Fora
DISCLAIMER: Não é meu! É tudo da J. K. Rowling.
BETA READER: BastetAzazis – muito obrigada!
N.A.: Capítulo vinte e cinco! Nathan está preso fora do corpo, preocupando os pais.
Capítulo 25: Fora
O dia nascia, e Nathan sabia que ele não acordaria naquela manhã quando a luz batesse em seu rosto pela fresta da cortina. Nem mesmo o sol mais forte do dia mais claro de todos os verões não seria capaz de fazê-lo abrir os olhos. Depois de todas aquelas horas angustiantes de aborrecimento, choro, ou simplesmente encarando seu eu dormindo, o corpo de Nathan ainda era uma casca sem alma.
Logo, seus colegas de quarto se levantariam para o dia e alguém viria verificar sua cama. Nathan estava sentado de pernas cruzadas ao lado de seu corpo, esperando por aquele momento. Ele tentara verificar seu colar do humor, ver o que ele mostrava, mas estava coberto pelo pijama. Ficou imaginando se estaria transparente, como quando ele o tirou, bravo com seu pai. Talvez estivesse preto – mortalmente preto. Será que o Prof. Snape notaria?
Nathan baixou a cabeça. Se seu pai entrasse pela porta do dormitório, pensando que ele estava morto, e encontrasse seu corpo dormindo serenamente, oco, o que ele faria? Ele queria acreditar que o Prof. Snape sacudiria a varinha e resolveria tudo.
Mesmo que fosse só para ter o Nathan inteiro para poder separar devidamente sua alma do corpo ao matá-lo depois disso.
Sua mãe ficaria muito desapontada, ele sabia. Pelo menos ela não o veria daquele jeito. Ele olhou de relance para o seu corpo novamente. Eles o colocariam de volta rapidinho, sua mãe só ficaria sabendo depois. Nathan estava certo que ela entraria em pânico se olhasse para ele deitado inconsciente daquele jeito...
Mas eles o colocariam de volta; Madame Pomfrey, Prof. Lupin, Prof. Snape, alguém! Eles tinham que colocar. Era um feitiço fácil.
Um feitiço fácil que ele não conseguiu aprender direito...
Nathan segurou a cabeça nas mãos novamente, com os cotovelos nos joelhos translúcidos. O quanto ele era patético? Sim, ele já tinha respondido esta pergunta muitas vezes, mas estava tão completamente desapontado consigo mesmo que seus pensamentos estavam rodando em círculos, sempre voltando para caçoar dele. Desta vez, porém, o ciclo foi quebrado. Havia movimento no quarto, distraindo-o de seus pensamentos.
Nathan deixou a cama para ver quem estava acordando. Ótimo! O Andy! Cuidadosamente para não assustá-lo, Nathan deu um passo adiante e chamou:
— Andy.
Talvez ele tenha sido cuidadoso demais, porque o Andy continuou vasculhando as roupas dele como se não o ouvisse.
Nathan sibilou:
— Andy! Ele não queria acordar os outros ainda. Andou e estava parado no meio do quarto circular agora. — Andy? — chamou numa voz normal, mesmo que um pouco hesitante.
Andy ainda estava de costas para ele, tirando o que quer que fosse do malão, mas depois se virou, olhando para o Nathan.
— Não se assuste — apressou-se em dizer, levantando a mão diante de si e esperando que o choque aparecesse no rosto do amigo. Mas quando ele não viu nada...
Quando Andy não disse nada e nem mostrou nenhum sinal de surpresa, Nathan percebeu que ele olhava através dele e não para ele, e ele foi quem ficou chocado.
Ele não pode me ver.
Nathan não podia crer. Ele estava translúcido, sim, mas assim todos os fantasmas do castelo o eram, e Andy, ou qualquer outra pessoa para falar a verdade, não tinha nenhum problema em ver e falar com eles. Por que seria diferente com ele?
— Andy! Por favor, diga que pode me ver! Que você está só brincando! — Nathan estava entrando em pânico, chegando mais perto do amigo, parando bem na frente dele. Andy não parecia perceber sua presença. — Não tem graça nenhuma!
Andy se levantou da cama e deixou o quarto, ignorando e quase passando por cima dele. Nathan olhava de olhos arregalados para a porta que se fechara atrás de Andy.
Se eles não podiam vê-lo, como eles descobririam o que aconteceu? Se ninguém soubesse o que aconteceu, como eles o colocariam de volta? Eles não colocariam! Não poderiam colocar!
Estou trancado do lado de fora do meu corpo para sempre!
Nathan voltou para a sua cama com lágrimas escorrendo por suas bochechas translúcidas. Ele tentou em vão efetuar o feitiço de reversão mais dez vezes, chorando ainda mais. Não tinha percebido o quanto estava encrencado até o Andy não poder vê-lo o ouvi-lo.
Seus outros colegas de quarto já estavam todos acordados quando Nathan se acalmara um pouco. O livro ainda estava aberto na página do feitiço, então quando encontrassem seu corpo inconsciente, eles saberiam o que aconteceu e como colocá-lo de volta. Aquele pensamento era a única coisa que mantinha sua esperança de voltar para o seu corpo em breve.
— O Nathan está no banheiro? — ele ouviu Kevin perguntar de algum lugar do quarto. Nathan estava de volta na cama oculta. Não levaria mais muito tempo agora para eles descobrirem.
— Não, o Josh está lá.
— Ele ainda está dormindo, então? Ele achou que podia se atrasar para a aula só porque é aniversário dele? — Kevin disse, fazendo Nathan fechar os olhos com a menção de seu aniversário.
— Eu vou acordá-lo — Andy se prontificou.
As cortinas da sua cama foram abertas abruptamente.
— Acorda! — Andy gritou, esperando assustá-lo. Seu amigo sorria, mas quando o corpo de Nathan sequer se mexeu, o sorriso vacilou. — Acorda, Nathan. Você não pode ficar uma lesma preguiçosa na cama se nós não podemos.
Nathan observava o amigo atentamente, vendo todas as emoções passando pelo seu rosto.
Andy chacoalhou o ombro do seu corpo.
— Vamos! Pare com isso! Eu pensei que poderíamos ir para o café da manhã mais cedo hoje.
Claro que seu corpo não reagiu.
— Eu não vou acordar, Andy. Vá chamar o Prof. Lupin. — As palavras não ouvidas de Nathan foram de triste resignação.
— Não tem graça, Nathan — seu amigo disse, chacoalhando seu corpo novamente. — Acorda!
