Paz Interior
Narcisa, intranqüila pelo calor sufocante, debruçava-se perigosamente em uma das janelas do corujal, buscando desesperadamente por uma brisa, enquanto assistia sua negra coruja afastar-se, cada vez mais veloz em seu vôo de liberdade, enquanto ela resignava-se a seu estado de reclusão.
Um Severo um tanto taciturno e um Lúcio assustadoramente oblíquo forçaram-na à solitária jornada em busca de si mesma, de sua escusa razão, através de seus confusos sentimentos.
Passou as mãos excessivamente coradas pela frente do uniforme, tentando desconsoladamente alinha-los enquanto corria pelos gramados alegres em direção a sua aula de Runas.
A aula tornara-se um refugio durante aqueles tortuosos primeiros dias de verão. Enquanto traduzia os segredos mais sombrios resguardados pelos séculos, ela escapava.
Chegava à conclusão de que o poder estava no conhecimento, e não em métodos guerrilhistas. Tanto tempo desperdiçado em matanças de trouxas, quando o que realmente importava era manter-se superior aos trouxas, não através do rebaixamento deles, mas do crescimento dos bruxos de puro-sangue.
Combater a miscigenação com famigerada violência apenas ressaltava aos olhos de pessoas compassivas como Andrômeda e Sirius a vilania dos defensores do purismo.
Bellatrix e Lúcio podiam ser perversos, Narcisa já vira demonstrações. Mas ela também entendia que enquanto ela nutria um saudável desprezo por seus desiguais, com uma ressalva óbvia a Lílian, ela sabia que a irmã e o namorado passavam bem longe dessa linha, chegando facilmente a um ódio profundo. E para sentimentos diferentes, há comportamentos diferentes.
Por sua vez, ela nem sequer vislumbrava a possibilidade de aquiescer cegamente a um Lord das Trevas que não idolatrava. Quando pensava no padrinho, Narcisa apenas conseguia pensar em um homem brilhante cujo legado tornara-se o horror por sua própria escolha.
O tempo que refletira durante as férias da páscoa, feriado que os Black jamais comemoraram, trouxera à Narcisa a resolução de que sua adesão a causa de Lord Voldemort seria por sua família, os Black; por seus ancestrais que haviam ajudado a construir e fortalecer a comunidade bruxa e não podiam ter sua grandiosidade diminuída por uma tolerância de proporções excessivas; pela Sonserina e por Salazar, que ultimamente estavam recebendo menos respeito do que mereciam.
Ela também sabia que Tom Riddle era o único bruxo poderoso o suficiente para acompanhá-la e guia-la em sua busca. Dumbledore era realmente um tolo em conformar-se com a mediocridade. Todos aqueles que ignoravam as mais variadas formas de magia, ignorando o crescimento que elas poderiam trazer a alma de um bruxo e alardeando pretensões diabólicas por trás daqueles que a usavam, eram não apenas tolos, mas medrosos.
A voz da professora acordou Narcisa para o tempo e para a lembrança de que tinha um encontro marcado com Slughorn para falar de seu futuro. “Há alguns dias atrás ele até poderia ter sido útil”, ela pensou, deixando que um sorriso despontasse em sua face.
- Senhorita Black, você sabe que tem um futuro brilhante pela frente. – Slughorn gesticulava empolgadamente. – Tenho certeza de que em qualquer ocupação que escolher para si, será bem sucedida. Eu, é claro, posso prover contatos importantes. Aliás, você irá com Lúcio a próxima reunião que farei, certo? Esse ano fiquei tão ocupado e achei que seria importante nesse final do ano reunir os alunos do “Clube do Slug” que estão perto de se formar, você sabe como é...
Em resposta, Narcisa apenas acenou com a cabeça e sorriu para demonstrar simpatia e uma paciência que ela já não tinha.
- E no final do ano, eu estou planejando, com a aprovação de Dumbledore é claro, uma formatura. Nada demais. Um jantar com um baile, algumas pessoas importantes que eu faço questão de apresentar aos meus formandos, fogos de artifício talvez... Só para os alunos do sétimo ano. E seus acompanhantes, é claro. Você e Lúcio serão as estrelas da noite, eu aposto. Quando vai ser o casamento?
Narcisa foi pega de surpresa e ficou sem palavras, um tanto quanto abobalhada pela indiscrição do professor de poções.
- Porque as pessoas vão perguntar, Narcisa. Talvez eu convide o velho Abraxas. – ele ficou distraído por um tempo, pensando. Narcisa revirou-se desconfortável em sua cadeira. – Ah, me desculpe. Você já pensou no que quer fazer, Narcisa?
