É Preciso Esquecer



A biblioteca estava cheia de estudantes preocupados com suas tarefas de casa e seus exames. Apenas a menina de longos cabelos louros, presos firmemente em uma trança parecia ter outras prioridades.
Os livros que ela vinha consultando nas duas últimas semanas, não tinham nada a ver com a matéria dada. Ela estava curvada sobre um extenso pergaminho, escrevendo firmemente e rapidamente com sua impressionante pena preta e dourada.
- O quê você está fazendo, Narcisa?
Ela tremeu de susto e levantou a cabeça rapidamente. Recuperando-se, ela suspirou fundo e voltou-se para o pergaminho.
- Dever de casa, Perséfone.
- De quê? – perguntou a menina espiando o livro de cabeça para baixo –
- Defesa Contra Artes das Trevas. Você sabe que estou bem adiantada.
- É claro. Bom, fica bem mais fácil se você é ajudada pelo Severo, ele é um gênio.
- É verdade.
Narcisa parou de escrever e ficou observando a amiga. Um olhar insistente e desconfortável. Perséfone sentiu e se retirou, sem fazer mais perguntas. Era verdade que Narcisa tinha mania de estudar coisas que o professor ainda nem sonhava em dar, então ela tirou idéias bobas da sua cabeça e foi cuidar de seus próprios deveres.
Severo estava comendo sozinho no salão principal. Isso já havia virado costume e Potter e Sirius estavam aproveitando a situação para divertir-se um pouco. Toda vez que viam Severo nos corredores faziam alguma piadinha de mal gosto, mas Severo já tinha respondido a altura azarando-os três vezes e indo embora sem que eles tivessem tempo para revidar.
Lúcio estava obcecado pela taça de quadribol e reservava o campo qualquer minuto que ele estivesse livre e forçava o time para o treino. Narcisa passava todo o tempo enfiada na biblioteca e eles apenas se falavam nas aulas.
Mas essa noite seria diferente. Narcisa entrou no salão com um ar triunfante. Carregava um aparentemente longo pergaminho enrolado em sua mão direita. Sentou-se ao lado de Severo e puxo um prato para si.
- Eu achei que você tivesse decidido se alimentar de páginas de livros. Ou de luz. É uma possibilidade, também.
- Eu estava pesquisando sobre o que você falou.
- O quê eu falei? – ele não se lembrava de nenhuma conversa que pudesse levá-la àquelas intermináveis visitas à biblioteca –
- Sobre fechar minha mente.
Ele revirou os olhos e suspirou. Não pensara que aquilo iria perturbar tanto a garota, mas agora via que era lógico que ela iria correr aos livros.
- Quando você vai aprender a perguntar, Narcisa?
- Bom, eu sei o bastante sobre oclumência agora e concordo com você, eu deveria estuda-la.
- Sim, é sempre útil.
- E Bellatrix pode estar usando legilimência em min, então eu devo me proteger.
- Lembre-se que é apenas uma possibilidade.
- Eu acho que é mais do que uma possibilidade. Toda a influência que ela exerceu em min todos esses anos e esses sonhos estranhos.
- Usar legilimência não é a mesma coisa que usar um imperio, Narcisa. Ela não pode te obrigar a fazer nada.
- Mas ela pode ter acesso a meus sentimentos mais profundos e usá-los para me manipular.
- Muito provavelmente. Mas não se esqueça de que você a adorava.
- Uma adoração que pareceu se evaporar a medida que nos afastamos. Eu não a admiro mais como antes, eu não a amo mais como antes. O que eu posso pensar? Bellatrix realmente sempre soube como me envolver todos esses anos. Mas eu estou cansada de ser o brinquedinho dela.
- Você quer uma ajuda?
- Com oclumência? É claro. Quando nós podemos começar?
- Eu pensarei e te respondo depois. Vou fazer meu dever de transfiguração.
- Eu já fiz o meu. Vou ficar por aqui.
Narcisa guardou o pergaminho cheio de anotações sobre oclumência e legilimência no fundo do malão. Não queria ter que se explicar sobre aquilo, não interessava qual fosse o seu objetivo.
Ao se deitar estava bastante satisfeita consigo mesma. Mas ao refletir, percebeu que ainda não havia achado nenhuma explicação para aqueles sonhos desagradáveis. Ficou se perguntando se quando Bellatrix morresse ela sentiria, ou se fechando sua mente, ela fecharia a porta para os sonhos.
No dia seguinte, Severo e Narcisa voltaram a se sentar juntos para o café da manhã. Lúcio continuava com a cara enfiada no quadribol e Narcisa estava agradecida que não tivesse que suportá-lo. Ela ainda não havia realmente parado para pensar sobre aquele dia e sobre como se sentia com relação a Lúcio, apenas não queria vê-lo.
Os dias passaram com uma rapidez incrível. Ela nem perceberia se não fosse pelo fato de que recebia o Profeta Diário todos os dias. Na última aula de poções, Narcisa conseguiu fazer sua poção ficar perfeita, com a ajuda do livro de Severo é claro, mas se inflou de raiva ao ver que a poção de Evans também ficara perfeita, e ela não recebera ajuda de ninguém.
Narcisa odiava se sentir diminuída por uma sangue-ruim e odiava que existisse uma pessoa que fosse que preferisse a ruiva a ela.
Estava tomando café da manhã com Severo em uma manhã chuvosa, quando o Profeta Diário foi deixado sobre sua mesa. Ela estava começando a questionar a utilidade do jornal e estava começando a pensar em cancelar sua assinatura.
Mas logo na primeira página havia uma notícia que embolaria o estômago de muitos, mas encheu Narcisa de uma enorme satisfação. Todos os músculos do seu ser concordando com àquela idéia.