Andy estava entrando em pânico, Nathan percebeu. Ele viu Kevin vir no auxílio dele.
— Vamos, Nathan. Você está irritando o Andy — Kevin disse, chacoalhando seu ombro. — E agora você está me irritando também.
— Acho que tem alguma coisa errada com ele. Acho que deveríamos chamar o Prof. Lupin — Andy disse finalmente, mas não saiu do lado da cama. Nathan percebeu que ele ainda esperava que fosse tudo uma brincadeira.
Quando nem mesmo aquelas palavras fizeram seu corpo abrir os olhos, Kevin estava convencido.
— Eu vou. — Ele saiu para encontrar o Prof. Lupin.
Seus outros colegas de quarto estavam agora se reunindo ao redor da sua cama, perguntando o que estava acontecendo. Kevin logo voltou para dizer que o Prof. Lupin estava a caminho. Foi quando algo terrível aconteceu.
— Kevin, eu não acho que o Prof. Lupin deveria ver aquilo. — Andy apontava para o livro aberto próximo do joelho direito do seu corpo.
A parte translúcida de Nathan seguiu o dedo indicador do Andy e ficou agitado.
— É aquele livro que ele pegou na Seção Restrita ontem? — Kevin perguntou de modo que só o Andy – e o Nathan – pudesse ouvi-lo.
Andy assentiu com a cabeça.
— O Prof. Lupin não pode vê-lo! — Kevin concordou, então.
— Não mexa no livro! — Nathan gritou quando o Kevin foi pegá-lo, tentando tirar as mãos de Kevin dali. Claro, nem suas palavras e nem seus atos fizeram alguma coisa para prevenir Kevin de fazer justamente aquilo. E inúteis foram todas as suas outras súplicas. — Não, não, NÃO! Não feche!
Ele seguiu Kevin e o livro até o malão do Kevin, e quando o livro estava muito bem fechado e escondido da vista de todos, o Prof. Lupin entrou no quarto.
— NÃO! — Nathan berrou, e ele tinha novas lágrimas nos seus etéreos olhos escuros. — Como ele vai me colocar de volta agora?
Quando Nathan voltou para onde seu corpo jazia, o Prof. Lupin já havia rompido o círculo de meninos que cercavam a cama e tocava sua testa de carne, chamando seu nome com preocupação na voz:
— Nathan. Nathan, você pode me ouvir?
— Sim, posso. Mas você não pode me ouvir! — Nathan estourou, incapaz de controlar a frustração depois de ter sua maior esperança levada e escondida no malão do Kevin.
Ele subiu na cama e observou o Prof. Lupin inspecionar os olhos e braços de seu corpo, tomando a varinha e murmurando algumas palavras baixinho. Ele observou indiferentemente o seu corpo brilhar numa luz vermelha depois que um dos feitiços o atingira.
— Andy, vá até o Salão Principal e traga o Prof. Sna–
A porta se abriu no exato momento que o Prof. Lupin dizia aquilo, chamando a atenção de todos no quarto. Bom, nem todos; Nathan fechou os olhos e perdeu a imagem de seus colegas de quarto saindo do caminho do Prof. Snape enquanto o homem cruzava o quarto, praguejando baixinho.
Nathan abriu os olhos e continuou olhando fixamente para o seu corpo. O brilho do feitiço do Prof. Lupin se esvaía devagar, no mesmo passo de suas próprias percepções dos arredores. Nathan assistia o brilho se esvair, olhando fixamente sem realmente ver, perdido em seu desespero. A mão de seu pai entrou no seu campo de visão quando o restante da luz vermelha se dissipava. Ela tocou a testa de seu corpo. Nathan finalmente olhou para cima, seguindo o comprimento do braço.
O Prof. Snape olhava feio para ele. Bem, não para ele, mas para o seu corpo. Ele segurava a varinha e parecia estar se concentrando.
— O que aconteceu? — o Prof. Snape perguntou.
Nathan estava abrindo a boca para responder, esquecendo que não podia ser ouvido, quando o Prof. Lupin falou:
— Os meninos me chamaram quando não conseguiram acordá-lo. Eu não sei o que aconteceu, mas ele não parece estar fisicamente ferido.
O Prof. Snape ouvia enquanto lançava aparentemente o mesmo feitiço que o Prof. Lupin lançara antes, pois o corpo de Nathan brilhava em vermelho novamente. O Prof. Snape deu as costas para a visão, olhando para os outros no quarto.
— Quem pode me dizer o que está acontecendo aqui? — ele perguntou.
O silêncio foi a resposta.
— Sr. Brown? — o Prof. Snape escolheu, erguendo uma sobrancelha.
— Eu não sei, professor.
— Sr. Wood? — o Prof. Snape tentou.
— Eu não consegui acordá-lo, professor — Andy disse.
Seu pai virou novamente, observando seu corpo mais uma vez, correndo os olhos do rosto até os pés de Nathan e de volta novamente. A parte consciente de Nathan voltou a si quando os pés que ele olhava fixamente se moveram. Ele observou seu corpo sendo erguido da cama para os braços de seu pai.
— Eu vou na frente para avisar a Papoula — o Prof. Lupin disse.
— Por quê? — o Prof. Snape desafiou. — Você seria mais útil se soubesse o que está acontecendo na sua própria Casa, Lupin. — Ele ajustou o peso nos braços e saiu em direção à porta.
Nathan seguiu, sem saber mais o que fazer. Eles desceram para a sala comunal, saíram pela porta da Mulher Gorda, e continuaram pelos corredores que os levariam até a ala hospitalar.
Ainda era cedo, e eles encontraram bem poucos alunos fora de suas salas comunais. Não que nenhuma parte de Nathan estivesse ciente – seu corpo inconsciente seguro por seu pai e sua alma seguindo os pés cobertos pelas meias dele como se num transe.
Quando os pés balançaram para cima e para baixo uma última vez e depois pararam, Nathan saiu de seu devaneio e olhou realmente para o seu pai. Ele analisou a figura que este homem fazia carregando seu corpo. O rosto do seu pai ostentava a mesma expressão indecifrável de sempre, mas os olhos estavam diferentes de tal forma, que Nathan não conseguia classificar.
O Prof. Snape rearranjou o corpo nos braços, segurando-o mais em pé, com a cabeça sobre o seu pescoço, o peito no seu peito, suportando o peso com um único braço e liberando uma mão para pegar a varinha. Ele lançou um Alorromora, e eles entraram na enfermaria.
