Capítulo Oito – Demônios e Anj

Capítulo Oito – Demônios e Anj



Capítulo Oito – Demônios e Anjos


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Draco brincou com a comida em seu prato meio sem vontade. Não era que a comida não fosse boa; para a imensa surpresa de Draco, Snape, entre suas outras realizações, parecia ser capaz de produzir um bolinho de amoras razoável. Mas seu estômago estava amarrado em nós tão apertados que cada mordida era como engolir um pedaço afiado de metal.

Não ajudava, é claro, que Snape, sentado oposto a ele na mesa da pequena cozinha azul, estava encarando-o com um olhar penetrante que Draco achava muito desconcertante. Draco sempre fora da opinião que laceração por meio de olhares era uma expressão um tanto vulgar, mas no momento os olhos besouro-preto de Snape fizeram-no sentir como se o mestre de Poções pudesse passar direto através de sua testa e atingir o fundo do seu crânio.

- Então, – disse Snape, esmagando um pedaço de bolinho distraidamente entre seus dedos indicadores. – agora que nós já revisamos isso centenas de vezes, eu ainda estou incerto. Você veio a mim porque pensou que eu podia ajudá-lo, ou porque você sabia que eu não contaria a Sirius Black que você está aqui?

- Bem – Draco disse com a boca cheia de bolo. – Você não contará, certo?

- Considerando que eu não urinaria nele se ele estivesse pegando fogo, essa é uma suposição acurada, sim. Porque você se importa que ele saiba que você está aqui?

- Ele tentará me levar pra casa – disse Draco, como se isso fosse óbvio. – Ele pensa que pode me ajudar, mas não pode. Nenhum deles pode me ajudar. Embora eu ainda ache que você possa.

Snape olhou distraidamente na direção da pequena janela da parede leste. Uma pálida luz matutina fluía através das cortinas. Draco olhou para longe; ele havia descoberto que, ultimamente, a luz machucava seus olhos.

- Eu não me importo em não contar a Sirius Black onde você está. Mas parece um tanto imoral esconder de sua mãe a notícia do seu paradeiro. Talvez você devesse mandar uma coruja a ela, e contar porque você não sente que pode ir pra casa?

Draco revirou seus olhos.

- E dizer o que? ‘Oi, Mãe, eu não posso ir pra casa porque eu acho que estou ficando louco. Não só um pouquinho louco, mas um completo abirobado estilo batendo-minha-cabeça-contra-a-parede, espumando-pela-boca, eu-acho-que-sou-Napoleão. Mas olhe pelo lado positivo, pelo menos você sabe o que me dar de Natal: uma lobotomia dupla e dez rolos de forro de parede de borracha. Com amor, Draco.’

- Você não está ficando louco. Enlouquecer seria um problema relativamente fácil de lidar. Isso é muito mais complicado. Você não é um garoto comum...

- Eu sei, obrigado, meu pai me falou. – Draco disse, desviando o olhar. Sua mente não parecia aceitar a idéia de que seu pai estava morto, muito embora Snape tivesse lhe dado os detalhes e mostrado uma cópia do Profeta Diário com uma manchete sobre a morte de Lúcio. Ele não tinha certeza de como se sentia – não de luto exatamente, mas certamente um tanto entorpecido. Ele lembrou do quão vazio Harry tinha parecido depois de receber a carta de Hermione, quando ainda estavam na escola; lembrou de ter pensado que Harry estava em choque. Ele meio que esperava que seu choque durasse mais tempo que o de Harry, já que ele não estava exatamente ansiando pelo que poderia acontecer uma vez que o choque passasse.

Snape parecia pensativo.

- Eu admito que eu estou surpreso que seu pai tenha lhe contado os planos originais do Lorde das Trevas.

- Por quê?

- Porque seu pai era um mentiroso. Ele mentia para todo mundo, mesmo quando não havia nenhum benefício para ele. Ele mentia porque ele amava mentir. Eu estou surpreso que ele tenha lhe contado a verdade.

Draco não sabia bem como responder. Não importava o que ele sentisse em relação a seu pai, o orgulho familiar o impedia de insultá-lo na presença de estranhos, ou quase-estranhos. Ele se lembrava de ter dito para Harry uma vez que odiava Lúcio, mas aquilo havia sido diferente porque ele havia estado quase certo de que estava prestes a morrer na hora, e de qualquer forma, aquele tinha sido Harry. Snape chamando o seu pai de mentiroso era outra coisa. De acordo com o Código de Conduta da Família Malfoy (comprimento: trezentas páginas, contendo 1.376 regras englobando desde “as cores das vestes da família Malfoy são preto, verde e cinza, com exceção de situações de estado, quando é permitido usar vermelho, cinza e preto” até “Malfoys são expressamente proibidos de praticar Feitiços de Desejo inapropriados em membros do reino animal, especialmente no Jardim Temático[*Nota da Tradutora: São aqueles jardins onde os arbustos são cortados em várias formas, como peças de xadrez, etc.]. Isso é pra você, tio Heitor.”) ele devia, para salvar a honra de sua família, ficar de pé e socar Snape no olho. Mas ele não estava com muita disposição para tal, então se contentou em encarar furiosamente a sua xícara de chá parcialmente vazia e murmurar:

- Leite.

- Como?

- Leite – Draco repetiu – Para o meu chá. Eu preciso de um pouco de leite.

- Pegue você mesmo. – Snape disse brevemente.

Draco se pôs de pé e foi até a geladeira. Parecia uma geladeira normal do exterior, mas quando a abriu ele descobriu que estava estocada com dúzias de frascos de vidro transparente, cada um organizadamente etiquetado na letra espremida e articulada de Snape; “sangue de morcego”, “olhos de salamandra”, “mundigo seco”, “orelha de lagarto” e “pudim de mandioca.” O pudim de mandioca parecia bastante com as orelhas de lagarto secas. Draco fechou a porta bruscamente.

- Eu não queria leite tanto assim. – ele disse, meio para si mesmo, e voltou para a mesa.

Snape o encarou.

- Eu pensei que você fosse pegar leite.

- Eu decidi que não queria.

- Bem, eu quero.

Draco, que estava se sentindo tonto, e realmente não queria se levantar de novo, encarou Snape de volta, e levantou seu braço esquerdo. A porta da geladeira se abriu com força, o frasco de leite voando para fora. Ele girou na direção de Draco e se chocou contra sua mão. Ele o colocou na mesa com um estrondo e levantou seus olhos para ver Snape encarando-o mais do que nunca.

- Não se exiba. – o Mestre de Poções disse friamente.

Draco abriu seus olhos largamente.

- Por que não?

Bang.

Snape deitou sua mão contra a mesa com uma força que fez a prataria tremer.

- Você acha que tem todo esse poder de graça? – ele rosnou – Nada é de graça. Toda vez que você o usa, você perde um pedacinho da sua própria alma.

Draco se encolheu contra sua cadeira. Ele se sentia... repreendido, de uma maneira que nunca havia se sentido antes, nem mesmo por Sirius. Isso dissipou um pouco da fumaça nebulosa que cercava seu cérebro, e ele piscou para Snape em surpresa.

- Mas eu...

- Cale-se! – Snape disse vivamente, e se levantou, empurrando sua cadeira para trás. – Sente-se aqui. – ele disse – Não se mova. Se você usar qualquer mágica enquanto eu estiver fora, mesmo que para levantar o coador de chá, eu vou forçá-lo a beber uma poção que o transformará em um castor.

- Primeiro uma doninha, agora um castor!? – Draco disse irritadamente – Porque todo mundo olha para mim e pensa ‘roedor’?

- Você realmente quer uma resposta para essa pergunta?

- Não. Pra onde você vai? – Draco percebeu que ele soava melancólico, e não se importava. Ele não queria ser deixado só; tinha ficado só o dia todo e era o suficiente, especialmente com o seu cérebro passando a sensação de que estava prestes a se despedaçar como um carro velho dirigido rápido demais.

- Para o meu escritório. – disse Snape – Preciso pegar algo.

- Deixe-me ir com você.

- Você não comeu nada. Eu não quero você desmaiando por toda parte. Eu tenho muitos equipamentos extremamente frágeis e quebráveis naquele aposento.

Draco pegou os restos do seu bolinho e meteu-os em sua boca, mal se importando em mastigar.

- Hmmpph. – ele disse, fazendo um gesto largo e expansivo com seus braços que indicava que ele tinha terminado de comer.

Snape olhou para ele, e Draco poderia jurar que viu um breve tremido de divertimento puxar o canto de sua boca amarga.

- Tudo bem. Venha comigo.

O escritório de Snape acabou sendo muito mais um laboratório que um escritório. Draco suspeitava que ele provavelmente só chamava de escritório porque não queria parecer um cientista maluco. Ainda assim, o aposento teria deixado um cientista maluco orgulhoso: era de teto alto e mal iluminado, e em todo canto havia caldeirões borbulhando sobre fogos baixos, altos frascos de vidro cheios de substâncias que brilhavam, vaporizavam e chiavam, sacos rotulados e pacotes cheios de ervas esmagadas, cascas de besouro, pele de répteis em tiras e outras substâncias que Draco não poderia nomear. Ele andou de uma mesa para outra enquanto Snape se ocupava em uma mesa no canto do aposento, encarando frascos, vidros e filtros transparentes cheios de líquidos multicoloridos.

- O que essa faz? – Draco perguntou, apontando para um béquer cheio de um líquido borbulhante verde-lima.

- Livra-se de pêlos do peito. – disse Snape. (Finalmente! Uma explicação!)

- O que essa faz?

- Faz crescer pêlo do peito por todo o seu corpo.

- Eca!

- Algumas pessoas querem coisas estranhas.

- Você vende essas coisas?

- Às vezes. – Snape replicou, sem olhar para cima. – Você acha que alguém conseguiria sobreviver com o salário que nos pagam em Hogwarts? A maioria de nós faz trabalho de consultoria. Agora se sente naquele banquinho ali e cale-se por um minuto.

Draco, obediente, se sentou no banquinho, que estava perto de uma longa mesa com várias amostras de lixo descartado. Rolos de barbante, pequenas jarras de olhos de salamandra passados da data de validade, penas partidas, um pedaço de espelho quebrado. Tinha-se passado um bom tempo desde a última vez que ele havia olhado para seu próprio reflexo, Draco pensou, esticando-se para pegar o pedaço de espelho quebrado. Só aquilo já era causa de alarme em relação a seu estado mental.

Ele levantou o pedaço de vidro quebrado e olhou a sua própria imagem refletida em um estado perto de desânimo. Eu estou horrível. O seu bronzeado de verão havia desaparecido, e sua pele parecia tão branca e semi-translúcida quanto papel. Ele devia ter perdido peso também; podia ver as lâminas afiadas de sua clavícula mostrando-se acima da gola da camiseta muito grande de Carlinhos. Em seu rosto branco, seus olhos, sempre de um pálido cinza-prateado, pareciam quase pretos, as íris diminuídas para finos aros de prata ao redor de suas pupilas dilatadas. Não era de espantar que a luz na cozinha havia ferido seus olhos. As sombras debaixo de seus olhos eram de um azul doentio e seu cabelo -

Draco repentinamente gritou e derrubou o espelho.

Snape, que tinha estado investigando o conteúdo de uma gaveta da mesa se ergueu e correu até Draco, com cuidado para não derrubar o conteúdo do frasco que ele estava segurando. Ele parecia alarmado, ou pelo menos mais alarmado do que nunca.

- O que foi? O que aconteceu?

- Eu tenho um cabelo branco! – disse Draco, pegando uma mecha de fios prateados e olhando para cima para encará-los. – Eu só tenho dezesseis anos e eu tenho um cabelo branco!

O olhar alarmado de Snape rapidamente mudou para um de divertimento desgostoso.

- Com o cabelo que você tem, eu não vejo como você pode notar a diferença.

- É claro que eu posso notar a diferença. O que está acontecendo comigo? Eu estou morrendo? Você tem que me ajudar. Dê-me alguma coisa... qualquer coisa.

- Um pacote de tinta para cabelos? – Snape sugeriu com um sorriso frio – Sua vaidade é impressionante, Sr. Malfoy, mas eu acho que seu penteado é o último dos seus problemas. Tome. Beba isso. – e enfiou o frasco que estava segurando na mão direita de Draco.

Draco olhou para baixo. O frasco estava cheio de um líquido preto de aparência grossa que borbulhava, soltava vapor e cheirava vagamente como asfalto molhado.

- Er... – ele disse – E o que é isso quando está em casa?

O mestre de Poções apenas olhou para ele. Na luz tremeluzente dos muitos fogos no escritório, o rosto de Snape parecia uma máscara dele mesmo, contornada em sombras vermelhas. Era estranho, Draco pensou, olhando para ele: Snape era da mesma idade de Sirius, ainda assim o rosto de Sirius carregava obviamente as marcas do garoto que ele um dia foi; Snape parecia alguém que nunca teve infância.

- Beba. – Snape disse outra vez. – Vai ajudá-lo.

Draco mordeu seu lábio.

- Você beberia? – ele disse, olhando de esguelha para Snape – Se você fosse eu?

- Eu bebi. É um preparo que eu fiz especialmente para meu uso pessoal, muitos anos atrás.

Draco baixou o frasco e encarou.

- Por quê?

Snape suspirou, e se inclinou contra a parede, encolhendo seus ombros angulares dentro de suas vestes pretas, sua expressão impossível de ler. Então ele esticou uma mão e lentamente levantou sua manga esquerda. Ele estendeu seu braço para Draco, com a palma para cima, para que Draco pudesse ver claramente a Marca Negra marcada em sua pele.

Draco encarou, e então levantou seus olhos para Snape.

- Sim. – ele disse vagarosamente. – Meu pai tem uma. Tinha uma. – ele se corrigiu, impacientemente.

- Esse não é a única lembrança que eu carreguei da minha associação com o Lorde das Trevas. – disse Snape, olhando para seu braço. – Quando nós éramos dele, nós éramos amarrados a ele, corpo, sangue e mente. Essa é parte da razão pela qual ninguém jamais saiu de seu serviço. Se ele não o encontrava e matava, loucura era o resultado normal, e inevitável.

- Mas você saiu.

