Uma União Pura



As pálpebras filtravam a luz, deixando sua consciência na penumbra. O calor do sol percorria cada célula do seu corpo e o ar seco e quente invadia seus pulmões, levando consigo um perfume de alecrim e lírios. A grama seca, que crescia por si só, desafiando toda espécie de encantamento que tentasse persuadi-la a seguir uma métrica, recebia seu corpo, moldando-se a ele. Os aveludados caules das pequenas flores, entrelaçados nos dedos dos pés descalços, brincando. O vento maroto brincando com seu vestido branco de algodão e seus cabelos dourados. Um tempo inerte. Sua existência mergulhada em um agradável torpor.
Uma voz rouca e doce invadiu os seus sentidos:
- Cissy. Cissy. – sussurravam em seu ouvido -
Deixou-se acordar. Seus olhos cinzentos encontraram olhos escuros e tomados de paixão. Um sorriso sombrio lhe foi concedido, e ela apenas se recostou. O nanquim misturado ao dourado, ambos brilhando como pedras preciosas à luz do Sol. Seus corpos trocando calor. Um silêncio de discussões vazias presas em suas gargantas, de diferenças que nunca seriam aproximadas.
- Bella? – uma voz suave e urgente se lançou ao desafio – Você o ama?
- Não. – foi sua resposta, sem pestanejar –
- Como poderia funcionar?
- Não se preocupe com o amor, Cissy. Ele só atrapalha. Se você encontrar uma pessoa e souber que poderá dormir e acordar ao lado dessa pessoa todos os dias de sua vida, e conversar com ela no café da manhã sobre as notícias do Profeta, sem ter opiniões tão divergentes que façam da refeição um inferno, bom, você sabe que encontrou a pessoa.
- Isso me parece amor.
- Não, há uma lógica nisso. E o amor não tem nenhuma lógica. Nós nos compreendemos, confiamos um no outro, nos respeitamos. Sem dúvida nós poderemos viver em harmonia. Pronto. Um casamento feliz. Eu não preciso estar disposta a me jogar na frente de um Avada Kedrava por ele para que meu casamento seja saudável.
- Isso não seria amor, seria burrice.
- Que bom que você pensa assim, irmãzinha. Fico feliz em constatar que você será uma pessoa sensata, porquê são essas que sobrevivem, Cissy. A frieza deve ser sua maior arma.
Silenciosamente, ela concordou com a irmã. Sua emoções deveriam ser controladas, suas palavras pensadas e gestos comedidos. Deveria permanecer um enigma, se preservando evitaria que seus inimigos a machucassem. Ela estaria sempre no comando de si mesma.
As duas permaneceram ali, duas meninas, até que o Sol começasse a se retirar para seu descanso. Então a voz histérica de sua mãe soou em algum lugar, e antes as estrelas despontassem no negro véu sobre suas cabeças, elas se retiraram. Caminharam lentamente pelo campo, cúmplices. E entraram pela pesada porta que levaria a cozinha da mansão Lestrange. De mãos dadas, correram pelo aposento, derrubando os desajeitados elfos domésticos. O delicioso cheiro da comida, misturado ao ar viciado, os séculos impregnados nas paredes de pedra.
Chegando ao final, subiram a escada, calçaram-se e entraram no corredor, esse sim, representante do bom gosto e elegância daquela família. Estavam todos na sala. As duas entraram, em seu elegante e sensual andar. Duas mulheres.
Cada uma sentou-se ao lado de um dos meninos Lestrange. Bella, deitou a cabeça no colo de seu noivo e ele afagou seus cabelos negros. Os adultos conversavam sobre Lord Voldemort, mais entusiasmados, do que assustados com a atrocidades que contavam uns aos outros, o orgulho se denunciava em suas vozes. Os dois trocaram um olhar. Um olhar sinistro. Ninguém percebeu nada.
- Bellatrix e Narcisa, vão se lavar para o jantar! – a mesma voz histérica, novamente em tom de ordem – E encontrem Andrômeda.
- O mesmo para vocês, Rodolfo e Rabastan! – exclamou uma voz fina –
Os quatro se levantaram e se dirigiram para o piso superior. Os garotos foram para o quarto que dividiam e as garotas para o seu. Andrômeda estava em sua cama lendo, tentando prender atrás da orelha os cachos negros que teimavam em cair em sua face. Elas já sabiam. A irmã passava as férias inteiras estudando pois tinha muita dificuldade. Não era inteligente como elas, tampouco tão bonita. Era a irmã do meio, sempre ignorada.
- Mamãe mandou se lavar e descer. – Narcisa deu o recado, em tom de descaso –
Andrômeda não as olhou nos olhos. Esperou elas se lavarem, se trocarem a deixarem sozinha. Elas ainda estariam no corredor, divertidas com mais alguma coisa que Rabastan teria inventado ou comprado ou descoberto, só para chamar a atenção de Narcisa. Bellatrix, presa aos seus devaneios, mas fingindo estar muito interessada.
Quando chegou ao corredor, eles tinham acabado de atingir as escadas. Ela os seguiu, de soslaio, sem ser percebida.
No andar de baixo, uma surpresa. Seus primos Sirius e Régulus, acompanhados de seus pais. Régulus era paparicado por todos, era o caçula engraçadinho. A Sirius havia sido dado um tratamento pior do que o que era dado a Andrômeda, já que ele havia cometido a proeza de ir parar na Grifinória. Andrômeda pelo menos havia entrado para Sonserina, o que não foi difícil, considerando que sempre fora uma filha que acompanhava religiosamente os ideais dos pais. Só começara a ficar infeliz com sua posição no ano anterior e sabia que isso acontecera quando seu coração começara a bater acelerado por um certo sangue-ruim. Estava perdida.
Os quarteto cumprimentou os últimos Black a aparecer, sem muito entusiasmo. Andrômeda sorriu infeliz para Sirius, que retribuiu com um sorriso ainda mais infeliz e se esgueirou pelo corredor até a sala de jantar, escapando de ter que cumprimentar os demais.