— Papoula! — Seu pai chamou pela medibruxa enquanto colocava cuidadosamente seu corpo em uma cama, certificando-se que a cabeça descansasse suavemente no travesseiro. — Papoula!
— Severo? — A medibruxa veio apressada até onde seu pai estava e seu corpo jazia.
— Tem alguma coisa de errado com ele — o Prof. Snape disse.
A medibruxa começou a balançar a varinha sobre o corpo do Nathan, fazendo com que o Prof. Snape se afastasse da cama. Nathan olhava fixamente seu próprio rosto pálido, observando os dois primeiros feitiços de diagnóstico o atingir.
A medibruxa se concentrava no seu exame, e a atenção de Nathan saiu dela para o seu pai. O mesmo resplendor estranho de antes ainda brilhava nos olhos dele, a expressão presa numa carranca. Será que ele estava preocupado ou bravo? Era difícil de dizer. Olhando para a mão do homem, com dois dedos se esfregando, Nathan acrescentou ansioso ou irritado à lista de possibilidades.
Madame Pomfrey ficou imóvel por um momento, reclamando sua atenção. O único indicativo de que seu pai notara a mudança também foi quando ele deu um passo para mais perto da cama e para o corpo de Nathan.
— Não há nada errado fisicamente com ele. Pelo que eu sei, ele está dormindo profundamente; mais profundamente do que um Estupefaça o faria dormir, e por isso o Enervate não o traz de volta à consciência. Meus feitiços também me dizem que ele não ingeriu nenhuma poção para dormir, ao menos nenhuma das comuns. A condição dele parece estável o suficiente por agora, o que de certa forma é um bom sinal, mas também um mau sinal, já que ele não acordará por si só. — Madame Pomfrey fez uma pausa e virou-se do seu corpo para o seu pai. — O que aconteceu com ele?
O Prof. Snape olhava fixamente, ainda franzindo a testa, para o rosto pálido que fazia pouco contraste com a fronha branca enquanto respondia:
— Eu ainda não sei. Ele estava na cama dele no dormitório quando o encontramos, e nenhum dos outros alunos revelou nada de útil. Esperava que você pudesse me contar.
A medibruxa franziu a testa.
— Eu suspeito que seja a conseqüência de uma maldição, embora se ele estava dentro do dormitório quando o encontrou... Eu não consigo pensar em nenhuma maldição do nível dos alunos de Hogwarts que teria um efeito tão forte.
Nathan ouvia às especulações de Madame Pomfrey, ficando cada vez mais preocupado com a avaliação dela de sua condição. Será que isso significava que ela não podia trazê-lo de volta também?
— Se é uma maldição, é alguma que eu não conheço — Madame Pomfrey acrescentou, e aquilo respondia à pergunta de Nathan.
De certa forma, ele já sabia daquilo, mas contra todas as possibilidades ele esperava que a medibruxa fosse capaz de reverter a situação.
— Você não pode trazê-lo de volta. — O Prof. Snape chegou a mesma conclusão que ele, expressando-a.
Ela balançou a cabeça.
— Não sem saber o que o acometeu.
O desespero e a frustração de Nathan trouxeram lágrimas aos seus olhos mais uma vez. Eles não podiam ouvir e nem vê-lo, não podiam encontrar o livro descrevendo o feitiço ou o contra feitiço, e não podiam ajudá-lo a voltar para o seu corpo sem ele. Isso não podia ficar pior.
— Eu vou chamar a Minerva e depois St. Mungus pela rede Flu — a medibruxa disse ao seu pai.
St. Mungus? Se eles mandassem o seu corpo para longe de Hogwarts... Nathan não achava que aquilo era uma boa idéia. Ele não queria ser mandado para longe do castelo. Olhou para o Prof. Snape, esperando por algum milagre. Por sorte, seu pai interveio quando Madame Pomfrey já estava se virando para a lareira.
— Isso não será necessário.
— Severo, a Diretora deve ser informa–
— Sim, sim. A Minerva sim, mas não St. Mungus — seu pai interrompeu irritado.
— Eu não posso curá-lo, Severo. Ele deve ser mandado para St. Mungus–
— Eu discordo — o homem interrompeu novamente, olhando com propósito para a medibruxa, que olhava feio para ele. A luta silenciosa por poder pareceu prolongar-se para sempre.
Nathan observava um e depois o outro alternadamente. Ele não queria ser mandado para St. Mungus, mas se a Madame Pomfrey não podia ajudá-lo... por que o seu pai estava se opondo à idéia de mandá-lo para o hospital? Naquele momento, Nathan só queria que o Prof. Snape ganhasse a disputa de olhares; ele poderia pensar sobre as motivações dele mais tarde.
Madame Pomfrey finalmente foi para a lareira e chamou a Diretora. Não chamou St. Mungus pela rede Flu, mas ainda parecia afrontada, deixando bem claro ao Prof. Snape quais eram suas opiniões sobre o assunto.
A Diretora chegou à ala silenciosa, e Madame Pomfrey se pôs a explicar o que estava acontecendo. As duas bruxas se aproximaram da cama onde seu corpo estava. Nathan as seguiu, prestando atenção em tudo que era dito. Nada de novo foi revelado, e finalmente Madame Pomfrey colocou seu desejo de notificar St. Mungus.
— Por que você não os chamou pela rede Flu ainda? — a Diretora perguntou.
A medibruxa fez um gesto exasperado na direção do Prof. Snape; ele estivera quieto desde que a Diretora chegara.
— Severo? — a Prof. McGonagall incitou, virando-se para ele como se só então notasse a presença dele na ala. Nathan a seguiu.
— Ele não será mandado para St. Mungus.
A Prof. McGonagall pareceu desconcertada com a finalidade dele. Nathan estava ficando nervoso com a situação. Será que seu pai estava negando-lhe ajuda? Será que ele não queria que ele ficasse bom novamente?
— Se não há nada que a Papoula possa fazer aqui, precisamos de ajuda especializada.
— Eu sou o pai dele e digo que ele não será enviado para St. Mungus.
Era a primeira vez desde o dia que Nathan ouvira o homem confessar que era seu pai que ele ouvia o Prof. Snape admitir o parentesco de sangue entre eles. Qual era a dele?
— Ele pode estar seriamente ferido, Severo–
— Papoula disse que ele está estável.
— Sim, mas isso pode mudar a qualquer minuto. Nós não sabemos o que o acometeu — Madame Pomfrey disse exasperada.