- Eu saí. E quase enlouqueci. Eu procurei refúgio com Dumbledore, e ele me protegeu de danos físicos nas mãos do Lorde das Trevas. Mas ele não podia salvar minha mente. Aonde quer que fosse, todo dia, toda hora, eu ouvia a voz do Lorde das Trevas na minha cabeça, prometendo que se eu voltasse a seu serviço tudo seria perdoado. Dumbledore havia feito de mim parte de seus planos. O Lorde das Trevas me prometeu que se eu desse a ele as notícias desses planos, ele me daria clemência. Sua voz falava em meu ouvido todo dia, e a noite toda em meus sonhos.

Draco o encarou, sua boca parcialmente aberta.

- Você quis voltar? Você acreditou nele?

- Ah, sim, eu quis. Mas não, eu não acreditei no seu perdão prometido. Pois isso é a essência do seu estilo de crueldade; traia-o, e nenhuma misericórdia será mostrada a você.

- Então o que você fez?

- Eu fiz isso. – Snape disse brevemente, apontando para o frasco que Draco segurava. – Eu não fazia idéia, no começo, se iria me ajudar ou me matar. Mas eu trabalhei duro, e fui bem-sucedido. A poção bloqueou as vozes na minha cabeça e restaurou minha força de vontade. Eu só posso esperar que vá fazer o mesmo para você.

Draco olhou de volta para a poção, que ainda estava rodopiando e borbulhando.

- Eu adicionei uma Poção Despertadora à mistura. – ele ouviu Snape falar, soando muito distante. – Vai lhe impedir de dormir, e sonhar. Pelo menos por alguns dias.

Draco concordou com a cabeça.

- Saúde. – ele murmurou, e levou o frasco a boca. Ele inclinou sua cabeça para trás e engoliu com força; apesar do seu cheiro de asfalto, a poção realmente tinha quase nenhum gosto. Ele a sentiu passar pelo fundo de sua garganta, e atingir o seu estômago quase vazio, onde se revirou.

Uma onde de calor o atingiu, quase fazendo-o derrubar o frasco, e então uma energia alerta e ardente tomou conta dele como febre. Machucou, um pouco, mas era também curiosamente quente, e ele tinha estado tão frio nos últimos dias...

- Oh... – ele disse calmamente, e reclinou-se devagar até que sua cabeça estava descansando em seus braços dobrados sobre a mesa. Ele sentiu Snape se aproximar e puxar o frasco dos seus dedos sem vida. Ele de repente sentiu falta de Sirius, que teria colocado uma mão em seu ombro, ou alisado seu cabelo, ou qualquer coisa. Ele ouviu a voz de Snape como se viesse de muito longe:

- Você está bem, Sr. Malfoy?

- Sim. – ele sentou, esfregou os olhos. – Estou bem.

- Pode queimar um pouco sua garganta, mas não vai lhe machucar. Deve levar mais ou menos uma hora para todos os efeitos serem sentidos. Você gostaria de ir se deitar?

- Eu não estou cansado.

- Não, você não estaria. A Poção Despertadora funciona imediatamente.

Draco não disse nada, apenas sentou-se com a base das mãos pressionada contra seus olhos. Ele podia sentir a poção espalhando seu calor para fora do seu estômago, passando por suas veias, fazendo seu coração bater desenfreado. Ele respirou fundo e ouviu Snape dizer:

- Sim, eu sei que dói. Respire através dela, a dor não vai durar.

- Eu estou respirando. – Draco falou, irritado. – Como seu eu fosse parar de respirar...

- Bem, nunca se sabe quais serão os efeitos colaterais. – disse Snape, e Draco olhou de esguelha e se perguntou se o professor de Poções estava fazendo uma piada. Ele não sabia a diferença. – Olhe, – Snape adicionou constritamente – você ficará bem. Você obviamente tem uma grande força de vontade, do contrário não teria sobrevivido até agora. Você devia ter desistido. Mas não desistiu, apesar dos ferimentos e da exaustão. Deveria estar orgulhoso de si.

- Ferimentos? – Draco murmurou, tirando suas mãos dos olhos. – Eu não tenho nenhum machucado, eu não tenho nem mesmo um arranhão em mim.

Snape inclinou-se para frente, e pressionou seus dedos nas têmporas de Draco. Para a surpresa de Draco, ele não teve vontade de desviar-se, apesar de não gostar muito de ser tocado – o gesto era estranhamente paternal.

- Eu quis dizer feridas mentais. – disse Snape, dando tapinhas na têmpora esquerda de Draco com um dedo magro. – Essas são as feridas de guerra dos feiticeiros. Eu mesmo as tenho. Você está travando uma batalha, jovem Sr. Malfoy. Mesmo que ainda não tenha percebido.

***

- Eu não entendo. – disse a Sra. Weasley, quando ela se juntou a Rony e Gina na mesa de café da manhã, segurando um prato de torrada. Eram quase onze horas, e eles estavam tomando café tarde, mas a Sra. Weasley achou que era recomendável deixar seus exaustos filha e filho mais novo dormirem um pouco mais depois do que eles haviam passado na última semana. Como conseqüência, só estavam os três na mesa do café, o Sr. Weasley já tendo partido para uma reunião no Ministério. – Qual é exatamente a situação do garoto Malfoy. Sirius disse que ele estava desaparecido...?

- Ele está desaparecido. – Rony concordou suavemente, estendendo o braço para pegar a torrada. – Essa é a situação.

- Eu lembro de tê-lo visto na Floreios & Borrões vários anos atrás, com seu terrível pai. – Sra. Weasley falou, meio para si mesma. – Ele parecia uma coisinha pálida, subnutrida...

- Ele cresceu bastante desde aquela época. – Gina disse no que esperava ser um tom neutro, e procurou pela geléia.

- Ele se parece com Lúcio? – perguntou a Sra. Weasley. – Não é para falar mal dos mortos, mas...

- Sim, ele é igualzinho a ele. – disse Rony, no mesmo tempo que Gina disse: “Não, de maneira alguma.”

A Sra. Weasley parecia confusa.

Rony revirou seus olhos.

- Você terá que perdoar Gina. – ele disse para sua mãe em um tom de quem sabe de tudo. – Ela tem uma queda por ele.

A colher da geléia voou da mão de Gina.

- Rony, cala a boca. – ela disse, lançando um olhar fulminante para seu irmão.

- Bem, você tem. – disse Rony. – Você tem uma queda louca por ele. Admita.

Gina estava consciente de sua mãe observando essa conversa com interesse vivo, e ruborizou um vermelho brilhante.

- Eu pensei que você tinha uma queda pelo Harry, Gin. – disse a Sra. Weasley alegremente. – Eu estou fora de época.

- Harry é água passada. – disse Rony, com um sorriso que era meio malícia, meio mal-criação. – Descartado, jogado pro escanteio, ‘O Garoto Que Levou O Fora’. Não que vocês namorassem. – ele adicionou para Gina. – Mas você entende o que eu quero dizer.

- Permita-me responder a isso com uma encarada. – disse Gina, e fez exatamente isso.

- Rony, – disse a Sra. Weasley em um tom dominante, embora seus olhos estivessem dançando. – deixe sua irmã em paz.

Rony virou-se para ela, parecendo magoado.

- Mas mãe, ele é um Malfoy!

- E daí? – disse a Sra. Weasley – Não seja tão medieval, Rony. – Rony arregalou os olhos para sua mãe como um peixinho dourado fora d’água enquanto ela pegava o bule de chá serenamente. – Você terá que aprender a se dar bem com ele, não vai? – ela disse para o filho. – Se ele vai se tornar o meio-irmão de Harry.

Rony murmurou algo que soava como “Não se ele nunca aparecer de novo.”

Gina o encarou, e virou-se para sua mãe.

- Esse é um bom argumento, mãe. Se o Harry gosta dele...

Rony fez um som impaciente.

- O Harry não gosta dele.

A Sra. Weasley parecia curiosa.

- Você não descreveria Draco como um amigo do Harry?

- Não. – disse Rony. – Eu o descreveria como um idiota vestindo calças ridículas.

- Essa, - disse a Sra. Weasley, em um tom que dizia que ela não queria discussão – não é a impressão que eu tenho.

- O quê, você é uma fã de calças de couro também, mãe? – Rony perguntando, mal-interpretando-a de propósito e sorrindo enquanto o fazia.

A Sra. Weasley pareceu surpresa, e então sorriu.

- Calças de couro? Você sabe, Sirius costumava ter calças de couro no tempo que ele tinha a motocicleta. Antes de... bem, vocês sabem. Quando ele estava fazendo seu treinamento de Auror no Ministério. Algumas vezes – ela adicionou, parecendo levemente nostálgica – ele as usava até para trabalhar.

- MAMÃE! – Rony exclamou, parecendo chocado.

A Sra. Weasley limpou sua garganta.

- Esqueçam. Agora, do que nós estávamos falando? Ah, sim, eu tinha uma pergunta para vocês dois. O que vocês acham do professor Lupin?

Essa abrupta mudança de assunto fez tanto Rony como Gina piscarem em surpresa. Rony se recuperou primeiro.

- Lupin? Ele é ótimo. – ele disse – O melhor professor que nós já tivemos.

Gina balançou a cabeça, concordando.

- Ele sempre tinha chocolate. O que há para não gostar?

- Ele me fez uma pergunta muito estranha. – disse a Sra. Weasley. – Ele queria saber se nós tínhamos algum ancestral da Lufa-Lufa.

Rony e Gina trocaram olhares; Rony falou primeiro.

- O que você disse, mãe?

As orelhas da Sra. Weasley ficaram levemente rosadas.

- Eu não disse nada. Por sorte seu pai estava falando com Sirius, ou ele teria começado a tagarelar sobre como a doninha da família Weasley parece bastante com o símbolo da Lufa-Lufa, e como a Toca costumava ser um castelo--

- E a adega era uma masmorra. – disse Rony em um tom entediado. – E a pedreira nos fundos era um fosso. É tudo besteira de qualquer forma.

- Bem, tem algemas lá na adega. – Gina apontou.

- Sim, – disse Rony, sua voz derramando sarcasmo. – Porque Fred e Jorge as colocaram lá para que eles pudessem algemar Percy quando ele devia estar de babá.

A Sra. Weasley estava horrorizada.

- Fred e Jorge algemaram o Percy?

Rony parecia que estava ciente de ter dito algo que não deveria.

- Bem, era tudo por pura diversão e eles nunca usaram os ferros das pernas nele...

Rony foi poupado de mais explicações quando, com um *pop* suave, o Sr. Weasley aparatou na cozinha.

- Artur! – a Sra. Weasley pulou, assustada pela visão de seu marido. Gina também olhou para ele curiosamente; ele nunca tinha visto seu pai parecendo tão bagunçado. Suas vestes estavam enrugadas e desarrumadas, seu cabelo vermelho apontando para todas as direções, seu rosto amassado em linhas de cansaço e desânimo.

- Artur. – A Sra. Weasley disse novamente, correndo em sua direção. – Qual é o problema? O que você está fazendo de volta de Londres tão cedo?

- A reunião acabou. – disse o Sr. Weasley, sem tom. – Eles escolheram um novo Ministro da Magia.

Rony virou-se no seu na sua cadeira para olhar para seu pai.

- Quem é?

O Sr. Weasley engoliu visivelmente.

- Bem, - ele disse vagarosamente. – eu.

*** (É, todos nós sabíamos que isso ia acontecer, não é?)

Hermione, Sirius e Lupin estavam tomando o café da manhã na biblioteca quando Harry entrou, com cabelos desarrumados e gemendo. Hermione olhou para cima e sorriu quando o viu, embora o seu sorriso tenha diminuído um pouco quando ela percebeu o quão cansado ele parecia estar. O suéter azul-escuro que ele usava combinava tristemente com as sombras azuis debaixo dos seus olhos.

- Oi. – ele disse olhando ao redor em surpresa. – Há quanto tempo vocês estão acordados? Porque ninguém foi me acordar?

Sirius olhou para cima dos papéis que ele estava lendo atentamente.

- Nós achamos que era melhor deixar você dormir.

- Devem ser umas três da tarde. – disse Harry irritadamente, andou até Hermione, beijou-a um tanto superficialmente na orelha, e se jogou numa cadeira. – Onde está Narcisa?

- Ele teve que ir ao Ministério; há um inquérito sobre a morte de Lúcio. – Sirius respondeu.

- Eles não querem falar com você também? Quero dizer, você esteve realmente na cela onde ele...

- Explodiu? – Hermione terminou docemente para ele. Ela se sentia um pouco culpada por não sentir mais pena pela morte de Lúcido, mas não podia controlar o sentimento que, supondo que eles conseguissem trazer Draco de volta, em segurança e inteiro, era a melhor coisa que poderia ter acontecido a ele.

- Não me lembre. Sim, eu irei ao Ministério amanhã. – ele passou uma página, suspirou irritadamente, e encarou na direção de Lupin. – Você tem certeza que essa chave de tradução que você me deu está correta? Eu não consigo fazer esse feitiço ter sentido.

- Você conseguiu uma chave de tradução para a Língua das Cobras? – Harry perguntou curiosamente.

- Eu consegui tirar a Língua das Cobras do livro. – disse Lupin, empurrando o Diário na direção de Harry e Hermione. – O problema é que a parte mais útil do livro, que é onde Slytherin listou todos os feitiços que ele usou, foi duplamente codificada... ele aparentemente era muito suspeito que alguém poderia tentar roubar seus feitiços. Ele escreveu em Serêiaco, Trolês, Francês...

- É uma pena que Fleur não está aqui para te ajudar. – disse Sirius, e deu um grande e antipático, sorriso para Lupin.

- Gigantês, Grego – cala a boca, Sirius – e algo que parece com escrita espelhada. Talvez não o seu melhor esforço...

Sirius, enquanto isso, estava encarando de olhos revirados um dos pedaços de pergaminho que tinha um feitiço em Serêiaco copiado.

- “Despreze a canoa de bife”? Isso não pode estar certo.

- Sirius... – Hermione fez uma careta para ele, se inclinou e pegou o pergaminho da mão dele. – Diz fallax proefini...imago mole... É Latim, não um feitiço que eu conheça, mas significa algo sobre projetar imagens... – ela olhou para Lupin – Esse é o de Magid?

- Qual de Magid? – Harry ordenou.

Lupin suspirou.

