Resgate



Narcisa acordou com o barulho de algo se mexendo. Provavelmente já era noite novamente e Sirius e Potter haviam voltado. Ela não tinha idéia de como iria escapar dessa.
Ela estava tendo espasmos no corpo todo e a corda começava a queimar sua pele delicada em volta de seus pulsos. A luz que invadiu a passagem sem dúvida a surpreendeu e quase a cegou. Ela não via luz há um bom tempo.
- Narcisa? Narcisa!!
Era a voz de Lúcio. Ela tentou se virar, mas isso lhe causou ainda mais dor. O namorado aproximou-se e tirou a mordaça de sua boca. Severo e Prof. Slughorn entraram logo em seguida, acompanhados de McGonagall.
Lúcio e Severo cortaram as cordas e a ajudaram a se levantar e a sair da passagem.
- Minha menina, quem fez isso com você? – Slughorn perguntou –
- Foi Voldemort? – perguntou McGonagall aflita. -
- Não diga tolices, Voldemort já teve oportunidades de me machucar se ele quisesse. – só então Narcisa percebeu a mancada e tentou consertar. – Eu sei que foi ele que levou da escola aquele dia. E eu voltei inteira, não voltei? Não tinha ninguém para impedir que ele me matasse ou me torturasse, ou me mantivesse refém. Mas ele não o fez. Foram Sirius e Potter, aqueles...
- Senhorita Black, eu acho melhor você ir para a enfermaria. Seus amigos podem acompanhá-la.
- De maneira alguma. Eu faço questão de ir falar com Dumbledore e eu faço questão de que ele me veja assim.
- Você está nervosa.
- Eu estou nervosa por causa do que me foi feito e eu exijo providências. E eu quero resolver isso eu mesma por que eu acho que ambas concordamos que outra visita dos meus pais seria um tanto desagradável.

McGonagall abriu a porta do escritório do diretor e com um suspiro cansado pediu licença e anunciou Narcisa, que entrou acompanhada de Lúcio e Severo.
- Senhorita Black e seus fiéis escudeiros. – ele comentou divertido. – A que devo a visita?
- A isso. – Narcisa mostrou-lhe os pulsos marcados. –
- Sente-se e conte-me o que aconteceu Narcisa. – ele pediu, agora com seriedade. –
- Ontem à noite, eu estava voltando para meu dormitório quando meu primo Sirius e aquele amigo insuportável, Tiago Potter, me renderam. Eles me puxaram pra debaixo dessa capa estranha e taparam a minha boca. Eles insistiam que eu deveria admitir que eu tinha atacado Lílian Evans ou eles me machucariam. Honestamente professor, eu não posso admitir algo que eu não fiz, especialmente tratando-se de algo tão grave. Então eles roubaram minha varinha, me amarraram, amordaçaram e me trancaram em uma passagem secreta no quarto andar. Isso é inamissível.
- Professora, por favor traga os dois aqui.
- Sim, professor.
McGonagall saiu rapidamente.
- O que você estava fazendo fora da sua cama a noite, Narcisa?
- Eu tive uma crise de aflição de ficar presa naquela masmorra onde minha coruja não poderia me encontrar e resolvi ir para um lugar onde tivesse janelas. Eu espero notícias importantes.
- Posso saber quais?
- Narcisa...
- Não, deixa Lúcio. Pode saber sim. Eu estou certa de que o Professor Dumbledore é a pessoa perfeita para compreender esses impulsos bobos do coração. Minha irmã Bellatrix está desaparecida. Minha irmã e eu somos muito próximas e eu não pude deixar de sentir que ela está sim correndo perigo, que ela está sim muito mal.
- Ela ainda está? – perguntou Severo. –
Narcisa procurou sentir bem.
- Não. – ela respondeu surpresa. – Quer dizer, ela está mal, sua vida corre perigo, mas ela está lutando. Ela, ela... – ela olhou para Dumbledore e apressou-se a cortar aquele papo. - Como você sabia?
- Rodolfo mandou uma mensagem. – respondeu Lúcio. – Ele encontrou a Bellatrix. Depois eu te explico tudo.
Narcisa respirou aliviada. Era como se um enorme peso tivesse sido tirado do seu peito. A confusão que ficou sua cabeça com seu próprio rapto, impediu que ela notasse quando a irmã foi resgatada.
- Ela está em St. Mungus?
- Está.
- Eu fico feliz que esteja tudo bem. – finalizou Dumbledore. –
- Mas não está tudo bem. Eu passei a noite inteira presa. Você deveria perguntar ao meu primo por que ele estava fora da cama. Mas é claro que sua mente está trabalhando bem rápido para tentar evitar ter que expulsar Sirius e Tiago.
- Eu arruinaria a vida dos dois. É algo para ser bem pensando, Narcisa.
- Raptar uma pessoa e deixa-la sem comida ou água também é algo para se refletir, Professor. Eu poderia ter morrido. E dizem que Sonserina cria bruxos do mal.
- Não diga isso...
- Digo sim. Pra você é completamente impossível dizer que um Grifinório tenha maldade correndo nas veias. Não, é imprudência. Coisa de adolescente. Com uma bronca resolve. Mas os Sonserinos não. Eles armam e planejam. São todos cobras.
A professora voltou com os dois, que ao verem Narcisa ficaram surpresos.
- Professor, foi só uma brincadeira. Eu juro. – justificou-se Sirius. –
- Foi uma brincadeira muito séria. Pela segunda vez esse ano, vocês dois poderiam ter causado a morte da sua prima. Eu não sei como eu posso relevar isso.
- Por favor, professor. Qualquer detenção, qualquer coisa. Menos a expulsão. Nós fomos muito burros. Realmente não levamos em consideração que poderíamos matá-la.
- Narcisa, vá para seu dormitório e tire o resto do dia pra descansar. E vocês quatro vão para suas aulas. Eu quero que voltem aqui ao final do dia, às oito horas da noite. Eu lhes direi minha decisão.