O Prof. Snape olhou feio para ela de canto de olho: um aviso.
— Por que você não quer mandá-lo para St. Mungus, Severo? — a Diretora perguntou, aparentemente curiosa. Nathan também estava interessado na resposta.
— Eu não confio na segurança dele fora do castelo. Ele fica até que eu diga o contrário.
Nathan tentou captar os sentimentos verdadeiros por trás daquela declaração. Será que o Prof. Snape estava preocupado com sua segurança? Pensando bem, o Prof. Snape sempre viera ao seu auxílio quando estava metido em algum tipo de confusão. Talvez ele estivesse de fato preocupado.
— Na segurança dele? — Madame Pomfrey perguntou, intrigada.
— Sim. — Seu pai olhava feio para ela novamente. Se Nathan pudesse ser ouvido, ele teria dito a ela para não atravessá-lo novamente.
— Severo, se você não notou, a guerra acabou há mais de uma década agora. Você é tão paranóico assim com–
— Ele tem as razões dele, Papoula. O Sr. Granger está mesmo estável? — A Diretora interveio bem na hora, pois o Prof. Snape a encarava com tanta intensidade que o rosto dele estava ficando vermelho com o que o Nathan tinha certeza que era fúria.
— Ele está, mas–
— Vou pedir um café da manhã e você pode explicar a situação em mais detalhes enquanto comemos. — A Prof. McGonagall conduziu a medibruxa pelo braço.
O Prof. Snape foi deixado sozinho com o Nathan. Ele fez um barulho irritado para o par que se retirava antes de fechar os olhos e respirar fundo. Nathan viu ele se virar para a cama e olhar para o seu corpo em silêncio. Como sempre, a expressão dele não mostrava nada dos seus pensamentos, e Nathan ficou novamente sem saber como interpretá-la. Seu pai encerrou o curto espaço até a cama e fixou os olhos no rosto branco como cal. Foi então que a expressão dele mudou.
Nathan observou maravilhado enquanto as emoções passavam pelo rosto do pai. Ele nunca vira algo parecido naqueles olhos negros; eles eram quase aconchegantes, carinhosos. Então longos dedos se estenderam para tocar os menores. Nathan ofegou, uma dor que não poderia ser física pulsando em seu peito etéreo. Seu pai nunca o tocara daquele jeito antes.
— Por que você não acorda? — Foi quase um suspiro.
— Eu não sei como — Nathan respondeu, o desespero crescendo novamente. Ele queria voltar para dentro de seu corpo, ele queria sentir aquilo.
Quando os dedos deixaram a pequena mão e tiraram o cabelo de seu rosto de carne, uma lágrima escapou dos olhos de Nathan. Ele piscou para que ela se fosse e ergueu os olhos para o rosto do pai. O homem franzia a testa.
— Você está frio — ele sussurrou. — O que aconteceu com você?
— Sinto muito — Nathan se desculpou, sentindo a enormidade do que fizera, pensando que brincar com feitiços das Trevas não era tão sério. Olhando para o seu pai agora... Ah, como ele sentia remorso por não poder sentir aqueles carinhos, por causar tanto problema. E se eles nunca descobrissem o que acontecera com ele? Sua visão embaçou com a energia acumulada que compunha suas lágrimas invisíveis.
— O seu aniversário desencadeou alguma maldição em você? — Seu pai continuou o interrogatório calmo, e Nathan percebeu que ele sabia que era o seu aniversário. — Eu não acredito que alguém tenha invadido o castelo para amaldiçoá-lo.
— Eu me amaldiçoei — Nathan soluçou. — Sinto muito!
O Prof. Snape não reagiu à angústia de Nathan, apenas olhava fixamente para o seu corpo em contemplação. O mesmo dedo que estivera tocando o rosto de Nathan estava agora esfregando os lábios finos, seguro ali pelo apoio do outro braço que cruzava o abdômen. Embora o homem parecesse observar o fraco sobe e desce do peito de seu corpo inconsciente, os olhos estavam vidrados, olhando fixamente para o nada, concentrados. Considerando o rosto pensativo de seu pai, Nathan observou aquela calma aparente e tentou reinar em suas próprias emoções.
O Prof. Snape não vocalizou mais nenhuma pergunta, mas era obvio que ele estava tentando descobrir o que acontecera com ele. Mesmo que ele tivesse dúvidas sobre os sentimentos de seu pai por ele, a simples presença dele ali ao lado da cama era tranqüilizadora. Nathan estava muito mais calmo quando a Diretora e a medibruxa aproximaram-se deles novamente. A postura de seu pai se endireitou e a expressão dele ficou mais fria, Nathan notou.
— Alguma mudança? — a Profa. Mcgonagall falou primeiro.
— Não. — Seu pai olhou de relance para a cama uma última vez. — Se me dão licença, eu quero passar nos meus aposentos antes de ir para a sala de aula.
Ele inclinou a cabeça para as mulheres, mas antes que pudesse sair, a Diretora falou novamente:
— Severo, você tem como contatar a Hermione quando ela está lecionando na universidade?
Mamãe. Nathan fechou os olhos, já se preparando para o desapontamento dela.
— Não de nenhuma outra maneira que você tenha, Minerva.
— Então eu precisarei que você vá até ela durante o seu período livre. Ela precisa saber o que está acontecendo o mais breve possível.
— Minerva, eu preferiria usar o meu período livre para pesquisar as maldições possíveis que estão influenciando o menino. Tenho certeza que o Hagrid não seria contrário à tarefa, ou mesmo o Filch.
— Severo, eu não posso mandar um meio gigante entre os trouxas, e o Filch não pode aparatar. Seja razoável. — O tom na voz da Diretora era de irritação, mas também de autoridade.
Seu pai resmungou algo como detalhes que nunca impediram outros Diretores daquela escola antes e concordou hesitantemente:
— Está bem.
— Muito bem, então. Posso ficar tranqüila que você me avisará se houver alguma mudança na condição dele até então? — A pergunta foi direcionada à medibruxa, que assentiu com a cabeça.
— Avise-me também, por favor — seu pai acrescentou, depois assentiu em cortesia para as mulheres novamente e finalmente conseguiu deixar a ala.
Nathan perdeu o interesse na conversa das mulheres. Sua mente estava agora cheia de pensamentos sobre a sua mãe, deixando-o alheio a tudo mais.