- Há um feitiço que Slytherin afirmou permiti-lo encontrar sua Fonte... essa seria Rowena... onde quer que ela estivesse, e se projetar para lá.

- Mas Draco não é minha Fonte. – Harry disse simplesmente.

- Não, mas a ligação mental que vocês têm é muito parecida com a que existiria se ele fosse. Vale a pena tentar de qualquer forma. – disse Sirius, levantando sua cabeça. – Eu colocarei um Feitiço Localizador em você, e uma vez que nós o mandarmos para onde Draco está, eu irei atrás de você.

Hermione olhou para cima rapidamente.

- Isso vai ser perigoso para Harry?

- Não. – disse Lupin um pouco distraidamente, e deitou o livro que tinha estado segurando. – Ele ficará bem, principalmente porque--

- Mas nós nem sabemos se a ligação mental está funcionando. – Harry interrompeu, tirando uma mecha de cabelos escuros impacientemente da frente dos seus olhos. – Não é como se eu soubesse onde ele está...

Lupin colocou a mão no bolso e retirou sua varinha.

- Dê-me sua mão, Harry, sua mão direita.

Harry estendeu a mão e Lupin a virou, palma para cima, e colocou a ponta de sua varinha contra a cicatriz que corria diagonalmente através da palma de Harry. Harry tremeu, como se isso lhe causasse dor, e seus olhos encontraram os de Hermione no outro lado da mesa.

- Essa cicatriz conecta vocês dois. – disse Lupin – Da mesma maneira que a cicatriz na sua testa conecta você a Voldemort.

Harry concordou com a cabeça.

- Eu sei.

- Fique parado. – Lupin disse.

***

Draco queria dormir, mas a poção Despertadora não o permitia. Ele tinha agradecido no princípio a energia alerta e ardente que lhe deu, mas agora ele estava cansado disso. Não que ele quisesse dormir e sonhar... ele certamente não queria isso. Mas estava entediado. Snape havia ido brincar com suas poções em seu laboratório e Draco ficou andando sem rumo pela casa. Ele havia descoberto muito pouco, exceto o fato de que Snape tinha um gosto musical muito peculiar e que, se o que estava dobrado em cima da máquina de lavar era alguma indicação certa, ele dormia com pijamas de flanela azul, decorado com coraçõezinhos vermelhos. Nossa, Draco pensou.

Ele pensou novamente no Profeta Diário com o artigo da morte de seu pai, e decidiu pedir a Snape para que pudesse vê-lo outra vez. Ele marchou pelo corredor até o laboratório do Mestre de Poções, e abriu a porta.

Os caldeirões estavam borbulhando harmonicamente à distância, mas Snape, sentado em sua escrivaninha, parecia estar dormindo, sua cabeça em seus braços, uma pena quase caindo de seus dedos. Vendo o Profeta Diário dobrado no canto da mesa, ele estendeu a mão, e parou. Havia um bloco de notas a uns quinze centímetros da mão de Snape, e nele ele viu escrito seu próprio nome.

É raro uma pessoa ver seu nome escrito por uma outra pessoa e não querer investigar. Movendo-se silenciosamente, Draco arrastou o bloco em sua direção e o virou para ver o que estava escrito na letra espremida de Snape... Dei a poção ao jovem Malfoy, e ele não foi machucado, então ele não está tão longe quanto eu havia pensado. Ainda assim, ele já possui aquele olhar, o presságio de uma morte violenta. Não estou certo do quanto posso ou devo lhe dizer sobre a poção: que como muitas drogas, com o seu uso os efeitos podem ser reduzidos, tornando-se quase insignificante em meses. Se não fosse pela derrota do Lorde das Trevas, a poção não poderia ter me salvado... Queria que Dumbledore estivesse aqui para me aconselhar...

Draco empurrou o bloco para longe, virando-se para longe da escrivaninha; um enjôo em seu estômago. Ele saiu do quarto e seguiu pelo corredor, virou cegamente para a direita, abriu a porta que havia ali e encontrou-se na sacada iluminada por uma luz radiante.

A luz penetrou em seus olhos como facas, e ele se sentou meio que repentinamente, suas costas contra a parede da casa, trazendo seus joelhos ao peito.

Então a poção era só um recurso provisório, se isso. Snape parecia não ter certeza nenhuma de até quando ela iria funcionar. Estava certamente funcionando agora, Draco podia sentir, havia sentido ela fazer efeito há pouco tempo. A mudança havia sido imediata. Era como se alguém houvesse derrubado uma âncora de ferro pesada entre ele e o clamor e a onda de ordens que haviam sido suas constantes companhias. Os sonhos-acordado haviam sumido, a visão embaçada, a sensação de que seus ouvidos estavam sempre zumbindo. Ele não havia percebido o quão silencioso o mundo era, o quão quieto e pacífico.

Mas havia sumido, também, a alegria, o conhecimento de que com a espada, ele poderia fazer coisas que ele sabia que nunca teria podido fazer caso contrário, até mesmo sendo um Magid. Dentro do cercado de dragões, ele sabia que tinha o poder dentro dele para afastar todos os dragões e tinha feito isto, ao elevar suas mãos para afastá-los como se eles fossem não mais que sombras, e ele havia se sentido poderoso. O poder sugou sua energia como o fogo consumindo oxigênio, deixando somente as cinzas para trás. E usá-lo provia um prazer sombrio e esquisito. Tão esquisito que doía, e tão sombrio que assustava.

Quando ele fechou os olhos, pôde ver a sombra dos sonhos imprimida em suas pálpebras interiores. O que você quiser, seu pai disse, o que você pode ter, e o que poderia ter. A explicação de seu pai sobre seu nascimento e propósito tinha feito sentido para ele. Se nada mais, explicava a tentação que ele sentiu ao segurar a espada, a elasticidade interna inominada em direção a algo fora de alcance. É o seu destino. Ela o possui.

Ele havia sido oferecido mais que poder, mais do que qualquer coisa que ele pensava querer: Hermione e seu amor, glória, um lugar no mundo. Ele tinha sido oferecido algo que Harry tinha e que ele sempre havia invejado: um propósito, uma razão para viver, um destino. A atração era forte; a atração era... embriagante. Não era à toa que Carlinhos havia pensado que ele estava drogado.

- Para ter resistido até agora, você deve ter muita força de vontade – Snape havia dito – Você devia ter desistido. Mas não o fez.

Mas eu sei a verdade, ele pensou amargamente, eu não sou forte. Se eu tenho alguma coisa dentro de mim, em minha mente ou minha alma, que luta com a espada e suas promessas e os sonhos negros que me dão, não é a minha própria força. É a do Harry. Todo pedacinho de Harry que restava nele, tudo que a Poção Polissuco tinha deixado, aquela voz no fundo de sua cabeça dizia que aquilo não é certo. Harry, que conseguia enfrentar o Feitiço Império... eu nunca poderia fazer isso. Harry, que era bom sem tentar.

Harry, quem ele devia matar.

E iria, se tivesse a chance.

Draco estendeu a mão e pegou a espada, seus dedos envolvendo-a pelo punho suave familiar e levemente amassado. Ele a trouxe para si e para o colo, as pedras verdes piscando para ele como um olhar de cumplicidade. O padrão do punho da espada era de cobras, as esmeraldas, seus olhos; uma das pedras, Draco viu, virando a espada, estava faltando... ele se perguntou por que não havia notado isso antes. A espada era pesada em suas mãos. Eu vou morrer, ele havia dito à Gina. Pelo menos é mais aviso do que as pessoas geralmente recebem.

Ele olhou para cima. Era final de tarde, o céu um quente azul-metálico. Ele se levantou rápida e decididamente, segurando a espada, e entrou na casa, indo para o armário onde tinha colocado as roupas de Carlinhos e sua Firebolt.

***

Gina olhou inconsolavelmente para seu reflexo no espelho do corredor. Seu cabelo precisava de um corte, ela pensou; ele passava por cima de suas orelhas e por suas costas em curvas e cachos incandescentes, e entre toda essa cor ela achou que seu rosto parecia muito pálido e pequeno. Meio que distraidamente, ela começou a trançar seu cabelo. Ela estava preocupada, não só por Draco, mas por seus pais também. Longe de ficar alegre por causa da promoção do Sr. Weasley, a Sra. Weasley havia ficado aterrorizada e furiosa.

- Olhe o que aconteceu com Fugde! – ela havia gritado com seu marido – Eles só estão procurando alguém para armarem uma armadilha, alguém dispensável. Não aceite, Artur!

O Sr. Weasley não havia concordado, e a discussão levou horas. Eventualmente, seus pais haviam decidido Aparatar em Londres para conversar com Percy, cujas ligações com o Ministério haviam provado-se valiosas antes. Eles haviam saído, e Rony e Gina ficaram sozinhos em casa.

Gina terminou de trançar seu cabelo, suspirou, decidiu subir as escadas e conversar com Rony. Ela ainda estava com raiva por ele por ter sido tão irritante no café da manhã, mas não importava, ela estava entediada e talvez ele quisesse jogar Snap Explosivo com ela.

Ela estava atravessando a sala de estar, caminhando para a escada, quando ouviu o barulho.

Whap!

Gina enrijeceu-se com o som: um baque surdo no vidro, como se um pássaro tivesse voado direto para a janela da sala de estar. Ela parou e olhou, e ouviu o barulho novamente, mais forte dessa vez: whap!

Mais curiosa do que apreensiva, Gina atravessou o aposento em direção à janela, afastou as cortinas... e gritou alto em surpresa.

Draco Malfoy estava fora da janela aberta pela metade, tentando entrar. Quando ela gritou, ele pulou para trás, e acenou desesperadamente para que ela fizesse silêncio.

- Gina! Shhh!!

Gina tapou a boca com a mão, com os olhos arregalados. Era Draco, decididamente Draco, parecendo quase igual à última vez que o tinha visto, embora agora ele parecesse aborrecido.

- Você tinha que gritar? – ele sussurrou.

- Você tinha que quase me matar de susto?

Draco parecia ofendido.

- Eu bati!

- É, na janela! – ela sussurrou – Por que você não podia ter vindo pela porta como uma pessoa normal?

- Eu não queria ver o resto da sua família. Eu queria ver você. Estava esperando você ficar sozinha. Agora, você vai me deixar entrar ou não?

Gina olhou para ele meio incerta, mas suas palavras ecoaram em seus ouvidos: eu queria ver você. Ela levantou o resto da janela, deixando-o entrar. Ele passou pelo parapeito e aterrissou em pé, levantando-se devagar. Gina fitou-o, surpresa. Para alguém que geralmente parecia tão limpo, ele estava surpreendentemente desarrumado; seu cabelo assanhado, lama e sujeira nos joelhos de suas calças pretas (todo mundo sentiu tanta falta delas, então elas estão de volta. Vamos imaginar que ele as lavou na máquina de lavar do Snape, ok?). Havia até um grande corte na frente de sua jaqueta de pele de dragão. E além de tudo isso, ele ainda estava com o lábio ferido e um olho roxo que já estava ficando com 5 cores do arco-íris. Gina fitou-o com os olhos arregalados.

- O que aconteceu com o seu rosto? Você se meteu em uma briga?

Draco tocou levemente no canto do olho.

- Você não acreditaria se eu dissesse.

- Tente.

Draco sorriu e pareceu como se fosse fazer um comentário azedo, quando os dois ouviram o som de passos no corredor e a voz de Rony chamando:

- Gina?

Ele ouviu o grito, ela pensou, virando-se para Draco, que agarrou seu ombro, e então houve um movimento repentino e a próxima coisa que ela sabia era que eles haviam rolado para debaixo do enorme sofá excessivamente estofado e ela estava deitada de costas com Draco em cima dela, suas pernas entrelaçadas com as dela, a mão cobrindo sua boca. Ele não precisava ter se incomodado; ela estava assustada e irritada demais por ter sido jogada no chão para até pensar em fazer um barulho. Ela podia sentir o coração de Draco batendo fortemente contra o dela. Ela olhou para cima, e seus olhares se encontraram: ela pôde ver tanto ansiedade quando divertimento em seu olhar antes que ele o desviasse.

A porta da sala de estar abriu, e Rony entrou. Tudo o que ela podia ver de seu irmão eram os sapatos, que atravessaram o aposento rapidamente em direção à janela. Ela podia imaginar Rony olhando para ela, parecendo intrigado e se perguntando...

- Ei! – ele chamou novamente – Gin! Cadê você?

O corpo de Draco ficou tenso contra o dela, quando Rony se virou da janela e foi para o meio do aposento. Ele estava tão perto do sofá onde eles estavam que Gina pôde ver que um de seus cadarços havia sido rasgado e remendado. Sentindo-se repentinamente culpada, ela virou a cabeça para o ombro de Draco. Ela sentiu o cheiro de couro de sua jaqueta... cheirava estranhamente como Carlinhos.. mas, fora isso, ele cheirava como sabonete, e sangue, e ar gelado da noite. Era um tipo de cheiro bem de menino, e isso a fez ficar um pouco tonta.

- Gina! – Rony chamou novamente, soando desesperado – Olhe, eu sei que você está por aqui, eu ouvi você. Você ainda está fula comigo pelo que eu disse no café da manhã?

Uma mecha do cabelo platinado de Draco caiu sobre seu rosto, fazendo seu nariz e sua boca coçar, fazendo-a querer espirrar. Seus músculos ficaram tensos, e Draco se afastou dela levemente; ela podia ver o canto de um olho cinza agora, sua bochecha macia, e o brilho de uma corrente dourada que era o Feitiço Essencial em seu pescoço.

- Gina!! – Rony chamou de novo, e suspirou – Tá bom, certo, que assim seja. – ele falou bruscamente, e ela viu os sapatos dele se movendo enquanto ele cruzava o aposento em direção à cozinha. Ela começou a se mover para fora do sofá, mas a mão de Draco apertou mais o seu braço, e ela o ouviu sussurrar:

- Espere.

Um momento depois eles ouviram o barulho familiar da porta da cozinha sendo fechada com um estrondo. Rony havia ido para o jardim.

Gina girou sua cabeça para o lado, para que pudesse ver Draco melhor. Ele a estava encarando, sua expressão séria, mas seus olhos dançando.

- Agora você pode se mexer. – ele disse, não sussurrando, mas falando suavemente. – Se você quiser.

