Além do Ordinário



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- CAPÍTULO TRÊS –
Além do Ordinário


- Harry! – disse Hermione alegre. Ela usava roupas trouxas e o cabelo em um rabo de cavalo que lhe deu um aspecto superior. Rony pareceu se desinteressar pela campainha e gritou para o amigo. – Achei que não fosse nos atender! – Rony tinha os cabelos ruivos, bagunçados, e um pouco mais compridos que o habitual, parecia uma versão mais animada de Carlinhos, seu irmão mais velho.

- Entrem, por favor. – Harry arreganhou a porta de pinnus branco, para espanto de Petúnia, que dava para o interior do número quatro. Ela gesticulava para o marido e o filho, fez um sinal com as mãos que Harry compreendeu com enxotar, e outro que se referia obviamente à chegada de seus amigos. Harry abriu os ouvidos para tentar escutar algo.

- ...você não deve achar nada, Válter! – tia Petúnia tinha o dedo em riste para o marido. – Vocês vão ao mercado ou a qualquer lugar, querendo ou não! Existe algo que eu desejo contar ao meu sobrinho, coisas que deveria ter dito antes da morte de minha irmã.

- E então Harry? Animado com o casamento de Gui? – perguntou Rony, chamando-o de volta ao assunto principal: seus amigos estavam ali. Hermione olhava a casa do chão ao teto, embora a menina fosse bruxa, a infância trouxa à ensinara à analisar a casa da pessoas que entrava com periculosidade para retirar-se algum conhecimento de quem morava ali.

- Seus tios são bem limpos não é Harry? – disse Hermione passando o indicador sobre o aparador de mogno, que sustentava um antigo telefone branco, e uma agendinha de contatos de couro negro, e analisando a quantidade de pó que obviamente era a mínima possível.

- Ah sim! Eles são limpos, ao extremo. – disse Harry enquanto seu tio e primos saíram, receosos de deixarem Petúnia ali dentro com três bruxos agora adultos, em posse de varinhas mágicas. – Sobre o casamento, - tia Petúnia trancou a porta e virou o trinco triplo – é sempre bom ter algo a comemorar em tempos assim. – finalizou Harry sem muita emoção.

- Harry! – chamou sua tia. – Leve seus amigos para a sala de estar. – Harry arregalou os olhos para ela. – E lhes sirva algo para beber. Volto em um instante. - Tia Petúnia estava agindo estranhamente desde que seus amigos ali entraram. O sol da manhã começava a invadir o carpete limpo do número quatro. Os jovens bruxos se dirigiram à saleta da esquerda e se sentaram em lugares confortáveis. Os passos de tia Petúnia na escada foram abafados pelo som das taças que Hermione conjurara. A menina continuou e com mais dois acenos da varinha, as taças se encheram de suco, e dois pratinhos com biscoitos apareceram.

- Hermione! – ralhou Harry – Não vamos ficar muito tempo! – disse Harry impaciente, mas olhando a cara da amiga ficou confuso – Ou vamos?

- Bem... - começou Hermione.

- Lá vem! – interpelou Rony.

- Pare com isso! – retorquiu Hermione. – Não pude deixar de não escutar sua tia falando com seu tio para que saísse para com... – Hermione parou abruptamente. Tia Petúnia estava de pé na porta. Estava mais seca e velha do que Harry jamais a vira. Havia em seu braço uma caixa velha de sapatos, que parecia ser pesada, pois os fracos músculos de Petúnia estavam rijos sob a pele fina. Na mão do outro braço, um jornal velho estava enrolado em suas mãos, com um pouco de raiva compilado em cada dedo.

- Ele morreu Harry, - começou sua tia deixando a caixa sobre a mesinha de centro onde as taças com suco tremularam com o baque da caixa. Havia algo de misterioso na forma como a caixa estava fechada, parecia estar lacrada, no entanto não havia nenhuma fita, cordão ou nada que impedisse de ser aberta. Rony parecia confuso com tudo aquilo, assim como Harry. - Também fiquei sabendo.