“Trouxas são atacados e mortos por seguidores de Lord Voldemort”

Ela abriu a página indicada e leu a notícia detalhada. Ela sempre ouvira sua irmã, seus pais, os Lestrange e muitos outros falando da purificação da raça bruxa, da morte daqueles que tinham sangue ruim.
Quando terminou de ler o artigo, levantou a cabeça e seus olhos encontraram acidentalmente com Lilian. Era como se ela estivesse se abrindo em felicidade por alguém estar fazendo algo. Concordou mais que nunca com a purificação de sua raça.
Inconscientemente, um sorriso despontou no canto de sua boca rosada. Seus dias foram bem melhores a partir dali. E para completar, o quadro de avisos anunciava que seria em breve a visita a Hogsmeade. Narcisa precisava mesmo respirar outros ares.
Estava na sala comunal naquele mesmo dia, tentando fazer o dever de Adivinhação que ela considerava extremamente estúpido, quando Rabastan sentou-se ao seu lado e lhe deu um beijo na bochecha. Ela o beijou de volta.
- Então, precisa de ajuda?
- Você é bom em Adivinhação?
- Claro que não, é uma matéria tão inútil.
- Eu sei. Apenas quero os meus N.O.M.s e depois posso mandar tudo isso para o inferno. Em que você é bom?
- Defesa Contra Artes das Trevas, Feitiços, Transfiguração... – Narcisa não precisava de ajuda em nenhuma dessas matérias – Astronomia.
- Mesmo? Por que eu tenho um dever horrível que ainda nem comecei e eu não sou nada boa.
- Mesmo.
Ele começou a ajudá-la com seu dever e ele era realmente bom, embora ela ainda não visse a utilidade daquilo.
- Eu não entendo como você pode ser ruim em Astronomia, os nomes da sua família são todos de estrelas e constelações.
- Exceto o meu. Acho que foi meio que uma premonição.
- Eu sempre tive curiosidade de saber porquê.
Ela riu e passou a língua nos lábios, de uma maneira extremamente sedutora. Eles estavam a um palmo de distância.
- Eu era diferente de todos os outros Black. A marca registrada da família eram os cabelos e olhos pretos, e eu nasci loura de olhos azuis. Chamou bastante atenção dos demais parentes. Uma tia insistiu que eu deveria ter um nome distinto dos demais.
- E por quê Narcisa?
- Pela beleza.
Ela sorriu encabulada. Rabastan começou a falar dos significados dos nomes na sua família, E depois voltaram a se focar apenas na tarefa por um tempo.
- Você vai a Hogsmeade no final de semana?
- É claro.
- Se incomodaria em ter companhia?
Narcisa pensou com cuidado. Rabastan não era tão chato quando não se acabara de passar dois meses inteiros com ele grudado nela, enchendo-a o tempo todo. Ele era atencioso e carinhoso. Além de lindo, inteligente e ótimo jogador de quadribol.
- Você está me convidando para um encontro?
- Não seria nada formal. Só, ficar juntos. Sem fazer nada.
- Será um prazer.
Ela abriu um grande sorriso e ele retribuiu, e então beijou-a novamente na bochecha e continuou a ajudá-la com a tarefa. Ela realmente teria prazer em estar com Rabastan. Lúcio entrou na sala logo depois, mas os dois não perceberam sua presença. Ele sentiu-se nauseado e furioso, queria estrangular Rabastan, mas controlou-se e saiu rápido para o seu dormitório.

