Taça de Hufflepuff



-Eu ainda não entendi como é que ela achou esse
Horcruxe – disse Hermione, pelo que parecia ser a centésima vez naquele
minuto. – E nem engoli essa história que ela contou...


-A parte boa da história é que ela nos livrou de um longo dia na biblioteca – comentou Rony, de modo que só Harry pudesse ouvir.


Não se passara nem cinco minutos desde que Harry e Melissa contaram a Rony e Hermione sobre o Horcruxe recém-descoberto pela loura. Eles combinaram de ir arrumar tudo que precisassem levar, lembrando de não sobrecarregar as mochilas com objetos desnecessários. E concordaram de manter essa viagem em sigilo; pelo menos até alguém dar por falta eles.


-Quero dizer, pra que esse segredo todo? Era só
contar... – ia comentando Hermione, sentada na cama de Rony, esperando que os dois acabassem de procurar o que precisavam. – Afinal, a gente não morde e ela poderia ter contado muito antes, o que ajudaria a gente um bocado...


-Hermione – disse Rony, irritado, se virando para ela – se não se importa, dá pra interromper o monólogo um pouco? Estou tentando me lembrar onde foi que eu coloquei meu boné dos Cannons.


-Pra que você precisa do seu boné dos Cannons? – perguntou a garota, irritadiça.


-Eu gosto daquele boné. – Hermione revirou os olhos.


-Apenas o essencial, lembra-se?


-Mas é essencial! – disse o garoto, como se fosse óbvio.


-Ora, francamente! – disse a garota, se levantando irritada, bufando. – Estou avisando, Ronald Weasley, se eu ver esse seu boné no meio das suas coisa, eu não respondo por mim!


Hermione saiu do quarto irritada, apressada e quase derrubando Melissa na escada. A loura ficou olhando a outra descer as escadas nervosa e bufando, com uma cara cômica. Depois ela se virou e entrou pela porta que Hermione deixara aberta.


-Esses foram os cinco minutos mais longos de toda minha vida – comentou a garota, encostando-se à parede do quarto.


-Tente fazer a mala com a Hermione no quarto – disse Rony, jogando seu travesseiro por cima da cabeça e arrancando o lençol da cama junto com ele.


-Difícil imaginar – disse Melissa, contendo uma
risada.


-É um tormento! – exclamou Rony, olhando para a garota com um ar indignado, como se fosse culpa dela. Depois se virou para a cama de Harry.


-Ela parece ser boazinha.


-É, eu sei. Explosivims também são um amor. – disse Rony, com uma expressão que lembrou a Harry a mesma que Hagrid fizera quando viu Norberto, o bebê-dragão norueguês, nascer, só que um tanto mais irônica do que a o meio-gigante. O que Harry achou muito engraçado. Melissa aparentemente não entendera a piada, já que olhava de Rony para Harry com uma sobrancelha levantada. Por fim, ela balançou a cabeça soltando o ar dos pulmões, com uma cara cômica.


-Já tentou olhar ali? – sugeriu Melissa,
apontando para a cômoda bem atrás do ruivo. Rony olhou do móvel para a
garota, com as sobrancelhas levantadas por um milésimo de segundo. Depois abriu a gaveta e, debaixo de tudo que se encontrava ali, estava um boné laranja vivo.


-Como sabia que estava aqui? – perguntou Rony,
sacudindo o boné distraidamente na mão.


-Um lugar bem óbvio onde eu esconderia alguma coisa – disse a garota, encolhendo os ombros.


-Esconder...?


-Você encontrou o maldito boné?! – Hermione estava de volta, parada a porta, de braços cruzados.


-Foi você que escondeu ele aqui? – perguntou Rony, ainda sacudindo o boné na mão, apontando para a cômoda.


-Não seja patético, Ronald, por que eu me daria ao trabalho de esconder um boné dos Cannons?


-Eu sei lá. Você pode ser brilhante, mas tem horas que é meio estranha!


-Estranha, eu? Dá um tempo... – disse Hermione,
revirando os olhos. – Pelo menos você já acabou?


-Já – disse o garoto, com um tom de tédio.


-Ótimo, porque eu tenho umas coisinhas que estão me incomodando. – Hermione se postou na frente dos três, como quem ia fazer um discurso. Inspirou teatralmente, no que Rony revirou os olhos. – Estava eu a me perguntar: como é que vocês planejam tirar oito pessoas dessa casa sem que ninguém veja? Porque ta toda a Ordem lá em baixo.


-Toda a Ordem? – admirou-se Harry. Há um tempo, ele e Melissa haviam ficado de fora da Ordem, talvez porque Sra Weasley pedira a eles, ou simplesmente porque eles não planejavam incluir eles a mais nada depois do Beco Diagonal.


-Excluindo a gente de novo, não é lindo? – ironizou Melissa, cruzando os braços. – Extremamente romântico e poético até.


-Sim – disse Hermione, ignorando o comentário da garota. – Pelo que eu pude ver, pelo menos a metade se encontrava lá. E, particularmente, eu acho que vai ser um milagre se passarmos os oito por eles e eles nem nos notarem.


-Talvez com oito seja difícil, mas com cinco a
possibilidade aumenta. – disse Melissa.


-Cinco? – Rony se virou para ela, não parecendo
entender o que ela queria dizer.


-Ann, Lewise e Marie não querem ir.


-Não?


-Disseram que podem nos encobrir enquanto estivermos fora.


-Isso é bom – comentou Harry. – Pelo menos, até a Sra Weasley não descobrir que saímos daqui.


-Estaremos de volta antes que elas escorreguem no disfarce, acredite.


-Ótimo, mas ainda somos cinco... – começou Hermione mais uma vez, mas foi interrompida por Harry.


-Quatro.


-Como disse?


-Quatro pessoas que vão.


-Aah, eu perdi alguma coisa? – perguntou Melissa,
virando-se para Harry com um olhar pensativo e confuso. – Se me lembro bem, e se minha matemática tiver falhado miseravelmente, você, Rony, Hermione, Gina e eu somos cinco.


-Estive pensando seriamente em não levar a Gina com a gente.


-Sério?!


-Sério?


-Mas, Harry... – disse Rony, com o cenho franzido – pensei que você tinha prometido a ela que, se por um acaso, descobríssemos alguma coisa, ela iria com a gente.


-Eu sei, mas pense bem. Não sabemos que armadilha terá lá e, decididamente, acho que você não ia querer arriscar a vida da sua irmã por lá.


-Não mesmo.


-Pode-se dizer que, se não tivesse prometido que levaria vocês comigo, eu não os levaria.


-Como se a gente fosse mesmo deixar você ir sozinho. – comentou Hermione. – Sempre estivemos juntos, já disse isso, e não vai ser agora que vamos abandonar o navio.