Severo andava pelos corredores do castelo com passos largos. Com tudo que tinha para lidar no momento, ele realmente não precisava que Hermione Granger fosse acrescentada no montante. Não foi até a Minerva mencionar que ele percebera a ausência dela em seus pensamentos por uma hora inteira – a primeira naquela semana. O encontro iminente entre eles era o que ele não precisava neste momento.
Acordar de um outro sonho de lábios e mãos em seu rosto e palavras de confissão o mandara taciturnamente para o banheiro naquela manhã. Bravo com seus pensamentos traidores, ele se banhara metodicamente. Passara por seus rituais matinais com uma carranca no rosto austero, nem mesmo se incomodando em falar consigo mesmo no espelho com recriminações, como fizera na manhã anterior. Ele simplesmente olhara feio para si mesmo e deixara o banheiro para se vestir e deixar seus aposentos nas masmorras para o que prometia ser outro dia infernal.
Infernal era um adjetivo fraco, agora ele sabia. Quando Severo avaliou a condição do humor de seu filho antes de sair como fazia todos os dias, o cinza da poção encantada tirou todos os pensamentos de sua mente, mais nada importava senão encontrar Nathan.
Agora ele tinha um filho numa ala hospitalar, uma classe de cabeças ocas para ensinar, e Hermione Granger para encontrar. Sua cabeça doía, lembrando-lhe que não tivera tempo de tomar café algum.
Severo entrou em seus aposentos e bateu a porta atrás de si, fazendo uma careta ao latejar que o som alto trouxe para sua cabeça. Ele foi direto para sua pequena cozinha e preparou uma xícara de café, depois se afundou numa poltrona e bebericou o preparado forte. Ele tinha esperança que isso faria um pouco da dor dissipar, e quando não fez, pressionou os olhos com os dedos, permanecendo assim por um tempo. Poção Contra Dor de Cabeça — ele pensou. Ele “chamou” um frasco que veio direto para a sua mão. Severo o destampou e bebeu, sequer importando-se com o gosto ruim.
Na sala silenciosa, sua dor de cabeça retrocedeu e ele começou a “chamar” livros das estantes. Uma pilha deles descansava agora sobre a mesa de centro, somente alguns dos muitos que Severo achava que poderiam trazer algum esclarecimento sobre a maldição afligindo seu filho. Ele fez careta ao grande número de livros, mas tinha que começar de alguma forma. Pegou os primeiros três livros no topo da pilha e saiu para as aulas da manhã.
Severo reduziu sua palestra ao máximo e logo apontou para a página do livro texto onde seus lufa-lufas e corvinais do terceiro ano encontrariam a poção a ser preparada. Ele não teve que avisá-los mais de uma vez sobre como não toleraria qualquer interrupções e conversinhas durante o resto da aula – aparentemente os primeiros vinte pontos que ele descontara durante a palestra foram suficientes para mostrar-lhes que ele não estava no melhor de seu humor.
O primeiro livro que Severo folheou não tinha nada esclarecedor sobre o que poderia ter atingido seu filho. Ele estava novamente tentando entender como o menino poderia ter sido amaldiçoado debaixo do seu nariz um tanto quanto grande. Ele deveria estar ciente de que algo estava apara acontecer, de que algo não estava certo. Estivera constantemente lendo as “cartas dos fãs” de seu filho, mas nada pulara aos seus olhos, suspeito como algo ameaçador. Obviamente, ele deixara algo ou alguém passar despercebido.
Severo deixou sua mesa para andar pela classe, escrutinando os caldeirões de alunos nervosos. Granger também deixara passar qualquer pista que poderia tê-los avisado de que algo assim aconteceria, mas também, Severo não esperara que ela visse alguma coisa. A mulher era incrivelmente cega – sobre tudo –, e ele logo a encontraria novamente depois de uma das enormes demonstrações de cegueira dela, se não a maior.
Severo tirou dois pontos da Srta. Landers por mexer a poção muito rápido. Pensar naquela mulher era frustrante. Ela às vezes o enganara, mostrando inteligência, vendo as coisas, prevendo acontecimentos, mas aqueles momentos estavam completamente colocados à sombra de... Ele franziu a testa, já de volta à sua mesa. Os lábios dela eram macios demais para alguém com uma mente tão inflexível. Ele realmente não queria pensar sobre aquilo.
Abriu o segundo livro e concentrou-se no problema do Nathan. Sabia que a Papoula havia descartado qualquer maldição de nível escolar, mas ele não as descartara ainda. Ele parara de se surpreender com o que os cabeças ocas eram capazes de fazer quando não estavam nem tentando. Claro, aquilo ampliaria muito sua busca por um tratamento, mas ele não queria ser simplista demais e não enxergar o óbvio.
Outro livro sem nenhuma maldição que parecesse casar com o que acontecera com o Nathan. Como que nenhum dos amigos dele viu nada? Se o Nathan foi atingido enquanto dormia, algum daqueles grifinórios deve ter ouvido ou visto alguma coisa. Ele tinha que interrogá-los. Faria isso logo depois da aula...
Só que depois daquela aula ele aparataria para Londres para encontrar a Granger. Esfregou os olhos e fechou o livro que acabara de abrir. Por que ela tinha que infligir aqueles lábios tenros sobre ele? E ela o pegara de surpresa. Severo Snape odiava surpresas. O que ele faria com ela? A aula estava quase terminada, tinha que pensar rápido, disse a si mesmo; como se uma resposta aceitável que não viera a ele em todos aqueles dias fosse de repente surgir na sua cabeça.
Ele pegou o terceiro livro que trouxera de seus aposentos e tentou concentrar-se nele novamente. Estava no meio, notando a falta de ajuda que estava sendo até então, quando os alunos entregaram os frascos de amostra e saíram das masmorras. Sozinho na sala de aula e sem nenhuma das respostas que precisava, Severo saiu em direção aos seus aposentos para se vestir com roupas trouxas. Ele seguiria o Plano B: ignorar o último encontro deles e simplesmente contar a ela sobre o Nathan, livrando-se dela o mais rápido possível.
Severo se sentia exposto sem suas vestes bruxas. Mesmo que sua capa de frio cobrisse a maior parte de seu terno preto, muito de sua camisa branca ainda ficava à mostra. A temperatura mais quente dentro do prédio do Departamento de Química não ajudou nem um pouco, obrigando-o a se dispor da capa e expor ainda mais de si.