- Quem morreu? – Perguntou Harry ainda mais confuso.

- QUEM MORREU? – disse tia Petúnia com o desespero na voz – ELE MORREU! ELE MORREU! – disse tia Petúnia balançando o jornal na mão. Para a surpresa de Harry, o jornal que estava em suas mãos, era uma edição extra que Harry também havia recebido e tentou esquecer, mas estava ali de volta, na sua frente, a manchete com letras garrafais lia-se: ALVO DUMBLEDORE: ASSASSINADO EM HOGWARTS. Tia Petúnia começou a soluçar.

Um silêncio estranhamente perturbador invadiu a sala. O ar ficou estático, as folhas das árvores do lado de fora pareciam mover-se em câmara lenta, o suco que tremulava parecia ter congelado, respirar era algo difícil, os pensamentos fervilhavam em todas as direções e linhas de pensamento, tudo menos que Petúnia Dursley fosse assinante do Profeta Diário. A irmã de Lílian Potter, pela primeira vez parecia amável ou dócil. Seus olhos castanhos estavam profundos e úmidos, a cabeça baixa, as pernas arqueadas, ela caiu em uma poltrona individual, de frente para os três.

- Hem-hem! – Harry acordou da paralisia temporal que se instalara, imaginando quem havia feito aquele som horrível, que lhe lembrava a pior das pessoas, Dolores Jane Umbridge. Mas, para alívio de Harry e Rony, que também havia saltado do assento, era Hermione. – Rony, poderíamos subir e fazer as malas do Harry?

- Ah, Mione, isso leva segundos... Você sabe... – disse o amigo sacudindo uma varinha imaginária.

- Ronald Weasley, vamos subir. Já! – os olhos de Hermione perfuraram os de Rony que, sem escolha, seguiu escada acima.

Harry estava tão perplexo com toda aquela situação, que não ouviu os dois amigos começarem a discutir, mais uma vez, enquanto subiam as escadas e seus passos ficavam cada vez mais baixos. Tia Petúnia permanecia sentada em sua poltrona bege, antiga, com finos pés de madeira. Ela levantou o dedo e indicou a caixa amarela que estava sobre a mesinha.

- Abra Harry. – pediu ela com a voz menos embargada.

Harry abriu a tampa da caixa. Dentro dela, havia centenas de cartas armazenadas. Possuíam um selo vermelho que Harry conhecia muito bem, e uma caligrafia verde e fina que sabia, jamais veria novamente. Inicialmente Harry chegou a concluir que aquelas eram as cartas que há seis anos atrás, ela e seu tio tanto relutaram em deixá-lo ler. Eram cartas de Hogwarts, especificamente do antigo diretor, Alvo Dumbledore. Mas, para surpresa ainda maior, aquelas não eram as cartas que seus tios o confiscaram, eram outras, todas endereçadas à sua tia.


Sra. Petúnia E. Dursley

A suíte da casa

Lado esquerdo da cama

Rua dos Alfeneiros, nº 4

Surrey



- O que é isso? – perguntou Harry sem muito pensar. Um segundo depois percebeu que fora rude, e naquele momento, não havia necessidade de ser rude com sua tia. Antes que corrigisse o erro ela respondeu.

- Cartas de Alvo Dumbledore. – disse ela pausadamente – Cartas de correspondência de quase vinte anos, especificamente dezesseis. Mas preciso começar do começo Harry. Preciso lhe contar muita coisa para que eu possa obter o seu perdão.

Harry consentiu com a cabeça e fechou os olhos.