-Sem querer estragar esse momento de amizade sincera – disse Melissa – mas ainda temos um pequeno probleminha. – ela colocou o dedo indicador a uma pequena distância do polegar, quase se tocando.


-Mesmo com o grupo reduzido, ainda chamaremos atenção para nós ao passarmos pela sala.- disse Hermione, aparentemente tentando achar alguma saída para aquela situação.


-Eu tenho uma idéia – os três viraram-se para Rony, que tinha uma mão no queixo, como um sábio pensando. – Por que não saímos pela manhã?


-É uma idéia boa. – comentou Melissa, encolhendo os ombros. – Pelo menos eu acho.


-Não, não, não, não, não, não. – disse Hermione
muito rápido. – Quanto mais atrasarmos a viagem pior.


-Não exatamente. Se sairmos amanhã de manhã,
chegaremos às montanhas no máximo até o meio-dia. Com sorte, podemos voltar ao anoitecer, ou até mesmo antes do sol se pôr; do contrário,
chegaremos pela manhã seguinte, antes da alvorada. – disse Melissa, encarando algum ponto na parede.


-Meio dia para chegar lá? – admirou-se Rony, incrédulo.


-É, bom, contando o fato que levaremos algumas horas para achar o local exato em que se encontra a Horcruxe. Ela pode estar no topo da montanha, na base, no meio, embaixo da neve... Nunca se sabe o que se passa na mente de um cara como o Voldemort.


-Você sabe. – disse Rony. – Poderia entrar na mente dele e ver onde ela se encontra, não poderia?


-Levando em consideração que eu estou bem longe dele, e que a mente dele não deve ser nada simples, isso poderia durar um tempo precioso. Além do que, além dele ter um cérebro muito mais complexo do que de qualquer outra pessoa no planeta, ele também é um ótimo Oclumente e Legismente. O que dobra as dificuldades.


-Um simples “não” bastaria.


-OK. Então, vamos de manhã? – disse Harry, olhando para os outros. Com um murmúrio geral de aprovação, eles passaram outros muitos minutos discutindo o horário da partida. Chegando ao um acordo, com a aprovação da maioria, eles sairiam as cinco da manhã, antes de qualquer um na mansão acordar. O problema seria contar a Gina que ela não iria com eles.


-Ela nem sequer precisa saber que a gente vai. – disse Melissa. – Quer dizer, ela não vai, não é? Pra que contar pra ela?


Harry olhou para ela, desaprovador.


-Que foi?


-O que foi? Lis, só porque ela não vai, não significa que a gente tem que ignorar ela completamente. Não podemos fazer isso, não posso
fazer isso.


-Nossa, Harry, desculpa. – disse a garota, com uma cara estranha. – Vai lá cuidar do bebezinho. Já vou avisando, se ela vier chorar pra gente, eu vou meter a cabeça dela na parede.


-Calma, Lissa, que agressividade. Eu apenas disse que não...


-Ta, Harry, esquece, vai lá falar com ela, vai. –
dizendo isso, a garota saiu do quarto, contando até mil.


-O que deu nela? – perguntou Harry, olhando para Rony e Hermione. O garoto deu de ombros, mas Mione parecia querer dizer alguma coisa, mas se conteve.


-Harry, acho melhor você ir falar com a Gina. – disse a garota, olhando-o de um jeito sério. – Quanto antes melhor.


-É... – confirmou ele, saindo do quarto e indo à procura de Gina.


-O que? Como assim, eu não vou? – quis saber uma Gina furiosa, alguns minutos depois.


-Calma, Gina – disse Harry, nem eu pouco espantado com a reação da garota. – Eu só acho melhor você ficar aqui.


-Ah é, claro! – disse Gina, praticamente gritando,
raivosa. Ela bufou de raiva, dizendo mais para si mesmo do que para Harry – Isso só pode ser invenção daquela maldita magricela metida à francesa!


-Não, na verdade, a idéia foi minha.


-O quê?


-Gina, por favor, entenda, eu estou apenas pensando no teu bem. Quanto mais longe você estiver de nós, mas segura estará. Lá fora é muito perigoso, não me perdoaria se algo acontecesse com você.


-Eu sei me cuidar muito bem, obrigada!


-Eu sei que você sabe, Gina, mas em Hogwarts é muito diferente da vida real. Nunca sabemos o que estará nos esperando na próxima esquina. A cada segundo há pessoas morrendo lá fora e eu não suportaria saber que a próxima seria você.


-Mas Harry, você prometeu...


-Eu sei, mas estou pedindo que você considere o que eu estou pedindo a você. Já perdi muita gente que amo, Gina, e não quero que você seja a próxima.


-Mas, Harry - insistiu a garota. Harry segurou as mãos dela junto as dele e olhou fundo em seus olhos. Pode sentir ela se arrepiar levemente.


-Gina, por favor, por favor faça o que eu estou pedindo.


Um farfalhar de assas perto deles fez Harry desviar o olhar da garota. Uma coruja parda estava sentada no parapeito da janela, encarando-os, com uma carta no bico. O garoto foi até ela, pegou a carta. No mesmo instante que ela sumia janela afora, Harry virava e revirava a carta, tentando achar algum nome de destinatário ou remetente. Mas, dos dois lados da carta havia símbolos estranhos.


 


Para: Melissa Lílian
Wyndi


De: Gäarbt.


 


-De quem é? – perguntou Gina, juntando-se a ele.


-Não faço a mínima idéia – murmurou Harry, olhando para os símbolos escritos no papel. Parecia muito estranho, mas o garoto tinha uma vaga lembrança de símbolos como aqueles.


 


**


 


O sol ainda não nascera quando a porta da frente do n° doze se abre, deixando que quatro adolescentes saíssem de seu interior com as caras mais amassadas que se pode imaginar. Hermione era a única que parecia acordada; tinha os olhos atentos em tudo, principalmente nos amigos, os quais recebiam olhares desaprovadores. Rony parecia um sonâmbulo; andava com os olhos semi-cerrados e um olhar turvo, vez ou outra soltava um longo bocejo. Melissa tinha fundas olheiras sob os olhos, como se não tivesse pregado os olhos a noite toda. Harry imaginava que não deveria estar muito melhor que eles; sentia as pálpebras pesadas e uma vontade imensa de dar meia-volta e se deitar na cama mais uma vez. Embora tivesse ido dormir cedo, sentia que seu cérebro ficara trabalhando a noite toda, a mil por hora, pensando e trabalhando sobre o sonho da outra noite, e sobre a carta que jazia em cima da sua mesa-de-cabeceira.


-Vamos logo! – murmurou Hermione, já uns dez passos à frente dos outros.


-Hermione, relaxa. – murmurou Melissa de volta. – Estamos adiantados. São quatro e meia!


