A Promessa




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- CAPÍTULO DOIS –

A Promessa



DING DONG!

Era a campainha. Tocava irritada e agudamente, como uma viúva que grita a perda do marido recém falecido. Fosse lá quem fosse, a pessoa, definitivamente, não sabia usar uma campainha. Era óbvio, para o mais medíocre observador, que o dedo estava colado ao botão, como se fosse necessário pressioná-lo para produzir som. O zumbido ensurdecedor que era escutado de todos os cantos da casa já causava gritos eufóricos de um gordo senhor, que possuía, com orgulho, um grosso bigode, como um enorme leão-marinho muito branco. A impaciência de uma senhora magrela, com mais pescoço que o normal e mais curiosidade que o saudável, se mesclava à palermice de um jovem gordo, que embora musculoso, possuía uma desnecessária camada de tecido adiposo em sua cintura.

A irritadiça campainha já começava a incomodar até mesmo o morador mais excêntrico da Rua dos Alfeneiros número Quatro. Sua excentricidade não era, portanto devido à bagunça de seu quarto, ou a uma coruja que lhe pertencia, ou aos livros, com títulos um tanto quanto inortodoxos, ou mesmo à sua vassoura de corrida, ou, acredite, à sua varinha mágica. Sim! Mágica. A excentricidade daquele garoto magrela, com olhos verdes como a mais pura esmeralda e cabelos negros como a madrugada, estava além da magia. Harry Potter era um bruxo, não um bruxo qualquer, era O bruxo que iria derrotar Lorde Voldemort, um bruxo perverso e sem escrúpulos.

Imerso em sua cama, Harry Potter se misturava aos lençóis, às cartas espalhadas e às migalhas de comida que por um mês ali se depositaram. Harry Potter estava ali, porque alguém, há muito tempo, havia assim desejado, e agora, mesmo que distante, Harry quis honrar esta pessoa e seus esforços para que ali permanecesse em segurança. Esta pessoa, a quem tanto Harry admirava e se inspirava era um grande bruxo, que fora assassinado, assim como seus pais, sob a causa de Lorde Voldemort. Esse bruxo era Alvo Dumbledore, um também excêntrico bruxo, muito mais poderoso do que sempre mostrou. Padeceu devido a seu maior erro: crer nas pessoas erradas, em específico, na pessoa errada. Confiara sua vida por dezesseis anos a Severus Snape, e este ex-comensal, matou-o, sem piedade, com apenas duas palavras.

Harry, em seu mar de solidão no número quatro, alimentava um ódio mortal por Snape á cada dia que se passava, mas seu foco principal não era a morte de seu antigo mestre de poções, mas sim o extermínio de seu mestre, o extermínio de todos os infortúnios que Harry sentira: a morte dos pais, do padrinho e do maior mestre que teve. Harry sabia que não seria fácil vencer o poderio do antigo garoto chamado Tom Riddle, seria uma batalha árdua que Harry jurara, à si mesmo, cumprir.

No entanto, em meio a todas as coisas ruins que desgostavam a vida de Harry Potter, Gina Weasley era algo que fazia uma criatura em seu estômago girar e dar cambalhotas de felicidade. Mas, como Harry bem sabia, ele, somente ele havia decido deixar tudo de lado, pensou no bem dela, nos riscos que corria estando ao seu lado. Isso lhe deixava triste, mas ainda sim, só a lembrança de seus cabelos ruivos era suficiente para suprir sua necessidade humana de vida.

Aquele fora um mês calorosamente difícil, o peso que tinha na cabeça, o fardo que prometera encerrar deveria começar a ser dilacerado o quanto antes, no entanto um mês em uma casa trouxa não estava sendo suficiente para pesquisar o que precisava. Deveria encontrar os quatro últimos pedaços de alma de Voldemort, e ainda por cima havia de descobrir como destruir as Horcruxes. Mas, como Hermione o alertara no trem de volta, era necessário que ele estudasse, sozinho, feitiços mais complexos que dos que conhecia. E fora o que de fato preencheu seu mês foi a leitura de todos os livros que possuía sobre magia, até os intactos volumes de História da Mágica foram lidos, os livros de Azarações, Feitiços de Defesa Contra as Artes das Trevas eram os preferidos de Harry, ele só não se atrevia a ler os livros de poções que possuía, as lembranças de Snape o desconcentravam permanentemente. Em um mês, Harry estudou mais que o havia feito para seus N.O.M.’s, conhecia todos os feitiços ao seu alcance e estava apto a praticá-los.