Todos os cabelinhos que Gina tinha no pescoço se arrepiaram, e ela se tremeu toda; se era o olhar nos olhos dele ou só nervos mesmo, ela não tinha certeza.

- É claro que eu quero me mexer. – ela sussurrou de volta – Você está me amassando e a estúpida fivela do seu cinto está machucando a minha perna.

Draco olhou para ela com olhos inocentes e límpidos.

- Como você sabe que isso é a minha fivela?

- Muito engraçado. – Sentindo-se corar, ela desviou o olhar, e conseguiu se libertar dele e sair do sofá. Ela se levantou, tirando a poeira dos seus jeans, e encarou Draco enquanto ele saía de baixo do sofá – irritantemente, ele conseguia fazer até sair de baixo do sofá parecer um movimento tanto gracioso quanto intencional. Embora, quando ele levantou, ela ficou feliz de ver que havia um pouco de poeira na jaqueta de couro.

Olhando-o de lado, ela perguntou.

- Você quer subir até meu quarto? A gente pode conversar lá.

- Não. – ele disse com um muxoxo.– Eu quero ficar aqui na sala de estar e esperar os seus seis irmãos voltarem pra casa, me acharem com você, me matarem e fazerem animais de balão com os meus intestinos.

Gina revirou os olhos.

- Todos os meus irmãos, exceto o Rony, não estão aqui mesmo. E os meus pais estão em Londres.

- Bem, você poderia ter me dito isso antes. Se eu soubesse que era só o Rony, eu teria ficado atrás dele e batido na cabeça dele com a minha vassoura, daí nós poderíamos conversar livremente.

- Você não iria... – Gina começou automaticamente, e balançou a cabeça – Certo, é você, então talvez você iria. Mas eu não quero pensar sobre isso. Agora fique quieto e me siga.

Para sua surpresa, Draco obedeceu, seguindo-a silenciosamente pelas escadas e corredor até o seu quarto. Uma vez dentro, ela fechou a porta rapidamente atrás deles e a trancou.

- Luminesce – ela sussurrou, e o quarto escuro foi iluminado por um brilho suave.

Ela se virou e olhou para Draco, que estava olhando em sua volta, parecendo vagamente surpreso. – Então – ela disse para ele rapidamente, antes que houvesse um silêncio desconfortável entre os dois – você vai me contar o que aconteceu com o seu rosto, ou não? Você está horrível.

- Você vai inflar meu ego desse jeito.

- Tô falando sério, Draco. O que aconteceu?

- Neville Longbottom – ele disse, enunciando claramente – me bateu no olhou com o seu Lembrol. – ele massageou o olho mencionado lamentavelmente, então olhou para a cama dela. – Posso me sentar? – ele perguntou e foi logo se sentando na colcha florida sem mesmo esperar pela resposta. Ela havia, ela tinha que admitir, tido várias fantasias sobre Draco em seu quarto, mas nunca havia parado pra considerar o quão ‘fora de lugar’ um Draco de calças de couro realmente parecia em meio ao papel de parede florido, tapete branco felpudo e animais de pelúcia encardidos como fundo.

Draco levantou uma sobrancelha.

- Estou feliz que você ache o meu olho roxo tão divertido.

Gina parou de sorrir.

- Eu não acho. Bem, talvez um pouquinho. Neville Longbottom? Como isso...?

- Eu estou com essa idéia na minha cabeça – disse Draco, movendo uma mão preguiçosa em gestos eloqüentes. – que eu devia dar umas voltas e meio que... pedir desculpas às pessoas com quem eu errei. Não sei porque, exatamente. Às vezes, eu tenho essas idéias e elas parecem muito bestas só de lembrar, mas, de qualquer jeito, eu meti na cabeça que devia sair por aí e pedir desculpas pelo que eu fiz. Então eu fiz uma lista com as pessoas que eu errei, e era muito, muito longa, então eu joguei fora e fiz uma lista mais curta com as pessoas com que eu realmente errei, que também não moram tão longe. E Neville foi o primeiro da lista.

- Então por que ele lhe bateu com Lembrol? O que você fez com ele?

Draco parecia magoado.

- Nada! Eu fui na casa dele, toquei a campainha, Neville olhou pra mim uma vez e jogou o Lembrol na minha cabeça. Me acertou no olho. Suponho que eu deva estar feliz que ele não estava com um par de tesouras para jardinagem senão ele teria cortado as minhas orelhas e feito delas um troféu.

- Você conseguiu se desculpar?

- Nah... eu fui embora, mas sabe, eu tenho a impressão que o Neville se sentiu melhor, então não foi uma tarde totalmente desperdiçada. – Draco parecia aflito – Agora, Hagrid era o próximo na minha lista. Ele é bem maior do que o Longbottom – ele adicionou, pensativo – mas eu sou mais rápido que ele. Acho que terei tempo suficiente para dar uma passadinha lá, me desculpar, e fazer uma saída limpa antes que ele tenha a chance de me pisar até eu ficar da consistência de mingau de aveia.

Gina percebeu que ela estava lutando para não rir. Isso é tão injusto, ela pensou, irritada. Há um ano atrás, se alguém a perguntasse por três palavras que caracterizassem Draco Malfoy, ela teria escolhido “completo”, “idiota” e “bastardo”. Agora palavras como “atraente” e “engraçado” e até “charmoso” vinham à sua mente. Sem mencionar “fica bem em couro”. Calada!, ela disse a si mesma, duramente.

- O que foi? Você parece que está com dor de cabeça. – perguntou Draco.

- Acabei de perceber por que você veio aqui. – ela anunciou, colocando as mãos na cintura e encarando-o um pouco mais do que necessário – Você quer que eu conserte o seu olho, não é? Como se eu fosse algum tipo de pronto socorro municipal dos Malfoys. Eu já consertei sua perna quebrada, suas marcas de mordida e agora...

- Não foi por isso que eu vim – ele a interrompeu, divertimento apressando sua voz – Eu lhe disse. Estou tentando pedir desculpas às pessoas.

Isso a botou de pé.

- Você veio aqui para se desculpar para mim?

Agora ele parecia levemente envergonhado.

- Bem, não. – ele admitiu – Na verdade, eu pensei que você poderia dizer uma coisa ao Harry por mim.

Gina balançou a cabeça.

- De jeito nenhum. Diga-o você mesmo.

- Eu não posso – disse Draco, um leve alarme em sua voz.

- Por que não?

- Eu não posso. Você vai ter que acreditar em mim.

- Não – disse Gina

- O quê?

- Não – ela repetiu, e foi sentar perto dele, na cama. Ele ainda estava encarando-a sem acreditar. – Eu não confio em você. Por que deveria? Você nunca me deu razão para fazê-lo. Eu gosto de você, mas não confio em você. E depois do que você fez ontem, Sr. Eu-Vou-Fugir-Sozinho-E-Não-Vou-Contar-Pra-Ninguém-Pra-Onde-Eu-Vou...

- Sim – ele a interrompeu, com um sorriso fraco – sabe, no momento eu atendo pelo nome de ‘Draco’.

- Que seja. Olhe, eu não vou dizer nada para o Harry por você. Você mesmo tem que dizer. Ele estar preocupado com você. Aposto que gostaria de vê-lo.

- Ele terá muito mais para se preocupar se me ver – disse Draco, mas não parecia inclinado a explicar. Ele se encostou na parede. – Acho que você não iria dizer nada pra Hermione também...

- Certamente que não.

- Ou Sirius?

- Já disse que não.

- Isso aqui está se provando ser uma visita altamente desnecessária.

Gina contraiu os olhos.

- Você é um idiota às vezes, não é? – ela sussurrou

Ele realmente pareceu arrependido.

- Oh, Deus. Olhe, não foi isso que eu quis dizer. – ele a olhou com seriedade, ou pelo menos mais do que normalmente marcava seu semblante. – Os últimos dias têm sido muito estranhos. Meu pai... – ele gesticulou à expressão de simpatia dela – Não, não fique assim, eu não lamento, por que você deveria? Toda essa coisa de poção do amor, e sem poder contar ao Harry, brigando com o Sirius, duas sessões de amassos meio confusas, sabe, tudo isso é muito... – ele parou, percebendo que Gina o estava encarando com uma expressão muito estranha – O que foi?

- Duas sessões de amassos meio confusas? Você andou beijando a Hermione de novo? O Harry vai te matar, sabia...

Draco estava realmente corando, suas bochechas tornando-se vermelho escuro.

- Não, eu não andei beijando a Hermione de novo.

Gina o encarou.

- Então foi outra pessoa? Draco, quando você acha o tempo?

Draco suspirou e se encostou de novo na parede.

- Foi Fleur DeLacour.

- Fleur? A namorada do Gui?

- Eu tinha me esquecido disso... olhe, havia circunstâncias especiais. Eu tinha que fazer isso.

- Tinha? – Gina o encarou, descrente. – Você é mesmo só lixo, não é?

Draco parecia ferido.

- Você diz ‘lixo’ como se fosse uma coisa ruim.

Gina jogou um travesseiro nele, o qual ele não se moveu para bloquear.

- É claro que é uma coisa ruim!

Draco pegou o travesseiro de seu colo e o colocou atrás da cabeça.

- Olhe, eram circunstâncias extremas. Eu tinha ido ver o meu pai, e quando estava voltando pra casa, ela estava me esperando no jardim. E ela me implorou por sexo... espera isso não soou nada legal...

Gina colocou as mãos nos ouvidos e o encarou mais ainda.

- Essa história pode esperar? Se possível até depois que eu estiver morta?

Draco sorriu de repente, o que era muito irritante, porque Gina havia sempre pensado privadamente que ele tinha um sorriso muito bonito. Ele era estranhamente parecido com Harry nisso: quando ele sorria, ele sorria com todo o rosto... não só com a boca, mas com os olhos. É claro, ele sorria menos freqüentemente que Harry, mas a semelhança estava lá.

- Você se importa com o que eu faço, de qualquer maneira?

- Não – disse Gina, e então... – Bem. Talvez. – ela suspirou – É que você é tão...instável.

- Instável? Eu não sou instável.

- Sim, você é. Você deveria estar babando pela Hermione, mas você flerta comigo – sim, senhor, e não negue – e no meio tempo você está se amassando com a Fleur. Você é instável.

- De jeito nenhum. Eu posso lhe assegurar que assim que achar o pequeno grupo de garotas certas, essas sete ou oito mulheres que estão na Terra por mim, meus dias de procura estarão acabados.

- Não tem nada sobre o que você não faça piada?

Draco parecia divertido.

- O que você esperava de mim? Eu sou um lixo. – então ele estendeu uma mão e tocou gentilmente uma das tranças dela. – Seu laço está desamarrando. – ele disse, rapidamente amarrou-o de volta e se encostou novamente.

Gina olhou para ele. Havia sido um estranho – bem, fraternal não era a palavra, pois nenhum de seus irmãos haveria notado algo de errado em seu cabelo – gesto, além de afetuoso. Ela piscou, levemente perdida.

- Eu não quis realmente dizer que você era um ‘lixo’ no sentido de ‘lixo’, mas mais no sentido de...

- Fibra sem um pingo de moral? Disposto a dormir com qualquer coisa que fica parada o suficiente pra eu conseguir segurar?

- Eu ia dizer ‘não sendo honesto’, mas pode ser.

Os olhos de Draco escureceram de repente.

- Eu não minto.

Isso deu a Gina uma pausa momentânea. Ele não mente, ela pensou, mente... Ele não mentiu sobre a poção do amor... só não a mencionou, e ela tinha certeza que Hermione o havia feito prometer que não diria. Ela mordeu o lábio e estava para responder quando ouviu uma batida aguda em sua porta.

- Gina! – veio a voz cortante de Rony – Eu sei que você está aí. Eu ouvi você.

- Vai embora, Rony! – Gina gritou de volta.

- Não. – disse Rony, teimosamente – Eu não vou sair daqui. Vou lhe dar um minuto e então vou arrombar essa porta.

Gina olhou, agitada, para Draco e então pegou seu braço e o puxou até seu armário. Ela abriu a porta com força e o empurrou para dentro. Sentando em uma pilha de sapatos, ele olhou para ela com um olhar de dor.

- Isso é realmente desconfortável. – ele choramingou.

- Você não reclamou quando me puxou pra debaixo do sofá.

- Aquilo era diferente. Eu tinha você como companhia. – ele deu um sorriso largo – Não é o mesmo que estar trancado num armário sem ninguém.

- Hora para aprender a se divertir sozinho. – disse Gina, quase fechando a porta.

Seu sorriso largo transformou-se em um safado.

- Minha mãe sempre me disse que isso dava cegueira. – ele disse solenemente.

- Argh. – respondeu Gina, e fechou a porta.

Ela virou rapidamente, apontou sua varinha para a porta e disse “Alohomora!”

A porta abriu violentamente e Rony quase caiu. Ele recobrou seu equilíbrio rapidamente, ajeitou-se, e a encarou.

- Qual é o seu problema, Gin? Não me ouviu gritando por você pela casa toda, pela última meia hora?

- Não – ela mentiu – eu estava dormindo.

- Eu ouvi você gritando.

- Estava tendo um pesadelo.

A informação teve o resultado contrário ao que ela havia esperado, pois Rony apressou-se para dentro do quarto, parecendo preocupado.

- Você tem certeza que está bem? Quer que eu fique aqui com você?

- Estou bem – ela disse, irritada – Eu não tenho mais doze anos, Rony.

- Eu sei disso. Mas você é muito sensível à Magia Negra, e nós estivemos perto dela por muito tempo, ultimamente. Não me diga que isso não a preocupou.

Gina suspirou, dividida entre a vontade de tirar Rony de seu quarto e a vontade de fungar e receber um tapinha de Rony na cabeça. Entre todos os seus irmãos, Rony era o favorito. Fred e Jorge eram os que mais a faziam rir, mas Rony tinha uma doçura séria, que o tornava muito bom de se estar por perto.

- E olhe – adicionou Rony, aproximando-se levemente – eu sinto muito pelo que eu disse sobre o Malfoy hoje no café da manhã.

Gina olhou boquiaberta para ele, em horror.

- Rony, agora não é a...

