Capítulo 16 - 25%
Hermione conjurara chamas azuladas e deixou-as arder perto do chão úmido e frio, e os quatro sentaram-se ao seu redor, exaustos, por vezes esfregando as mãos para aquece-las. Recostando-se na parede da caverna, Harry pegou uma das blusas esquecidas e, sem conseguir vesti-la por causa do braço ferido, apenas cobriu as pernas com a blusa e, dobrando os joelhos e cruzando os braços em cima destes, apenas ficou observando Hermione ralhar com Rony por causa de suas reclamações insistentes. E após a garota ameaçar faze-lo comer carvão, que ele se calou. Embora, por vezes, ainda resmungasse alguma coisa.
Melissa deitou-se no chão da caverna, de costas para os outros, olhando para o corredor que subia. Era visível que ela não estava bem; quieta e com o rosto muito rosado, conservava a aparência doentia que tinha dentro da câmara, embora ela tivesse tomado uma poção verde – que lembrara a Harry pus de bubotúbera puro –, afirmando continuamente que, com aquilo, ficaria bem. Contudo, ela não parecia melhor.
Os minutos se arrastaram; Hermione descobrira, para a alegria de Rony, um pacote de bolachas. Murmurando alguma coisa sobre finalmente ter paz, a garota deixou-se deitar ao lado da fogueira, pegando no sono pouco depois. Rony jogou o pacote vazio de bolachas na fogueira azulada e soltou um longo bocejo. Ele fez como Harry e recostou-se na parede da caverna. E, como Hermione, deixou-se levar pelo cansaço e deixou a cabeça pender para o lado, dormindo.
Harry suspirou, o silêncio da caverna ecoando em seus ouvidos, ocasionalmente interrompido pelo crepitar pelo fogo azulado. Parecia-lhe um sonho irreal, estar ali, sentado naquela caverna fria, tão parecida com a outra, consciente de que uma das Horcruxes estava em algum lugar da mochila de Hermione. E perguntou-se por um segundo como iria destruí-la.
Ele bocejou. Sua cabeça começara a rodar mais uma vez, os olhos pesando. Soltou um suspiro longo e inclinou a cabeça para trás, apoiando-a na pedra fria. Bocejou mais uma vez. Harry sentiu uma sensação estranha no estômago, como se estivesse sendo comprimido, e um formigamento estranho no braço ferido surgiu quase que de repente. Ele fechou os olhos por um segundo...
Um grito agonizante cortou o ar; uma mulher gritava como se estivesse em chamas.
-Eu disse a você, Bela.
Os gritos cessaram.
-Milorde... Os garotos, eles... estão sozinhos... eles vão voltar...
A figura de Belatriz Lestrange no chão fez-se presente quando uma vela se acendeu. Ao seu lado, três outros vultos encapuzados estavam estirados no chão.
-Pensei que você fosse mais capaz, Bela. Pelo visto, me enganei...
Lord Voldemort virou de costas para a mulher, olhando para sua varinha, bem segura em sua mão aranhosa e branca, como a de um fantasma.
-E Lord Voldemort não tolera erros.
-Milorde, se o senhor permitir, eu...
Ela se calou com o frio olhar que seu amo lhe direcionara por cima do ombro.
-Eu tenho sido paciente, Bela. Demais.
-Milorde...
-Silencio! – sibilou ele. Belatriz se calou. E continuou assim por vários segundos. – Chame Snape. E Malfoy. – disse ele, frio, virando-se para a mulher.
-Sim, meu amo. – ela se ergueu, vacilando ligeiramente. – Snape e Lúcio, imediata...
-O menino Malfoy, Bela.
-Harry?
O garoto teve um sobressalto. Piscando à luz azulada que inundava o lugar, demorou alguns segundos para se lembrar onde estava. Sua cicatriz formigava intensamente, assim como seu braço, que começava a incomodá-lo.
Harry olhou para o lado e viu Melissa, sentada no mesmo lugar onde estivera deitava há pouco, olhando o garoto com uma expressão estranha. Ela já não estava com a aparência febril; seu rosto voltara ao leve rosado de costume, embora tivesse uma aparência cansada.
-Você estava falando enquanto dormia. – disse ela, inclinando a cabeça ligeiramente para o lado.
Harry não disse nada, apenas encarou o fogo. Sua cicatriz ainda formigava incomodamente; ele desejou que isso parasse.
