Oclumência



No dia seguinte, Severo, Avery, Lúcio e Rabastan se sentaram para comer juntos no café da manhã. O oposto total dos quatro garotos que estavam sentados juntos na mesa da Grifinória, os marotos. O clima era ameno, mas ninguém poderia fingir que não eram alvo dos olhares e comentários do salão inteiro e o motivo era óbvio.
Narcisa entrou no salão de forma triunfal. Estava radiante. Os burburinhos aumentaram de intensidade. Ela foi direto para os garotos.
Pendurou-se no pescoço de Rabastan por trás e o beijou no rosto. Ele virou o rosto e a beijou na boca. Todo mundo que não estava comentando antes, estava comentando agora.
Ela sentou-se com eles para comer. Severo olhou de lado o casal e depois observou Lúcio. Ele achava que os dois eram patéticos, mas ele era ainda mais patético por ficar gastando o seu tempo e sua saliva tentando fazer os dois se entenderem.
Mas Narcisa parecia bem feliz ao lado de Rabastan, e considerando que ela tinha estado um tanto miserável desde que havia brigado com Lúcio, isso era ótimo. E Lúcio estava encarando bem a situação toda. Parecia conformado e não tinha brigado com Rabastan por causa daquilo, ou demonstrado seu desconforto de nenhuma forma, embora Severo duvidasse que Rabastan não soubesse. Então ele não interferiria mais de forma alguma.
Os dias foram passando e nada aconteceu. Lúcio não deu nenhuma demonstração de que pretendia lutar por Narcisa e isso era decepcionante. Rabastan e Narcisa ficavam abraçados toda vez que estavam juntos, o que era bastante, mas certamente seria muito mais se o time de quadribol da Sonserina não treinasse tanto e eles não tivessem tantos deveres também.
Narcisa continuava a fazer seus deveres com Severo e Rabastan e Lúcio continuavam estudando juntos.
Eles estavam praticando o feitiço silenciador na aula de feitiços. Narcisa tinha conseguido de segunda e ela sempre ficava entediada de continuar praticando, então Severo e ela aproveitavam que aquela era uma aula tão barulhenta que se podia conversar com um pouco de privacidade.
- Então, as coisas entre você e Rabastan estão bem sérias.
- Bom, sim. Mas você não vai dizer que meu lugar é ao lado do Lúcio, né?
- Não. Eu ia dizer que estou feliz que você esteja feliz. Seus sentimentos pelo Lúcio não estavam te fazendo nada bem.
- Eu estou esquecendo. É melhor assim. E Rabastan é maravilhoso.
- Que bom.
Severo duvidava que ela estivesse esquecendo Lúcio, era impossível fazendo todas as refeições juntos. Mas se Lúcio não estava lutando, então ele não a merecia.
Narcisa estava fazendo seus deveres de casa naquela noite. A sala comunal estava vazia quando o time de quadribol entrou nas masmorras. Rabastan sorriu assim que a viu.
- Algum dever de Astronomia? – ele brincou. –
- Sim. – ela respondeu com doçura. –
- Eu só voltou trocar de roupa e volto num segundo.
Lúcio passou tão rapidamente pela sala que Narcisa mal pôde vê-lo. Logo Rabastan voltou e sentou-se ao lado dela no confortável sofá de frente pra lareira.
- Eu não vejo seu material de dever de casa.
- É porquê eu não tenho dever de astronomia. Eu fiquei te esperando para nós namorarmos. Mas eu não diria a verdade na frente do time todo, é claro.
- É óbvio.
Ele passou seu braço pela cintura dela e a beijou. Ela passou as pernas por cima das dele e passou seus braços pelo seu pescoço. Os dois ficaram se beijando por um longo tempo.
- Está tarde, mocinha. Nós temos aula amanhã. – ele interrompeu. –
- Eu não gostei de ser chamada de mocinha.
- Ah, não? E como prefere?
- Eu prefiro quando você me chama de linda, como antigamente.
- Então linda será.
Ele se levantou e estendeu a mão para ela.
- Vamos dormir, linda?
- Vamos.
Os dois foram andando, com muita preguiça e sem querer se separar.
- Nós temos que arranjar um apelido pra você.
- Nós pensaremos nisso depois.
- Você não vai escapar.
Se despediram com um beijo e foram para seus respectivos dormitórios.