-Sei disso, mas nunca se sabe o que pode acontecer – sussurrou a garota para ela, impaciente.


-Tenho uma pergunta a fazer a vocês – sussurrou Rony, quando alcançaram Hermione e recomeçaram a caminhar. – Por que estamos sussurrando?


Os três pararam e se viraram para encarar o garoto, cada um com a cara mais incrédula que a outra.


-A gente ta com medo de acordar as latas de lixo – disse Melissa, com uma expressão sarcástica no rosto.


-Inacreditável – bufou Hermione, voltando a andar. Harry não sabia se ria da cara que Rony fazia ou se continuava andando. – Vocês vêm ou não?


-Já vamos, Hermione – disse um Rony encabulado.


-Bem que me disseram que um dia eu ia achar um explosivim um amor. – suspirou Melissa, voltando a andar.


Andaram um tempo consideravelmente longo, do ponto de vista de Harry, apesar de estarem apenas caminhando por quinze minutos. Quanto mais andavam, mais parecia não chegar a lugar nenhum. Harry se perguntava se não estariam andando em círculos.


-Quanto mais temos que andar? – Rony tirou as palavras de sua boca.


-Quanto precisarmos! – falou Hermione, irritada.


-É impressão minha, ou a Mione acordou com o pé esquerdo hoje? – murmurou para Harry, que prendeu o riso.


O silêncio reinou por mais um longo tempo, longo o suficiente para o céu passar de azul marinho para  um azul escuro, e lentamente para um tom mais amarelado à direita deles. Uma brisa gélida percorreu o grupo, e Harry sentiu a nuca arrepiar. De algum modo, tal qual ele não saberia explicar, ele sabia que aquilo não era frio. Ele olhou para trás instintivamente, mas não viu nada além da paisagem que passara há pouco. Voltando para frente, ele pensou se não tivesse apenas ter sido a sua imaginação.


Eles viraram uma esquina e deram de cara com um muro.


-Um beco? – exclamou Rony, sem entender.


-Esperava um oásis? – caçoou Hermione. Ele nada disse, apenas fez uma careta.


-É menos provável que alguém nos veja aqui, Rony – disse Melissa, paciente.


-Como vamos? – perguntou Harry. Estivera pensando que aparatariam, mas não sabiam onde era o local exato.


-Boa pergunta – disse Melissa, com uma expressão preocupada.


-Você não sabe como a gente vai chegar lá? –
exaltou-se Hermione.


-Quer se acalmar, por favor? – disse ela, com calma, mas com uma expressão dura. – Meios de transporte é o que não nos falta. Só preciso pensar em um deles!


-Maravilha! – disse Hermione, ainda exaltada. – Nós vamos ficar aqui, sentados, esperando que você...


-Hermione, relaxa! – cortou a loura. – Já sei como
vamos sair daqui. Não precisava acordar a rua toda!


-Ela é rápida – murmurou Rony. Harry concordou com um aceno de cabeça


-Só que eu vou precisar da sua ajuda. – disse a loura, sorrindo.


-Então fala. – disse a outra, aparentemente se
acalmando.


-Preciso que você faça uma chave-de-portal para nós. – disse ela, calmamente.


-Uma chave-de-portal? – ela não parecer acompanhar o raciocínio da loura. – Para...?


-Porque não vai dar pra gente ir aparatando, como já deu pra perceber. Eu mal consigo chegar lá por teletransporte, carregando vocês, então, nem se fala... A maneira mais segura da gente ir é por uma chave-de-portal. – explicou, encolhendo os ombros quando terminou.


-OK, mas... – disse Hermione, parecendo que perdera uma parte da explicação. Harry não a culpava; Melissa conseguia falar mais depressa que ela. – Eu nem sei pra onde é que a gente ta indo!


-Mas eu sei. – disse a outra, como se fosse óbvio.


-Então faça você!


-Você não entendeu, Hermione. Eu tentei fazer uma chave-de-portal uma vez... – por um segundo, o olhar dela se perdeu, como se lembrasse de algo. Balançou a cabeça lentamente como se para afastar uma mosca insistente. – Foi um desastre!


-Mas eu precisaria saber pra onde a gente tá indo, coisa que eu não sei! Já disse isso! - disse a garota, com uma expressão óbvia no rosto. Harry não duvidava que logo ela começaria a arrancar os cabelos.


-Será que você não consegue esperar eu acabar de explicar minha idéia? – disse a loura, colocando as mãos na cintura como se estivesse repreendendo a outra, porém com uma expressão divertida. Hermione cruzou os braços e esperou, a contra-gosto. Melissa sorriu, triunfante, enquanto tomava fôlego. – Eu vou te mostrar pra onde estamos indo.


-Como? – perguntou Hermione, levantando uma
sobrancelha. A expressão no rosto da loura não foi das melhores. Depois de um longo suspiro, ela ficou completamente de frente para Hermione, olhando
diretamente nos olhos dela. Melissa fechou os olhos por alguns segundos,
suspirando.


-Isso vai doer. – murmurou, um milésimo de segundo antes de abrir os olhos mais uma vez.  Hermione ergueu as sobrancelhas num gesto de confusão, entreolhando, por um segundo, Harry e Rony, que apenas observavam.


Foi uma das cenas mais estranhas que Harry já vira. Melissa olhava para Hermione fixamente, sequer piscava; já a outra os piscava várias e várias vezes, muito depressa, sem, porém, desviar o olhar da loura. Parecia ao garoto que aquele era um processo doloroso; as duas faziam diferenciadas caretas, por vezes sutis, por vezes desesperadas, principalmente da parte de Hermione. Por fim, respirando como se nunca o tivessem feito, Melissa desviou o olhar da outra. Uma apoiou-se na outra, aparentemente com as pernas bambas. Lis esfregava, com a mão que não estava apoiada em um dos ombros da outra, o lado direito da cabeça, como se a massagem pudesse chegar ao cérebro e fazer a dor diminuir. Hermione apenas fazia caretas, por vezes passava as costas da mão no nariz, para estancar um filete de sangue.


Alguns instantes, e várias entreolhadas de Harry e Rony depois, elas se endireitaram. A morena olhava em volta, como se procurando algum objeto para fazer de Chave de Portal, enquanto Lis recuara até a parede atrás de si, de olhos fechados, respirando fundo. Harry fez menção de ir até ela, quando ela abriu os olhos e se postou ao lado dos garotos. Ela olhou para ele e deu um breve sorriso, no mesmo instante que uma luz azulada tomava conta do local. Harry olhou para frente quando a luz se desfez e viu Hermione segurando uma garrafa plástica vazia, com uma aparência nada agradável. Os outros se aproximaram.


