Dementadores e Inferis



Já eram quase dez horas da manhã. Narcisa ainda dormia, alheia ao burburinho vindo lá de baixo, que transpunha as seculares paredes de pedra e as pesadas portas de carvalho. Seus longos fios dourados e sua pele extremamente branca como cera, davam-lhe uma aparência extremamente mórbida, típica dos Black, e contrastavam com os lençóis de seda preta.
Lá embaixo, os adultos, que haviam resolvido não voltar para Londres até que seu filhos tivessem ido para Hogwarts, tomavam chá e conversavam, ou melhor criticavam, o governo do atual ministro da magia. Rabastan participava da conversa, e demonstrava certo entusiasmo com sua surpreendente inclusão. Agora que Rodolfo se fora, ele seria tratado como realmente merecia.
Já Andrômeda não poderia dizer a mesma coisa. Certamente toda atenção dada a Bellatrix convergiria sobre Narcisa. A loura sempre soubera como manipular todas as atenções. Ela estava na biblioteca lendo, já que sua mãe havia deixado bem claro que a castigaria se ela incomodasse Narcisa. Era ano de N.I.E.M.s. O ano em que ela se formaria e deixaria Hogwarts e a casa de seus pais. Ela havia tomado uma decisão em seu quinto ano, que até agora, não havia comunicado a família. Ela tentaria ser auror. Havia se concentrado apenas nas matérias que lhe eram exigidas, onde conseguiu as notas exigidas para as classes de N.I.E.M.s. E havia reprovado nas outras que havia negligenciado, é claro. Mas agora só havia aquelas matérias, e o peso era muito grande mesmo assim.
Só de pensar que em breve chegariam as corujas de Hogwarts, seu estômago se revirava. Sirius, pelo contrário, estava muito animado. Suas férias haviam sido um pesadelo, e seria ótimo rever Tiago e Remo. Muitas aventuras o estavam esperando.
Narcisa acordou quase na hora do almoço e não quis comer. Andrômeda imaginou que a irmã estaria fazendo algum tipo de dieta maluca e não duvidava nada que isso era só porquê ainda não tinha encontrado uma poção que pudesse mantê-la magra, mas ela não desistiria de procurar.
Logo depois do almoço, Rabastan foi procurá-la lá fora. Ele a encontrou sentada debaixo de uma árvore, grudada em um livro que certamente Hogwarts jamais pediria.
- Eu não sabia que você se interessava por artes das trevas.
Ele ficou esperando, mas ela não respondeu. Ela não parecia ter notado sua presença ali. Ele se sentou ao lado dela e espiou por cima dos ombros. Um doce perfume encheu seu nariz e ele ficou zonzo. Completamente hipnotizado pela figura da garota, que agora abandonara a aparência sinistra para dar lugar a uma boneca de porcelana. Suas feições esculpidas à perfeição.
Gotas gigantescas de chuvas tiraram os dois de seus devaneios. Eles se levantaram rapidamente e correram em direção à casa. Narcisa preocupava-se em proteger seu livro contra chuva com seu próprio corpo, já que havia esquecido a varinha no quarto.
Quando os dois entraram na casa, estavam encharcados. Os lábios de Narcisa estavam roxos e ela tremia. Ele a puxou para si, para tentar aquecê-la com o calor de seu corpo, mas não obteve sucesso. Ela se desvencilhou de seus braços e subiu, ainda agarrada ao livro. Ele se conformou, e também subiu para o seu quarto.
Se enxugou e trocou de roupa. Então jogou-se na cama de barriga para cima e começou a refletir. Viajou em seus pensamentos por um bom tempo, até que se levantou e saiu.
Desceu e foi até a cozinha, tinha um palpite forte. E acertou. Narcisa estava lá. Também havia se trocado e agora comia elegantemente. Ele se juntou a ela e se serviu de algum suco de abóbora.
- Sabe, meu pai e Rodolfo sempre foram muito interessados em artes das trevas. Sua irmã também é, eu acredito que aquele livro seja dela. – Narcisa concordou com a cabeça – E essa casa está cheia de artefatos das trevas, livros, passagens secretas. Eu achei que você gostaria de explorar isso comigo?
- Como você pode nunca ter se interessado por nada disso? – ela perguntou, abismada –
- Bom, sei lá. Mas agora eu estou. Você está?
- Talvez.
Ela voltou a comer. Ele ficou observando-a, intrigado. Precisava de uma resposta mais clara. Andrômeda e Sirius entraram na cozinha, parecendo extremamente entediados.
- Vocês dois querem explorar a casa conosco? – Narcisa perguntou em seu tom mais casual –
Todos se surpreenderam. Rabastan realmente não achava que eles tivessem interesse naquilo que os dois pretendiam procurar, e Sirius e Andrômeda não entenderam o que Narcisa queria, mas Sirius ficou animado sobre talvez ter algo interessante pra fazer.
