Capítulo 4
Na manhã seguinte, acordado por um cheiro de torta de maçã recém-assada, Harry se levantou e descobriu que já estava sozinho no quarto. Como normalmente acontecia, longe da casa dos Dursley ele dormia melhor do que de costume, as vezes até demais. Enquanto se trocava, a conversa no andar de baixo foi chegando aos seus ouvidos.
- ...muito pior do que você imagina! Está simplesmente o caos! Não sobrou nenhum produto no lugar! Por favor, Hermione, estamos desesperados!!! – choramingava Fred.
- Tudo bem, eu já falei que vou, mas me deixem tomar café primeiro!
- Não, você não está entendendo! O Beco Diagonal está apinhado de gente! É como nos velhos tempos! A curiosidade das pessoas é muito maior do que a cautela, todo mundo foi ver o que aconteceu em Gringotes, a loja não pode ficar fechada logo hoje! Você sabe a quanto tempo não tem tanta gente assim na rua?
Percebendo que seria deixado pra trás se não se apressasse, Harry vestiu a primeira camiseta velha de Duda que apareceu pela frente e correu para a cozinha. Chegou bem a tempo de encontrar Ron, Hermione, Fred, George e Ginny entrando na lareira em direção à “Gemialidades Weasley”. Educadamente ele recusou o pedaço de torta que Tonks ofereceu e, correndo para dentro das chamas verdes, acompanhou os amigos.
Na loja tudo parecia bem pior do que Fred e George tinham descrito. A explosão em Gringotes tinha feito o lugar tremer com tanta força que parecia até que o Pirraça havia passado a noite lá, se empenhando em tirar cada coisa do lugar. Um vidro de “Pântano Portátil” tinha se quebrado na ala de produtos para meninas, e caixas de poções do amor boiavam no meio da lama e do musgo.
Sem saber por onde começar, Harry, Ron, Ginny e Hermione se entreolhavam, tentando segurar o riso diante da cara desolada de George e Fred. Eles tentaram alguns feitiços, mas tudo que faziam parecia pouco perto da enorme quantidade de trabalho a ser feito. Vendo o desespero dos gêmeos com a clientela que eles estavam perdendo, Ginny sugeriu:
- A mamãe sempre usa aquele livro do Lockhart pra fazer as tarefas domésticas... Tudo bem que ele era uma fraude, mas parece que os feitiços normalmente funcionam... Quer dizer, não é qualquer feitiçozinho que consegue acabar com a bagunça que vocês faziam, né? As fontes dele deviam ser bruxas realmente boas... Por que a gente não tenta?
- Claro, qualquer coisa! Até aquele farsante...– disse George, colocando um saco de moedas nas mãos de Hermione para que elas fossem até a Floreios e Borrões comprar o tal livro.
- Espera, Ginny, deixa que eu vou! Assim a gente pode aparatar, é mais rápido. – Fred interrompeu, já abrindo a porta para Hermione.
Os dois passaram desaparataram logo que alcançaram a calçada, enquanto Ginny e George trocaram um olhar de cumplicidade.
- O que foi? – perguntou Ron – Vocês sabem de alguma coisa que eu não sei?
- Ah, Ron, nem se você tentasse você seria mais lerdo, né? – Ginny riu.
- Como assim? O que foi? O que que tá acontecendo entre os dois?
- Nada... ainda... – completou George.
- Mas desde que ela chegou em casa o Fred está o tempo todo inventando
desculpas pra ficar por perto, rodeando...
- O quê? Fred e Hermione? – Ron parecia incrédulo – Nunca vi um casal que combine menos!
- Os opostos se atraem, Ron! – observou George.
- Mas ela é minha amiga... e ele é meu irmão... não pode! – Ron tentava justificar sua indignação.
- Hum... Não foi alguma coisa bem parecida com isso que você deixou acontecer no ano passado? – perguntou Harry com a voz cheia de sarcasmo, olhando de lado pra Ginny.
- Mas é diferente! Você é meu amigo, e ela é minha irmã, agora o Fred e a Hermione?! Não! Ele não merece ela! Eles não vão dar certo juntos! Ele não sabe como tratar uma mulher!
- Ah, é... você sabe muito bem, né? – falou Ginny, ironicamente – Fingir que você está dormindo quando sua namorada vai te visitar na ala hospitalar, se esconder atrás dos amigos ao menor sinal de que ela possa estar por perto... Isso sim é o comportamento de um perfeito cavalheiro!
E a falta de reação de Ron fez os três cairem na gargalhada. Durante algumas horas os quatro trabalharam como puderam, colocando as prateleiras de volta no lugar, prendendo os animais que haviam escapados, guardando os frascos que ainda estavam inteiros (e zombando de Ron nas horas vagas). Algum tempo depois a porta da frente se abriu de novo, e Fred e Hermione voltaram com o livro e alguns pacotes de ingredientes nas mãos, conversando animadamente.
- Vocês demoraram! – disse Ron, assim que eles pisaram dentro da loja.
- É, a gente resolveu voltar andando – justificou-se Fred – Hermione queria dar uma volta pra ver se os prejuízos em todas as lojas tinham sido tão grandes quanto aqui.