Estavam os quatro segurando a garrafa, esperando. Hermione olhava para fora do beco, e para cima, se certificando que não havia nenhum trouxa espiando. Ela voltou seu olhar para a garrafa, e Harry viu os lábios da garota formarem a palavra “quatro”, fazendo uma muda contagem regressiva.
Três...


Melissa desviou o olhar da garrafa para a saída do beco, arregalando os olhos. Harry, que estava de costas, se virou quase completamente, se largar a garrafa, contudo, para ver o que quer que a garota olhava. Dois...


O estomago de Harry afundou. Encarando o grupo estavam quatro vultos encapuzados e mascarados. Em uníssono, ergueram as varinhas na altura dos ombros, prontos para dispararem feitiços contra eles. Um...


Aconteceu muito rápido. Fortes estampidos tomaram conta do local, no mesmo instante em que Harry sentia um gancho invisível o puxar para frente pelo umbigo. Cores diferentes de luzes avançavam enquanto eles desapareciam no ar. No instante seguinte, Harry não viu mais nada além do borrão de cores.


Os pés de Harry bateram no chão com tamanha força que seus joelhos dobraram e ele perdeu o equilíbrio, jogando o corpo para o lado para não cair de cara no chão. O garoto levantou-se depressa, olhando em volta. Estavam ao pé de uma montanha coberta de neve. Foi só então que ele se deu conta que estava realmente frio no local.


-Foi por pouco – comentou Rony, estirado no chão, com a mínima vontade de se levantar.


-Quem vocês acham que era? Quero dizer... – disse Hermione, se levantando – Por debaixo das máscaras... Quem seriam?


-Tenho minhas suspeitas – disse Harry, distraído. Ele vestira uma blusa de frio, para se proteger do vento gélido, ainda olhando a montanha.


-Lindo, não é? – disse Lis, parada ao lado de Harry, procurando algo em sua mochila.


-Onde estamos? – perguntou Rony, acabando de se levantar, um pouco mais à frente deles.


-Não faço a menor idéia. – disse Melissa, se
protegendo do frio com uma grossa blusa de um tecido que, aos olhos de Harry, parecia emborrachado. Ele, Rony e Hermione encararam a garota, incrédulos. Ela encolheu os ombros. – Essa montanha é impossível de mapear, encontrei-a por causa daquelas outras.


Harry olhou para onde ela apontou e viu que havia uma cdeia de, no máximo, cinco montanhas, e aquela em frente a eles era menor, e a única com neve por toda sua extensão. O garoto não duvidou que ela fora enfeitiçada para ficar daquela maneira em pleno verão. O barulho de algo parecido com velcro chamou sua atenção. Melissa ajustava pesadas botas que iam até o joelho, do mesmíssimo tecido de seu casaco.


-O que está fazendo?


-O que acha que eu estou fazendo? – murmurou ela, procurando mais alguma coisa na mochila. – Esqueceu que temos uma boa escalada?


Harry suspirou. Ele ia tirando da bolsa outra blusa
pesada quando Lissa pigarreou.


-Seria melhor se vocês vestissem estas. – disse ela, segurando casacos como o dela. – Impermeáveis e isolantes térmicos.


E jogou um casaco para cada um. Harry olhou para o lado e viu que Hermione já vestira o seu quase completamente, e procurava luvas na bolsa. Ele encontrou com o olhar de Rony e, suspirando, vestiram os seus.


-O que mais será que ela tem naquela bolsa? Um explosivim? - murmurou Rony para o amigo.

Minutos mais tarde, vestindo os casacos e sentindo-se pesados, começaram a subida. Seguiam por uma trilha, nada muito difícil de se fazer, desconsiderando toda aquela neve. O chão não era muito inclinado e, segundo Melissa, não precisariam subir muito. Freqüentemente ela colocava a varinha deitava na mão, e esta apontava sempre para a frente..


O vento batia forte no rosto de Harry e ele fechou o zíper daquela jaqueta até o queixo, e puxou o capuz. As mãos dentro dos bolsos estavam congelando e seus pés afundavam na neve até a canela. A seu ver, parecia que andavam por ali fazia horas.


-Estamos perto! – gritou Melissa ao seu lado, olhando aquela bússola estranha. Nem bem disse isso e o vento aumentou, quase os jogando para trás. O céu, que até então só estava levemente nublado, escureceu e a neve começou a cair. Virando o rosto para não recebê-los de frente, Harry, ao acaso, viu que Melissa estava agachada sob a bolsa mais uma vez. Pensando o que mais sairia daquela bolsa, Harry viu a loira tirar dali oito bastões de esqui e oito coisas parecidas com raquetes de tênis. Deu dois de cada para os outros, sem ligar para a cara de Rony, calçou as raquetes e segurou os bastões firmemente. Fazendo a mesma coisa, os quatro voltaram a andar. Decididamente ficou mais fácil andar com os bastões para se apoiar e com as raquetes.


A nevasca piorava a cada passo que davam e Harry só podia supor que aquilo era um feitiço, uma maneira de fazer os intrusos desistirem de chegar perto. Lis apontou para algum ponto a frente. Ele levantou a cabeça, a fim de olhar para onde ela apontava, mas era praticamente impossível. Então, tão de repente quanto começou, a tempestade parou, e Harry pode ver. O que, antes, mais parecia um monte de neve, agora ele podia ver que era o topo de uma caverna imergindo na imensidão branca.


Assim que entraram naquele lugar, Harry teve a impressão de estar vivendo um déjà vu. As paredes daquela caverna tinham um aspecto áspero que o faziam lembrar nitidamente ad outra caverna que fora junto com Prof Dumbledore. Aquela não fazia nenhuma curva, apenas descia íngreme, abaixo da terra. Se desfazendo dos bastões e das raquetes de tênis, começaram uma lenta caminhada em direção ao fim daquela caverna. Os passos ecoando nas paredes eram a única coisa que ouviam, a escuridão entrando lentamente nos olhos, pressionando-os nas órbitas, o ar pesado com cheiro de mofo no ar fazendo as narinas arderem, tudo isso deixava Harry apreensivo. Um arrepio de algo conhecido percorrendo sua espinha dizia ao garoto que estavam chegando perto.


Nem bem isso lhe passou pela cabeça quando a caverna acabou numa parede de pedra. Completamente familiar.


-E agora? – murmurou Rony atrás de Harry. – Pra onde?


-Atrás da parede – disse Harry em voz baixa, passando a mão pela pedra áspera. Era fria e úmida.


-E como passamos? – perguntou Hermione numa voz fina.


-Não sei... Acho que... Talvez funcione... como da última vez... – murmurou Harry lentamente, olhando a parede de cima a baixo.


Melissa postou-se ao seu lado.


-O que pretende fazer? – perguntou ela em voz baixa. Harry olhou para a garota; na escuridão da caverna, ele pode ver uma expressão preocupada em seu rosto.