- Eu topo. – ele foi quebrou o incômodo silêncio –
- Bom, se o Sirius vai, você vai também, não é Andie? – havia uma sutil acusação no tom da menina e Andrômeda entendeu, mas não gostava de ficar sozinha em dia de chuva. –
- Tudo bem. Eu vou também.
- Então vamos.
A loura pegou a mão de Rabastan e saiu arrastando o garoto, que ainda nem se pronunciara a respeito da desagradável companhia. Os outros dois os seguiram.
Mais a frente, Rabastan tomou para si a liderança da pequena excursão.
- Estão todos com suas varinhas?
Todos fizeram sinal afirmativo, então ele continuou. Pensou que seria melhor começarem procurando algumas passagens secretas. Não achava que Sirius e Andrômeda deveriam ter acesso a material das trevas e livros sobre magia oculta. Provavelmente aquelas passagens não dariam em lugar nenhum.
Eles andaram até o final do corredor do térreo e entraram a direita, em uma sala empoeirada e vazia. Havia apenas uma tapeçaria no chão. Antes que qualquer um pudesse indagar qualquer coisa, ele tirou a varinha do bolso e tapeçaria começou a se enrolar, revelando um alçapão no chão de pedra.
- O que você acha que tem aí? – perguntou Sirius extremamente animado-
- É o que eu quero descobrir. Alguém quer desistir?
- Não – Narcisa respondeu por todos –
A menina se aproximou do alçapão, apontou sua varinha e murmurou “Alorromora”. Ouviu-se um estalido. Rabastan e Sirius puxaram o pequeno anel de metal preso a portinhola, algo bem medieval, e ela se abriu com um rangido.
Uma escada de pedra se estendia para a escuridão e não havia como saberem o que os estava esperando. Eles se lançaram ao desafio. Um de cada vez, Narcisa ajudada por Rabastan, eles foram descendo. Todos estavam usando o feitiço “lumus”, mas não estava sendo de grande ajuda. A escadaria era estreita e agora descia em forma de caracol. Quando eles chegaram ao final dela, se depararam com um fim. Mas Narcisa desceu até lá e tocou a parede, constatando que não era parede, era apenas uma tapeçaria.
Ela empurrou e entrou no cômodo seguinte. Os outros a seguiram. Assim que pisou, Narcisa caiu. Por sorte, Sirius estava logo atrás e segurara a prima antes que ela despencasse. Havia uma depressão.
Narcisa desceu com cuidado e constatou que havia água e que o líquido batia quase no seu joelho, e ela era bem alta. Em Andrômeda, a água batia na coxa.
Uma névoa espessa se comprimia no lugar e todos começaram a se sentir deprimidos. Estava muito escuro e frio. Mas Narcisa seguiu em frente com os garotos em seu encalço. Andrômeda ficara para trás.
Depois de muito se arrastar contra a água, eles avistaram uma luz tão brilhante que conseguia até mesmo atravessar a névoa. Eles foram se aproximando e viram um enorme bolha suspensa no ar. Ela não parava de girar e saiam coisas estranhas dela, parecidos com pulsos elétricos. Além de uma ofuscante luz branca. Mas havia algo dentro dessa bolha. Havia um objeto, que eles não conseguiam identificar.
Um grito. Eles se viraram para trás para procurar Andrômeda e deram de cara com um dementador. Rabastan imediatamente puxou Narcisa para si e Sirius gritou:
- Expecto Patronum!!
Uma névoa prateada saiu de sua varinha, mas não tinha nenhuma forma. Mesmo assim, conseguiu repelir a horrível criatura, dando-lhes tempo. Os três se puseram a correr.
Mais na frente, eles encontraram Andrômeda, paralisada. Não havia nenhum dementador perto dela, então eles não entenderam. Ela andava para trás, apontando a varinha para o chão. Apenas quando eles chegaram perto é que viram, um homem se aproximava da garota, mas não parecia nada com uma pessoa normal.
Então a canela de Narcisa foi agarrada. Se ela já não estivesse andando bem devagar por causa da água, ela teria caído. Ela apontou a varinha iluminada para a água e deu um grito, que foi abafado por Rabastan, que colocou tapou sua boca com a mão. Havia uma outra pessoa horrível agarrada a perna de Narcisa. Ele fez um gesto com a varinha e o corpo foi jogado para trás.
Então ele puxou Narcisa e os dois correram contra a água, tentando alcançar alguma velocidade. Sirius estava mais a frente tentando ajudar Andrômeda. Andrômeda e Sirius conseguiram se livrar e também corriam. Por sorte, água também era um empecilho para aquelas coisas. Mas não para os dementadores. E eles não sabiam quantos haviam e se eles os estavam seguindo.