- Não – ele disse, levantando uma mão – Me deixa terminar. Eu não gosto do Malfoy, nem nunca gostarei; eu acho que ele é um traidor barato. Mas se você gosta dele tanto assim, eu... er... eu vou me esforçar pra achar algo nele que valha a pena. E eu não vou falar mal dele na frente da mamãe. Tudo bem?

- Rony, eu... quero dizer, vai em frente e fale mal dele, sério, está tudo bem, eu não me importo.

Rony sacudiu a cabeça.

- É, que seja, Gin. Sabe, meio que tira a graça de falar mal dele se você fica aí, com essa expressão triste, provavelmente pensando nos seus três tópicos favoritos: Draco. Grandes. Amassos.

Gina emitiu um gritinho de puro horror e ultraje.

- Amassos?

- Olhe, não há porquê ficar com vergonha. Tá, tudo bem, porque é o Malfoy e é nojento, mas você sabe, ele é muito, muito sortudo que você goste dele e...

Boquiaberta em horror, Gina calou seu irmão no meio de seu discurso bem-intencionado, porém pobremente articulado, ao balbuciar:

- Rony! Cala a boca!

Ele olhou para ela.

- Calar a boca? – ele ecoou – Por quê?

- Porque eu nunca disse nada sobre Draco... Eu nunca disse nada sobre nada. Nunca! Eu não sei sobre o que você está falando! Agora eu estou com uma dor de cabeça e acho que você deveria sair!

E com isso, Gina empurrou seu irmão ainda estupefato para fora o corredor, bateu a porta atrás dele e inclinou-se na mesma, cobrindo seu rosto com as mãos. Sua esperança que Draco não havia ouvido a discussão com Rony foi por água abaixo quando ele saiu do armário e olhou-a solenemente.

- Amassos, né? – ele disse, com um olhar levemente interrogador – Não tenho certeza se estou disposto para grandes amassos, mas talvez...

- Ah, fica queito. – Gina disse, cansada, e para sua surpresa, ele se calou, com as mãos nos bolsos, olhando-a por trás de seus cabelos, que haviam crescido bastante ultimamente e o qual ela tinha uma vontade incontrolável de empurrar para atrás das orelhas. – Eu acho melhor você ir embora – ela se ouviu dizer.

Parecendo alarmado, Draco tirou as mãos do bolso.



- É, está bem, se você deseja – ele disse, um pouco friamente.



- Desculpa – ela disse – É que ser completamente humilhada tende a piorar o meu humor.



- Gina – ele disse, e ela viu um brilho de solidariedade em seus olhos cinza-preto – Olha...



- Não. – ela disse. – Só... vem aqui por um minutinho.



Ele atravessou o quarto até ela e parou em sua frente, sua expressão, questionadora. Ela olhou para seu rosto, se perguntando como ela poderia se sentir tão atraída por uma pessoa em que não confiava nem um pouco, e então, se perguntando por que ela não confiava nele. Talvez seja a atração que ela tinha por ele, ou até porque ela o achava atraente; afinal, o garoto mais bonito que ela havia conhecido tinha sido Tom Riddle.Talvez ela não confiasse em homens bonitos. Mas ela sabia que também não era aquilo; era a frieza que o rodeava, um frio gélido que ela sentia até em seus ossos. Ela estendeu a mão, quase não pensando sobre o que estava fazendo, e a colocou no rosto de Draco, enfiando a mão no bolso com a outra mão e tirando sua varinha.



Sua pele estava tão fria que queimava sua palma. Ele não se moveu quando ela levantou sua varinha e tocou a ponta levemente em sua pele.



- Asclepio. – ela disse, e o hematoma em seu olho desapareceu.



Ela abaixou a varinha.



- Melhorou?



Draco parecia estranhamente abatido.



- Sim. Obrigado.



- Eu não sei o que há de errado com você, Draco, – ela disse, finalmente dizendo o que ela queria dizer a noite toda. – Eu não sei o que é isso em você, mas é alguma coisa, e é algo mal e sombrio. É como veneno em seu sangue. Você tem que ir falar com o Sirius ou alguém e você tem que pedir ajuda ou-



Ele a interrompeu.



- Ou eu morrerei. É. Eu sei.



- Vá para casa. – ela disse – Por favor, não tenta fazer isso sozinho.



- Eu não posso.



- Por favor. – ela disse – Por mim.



Ele parecia surpreso, como esse pedido o houvesse surpreendido, e logo depois da surpresa veio o olhar de arrependimento.



- Gina... – ele estendeu as mãos e a pegou pelos braços. Suas mãos estavam tão frias que era como se tivesse dois braceletes de metal congelados em contato com sua pele. – Eu sinto muito – ele disse – Eu realmente sinto muito – e de repente, a tensão entre os dois se alterou de uma maneira que ela não podia dizer; ela viu a expressão meio-assustada dele enquanto ela levantava seu rosto, viu os olhos dele fecharem enquanto sua boca ia de encontro à dela; ela sentiu o cabelo dele tocar levemente sua bochecha, e então sua boca fria na dela. Seus lábios pareciam gelo, primeiramente, mas rapidamente aumentando para a temperatura de seu sangue -



Não. Ela o empurrou com tanta força que ele até fez um barulho de surpresa, uma mistura de uma arfada e um “uufe”. Ele a olhou em assombro.



Ela sentiu como se não pudesse respirar, mas tentou falar normalmente.



- Você vai para casa?



- Gina – ele suspirou – Você sabe que não.



- Então não pode me beijar. – ela disse, e cruzou os braços no peito. – Não é justo. E não me espere ficar agradecida. Eu não estou. Talvez eu me importe com você, mas isso não me torna estúpida.



Draco só olhou para ela. Finalmente ele disse, muito friamente:



- Sim, torna sim. – ele recolheu os ombros dentro da jaqueta como se estivesse com frio – E me torna ainda mais estúpido. E estúpido por vir aqui.



- Draco...



- Só.. esquece. – ele disse, e atravessou o quarto até a janela. Ele se inclinou sobre o parapeito, estendendo uma mão, e ela o ouviu chamar – Accio Firebolt!

Um momento depois, sua vassoura estava em sua mão. Levantando-a, ele passou por cima do parapeito, passou a perna por cima, e sem dizer nada à Gina, desapareceu na escuridão.

***

Hermione cruzou a biblioteca até a janela onde Harry estava, olhando para fora. O sol estava se pondo, a bola incandescente descendo contra um céu de tons de sangue e âmbar. Na luz meio rosa bronzeada, Harry parecia sério e pensativo, as sombras sob seus olhos escurecidas como machucados.

- Harry – ela disse. – Como você está se sentindo?

- Estranho – ele respondeu, se virando para olhá-la – Como se alguém tivesse posto uma luz no canto da minha cabeça.

- Você parece um pouco diferente

- Ótimo. Eu tô começando a parecer o Malfoy de repente? Não seria irônico...?

- Não, você não se parece com ele. Você parece... mais você que antes, pra falar a verdade, se isso faz sentido.

Ela estava consciente de Lupin e Sirius sentados à mesa atrás deles, muito longe para ouvirem o que eles falavam, mas ela sabia que eles estavam estudando Harry ansiosamente. Havia levado horas de esforços em chegar ao feitiço antes de Harry repentinamente pôr as mãos na têmpora e dizer:

- Pare. Pare. Está funcionando.

Depois ele se levantou abruptamente, andou até a janela, e olhou fixamente para fora.

- Não faz sentido, mas está bem. – disse ele, descruzando os braços. Ele pôs um dedo embaixo do queixo dela e inclinou o rosto dela para cima, olhando bem dentro de seus olhos. Hermione sentiu seu estômago afundar – era ao mesmo tempo agradável e assustador ser observada tão perto, especialmente por Harry, que podia ler cada expressão dela tão facilmente quanto ele podia ler Língua das Cobras.

- Você quer que eu conte onde ele está, – ele disse – não quer?

Hermione não disse nada, e Harry tirou a mão do queixo dela.

- Bem, eu não sei onde ele está. – ele disse – Eu posso dizer que ele não está se sentindo muito bem, e eu posso lhe dizer que ele está congelando de frio, e posso dizer que ele está pensando em... – e ele sorriu repentinamente, estranho – Gina. Bem, não é interessante?

Hermione estremeceu, delicadamente, mas Harry viu.

Ele franziu a testa.

- Você não gosta de ouvir isso, não é?

Ela sentiu um frio apertando seu estômago. Era uma sensação familiar, uma que ela havia se acostumado a ter nos últimos dias, um embrulho gelado. Era bizarro, ela pensou, o amor induzido por Draco que ela sentia não se manifestava por si só na sua cabeça ou seus pensamentos, mas em seu corpo, mexendo com os músculos de seu estômago, apertando como um laço em torno de seu coração. Era constante, como se alguém houvesse fixado uma âncora fria em seu estômago, tão constante que ela quase se acostumou a isso, exceto em horas como essa, quando a atormentava.

- Harry... você sabe...

- Eu sei – ele disse, e adicionou abruptamente – e você sabe, não é? Que se não pudemos tirar esse feitiço de você, não há como nossa relação durar?

Hermione olhou para ele, pálida.

- Mas você disse...

- Eu sei o que disse. Mas sejamos realistas. Eu não vou passar o resto da minha vida com alguém que sempre estará apaixonada por outra pessoa. Eu mereço mais que isso, Deus, qualquer um merece mais que isso.

- Ninguém disse nada sobre o resto da sua vida – disse Hermione, e instantaneamente se arrependeu disso – Me desculpe – disse ela, rapidamente – é só que – e seus olhos ficaram molhados – você apenas soa como ele, como Draco, você soou como ele agora...

- Quê, você não gosta disso? – ele rebateu, se virou, e andou em direção a Lupin e Sirius, se jogando em uma cadeia de braços e esticando suas pernas. O que, Hermione pensou, era como Draco sentava. Argh!

Ela seguiu Harry até a escrivaninha, e se sentou próxima a ele. Sirius e Lupin, que estavam numa conferência sussurrada, viraram para olhá-los.

- Vamos fazer isso – disse Harry.

- Agora? – perguntou Lupin, abaixando os papéis que esteve segurando e olhando para Harry sobre os óculos.

- Por que não agora? – disse Harry trivialmente – Você disse que ele estava em perigo. Ele não estará em menos perigo em uma hora, ou duas.

Lupin e Sirius trocaram olhares. Hermione soube exatamente sobre o que eles estavam pensando: Harry está agindo estranho, não está?

Pode apostar que sim, ela pensou sombriamente. As palavras ásperas de Harry quando eles estavam na janela haviam mexido com ela. Ela sabia que quando ele estava ligado a Draco, como sob o efeito da Poção Polissuco, ele tendia a dizer coisas desagradáveis.

Ele também tinha a tendência de dizer coisas que eram verdade.

- Certo – disse Sirius, vindo ao redor da escrivaninha para sentar perto de harry – Nós descobrimos o segundo estágio do feitiço. Não deveria ser tão difícil de fazê-lo. Remo? – ele emendou, olhando Lupin, que parecia estar perdido em pensamentos.

- Ah...sim – disse Lupin, vagarosamente reunindo alguns papéis e dando a volta para o lado de Harry da escrivaninha. Quando ele puxou sua varinha, Hermione viu, para sua surpresa, que a mão dele estava tremendo. Ela pensou se ele estaria preocupado por causa de Harry, e sentiu uma repentina punhalada de medo em seu coração.

Ele segurou a varinha em sua frente, e pôs a ponta na testa de Harry. Harry olhou para ele com seus firmes olhos verdes. – Certo – disse Lupin – agora, Almofadinhas, esteja pronto também. Imago moli- -- ele começou, parou, pareceu hesitar, e começou novamente – Imago moli-

Houve um ruído quando a varinha caiu da mão de Lupin e ele de repente caiu pra trás, pesadamente, contra a mesa. Harry olhou pra cima alarmado.

- Professor, por que você...

Sirius o interrompeu.

- Remo? – ele olhou para o seu amigo, o vacilo de surpresa em seu rosto virando susto de repente. Ele abaixou o livro que estava segurando e veio para perto de Lupin, pondo uma mão em seu braço. – Remo, você está...

Lupin levantou a cabeça, e olhou para Sirius. – A Transformação – ele disse.

- O que, agora?

- Não deveria ser agora, não em meus cálculos, não até amanha à noite. Mas eu sei o que é isso, Sirius – Lupin olhou para cima, e Hermione podia ver as linhas de tensão no canto de seus olhos e boca. – Me leve lá pra baixo e me tranque – ele disse.

Sirius hesitou.

- Nós falamos sobre isso – disse Lupin, com margem na voz – as masmorras...

- Mas é muito cedo...

-Sirius.

Sirius, pego no meio do discurso, fechou a boca e olhou Lupin com olhos escuros e apreensivos. Lupin olhou de volta, franzindo a testa, e se pôs de pé. Hermione lembrou-se estranhamente de seus pais quando eles não queriam brigar em sua presença.

Sirius encolheu os ombros.

- Certo – ele disse – Certo... olhem, vocês dois... eu volto em dez minutos. Não vão a lugar algum.

- Não podemos fazer o feitiço antes? – perguntou Harry abruptamente. – Eu acho...

- Quando eu voltar. – disse Sirius, uma margem em sua voz, e Harry caiu em silêncio. No momento em que eles se foram, de qualquer modo, ele se virou para Hermione. Ela ficou surpresa com a expressão dele – seus olhos tinham um tipo ímpar de luz, e sua mandíbula estava rígida teimosamente.

- Eu acho que deveríamos fazer isso – ele disse.

- O que, logo aqui na escrivaninha? – perguntou Hermione com um sorriso pálido. – Você sabe que Lupin disse que ela não era muito resistente.

- Não tente me distrair – disse Harry, mas ele quase sorriu. – Você sabe o que quero dizer.

- Fazer o feitiço? Mandar você bem pra onde Draco está? Harry, essa não é uma boa idéia.

- Você pode fazer isso, Mione, eu sei que você pode. A parte complicada do feitiço já está pronta, tudo o que você tem que fazer é dizer as palavras e me mandar.

- Eu posso lhe mandar – ela disse – mas Sirius é quem pode lhe trazer de volta.

- Sirius estará de volta em dez minutos!

- Então por que você não pode esperar?