O guarda lhe informou onde o escritório da Granger ficava localizado, mas ela não estava lá. Ele ponderou sobre a possibilidade de deixar um bilhete sob a porta e voltar para Hogwarts. Ela descobriria rápido o suficiente e estaria obstruindo sua investigação da maldição intensamente. Somente o aviso dissimulado na voz de Minerva o fez ir mais fundo no corredor, procurando pela Granger. Era óbvio que a Minerva prometera a Papoula que eles mandariam Nathan para St. Mungus se a mãe dele concordasse, e Severo não podia deixar aquilo acontecer. Ele precisava da Granger do seu lado nessa questão, e para conseguir isso, tinha que falar com ela pessoalmente.
Parou um jovem, provavelmente um aluno, e perguntou onde poderia encontrá-la.
— Acho que a vi com o Prof. Brice no Laboratório de Síntese. É descendo o corredor, a última porta à esquerda, senhor.
Severo inclinou a cabeça em agradecimento e seguiu as instruções do aluno. Das janelas envidraçadas que davam à sala uma aparência de aquário, ele podia vê-la, e ela tinha companhia mesmo. Perfeito — Severo pensou sarcasticamente —, agora terei que me preocupar com o sigilo do mundo bruxo acima de tudo. Decidiu esperar e ver se o trouxa sairia.
Ele os observou interagir, alheios ao mundo ali fora. Podia ver o trouxa melhor do que ela. O homem era jovem, talvez alguns anos mais velho que a Granger. Ela estava ocupada com alguma coisa na bancada, e eles conversavam. O trouxa sorria enquanto falava, e Severo não gostou do jeito como ele olhava para ela quando fazia isso. Por quanto tempo aquilo continuaria?
Mais alunos enchiam o corredor agora, e Severo sentia-se ainda mais fora de seu elemento, parado ali, esperando. Ele olhou ao redor por um lugar melhor para ficar e, ao fazer isso, pegou um pouco da conversa que acontecia ao seu redor, e um comentário se sobressaiu aos outros.
— Não seja boba, Sarah. É claro que ele está saindo com a Profa. Granger. Você não notou como eles estão sempre juntos?
— Isso não significa nada.
— Ora, por favor. Olhe para eles.
Severo seguiu o olhar das garotas até o casal no laboratório e pegou o professor trouxa tirando o cabelo do rosto da Granger, colocando a mecha encaracolada atrás da orelha dela. A princípio ele só encarou, sem saber o que fazer a respeito da cena ou por que deveria fazer algo sobre o que presenciava. Depois ficou bravo e nem se importou em saber por que se sentia assim.
Decidiu que esperara tempo suficiente e que não seria inconveniente se tivesse que obliviar o trouxa depois de tudo. Atravessou o corredor e abriu a porta do laboratório. A Granger olhou para o fundo da sala onde estava a porta e ele.
— Severo?
Ele os encarou.
— Precisamos conversar — disse a ela, indo direto ao ponto.
Ela não reagiu de pronto, somente olhou para ele com surpresa e depois se virou de volta para o experimento que estava conduzindo. O trouxa, entretanto, continuou olhando estranhamente entre os dois.
— Estou num estágio crítico do experimento — ela disse depois de um tempo, ainda atenta ao trabalho. — Pode esperar cinco minutos? — Ela finalmente virou a cabeça para observá-lo, esperando pela resposta. Ela parecia desconfortável com sua presença na sala.
Desculpe por interromper os pombinhos — pensou sarcasticamente e avançou até onde o casal estava. A situação o perturbava mais do que se sentia confortável. Como se eu tivesse tempo para gastar aqui enquanto o nosso filho está numa cama de hospital. Era o que ele queria dizer, mas decidiu recostar-se na bancada vazia paralela àquela onde a Granger trabalhava e esperou pela completa atenção dela, cruzando os braços sobre o peito e olhando feio para o trouxa só para garantir. Quando aquilo não fez o homem incômodo deixar a sala, Severo se preparou para destilar seu doce veneno sobre ele. A Granger olhou de relance rapidamente para onde ele estava, quase atrás dela, e ele segurou a língua para tirar seu exame minucioso dele para ela.
Desviando os olhos mais uma vez, ela falou antes que ele pudesse dizer qualquer coisa:
— Severo, este é o Prof. Brice, um colega meu. William, este é o Prof. Snape, daquele colégio interno que o Nathan freqüenta.
O trouxa estendeu uma mão para ele em cortesia. Severo olhou para ela, contemplando seu próximo passo. Chegando a uma decisão, ele finalmente agarrou a mão e segurou o olhar do homem, acrescentando à introdução da Granger:
— E pai do Nathan.
Vidro tilintou na bancada da Granger, e Severo sentiu um canto de sua boca querendo subir, tentando formar um sorriso sarcástico. O trouxa parecia tomado de surpresa pela declaração, como deveria mesmo.
— É um prazer finalmente conhecer o pai do Nathan — o homem conseguiu falar, encobrindo o mal-estar muito bem e aumentando a força do aperto na mão de Severo desconfortavelmente antes de largar.
A Granger não conseguiu disfarçar o nervosismo tão bem:
— Terminei aqui — ela disse, virando-se para eles. Os olhos dela procuraram os dele, inquisitivos. Severo tinha a atenção dela finalmente.
— Precisamos conversar — Severo repetiu a declaração de antes.
— Podemos usar o meu escritório; é no final do corredor-
— Ou ele pode sair — Severo sugeriu, apontando um dedão na direção do trouxa inconveniente.
— Eu ficarei se você quiser, Hermione.
Severo ergueu uma sobrancelha à petulância daquele trouxa e depois olhou para a Granger. Ela estava inquieta. Ele cruzou os braços sobre o peito novamente.
— Isso não será necessário, Will. Obrigada.
Mas para provar que irritante era sua qualidade, o trouxa insistiu:
— Você tem certeza? Eu não me importaria em ficar.
Severo revirou os olhos.
— Tenho certeza. Obrigada de novo, Will. Falarei com você mais tarde. — Ela empurrou fisicamente o homem que olhava feio para a porta. Ele cedeu relutantemente, murmurando algo para a Granger antes de finalmente sair porta afora.
— Seu namorado é bem protetor — Severo comentou. — Ele sabe que você sai por aí beijando outros homens pelas costas dele?
A Granger ofegou e depois olhou feio para ele.
— Não há nada entre o William e eu, Severo. Queria que houvesse, mas infelizmente, não consigo gostar dele como mais que um amigo. O coração é burro. Tome o meu como exemplo, escolheu você ao invés dele.
Severo fez uma careta, bravo.
— Um lufa-lufa ficaria tocado.
Ela suspirou.