-Vou precisar de uma faca.


-Como disse?


-Pensei que talvez fosse como da outra vez. Talvez tenhamos que pagar para entrar.arryHarrynhhmkiesiieee


-E você pretende pagar a parede com uma faca? – Harry olhou-a, cético.


-Paga-se à parede com sangue. – Rony engasgou, Hermione ficou estática e o queixo de Melissa caiu.


-Como assim, paga-se à parede com sangue? – balbuciou Rony.


-Você tem certeza do que está falando, Harry? –
perguntou Hermione, olhando-o séria.


-Bom, acho que é assim que ela vai abrir. Foi o que... fez-se da última vez. – Harry não conseguiu falar o nome do Prof Dumbledore. Não fora muito difícil falar dele até o momento, mas ali, naquela caverna quase idêntica à outra, era doloroso demais. Ele voltou os olhos para a pedra para não precisar encarar os amigos.


Melissa olhava no chão ao seu redor, à procura de algo, enquanto Hermione sacava a varinha.


-Vamos lá, então.. – murmurou ela, apontando a
varinha para a mão livre. Rony segurou-lhe o pulso da varinha, baixando-o.


-Você tá louca?


-Olha aqui, meu sangue é o de menos importância por aqui, caso não tenha percebido! – disse a garota, num tom esganiçado. Harry virou-se para encará-la.


-Não seja tola, Mione. Isso não tem nada a ver. – disse ele, severo.


-Além do que – disse Melissa, puxando a própria
varinha, com uma pedra na mão esquerda, aproximando-se da parede – usando um Feitiço Cortante na própria mão comprometeria seus tendões e músculos.


No instante que Harry voltou-se para ela, um lampejo rápido foi visto e, no lugar da pedra, havia uma adaga de prata pequena. O garoto se pôs ao lado dela.


-Me dê a faca. – disse ele, num tom menos autoritário do que pretendera, estendendo a mão. Ela olhou-o pelo canto dos olhos.


-Você só pode estar brincando. – disse ela, fechando a mão direita sobre a lamina da adaga e puxando de uma vez. Harry amarrou a cara pra ela quando ela colocou a mão cortada sobre a pedra, deixando o sangue brilhante escorrer por ela. Quando fechava o ferimento com a varinha, ela se virou para ele. – Nem me olha com essa cara. Seu sangue vale ouro, não adianta negar; muito menos ralhar comigo.


Balançando a cabeça negativamente, Harry se virou para a pedra. De fato, funcionou. Diferente da outra, a pedra começou a deslizar para o lado, deixando uma entrada redonda aparecer diante deles.


Uma câmara imensa materializava-se na frente deles, aparentemente feita de gelo, de cima a baixo. Aparentemente vazia, a primeira vista, ela era comprida e, ao final, uma luz dourada brilhava com força. O estranho era que não havia nada ali além do chão de pedra.


-Está muito fácil.. – comentou Rony, lentamente.


-É... – disse Harry, mais lentamente ainda, olhando para os lados. – Fácil demais.


O estranho era que não havia nada ali. Somente as paredes, e o teto com estalactites que balançavam de leve, tilintando como sininhos.


-Esperem aqui – disse Harry, andando lentamente em linha reta ao fim da caverna. O tilintar aumentou ligeiramente e o garoto se viu puxado para trás. – Que...?


Ele olhou para os lados e viu os outros três olhando para o teto. Ele também o fez; mas não viu nada de mais. Voltou a olhar para os amigos, sem entender, e viu Melissa se livrar das blusas de frio.


-O que pensa que está fazendo? – perguntou Harry, olhando-a incrédulo. – Vai congelar até os ossos!


-Está vendo aquilo? – disse ela, se livrando da última peça de roupa para inverno, ficando apenas com uma blusa fina sem mangas, apontando para as estalactites, que balançavam levemente, devido à movimentação do vento do lado de fora da caverna.


Mas... se a caverna era subterrânea, como é que aquelas estalactites tremiam daquela maneira? Harry piscou. Jurava ter visto um par de olhos brancos na mais baixa delas.


-Paildravee. – informou Hermione, livrando-se também das roupas pesadas, seguida por Rony.


-Pálido-quê? – Harry não entendeu.


-Paildravee são criaturas de gelo – sussurrou Melissa, contorcendo as mãos a fim de esquentá-las – consideradas como criaturas extremamente perigosas, caçadoras de sangue frio. Elas são cegas, mas perseguem suas presas pela sensação de calor.


Harry também fez questão de se livrar dos casacos. Ligeiramente ofegante pela pressa de retirar as roupas, ele sentiu um arrepio congelante perpassar pelo corpo, ao mesmo tempo em que percebeu um silêncio repentino.


Tremendo ligeiramente, Harry voltou a avançar
lentamente. Nada aconteceu.


-Você acha – perguntou a voz trêmula de Hermione algum lugar a suas costas – que se formos... todos juntos eles vão... nos atacar?


-Não sei... – disse Harry, se surpreendendo ao
constatar que sua voz estava muito trêmula também. Era capaz de sentir o frio cortante daquele lugar começando a congelar suas cordas vocais. – talvez não... Vamos indo...


Andando a passos lentos, os quatro foram seguindo caminho até o fim daquele corredor frio, encolhendo-se a cada passo, a fim de se esquentarem, olhando para cima, em caso de um movimento suspeito dos Paildravee.


A respiração de Harry estava ficando arrastada. Via o ar  que expelia se condensar e virar nuvens de vapor que embaçavam seus óculos. Estes estavam começando a ficar, além de embaçados, ligeiramente esbranquiçados perto da armação, como se congelassem. A temperatura daquela câmara aparentava ser muito baixa, mas como o garoto já estava insensível devido ao frio, congelado até os ossos, sangue e alma, mal notava. Há muito seus dentes estavam trincados de frio e os dedos das mãos estavam muito brancos. Olhou para trás e viu os rostos pálidos dos amigos, os lábios começando a arroxear. Hermione abraçava a si mesma, tentando se aquecer; Rony juntara as mãos aos lábios e tentava esquentá-las; Melissa andava encolhida, curvada sobre si mesma.


Depois do que lhes pareceu uma eternidade, eles
finalmente sentiram-se envolvidos pela luz que irradiava de uma espécie de
pedestal com uma bacia simples, alguns passos à frente. A terrível sensação
de frio passou; pelo menos, Harry sentia-se um pouco mais aquecido do que
estivera segundos atrás.


Parados, agora, diante daquele pedestal, Harry sentiu-se mais uma vez vivendo um retrocesso no tempo. Embora, contudo, a bacia fosse visivelmente menor do que a anterior, e estivesse cheia de um líquido dourado, lembrando-lhe muito uma poção Felix Felicis, duvidando muito que a fosse. O garoto levantou o olhar para os outros; também pareciam bem mais aquecidos, embora Melissa ainda estivesse muito trêmula.