Ela ponderou sobre qual seria a melhor reposta por um momento.
- Sim, já. - ela respirou fundo. – Vou ficar ao lado do meu marido, apóia-lo e cuidar da educação dos nossos filhos.
Ela sorriu falsamente. Slughorn ficou em choque. Ela não podia contar a ele seus verdadeiros planos, ou sequer insinuar suas intenções. Esconder-se atrás da imagem de mulher do lar era a melhor coisa a ser feita. Até porque, Narcisa duvidava que Slughorn tivesse importantes donas-de-casa para apresentar a ela.
- Mas por quê? Você é inteligente, pode fazer tanto mais. Ser medi-bruxa, talvez. Salvar pessoas. Ou talvez trabalhar no ministério. – Narcisa manteve-se fria e indiferente enquanto ele proferia todo o tipo de bobagens. Ela não acreditava que não havia ocorrido a ele que ela seguiria os passos da irmã. – Agora me lembrei, você não desejava ser bailarina?
Novamente Narcisa foi pega de surpresa. Não se recordava de ter mencionado isso a ele. De qualquer forma, ela não tinha mais a mínima intenção de emprestar seu talento as artes, quando sua sede de saber implorava para ser saciada.
Lembrou-se de seu teste na London Royal School of Ballet, que estava marcado para as férias. Não pretendia comparecer. Sentiu um arrepio percorrer-lhe todo o corpo. Bellatrix ficaria furiosa.
- Eu descobri que não tenho vocação. Além do mais, é uma carreira muito sacrificada.
- Mas cuidar de um marido e de filhos também é, minha querida.
E ele disparou a falar sobre como era difícil manter um lar. Ela lançou-se um olhar gelado que o fez se calar. Ela dirigiu-lhe um sorriso frio de satisfação.
- Eu acho que já estou bem orientada, não concorda Professor? – seu tom era baixo e calmo, mas muito desafiador. Slughorn recostou-se em sua grande cadeira, observando-a cuidadosamente, como se fosse a primeira vez que a visse. – Eu tenho aulas e deveres e revisões para os N.O.M.s. Eu acho que passamos excessivamente do tempo e do objetivo.
- É claro. É claro. Pode se retirar, Senhorita Black.
- Obrigada e até amanhã, Professor Slughorn.
Estava atrasada para Transfiguração, mas mesmo assim caminhou lentamente pelos corredores desertos. Por um momento, relaxou. Despreguiçou-se e bateu na porta da sala de aula, abrindo-a em seguida.
- Com licença, Professora.
- Está atrasada.
- Sim, senhora. Eu estava com o Professor Slughorn para minha orientação vocacional e ele se prolongou um pouco.
- Está bem. Entre.
Narcisa fechou a porta e dirigiu-se para frente da classe, ocupando seu lugar ao lado de Severo.
- Perdeu o papo chatíssimo sobre os N.O.M.s. – ele comentou, com cara de poucos amigos. –
- Mas ela já tinha feito um discurso no começo do ano. – Narcisa tentou entender. –
- Mas eu resolvi me repetir, Senhorita Black. Quem sabe dessa vez alguma coisa entra na cabeça de vocês?
Narcisa ofereceu-lhe seu olhar mais dissimulado.
- De acordo, Professora McGonagall.
- Hoje, eu darei uma revisão.
Ouviu-se um muxoxo, mas logo todos se puseram a trabalhar. Narcisa concentrou-se e realizou as transfigurações que McGonagall pedira uma, duas, três vezes, parando ocasionalmente para observar seus já histéricos colegas de classe sucumbirem à pressão dos exames.
Ultimamente descobrira um prazer sombrio em observar o comportamento alheio. Severo era indiferente e frio. Eles não haviam conversado nos últimos dias, a não ser que se pudesse chamar de conversa algumas frases vazias sussurradas entre os dentes pela cordialidade que amizades antigas criam.
Ela lhe reservou seu olhar mais intenso, envolvendo-o em uma teia de curiosidade, dissecando-lhe a mente, dispensando a vulgaridade dos debates.
Severo afastara-se dela, fechando-se em uma redoma imaterial, mas tão consistente quanto uma tora de madeira. Imperturbável e distante. Perguntou-se se aquele seria o começo do fim de sua intimidade. Eram quase como irmãos.