A campainha continuava à berrar. Sobre a bagunçada escrivaninha de Harry Potter havia os cartões de aniversário que recebera quase de madrugada, sim aquele era seu décimo sétimo aniversário e as lembranças dos amigos permaneciam sob a mesa. Havia um colorido cartão laranja de Rony, Gina e Mione, que lhe desejam os parabéns.


Menino,


Eu e “Roupas-rasgadas”estamos escrevendo para lhe desejar os parabéns! Agora você é maior de idade e mais do que nunca deve saber quando usar seus poderes e quando não o fazer. Estamos com saudades, “Roupas-rasgadas” está ocupado como bem sabe. Aquilo que você ânsia por saber se aproxima, tenha paciência, o Evento será logo. Parabéns!


“Roupas-rasgadas” e “Nariz-de-tomada”

PS: Estamos noivos, oficializaremos no Evento.


Ainda que os nomes estivessem confusos, Harry sabia com toda certeza que aqueles eram Lupin e Tonks. Lupin, antigo amigo de seu pai, lhe enviara um cartão, na verdade Tonks, sua atual noiva como foi informado no cartão. Havia também um rebuscado cartão de aniversário, com garranchosas letras em tinta preta, era de seu querido amigo Hagrid, um meio gigante com um coração mais puro que de muitos homens.

Havia ainda as correspondências antigas que foram deixadas na escrivaninha, não por desordem, mas por preguiça. Duas possuíam um selo de cera vermelha com um brasão gravado no baixo relevo da cera, eram cartas de Hogwarts. O outro possuía um selo de cera azul, de aspecto oficial, o envelope era obviamente do Ministério da Magia.


ESCOLA DE MAGIA E BRUXARIA DE HOGWARTS


Caro Sr. Potter,

É com enorme pesar, que lhe envio esta carta para informar-lhe que, após os acontecimentos de julho passado, que resultaram no assassinato do antigo Diretor Alvo Dumbledore, a escola será fechada. Em uma decisão conjunta do Ministério da Magia, da Escola e de seus Conselheiros, foi decidido que pelo menos, durante este ano letivo a escola não retornará às aulas no primeiro dia de setembro.

No entanto, aos alunos que se sentirem desprotegidos em seus lares, ou aqueles que não possuem guardiões senão o Estado, poderão retornar. Hogwarts nunca será fechada completamente. O trem, como de costume partir da Estação King’s Cross, plataforma 9 ½, às onze horas do primeiro dia de Setembro.


Atenciosamente,


Filius Flitwick

Diretor Substituto


Em um outro envelope com selo vermelho, aonde normalmente viria sua lista de material, com novos títulos para serem barganhados na livraria Floreios e Borrões, uma carta pessoal lhe foi enviada. Tinha uma caligrafia fina, porém, não tão bela quanto à de Dumbledore. Era também escrita com tinta verde. A carta havia sido protegida contra olhares curiosos, e recolheu um fio de cabelo de Harry, emitiu faíscas brancas e finalmente reconheceu que Harry era realmente Harry.


Harry Potter,


Como já havia previsto na pequena reunião que tivemos após a tragédia que muito nos abalou, Hogwarts foi fechada. Ainda que minha veia magistral desejasse o oposto, a razão pede sensatez em tempos difíceis, Harry. A escola estará fechada, mas você e muitos outros devem voltar.

Não pense por um segundo, Potter, que me esqueci da promessa que há menos de dois anos lhe fiz. Farei de tudo para que você se torne um auror, isso inclui lhe ensinar tudo o que necessita para alcançar o nível N.I.E.M.’s e se matricular no Curso de Auror do Ministério da Magia. Saiba, Potter, que as portas do escritório, onde tanto aprendeu com Alvo Dumbledore, continuam abertas para você. Principalmente a você, bruxo em quem Dumbledore tanto conhecia e tanto confiava em seu destino. Agora, mais do que nunca, é evidente que você é O bruxo que derrotará Lorde Voldemort.