- Porque eu não posso! – gritou Harry, e Hermione ficou tensa. Harry quase nunca gritava com ninguém. – Isso é importante – ele disse – e nós não estamos apenas falando sobre qualquer coisa aqui, estamos falando sobre se ele vai viver ou morrer.

A âncora fria no estômago de Hermione deu um puxão torcido.

- Eu confio em você, – disse Harry – eu confio em você embora ultimamente você não tenha me dado muitas razões para tal, no que se refere a qualquer coisa. Por que você não pode confiar em mim?

Hermione hesitou, depois vagarosamente, e com um senso de relutância que a consumia, alcançou o pergaminho que Sirius havia deixado na escrivaninha.

*****

Ele havia retornado à sala de esgrima na Mansão Malfoy, encarando seu pai ao longo do piso de pedras. Eles já estavam praticando por quase uma hora e ele estava mortalmente cansado, suor pingando em seus olhos, roupas ensopadas. Sentia como se seus músculos fossem tiras de borracha estendidas demais. Seu pai, claro, parecia pouco cansado, mas então, Draco pensou ressentido, seu pai não era um garoto de treze anos usando uma arma muito maior e mais pesada que ele. Eu só quero que isso acabe, Draco pensou desesperadamente, mas sabia que seu pai não iria parar o treino até que ele tivesse desarmado seu filho ou tê-lo feito sangrar. Não havia questão em Draco desarmar Lúcio, claro, seu alcance não era grande o bastante, e de qualquer modo, toda manobra de ataque que ele já havia aprendido fora ensinada por seu pai.

Mas eu ainda podia tentar, ele pensou... Ele se lembrou de um movimento extremamente habilidoso que havia aprendido de seu pai há um ano e havia treinado em segredo, envolvendo golpe, uma finta em quarta, uma finta em sexta, e um bote guinando num ataque na mão da espada do oponente. Ele se lançou na seqüência e viu os olhos de Lúcio arregalados em surpresa; sentiu uma breve onda de vitória quando a ponta de sua espada incidia na mão de Lúcio – então seu pai, mais veloz e com enorme alcance, se atirou pra frente e bateu com a superfície da arma contra o pulso de Draco. Draco encarou em desânimo seus dedos dormentes soltando a lâmina, que caiu com um estrépito nas pedras enquanto seu pai, pálido e parecendo irado, pegou a frente da camisa de seu filho e o moveu para cima contra a parede. A cabeça de Draco bateu nas pedras com força suficiente para escurecer sua vista. Lúcio puxou seu braço para trás e pôs a ponta de sua espada contra a garganta do garoto.

- Vai tentar usar minha própria manobra contra mim novamente, vai? – ele disse, sua voz fina no ouvido de Draco. – Isso foi estúpido, muito estúpido. Como se eu fosse lhe ensinar um movimento que eu não possa contra-atacar; você deveria saber melhor. Você estava apenas se exibindo, não estava, garoto, esse é o seu pecado constante. Apenas lembre... – a ponta fina da espada de Lúcio cortou na garganta de seu filho e Draco sentiu o sangue começa a fluir – um aprendiz convencido é apenas um tolo, mas um esgrimista convencido é um homem morto.

Draco fechou os olhos. – Sim, pai.

- Sim, pai, o quê?

- Sim, pai, eu entendo.

Lúcio retirou a lâmina, mas a expressão fria não deixou seus olhos.

- Entende? – ele disse – Eu realmente imagino. Algumas vezes eu até imagino se você por acaso quer morrer.

- Não, pai. Eu não quero morrer.

Draco abriu os olhos e encarou a água negra a quinze pés abaixo dele. Ele estava na margem da velha pedreira atrás da casa dos Weasley. Ele a havia descoberto totalmente por acidente; voando, ele havia visto a luz da lua cintilar na água e desceu para dar uma olhada. Do ar, parecia muito mais com o fosso que Sr. Weasley dizia que era. Mais perto, lembrava um grande buraco rachado no chão, caindo repentinamente e finamente na frente de seus pés, suportados por pedras desiguais. O fundo da mina estava cheia d’água, que o devolvia seu reflexo, escuro e turvo, iluminado por trás por uma branca lua cheia. Desse ângulo, Draco pensou que ele parecia com seu pai: alto, frio, distante...

- Indo nadar, Malfoy?

Draco se virou, quase deslizando; recuperou seu equilíbrio, e encarou. Harry estava a alguns metros de distância dele, quase onde Draco havia deixado sua Firebolt, sob a sombra de um agrupamento de árvores. Draco havia sempre pensado que pessoas que diziam não poder crer no que seus olhos viam estavam exagerando, mas nesse momento ele realmente não podia, não queria acreditar que ele realmente estava vendo Harry. Mas ele estava. Quando Harry saiu da sombra, o luar traçou a concavidade sob seus olhos, o formato de seu rosto, sua expressão rígida e inflexível. Ele tinha suas mãos dentro de seus bolsos, mas sua postura não estava casual, ele estava olhando para Draco com uma expressão desafiadora nos olhos.

- Potter, – disse Draco cansadamente. – Você de novo. E não, eu não vou nadar. Eu não sei nadar, para começar, e as roupas de Carlinhos pesam cerca de uma tonelada. O que você está fazendo aqui, de qualquer maneira?

Harry não abriu sua boca, mas Draco ouviu sua voz ecoar em sua cabeça. O que você pensa que eu estou fazendo aqui?

O maxilar de Draco caiu.

- Como você fez isso?

Harry pareceu satisfeito. “Truque maneiro, não é? Lupin reabriu a ligação mental que nós tínhamos graças à Poção Polissuco... eu suponho que pudéssemos ter feito tudo isso se nos importássemos em tentar. Não se preocupe, ele adicionou, sua boca se curvando nos cantos, Eu não posso ler sua mente mais do que você pode ler a minha.

- Eu não estava preocupado. – Draco mentiu.

Os lábios de Harry se curvaram ainda mais. Sim, você estava. Mas não tema, suas fantasias sobre o Professor Flitwick em um biquíni de couro estão completamente a salvo de mim.

Draco bufou. Professor Flitwick?

Viu, é isso aí. Você também consegue. É uma coisa Magid, sabe.

Draco suspirou.

- Sim, eu acho que consigo, mas e daí? – ele disse em voz alta, e viu uma expressão vagamente machucada cruzar o rosto de Harry. – Me escute, Potter. Este não é um bom lugar pra você estar agora. Aparate de volta pra casa.

Você acha que eu não sei por que você quer que eu vá? Você quer que eu continue a lhe deixar em paz. Bem, eu não vou embora.

- O que eu faço não lhe diz respeito.

O caramba que não me diz respeito...

- Droga, Potter, fale em voz alta! – Draco gritou, seu temperamento excêntrico estalando. – Saia da minha cabeça!

Harry deu um passo pra trás, agora parecendo mais que apenas vagamente machucado, mas nem um pouco menos teimoso. – Tá, mas...

- Mas nada! – Draco gritou – Você sabe, é um mistério pra mim como você conseguiu ficar vivo todos esses anos, andando alegremente em perigos horríveis a cada chance que tinha. Aposto que você acha que é bonito e divertido e heróico. Bem, não é. Você é apenas estúpido, é o que você é! Você é estúpido, e vai morrer de um jeito estúpido e inútil, e se não fosse por Hermione e Sirius, você já estaria morto cem vezes. E você sabe disso. E é por isso que eu não posso acreditar. Porque sua vida, na verdade, significa algo, Potter; você foi posto nesse planeta por uma razão, e você só quer jogar tudo isso fora! Você me enoja.

Os olhos de Harry faiscaram com raiva.

- Eu jogando a minha vida fora? Isso é muito, vindo de você. Não há sentido em estar com inveja de mim quando...

- Quem diz que eu estou com inveja de você?

- Você está, – disse Harry calmamente – assim como eu estou com inveja de você.

- Bem, claro que você tem inveja de mim – disse Draco – eu tenho carisma dos pés à cabeça e PhD em ser bonito e maravilhoso, enquanto você é um idiotinha que não consegue arrumar o cabelo.

- Certo. Você está totalmente satisfeito. É por isso que parece que você perdeu um quilo semana passada, por isso que você tem sombras sob os olhos e suas mãos estão tremendo e você está pensando em se matar...

- Eu não ia fazer isso. – estalou Draco – Todos pensam em...

- Eu não. – disse Harry firmemente – Nunca.

Draco olhou para Harry, que tinha as mãos enfiadas nos bolsos e estava olhando-o com o mesmo tipo de expressão estável de observação que tinha algumas vezes ao procurar o pomo. Ele abriu a boca para dizer algo, quando sentiu um repentino choque frio desferido contra seu braço esquerdo, olhou pra baixo e viu a espada se repelir em seu punho. Ele olhou para Harry, seu coração batendo mais rapidamente agora.

- Você ainda é estúpido. – ele disse asperamente – Andando para armadilhas...

Harry parecia confuso.

- Andando para armadilhas? Que armadilhas?

- Eu.– disse Draco, e a espada em sua mão repeliu-se forte contra sua mão, como metal puxado por um magnetismo poderoso. – Eu sou a armadilha. Eu pensei que você soubesse disso.

Harry deu um passo na direção dele. Você não iria me machucar.

- Oh, sim – disse Draco. A espada deu outro solavanco em sua mão, mais insistentemente dessa vez, como um cachorro querendo ser libertado de sua coleira. Draco olhou-a, depois de volta para Harry enquanto um frio se espalhava como poção através de suas veias. – Sim, eu vou. Eu não quero, mas vou. Saia daqui, Potter. Eu estou lhe avisando.

- Você está fazendo barulho por nada – disse Harry, dando outro passo na direção dele. Draco não podia acredita no quão obtuso Harry estava sendo. Ele queria largar tudo e correr, mas suas pernas se sentiam como se estivessem cheias com chumbo e havia um estranho e crescente zumbido em seus ouvidos. É a poção , ele pensou, a poção do Snape, drenando do meu sangue. Eu estou perdendo-o, perdendo o controle.

Mas seu aperto na espada, pelo menos, continuava firme. Ele teve o repentino sentimento selvagem de que ela havia se soldado a sua mão, e ele não poderia tê-la soltado se quisesse. Draco falou rapidamente, sem olhar para Harry.

- Olhe, eu sei que não tenho lhe dado muitas razões para confiar em mim. Mas você tem que acreditar em mim. Não chegue mais perto.

- Malfoy...

- Eu estou implorando, Harry, e eu não imploro, Deus, eu nem peço, mas estou lhe implorando, por favor vá embora.

Ele ouviu Harry rir.

- Hey. Você realmente disse meu nome. É um começo, não é?

Draco levantou a cabeça rapidamente, encarando Harry, agora a menos de um metro de distância dele, em descrença – como alguém podia ser tão estúpido?

- Você poderia parar de ser alegre e sair daqui? – Draco gritou, mas era tarde demais, ele sentiu seu braço, que havia estado tenso ao seu lado, sacar-se para frente sem qualquer vontade dele, a espada firmemente segura em seu punho. Era o que ele mais temia e mesmo assim havia sido inteiramente inesperado – ele sentiu seu braço, completamente fora de seu controle, dar um bote pra frente, a espada fria em sua mão enquanto a lâmina lançava-se diretamente no lado esquerdo do peito de Harry.






*** e eu ia deixar acabar assim, mas depois pensei... naaaah***

Eles estavam no meio do caminho ao longo do corredor que levava às masmorras quando Sirius repentinamente percebeu que estava andando sozinho. Virando em confusão, ele levantou a varinha, irradiando sua luz ao longo do corredor escuro.

- Remo? – ele chamou.

- Estou aqui – disse uma voz fraca

Sirius levantou sua varinha ainda mais alto e viu Lupin parado no meio do corredor, levemente inclinado para a frente, suas mãos nos joelhos. Sirius foi apressadamente até seu amigo e pôs uma mão em seu ombro.

- Qual é o problema?

- Eu não sei – disse Lupin, num tom imaginativo. Ele tossiu, e se pôs reto, olhando para Sirius, que viu que os olhos usualmente cinza de seu amigo estavam acesos com um tipo mudo de pânico.

Sirius sentiu um punho frio de medo se desdobrar em seu estômago. Lupin raramente ficava com medo, e certamente nunca em pânico.

- Você está sentindo dor? – ele disse. – Da Transformação?

- Sim, mas essa é normal, você sabe. Esta não é a Transformação, Sirius. Isso é algo mais. – e com isso Lupin de repente se arremessou para frente, tropeçando em Sirius e derrubando a varinha de sua mão. Sirius pegou seu amigo ao redor dos ombros enquanto ele caía; o abaixou vagarosamente até o chão e se ajoelhou próximo a ele.

O rosto de Lupin estava cinzento, sua respiração difícil. Seus olhos procuraram o rosto de Sirius, alerta agora com algo além de pânico.

- Sirius...

- Aluado, o que está acontecendo?

- Eu não sei. – Lupin ficou tenso num espasmo de dor, olhos ainda arregalados. –Algo está acontecendo. – ele inspirou, levantou as mãos e encarou-as. Sirius olhou também, sabendo o que iria ver: as mãos de Lupin eram sempre as primeiras a mudar. Elas já haviam começado o processo, as unhas crescendo e se tornando como vidro, dedos se empenando e curvando. – Sirius... eu não sei o que está acontecendo comigo. É a Transformação, mas não é. Você tem que me pôr numa cela.

- E lhe trancar? Assim? De jeito nenhum.

- Sirius, eu acho que estou sendo Chamado.

- Chamado? – Sirius ecoou inexpressivamente.

- O centauro, – disse Lupin sem fôlego – ele me disse que Slytherin iria chamar todas as criaturas que ele fez. Ele me avisou...

- É isso que está fazendo você se Transformar?

- Sim, eu acho....

- Mas você não é uma criatura das trevas.

- Eu sou, Sirius. – e Lupin de repente arqueou suas costas e gritou muito alto, quase um urro, e depois de novo, quase um berro. Ele de repente alcançou e pegou o colarinho da camisa de Sirius, suas unhas contra o material, quase na garganta de Sirius.

Sirius pegou as mãos de Lupin.

- Aluado...

- Me leve para a cela, Sirius! Ande!