***

Depois de tomar um banho quente e colocar novas roupas, Narcisa foi encontrar com Lúcio e Severo no Salão Principal, onde os dois almoçavam acompanhados de Rabastan e Avery. Ela sentou-se apressada.
Rabastan começou a servi-lhe um pouco de torta.
- Obrigada, Rabastan. – ela sorriu rapidamente. – Lúcio, eu quero saber da minha irmã.
Ele a censurou com o olhar.
- Por favor. – ela implorou. –
- Tá bom. - Ele lhe entregou um pedaço de pergaminho. – É de Voldemort.

“Minha querida,

Eu já sabia sobre Bella. Ela havia sido pega no meio de uma briga entre lobisomens e bruxos. Acabou tornando-se refém deles. Desculpe-me por te-la posto em situação tão perigosa em primeiro lugar. Quando sua carta chegou, eu já estava negociando a libertação da sua irmã. Ocorreu tudo bem, ela está bem, está sem St. Mungus. Vou cuidar direito dela, eu prometo. Mas ela está preocupada com você, diz que você também está sendo vítima de um encarceramento. Se isso é realmente verdade, essa carta provavelmente chegará primeiro às mãos de seus amigos. Eu lhes peço que contatem essa pessoa e a mandem negociar direto comigo. A liberdade de Narcisa não tem preço.

Lord Voldemort.”

- Ele é muito gentil quando tem segundas intenções.
- De repente ele só quer ser gentil, afinal você é...
- Severo. – ela o interrompeu. – Eu nunca vou realmente saber, certo? Eu não gosto de criar falsas ilusões. Você disse que Rodolfo tinha escrito.
- Queria que eu dissesse que Lord Voldemort em pessoa tinha lhe escrito e se desmanchado em desculpas na frente de Dumbledore? – argumentou Lúcio. –
- Como vocês sabiam exatamente onde eu estava?
Severo lhe entregou um outro bilhete.

“Narcisa está presa. Talvez esteja machucada, talvez esteja em perigo. Ajudem-na. Ela está atrás do espelho do quarto andar.”