- Nossa, vocês não fazem idéia! A loja de equipamentos pra Quadribol está acabada! Nenhuma vassoura ficou inteira, os balaços destruíram todas as prateleiras de trajes e os pomos, ninguém viu pra onde fugiram. Na de pergaminhos acho que não sobrou nenhum rolo sem uma mancha de tinta.... – ela explicava com um tentusiasmo de quem estava dando uma notícia boa. Parecia muito mais animada do que a ocasião pedia.
- ... mas o melhor foi ver a Gambol e Japes! Eles estão acabados, muito pior que nós, George! Parece que o estoque de Fogos do Dr. Filibusteiro estourou, está pior do que o que fizemos em Hogwarts! Acho que vamos ficar sem concorrência por um tempo... – completou Fred.
- É... pelo menos até eles conseguirem encontrar algum outro livro sobre contra-feitiços para explosões e incêndios. Tenho certeza que o Sr. Borgins levou aquele último... Parece que o terremoto também passou lá pela ladeira do Tranco...
- Tá bom, mas vocês acharam alguma coisa que sirva, pelo menos? – George começava a ficar impaciente.
- Ah, claro! Já até compramos alguns ingredientes para fazer a contra-poção do amor. Não sei o que pode acontecer se estes sapos apaixonados se engraçarem pro lado dos Pigmy Puffs... – disse Hermione, enquanto vasculhava as prateleiras com os olhos procurando um caldeirão, e Harry não pode deixar de notar uma piscadela cúmplice de Fred para George, que imediatamente tirou um pedaço de pergaminho do bolso e tomou nota da idéia. Sapos peludos cor de rosa. Vai ser a próxima mania em Hogwarts.
O resto do dia foi ocupado por muito trabalho, mas o livro de Lockhart se mostrou extremamente útil, e até o fim da tarde a loja estava como nova. Logo Harry, Ron, Hermione e Ginny estavam de volta à sede da Ordem, para o jantar caprichosamente preparado por Tonks. Não demorou para que o assunto da visita a Godric Hollow vontasse à tona.
- Então, Harry, eu estive conversando com a Tonks, e ela tem algumas idéias que podem ser úteis. Conta pra ele, Tonks! – começou Lupin.
- Bom, eu pensei que, se os acontecimentos daquela noite também atingiram os trouxas, provavelmente o jornal local deve ter noticiado alguma coisa. Podíamos começar procurando nos arquivos ou na biblioteca municipal, se lá tiver uma... – e Hermione se remexeu na cadeira, deliciada com a idéia de se enfurnar em uma biblioteca novamente.
- É, é um bom começo – concordou Harry – mas isso quer dizer que vocês vão com a gente?
- Eu vou – disse Lupin, não contendo um sorriso, ao ver a alegria que sua resposta deu a Harry.
- E se Lupin vai, eu também vou! Sabe, desde que Dumbledore... bom, ninguém mais morreu, ninguém mai sumiu, nada mais aconteceu! Acho tudo isso muito estranho, está tudo calmo demais! Enquanto Você-sabe-quem não se mostra, precisamos fazer nossa parte pra encontrá-lo. Não podemos deixá-lo agindo tranquilamente... senão, quando ele aparecer, pode ser muito tarde.
- E onde nós vamos ficar lá? Vocês conhecem algum lugar...? – questionou Ron.
- Num hotel. Como trouxas – Harry dava a impressão de que já tinha tudo planejado na sua cabeça – é o melhor jeito pra nos infiltrarmos na população da cidade, pra conversarmos e conseguirmos informações sem levantar nenhuma suspeita. Não quero que ninguém saiba que vamos pra lá. Principalmente o Ministério...
- Mas onde vocês vão arranjar dinheiro de trouxa? – perguntou Ginny.
- Minha família é trouxa, eu posso mandar uma coruja... – disse Hermione.
- Melhor não, Mione. Você sabe que o nosso correio não pe mais seguro. Não quero que ninguém saiba do nosso plano...
- Acho que meu pai consegue arrumar um daqueles tele... Como é mesmo o nome daquele negócio que vocês usam? – Perguntou Ron.
- Telefone? É uma boa idéia... Não acho que as comunicações dos trouxas estejam sendo rastreadas... Mas Ron, - Harry tentava achar a melhor maneira de falar, sem ofender o amigo – não queria que você comentasse nada com o seu pai. Não que eu não confie nele, ou qualquer coisa, mas desde que Bill foi atacado pelo Grayback parece que ele está mais cauteloso, não sei... acho que ele pode acabar entregando nosso plano pro Ministério...
Claro que não é por mal, mas ainda assim...
Muito tempo depois do fim do jantar os seis continuavam sentados à mesa da cozinha, planejando a visita a Godric Hollow e tudo que precisavam fazer enquanto estivessem lá. Já era quase dia quando decidiram se deitar, mas Harry continuava sem sono. A expectativa de visitar a casa onde ele tinha, mesmo que por pouco tempo, tido uma família de verdade, mexia com ele muito mais do que ele podia imaginar, e a ansiedade não deixava sua cabeça descansar. Nos próximos três dias ele teria muita coisa pra fazer, pra grantir que a viagem realmente valesse a pena.
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