— Por que você está aqui? — perguntou.
— Nathan, por que mais?
— O que tem ele? — ela perguntou, as feições completamente mudadas pela preocupação.
— Ele está na ala hospitalar — ele disse e preparou-se para a barricada de perguntas que certamente se seguiriam.
— Por quê? O que aconteceu? Ele está bem? Claro que não; você não estaria aqui caso contrário. É sério, não é?
Ele esperou.
— Fale alguma coisa! — ela exigiu.
— Terminou? — ele perguntou.
— Apenas fale logo!
— Ele está dormindo — ele começou. Ela franziu a testa. — Não conseguimos acordá-lo — acrescentou, e os lábios dela se partiram antes dele completar —, ainda.
Ela levou uma mão à testa.
— Por que ele está dormindo? O que aconteceu?
— Suspeitamos que seja um sono induzido por maldição — ele respondeu, sem querer prolongar a visível aflição dela.
— Uma maldição... Quem fez isso com ele? — Os olhos que olhavam fixo para ele estavam agora aguçados e brilhantes. — Severo?
— Eu não sei. — Ele deixou sua própria angústia com a situação emergir como impaciência e jogou os cabelos para trás.
— O quê? Você quer dizer que não sabe quem o amaldiçoou? O que o amaldiçoou? — A indignação dela e a acusação disfarçada nela não passaram despercebidas por ele.
— Ele estava perfeitamente bem ontem. Eu só o encontrei esta manhã, na Torre da Grifinória, na cama dele, dormindo. Se não tivesse que lecionar ou perder o meu tempo vindo aqui sob ordens da Minerva, poderia já ter descoberto o que está acontecendo com ele.
— Por que não disse antes? Estamos perdendo tempo precioso! — Ela deu as costas para ele e seguiu para a porta.
Eles não tinham discutido St. Mungus ainda.
— Granger! Eu não terminei meu assunto com você ainda! — chamou, mas ela não parou. — Droga! — amaldiçoou baixinho. Ele não podia usar magia para trancar a porta antes dela sair; teria que ir atrás dela.
Seguindo-a pelos corredores, ele a alcançou no final de um deles.
— Granger! — Ele a segurou pelo braço, impedindo o progresso dela.
Ela se virou, brava com ele.
— Estamos perdendo tempo, Severo! — repetiu e tentou se soltar. — Solte o meu braço, por favor.
Ele olhou em volta; havia trouxas por toda parte.
— Instituição trouxa estúpida — amaldiçoou num murmúrio, irritado por ter que medir suas palavras. — Papoula quer mandá-lo para St. Mungus. Se ela pedir pela sua permissão, negue. — Ele soltou o braço dela. — Agora eu terminei o que tinha para falar.
— St. Mungus? — O franzir de testa preocupado aumentou, os olhos tornaram-se desfocados. Ele podia ver a garganta dela trabalhando enquanto ela engolia. — Qual a gravidade? Não esconda nada de mim, Severo. Apenas me diga o que você sabe.
— Não há necessidade de mandá-lo para St. Mungus. Ele está estável, não há nada de errado com os sinais vitais dele; ele está meramente dormindo.
— Por que a Papoula sugeriria St. Mungus, então? — Ela mordeu o lábio inferior.
— Eu já disse, nós não sabemos como acordá-lo ainda. Quando a Papoula não sabe o que fazer, ela apela para St. Mungus ao invés de tirar a bunda preguiçosa dela da cadeira e pesquisar.
Ela o encarou por um momento. Quando o momento se estendeu por mais que o confortável para ele, Severo suspirou, irritado.
— Até eu saber o que está acontecendo, ele não sai de Hogwarts.
Ela tirou os olhos dele e olhou para algum ponto à distância, parecendo considerar suas palavras, ou assim esperava. Pelo menos a mulher não era estúpida; ela saberia dos riscos envolvidos em tirar o Nathan do castelo.
— Preciso vê-lo — ela disse de repente. Os olhos focaram nele novamente, mais brilhantes que antes. — Tenho que vê-lo. — Ela deu as costas para ele e pegou o caminho pelo corredor, virando à direita onde ele terminava.
Severo fechou e abriu as mãos antes de decidir segui-la, praguejando novamente. Não ajudaria em nada se ela fosse aparatar e se estrunchasse na pressa; ele realmente não precisava de mais aquilo no momento. Dobrou o corredor a tempo de vê-la entrando por uma porta e, infelizmente, aquele trouxa a seguindo para dentro.
Uns poucos passos largos deixaram Severo em frente à porta aberta, e ele podia ver a Granger mexendo em uns papéis numa mesa, de costas para ele, e o trouxa pairando por perto. Ele podia também ouvir o que eles diziam.
— Você está aflita. Acho que deveria sentar e se acalmar, Hermione.
— Eu não tenho tempo para isso, Will. Você pode me fazer um favor e explicar ao Dr. Ghazali que tive uma emergência familiar e tive que sair às pressas? Eu não acho que ele está no escritório agora, e não quero esperar por ele.
— Hermione, diga o que há de errado com o Nathan... Talvez eu possa ajudar.
Severo realmente não gostava do jeito como aquele homem dizia o nome do seu filho.
A Granger piscou algumas vezes, visivelmente tentando reinar em suas emoções.
— Você está ajudando — ela respondeu, os olhos na mesa.
O homem finalmente o viu à porta. Severo cruzou os braços autoritariamente. A Granger ergueu os olhos para... aquele estorvo trouxa e seguiu a atenção dele até a porta e ele. Ela fez uma pausa no que estava fazendo e pareceu estar esperando Severo dizer alguma coisa.
— Você vem comigo — ele disse.
Ela não discutiu e rapidamente resumiu a tarefa dela. Entretanto, o trouxa continuou a encará-lo. Severo segurou o olhar dele impassivelmente, recostando no batente da porta.
A troca de olhares continuou por mais um tempo, até a Granger quebrar a concentração deles.
— Eu vou indo, então. Aqui está um bilhete para o Dr. Ghazali. Obrigada por tudo, Will. Eu aviso se tiver que me ausentar por muito tempo. — Ela entregou a ele um papel dobrado, pegou o casaco e a bolsa, e foi até onde Severo estava.
Severo endireitou sua postura e saiu do caminho. O trouxa deixou a sala antes da Granger, mas esperou no corredor enquanto ela trancava o escritório.
— Vou acompanhá-la.
Este trouxa é irritante mesmo!