Sirius foi repentinamente lembrado do garoto que ele havia conhecido na escola, ainda assustado com sua própria habilidade de se transformar, ainda temeroso pelo processo agonizante. Ele havia mostrado a Sirius, uma vez, onde sua pele estava cicatrizada, ao longo de seus braços e pernas: “A Transformação quebra meus ossos e os reforma. Se eu me agitar demais, algumas vezes os ossos cortam a pele. Meus pais costumavam me amarrar enquanto eu me Transformava. Isso ajudou um pouco”. Mas isso quando Lupin era uma criança, ainda crescendo; ao passar dos anos o processo havia se tornado mais fácil. Então por que ele estava em tanta agonia agora?

Sirius pôs seu braço em torno de Lupin e o levantou até ficar de pé.

- Tudo bem, vamos lá.

***

A lâmina entrou no peito de Harry, e depois o punho da lamina, e depois o braço de Draco seguiu, e seu corpo todo; ele caiu através de Harry e no chão, seus joelhos batendo dolorosamente contra as pedras, a espada caindo com um estrépito no chão a sua frente. Ele a encarou ansiosamente, sem querer se virar, sem querer ver o que tinha feito, ou o que não tinha feito. Ele ouviu o próprio coração bater em seus ouvidos como um motor de uma locomotiva; era ensurdecedor. E depois, como se de um lugar muito longe, ele ouviu alguém atrás dele limpar a garganta.

- Um... Malfoy...

Draco se virou em seus joelhos, e encarou.

Harry estava na sua frente. Ele parecia ileso, sereno, inalterado. Se ele parecia algo, seria levemente embaraçado. Depois Draco percebeu algo – ele podia, embora com dificuldade, ver através de Harry, ver o contorno das árvores atrás deles através de sua camisa, ver os alfinetes fracos que eram as estrelas através de seus olhos. O coração de Draco, que estava batendo como uma locomotiva, agora parecia ter desaparecido inteiramente, restando apenas um grande espaço vazio em seu peito. Ele inspirou, ofegante, e se ouviu sussurrar

- Você é um fantasma? Você está morto? Eu lhe matei?

Harry levantou uma sobrancelha.

- Eu não estou morto, Malfoy. E creio que se você tivesse me matado, iria saber disso.

Draco não pôde pensar em uma única observação esperta para fazer. Ele apenas continuou encarando Harry.

- Você parece morto.

- Você já pareceu melhor também.

- Você está transparente, Potter. – disse Draco numa voz que parecia oscilar em seus próprios ouvidos – Se você não está morto, você deve ter uma boa explicação quanto ao porquê.

Harry passou uma mão pelo cabelo e sorriu.

- Eu sou uma aparição. – ele disse

- Essa não é bem a palavra que eu usaria...

- Eu não estou realmente aqui – explicou Harry – Havia um feitiço no livro de Salazar Slytherin que explicava como fazer isso e Lupin achou que poderia ser uma boa idéia. É quase como aparatar, exceto que meu corpo está na Mansão. Você pode me ver aqui, eu posso andar e falar, mas eu não posso tocar em nada e eu não tenho nenhuma substância. E eu não posso ser morto. – ele estendeu uma mão para Draco – Aqui, pega a minha mão.

Draco alcançou a mão de Harry e estava apenas um pouco surpreso quando seus dedos passaram através dos de Harry como se Harry não possuísse mais massa que uma nuvem. Harry baixou seu braço e Draco se levantou. Suas pernas pareciam com um espaguete cambaleante, mas elas o agüentaram. Ele olhou para Harry.

- Eu não acredito que Sirius deixaria você fazer isso, Harry. Mesmo que você não possa se machucar.

Harry pareceu levemente mais embaraçado.

- Bem, “deixar” pode não ser a palavra certa... ele viria comigo. Mas ele não estava lá, e eu ouvi o que você estava pensando... – ele levantou o queixo, deu um olhar desafiante a Draco - então Hermione fez o feitiço e me mandou.

- Eu poderia me matar agora mesmo e não há nada que você possa fazer sobre isso. – Draco evidenciou – Você não está nem aqui, Garoto Transparente.

- Você poderia não me chamar assim?

- Desculpe, distrai falar com você quando eu posso ver através de sua cabeça.

- Já lhe ocorreu que talvez Slytherin queira que você morra? – disse Harry abruptamente.

Draco olhou para ele.

- Não. Ele me quer vivo.

- O jovem Sr. Malfoy está certo. – disse uma voz de trás deles.

Harry e Draco estavam tão absortos em encarar um ao outro que nenhum deles viu a figura de robes negros se aproximar. Draco se virou, seus olhos arregalando-se ao ver o homem baixo e redondo no caminho que levava à pedreira, seu capuz abaixado, a luz da lua refletindo em sua careca, sua mão prateada brilhando...

Próximo a ele, Draco ouviu Harry dar um pequeno ofego de surpresa – Rabicho.

***

Hermione olhou para cima quando Harry virou abruptamente para o lado, sua cabeça movimentando-se para lá e para cá por um momento antes de acalmar-se. Ela deixou o livro em seu colo deslizar para o chão enquanto ia até Harry e sentava ao seu lado, no braço da cadeira.

Ele estava quieto novamente, assim como o feitiço disse que ficaria; ele não deveria nem estar se movendo. Ele estava imóvel, respirando muito superficialmente, mas ela podia ver seus olhos indo de um lado para o outro debaixo de suas pálpebras fechadas como se ele estivesse sonhando. Onde você está, Harry?, ela pensou. O que você está vendo? Você o encontrou? Ele está bem? Aquele sentimento voltara novamente, aquela sensação de como se alguém tivesse derrubado uma âncora gelada bem no meio de seu estômago, ou como se ela tivesse engolido pedacinhos irregulares de vidro. Era diferente quando Draco estava por perto, próximo a ela; aquilo era como se ela tivesse engolido fósforos ainda queimando. Mas a sensação era ruim do mesmo jeito: ela sentia sua falta com uma dor aguda, e ao mesmo tempo, queria desesperadamente não vê-lo, porque ela sabia o que aconteceria se o fizesse.

Ela estendeu a mão e gentilmente tirou o cabelo de Harry de seus olhos. Ele não se moveu, não parecia sentir sua mão, mas pelo menos deu a ela uma sensação momentânea de conforto só de tocar-lhe. Era torturante se preocupar com Draco. Era ainda pior se preocupar com Harry. Mas se preocupar com os dois ao mesmo tempo era o pior tipo de tortura que ela podia imaginar. Se essa poção do amor foi feita para servir de punição, ela pensou, com certeza está funcionando.

***

A porta da cela fechou com um barulho atrás de Sirius, clicando ao travar-se. Seu braço ao redor dos ombros de Lupin, ele meio-carregou, meio-arrastou o amigo até um banco baixo de pedra que percorria uma das paredes e o deitou lá.

Lupin rolou, ficando de costas, olhou para Sirius e gemeu:

- Quando eu disse para me levar para uma cela e me trancar dentro, eu não quis dizer que você deveria se trancar aqui comigo, Sirius.

- Eu já lhe acompanhei durante uma Transformação. Farei isso de novo. Sempre posso me transformar, se for preciso.

- Não. – Lupin esforçava-se para sentar, e Sirius estava muito preocupado com maneira que ele parecia. Pálido e suando, Lupin estendeu sua mão, tirou seus óculos e pressionou os olhos com as palmas das mãos. – Eu lhe disse, essa é diferente.

- Ele tem razão. – disse uma voz atrás deles, e Sirius pulou, seu coração batendo tão forte em suas costelas quanto um balaço arremessado inexperientemente. Ele se virou e viu um rosto pressionado contra as barras da cela oposta: um rosto cinza e enrugado com dois olhos vermelhos brilhantes como jóias. O demônio, ele pensou. Aparentemente ele tinha se recuperado de ter um guarda-roupa jogado em sua cabeça. Ele parecia querer estender as mãos por entre as barras, mas as proteções que Sirius havia colocado o proibiam.

- E o que você sabe sobre isso? – ele disse bruscamente.

- O lobisomem tem razão. – disse o demônio novamente, sorriso de um jeito maníaco. – Ele está sendo Chamado. Se ficar nessa cela com ele, ele o rasgará em pedaços tentando sair.

- Cale-se. – Sirius lhe disse, e virou-se para Lupin, que estava deitado no banco com as mãos cobrindo o rosto. Sirius estremeceu. Ao seu redor, toda a masmorra estava mortalmente gelada, e toda sombra parecia uma besta que estava para aparecer.

***

- ‘Ele está certo’? – Harry ecoou, fitando Rabicho. – O que você quer dizer com ‘ele está certo’? E como você nos encontrou?

Rabicho sorriu friamente.

- Nos? – ele repetiu – Isso meio que pressupõe que eu estava procurando por vocês dois, não é? E o triste fato é, Sr. Potter, que eu estou tão surpreso de vê-lo quanto você está de me ver. Era Draco quem eu estava procurando.

Harry olhou de esguelha para Draco, que havia ficado muito pálido, mas não mostrava nenhuma surpresa.

- Como – Draco disse, numa voz contida – você me achou?

- Primeiramente, meu Mestre o observou por aquela Chave de Portal que ele lhe deu. Então você muito estupidamente a deixou para trás, e nós o perdemos brevemente. Felizmente – Rabicho deu risadinhas e segurou algo em sua mão de metal que brilhava como um pequeno ponto de fogo. O Feitiço Essencial. – Seu pai foi gentil o suficiente para oferecer isto ao meu Mestre em troca de--

- De ser borrifado por toda a cela com uma pintura de Jackson Pollock? – disse Draco bruscamente, sua vez tremendo – Seu Mestre não dirige um acordo tão justo, não é?

- Ele é eminentemente justo para com os que o servem lealmente. – disse Rabicho friamente.

Draco deu um passo para trás. Harry experimentou uma vontade estranha de pôr a mão no ombro do outro garoto, mas não o fez, já que sabia que sua mão simplesmente atravessaria Draco, uma sensação que ele particularmente não gostava. Era muito estranho estar presente e sentir-se real, e ao mesmo tempo não ser capaz de afetar o seu ambiente de forma alguma. Ele se perguntou se era assim que um fantasma se sentia.

- Me dê o Feitiço. – disse Draco, olhando firmemente para Rabicho.

Rabicho olhou firmemente para ele, e então fez algo tão bizarro que Harry pensou, por um segundo, que estava imaginando coisas. Movendo-se devagar e estranhamente, Rabicho ficou de joelhos na grama, ainda olhando firmemente para Draco enquanto o fazia.

Draco olhou de esguelha para Harry, e Harry ouviu a voz de Draco em sua cabeça:

O que ele está fazendo?

Harry deu de ombros mentalmente. (não é tão difícil de imaginar se você pensar a respeito.)

Não tenho idéia.

Talvez ele queira brincar de pular carniça?

Teoria interessante, mas acho que não.

Harry sentiu Draco pular ao seu lado, e olhou para cima para ver que um círculo de fogo havia repentinamente os cercado, rodeando os três em um anel de grama queimada. Também não parecia com um fogo comum, mas queimava em um dourado brilhante e cruel como olhar o sol através de vidro. Harry viu Draco estremecer e desviar o olhar. Rabicho falou, então, e sua voz era a sua voz, mas ao mesmo tempo, não era.

- Draco Malfoy, – ele disse, um fraco zumbido pontuando seu discurso – Você é o Herdeiro de Slytherin. Chegou a hora de você subir ao lugar que é seu por direito de sangue e herança. Chegou a hora de você aceitar o seu patrimônio.

Draco parecia alarmado.

Eu não tenho filhos. Eu acho não que tenho filhos. Eu lembraria de algo assim.

Patrimônio, idiota, não paternidade... Significa o seu legado, seu destino... olhe, o que quer que seja, você não quer. Diga que não.

Draco virou-se para Rabicho.

- Não.

Rabicho olhou furiosamente. O fogo intenso brilhando ao redor deles tornando-o assustador; Harry nunca o havia achado particularmente assustador antes.

- Meu Mestre está preparado para lhe oferecer um poder maior do que você jamais poderá imaginar...

- Isso é muito vago. – apontou Draco – Porque é sempre “um poder maior do que você jamais poderá imaginar” e não uma coisa específica, como ingressos para a os melhores lugares em uma Copa Mundial de Quadribol e uma assinatura anual da revista Playbruxo? Digo, porque não algo que eu vá usar?

- ... poder sobre o tempo, – Rabicho continuou, fitando Draco furiosamente como se odiasse ser interrompido – sobre as mentes humanas, sobre dragões e Poderes do Além...

Dragões?, Draco parecia levemente tentado. Poder sobre dragões...

Malfoy!

Oh, está bem.

- ... sobre a vida e a morte. Ele lhe oferece a chance de dividir o Trono das Trevas com ele e sentar à sua esquerda.

- E eu preciso fazer o quê? – disse Draco bruscamente, sua voz impaciente – Desistir da minha alma? Isso é um pouquinho negro demais pra mim, muito obrigado.

- Oh, não. – disse Rabicho – Você não tem que desistir de sua alma. O que o meu Mestre iria querer com a sua alma? Almas são úteis somente para demônios, que não têm nenhuma. Não, meu Mestre quer a sua cooperação e lealdade... só isso.

Draco virou-se para Harry, seus braços cruzados em seu peito, e levantou uma sobrancelha.

- Acho que não estou acreditando nesse cara, Potter. – ele disse – Por que você acha que isso acontece?

Harry deu de ombros, pensativo.

- Ele não tem muita credibilidade.

Draco virou-se para Rabicho e sorriu. Era o mesmo sorriso misterioso que havia assustado Carlinhos na noite anterior. Harry não teria como saber disso, mas ele sentiu a sua nuca se arrepiar como se algo frio o tivesse tocado.

- Eu teria que dizer que concordo com Potter. – ele disse, com tom desagradável. – Eu sugiro que vá embora... e não se esqueça de deixar a porta bater no seu traseiro ao deixar a cidade. É claro, com um alvo desse tamanho...

Rabicho parecia rígido.

- Não há razão para insultar.

Draco gargalhou.

- Eu acho que há todas as razões para insultar. Você seqüestrou uma amiga minha e disse que a não ser que ela bebesse uma poção do amor ilegal, você a mataria. Você também matou os pais de Harry, tentou matá-lo e, oh, sim, há algum tempo atrás você também tentou me matar. Agora você vem me dizer que ou eu vou com você para servir o seu Mestre, ou então... bem, você não vai dizer o que vai ser, mas conhecendo você eu diria que é... que surpreendente... matança. Até agora você não fez nada para conquistar o meu afeto, mas me chateou profundamente. Pra falar a verdade, eu acho que você nunca mais vai conquistar o meu lado bom.