-Como está o seu braço? – perguntou Melissa, após alguns segundos de silencio, em um tom de quem se desculpa. Harry fez menção de encolher os ombros, mas sentiu dolorosas pontadas no braço esquerdo e apenas fez um meneio com a cabeça.
-Ainda grudado.
Hermione suspirou enquanto dormia, mudando de posição. A cabeça de Rony caía para frente, apoiando o queixo no peito. Harry teve certeza de que o amigo teria dores no pescoço quando acordasse. Harry bocejou, o formigamento na cicatriz desaparecendo aos poucos. O garoto voltou o olhar para a mochila de Hermione.
-Tem alguma idéia de como vamos destruí-la?
Melissa balançou a cabeça.
-Acho que descobrir uma maneira de destruí-la vai ser mais difícil do que tentar achar as outras.
-É – concordou Harry, distraído. As agulhadas em seu braço se tornaram intensas, e subiam lentamente por ele.
-Tem certeza de que está tudo bem? – perguntou Melissa, em um sussurro preocupado, quando Harry fazia uma careta de dor quando tentou mudar de posição.
-Tenho – ele não ficou surpreso ao constatar de que sua voz estava trêmula. Melissa sorriu de soslaio.
-Sabe, você não mente muito bem. – disse, se levantando. Ela se sentou ao lado de Harry e puxou a varinha. – Posso dar uma olhada?
-Por que você faz perguntas que já sabe a resposta? – perguntou Harry, virando o rosto para encarar a garota. O sorriso de soslaio dela se alargou minimamente, de um modo meio maroto. Harry tinha a ligeira impressão de já ter visto um sorriso daquela maneira, só que em um outro rosto.
-Dou a liberdade da pessoa mentir para mim... Em partes.
O garoto meneou a cabeça outra vez e indicou o braço. Melissa começou a tirar as bandagens do braço dele e Harry ficou observando-a, com uma sensação engraçada na boca do estômago que não tinha nada a ver com nenhum dos formigamentos.
-Droga – xingou a loura quando a gaze caiu molemente no chão. Ela tirou a varinha do cós da jeans e apontou para uma mochila a um canto, segurando a tala que estivera no braço do garoto distraidamente na outra mão. Harry baixou os olhos para o machucado e teve que apertar os lábios para não xingar em voz alta.
O corte feito pela besta dentro da câmara ao lado cortava-lhe o cotovelo de fora a fora na horizontal, com uma camada fina de pele esbranquiçada em volta da carne muito vermelha na vala que foi feito no braço. Onde o machucado terminava, uns três centímetros acima do osso do cotovelo, no local onde a pele se unia novamente, havia uma linha grossa e avermelhada seguindo em direção ao ombro.
-Mas que m...
-Não sei que espécie de Paildravee é aquela, mas, pelo visto, não é a convencional. Até onde eu sei, eles não têm veneno algum nas garras. – disse Melissa, mais para si mesma do que para Harry, virando-se novamente para ele com um frasquinho seguro na mão esquerda, tendo largado a tala finalmente. Ela ergueu o olhar para o garoto. – Teve sorte!
-Sorte? Não é algo que eu consideraria sorte...
-Bom, poderíamos não ter descoberto isso a tempo de conter. – Ela tentou tirar a rolha do frasquinho, mas parecia muito bem encaixada, pois ela não se mexeu.
-E isso vai conter o que quer que seja isso no meu braço? – perguntou Harry, erguendo uma sobrancelha.
-Assim espero – disse ela com um quê de impaciência, apontando a varinha para a rolha, que voou longe. Ela ergueu o olhar para ele novamente. – Isso pode doer.
Harry franziu o cenho para a garota, incerto, enquanto a olhava pingar um líquido verde escuro e viscoso na linha avermelhada.
Ele mal pode conter uma alta exclamação de dor quando a poção tocou-lhe a pele. Era como se lhe enfiassem uma faca absurdamente afiada na pele, queimando momentaneamente. Não era uma sensação quente, no entanto; ele não se lembrava de ter sentido algo mais frio tocar-lhe a pele. Harry baixou o olhar a tempo de ver uma fumaça cor de carne subir da onde a poção entrou em contato.
- O que diabos é isso? – perguntou por entre os dentes cerrados.
-Algo que eu chamo de Substrato de Benzoar. – Harry a olhou, sem entender. Ela encolheu os ombros. – Minha mãe a elaborou há um tempo.
-Como disse?