-E agora? – sussurrou a garota, abraçando a si mesma, com intuito de se aquecer.


Harry tentava imaginar que tipo de reação aquela poção faria a quem a bebesse – supondo, é claro, que a bacia se esvaziaria se bebendo o líquido nela contido. O garoto ergueu a mão e tentou tocar a poção e sentiu mais do que ouviu os amigos prenderem a respiração. Mas seus dedos bateram numa barreira invisível e ele suspirou pesadamente.


-Harry... – disse Hermione. Ele ergueu os olhos para a amiga e viu uma expressão horrorizada de compreensão. – Não!


-O que? – perguntou Rony, olhando de um para o outro.
Melissa encarava a superfície lisa da poção.


-Não deve ser tão ruim assim... – murmurou Harry.


-Como pode saber?


-O que? – Rony tornou a dizer.


-Harry quer beber a poção – disse Mione, impaciente.


-Que? Não!


-Vocês es...


-Você não sabe o que tem aí! – disse Hermione,
nervosa.


-Pode ser veneno, sabia? – exclamou Rony, exasperado.


-Essa é a única maneira, ta bem? – disse
Harry, num tom de quem encerra o assunto, num tom de voz raivoso extrema e dolorosamente controlado; ele queria mesmo era gritar, mas temia que os Paildravee acordassem e os atacassem.


Hermione mordeu o lábio inferior, se calando. Rony também o fez. Com cara de quem entregava a um amigo um pedaço de corda para o outro se enforcar, Melissa estendeu a Harry um cálice simples, recém-conjurado. Ela tinha uma feição preocupada, assim como os outros dois. O garoto aceitou-o, voltando-se mais uma vez para a bacia a sua frente. Viu seu próprio rosto refletido na superfície dourada, olhando-o severamente.


Suspirando, mergulhou o cálice ali, e ele se encheu rapidamente. Harry notou que a bacia ficou quase vazia; não era de se admirar, pelo tamanho que ela tinha. Levou o cálice a boca e bebeu a poção de um gole só. Ela desceu-lhe quente pela garganta. Com uma careta, ele abaixou a mão do cálice. E esperou algo acontecer.


No segundo seguinte, Harry sentiu o corpo relaxar. Ele sentiu a temperatura do corpo aumentar, tinha a impressão que os dedos descongelaram, embora ainda estivesse ligeiramente frio. A sensação era boa; ele não se sentia mais dentro de um freezer.


Ele ergueu os olhos e viu os amigos encarando-o, como se ele fosse cair a qualquer momento.


-Então? – perguntou Rony. Harry deu de ombros. Encheu o cálice mais uma vez, sentindo o cálice arranhar o fundo do recipiente. Bebeu mais uma vez.


Harry sentiu-se fraquejar ligeiramente desta vez, tendo que firmar os pés no chão, com a impressão de que fosse cair. Mas logo passou. Não sentia mais frio.


Tornou a encher o cálice e a tomar. Seus joelhos
fraquejaram e ele teve que se apoiar no pedestal para não cair. Ele ouviu
movimentos e sentiu os amigos ao seu lado. Fosse ou não sua imaginação, ele ouvia sinos ao longe.


-Vamos, Harry, já chega – disse Hermione, num tom carinhoso, embora firme, tentando tirar-lhe o cálice da mão.


-Não – disse ele, puxando-o para longe da amiga.
Estava ofegante e começava a suar. – Até o fim.


Encheu o cálice mais uma vez e bebeu. Sentiu a cabeça rodar, o chão desaparecer, suando como se estivesse embaixo do sol de um verão escaldante por horas a fio. Ouviu os amigos chamando seu nome, e sentiu ser amparado antes de atingir o chão. Ele mantinha os olhos abertos, mas nada estava em foco; era como se lhe tivessem tirado os óculos, embora eles continuassem em seu rosto. Tentava, com todas as forças que tinha, não perder a consciência, porém sem ter certeza de que estava conseguindo. Ouvia Rony, Hermione e Melissa chamando-lhe, ao longe, suas vozes soando temerosas; os sinos agora estavam tocando mais alto que nunca. Que seria isso?


As pálpebras começaram a ficar pesadas demais, e, vencido por aquela terrível sensação de exaustão que se apossara dele, Harry fechou os olhos e ficou apenas escutando, ou quase, o que ocorria ao seu redor.


 


-HARRY! – gritaram os três quando viram o garoto escorregar pelo lado do pedestal em que ele se apoiava e se adiantaram para ele. Melissa, que estava mais próxima, conseguiu ampará-lo antes que ele atingisse o chão; mas como ele era, sem favor algum, mais pesado que ela, foi caindo junto até baterem no chão frio com um baque surdo e mínimo. Rony e Hermione se ajoelharam ao lado deles um milésimo de segundo depois, desesperados. Harry estava acordado, e olhava para eles, embora não parecesse vê-los realmente.


-Harry... Ai meu Deus, Harry! – dizia Melissa em voz baixa, com uma expressão aflita, de quem não sabia o que fazer.


-O que é que tem naquilo? – murmurou Rony com um quê de pânico na voz.


-Não sei... Acho que... Talvez... – disse Hermione, se levantando e olhando a bacia, já vazia. Ela pegou algo no fundo dela, colocou no bolso da calça e depois passou os dedos na bacia novamente e levou-os ao nariz. Uma expressão de terrível compreensão se espalhou pelo rosto da garota. – Poção para Causar Febre. – murmurou firmemente.


Rony e Melissa arregalaram os olhos de horror. Óbvio e simples demais, porém genial de certo modo.


Hermione se ajoelhou novamente ao lado deles,
aparentemente pensando no que fazer.


-Um antídoto seria o melhor... mas não temos como... e não temos...


-Tempo! – completou Melissa para ela. Enquanto a outra tentava manter a calma para pensar, a loura parecia que faltava pouco para arrancar os cabelos em troca de uma solução relâmpago. Ela olhou para Harry e viu que ele fechara os olhos. Esfregou uma das mãos no chão frio e colocou no rosto do garoto. O ligeiro choque o fez abri-los de repente. – Faça o que fizer – disse ela em voz baixa e urgente para ele – mas não feche os olhos.


Ela levantou os olhos para Hermione mais uma vez.


-O que é que fazemos?


-Um bezoar talvez resolveria... – disse ela em voz baixa.


-Não temos um bezoar, Hermione! – disse Melissa, entrando em desespero. A outra ergueu o olhar para ela.


-Eu sei que não temos uma bezoar aqui! Estou tentando pensar em algo!


-Pois pense depressa! – disse a outra, com raiva. – Caso não percebeu...