A expressão de Rabicho tornou-se sombria.

- Você está dizendo que não virá por vontade própria?

Draco sorriu educadamente.

- Desculpe-me, mas que parte de ‘vá embora, seu gorducho idiota’ você não entendeu?

Rabicho parecia que não havia escutado isso. Ele estava fitando Draco e havia um brilho em seus olhos que Harry não gostava nem um pouco.

- Você é o Herdeiro. – ele disse para Draco – Não há ninguém igual a você. Assim sendo, você tem o direito de receber... um tratamento especial.

Draco sentiu um misto de fascinação e repulsa.

- Que tipo de tratamento especial?

- Três vezes eu devo lhe perguntar. – Rabicho disse, como se isso fosse algo que tinha aprendido por repetição – Três vezes eu devo lhe perguntar se você vem por vontade própria antes de poder forçá-lo. Pela última vez: você virá comigo para servir ao meu Mestre?

Draco olhou para Harry, voltou para Rabicho, e balançou a cabeça.

- Não, não irei.

A boca de Rabicho curvou-se em um sorriso feio.

- Então eu terei que forçá-lo.

- Me forçar? – O rosto de Draco adquiriu aquela expressão tensa e levemente maníaca que, Harry sabia, só aparecia quando ele não estava ‘muito’, e sim, extremamente furioso. Ele estendeu sua mão esquerda e a espada voou da grama para a sua mão. Ele girou-a para a frente, a lâmina na direção de Rabicho. – Se vier para perto de mim, e eu lhe apresentarei ao lado pontudo de Clarence.

- Clarence? – Rabicho disse, piscando.

- Você deu um nome à sua espada? – Harry disse

- E...? – disse Draco

- Você a chamou de Clarence?

- Bem, ou era isso ou colocar um nome muito comum como Durendal ou Greyswandir ou Drynwyn e por que estamos falando nisso agora?

Rabicho estava rindo.

- Ah, sim. – ele disse – A Lâmina Vivente. Feita de metal demoníaco, por demônios. Uma grande arma para um jovem com você, não acha? Não seria melhor um estilingue?

Harry olhou para Draco, e viu uma tremulação de confusão em seus olhos.

Ele só está blefando, Harry pensou. Distraia-o. Sirius estará aqui a qualquer minuto. Ele deve vir por mim.

Rabicho ainda estava sorrindo enquanto, lentamente, ficava de pé. O fogo em volta deles apagou tão repentinamente como havia surgido e Harry arrepiou-se, não pelo frio real, já que ele não podia sentir nem frio nem calor no estado em que estava, mas de apreensão.

- Você deve saber – Rabicho disse – que existiram três Lâminas Viventes na História. A sua, que uma vez foi a de meu Mestre. Godric Gryffindor também tinha uma, apesar de que a dele não era de origem demoníaca. E tinha uma terceira. Não existe mais. Ela foi derretida pelo Lorde das Trevas para fazer outra arma. – ele levantou sua mão direita e Harry viu o luar cintilar na superfície polida de sua mão de metal – Essa arma. – disse Rabicho, e de repente sua mão estendeu-se em sua frente, seus dedos alongando-se rapidamente, juntando-se, derretendo e reformando-se em uma lâmina vivente, brilhante e muito afiada, quase igual a Draco segurava, embora o punho da espada fosse o pulso de Rabicho.

Harry sentiu seus olhos arregalarem e fitou Draco, que parecia igualmente surpreso, mas que permanecia rígido, seus olhos em Rabicho.

- Se você quisesse me matar – ele disse, contido – só teria que esmagar o Feitiço. Slytherin me quer vivo. Você não vai me matar.

Rabicho deu de ombros, empunhando sua espada-braço alongada, que brilhava como a carapaça de um inseto metálico.

- Ele lhe quer vivo, – ele concordou – mas nunca mencionou que você teria que voltar intacto. Você servirá seu propósito do mesmo jeito, mesmo se perder suas pernas ou seus braços. Pelo menos foi isso que entendi.

Draco não parecia estar com medo, só furioso.

- Tudo bem. – ele disse – Então venha me pegar.

Rabicho investiu contra ele bem na hora que Draco levantava sua espada. As duas lâminas sibilavam mais do que tiniam quando se encontravam.

Harry viu Draco fitá-lo rapidamente, viu-o dar um sorriso insignificante, como para dizer não se preocupe, antes de voltar para a luta.

Que saco!, Harry disse a si mesmo, eu me sinto completamente inútil. Sirius, cadê você? E então, enquanto assistia, seus olhos arregalaram-se em assombro. Sirius... você devia ver isso... você não iria acreditar...

De repente, Harry lembrou-se da sala de esgrima da Mansão Malfoy; as paredes cheias de armas assustadoras, e Lúcio Malfoy jogando-lhe uma espada. Teste seu temperamento, garoto. Ele odiava ter que admitir, mas o treinamento de Lúcio aplicado sobre seu filho havia mostrado resultados. Draco sabia lutar. Harry sabia muito pouco sobre esgrima; nunca havia se interessando por isso, mas o Quadribol havia lhe dado um bom olho para notar habilidade, e Draco a possuía. Ele se movia mais rápido do que Harry pensava que ele podia, e pelo que Harry via, ele parecia estar se divertindo ao fazê-lo.

Rabicho, meio que obviamente, não sabia lutar, mas também não se importava. Sua espada-mão estava fazendo todo o trabalho por ele: saltando, cortando, estocando, e investindo com uma rapidez incrível. Rabicho seguia a espada como uma lata presa na traseira de um carro. Seus olhos arregalaram-se quando a espada fez um movimento brusco de varredura na direção de Draco, que bloqueou, e quase tropeçou quando a espada se movimentou para cortar a perna de Draco. Draco pulou e desviou da espada e virou-se para Rabicho, segurando a espada de Slytherin em sua frente.

- Você é patético. – ele sibilou – E vai se cansar primeiro. E então? O seu braço vai se soltar e vir atrás de mim?

Os olhos de Rabicho arregalaram-se como se aquilo não tivesse passado por sua mente.

- Vamos ver. – disse Draco, e o atacou com força com a espada de Slytherin. Rabicho gritou e pulou para trás, sangrando de um corte no ombro. Ele parecia estar recuando, mas a espada não o deixaria; ela saltou para frente, investindo contra Draco com um vigor renovado. Draco desviou, mas não rápido suficiente para sair totalmente ileso, e a ponta da lâmina de Rabicho abriu um rasgão em sua bochecha. Sangue manchou sua camiseta branca.

Você está bem? Harry pensou para ele rapidamente, Consegue continuar?

Conseguirei por pouco tempo. Ele não sabe lutar, mas aquela espada pode. Cadê o Sirius?

Harry estava desesperado.

Eu não sei. Não há nada que eu possa fazer? Me sinto completamente inútil.

Você é completamente inútil.

Valeu...

Você é tão inútil quando uma máquina de camisinhas no Vaticano.

Cala a boca, Malfoy.

Não posso evitar. Ai!

Rabicho havia atacado novamente, dessa vez no braço de Draco. Não havia perfurado o couro grosso da jaqueta, mas Draco parecia irritado assim mesmo.

- Imbecil. – ele sibilou, e girou a espada para baixo, com força. Rabicho rolou para o lado, escapando do golpe por centímetros. Ele estava molhado de suor agora, sua cabeça careca brilhando, seus olhinhos redondos cheios de medo. Ele parecia querer estar em outro lugar, mas a Lâmina Vivente não o deixaria ir. Harry olhou em assombro quando Rabicho foi levantado à força e investiu contra Draco, seus olhos quase fechados de terror. Draco fez um movimento com sua espada que, para Harry, parecia pequeno e extremamente rápido ao mesmo tempo, e Rabicho recuou bruscamente, seu pulso sangrando. Eles estavam atingindo a borda do fosso.

Tome cuidado, Harry pensou para Draco.

Eu sou sempre cuidadoso—

O pensamento de Draco foi interrompido, pois Rabicho estava investindo com o braço estendido. Draco se defendeu com uma estocada alta e larga; Rabicho pendeu para a frente, a ponta de sua espada prendendo-se em duas pedras. Harry viu-o puxar fortemente com seus ombros, e ele levou um momento para perceber que a Lâmina Vivente de Rabicho estava parcialmente presa, e que ele não podia se mover.

Draco virou-se, viu o que havia acontecido, e elevou a sua espada, a lâmina brilhante cintilando como se fosse o luar refletido num espelho. Rabicho emitiu um som de terror estranho; ele estava agarrando o pulso direito com a mão esquerda, puxando fortemente, mas em vão.

Draco olhou para Harry e Harry viu que ele estava muito branco à luz fraca. Seus olhos faziam uma pergunta e Harry respondeu, mantendo seu olhar firme:

Acabe com ele.

Harry podia ver a inquietação de Draco quando este respondeu:

Você quer dizer... matar ele?

Sim.

Eu nunca matei ninguém.

Nunca?

Uma centelha brilhante da irritação de Draco apareceu como uma lâmpada atrás dos olhos de Harry.

Obrigado pelo voto de confiança, Potter. Não, eu nunca matei ninguém!

Foi mal...

Draco elevou a espada de novo e Rabicho gritou alto. Harry viu Draco contrair-se e dar um passo para trás e Rabicho, vendo seu movimento, puxou mais uma vez a espada e, com um som de rasgo, ela se libertou. Rabicho tropeçou para trás, jogando suas mãos para o alto—

Malfoy, cuidado! Harry pensou rapidamente... mas era tarde demais: uma das mãos de Rabicho atingira o estômago de Draco. Com um “huf” surpreso, ele tropeçou para trás... e caiu da borda da pedreira.

Paralisado de choque e horror, Harry viu os olhos de Draco arregalarem-se em surpresa, suas mãos para o alto, a espada saindo de sua mão enquanto ele caía para trás e fora de vista.

Um momento depois, Harry ouviu o “splash” de Draco ao atingir a água.

Ele ouviu a voz de Draco em sua mente:

Eu não sei nadar, pra começar.

Harry começou a correr. Ele mal se lembrava de Rabicho, que contorceu a cara ao ver o que tinha feito e desaparatou; estava completamente inconsciente que havia passos atrás dele, alguém correndo tão rápido quanto ele. Ele só estava prestando atenção na luz no fundo de sua mente, que começava a perder firmeza e piscar fracamente como o fogo de uma vela que foi assoprada.

Isso não pode estar acontecendo.

Ele alcançou a borda da pedreira, abaixou rapidamente, e olhou para a água preta inerte e firme. Não havia nenhum sinal de nada, de nenhuma vida, nem mesmo uma onda na superfície.

- Malfoy! – ele gritou, sabendo que era inútil, ouvindo somente o silêncio – Malfoy! – ele olhou para cima, desesperadamente, olhou para as estrelas – Sirius, cadê você?

***

No quarto na Mansão Malfoy, Hermione repentinamente sentiu Harry apertar sua mão convulsivamente, seus dedos apertando seu pulso tão forte que era agoniante.

- Harry. – ela sussurou, inclinando-se em sua direção – Harry...

Seus músculos ficaram tensos, suas costas saindo da cama, sua mão largando a dela. Hermione tapou a boca com uma mão.

- Harry... o que está acontecendo...?

Ela se deixou cair ao lado de Harry, tentou segurá-lo pelos ombros, mas ele a livrou com um puxão, movimentando freneticamente seus braços. Ela segurou uma de suas mãos, apertando-a firmemente e estendeu a outra mão para tirar o cabelo preto suado dos olhos de Harry. Onde ele está? O que aconteceu com ele?

- Está tudo bem, Harry. – ela sussurrou – Você está bem, nada pode lhe machucar.

Harry sacudiu sua cabeça para o lado e gritou; o primeiro som que ele havia emitido desde que ela o havia enfeitiçado.

- Sirius, cadê você?!!

Hermione olhou ao redor apressadamente. Sirius.. Tenho que achar o Sirius, ela pensou. Mas eu não quero deixar o Harry... Ela se levantou, deixando a mão de Harry hesitantemente, e recuou da cama, os olhos ainda em Harry. Ele ainda se mexia inquietantemente, como se estivesse tendo um pesadelo. Oh, Deus, ele está bem? Nada pode machucá-lo; Lupin disse que nada poderia machucá-lo.

Ela hesitou, olhando para ele... e então sentiu ela desaparecer.

Ela. Aquela sensação no fundo do estômago, a âncora gelada que tinha sido depositada ali, aquela sensação que estivera ali por todos os segundos de todos os minutos de todos os dias desde que ela havia engolido a poção que Rabicho lhe dera.

Ela sumiu.

Sumiu.

Hermione colocou a mão no estômago, não ousando a acreditar. Sumiu, ela pensou, desenfreada, o feitiço saiu de mim.

Draco...

Ela correu até a porta do quarto, abrindo-as com tanta força que ela ouviu as dobradiças rangerem, e saindo do quarto, gritando do topo de seus pulmões, gritando por Sirius, apesar de ela saber, sem sombra de dúvidas, que se o feitiço havia acabado já era tarde demais...

***

Referências:

1) - Sim – ele a interrompeu, com um sorriso fraco – sabe, no momento eu atendo pelo nome de ‘Draco’. Buffy, a Caça-Vampiros.

2) Um golpe, uma finta em quarta, uma finta em sexta, e um bote guinando num ataque na mão da espada do oponente. – Esse é o famoso passo de desarmamento do Príncipe Corwin em Nine Princes in Amber.

3) Um aprendiz convencido é apenas um tolo, mas um esgrimista convencido é um homem morto. Eu não faço a menor idéia. Parece ser um ditado. Se você sabe a origem, me fale.

4) Durendal, Greyswandir, Dyrnwyn - Durendal é a espada de Roland em Chanson de Roland[não sei a tradução, desculpem.], Greyswandir, de novo, pertece à Nine Princes in Amber[Nove Príncipes em Âmbar, traduçção literal.] and Dyrnwyn foi um dos Treze Tesouros da Bretanha coletados por Merlin.

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