- Comecemos pela minha infância Harry. Eu e sua mãe, Harry. Como éramos felizes, brincávamos juntas com as bonecas que minha mãe nos comprava – infelizmente seu avô morreu, com câncer – ou então corríamos pela rua e andávamos de bicicleta. Tivemos uma infância perfeitamente normal. – Ela respirou um pouco e continuou – Mas sua mãe, tinhas alguns dons especiais, ela sempre conseguia deixar a bonecas em pé, mesmo que isso desafiasse a gravidade, sem querer colocava fogo de verdade em nossa panelinhas de brinquedo...

- Ele era uma bruxa. – concluiu Harry sério.

- Sim, exatamente. Eu era criança e achava aquilo normal. No entanto conforme fomos crescendo comecei a perceber que aquilo não era algo comum, e eu desejei poder ser igual à ela, limpar o caderno sujo em um instante, sumir com os recadinhos mais fúteis, mas que na época eram segredo de estado... – Tia Petúnia olhou para o teto nostálgica – Eu queria ser bruxa, Harry. Como queria... Mas, infelizmente a natureza não me permitiu isso. Pelo menos, não naquela época.

Harry estava paralisado, apenas escutando, atento, a todas as palavras.

- O sentimento mais imundo apoderou-se de mim quando ela tinha onze anos, eu já tinha treze, e quando descobri que ela ia para uma escola de magia eu fui consumida pela inveja deslavada. Aquilo me alimentou por anos. Lily não entendia meu comportamento, mas eu não podia suportar vê-la indo para longe, onde todos eram mágicos e eu ficando em Londres, em uma escola para jovens moças!

- Você não deveria ter ficado assim! – disse Harry abruptamente, em um misto de consolo e raiva. Arrependeu um segundo depois.

- E para completar – disse ela como se não tivesse sido interrompida – Minha mãe, lhe dava toda a atenção nas férias, afinal ela só via a pequena Lily nas férias, enquanto eu voltava todos os fins de semana para casa. Minha inveja só aumentou. Quando completei dezoito anos, Lily estava com dezesseis. Nessa época, me formei no Instituto Sta. Clara para Jovens Moças, e consegui o emprego de secretária no escritório de uma firma de parafusos. Lá conheci Válter.

Ela não sorriu, tampouco se fez desgostosa.

- Eu não irei mentir. Viver sozinha, sem o contato com a família, foi horrível. Meu primeiro ano sozinha, foi tremendamente triste, no fundo ainda amava minha irmã, sentia saudades dela, de minha mãe. E de minha casa. – Petúnia segurou o choro, deu um soluço longo e profundo. Olhando para o teto iluminado, continuou, mais pausadamente. – Naquela época, sua mãe já estava de romance com seu pai, um jovem bonito e alegre, muito diferente de Válter, que sempre foi obeso e grosseiro. Conhecemo-nos em um verão muito quente. Um jantar entre eu, sua mãe, seu pai e Válter. Você pode imaginar que quando seu pai começou a falar de capas de invisibilidade, seu tio levantou-se da mesa. Mas com o tempo aprendemos a amar e a odiar. Com o tempo minha inveja evolui em ódio, mas nunca percebi que o que realmente sentia era amor represado.

Uma tênue lágrima escorreu pelos olhos de sua tia. Ela enxugou o rosto com um de seus dedos finos e continuou. Harry começava entender o porquê fora maltratado pela irmã de sua mãe.

- Nesta mesma noite, Lily me levou até o seu quarto. Tiago estava na sala, aguardando para ir embora e Válter já havia tomado o rumo de casa. O mundo de Lily estava em guerra, um poderoso bruxo ameaçava tomar o poder e matar todos aqueles que não fossem bruxos de linhagem pura. Sua mãe foi muito generosa comigo, me contou tudo, pediu que eu evitasse as ruas à noite, não confiasse em estranhos, não recebesse pessoas em casa, não fosse mamãe ou ela própria. – tia Petúnia levantou a cabeça e olhou para o sobrinho – Sua mãe era tão generosa, que mesmo sendo eu aquela que a havia deixado havia tantos anos, ela ignorou minhas investidas. Fui informada quando ela teve você, eu estava grávida de Duda. Sua mãe me convidara para seu batismo, me prometendo uma surpresa, mas não compareci. Sua mãe me pediu refúgio caso necessitasse, mas eu lhe neguei meu teto.