Pensou em Bella, a serviço de uma guerra oportunista, e Andie, irremediavelmente arrebatada por um inferior e sentiu como se o sangue Black estivesse diluindo-se em água em seus âmagos. Estavam elas prestes a destruir uma Dinastia por culpa de seus errôneos corações?
Voltou-se para o rato que deveria fazer desaparecer. Era inerente à natureza humana dominar os mais fracos. Ela não poderia deixar de pensar que um mundo onde trouxas dominassem os bruxos, os inferiorizando, não era um mundo onde ela desejava criar seus filhos.
Fez o rato desaparecer. A aula acabou. Paralisada, ela viu todos se retirarem. Inclusive Severo, que não se despediu, ferindo-a ainda mais. Era nesses momentos que ela percebia que a mulher que brotava dentro dela ainda não sobressaía á boneca de porcelana que sonhava futilmente com um mundo cor-de-rosa.
Mas o mundo transformara-se em verde e vermelho. Não verde de Slytherin e vermelho de Griffyndor. Mas verde de Avada Kedrava e vermelho de cruciatos. E o branco que simbolizava a paz traduzia-se na densa névoa de dementadores que cada vez em maior número juntavam-se a guerra.
Ergueu os olhos e deparou-se com McGonagall. Ela poderia estar zangada por Narcisa continuar ali, sendo um estorvo, mas sua expressão indicava algo entra a pena e a solidariedade, pelo que Narcisa ficou desgostosa.
- Desculpe-me. – Narcisa sussurrou. –
- Está bem. Eu queria mesmo falar-lhe em particular.
A professora contornou a mesa e sentou-se no lugar que era de Severo.
- É incrível como uma conversa entre nós tem perspectivas desagradáveis. – Narcisa deixou escapar com a voz um tanto embargada e um tom de saudosismo que se fazia cada vez mais recorrente. McGonagall representara perfeitamente o papel de mãe que a própria tinha negligenciado. –
- Bom, considerando que esta pode ser o encerramento de nossas intimidades, vamos fazê-lo da maneira certa pelo menos.
Narcisa terminou de guardar suas coisas, limpando a mesa onde a Professora conjurou um conjunto de chá. Desde que Bellatrix saíra de Hogwarts e Narcisa sentira duramente os efeitos da irremediável separação de sua melhor amiga e confidente, aquelas reuniões haviam começado.
Nada trazia mais à tona o caráter de nobreza do que um tradicional chá. E Narcisa seria eternamente agradecida que Minerva tivesse tomado suas dores em um tempo em que não havia Lúcio e Severo era um tanto quanto insensível. A professora parecia ter um faro infalível que lhe avisava quando Narcisa estava solitária.
Suas conversas eram sempre agradáveis, mas nunca fúteis. A rígida McGonagall podia ser também uma Minerva de aguçada inteligência e afável senso de humor. Era engraçado esse fato nas pessoas. Suas várias máscaras, como em um baile em que rodopiavam pelo salão, transformando-se.
Uma vez Narcisa poderia até pensar que a professora fora sua mentora, mas há pouco ela percebera que foram sua descendência, as pessoas e os fatos de sua vida que haviam talhado suas decisões. Se ela não houvesse sido criada em uma família com ideais de pureza, jamais teria sonhado com um marido sangue-puro, bem-sucedido e até um tanto célebre, e jamais teria se apaixonado por Lúcio.
McGonagall deu início ao conhecido ritual. O chá de hortelã que Narcisa adorava fumegou na fina porcelana de sua xícara. Então apareceram os bolinhos açucarados e maravilhosos e logo a barra de chocolate belga, o pecado proibido que as duas compartilhavam.
Narcisa levou o chá a boca e saboreou as reminiscências de um outro tempo; um tempo de paz interior; de ballet e de bonecas. Era tola, mas era feliz.
McGonagall partiu o chocolate e entregou a Narcisa, que levou a boca e deixou-lo derreter-se. Era quase tão bom quanto o beijo de seu amado. As duas continuaram o ato de civilidade, em silêncio, desfrutando do conforto que a companhia uma da outra surpreendentemente ainda trazia.
Foi a Professora que deu o primeiro passo. Pousando sua xícara na mesa, ela estendeu sua mão carinhosa e tocou os fios dourados de Narcisa.
- Minha menina. Como eu pude perdê-la dessa maneira? – ela interrogou a si mesma, e não a Narcisa, com os olhos brilhando pelas lágrimas que ela tentava segurar. –
A loura sentiu-se emocionada, forçada a reavaliar a si mesma e a suas atitudes.