***

O dia da visita a Hogsmeade amanhecera claro e arejado. Os primeiros raios de Sol entravam pelas frestas das cortinas quando Rabastan despertou. Sabia que ainda era cedo demais, mas pensou que seria melhor assim, já que ele não tinha a mínima intenção de ter de encarar Lúcio.
Tomou um banho demorado, arrumou-se especialmente para a menina, mas sem parecer exagerado e desceu para o café. Depois ficou andando a esmo pelo castelo até que chegasse a hora. Estava sentado do lado de fora, quando Narcisa apareceu.
Ela usava uma calça jeans e uma blusa frente única azul, da mais pura seda. Seus cabelos estavam soltos e a leva brisa os movimentava como em um ballet.
O Sol a atingiu em cheio e o reflexo de alguma coisa quase o cegou. Ele só percebeu depois que era o bracelete que ele havia lhe dado. Ela passou por Filch e veio em direção a ele, que tremeu sem saber o que fazer. Ela parou em frente a ele e os dois ficaram se encarando por um longo momento constrangedor.
Controlando-se, ele pegou a mão delicada da garota e a beijou, como um bom cavaleiro britânico.
- Eu fico feliz que você tenha gostado do presente.
- Só estava esperando a ocasião.
- Vamos?
- Claro.
Os dois foram andando bem devagar e conversando. Sem perceber, estavam de mãos dadas. Não era tão fácil conversar com Rabastan como era com Lúcio, mas eles estavam indo muito bem. No assunto música eles eram muito parecidos.
- Eu prometo que vou te levar a um show de rock em um local aberto quando estiver nevando. É o máximo.
- Nós vamos congelar.
- Não. Por causa da concentração de pessoas e de feitiços que eles usam, ficam bastante quente na verdade. Mas é um espetáculo belíssimo.
- Eu vou cobrar a promessa.
Os dois agora desciam abraçados em direção a Dedosmel. Narcisa aproximou-se de Rabastan ainda mais e cochichou no ouvido dele.
- Eu tenho que confessar, mas é segredo. Eu sou louca por chocolate.
Se afastou e sorriu. Então largou a mão dele e saiu correndo em direção ao fundo da loja. Ele foi atrás dela.
Meia hora depois eles saíram da loja abraçados. Eles tinham tomado sorvete com brownie e calda de chocolate e Rabastan tinha comprado uma caixa enorme de bombons com recheio de cerveja amanteigada para Narcisa.
- Onde você quer ir agora?
- Eu não quero ficar em nenhum lugar barulhento cheio de gente nos encarando.
- Pode deixar. Apenas vamos dar uma passadinha no Três Vassouras e comprar umas cervejas amanteigadas.
- Tá bom.
Rabastan entrou no bar torcendo para que não desse de cara com Lúcio. Tiveram sorte, ele não estava lá e em nenhum outro lugar de Hogsmeade, aparentemente. Mas todos os outros estavam olhando, as cabeças se juntando para cochichar. Narcisa encolheu-se nos braços Rabastan e ele a abraçou, como namorados.
Os dois foram andando para perto da casa dos gritos, onde se sentaram na base de uma grande árvore. Beberam suas cervejas e conversaram entusiasmadamente.
Narcisa tirou as sandálias e deitou no chão. Rabastan deitou ao lado e curvou-se sobre ela, apoiando a cabeça no cotovelo e acariciando os cabelos de Narcisa com a mão livre. Ele começou a beijá-la no rosto. Na testa, nos olhos, na bochecha. Quando chegou na boca, ele não sabia se deveria continuar.
Mas a menina não deu nenhum sinal de contrariedade e ele a beijou. Ela deixou-se beijar. Sua cabeça em turbilhão de pensamentos. Não estava certa que deveria seguir em frente. Não estava certa se seria capaz de esquecer Lúcio. Mas disse a si mesma que deveria tentar ou ficaria para sempre infeliz.
Beijou Rabastan de volta. Dessa vez foi um beijo cálido. Suas línguas se encontrando em um beijo maravilhoso.
Chegando ao final da tarde, eles ainda estavam ali. Rabastan havia sentado encostado na árvore e Narcisa estava com a cabeça deitada no peito dele. Ele a abraçava firmemente, como que para se convencer de que ela era sua. Eles haviam namorado o dia todo. Fora o dia mais maravilhoso de sua vida e Rabastan ainda tinha tinha dificuldades de acreditar que era realidade.
- Eu queria que esse momento durasse para sempre. – ele deixou escapar com um suspiro melancólico. –
Os dois ficaram em silêncio por um tempo. Então Narcisa ergueu a cabeça e o olhou nos olhos.
- Nós podemos ver onde isso vai dar.
Ele não podia acreditar que ela tinha proposto aquilo. Ele mal conseguia conter sua alegria.
- Hey. Era eu quem deveria fazer isso. – ele brincou. –
- Me desculpe. Continue seu machista. – ela devolveu com sarcasmo. –
- Narcisa Black, você namorar comigo?
- Deixe-me pensar um pouco. – ela fez charme. – Sim.
Ele a jogou no chão e os dois voltaram a se beijar. Ela também estava muito feliz. Estava conseguindo se sentir maravilhosamente ao lado de alguém que não fosse Lúcio. E para completar, Rabastan beijava muito bem.