- Mas meu pai nunca contou isso a ninguém! – disse Harry confuso – Pelo menos ninguém me contou nada!

- Eu duvido muito que seu pai soubesse que sua mãe me enviava correspondências. Eu nunca gostei muito de seu pai... – Harry ficou lívido – e ele tampouco de mim. Lily não arriscaria o casamento contando que me enviava cartas. E então ela morreu... Harry você não sabe como isso me abalou. Duda tinha meses e eu entrei em depressão. Fingi estar em depressão pós-parto. Você chegou um dia depois e eu aceitei com muito remorso. Não me espantei, mas foi uma grande surpresa! Duda sofreu com minha depressão, que durou alguns anos e, eu não tratei dele como deveria, tampouco de você. Eu tinha medo de machucá-lo como eu fizera com minha irmã.

Ela suspirou profundamente e pegou o jornal.

- E então veio ele. – disse apontando para uma foto em movimento do antigo diretor – Ele me pediu para fazer coisas grandes! Você não imagina como você é especial Harry, e como Dumbledore lhes resguardou de muitos perigos. E agora... – tia Petúnia havia recomeçado a soluçar freneticamente – E agora-a, e-ele... E-e-ele mo-morreu!

Harry viu a nítida imagem de um homem com capa preta, cabelo preto e oleoso, o nariz de gancho no rosto macilento. A imagem de Severus Snape inundou seu corpo com um furor quente e lascivo que fez com que a mesinha tremesse. As taças conjuradas por Mione tremeluziram à luz do abajur, e caíram quebrando-se. Harry sacudiu a varinha e a taça sumiu no meio do nada. Petúnia pouco se importou com a varinha de Harry.

- Agora Harry, - recomeçou após alguns minutos de profundo silêncio – você deve prestar atenção. Quando você e Dumbledore saíram da escola, na noite em que ele morreu, Dumbledore me enviou sua última carta. – Petúnia abriu a caixa novamente e procurou por uma carta específica. Ao encontrar, ela puxou o envelope e retirou a folha de pergaminho. Abriu e entregou a Harry.


Cara Petúnia,

Estou indo me encontrar com Harry neste instante. Partiremos da escola para um local onde, embora sozinhos, nossas vidas correm perigo. Eu pressinto, hoje à tarde foi o último dia que vi o sol. Se realmente assim o for, não hesite em contar tudo a Harry. Tudo que ele deve saber sobe Lílian você deve contar, não deixe que seu marido e filho interfiram! Você sabe as regras, não deixe que ele se vá antes do tempo!


Desejando o melhor,

Alvo Dumbledore


- O que ele quer dizer com regras? – perguntou Harry confuso após reler três vezes, o que pareciam as últimas palavras antes de Dumbledore morrer.

- Quando você chegou, - narrou tia Petúnia – Ele me pediu coisas grandes, como já disse. Ele me pediu que lhe desse uma vida normal, sem extravagâncias, uma vida simples e digna. Mas, o ódio que Válter, alimentado pela minha farsa, nutria por minha irmã e conseqüentemente a você além da minha inveja corroída, fez com que sua vida se tornasse um lamurio. Estava apenas cumprindo o que Dumbledore me pedira, talvez não da melhor forma, talvez influenciada pelo ódio ou pela inveja ou mesmo pelo amor... Harry, por favor, me desculpe, por todos esses anos, e por toda a vida de sua mãe, perdoe minhas faltas e culpas... – tia Petúnia tinha os olhares suplicantes, semelhantes ao de um mendigo faminto clamando por comida.

- Eu te perdôo tia. – disse Harry, meio impassível, meio confuso. – E garanto que minha mãe já havia lhe perdoado, mas em nome dela, eu lhe perdôo.