-Gente... – disse Rony, que tinha a cabeça virada para o outro lado.


-... e isso pode não ser Poção pra Causar Febre!


-Eu sei! Pensa que eu...


-Gente!­ – disse Rony com mais urgência.


-O QUE É?


O que era foi respondido sem que o garoto dissesse algo.
Alguma coisa extremamente pesada caiu no chão, fazendo-o estremecer, e um grito horrível e quase agourento de fazer os cabelos ficarem em pé encheu o ar.


Eles ergueram o olhar e congelaram.


Uma criatura estranha, com cerca de dois metros de comprimento, estava em pé, a uns dez metros deles. As pernas e braços saiam das laterais do corpo, deixando-o com uma aparência estranha, mais bizarra do que já era. A boca escancarada, a mostra dentes de tamanhos variados e brilhantes, soltou um novo rugido, mais grave, no que um arrepio perpassou pelos três. Olhos sem vida, brancos e opacos, enormes e assustadoramente ferozes, os encaravam; a cabeça terminava em um pico frágil. O Paildravee se adiantou lentamente, enquanto outros dois caiam ao seu lado.


Rony berrou e um Paildravee o acompanhou. Hermione olhava para os lados, aflita. Melissa olhava para Harry com uma expressão indefinida.


-Vou me arrepender disso... – murmurou quando colocou uma mão na testa do garoto e fechou os olhos. A mesmíssima expressão de dor que estava no rosto da garota mais cedo, estava de volta. Um segundo depois, ela pareceu relaxar, ligeiramente ofegante, o tronco tombando ligeiramente para trás.


A visão de Harry entrou em foco; ele simplesmente não se sentia mais febril, nem trêmulo. Sentia-se normal, embora, considerando a temperatura daquele lugar, ele conservava uma temperatura corporal acima do que seria normal ali. Ele sentiu o chão tremer de leve e se sentou rapidamente. Ele registrou a existência daquelas enormes criaturas com os olhos arregalados, só então lhe ocorreu que os sinos que ouvira não fora sua imaginação. O garoto se levantou, agradecendo pelos bichos serem grandes e lentos, mas logo apagou isso de sua mente quando viu muitos outros Paildravee caindo no chão com um enorme estrondo.


Harry ergueu a varinha em punho, e viu mais duas varinhas em riste. Rony e Hermione estavam em pé ao seu lado, ligeiramente surpresos, porém aliviados.


-OK? – perguntou Hermione, pelo canto da boca, os olhos grudados no grandalhão mais próximo. Harry meramente acenou com a cabeça num sinal positivo.


-Como nos livramos deles? – perguntaram ele e Rony ao mesmo tempo. Hermione os encarou.


-Ah...


-Não me diga que você não sabe?


­-Claro que eu sei, Rony! Não seja ridículo!


-Então anda! O que está esperando?


Ela acertou a mira da varinha e disse em voz alta e firme.


-Mettre en éclats!


O Paildravee mais próximo foi atingido entre os braços, logo abaixo da boca rasgada, por um raio de cor azulada. Ele recuou um passo, vacilante. Depois, enchendo o peito de ar, fazendo-o parecer um estranho balão de ar, ele soltou um daqueles gritos agourentos e continuou avançando.


-Hermione! – disseram Harry e Rony ao mesmo tempo, exasperados.


-Esperem! – disse ela, erguendo a mão, fazendo-os calar.


O animal atingido parara. Fechando a boca e baixando os olhos para si, por um instante, pareceu curioso. E, soltando um grito de agonia, ele explodiu em milhares e mais milhares de pedacinhos de gelo. Eles levantaram os braços por instinto, virando a cabeça para os pedacinhos não acertá-los nos olhos. Eles se endireitaram, as varinhas mais uma vez em riste, quando Harry viu uma quarta varinha se erguer à sua esquerda.


Melissa estava bem vermelha, se comparada à palidez normal que seu rosto exibia, com manchas mais intensas ao longo do rosto. Os olhos trincados de quem estava febril, embora estivesse firme no chão e a varinha não tremesse. Ela olhou de esguelha para Harry e sorriu de soslaio.


-OK, então! – disse ele, voltando o olhar para as criaturas que se adiantavam lentamente, indiferentes daquele que explodira. –Vamos dar o fora daqui!


Em uníssono, quatro vozes gritaram “METTRE EN ÉCLATS!em direções
diferentes, acertando as criaturas mais próximas, e milhares e mais milhares de pedacinhos de gelo caiam sobre eles como se fosse chuva. Cobrindo a cabeça com o braço livre, eles foram avançando lentamente, de acordo com a velocidade que os Paildravee explodiam. Por vezes, o efeito do feitiço era instantâneo, por outras, demorava alguns segundos. E, quanto mais avançavam, mas uma vez o frio intenso cortava-lhes o corpo, embora não sentissem com a mesma intensidade que antes. Uma vez ou duas, um novo Paildravee caia bem diante deles, no que eles pulavam para os lados ou se abaixavam, longe das garras afiadas das mãos deformadas que buscavam o ar para poder despedaçá-los. Feitiços acertavam as paredes atrás deles, uma vez que tinham que mirar por cima dos ombros para acertar a criatura que se aproximava por trás, o que fazia a estrutura daquela caverna tremer ameaçadoramente.


Harry viu, com um grande alívio, que a pedra da saída se aproximava. Com o braço acima da cabeça, ele explodiu mais um Paildravee e a saída se viu desimpedida. O garoto correu – tinha que pegar as mochilas e os casacos jogados ao pé da parede como se esquecidos, e abrir a passagem para que Rony, Hermione e Melissa pudessem passar correndo – e estava a apenas dez metros quando alguém gritou.


- HARRY, CUIDADO!


Ele mal teve tempo de perceber o que acontecera. Em um instante estava parado a mais de dez metros da saída, o braço ainda acima da cabeça, e no segundo seguinte, tudo o que ele via eram dentes e garras azuis esbranquiçadas, sentindo a cabeça latejar por ter batido no chão com força, embora essa dor não se comparasse à dor do braço esquerdo – parecia que havia sido fatiado em pedaços, estilhaçado, embora ainda erguido acima dos olhos


-METTRE EN ÉCLATS! ­– ele ouviu a voz de Melissa gritar ao longe e fechou os olhos quando o Paildravee explodiu em cima de si.


-Harry! Harry! Você está bem? – perguntou a garota freneticamente, correndo ao seu encontro e ajoelhando-se ao seu lado.


Harry não respondeu; a dor no seu braço embrulhava-lhe o estômago de tão intensa. O mais depressa que conseguiu, Melissa ajudou-o a ficar de pé, no que ele pode ver Hermione convocando todos os pertences por ali e Rony passar correndo pela passagem aberta. Os dois puseram-se a correr, Lis segurando com firmeza o braço direito de Harry enquanto este cambaleava – a batida na cabeça o deixara um tanto desorientado.