— Isso não será necessário — Severo interveio antes que a Granger pudesse dizer qualquer coisa. Ele pegou-a pelo braço e conduziu-a para a saída, deixando o trouxa assistindo.
Alguns passos no dia frio, Severo se virou para sua companheira calada para inquirir:
— De onde podemos aparatar?
Ela o conduziu pelos jardins da universidade. O silêncio dela era de certa forma desconcertante; aquela não era a forma como ele achou que ela reagiria à situação ou à sua presença. Então Severo refletiu no que ele sabia sobre Hermione Granger e concluiu que nada que dissesse respeito a ela deveria surpreendê-lo mais. Aquela manhã era outro bom exemplo – nada de gritaria, nada de choro, nada de correr em círculos feito doida... e um namorado trouxa.
Entraram num beco entre dois prédios onde pararam. Ela já tinha a varinha em mãos quando ele se despertou da memória daqueles dedos intrusos do trouxa no cabelo da Granger e agarrou a mão dela.
Olhos surpresos, porém ainda assombrados, responderam ao seu movimento, olhando fixa e silenciosamente para ele.
— Eu não vou voltar para pegar nenhuma parte que você deixar para trás.
Ele segurou sua varinha com uma mão e moveu a outra para segurar o braço ao invés do pulso dela. Ela chegou mais perto, e antes que ele pudesse reagir, foi envolvido nos braços dela, a cabeça no seu ombro. Ela tinha os olhos fechados, confiando nele cegamente.
Levou um tempo – uma inalação do cheiro dela – para trazer seu cérebro de volta e em condições para conseguir uma aparatação bem sucedida. Com um som mais alto do que produzira em anos, ele desapareceu com eles de Londres e estava agora, ainda envolvido pelo corpo quente dela, em Hogsmeade. Aparentemente, cada parte deles fez a transição intacta, incluindo o cheiro dela. Ele respirou fundo, respondendo à necessidade impulsiva de aproveitar a fragrância dela novamente.
Ela aliviou a força do abraço e afastou-se vagarosamente. Abriu os olhos para olhar diretamente para o peito dele, onde a cabeça dela descansara e uma mão pressionava, os dedos correndo gravata abaixo. Ele observou-a atentamente, sem saber o que seguiria, mas ela não levantou o olhar, só se virou e, ainda quieta, andou até os portões e para dentro dos jardins de Hogwarts.
Um arrepio correu seu corpo, e se era por causa da perda do contato com o corpo dela ou pelo dia frio de inverno, ele não pensaria a respeito. Seu filho estava no castelo quente, amaldiçoado, precisando dele. Aquilo deveria ser o único pensamento em sua mente no momento.
Cruzando os jardins, entrando pelas portas e indo diretamente para a ala hospitalar, Severo seguiu a Granger para poder ter certeza que ela não contrariaria seu desejo de manter Nathan em Hogwarts.
Entraram na enfermaria, a Granger olhando em volta, tentando decidir por onde começar a procurar pelo filho deles.
— Onde? — ela perguntou.
Severo apontou para a ala esquerda e entrou logo depois dela. Quando ela avistou o Nathan, aumentou o passo para quase um trote, enquanto ele se aproximava com menos pressa. Seu menino parecia ainda mais pálido que antes, e Severo temia que a condição dele tivesse mudado para pior nas horas de sua ausência.
— Ah, querido...
A Granger tocou a mão pequena e branca com as suas, trêmulas. Severo observou em silêncio.
— Querido, você está tão frio — ela sussurrou alto o bastante para que Severo conseguisse ouvir; a mão livre dela voando para a testa de Nathan.
— Por que você não me avisou que ela estava aqui? — Papoula o repreendeu de passagem, rapidamente aproximando-se da cama. Severo não respondeu.
— Ele está frio. Precisa de mais cobertores. — Granger tinha ambas as mãos no rosto de Nathan. — Ele está frio! — Ela olhou brava, mas a imperiosidade perdeu um pouco de força com as lágrimas correndo livremente pelo rosto dela.
Papoula lançou um de seus feitiços de diagnóstico, depois se dirigiu à mulher ainda grudada ao seu paciente.
— Ele está dormindo profundamente; não é incomum que a temperatura corpórea dele esteja abaixo do normal. Sra. Granger, embora nós suspeitemos que a causa do sono seja uma maldição, não sabemos com certeza que maldição é essa, se é alguma. Eu não tenho meios de tratá-lo aqui. Preciso do seu consentimento para mandá-lo para St. Mungus onde um especialista possa examiná-lo.
Severo deu um passo em direção da cama quando a medibruxa mencionou St. Mungus. Papoula olhou de relance propositalmente para ele; ele olhou feio para ela. A Granger continuou a encarar o rosto pálido do Nathan.
— Como alguém pode machucar uma criança inocente? O que ele poderia ter feito para merecer isso?
A dor na voz dela o desarmou um pouco. Ele nasceu meu filho — concluiu como resposta à pergunta dela, fixando os olhos nos pés cobertos de seu filho.
— Sra. Granger, acho que o curandeiro de St. Mungus pode ser capaz de ajudá-lo, mas preciso do seu consentimento para mandá-lo para lá — Papoula insistiu.
— Ele não pode deixar Hogwarts.
Com aquelas palavras, Severo olhou de volta para ela e respirou um suspiro silencioso de alívio.
— Não há nada que eu possa fazer por ele aqui. Eu não sei o que o Severo lhe disse-
— Que ele descobrirá o que está acontecendo e encontrará uma maneira de acordar o Nathan, foi isso que ele me disse. A propósito — a Granger fungou e virou para ele —, o que você ainda está fazendo aqui? Deveria estar pesquisando.
Suas sobrancelhas se ergueram com aquilo. Quando o queixo petulante dela se ergueu ainda mais, ele estreitou os olhos e disse:
— Acho que vou fazer isso mesmo, já que você tem que “chorar sobre o menino desacordado” . — Ele se virou, perdendo o farfalhar que suas vestes bruxas sempre faziam, e saiu em direção à porta.
— Estarei com você em breve — ela disse alto para ele.
Claro que ela estará — ele pensou, andando a passos largos pelos corredores de Hogwarts.
N.A.: Eu sei que eu demorei para caramba para terminar este capítulo, mas eu asseguro que o próximo já está escrito e faltam apenas alguns ajustes. Obrigada pela fé em mim e na minha fic, significa muito para mim.
No próximo capítulo… Severo e Hermione trabalham juntos, e Nathan encontra um jeito de ser ouvido.
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