- Ah, Harry! Você é exatamente como ela! Tão generoso! – tia Petúnia parecia outra pessoa, a retirada da culpa de suas costas estava visível além de parecer muitos anos mais jovem. – Mas ainda há coisas a lhe contar Harry. Algo que durante dezesseis anos Dumbledore me confiou, aos poucos. Sua mãe Harry, não era uma bruxa qualquer, era uma Feiticeira.

- O quê? – perguntou Harry estupefato. Não sabia a mínima diferença entre uma bruxa e uma feiticeira, mas sabia, que pelo tom de voz usado por tia Petúnia, ou aquilo era muito bom, ou muito ruim.

- Feiticeira Harry. – disse Petúnia como se ela conhecesse muitas feiticeiras e que fosse algo comum para ela dizer a plenos pulmões. – Sua mãe Harry, minha irmã criava feitiços para o Ministério da Magia.

- Mas isso não tem nada de extraordinário! – concluiu Harry confuso – Conheço pessoas que criaram os próprios feitiços e... – Antes que criasse novamente a imagem de Snape, sua tia o interrompeu.

- Não! Pare! Pare..! – disse balançando a mão freneticamente – O que sua mãe criou, era algo superior a qualquer outro feitiço. Ela estava elaborando tudo junto com outra bruxa! Ambas trabalhavam no Departamento de Feitiços Experimentais, com foco na Seção de Guerra. Mas nem mesmo o Ministro da Magia imaginava o que de fato se passava naqueles corredores...

- Mas... – disse Harry sendo consumido pela curiosidade – o que especificamente ela criou? Você sabe?

- Bem, Dumbledore me contou em uma de suas cartas, que infelizmente os estudos de Lily haviam sido interrompidos visto que sua companheira de trabalho havia perdido a filha misteriosamente. – Harry tremeu. Ficou confuso e de repente estupefato. Não sabia ao certo o quê sua mãe criara e, no entanto, as pessoas mais distantes no mundo, comunicaram-se durante dezesseis anos debatendo sobre o tema: Petúnia Dursley e Alvo Dumbledore. - E foi exatamente por isso também, que hoje você está aqui, vivo!

- Ah? Como assim? O que um feitiço que minha mãe criou tem a ver com minha vida?

- Harry! – chamou a tia à atenção – Pense! Voldemort queria sua mãe ao lado dele, - Harry pela primeira vez na vida estremeceu ao escutar o nome de Lorde Voldemort, não sabia ao certo porquê, mas ver sua tia discutindo temas mágicos já era o suficiente para eriçar os pêlos a nuca. –, criando novas armas para seu exército negro! Foi por isso que ele ofereceu à vida à sua mãe! Ele a queria ao seu lado, sabia de sua força e poder!

- Mas Dumbledore descobriu de fato alguma coisa? – perguntou ávido de curiosidade.

- Ele apenas sabia que Lily criara mais que um feitiço. Muito mais que isso. Olhe. – tia Petúnia voltou a olhar para dentro da caixa amarela e a passar o dedo indicador pelas muitas cartas ali. Puxou um envelope amarelado. Parecia uma correspondência oficial trouxa, mas as gotas de tinta sobre o papel indicavam o uso de um tinteiro. A tinta era de um vermelho cintilante.


Petúnia, como venho lhe informando, estava próxima de criar um dos encantamentos mais poderosos que o mundo da magia já conheceu. Mas a morte de Amanda me abalou profundamente. A guerra está piorando cada vez mais e até mesmo Alvo Dumbledore parece achar que Você-Sabe-Quem está com uma meta bem clara, minha família.

Não vou me atrever a testar magia tão poderosa com o pequeno Harry, mas peço que você me ajude. Tiago e eu nos protegemos da nossa forma, mas não confio em um dos amigos dele... Estou preocupada, estou com medo Pety... Sei que seu marido não gosta muito de nós, assim como você já há muito se esqueceu de mim.. .