-Vamos! – exclamava Hermione, enquanto jogava tudo do outro lado da pedra e ela e Rony voltassem para ajuda-los a correr. Enquanto Harry e Lis passavam correndo, eles explodiram, cada um, mais duas criaturas. E, segundos antes da pedra se fechar, eles passaram correndo e se jogaram no chão.


Harry fora deixado pela garota deitado na pedra fria,olhando tudo ali girar de leve. Lissa disse alguma coisa que Harry não
entendeu. Ele se perguntou se ela estaria xingando em francês, mas depois viu Hermione se levantar correndo e ir ajuda-la a um canto a procurar alguma coisa que ele não podia ver. Rony, estirado na pedra fria como ele, apenas o observava. Ele também disse alguma coisa, mas o garoto não entendeu. Notou que o amigo tinha a pequenos cortes e arranhões pelo rosto e nos braços. Deduziu que deveriam ser resultado da chuva de gelo estilhaçado na outra câmara, e pensou que talvez encontrasse em igual situação; sem contar, é claro, o braço mutilado. Harry suspirou profundamente, tendo a sensação de que tudo ali estava girando, juntamente com seu estômago...


Ele sentiu alguém erguer seu braço esquerdo e algo extremamente gelado ser passado no local do corte. Ele exclamou de dor e surpresa. Olhou para o lado e viu Melissa com um chumaço de algodão púrpura na mão. Ela disse alguma coisa, mas ele continuava sem entender. Olhou-a intrigado, depois sentiu-se sentar por alguém. Voltou o olhar para Hermione, sentada ao seu lado, com a varinha na mão e um copo de alguma coisa na outra. Ela disse alguma coisa, e empurrou o copo na mão boa do garoto. Sem precisar de explicação para tal ato, ele virou a poção de uma vez. Tinha gosto de minhoca. Arrepiando-se, ele notou que o estômago não mais revirava e sua cabeça parara de latejar.


-Ele vai ficar bem? – perguntou a voz de Lissa de muito longe.


-Claro que vai – garantiu Rony. Ele sorria para Harry – Ele sempre fica bem.


-Harry? – chamou Hermione. O garoto voltou o olhar para a amiga e notou que ela também tinha vários cortes e arranhões. Ela olhava-o atentamente. Ele dirigiu-lhe um sorriso fraco, e ela pareceu respirar mais aliviada.


Melissa, com o uso da varinha, enrolara o braço de Harry em uma tala com algo que lembrava gaze.


-Com o que eu trouxe, o máximo que pude fazer foi limpar o corte. – disse ela, afastando-se para sentar-se encostada na parede de pedra da antecâmara. Ela respirou profundamente antes de recomeçar a falar – Mas acho que, com um pouco de sorte, não será necessário correr com você para o hospital bruxo em Londres.


-O que é que você não trouxe? – perguntou Rony, olhando curiosamente para a mochila que a garota trouxera; não era exatamente grande.


-Uma quimera? – disse ela, com um leve sorriso.
Olhando-a atentamente, Harry viu que ela ainda estava bem vermelha, os olhos semicerrados da garota ainda de aparência de quem não estava nada bem.


-Você ‘tá com uma cara horrível – comentou Harry. Ela fez um gesto de descaso com a mão.


-Não fui eu quem quase virou filé – disse ela, em um tom divertido. Harry arqueou uma sobrancelha. – Relaxa, Potter, eu vou ficar bem.


-É isso, então? Podemos voltar pra casa? – disse
Rony, olhando de Harry para Hermione, e desta para a saída daquele lugar.


-Essa não! – exclamou Harry de repente, no momento que Hermione abrira a boca para falar, colocando a mão ilesa pelos bolsos da jeans e olhando em volta.


-O quê?


-Eu deixei a Horcrux lá dentro! – exclamou Harry,
exasperado, arrepiando-se com a idéia de ter que voltar.


-‘Tá brincando?


-Não, eu... Não a acho..


-Procurando isso? – perguntou Hermione. Eles olharam para ela e viram que ela segurava na mão uma pequena insígnia em forma de taça, com duas asas lavradas finamente. Rony riu e Harry respirou mais aliviado.


-Peguei quando você estava perto da inconsciência – disse ela, olhando para Harry, enquanto colocava-a na mão estendida do garoto.


-Você é demais, Mione. – disse Rony, e ela sorriu com o elogio.


Harry admirava a pequena taça. Ele levantou o olhar para Hermione mais uma vez.


-Tem algum lugar para guardar isso?


-Claro.


Ela pegou a taça da mão dele e se dirigiu para a própria bolsa, atrás de si, e tirou de dentro dela, depois de procurar um pouco, uma pequena caixa de veludo preto, colocou a pequena taça cuidadosamente dentro dela e voltou a coloca-la dentro da bolsa. Ela levantou o olhar, e se levantou de um pulo, olhando para os lados como se procurasse algo.


-Onde está Melissa?


Harry e Rony se viraram para olhar. Onde ela estivera sentada, não havia nada além de pedras.


-Ela estava bem...!


-Más notícias. – disse a voz da garota. Eles se
viraram mais uma vez e viram-na andando, voltando; aparentemente, ela saíra enquanto eles não estavam olhando.


-E quais são? – perguntou Rony – Mais Paildravees na saída?


-Pior. – disse ela, sentando-se mais uma vez onde
estivera antes. – Tempestade de neve. Estamos presos aqui até que passe.


-Ninguém merece! – exclamou Rony, deixando-se cair deitado no chão frio de pedra.


-Não é tão ruim assim. – repreendeu-o Hermione.


-Diga isso por si mesma. – resmungou o garoto. – Eu estou faminto! Sem falar do frio!


Hermione revirou os olhos para o teto e Harry riu baixinho.



N/a: *escondendo-se atrás de um forte*
Oi gente! Tudo beleza?
*desvia de uma pedra*
Hei, não me matem, okay? Eu estive de castigo!! Por quê? Bom, notas, pra falar a verdade. Sem net por dois meses.
E o resto do tempo?
Aaaah, simples. Meu pc tinha pifado. Pra variar.
Maaaaas, o mais importante é que eu saí do castigo, meu pc tá em (quase) perfeito funcionamento e eu atualizei a fic. Prometo que o outro não vai demorar muito a sair, tá?
*sai de trás do forte e dá um sorrisinho*
Eu sei que eu chateei vocês por ter desaparecido, mas agora as coisas vão melhorar e eu vou voltar com força total!

Para os que lêem a minha fic dos Marotos, eu vou postar o capítulo na outra semana ainda, porque eu vou viajar. Mas até dia 14 eu já postei! Okay?

Beijos meus lindos!

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