***

Estava escuro, embora estivesse de manhã. Os grossos pingos de chuva machucavam a sua delicada pele. Um vento gélido cortava seu rosto como uma faca afiada. Os relâmpagos cortavam o céu escuro, causando uma impressão fantasmagórica. Tremia violentamente.
Severo estava logo à sua frente. Ela tropeçou e caiu, e ele voltou-se para ajudá-la.
- Você está bem, Narcisa?
Ela olhou para sua roupa, cheia de lama e soltou um grito de raiva.
- Estúpida aula de herbologia. Não podia ser em outro lugar que não as malditas estufas?
- Vamos sair dessa chuva logo. Você pode se lavar e se trocar. Não vai ser tão simples se pegar uma doença.
Ele passou um dos braços dela por cima de seu ombro e a ajudou até chegarem ao castelo. Ela olhava para os sapatos caros com uma expressão de desespero. Ele percebeu.
- São só sapatos Narcisa.
Ela o olhou com uma expressão horrorizada.
- Bellatrix trouxe de uma viajem a Itália especialmente pra min. É uma peça única.
Ele resolveu se calar. Estavam encharcados e a última coisa que ele queria era discutir com Narcisa sobre sapatos. Chegaram ao castelo no exato momento em que Rabastan se dirigia para a saída.
- Eu estava indo atrás de vocês.
Ele enrolou uma toalha em Narcisa, que ainda tremia.
- Vocês precisam tirar essa roupa já. Tomar um banho e colocar um roupa quente.
- Eu não posso. Eu tenho runas antigas agora.
- Tenha dó, Narcisa. Não importa se você se atrasar um pouco e perder alguns pontos.
- E se eu pegar uma detenção?
- Sua saúde é mais importante.
- Ele tem razão, Narcisa. – foi a primeira vez que Severo abrira a boca desde que haviam chegado ao castelo. – E nenhum professor vai te dar uma detenção, a prof. Zeller principalmente.
Ela decidiu fazer o que Rabastan e Severo queriam, se ficasse doente perderia muito mais aulas. Além do mais, da última vez que passara uma temporada na ala hospitalar, não fora um tempo nada divertido.
Já limpa e seca, mas com os cabelos ainda úmidos, ela voltou a se juntar a Severo na aula de história da magia, e seguiram juntos para o almoço.
- Quando você vai começar a me ajudar com oclumência? Eu já teria começado por min mesma, mas eu não acredito que somente a teoria seja de muito valor. Eu não posso fazê-lo sozinha.
- Bom, considerando a agenda cheia que você tem, e mais Rabastan, eu acho melhor você escolher uma data em que você esteja disponível. É mais fácil eu tentar me encaixar nos seus horários.
Se sentaram na mesa e ele puxou um prato, enquanto ela abriu a mochila e começou a revirar a procura de algo. Tirou um caderninho de dentro e abriu.
- O quê é isso?
- Minha agenda.
- Você anota os horários em que você e Rabastan ficam juntos aí? – ele perguntou rindo, com sarcasmo. -
- Geralmente.
Ele ficou olhando para ela como se dissesse que aquilo era o cúmulo da organização. Ela consultou a agenda.
- Eu estarei com Rabastan no sábado de manhã, mas ele terá quadribol a tarde, então eu estou livre.
Ele tinha esperança de que ela estivesse brincando, mas ela estava falando sério.
- Tudo bem então. Sábado a tarde.
- Ótimo.
Ela tirou sua pena preta de dentro da mochila e rabiscou algo.
- Hey? Quando é o primeiro jogo de quadribol dos garotos?
Ela folheou as páginas vagarosamente. Até que pareceu achar a informação.
- Sem ser esse Sábado, o outro. Sonserina contra Lufa-Lufa.
Então guardou a pena e a agenda na mochila e começou a comer.