***

Lúcio não havia ido a Hogsmeade naquele final de semana. Severo também não.
De volta a sala comunal, ele tentou estudar. Mas os estudantes que estavam voltando do passeio não paravam de comentar. Uma garota de cabelos castanhos e curtos se aproximou correndo de Perséfone e Rachel.
- Vocês já estão sabendo?
- Do quê? – a ruiva não estava muito interessada –
- Rabastan e Narcisa.
- O quê?! – rapidamente ela ficou animada e quis saber tudo nos mínimos detalhes. –
Lúcio não pôde deixar de ouvir e se sentia cada vez mais doente. Se sentia traído pelo seu melhor amigo e um enorme sentimento de solidão tomou conta dele. E não conseguia parar de pensar em como estava sempre fazendo tudo errado com Narcisa. Sabia que não havia nenhum dementador ali, mas sentia-se como se nunca mais fosse ser feliz.
- Eles dois são tão perfeitos. Eles serão o casal mais popular de Hogwarts com certeza.
Lúcio olhou feio para Rachel. Aquele comentário vindo dela era ridículo. Toda Hogwarts sabia o quanto ela invejava Narcisa e que era completamente apaixonada por Rabastan. E a proximidade do garoto com Narcisa era o único motivo pelo qual ela puxava o saco dela descaradamente.
Não agüentou mais aquilo ali e subiu para o dormitório. Narcisa e Rabastan chegavam ao castelo naquele exato momento, mas preferiram ir para o salão principal comer alguma coisa e depois ir para as masmorras.
Quando Rabastan entrou no dormitório, Lúcio fingiu que estava dormindo. Queria lançar uma azaração bem ruim no garoto e deixá-lo bem mal, mas sabia que tinha que pensar na integridade no time de quadribol. Não tinha a menor intenção de acabar de maneira idiota uma amizade de tantos anos por causa de uma paixão.
Quando Narcisa entrou no seu dormitório, foi rapidamente cercada pelas garotas que queriam saber de todos os detalhes. Mas ela, discreta, fugiu da conversa de maneira hábil e enfiou-se na cama. Era o mais feliz que ela se sentia em muito tempo e Rabastan era o responsável.

N/A: Continuem comentando. Eu escrevo pra vocês, então é importante ouvir a sua opinião. Eu acho que ainda tem poucos comentários.

Kurara-chan ^-^ - muito obrigada.

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