- Era o caminho natural; a semente já havia sido plantada há muito. A frieza e a amargura viriam mais cedo ou mais tarde.
- Que viessem mais tarde então. Não é justo que uma menina de 16 anos tenha que sufocar a alegria de viver para servir a uma causa que não lhe cabe.
- É claro que me cabe. É meu sangue e minha carne que eu tenho que defender.
- É, sim. Mas é pelo futuro e não pelo passado que você deve lutar, e eu sei que se não fosse por Bellatrix e Lúcio você estaria preocupada com seus N.O.M.s e não com a vida e a morte. Seria o saudável, estudar, namorar, começar a descobrir a vida através das experiências tumultuadas e dos hormônios. Ao invés você estuda artes das trevas, aprende a lançar maldições imperdoáveis, passa a noite com Você-sabe-quem. - Narcisa não precisava desmentir tudo deslavadamente. O que era falado naquela sala, ficava naquela sala. – Eu sinto como se você fosse uma flor que está perdendo as pétalas, entregando-se ás sombras, padecendo de amor da pior forma. Aquela menina maravilhosa, apesar da arrogância típica da idade, tão sonhadora, tão disciplinada, tão talentosa, tão linda. Apesar do comportamento e das atitudes de ultimamente...
Narcisa sentiu uma grossa e quente lágrima escorrer pelo seu rosto, mais pelo tom de mágoa da professora do que pela tristeza da própria situação ali exposta em palavras.
McGonagall levou a xícara de chá à boca e tomou o largo gole, tentando conter-se. Era uma mulher extremamente discreta, afinal de contas. Narcisa esperou que ela comesse mais um pedaço do chocolate, e num gesto impulsivo pegou-lhe a mão e beijou-a.
- Eu a admiro e respeito mais que tudo nesse mundo e eu sei que minhas ações contradizem minhas palavras, mas também sei que você saberá qual veio direto do meu coração. Eu não posso ignorar que minha insolência pode ser fruto do meu caráter e não da minha situação. – Narcisa respirou fundo, tomando um gole do chá também. – Eu sinto essa menina morrendo a cada segundo dos meus dias e nada pode ser mais doloroso, mas essa menina jamais seria capaz de sobreviver no mundo que lhe foi destinado viver, na era de Voldemort, de qualquer lado que eu ficasse. E quanto mais tarde essa menina morresse, mais difícil seria o choque com a realidade cruel que lhe aguarda.
McGonagall acariciou o rosto angelical da jovem mulher na postura e no olhar, numa maturidade com a qual a professora preferia não se deparar.
- Eu acho que só posso desejar que seja mais prudente que Bellatrix em suas escolhas, por que eu não gosto de ser mensageira de maus-agouros mas sua irmã acabará em Azkaban se não parar de confiar tão cegamente no poder de Você-sabe-quem.
- Não, não. Só pode me desejar? Eu ainda tenho dois anos em Hogwarts. Dois anos em que eu espero que você olhe por min e me ensine o máximo que possa saber, para que eu esteja preparada quando eu não tiver mais quem me projeta.
- Você sempre terá quem te proteja, minha menina.
Ela sabia que era uma oferta, um aviso de que seus braços estariam sempre abertos para ela. Mas ela não pôde deixar de pensar em Lúcio, Bella, Severo, Rabastan, Remo. Sabia que mesmo se ficasse décadas sem falar com eles, eles pulariam na frente de um Avada Kedrava para protegê-la quando se fizesse necessário.
As duas choraram, em silêncio. O tempo passava, mas elas pareciam querer entregar-se a eternidade. Narcisa inclinou-se, sucumbindo a um óbvio e clichê abraço. Mas antes que chegasse ao aconchego do peito da professora, a porta da sala abriu-se com um estrondo.
Ambas apressaram-se em enxugar as lágrimas. Era Lílian, que ficou parada, sem graça e sem ação ao presenciar a cena. Narcisa virou-se, evitando encarar a ruiva e tomou o resto de seu chá em apenas um gole.
- Desculpe-me por não ter batido...
- Tudo bem, Lílian. – McGonagall tranqüilizou a monitora. – Deseja algo?
- O professor Dumbledore mandou chama-la com urgência, disse que precisa da senhora, mas que o assunto era confidencial.
McGonagall preocupou-se visivelmente e Narcisa ficou intrigada. Lílian se retirou, lentamente. A professora fez tudo desaparecer, menos o chocolate. O olhar de McGonagall dizia-lhe para ficar com o doce. Um pequeno grande gesto.
