriu.
— Ele está aqui — o fantasma lhe disse.
Algo flutuou no estômago de Severo, e ele não sabia se o sentimento era bom ou ruim. Granger deixou o livro novamente, perguntando urgentemente:
— O Nathan está aqui? Onde?
Quanto parecia que o Barão não responderia, a voz grave disse:
— Bem em a frente à senhora, madame.
Sem nem pensar, Severo olhou para o ponto em frente à mulher, esperando ver seu menino ali, acordado, mas o ar estava vazio. Ele olhou para a Granger, com uma mão estendida à frente, obviamente esperando o mesmo, e viu uma lágrima deslizar pelo rosto dela. A sensação em seu estômago se espalhou para o peito, e Severo se sentiu comprimido, fazendo-o lutar para permanecer focado e racional.
— Pergunte a ele por que o contra-feitiço falhou — ele se dirigiu ao fantasma novamente.
— Ele não sabe por que; simplesmente não funcionou, para ele ou para a mãe adormecida.
— Que mãe adormecida? — Granger conseguiu perguntar numa voz fraca.
O fantasma apenas olhou para ela, claramente medindo, e depois se virou para Severo novamente.
— Ela não se lembra dos sonhos. Seu filho não a considera responsável pelo fracasso por terem combinado que vocês continuariam procurando por alternativas.
Granger ofegou, mas Severo não tirou a atenção do fantasma. Havia informações críticas nas palavras dele, e Severo tinha que ser rápido para acessá-las. Seu coração retorcido não o deixava diminuir a velocidade do processo; ele apenas percebeu que seu filho podia ser alcançado no sono, pelos seus sonhos – imagens rápidas passaram do subconsciente para o consciente.
— Ele só pode ser alcançado através dos sonhos? — Severo quis saber.
— Ele está preso no sono. — Severo esperava mais, mas aquilo foi tudo que o fantasma ofereceu.
— Eu não pude ajudá-lo.
A dor nas palavras dela chamou a atenção de Severo. Granger olhava derrotada fixamente para o ponto onde o Barão dissera que o Nathan estava. As feições dela intensificaram os sentimentos em seu peito, fazendo-o dizer rispidamente: — Controle-se, mulher. — Ela olhou para ele, então, e seus olhares se encontraram – o dele segurando o dela com sua força. Granger inspirou uma última vez dolorosamente, estreitou os ombros e limpou os olhos e as bochechas. Ela não era a melhor das visões, mas era a Granger, ao menos.
— Como nós vamos ajudá-lo? — ela perguntou.
— Entendendo todas as implicações do feitiço e do contra-feitiço, listando o que pode ter dado errado.
Ela assentiu com a cabeça, retomando o lugar dela junto aos livros e pergaminhos, mas não bem voltando ao trabalho ainda, provavelmente perturbada demais com as notícias surpreendentes que o fantasma, que ainda pairava ali, trouxera.
— O senhor tem mais alguma informação para mim, Barão?
— Nenhuma relevante, Professor.
— E irrelevante? — Severo pensou em perguntar.
— Não lute contra o sono — o fantasma ofereceu, e era o que soava: um conselho. Severo inclinou a cabeça, aceitando-o antes de se juntar à Granger e trabalhar para ajudar o Nathan.
— Obrigado — Nathan disse baixo e vagarosamente enquanto secava os olhos e o rosto numa imitação do gesto anterior de sua mãe.
O Barão Sangrento inclinou a cabeça, polidamente, antes de flutuar dali. Era como se a missão de Nathan tinha acabado de se completar com a partida do fantasma, e ele se sentiu drenado de suas energias, fraco e cansado. Andou a passos curtos até onde sua mãe estava e inclinou a cabeça sobre o ombro dela, observando seu pai tomar o assento ao lado deles.
O silêncio prevaleceu. Sua mãe olhava fixamente para o livro, provavelmente perdida em pensamentos. Seu pai apertava os olhos com os dedos, os olhos fechados.
— Você encontrou o feitiço?
Sua mãe permaneceu em silêncio às palavras suaves de seu pai, erguendo a cabeça para olhar para ele.
— Anima Libertas — o Prof. Snape a instruiu.