- É a letra do Remo. – ela comentou constrangida. – Ele me salvou.
Todos lhe encararam com cara feia.
- É a verdade. Vocês também ajudaram, mas se não fosse por ele, poderiam ter demorado uma eternidade pra descobrir meu paradeiro.
- Você vai procurá-lo, não vai? – Lúcio indagou. –
- Vou. – ela cochichou no ouvido dele. – Mas eu prometo que depois eu começo a fazer o que me pediu. Você tem toda razão. Por que acha que me zanguei com a carta de Voldemort, tentando me envolver dessa maneira baixa?
Os dois se encararam por um bom tempo.
- Eu te amo. – ela disse antes de se retirar. –
Ela andou por todos os corredores da escola, mas não conseguia encontrar Remo. Finalmente, decidiu espera-lo do lado de fora de uma classe que eles deveriam estar assistindo juntos. Quando ele saiu, estava acompanhado de Lílian.
- Remo, posso falar com você?
- Claro, Narcisa.
Os dois entraram em uma sala deserta e Narcisa apressou-se a pular no pescoço no amigo. Ele a abraçou de volta.
- Eu fiquei preocupado com você. Aqueles dois panacas não deveriam ter feito o que eles te fizeram.
- Por que você não me tirou daquele lugar você mesmo, Remo?
- Por que eu não queria ter que ajudar você a expulsar meus amigos. – ele a afasta e a olha nos olhos. – Não os faça ser expulsos, Narcisa.
- Sabe, quando seus amigos me agarraram, eu podia ter ficado irritada e dito um monte de besteira cheias de arrogância. Mas eu pedi e implorei para eles me deixarem ir. Isso é pra você ter idéia de como eu tenho estado nas últimas semanas. Quem dera meu destino estivesse nas mãos de um teste idiota, Remo. Vocês não têm nada mais pra se preocupar.
- Você acha que é fácil, pra nós que estamos do lado oposto ao de Voldemort? Com essa guerra. Eu durmo rezando pra que meus pais estejam vivos.
- Minha irmã foi feita prisioneira por lobisomens. Aqueles animais repugnantes e selvagens quase a mataram. E isso não é nem a ponta do iceberg, Remo. Ninguém espera que você seja capaz de matar, ou então te consideram um completo fracasso por ter não estômago pra torturar alguém.
- Quem espera que você mate e torture? Voldemort? Bellatrix? Lúcio?
- Não. Lúcio não tem nada a ver com isso. Eu to falando besteira. Eu tenho estado doente, fraca. Eu tenho me sentido deprimida, desprotegida. E eu tenho sentido minha irmã passando pelas piores coisas. Eu e Bellatrix somos sensitivas, agente sabe o que ta acontecendo com a outra. A última coisa que eu precisava era temer pela minha própria vida, buscar minha sobrevivência, eu estou caindo aos pedaços. Mas eles nem ligaram pro mal que estavam me fazendo. Eu me recuso a ouvir que minha irmã é cruel. - Ela afastou as mangas da blusa. - Olha os meus pulsos, Remo. O Lúcio ta completamente certo, eu tenho que começar a pensar em min mesma.
- Me desculpa. – ele a abraçou de novo. – Eles te machucaram de verdade, eu não tinha idéia. Eu prometo que eu vou te proteger daqueles dois imbecis, Narcisa. Eles realmente não têm o direito de fazer mais nada com você.
- Nós não vamos conseguir ser amigos nunca, não é? Eu me recuso a ser sua inimiga, Remo.
- Nós podemos não ser companheiros, mas nós somos amigos. Eu serei a pessoa que pode até não andar com você, pode até não saber nada da sua vida, mas quando você precisar eu vou ta lá. Nem que seja só pra te dar um abraço, ou pra você ter um ombro pra chorar. Ok?
- Ok.