Logo todos se juntaram a ela. Eles comeram e diferentemente do que era comum, conversaram. Bellatrix e Rodolfo não falaram, mas de maneira nenhuma fazia parecer que eles não se gostavam. Era um lindo casal e pareciam contentes juntos. Depois do jantar todos se retiraram para seus dormitórios.
No dia seguinte, ao mero sinal da aurora, quase todos já estavam acordando e se levantando. Logo pela manhã, chegaram os alfaiates e costureiras que fariam as roupas de todos. A casa estava coberta por sedas e rendas e babados. Bellatrix estava usando o quarto, já que ninguém deveria ver seu vestido antes da cerimônia.
Narcisa ficara com a irmã. Então Andrômeda teve de arranjar outro lugar para se esconder. Régulus estava lá embaixo, e Andrômeda imaginou que Sirius estaria sozinho no quarto. E acertou. Seu primo era uma companhia agradável. E também havia sido deixado por último. Provavelmente as roupas dos dois seriam feitas com o que restasse da roupas do outros.
Andrômeda achou que seria melhor puxar um assunto e começou a falar de quadribol. Logo eles conversavam entusiasmadamente e emendavam um assunto no outro.
Em seu quarto, Bellatrix e Narcisa faziam exigências e mais exigências. Rodolfo também perturbava seu alfaiate com seu perfeccionismo. Mas Rabastan, que de todos sempre fora o mais vaidoso, estava perdido em seus pensamentos, que só tinham uma dona. Como se pudesse ler seus pensamentos Rodolfo lhe tirou do transe:
- Não conseguirá impressionar Narcisa com um vestes maltrapilhas.
Rabastan não disse nada e nem se deu ao trabalho de olhar para o irmão, mas no seu íntimo, concordou.
Os dias corriam. Estava cada vez mais perto e todos estavam cada vez mais ocupados. Apenas para Andrômeda e Sirius o tempo se arrastara.
Finalmente chegou o dia. Todos corriam de um lado para o outro. Todas as importantes famílias da Inglaterra estariam lá. O jardim fora lindamente decorado para a ocasião. Logo, convidados e mais convidados saiam das lareiras. Um menino loiro e de ar arrogante passou os olhos pelo salão, como se tivesse a procura de alguém.
Todos se dirigiram para fora e foram se acomodando. O dia estava lindo. Uma brisa envolvia seus corpos, levantando-os no ar, sem que eles tivessem que tirar os pés do chão.
Logo os Black e os Lestrange começaram a aparecer. Andrômeda e Sirius foram os primeiros. O menino ficava cada vez mais ansioso.
Então a orquestra começou a tocar. Uma deliciosa música encheu os seus ouvidos. E casais começaram a entrar. Os primeiros foram Narcisa e Rabastan, o que encheu o menino de inveja e raiva. Mas ela estava linda. A seda azul clara acentuando cada contorno do seu corpo, em um lindo vestido tomara que caia, acentuando ainda mais seus olhos azuis. As fitas, babados e pedras ressaltando sua beleza e encantamento. Seus fios dourados estavam cacheados e presos. Ela sorriu quando passou por ele, e ele se sentiu a pessoa mais feliz do mundo.
Depois entraram sua mãe e o pai de Rodolfo, Rodolfo e sua mãe e por fim, Bellatrix e seu pai. Bellatrix era a noiva mais linda do mundo. Seu vestido branco, tomara que caia como a da irmã, fora bordado com fios de ouro e diamantes. Seus cabelos estavam soltos, e ela não usou véu. Ela parecia feliz, mas sua atenção estava concentrada em apenas um convidado. Um lindo homem, misturado na multidão. Ele sorriu para ela e seu rosto se iluminou. Agora ela parecia mais feliz e certa do que nunca.
O casamento foi belo. Bellatrix transbordava emoção. Os dois selaram a união com um beijo casto. E deram início a festa.
Lúcio logo correu para cumprimentar Narcisa. Ela foi gentil e o abraçou com carinho. Logo Avery e Perséfone Nott, melhor amiga de Narcisa se juntaram ao trio.
O convidado a quem Bellatrix dera tanta atenção, desaparecera. Ela sabia e não parecia se importar em procurá-lo agora.
Havia um tonelada de comida e bebida gostosa. Todos se serviam. Então a orquestra voltou a tocar e Bellatrix e Rodolfo dançaram uma valsa. Depois outros casais se juntaram a eles. Narcisa adorava dançar, mas ficou aflita com os olhares pedintes de Rabastan e Lúcio. Não dançou.
A música ficou mais animada e os casais se separaram. Mas Narcisa continuou desconfortável. Então resolveu ir atrás de Bellatrix e ajudá-la enquanto ela se trocava para a Lua de Mel. Rabastan, com a desculpa de que ajudaria o irmão, foi junto com ela, deixando Lúcio furioso. Logo os quatro desceram para o salão, onde os convidados se encontravam para se despedir do casal. Uma carruagem os estava esperando. Em um gesto amoroso, Bellatrix deu um beijo na bochecha de sua irmã caçula e desceu.
Vários convidados a cumprimentaram e ela fingiu interesse. Rodolfo fez o mesmo. Ele mantinha o braço firmemente envolto na cintura de sua agora esposa. Quando estavam saindo, o olhar de Bellatrix cruzou com o de Sirius. Nenhum dos dois sorriu. Bellatrix e Rodolfo entraram na carruagem e foram embora.
Mas a festa continuou. Os jovens estavam entediados. Narcisa estava no salão, dividindo uma poltrona com Perséfone, rodeada pelos garotos. Eles conversavam desanimados. Sirius e Andrômeda haviam se retirado para seus quartos. Apenas Régulos se divertia, trocando figurinhas dos sapos de chocolate com um outro garotos de sua idade.
Os adultos, embriagados, falavam alto. Aos poucos, eles iam se retirando. Perséfone foi embora e então Narcisa decidiu subir, se lavar e juntar a irmã. Rabastan, Lúcio e Avery ficaram conversando sobre a Copa Britânica de Quadribol, que estava em andamento.
Narcisa se deitou. Os sons estavam distantes e difusos. Ela voltou a pensar sobre sua conversa com Bellatrix no outro dia. Enquanto uma perguntinha incômoda cutucava seus inconsciente: estaria a irmã feliz nesse exato momento?