***

Sábado amanheceu da mesma maneira horrível que todos os outros dias da semana. O time da Sonserina não ficou nada feliz, mas Lúcio insistiu que era bom treinar em condições adversas, pois o tempo podia não colaborar com eles no dia do jogo e eles tinham que estar bem preparados.
Rabastan escapou de ouvir mais um discurso chato do garoto porquê Narcisa o tirou a força da mesa do café-da-manhã e os dois desapareceram.
Como não podiam sair, e ela desconfiava que um pouco mais de meia dúzia de alunos conhecia a sala precisa, eles encontraram uma sala de aula vazia para namorar.
À tarde Rabastan foi para o campo de quadribol, contra sua própria vontade.
- Lúcio nunca nos encontrará. – ele argumentava enquanto ela empurrado para fora pela menina. -
- Eu duvido muito. Você subestima a determinação dele.
Ela já tinha marcado um compromisso e ter Rabastan grudado no seu pé era a última coisa que ela queria. Severo entenderia, mas ela realmente queria estudar oclumência.
Quando chegou a sala comunal, Severo estava esperando. Eles seguiram para o banheiro do abandonado do segundo andar. Narcisa não entrava naquele banheiro por causa da Murta-que-geme, mas Severo parecia tê-la espantado, ou então ela estava chorando em algum cano e dando um descanso as pessoas no castelo.
- Bom, o quê você sabe exatamente?
- Muita coisa.
- Bom, os livros da biblioteca não são muito extensos nesse tipo de assunto.
- Eu sei. Passei semanas lá antes de me dar conta de aquela pesquisa era inútil. E a resposta estava na minha cara o tempo todo. Eu estava com alguns livros que falavam bastante disso, um especificamente.
- E de onde você tirou esses livros?
- Eu peguei na casa do Sr. Lestrange. E tenho dois que são da Bellatrix. Ela me deu pouco antes do casamento.
- Narcisa, você trouxe um monte de livros de magia negra pra escola?
- Sim. É claro que eu pus alguns feitiços que a Bella me ensinou neles. Se alguém que não for eu tentar ler, eles parecerão livros textos normais.
- São feitiços que Dumbledore desfaria facilmente.
- Bom, ele precisaria de uma boa desculpa para entrar no dormitório feminino da Sonserina e mexer no meu malão.
Ele ficou em silêncio. Dumbledore provavelmente descobriria de outra maneira, mas ele realmente não faria nada. Ele não iria atrás desses livros. Ele não tinha tentado descobrir como ele vinha estudando magia negra, mesmo depois que ele tinha quase matado Remo. Mas de qualquer maneira, estava gratamente surpreso com Narcisa. Nunca pensou que ela fosse ter esse tipo de interesse.
- Então, vamos começar logo. – ela o tirou de seus pensamentos. –
- Desculpe. Ok.
Os dois pegaram suas varinhas.
- Esvazie sua mente.
- Ok. Já sei.
Ela fechou os olhos. Ele lhe deu algum tempo, então apontou a varinha para ela.
- Legilimens.
Alguns flashes passaram por sua cabeça. Coisas sem importância, como sua preocupação com os deveres de casa, as aulas, as patrulhas nos corredores. Ela se esforçou para tirá-lo da sua mente.
Quando se deu conta, estava caída no chão, de joelhos, tremendo. Antes mesmo que abrisse os olhos, sentiu as mãos de Severo segurando seus braços com firmeza.
- Você está bem?
- Sim.
Ele a puxou para cima e se certificou de que ela estava realmente bem.
- Eu subestimei a teoria, você fez um uso muito bom dela.
- Na verdade, estava escrito na margem do livro da Bella. Uma dica dela. Pensar em bobagens é mais fácil do que esvaziar a mente.
- Bellatrix é menos tola do que pensei.
Narcisa franziu o cenho. Ficara zangada com o comentário. Não era mais a defensora fiel da irmã, mas ela não era nem um pouco tola.
- Vamos tentar novamente. – ele pareceu perceber o efeito do comentário da garota. –
Ela voltou a se concentrar.
- Legilimens.
A mesma coisa aconteceu e ela estava novamente no chão. Olhou para a frente e o viu caído perto da pia. Se levantou correndo e foi até ele.
- Você está bem? O que eu fiz?
- Usou protego. Muito bem.
- Obrigada.
Ela o ajudou a se levantar. Ela se concentrou novamente e ele lançou o feitiço. Ela voltou a ver os flashes. Coisas bobas, novamente. Dessa vez, antes do segundo flash começar, ela já voltou a sua consciência, ajoelhada. Abriu os olhos e viu as pernas de Severo se movendo sem parar.
- Finite incantante.
Ele parou e caiu no chão exausto. Ela correu para ajudá-lo, novamente.
- Eu acho que já está bom por hoje. – ele falou num silvo. –
Ele estava pálido. Molhou um pouco o rosto antes que saíssem.
- Foi um começo realmente formidável, Narcisa. – ela sorriu em agradecimento, orgulhosa. – Mas eu ficarei realmente agradecido quando você for capaz de me repelir apenas com a mente e parar de lançar maldições em min.
Ela sorriu novamente. Desta vez estava encabulada. Deu um abraço no amigo.
- Mil desculpas, Severo. E obrigada por fazer isso por min. Eu não sei o que eu faria se não pudesse contar com você.
- Teria que continuar contando com a Bellatrix. – ele respondeu sem pensar. –
Ela deu um sorrisinho tímido e triste, e ele percebeu que tinha que usar mais sutileza em um assunto tão delicado.
- Eu acho que você estará ótima em oclumência logo. – tentou consertar. – A maneira como você esvazia a sua mente durante as aulas é de deixar qualquer um boquiaberto, deverá ser moleza pra você.
- Obrigada.
- Vamos tentar isso da próxima vez. Esvaziar a mente e repelir sem a varinha.
- Ok.
Ela estava satisfeita. Achava que tinha sido realmente bom, para sua primeira experiência. Nem lhe passou pela cabeça que Severo não tinha lhe dado nenhuma explicação sobre como era tão bom na prática de legilimência e oclumência. E ele tinha apenas quinze anos.
Quando chegaram ao saguão de entrada, encontraram o time da Sonserina, encharcado e exausto. O único que ainda parecia estar possuído por uma energia inesgotável era Lúcio. Narcisa correu para Rabastan, que não a abraçou para não molha-la e os dois foram para as masmorras.
- E então, como foi o treino? – Severo perguntou par Lúcio, mas já imaginava a resposta. –
- Não foi de todo inútil, sabe?
- Sei, condições adversas... o tempo pode estar assim no dia do jogo... Eu estava lá, Lúcio. Eu prestei atenção.
- Bom, é gratificante saber que alguém presta. – com sarcasmo. – Mesmo não sendo do time.
Era por isso que Severo e Lúcio nunca brigavam. Ele nunca perdia a pose, mesmo depois de um fora. E muito dificilmente se chateava com o amigo.

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