Neste ponto da carta, a tinta vermelha se espalhava pelo papel, como nos bilhetes de Hagrid, Harry percebeu que sua mãe havia chorado.


...mas peço que me receba na sua casa, até podermos despistar Aquele-que-não-nomeamos. Aguardo uma resposta sua, use esta coruja que garanto a você é muito segura. Mais do que os carteiros trouxas.

Esperando uma resposta urgente. Sua irmã,

Lily


Harry sentiu os olhos marejados e a pele ruborizar. Aquelas eram algumas das últimas palavras de sua mãe. Neste mesmo instante, ele sentiu os dedos finos e magros de sua tia apertarem-lhe o joelho.

- Eu neguei meu teto a ela Harry. – disse ela enquanto apertava ainda mais seu joelho. – Desculpe. Eu não queria que seu pai chegasse perto de Duda.

- Duda? O que ele tem a ver com toda essa história? O que Duda tem a ver com meu pai?

Petúnia olhou novamente para o teto, parecia estar sendo muito difícil conversar com o sobrinho sobre tudo o que parecia saber. Havia dezesseis anos de informação. Dezesseis anos de histórias...

- Harry, você precisa entender, que, bem. Eu perdi sua mãe para a magia, não iria suportar perder um filho.

Harry sentiu uma bigorna cair sobre sua cabeça. Dudley Dursley um bruxo?

- Duda é um bruxo?

- Bem, o tempo e meus esforços nos revelaram que é um inato.

- Como assim inato?

- Até Dumbledore comentou quão raro é este evento.

Harry começou a perder a paciência. – Mas que diabos Duda tem a ver com meu pai?

- Harry, meu filho tem poderes mágicos. Ele é um bruxo. – antes que Harry pigarreasse de incredulidade sua tia ergueu a mão, impedindo-o. – Mas a força com a qual combati isso, transformou-o em um inato. Duda talvez jamais consiga pronunciar um feitiço. Dumbledore disse que eu jamais devia tê-lo impedido de desenvolver suas habilidades, mas aos nove anos, ele me enviou uma carta, contando que o nome de Dudley Dursley havia sido apagado da lista de Hogwarts. – Petúnia suspirou. Harry começava a criar uma nova repulsa por sua tia. – Duda ainda tem magia em suas veias, mas jamais será um bruxo.

- Ele é um aborto, como a Sra. FIgg, então?

- Não; Duda, diferente de Arabella, poderia ter usado uma varinha.

- Então quer dizer, que caso você tivesse me criado com Duda, contando sobre Hogwarts, ambos teriam ido para lá? – perguntou incrédulo imaginando Duda sacudindo a varinha, quebrando-a, irritado, porque não funcionava.

- Sim.

- Mas eu ainda não entendi o que levou Alvo Dumbledore a gastar seu tempo com uma trouxa. E ainda por cima, o que meu pai tem a ver com Duda?

- Harry, Harry... – tia Petúnia o olhava por através dos olhos miúdos. – A presença de um bruxo formado em minha casa simplesmente faria Duda despertar, entende? E eu definitivamente não queria isso. Não me parecia que aquela guerra fosse realmente perigosa, afinal, vocês poderiam fazer mágica...

- Assim como o lado de Voldemort. – disse Harry sem animação.

- Eu só atentei-me para a gravidade do problema com a morte de Lily. Só então percebi que tudo era real, e que pior: meu filho corria grandes riscos. Foi por isso que Válter e eu o aceitamos Harry. – Ela fez uma longa pausa e continuou. – Alvo Dumbledore protegeu Duda, assim como você, de qualquer perigo que rondasse a casa. Talvez não haja lugar tão seguro para vocês dois como esta casa.

- Mesmo sem Dumbledore, existe Hogwarts. – declarou Harry absorto e confuso em pensamentos.

- Sim... mas e daí?