***

A carruagem negra se movia lentamente na escuridão. Dentro dela, não havia ninguém. Nem sinal dos seus ocupantes. O cocheiro parecia não ter percebido que o jovem casal que levava havia desaparecido.

***

Duas sombras seguiam encapuzadas por uma ruela. Um bairro um tanto pobre. Pararam em frente a uma casa e bateram. Ela se abriu revelando o rosto do convidado misterioso. Ele sorriu e abriu mais a porta para que eles pudessem entrar.
Depois de meia hora, as duas sombras saíram novamente. Andaram mais um pouco, pararam no meio da rua e respiraram fundo. Sacaram suas varinhas e começaram a lançar feitiços em direções opostas. As casas se incendiaram. Logo as pessoas as deixavam, assustadas e alcançavam a rua. Alguns jatos verdes voaram e algumas pessoas simplesmente caíram no chão, já sem vidas.
O show de destruição continuou. Uma das sombras parou perto de um mendigo e murmurou:
- Crucio.
Ele começou a se debater em agonia. Mais algum tempo ali, e a pessoa se cansou e voltou a se juntar ao seu companheiro. Os dois se olharam. Por debaixo dos capuzes, suas faces se contorcendo em prazer. Aquilo era melhor do que qualquer ato sexual. Prazer carnal não poderia ser comparado àquilo. Seu casamento estava consumado.

N/A: Comentem por favor. E, pelo fato de a fic ser muito grande, tudo bem se alguém quiser copiar pro computador pra ler depois. Só me avisem antes de colocar em algum site ou fórum.

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.