Nathan tirou a cabeça do ombro da mãe quando este subiu e desceu com a respiração profunda que ela tomou antes de reabrir o livro. Enquanto ela virava as páginas, Nathan observava o rosto do pai; as sobrancelhas levemente franzidas no que Nathan entendeu como um sinal de determinação, a boca presa numa linha rígida. O som de pergaminho virando parou, e sua mãe começou a ler o livro, enchendo a sala com a voz carregada de tristeza, que ficou entrecortada a medida que as palavras ficaram mais Trevosas em conteúdo.
— É um feitiço simples. — A objetividade de seu pai quebrou o tom emotivo demais de sua mãe. — Por que o contra-feitiço não foi efetivo? — ele perguntou.
Por longos minutos, Nathan se juntou à mãe na contemplação silenciosa das palavras do pai.
— Ele só tem onze anos — sua mãe disse.
— Ele tem doze, e eu não acho que isso seja relevante — seu pai descartou, e o fato dele ter corrigido sua idade fez Nathan relaxar a expressão tensa.
— Ele é um aluno do primeiro ano, Severo. Claro que é relevante! Como você espera que ele seja capaz de reverter esse feitiço sozinho, como esse maldito livro diz que ele tem que fazer? Ele é só uma criança, e estamos falando de magia das Trevas, Severo. Magia das Trevas! — Ela abanou o livro no ar, e depois o soltou como se a tivesse queimado, fazendo Nathan recuar um passo e olhar para o pai, esquecendo a quem ele suplicava ajuda para confortar a mãe. Para sua surpresa, a alma emergiu na expressão afetuosa nos olhos dele por apenas um momento, mas tempo suficiente para fazer Nathan suplicar novamente com os próprios olhos.
— Granger — o homem chamou. Sua mãe não pareceu ter ouvido. — Hermione — ele chamou novamente, agora usando o primeiro nome dela. Ela focou os olhos nele. — Não é relevante — o homem insistiu. Nathan assistia com antecipação os pais olhando fixamente um para o outro, sem saber o que aconteceria depois.
— Desculpa — sua mãe se desculpou, retomando o assento. Nathan suspirou, aliviado.
— Ele não é um bruxo formado, mas ele executou o feitiço, então deveria ser capaz de executar o contra-feitiço — o Prof. Snape continuou.
— O que estou tentando dizer é que ele é um iniciante em Feitiços. Apenas recentemente ele aprendeu como levitar objetos. O fato de ele ter executado o feitiço corretamente uma vez não significa que ele o dominou — sua mãe insistiu, e a calma dela diminuiu a mágoa que Nathan sentiu com a falta de fé dela em seu potencial.
— Vamos descobrir — seu pai disse a ela, pegando o livro descartado e saindo em direção à porta, varinha em mão.
Nathan foi atrás do pai, apreensivo, e foi seguido de perto pela mãe.
— O que você vai fazer? — Ela perguntou o que Nathan também queria saber.
— Vou executar o feitiço, oras.
— Em quem? — ela perguntou, refletindo a urgência que Nathan sentia. Seu pai parou na porta para o escritório, virando-se para encarar os dois – ela – fazendo o silêncio responder por ele.
E respondeu.
— Não — sua mãe disse, colocando em palavras o que Nathan não conseguia —, você não vai usar o feitiço em si mesmo; eu não vou deixar.
Nathan observou o pai, querendo que ele concordasse, mas também querendo que ele executasse o feitiço e se juntasse a ele. Poderia acabar mal; poderia trancar seu pai para fora do corpo também. Seria ruim, mas Nathan não estaria mais sozinho – a alma do pai estaria com ele. Era ruim; Nathan era um menino ruim e egoísta, mas não conseguia se conter. Não que ele tivesse algum peso na decisão do que o pai iria realmente fazer, mas ele se decepcionaria se o pai cedesse ao desejo de sua mãe.
— Severo... — ela implorou, provavelmente interpretando a expressão dele como decisão. — Eu... Você não pode...
— Posso, e vou.
— E se não funcionar... — Sua mãe deixou seu lado e se aproximou de seu pai. — Eu ficarei sem o Nathan e você?
Nathan também não queria que sua mãe fosse deixada sozinha. Egoisticamente, entretanto, pensou que ela poderia sempre se juntar a eles deste lado do mundo.
N.A.: Esta é a primeira parte de um capítulo que ficou grande demais para ser publicado de uma vez só. Isso significa que eu publicarei o próximo capítulo assim que terminar de traduzi-lo. :0)
No próximo capítulo... Um conflito entre o professor e o pai, e Nathan acorda.
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