-Minha mãe a criou. Ela... – disse a garota, baixando o olhar para o frasquinho enquanto falava. – Ela estudava o uso das poções e costumava criar várias. Algumas já foram aprovadas pelo ministério da França.
Harry ficou em silencio, olhando distraidamente para o topo da cabeça da loura, sem realmente vê-lo. Havia se esquecido que a mãe da garota havia morrido há pouco. Sabia que era doloroso falar dela tão cedo; ele sabia por experiência própria.
O moreno foi apanhado de surpresa quando aquela terrível sensação de queimação gelada voltou a ocorrer em seu braço que ele teve abafar o grito de dor e surpresa em um grunhido, retendo quase todo o ar na garganta. Quando a sensação aliviou, ele estreitou os olhos para Melissa, ofegando ligeiramente.
-Podia pelo menos ter avisado.
-Me desculpe – riu ela de leve. – Mais uma e acabou, eu prometo.
-Não sei se confio mais em você. – ironizou ele, no que a garota riu levemente mais uma vez.
O garoto fechou os olhos e cerrou os dentes, esperando. Sentiu os músculos contraírem de dor pela terceira vez e apreciou quando eles relaxaram depois de alguns segundos tensos. Harry olhou para o braço. A linha de pele irritada não mais estava lá, apenas um rastro de fina fumaça cor de carne, que subia em aspirais e logo desapareciam. Ele tocou a pele com a mão direita e não ficou surpreso ao senti-la mais fria do que aquele tempo maluco poderia tê-lo deixado.
-Bom... – comentou Melissa em voz baixa, colocando o frasco novamente arrolhado ao seu lado – Acho que não vai ser preciso enfaixar novamente.
-Uma boa noticia, finalmente – Harry disse no mesmíssimo tom.
-Segunda. – corrigiu Melissa, inclinando a cabeça de leve para a bolsa de Hermione a um canto. Harry olhou em direção a bolsa e murmurou algo em concordância.
Eles caíram em silencio durante algum tempo, em que Hermione suspirou enquanto dormia. O garoto olhou a amiga longamente, como se esperasse que ela acordasse ou qualquer coisa parecida, mas ela simplesmente se aconchegou mais na posição em que estava. Então voltou a encarar o fogo azul, como estivera fazendo. Depois ele se virou lentamente para fazer um comentário com Melissa, mas a loura descansava a cabeça em uma mão, os olhos fechados, como se dormisse.
Harry ficou olhando a loura por tanto tempo que não poderia dizer exatamente quanto o fora. Ele acompanhou com o olhar o contorno do rosto fino dela. Cada curva feita em suas maçãs do rosto, o trajeto curvilíneo do nariz pequeno, o desenho delicado das sobrancelhas douradas sobre as pálpebras fechadas, o modo de como os cabelos muito lisos dela caiam elegantemente pelos extremos do rosto dela, emoldurando belamente seu rosto. Como cada mecha dourada caía pelos ombros e mais abaixo, como a franja dela caía pela testa de uma maneira curvada, e como essas mechas sobre a testa iam até os olhos dela. Pelo pouco que se lembrava da Sra Windy, poderia dizer com absoluta certeza de que as duas eram muito parecidas. Embora a sensação de já ter visto um rosto como o dela não viesse da antiga amiga de sua mãe. Não... Ela era-lhe familiar, mas de outra maneira, lhe lembrava um outro alguém. Mas ele não conseguia saber quem...
Melissa abriu os olhos, piscando algumas vezes, aparentemente ofuscada por causa da luz azulada das chamas conjuradas a tempo. Depois voltou seu olhar para o dele. Ao encarar aqueles olhos coloridos como safiras ele sentiu mais uma vez aquela sensação estranha no estômago, como se tivesse descido dois ou mais degraus de uma escadaria, sentindo o coração bater bem perto a ele. Uma pequena parte de seu cérebro, aquela que não parecia inundada por aquele azul intenso e hipnotizante, pareceu registrar que se aproximava do rosto dela lentamente. Um aroma leve e ligeiramente adocicado, que o lembrava de morangos, chegou a suas narinas lentamente, deixando-o entorpecido, sentindo-se mais uma vez envolto naquela névoa que existia entre a realidade e a fantasia em que ele se lembrava vagamente de ter visitado uma vez...
N/a: Eu só tenho uma coisa a dizer:
MALDITA SEJA A FUDESTEEEE!!
Deu pra entender o porquê dessa autora ter demorado tanto pra postar?
Pois é.
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