Rabastan pouco se importou com os dois. Ele agarrou Narcisa pelo braço e tentou aparatar, mas então seu corpo inteiro queimou e ele foi jogado para o alto. Narcisa o aparou, mas ele era pesado, já que tinha um corpo atlético. Sirius a ajudou e Andrômeda murmurou.
- Accio varinha.
A varinha de Rabastan veio voando para suas mãos. Mas agora eles estavam cercados por dementadores. Andrômeda se concentrou com todas as suas forças e gritou:
- Expecto patronum!!!
A mesma névoa prateada saiu de sua varinha. Só que a sua tinha uma forma, uma forma estranha, que Narcisa não conseguiu reconhecer. Isso não importava, porquê os dementadores estavam sendo afastados pelo patrono de Andie, mas havia mais e mais homens chegando perto deles. Ela teve uma idéia. Ela soltou Rabastan e Sirius vacilou um pouco, mas conseguiu segurá-lo.
Então empunhou a varinha:
- Resalvare!!!
Uma luz preta saiu de sua varinha e ricocheteou nos corpos que avançam contra eles. Estes eram jogados para trás com tal força, que eram erguidos no ar e alcançavam uma grande distância, agora perceptível, pois a névoa estava menos espessa.
Sirius já havia se afastado com Rabastan e Andrômeda estava ainda mais a frente. Narcisa correu e conseguiu alcançar os dois garotos. Ela se aproximou e deu um tapa na cara de Rabastan, que despertou alarmado.
- Rabastan, acorda. Reage. Nós temos que sair rápido daqui.
Ela segurava a cabeça do garoto entre as mãos. Ele se recuperava. Então se lembrou de tudo e entendeu. Procurou por dementadores e aqueles homens por todos os lados, mas não havia mais nada. Mais ainda estava escuro e frio e suas pernas ainda estavam mergulhadas em água.
Se desvencilhou dos dois e se lançou a frente. Sentiu uma tontura, mas continuou. Logo, os três estavam correndo. Mas Andrômeda havia sumido. Eles nem sequer sabiam se estavam na direção correta, nem se ainda estavam na mansão dos pais, ou há quanto tempo estavam ali.
Eles seguiram em frente, cansados e doloridos, mas determinados. Andaram pelo que pareceram várias horas e não viram nenhum sinal de Andrômeda ou do lugar por onde haviam entrado. Até que puderam ver um vulto se mexendo. Com as varinhas prontas para atacar, eles correram na direção do vulto e quando chegaram perto ele se virou.
Era Andrômeda. Apesar do frio de congelar, ela estava coberta de suor. Eles perceberam que eles também.
- A tapeçaria não se move. Eu já tentei de tudo. Estamos presos.
Narcisa chegou perto da tapeçaria e aproximou sua varinha dela para poder ler. Rabastan entendeu.
- Isso são runas antigas, não? Se você conseguir traduzi-las...
- Só você pode conseguir, Cissy. – Sirius falou – Você é a única que faz a matéria.
Narcisa olhou para o primo, surpresa. Ele nunca a havia chamado de Cissy. Aliás, eles não haviam tido uma conversa de verdade desde os dez anos de idade. Narcisa terminou de ler e começou a pensar. Então, murmurou algo em latim, muito curto para ser a tradução daquilo tudo, e a tapeçaria se moveu.
Todos suspiraram aliviados. Rabastan e Sirius subiram rapidamente e ajudaram as garotas a subir. A tapeçaria se moveu de volta para o lugar e eles se embrenharam pela escadaria escura apressadamente.
Quando chegaram ao topo, ficaram ainda mais aliviados ao constatar que o alçapão continuava aberto. Saíram no quarto escuro e empoeirado. Enquanto Rabastan trancava o alçapão, Narcisa percebeu que ali, no canto da sala, havia um espelho, que ela não havia percebido quando desceram. Mas Rabastan a arrastou para fora dali e ela não resistiu.
O corredor estava silencioso. Quando chegaram próximos da sala de estar ouviram os adultos conversando. Não havia nenhum pouco de aflição em suas vozes. Eles apuraram seus ouvidos e perceberam que eles estavam falando de política. Nem sequer haviam percebido sua ausência, e fora Narcisa, nenhum deles estava surpreso ou ofendido.
Se esgueiraram pela escada para o andar de cima e se dirigiram para seus quartos. Se lavaram e trocaram. Estavam tão cansados e doloridos, que acabaram dormindo. Mais tarde, os adultos viriam lhes chamar para o jantar, mas decidiriam deixá-los descansar, sem nem imaginar o motivo do cansaço.

N/A: O cap. 3 já está pronto e eu pretendo postar ainda hoje. Mas se ninguém comentar, eu nem vou me dar mais ao trabalho de escrever.

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