Seja lá o que tiver de fazer, sei que Dumbledore não daria essa tarefa a um qualquer, não hesite em pedir ajuda. Hogwarts sempre estará viva para quem necessitar de ajuda! Lembre-se Potter que você será auror, antes que eu morra você se formará Potter, pois eu honro minhas promessas e essa não será diferente.


Espero sua visita,


Minerva McGonagall


Quando Harry recebeu a carta de McGonagall, ele havia ficado estático por alguns instantes. Tudo parecia muito distante, e de repente, a carta da professora o alertava de que tudo era verdadeiro e que tudo que viera imaginando nas últimas semanas deveria de fato ser realizado. Além disso, Minerva não havia se esquecido da promessa feita anos antes. Ela estava disposta a ensinar tudo o que fosse necessário à Harry Potter para que este se tornasse o maior Auror de todos os tempos.

O outro envelope que descansava, meio aberto sobre a mesa, era um comunicado oficial do Ministério da Magia lhe informando que completaria dezessete anos e que estaria apto a tentar o Exame de Aparatarão no dia 13 de agosto. Agora, ele poderia praticar aparatação na supervisão de um bruxo adulto, e realizar feitiços livremente. Harry ficou muito satisfeito com a segunda noticia da carta de selo azul, porque poderia finalmente praticar os feitiços que tanto estudara durante um mês.

A campainha cessou por um segundo e começou a berrar novamente. Foi o tempo exato para escutar Petúnia Dursley gritando no pavimento inferior. Harry levantou-se da cama e perguntou-se quem tocava a campainha já fazia meio minuto. E se perguntou ainda mais confuso, por que ninguém lá embaixo abrira a porta. Nenhum pensamento lhe ocorreu, mas Edwiges parecia saber do que se tratava.

A bela coruja-das-neves de Harry era inteligente e esperta. Desta vez ela bicava um envelope muitíssimo branco, como flores azuis na parte lateral. Havia altos e baixos relevos, e as flores movimentavam-se como se uma leve brisa primaveril ali soprasse. E Harry lembrou-se, aquele era o convite do casamento de Gui e Fleur, que Harry recebera um mês antes do casamento, no dia dez de julho. Mas aquilo não era a explicação da campainha, a explicação havia sido o bilhete, enviado por Hermione e Rony, junto com o convite do casamento.


Menino,


Sr. Weezy e, eu Srta. Dedo-em-pé, iremos até ai, na sua prisão, em breve no verá. Iremos no dia em que nos receber de novo.


Abraços,

Amigos do menino


E Harry finalmente ligou fato à hipótese, e conclui quem estava lá embaixo tocando a campainha sem cessar que agora estava num toca e para incessante. E Harry imaginou seus dois melhores amigos à porta. Rony querendo apertar e Mione tentando impedir. Harry, sozinho, riu. Olhou para o quarto e analisou-o por um instante. Fora muito infeliz naquela casa, mas ainda assim prezava por terem lhe acolhido, entendia as razões que levaram Dumbledore a fazê-lo, no entanto, agora, sabia que estava realmente livre.

Harry desceu as escadas correndo e com nenhuma surpresa encontrou os três Dursleys assustados, olhando desesperados uns para os outros e depois para Harry. Harry os olhou com clemência, a varinha estava na cintura (sair sem ela nesses tempos era algo impensável), poderia lhes dar o pagamento por 16 anos de negligência, mas pensou que eles não mereciam isso, afinal ele vivera ali, e afinal Petúnia era sua tia consangüínea. Ignorou-os e pos a mão na maçaneta.

- ESSA GENTALHA NÃO PASSARÁ DO BATENTE DA MINHA PORTA! – vociferou tio Valter, saliva sendo disparada de sua boca camuflada com o bigode. – NÃO OUSE GIRAR ESSA MAÇAN... – Harry tirou a varinha, e para espasmo de Valter Dursley, silenciou-o silenciosamente. E girando a maçaneta, abriu a porta. No batente do número quatro, estavam reunidos seus dois maiores amigos. Pareciam ter finalizado mais uma das discussões que sempre tinham, e também pareciam felizes em ver o amigo. Eram, Ronald Weasley e Hermione Granger, amigos de uma longa jornada.

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