Narcisa deu um sorriso tímido, que não pôde evitar misturar-se com o sorriso frio que ela tanto demonstrara nos últimos dias. Levantaram-se e saíram rapidamente. A professora na frente, Narcisa fechou a porta da sala de transfiguração e seguiu para o saguão de entrada.
Já era noite. Ela estava cansada, mas sabia que tinha que estudar para os exames. Severo certamente estava na biblioteca. Resolveu mudar o seu curso, mas deu de cara com Lílian. Não sabia como tinha ultrapassado a ruiva.
- Se está indo para a biblioteca, é meu dever avisá-la de que está fechada.
A biblioteca estava fechada tão cedo às vésperas dos exames, e havia uma emergência misteriosa que fizera Dumbledore recorrer a Professora Minerva.
Ela foi para o salão principal. Não tinha a intenção de comer, mas sabia que era ali que as fofocas se espalhavam mais rápido. Sentou-se solitária á mesa da Sonserina, beliscando o chocolate e observando o movimento do salão. Todos corriam de um lado para o outro, correndo, sussurrando.
Ela espiou a mesa e viu que Persephone e Rachel estavam sentadas com Abigail no outro extremo. Aproximou-se das falsas amigas e esperou a ex de Severo retirar-se mal-humorada.
- O que está acontecendo?
- Narcisa, onde você estava? – indagou Persephone, incrédula. – Madame Pince foi atacada na biblioteca e alguns livros foram roubados. Ninguém sabe o que eram, parece que até aos professores o acesso era meio restrito.
Roubo de livros da sessão proibida? Quem iria aprontar uma palhaçada dessas, a não ser...
Tomada por um estalo, Narcisa saiu correndo. Subiu as escadas e disparou pelos corredores. Chegou ao sétimo andar, ao corredor da sala precisa.
- Lúcio? – ela gritou – Ta me ouvindo?
Ela esperou. Sabia que ele não ouviria. Ficou ali um tempo. Chamou mais algumas vezes. Talvez ele não estivesse ali. Percorreu o caminho de volta, chamando, implorando por uma resposta.
De repente sentiu sua cabeça puxada para trás, ao mesmo tempo em que sua boca era tapada por uma forte mão e ela era puxada para uma sala escura.
Sentiu o corpo de Lúcio pressionado contra o seu. Sua respiração sôfrega misturada à respiração dura do namorado em seu pescoço. Ouviu passos no corredor. Se aproximando e depois se afastando.
- Você quer me expor? – Lúcio sussurrou em seu ouvido, sua voz era calma, mas sua fúria era transparente. –
Ele destampou a boca da loura, que ficou dormente pela pressão exercida.
- Desculpe-me.
Ela evitou encara-lo.
- Narcisa, vá para as masmorras.
- Não. Não vou a lugar nenhum antes que me conte o que está acontecendo.
- Eu não posso.
- Se não pode confiar em min plenamente, como pode esperar que eu seja sua esposa?
Os dois ficaram em silêncio. O braço de Lúcio que passava pelo peito foi se afrouxando, mas então, com uma nova resolução, ele puxou o rosto da moça pra si e beijou-a calidamente. Ela sentia-se sucumbir, mas não podia. Não naquele momento.
Afastou Lúcio.
- Você ta espiando pra Voldemort.
- Não.
- Foi uma afirmação. E não me trate como uma criança. O que você está fazendo Lúcio? Qual é o plano? Você vai simplesmente me excluir como se eu e Voldemort fossemos de dois mundos que não devem se misturar? Más notícias, já se misturaram.
- Eu fui avisado para não falar, Narcisa. Nem a você. Eu não posso lhe confiar um segredo que não me pertence. E afinal de contas, é para o seu próprio bem.
Ele saiu, deixando Narcisa atordoada. Como Lúcio podia reserva-lhe aquele tratamento. Como se fosse uma mulher inútil com o cérebro de uma ameba. Pela primeira vez pensou que talvez seu casamento com Lúcio não fosse ser uma fonte de felicidade. Que talvez ela fosse regalada a função de troféu, abandonada em mansão sombria, deixando que o tempo cuidasse de deixá-la empoeirada e ignorada.
N/A: Depois de um período de seca criativa, eu finalmente consegui terminar o capítulo. Ficou um pouco grande, mas saiu tão naturalmente que eu não quis parar.
Obrigada a todos que comentaram. Foi em respeito a vocês que eu não joguei a peteca e continuei tentando escrever a todo custo.
Comentários (0)
Não há comentários. Seja o primeiro!