- E daí? – Petúnia balançou a cabeça. – E daí Harry, que eu o aceitei. Embora você não tenha tido muitos prazeres durante esses anos, você estava seguro. E você seguro, meu filho também estava.

- O amor... – pensou Harry em voz alta.

- Dumbledore sempre falava isso, e talvez por isso tivesse me perdoado. – O barulho de passos descendo as escadas inundou a casa. Havia um baque-baque do malão de Harry sacolejando, flutuante no ar. – Não temos tempo, - sentenciou olhando os pés descerem as escadas – Harry preste atenção, Dumbledore de fato gostaria que você soubesse disso. Lord Voldemort de fato ofereceu a vida à sua mãe, Voldemort deu a ela a escolha, e ela escolheu morrer por você! E foi esse supremo ato de amor que lhe assegurou a vida! Você compreende agora Harry? Compreende por que o sacrifício de sua mãe lhe salvou? Dumbledore acreditava muito nisso. Diferente da morte de Tiago, que morreria de qualquer jeito...

As vozes de Rony e Mione já podiam ser ouvidas. Ouve um rumorejar indeciso antes dos dois entrarem na Sala de Estar, batendo, portanto, no portal.

- Lembre-se Harry. Eu também fiz tudo isso por amor. Não desejava perder alguém querido novamente para a magia...

- Harry! – chamou Mione – Realmente precisamos ir. – sentenciou consultando o relógio de pulso. – Sra. Dursley, obrigado pela recepção! Sua casa é linda! – disse Hermione em uma voz tenra e senhorial.

- Você é muito gentil Srta. ... ? E você é...

- Granger! Hermione Granger. – Hermione se virou e completou – Este é Ronald Weasley. – Rony deu um sorriso amarelo e tentou parecer alegre por conhecer Petúnia.

- Prazer.

Tia Petúnia se levantou e Harry fez o mesmo. A caixa sobre a mesa, já estava fechada novamente e não havia mais nada de misterioso nela. Os olhos de Petúnia Dursley estavam aguados e profundos. Seu longo pescoço estava formando um estranho ângulo de desolação, a pele já muito mais velha do que fora quando Harry tinha as primeiras lembranças de sua tia... Aquela era Petúnia Evans, muito diferente da Sra. Dursley, alguém capaz de amar, mas que se transformara devido ao amor e obsessão pelo filho... Mas ainda sim – e só agora Harry conseguia enxergar – aquela mulher era irmã de sua mãe.

- Acho que tenho de ir. – despediu Harry, muito sério e confusamente triste.

- Sim você deve... – disse tia Petúnia lhe dando um carinhoso abraço que lhe reconfortou o que ela tinha lhe excluído por anos – Mas, sempre que desejar, volte. Aqui ainda será sua casa, enquanto eu e Duda vivermos, poderá voltar.

Após as despedidas, Harry já se encontrava no Hall de Entrada. O relógio de pendulo marcava exatas onze horas e vinte e três minutos. O sol a pino, brilhava lá fora. Mas mesmo com a luz do sol, algo mais claro, mais branco e mais brilhoso inundou a casa, parecia descolar-se das paredes algo que poderia ser luz, fumaça ou líquido. Era algo tão presente, tão pesado e leve que Harry ficou cego por alguns segundos. Houve um barulho de um trovão, e toda a luminosidade que havia inundado a casa esvaiu-se pelas portas e janelas. Harry sentiu-se estranhamente sozinho e segurou com força sua varinha. Aquilo não fora apenas luz, fora o feitiço de Dumbledore. Ou os feitiços, Harry nunca saberia quantos ou quais Dumbledore usara. Os encantamentos havia se desfeito, agora, aquela era apenas uma casa trouxa, não mais a morada do menino-que-sobreviveu.

Junto com Ronald Weasley e Hermione Granger, Harry Potter atravessou pela última vez o portal do no 04 na Rua dos Alfeneiros.


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