***

Quando Narcisa entrou no reduto do excêntrico diretor aquela noite, Sirius e Potter já estavam à espera, junto com a Prof. McGonagall e o Prof. Slughorn. Pra desgraça dela, Lúcio e Severo também já estavam lá.
Ela encarou o grupo com toda a coragem que conseguiu reunir, sabendo que Remo estava logo atrás dela. Os dois entraram e se colocaram no meio da sala.
- Diretor, - Narcisa respirou fundo – eu quero lhe pedir pra passar uma borracha em cima do que aconteceu.
- O quê? – exclamou Lúcio. –
- Apenas vamos esquecer.
- Narcisa, eu não posso...
- Por favor, prof. Dumbledore.
- Narcisa... – Lúcio começou. –
- Lúcio, querido, eu tenho minhas razões. Razões que precisam ser respeitadas.
- Deixe-me adivinhar, o fato desse aí ter te pedido?
- Depois Lúcio. Você vai ter todas as explicações que desejar até que esteja convencido. Eu não posso, Dumbledore. Por mais terríveis que eles tenham sido comigo, simplesmente não posso. Apenas garanta que eles tenham uma detenção bem ruim.
- Bom, eles já perderam duzentos pontos cada um. Eu vou ter que avaliar a forma apropriada de puni-los, mas você tem certeza?
- Tenho.
- Bom. Já está tarde e eu acho melhor vocês voltarem para suas salas comunais. Mas amanhã, Sirius, Potter e eu teremos uma conversa muito séria. Estão dispensados.
Lúcio passou a mão pelas costas de Narcisa e a conduziu para fora do escritório. Os outros a seguiram.
- Que é priminha? Se acovardou? – gritou Sirius de longe. –
Todos se viraram, mal acreditando na cara de pau. Ele se aproximou dela.
- Sabe, Lúcio, sua corajosa namorada futura esposa de comensal da morte implorou a nós, os grifinórios sujos.
Remo, com uma raiva enorme, empurrou o garoto para longe da garota.
- Seus dois imbecis!!! Eu intercedi com ela por vocês. Eu acho bom vocês provarem que são dignos da minha lealdade.
- Remo? – Potter retrucou indignado. – Essa garota é igualzinha àquele demônio da Bellatrix. Como é que você é o único que não vê?
- Pára. Vocês não têm o direito. Ela pode fazer qualquer coisa, ainda não lhes dá o direito de privá-la de liberdade. Priva-la de comida, de água.
- Deixa, Remo. – pediu Narcisa. – O Sirius adora falar do resto da família como se nós fossemos os monstros. Nas veias dele corre o mesmo sangue que na nossa. E ele ainda é pior por que virou as costas ao próprio sangue.
- Eu não sou nem um pouco parecido com vocês.
- Não? E aquela vez, priminho, que você, sabendo que eu tinha passado os seis meses anteriores doente, de cama pela ausência da minha irmã, me disse que ela não me amava mais, não queria mais ser minha amiga...
Sirius ficara completamente sem graça e sem palavras e corara estranhamente.
- Você acreditou naquilo? – tentou se justificar. –
- Eu tinha sete anos, Sirius.
- Eu também tinha sete anos.
- Pois é. Nem Bellatrix sabia como ser cruel aos sete anos de idade. E depois, você veio dizer a min e a Andrômeda que meus pais eram assassinos e que iriam para Azkaban, nos deixando órfãs. Deixe-me lembrar, eu devia ter uns nove, dez anos.
- Eu não tinha idéia...
- Quando você vai parar de se defender se dizendo ingênuo, Sirius? Você não é e nunca foi uma pessoa inocente. Desde criança você fazia tudo de caso pensado, propositalmente pra causar sofrimento. Principalmente à min. Eu sempre fui sua principal vítima. Bellatrix era muito forte, Andômedra em certo ponto passou a desprezar o próprio sangue também. Eu aposto que você sabia, eu não sei como, mas você sabia que eu estava fora da minha sala comunal e você foi atrás de min já pensando em fazer alguma maldade. Não é por que você rejeita a purificação, por que você rejeita as tradições que vem com nosso nome e sangue, que você é uma boa pessoa. E pare de se tentar convencer disso.
Ela deu as costas a ele e seguiu com Lúcio e Severo, enquanto Remo os olhava com desprezo.
- Vocês foram mesmo atrás dela com a intenção de machucá-la, não é?
- Mas o que ela fez com a Lílian...
- Vocês não sabem se foi mesmo ela. Eu não estou descartando a possibilidade, mas existem muitas pessoas nessa escola que odeiam a Lílian. E vocês não seqüestraram todas elas. A inconseqüência de vocês já passou da conta. Se eu vir vocês perto da Narcisa de novo, eu mesmo garantirei que vocês ganhem ao menos uma suspensão. E eu vou pessoalmente contar a todo mundo que a Grifinória perdeu 400 pontos por que Sirius e Potter resolveram bancar os justiceiros.
Quando chegaram a sala comunal da Sonserina, Lúcio arrastou Narcisa para um canto.
- Agora eu posso ter minha explicação?
- Pode. – ela respondeu com simplicidade.
- O que foi que aquele garoto disse para te fazer mudar de idéia?
- Nada demais. Ele apenas me pediu. O que me fez mudar de idéia é o fato de que ser expulso de uma escola de magia é a pior coisa que pode acontecer com um bruxo. Pior do que ser um aborto. Veja aquele guarda-caças.
- Desde quando você se importa com o seu primo?
- Desde nunca. Mas eu amo demais a minha família pra fazer uma coisa dessas. A expulsão do Sirius ia jogar o nome Black na lama, ia respingar em todo mundo. E o pior seria o fato de que eu teria responsabilidade. Já pensou eu tendo que explicar para meus pais e tios como eu pressionei Dumbledore para jogar o Sirius fora dessa escola? Até a Andrômeda iria passar a ser mais bem querida do que eu naquela casa. Eu não sou o Sirius e destruir meu próprio sangue é algo que eu não estou disposta a fazer. Por objetivo nenhum.
Ela dirigiu-se para o dormitório feminino. Lúcio, apesar de exasperado pelo escape dos grifinórios, não pôde impedir um sorriso orgulhoso de assentar-se em sua face.

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